Decadência, medo e assombrações - Portal Vale do Paraíba
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Atraí<strong>do</strong>s pelas terras novas,<br />
de feracidade sedutora,<br />
aban<strong>do</strong>naram-na seus filhos; só<br />
permaneceram os de vontade<br />
anemiada, débeis, faquirianos.<br />
Mesmeiros, que to<strong>do</strong>s os dias fazem<br />
as mesmas coisas, <strong>do</strong>rmem o mesmo<br />
sono, sonham os mesmos sonhos,<br />
comem as mesmas comidas,<br />
comentam os mesmos assuntos,<br />
esperam o mesmo correio, gabam<br />
passada prosperidade, lamuriam <strong>do</strong><br />
presente e pitam-pitam longos<br />
cigarrões de palha, mata<strong>do</strong>res <strong>do</strong> tempo.” ( Monteiro Lobato, 1951,p.10-<br />
11)<br />
Contrastes com as cidades em processo de modernização<br />
Os efeitos da crise cafeeira foram senti<strong>do</strong>s inicialmente nas cidades localizadas<br />
na área das garupas, “empobrecidas pela decadência <strong>do</strong> café e marginalizadas pelo<br />
deslocamento <strong>do</strong> eixo de circulação pelo traça<strong>do</strong> da E. F. Central <strong>do</strong><br />
Brasil...“bruxoleavam” nas primeiras décadas <strong>do</strong> século. São as “cidades mortas” de<br />
Monteiro Lobato.” (Müller, 1969,107)<br />
A redução da produção foi acompanhada da estagnação e diminuição da<br />
população. Os habitantes da área estudada, em 1920, correspondiam a 71,89% <strong>do</strong><br />
contingente existente em 1900. Um decréscimo da ordem de 28,11%. Se compara<strong>do</strong><br />
com o restante da região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraíba</strong> estes números tornam-se mais<br />
expressivos. No conjunto populacional da região a sua participação passou de 12,23<br />
para 7,48, ou seja, diminuiu em 38,84%.<br />
As cidades entraram em processo de estagnação, paradas no tempo. Itaoca,<br />
cidade morta descrita por Monteiro Lobato era “uma grande família, com presunção de<br />
cidade.” O motivo, explica Lobato, é da<strong>do</strong> pela sua localização: “distava duas léguas da<br />
via férrea e quarenta da capital” (Monteiro Lobato, 1951,6-7)<br />
A imagem traçada por Euclydes e Lobato, <strong>do</strong>is grandes literatos que conviveram<br />
com esta realidade nos primeiros anos <strong>do</strong> século XX, confirma a situação de declínio<br />
vivi<strong>do</strong> por seus habitantes.<br />
A terra foi apresentada por ambos como empobrecida, decadente, melancólica,<br />
aban<strong>do</strong>nada pelos seus filhos mais ilustres e empreende<strong>do</strong>res. O homem identifica<strong>do</strong><br />
como preguiçoso, hospitaleiro, místico, mesmeiro, ingênuo, triste, liga<strong>do</strong> ao caráter<br />
rural, fatalista e conserva<strong>do</strong>r.<br />
Ambos, a partir de sua formação acadêmica e <strong>do</strong> contraste com o cenário<br />
urbano, dinâmico e moderniza<strong>do</strong>r das cidades <strong>do</strong> Rio de Janeiro e São Paulo onde<br />
realizaram seus estu<strong>do</strong>s superiores, apontaram as marcas da decadência da região e<br />
criaram o apanágio de "cidades mortas" às cidades desta parte da região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Paraíba</strong>.<br />
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