15.04.2013 Views

Decadência, medo e assombrações - Portal Vale do Paraíba

Decadência, medo e assombrações - Portal Vale do Paraíba

Decadência, medo e assombrações - Portal Vale do Paraíba

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“Porque o caipira crendeiro...segue,<br />

desabaladamente, sem desfitar as esporas <strong>do</strong>s<br />

flancos <strong>do</strong>s cavalos, fazen<strong>do</strong> o “pelo sinal”, e<br />

fugin<strong>do</strong>.... Nem um olhar para a vivenda sinistra e<br />

malassombrada, onde imagina coisas pavorosas:<br />

constante pervagar de sombras; choros<br />

plangentes; ulular golpeante de espectros<br />

merencórios; aparições macabras; longo<br />

arrastamento de correntes; a a<strong>do</strong>ida<strong>do</strong>s sabás das<br />

almas vagabundas; e cabeças, e pernas, e<br />

braços; que despencam <strong>do</strong>s tetos e rompem das paredes, fundin<strong>do</strong>se,<br />

improvisadamente, em demônios horrorosos.... E quem, curioso e<br />

incrédulo, as procura, justifica-lhe os temores.”<br />

(Euclides da Cunha; in Pasin, 2002, p. 294, 308 e 310)<br />

Quem porém as conhece justifica os temores <strong>do</strong> “caipira crendeiro” e será<br />

“invadi<strong>do</strong> pelas crenças ingênuas <strong>do</strong>s caipiras”, como escreveu Euclydes. Não voltará<br />

mais. Segue seu caminho, caminha pelos morros, atravessa outras fazendas antigas,<br />

encontra outras casas desertas e pobres, e, muitas santas-cruzes à beira <strong>do</strong>s caminhos<br />

“como se andasse pelas avenidas de um velhíssimo cemitério”. Era preciso muita<br />

coragem para passar pelos lugares mal assombra<strong>do</strong>s, onde podiam ser encontradas<br />

almas penadas que perambulam sem rumo, as mulas-sem-cabeça ou o lobisomem à<br />

meia-noite da sexta-feira de lua cheia.<br />

Em “Numa Volta <strong>do</strong> Passa<strong>do</strong>” volta a escrever sobre as <strong>assombrações</strong>:<br />

“Na estrada que passava naquelas mesmas trilhas quase<br />

impraticáveis balisadas de santas cruzes agoeirentas e onde<br />

disparam em pinchos desabala<strong>do</strong>s as mulas-sem-cabeça da bronca<br />

mitologia sertaneja.”<br />

3 – CULTURA POPULAR E ERUDITA<br />

Os antigos burgos da outrora próspera área pioneira de café no Esta<strong>do</strong> de São<br />

Paulo viviam um cenário de ruínas no início <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>. Era a decadência sócioeconômica<br />

decorrente <strong>do</strong> declínio da produção <strong>do</strong> precioso grão. A região que o café<br />

povoou, enriqueceu e aban<strong>do</strong>nou antes que criasse raízes mais profundas para o<br />

progresso.<br />

A sua população reunia-se costumeiramente para falar sobre os assuntos comuns<br />

e inusita<strong>do</strong>s <strong>do</strong> cotidiano inescapável. Contavam causos e transmitiam suas práticas<br />

costumeiras. A transmissão eram feitas pelas gerações mais velhas para as mais jovens<br />

por meio verbal, com forte conotação e expressão pessoal. As histórias iam sen<strong>do</strong><br />

repetidas acaban<strong>do</strong> por fazer parte da memória coletiva.<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!