a beleza do corpo na dinâmica do envelhecer - Livrarias Curitiba

suportam mais a pressão externa, e para não entrarem em conflito, acabam cedendo,
vestindo uma nova fantasia. Mesmo que a pessoa mais velha opte por
estar em casa, distante dos olhares cruéis dos vigilantes da boa aparência, sempre
haverá um membro da família, um amigo ou vizinho que insistirá para que
ela tome uma atitude, pois a regra é “se cuidar”.
A beleza se tornou uma questão de saúde pública. Para se adquirir beleza é
preciso se cuidar. É preciso também buscar terapias para melhorar a aparência.
Quem nunca ouviu falar nos tratamentos de beleza? Será que a beleza precisa ser
tratada? O feio, pelo olhar alheio, passou a ser considerado um doente necessitado
de cuidados? Mas o que é ser feio ou bonito? A questão é muito complexa.
A beleza se tornou seita cuja presença impreterível de seus membros é freqüentemente
solicitada. Se os mais velhos estão em casa e, por motivos de doença,
não podem sair, eles precisam pelo menos colocar um adereço qualquer, pintar
o rosto, usar um perfume marcante, estar prontos para receber uma visita que
eventualmente possa chegar.
Lembro-me de Filomena, uma mulher de 87 anos de idade em processo
demencial avançado, com sérias limitações físicas. Ela não conseguia andar sozinha,
desconhecia a família, pedia café o tempo todo e falava sem parar. A
taquilalia (aceleração da fala) era tão séria que ela só conseguia parar quando
dormia ou se alimentava. Freqüentemente se engasgava porque falava, mastigava
e tentava engolir o alimento ao mesmo tempo. A taquilalia é um quadro
extremamente exaustivo para quem trabalha com pessoas demenciadas, porém
mais extenuante ainda era ter de orientar a cuidadora que insistia em brincar de
boneca com Filomena. Era o caso de Maria do Socorro, uma mulher de 68 anos
de idade que passara a vida cuidando de pessoas doentes. Ela teve um destino
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