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Basta de Fancaria - Portal Vale do Paraíba

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<strong>Basta</strong> <strong>de</strong> <strong>Fancaria</strong>: rebaten<strong>do</strong> um insulto injurioso<br />

Conflitos religiosos numa comunida<strong>de</strong> valeparaibana na Era Vargas<br />

Thiago Batista <strong>do</strong>s Santos 1<br />

Dóli <strong>de</strong> Castro Ferreira 2<br />

Introdução<br />

A Proclamação da República modificou o sistema <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r até então dividi<strong>do</strong><br />

entre Esta<strong>do</strong> e a Igreja. O <strong>de</strong>creto n° 119-A <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1890 encerrou esse<br />

arranjo binário.Ficava, a partir daí, proibida a intervenção da autorida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral e <strong>do</strong>s<br />

esta<strong>do</strong>s em matéria religiosa, concedia plena liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> culto e abolia o padroa<strong>do</strong> 3 .<br />

Com esse novo regime <strong>de</strong> governo, o liberalismo, o protestantismo e o positivismo<br />

ganharam espaço contrapon<strong>do</strong>-se à visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> proposta pela Igreja Católica.<br />

A falta <strong>de</strong> padre em to<strong>do</strong> o país e os poucos seminários concorreram para a<br />

proliferação <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s “inimigos da Igreja”: as crenças liberais, o Socialismo e o<br />

Anarquismo ateus, além <strong>de</strong> seus “concorrentes na fé”, notadamente protestantes e<br />

espíritas.<br />

A Igreja Católica empreen<strong>de</strong>u uma intensa campanha para recuperar os seus<br />

antigos privilégios e voltar a ocupar os espaços perdi<strong>do</strong>s. Nesse esforço, mostrou-se<br />

muito agressiva contra os protestantes, que passaram a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s inimigos da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da cultura católicas <strong>do</strong> Brasil, a serviço <strong>de</strong> interesses estrangeiros,<br />

principalmente norte-americanos.<br />

No início <strong>do</strong>s anos 30, aprofundaram-se <strong>de</strong>bates sobre as relações da Igreja<br />

com o Esta<strong>do</strong>. Membros <strong>do</strong> clero católico vislumbravam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

aliança com o Esta<strong>do</strong> varguista que, se não <strong>de</strong>volvesse à Igreja o status <strong>de</strong> religião<br />

oficial <strong>do</strong> país, ao menos garantiria sua supremacia espiritual no Brasil excluin<strong>do</strong><br />

outras correntes <strong>de</strong> pensamentos que pu<strong>de</strong>ssem representar uma ameaça.<br />

Foi no calor <strong>de</strong>ssas discussões ocorridas por to<strong>do</strong> o país que em Piquete, cida<strong>de</strong><br />

com pouco mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil habitantes, em 1939, o Pe. Septímio Ramos Arantes,<br />

pároco da igreja Matriz <strong>de</strong> São Miguel, provocou conflitos com as comunida<strong>de</strong>s<br />

metodista e espírita, que acabaram por envolver seus habitantes.<br />

O Município <strong>de</strong> Piquete<br />

O município paulista <strong>de</strong> Piquete localiza-se a noroeste <strong>do</strong> Médio <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Paraíba</strong>. Seu território com 176 Km² está inseri<strong>do</strong> no conjunto paisagístico da Serra<br />

da Mantiqueira, uma das poucas regiões <strong>do</strong> país cujo relevo aci<strong>de</strong>nta<strong>do</strong>, <strong>de</strong> colinoso a<br />

montanhoso, tem elevações superiores a 2.000 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>.<br />

No último dia 15 <strong>de</strong> junho, Piquete completou 117 anos <strong>de</strong> emancipação<br />

políticoadministrativa. Admite-se que sua origem remonta à segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

século XVIII, quan<strong>do</strong> o Capitão Lázaro Fernan<strong>de</strong>s, mora<strong>do</strong>r na antiga freguesia <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> Guaypacaré, hoje município <strong>de</strong> Lorena, segun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>cumento da Vila <strong>de</strong> Lorena conserva<strong>do</strong> no Arquivo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, abriu uma picada<br />

1 Centro Universitário Salesiano <strong>de</strong> São Paulo<br />

2 Mestra em História Social - Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo/USP<br />

3 Padroa<strong>do</strong>: compromisso entre a Igreja Católica e o Governo <strong>de</strong> Portugal, que assegurava o exercício pleno <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio<br />

político e religioso <strong>do</strong>s reis sobre a Colônia. Na prática, significava que o direito <strong>do</strong> padroa<strong>do</strong> foi cedi<strong>do</strong> pelo papa ao rei,<br />

que <strong>de</strong>veria promover a organização da Igreja nas terras <strong>de</strong>scobertas. Através <strong>do</strong> padroa<strong>do</strong>, foi financiada a expansão <strong>do</strong><br />

Catolicismo no Brasil.


ligan<strong>do</strong> esse povoa<strong>do</strong> às minas <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> Itajubá, no alto da Mantiqueira (CHAVES,<br />

1997). Esse caminho partia da paragem <strong>do</strong> Campinho, na margem esquerda <strong>do</strong> Rio<br />

<strong>Paraíba</strong> <strong>do</strong> Sul, em <strong>de</strong>manda <strong>do</strong> arraial serrano <strong>de</strong> Nossa Senhora da Soleda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Itajubá, atual município <strong>de</strong> Delfim Moreira-MG, na área <strong>de</strong> mineração. As terras<br />

percorridas pelo cita<strong>do</strong> caminho, povoadas, <strong>de</strong>ram origem a Piquete.<br />

Inúmeros ranchos e pousos foram ergui<strong>do</strong>s às margens <strong>de</strong>sse caminho, próximo<br />

a um posto <strong>de</strong> fiscalização (registro 4 ) aí instala<strong>do</strong>. Esse lugarejo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong><br />

Bairro <strong>do</strong> Piquete, passaria a viver em função <strong>do</strong> trânsito <strong>de</strong> tropeiros e viajantes que<br />

intercambiavam merca<strong>do</strong>rias entre o sul <strong>de</strong> Minas e o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraíba</strong>.<br />

Em 1891, o Bairro <strong>do</strong> Piquete, já ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> Freguesia, foi eleva<strong>do</strong> à<br />

categoria <strong>de</strong> Vila com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Vila Vieira <strong>do</strong> Piquete. A nova vila, <strong>de</strong><br />

economia pre<strong>do</strong>minantemente agrária, voltada para a produção <strong>de</strong> café e incipiente<br />

comércio <strong>de</strong> beira <strong>de</strong> estrada, a<strong>de</strong>ntrou o século XX com suas dificulda<strong>de</strong>s e pobreza.<br />

A população foi surpreendida, em 1902, com a notícia <strong>de</strong> que o Ministério da Guerra<br />

instalaria em suas terras uma fábrica <strong>de</strong> pólvora sem fumaça.<br />

A inauguração da Fábrica <strong>de</strong> Pólvora sem Fumaça ocorreu a 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1909. A partir <strong>de</strong> então, toda a cida<strong>de</strong> passou a viver em sua função, e mesmo os que<br />

nenhum vínculo tinham com ela se beneficiavam indiretamente (CHAVES, 1997).<br />

Esse empreendimento provocou um aumento populacional urbano <strong>de</strong>corrente da<br />

chegada <strong>de</strong> operários <strong>de</strong> diferentes cida<strong>de</strong>s da região e <strong>do</strong> país. Por conseqüência, a<br />

paisagem urbana dinamizou-se pela construção <strong>de</strong> casas, vilas operárias e abertura <strong>de</strong><br />

novas ruas e avenidas.<br />

Piquete foi adquirin<strong>do</strong> nova fisionomia, tornan<strong>do</strong>-se cida<strong>de</strong> operária, o que a<br />

diferenciava das outras cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>. No final da década <strong>de</strong> 1930, houve expansão<br />

<strong>de</strong>ssa indústria bélica, com a construção da Fábrica <strong>de</strong> Base Dupla, que atraiu gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> operários para a cida<strong>de</strong>.<br />

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Fábrica <strong>de</strong> Piquete chegou a empregar quase<br />

3.000 operários, amplian<strong>do</strong>-se a capacida<strong>de</strong> produtora <strong>de</strong> suas oficinas, fator <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

significa<strong>do</strong> para a história <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> município.<br />

A Paróquia <strong>de</strong> São Miguel<br />

Para cumprir os preceitos religiosos, os antigos mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Bairro <strong>do</strong> Piquete<br />

não mediam esforços, e visitavam, pelo menos uma vez ao ano, a igreja da Pieda<strong>de</strong>,<br />

em Lorena, ou se organizavam em romarias até Aparecida. Esta religiosida<strong>de</strong> levou<br />

os mora<strong>do</strong>res a se reunirem com uma petição, em 1864, visan<strong>do</strong> à ereção <strong>de</strong> uma<br />

Capela no bairro. Em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1864, Dom Sebastião Pinto <strong>do</strong> Rego, Bispo<br />

<strong>de</strong> São Paulo, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao pedi<strong>do</strong> consentiu a construção da capela sob a<br />

invocação <strong>de</strong> São Miguel, conforme consta no livro <strong>do</strong> Tombo da Paróquia <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorena (1865).<br />

Em 22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1875, através <strong>do</strong> Decreto Provincial n° 10, o Bairro <strong>do</strong><br />

Piquete foi<br />

eleva<strong>do</strong> à condição <strong>de</strong> Freguesia. O papel da Igreja nas questões políticas e na<br />

argumentação da criação das Paróquias era muito relevante para as <strong>de</strong>cisões das<br />

instalações urbanas, pois a Igreja era a principal fonte <strong>de</strong> referências para dirimir<br />

problemas <strong>do</strong> público e <strong>do</strong> priva<strong>do</strong>. Era a Igreja que <strong>de</strong>tinha os registros cíveis e <strong>de</strong>la<br />

4 O Registro <strong>do</strong> Itajubá foi instala<strong>do</strong> na vertente paulista da Serra da Mantiqueira pelo Governa<strong>do</strong>r da Capitania das Minas<br />

Gerais, Luiz Diogo Logo da Silva, em 1764, para coibir o escape <strong>de</strong> ouro da região das minas. Próximo a esse Registro<br />

surgiu o Bairro <strong>do</strong> Registro Velho que, mais tar<strong>de</strong>, passou a se <strong>de</strong>nominar Bairro <strong>do</strong> Piquete.


emanavam os direitos e a oficialização <strong>do</strong>s atos sociais (FERREIRA, 1997). Em 7 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 1888, o Bispo <strong>de</strong> São Paulo, Dom Lino Deodato <strong>de</strong> Carvalho, por meio <strong>de</strong><br />

uma portaria sancionou a criação da Paróquia <strong>de</strong> Piquete.<br />

A população ansiava, cada vez mais, pela chegada <strong>de</strong> seu primeiro padre. No<br />

dia 1° <strong>de</strong> novembro, com gran<strong>de</strong> festa receberam seu primeiro vigário, padre<br />

Francisco Fillippo – natural <strong>de</strong> San Vincenzo <strong>de</strong> La Costa, província <strong>de</strong> Cosenza,<br />

Itália. No entanto, esse padre permaneceu por pouco tempo à frente da Paróquia <strong>de</strong><br />

São Miguel, transferi<strong>do</strong> em 1890 para a Igreja <strong>de</strong> Santo Antônio, em Macha<strong>do</strong>- MG<br />

(MEMÓRIA, 2000) Em maio <strong>de</strong> 1891, ocorreu, finalmente, a emancipação políticoadministrativa<br />

<strong>do</strong> Bairro <strong>do</strong> Piquete, e a 15 <strong>de</strong> junho <strong>do</strong> mesmo ano tomaram posse os<br />

Inten<strong>de</strong>ntes da nova Vila Vieira <strong>do</strong> Piquete. Quan<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua emancipação, a Vila era<br />

muito pequena e pobre, sua população urbana não ia além <strong>de</strong> 600 pessoas, com<br />

pouco mais <strong>de</strong> 120 casas localizadas próximo à Igreja Matriz (LORENA, 1894).<br />

A pobreza <strong>do</strong> lugar não permitia a vinda <strong>de</strong> vigário, porque nenhum sacer<strong>do</strong>te<br />

po<strong>de</strong>ria ali viver, por falta <strong>de</strong> recursos pecuniários que provessem sua subsistência,<br />

não obstante ser a população <strong>de</strong>vota e muito religiosa e concorrer particularmente<br />

para dar <strong>de</strong> comer ao vigário.<br />

Des<strong>de</strong> a partida <strong>do</strong> padre Francisco Fillippo, a Paróquia <strong>de</strong> São Miguel não teve<br />

padre fixo. Durante quatro décadas esteve anexada ora à Estola <strong>do</strong> Embaú, ora à <strong>de</strong><br />

Lorena, quan<strong>do</strong> era visitada esporadicamente por religiosos. Apesar da ausência <strong>de</strong><br />

padre, a Igreja Matriz sempre foi o centro espiritual <strong>de</strong> Piquete. Por outro la<strong>do</strong>, o<br />

catolicismo popular sustentava-se autonomamente. Sem o apoio <strong>do</strong>utrinal, o culto <strong>do</strong>s<br />

santos passou a ocupar primazia na vida religiosa <strong>do</strong> povo (CHAVES, 1996).<br />

A construção da Fábrica <strong>de</strong> Pólvora sem Fumaça atraiu inúmeros operários.<br />

Entre eles havia, além <strong>de</strong> católicos, evangélicos <strong>de</strong> diferentes <strong>de</strong>nominações. A falta<br />

<strong>de</strong> padre no município concorreu para que muitos mora<strong>do</strong>res passassem a freqüentar<br />

os cultos promovi<strong>do</strong>s pelos chama<strong>do</strong>s protestantes.


A Igreja Metodista em Piquete<br />

Após a inauguração da Fábrica, os evangélicos (presbiterianos, batistas,<br />

metodistas...) começaram a se reunir nas casas uns <strong>do</strong>s outros, informalmente, para<br />

oração e leitura da Bíblia. No mês <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1929, eles se reuniram em uma<br />

assembléia para <strong>de</strong>finir a <strong>de</strong>nominação a ser seguida pelo grupo. A <strong>de</strong>nominação<br />

escolhida foi a <strong>de</strong> Metodista, porém só no mês <strong>de</strong> agosto ela foi oficializada, quan<strong>do</strong><br />

da visita <strong>do</strong> Pastor Antônio Martins, da Paróquia Metodista <strong>de</strong> Taubaté.<br />

(CONTRERAS & CALLISAYA, 1989)<br />

Formada e oficializada a Congregação Metodista <strong>de</strong> Piquete, o grupo alugou um<br />

salão <strong>de</strong> <strong>do</strong>is cômo<strong>do</strong>s situa<strong>do</strong> na Rua Comenda<strong>do</strong>r Custódio Vieira, n°6, cujo <strong>do</strong>no<br />

era o Sr. Jorge Marques, para ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> culto e Escola Dominical (CONTRERAS<br />

& CALLISAYA, cit.).<br />

Nesse perío<strong>do</strong>, triplicou o número <strong>de</strong> seus membros. Um <strong>do</strong>s fatores que<br />

contribuiu para esse crescimento foi o fato <strong>de</strong> que a Igreja Católica não tinha, por essa<br />

época, padre resi<strong>de</strong>nte no município.<br />

No ano <strong>de</strong> 1934, ten<strong>do</strong> como dirigente o Pastor James L. Kennedy, a<br />

Congregação foi novamente reorganizada passan<strong>do</strong> a ser <strong>de</strong>nominada Igreja<br />

Metodista. No ano seguinte, essa Igreja foi elevada à categoria <strong>de</strong> Paróquia. A partir<br />

<strong>de</strong>ssa data, os metodistas integraram-se ao Distrito Paulistano da Regional <strong>do</strong> Centro<br />

da Igreja Metodista. (CONTRERAS & CALLISAYA, cit.). Nessa época, organizou-se a<br />

Socieda<strong>de</strong> Metodista <strong>de</strong> Crianças e a Socieda<strong>de</strong> Metodista <strong>de</strong> Senhoras. Como o<br />

local <strong>do</strong>s cultos não mais comportava o número <strong>de</strong> fiéis, a comunida<strong>de</strong> passou a<br />

discutir a construção <strong>de</strong> um templo. Em 1937, a Paróquia Metodista adquiriu <strong>do</strong>is lotes<br />

<strong>do</strong> Sr. José Monteiro <strong>de</strong> Brito Júnior, totalizan<strong>do</strong> uma área <strong>de</strong> seiscentos metros<br />

quadra<strong>do</strong>s, para a concretização <strong>de</strong>sse objetivo.<br />

A fotografia abaixo <strong>de</strong>monstra uma das etapas <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> templo. As<br />

obras tiveram início no dia primeiro <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1938. (CONTRERAS & CALLISAYA,<br />

cit.) Próximo à comemoração <strong>do</strong> décimo primeiro aniversário da organização<br />

metodista, no dia 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1940 foi inaugura<strong>do</strong> o templo Metodista <strong>de</strong> Piquete.


Pe.Septímio x Igreja Metodista<br />

No dia 3 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1934, o vigário João Marcon<strong>de</strong>s Guimarães tomou<br />

posse da Paróquia <strong>de</strong> São Miguel. Por mais <strong>de</strong> quarenta anos o município ficou sem<br />

padre resi<strong>de</strong>nte.<br />

Com sua chegada, aos poucos foi crescen<strong>do</strong> a espiritualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> povo e<br />

começaram a florescer as associações religiosas: Congregação Mariana, Pia União<br />

das Filhas <strong>de</strong> Maria, Apostola<strong>do</strong> da Oração, Associação <strong>de</strong> São José e Cruzada<br />

Eucarística Infantil, além <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> incremento às obras assistenciais e <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>.<br />

Cresceu a catequese na Igreja Matriz, nas capelas urbanas e nos bairros rurais. Seu<br />

substituto, padre Oswal<strong>do</strong> <strong>de</strong> Barros Bindão (1935 a1938), continuou o belo trabalho<br />

<strong>de</strong> seu antecessor. Fez com que a seara, já cultivada,produzisse colheitas cada vez<br />

mais abundantes, com maior presença e participação <strong>do</strong>s fiéis nos trabalhos<br />

comunitários. Na sua gestão foi construída a capela <strong>do</strong>s Marins e composta uma<br />

comissão <strong>de</strong> pessoas para trabalhar e zelar pelas capelas das Posses, Tabuleta,<br />

Itabaquara e São José, e funda<strong>do</strong> o jornal A Or<strong>de</strong>m “<strong>de</strong>dica<strong>do</strong> aos interesses sociais<br />

e religiosos <strong>de</strong> Piquete”. Mas o foco <strong>de</strong>ste trabalho é a gestão <strong>do</strong> Padre Septímio<br />

Ramos Arantes, transferi<strong>do</strong> para Piquete em 31 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1938. Após<br />

minuciosa análise <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos da época, é possível afirmar que antes <strong>de</strong>le não<br />

houve religioso que tenha passa<strong>do</strong> por terras piquetenses e <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> consignadas<br />

histórias que tanto geraram polêmicas e conflitos.<br />

O padre Septímio era jovem, impetuoso, audaz, intransigente e irascível. Uma<br />

das suas características mais marcantes era a forma como <strong>de</strong>fendia o seu rebanho<br />

espiritual. Ao menor sinal <strong>de</strong> que um ou outro paroquiano pensasse em praticar<br />

qualquer crença que não fosse a católica, lá estava o incansável guia a orientá-lo e<br />

recolhê-lo ao seio <strong>de</strong> sua paróquia. Não se contentava em aumentar o número <strong>de</strong> fiéis<br />

e fortalecer a Paróquia <strong>de</strong> São Miguel; contestava tu<strong>do</strong> o que po<strong>de</strong>ria interferir nos<br />

valores católicos em Piquete. O “alto” ou “baixo” espiritismo, a macumba, o<br />

can<strong>do</strong>mblé, o cangerê e os “crentes” eram impie<strong>do</strong>samente combati<strong>do</strong>s pelo vigário<br />

em suas prédicas. O jornal “A Or<strong>de</strong>m”, funda<strong>do</strong> pelo padre Oswal<strong>do</strong> Bindão, em 1936,<br />

no ano <strong>de</strong> 1939, sob a direção <strong>do</strong> Pe. Septímio, transformou-se no veículo <strong>de</strong><br />

provocações e ataques aos chama<strong>do</strong>s “corruptores” <strong>do</strong>s espíritos católicos <strong>de</strong><br />

Piquete.<br />

Toman<strong>do</strong> posse da Paróquia <strong>de</strong> São Miguel, o Pe. Septímio, apesar <strong>do</strong>s<br />

instrumentos <strong>de</strong> evangelização cria<strong>do</strong>s pelos seus pre<strong>de</strong>cessores, constatou que a<br />

Igreja Metodista possuía inúmeros instrumentos e organizações internas volta<strong>do</strong>s<br />

para a evangelização, com melhor resulta<strong>do</strong>. Multiplicava-se o número <strong>de</strong><br />

evangélicos. No início <strong>de</strong>sse mesmo ano, a Igreja Metodista pôs em prática uma<br />

po<strong>de</strong>rosa ferramenta que acirrou a “disputa” religiosa no município: enquanto a Igreja<br />

Católica fazia suas pregações nas ruas, por meio <strong>de</strong> procissões, somente em dias <strong>de</strong><br />

festivida<strong>de</strong>s, a Igreja Metodista realizava, com maior freqüência, em vários pontos da<br />

cida<strong>de</strong>, reuniões e sermões, cânticos e leitura <strong>de</strong> passagens bíblicas, numa clara<br />

convocação aos citadinos para a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas palavras. Essa situação irritava o<br />

Pe. Septímio que, através <strong>do</strong> jornal “A Or<strong>de</strong>m”, passou a publicar artigos ofensivos à<br />

Igreja Evangélica. No mês <strong>de</strong> março, as publicações <strong>do</strong>s artigos “A verda<strong>de</strong>ira cruz” e<br />

“Tapeações protestantes” culminaram numa resposta <strong>do</strong> pastor da Paróquia<br />

Metodista <strong>de</strong> Piquete que, através <strong>de</strong> um boletim distribuí<strong>do</strong> pela cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>safiou o<br />

Pe. Septímio para uma discussão em praça pública, sobre a veracida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s artigos<br />

publica<strong>do</strong>s. Dizia ainda que o padre <strong>de</strong>veria provar que os protestantes falsificavam a<br />

Bíblia, a fé, o sacerdócio; que sua ausência ao <strong>de</strong>bate seria a <strong>de</strong>claração patente <strong>de</strong>


sua <strong>de</strong>rrota; que a discussão seria presidida pelo Juiz <strong>de</strong> Paz Mo<strong>de</strong>sto Gonçalves<br />

Pereira e a or<strong>de</strong>m mantida pelo Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> Polícia; e contariam com a presença<br />

honrada <strong>do</strong> Prefeito Municipal.<br />

Revolta<strong>do</strong> com a repercussão <strong>do</strong> boletim, o Pe. Septímio dirigiu-se ao Delega<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Polícia local, José Edmun<strong>do</strong> Cida<strong>de</strong> Pfeil, nomea<strong>do</strong> que fora para o cargo a 3 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1939, pelo Secretário <strong>de</strong> Segurança Pública, o Sr. Dalyszio Menna Bareto,<br />

para se queixar contra a prática evangélica em vias e praças públicas. O Delega<strong>do</strong><br />

recebeu o padre em sua casa <strong>de</strong> negócios, na antiga residência <strong>do</strong> Coronel Luiz<br />

Relvas, e não na ca<strong>de</strong>ia. A autorida<strong>de</strong> eclesiástica exigia que o mesmo proibisse<br />

aqueles atos públicos <strong>do</strong>s “protestantes”. Prometeu o policial verificar, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

as Leis, o que po<strong>de</strong>ria ser feito. Buscan<strong>do</strong> na Constituição <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> novembro o que<br />

não podia e o que podia, o Delega<strong>do</strong> nada encontrou que o apoiasse no cumprimento<br />

da pretensão sacer<strong>do</strong>tal. Assim, in<strong>do</strong> à Casa Paroquial, mostrou ao padre Septímio<br />

que nada po<strong>de</strong>ria fazer em nome da Lei para impedir tais cultos, já que os mesmos<br />

não provocavam qualquer ato <strong>de</strong> perturbação à or<strong>de</strong>m pública. O Pe. Septímio<br />

discor<strong>do</strong>u, reclamou, lançou ameaças. Mas a autorida<strong>de</strong> policial afirmou que os<br />

protestantes tinham direitos análogos aos <strong>do</strong>s católicos, e que ele teria assim que<br />

proibir procissão com cânticos e orações pelas ruas da cida<strong>de</strong>. Isto foi uma afronta ao<br />

Pe. Septímio e o estopim para o conflito.<br />

Sain<strong>do</strong> o Delega<strong>do</strong>, o Vigário pegou <strong>de</strong> sua máquina <strong>de</strong> escrever e fez pesadas<br />

<strong>de</strong>núncias <strong>do</strong> mesmo ao Bispo Auxiliar <strong>de</strong> São Paulo. O Bispo, por sua vez, analisou<br />

a <strong>de</strong>núncia e remeteu-a ao Interventor <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, Dr. Adhemar <strong>de</strong> Barros, que<br />

encaminhou a reclamação ao Secretário <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Negócios da Segurança<br />

Pública. Continuan<strong>do</strong> viagem, chegou o processo ao Delega<strong>do</strong> Regional <strong>de</strong> Polícia <strong>de</strong>


Guaratinguetá, Dr. Mello Leitão, que man<strong>do</strong>u abrir inquérito contra a autorida<strong>de</strong><br />

policial <strong>de</strong> Piquete.<br />

O Delega<strong>do</strong> Regional Dr. Leitão, convocou o Sr. Cida<strong>de</strong> Pfeil para comparecer a<br />

Guaratinguetá, on<strong>de</strong> lhe <strong>de</strong>u ciência da gravida<strong>de</strong> da situação em que se envolvera.<br />

Iniciou-se, então, a apuração das <strong>de</strong>núncias contra o Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> Piquete. A primeira<br />

pessoa a ser ouvida foi o então Diretor da Fábrica, o Coronel José Gomes Carneiro,<br />

que teceu elogios à atuação <strong>do</strong> Sr. José Edmun<strong>do</strong> pelos brilhantes feitos em prol da<br />

segurança <strong>do</strong>s citadinos.<br />

Continuaram as inquirições ao Prefeito e pessoas gradas da cida<strong>de</strong>, terminan<strong>do</strong><br />

o Delega<strong>do</strong> Regional por regressar à sua se<strong>de</strong> e dar o <strong>de</strong>spacho ao processo, no qual<br />

constava nada haver que <strong>de</strong>sabonasse a pessoa e a conduta funcional <strong>do</strong> Delega<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Piquete.<br />

O Pe. Septímio não era pessoa <strong>de</strong> se abater por uma “<strong>de</strong>rrota”. Provi<strong>de</strong>nciou<br />

nova <strong>de</strong>núncia ao Bispo <strong>de</strong> São Paulo, este a encaminhou ao Interventor, e, seguin<strong>do</strong><br />

o mesmo trajeto anterior, o processo foi parar em Guaratinguetá, agora, todavia, não<br />

com um novo inquérito, mas com uma or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Secretário <strong>de</strong> Segurança exigin<strong>do</strong> a<br />

proibição das pregações públicas <strong>do</strong>s “protestantes”. Chama<strong>do</strong> àquela cida<strong>de</strong>, para lá<br />

se <strong>de</strong>slocou novamente o Sr. Pfeil, e recebeu <strong>do</strong> Regional or<strong>de</strong>ns para cumprir os<br />

<strong>de</strong>spachos superiores. O Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> Piquete não aceitou a imposição e disse


somente cumprir tal or<strong>de</strong>m se a mesma fosse subscritada pelo Dr. Carlos Ribas <strong>de</strong><br />

Mello Leitão e por ele assinada. E assim aconteceu.<br />

A or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Delega<strong>do</strong> Regional - <strong>de</strong> se proibir os sermões públicos <strong>do</strong>s<br />

metodistas -,foi a estes transmitida pelo Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> Piquete. Este momento era o<br />

mais apropria<strong>do</strong> para o final da história. O padre Septímio ganhou o que <strong>de</strong>sejava. O<br />

Delega<strong>do</strong> curvou-se apenas para cumprimento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns superiores. A partida da<br />

“disputa” religiosa estava empatada. Porém, essa história não acabara.<br />

Pe. Septímio x Espiritismo<br />

Em 23 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1939, um novo jornal foi funda<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong>: “O Monitor”.<br />

Primeiramente, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sr. Antônio <strong>de</strong> Assis e sob a direção <strong>do</strong> Sr.<br />

Francisco Veloso; posteriormente, apenas <strong>de</strong>ste último. Esse semanário veio tirar o<br />

sono <strong>do</strong> Pe. Septímio, já que o Sr. Veloso era espírita <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> e convicto, e apoiava<br />

os trabalhos executa<strong>do</strong>s pelos metodistas.<br />

O jornal “O Monitor”, logo nos seus primeiros números, conclamou operários da<br />

Fábrica <strong>de</strong> Pólvoras, associações religiosas, membros da comunida<strong>de</strong> evangélica,<br />

autorida<strong>de</strong>s e a população piquetense a se engajarem num ambicioso projeto que<br />

visava à construção <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> impacto social no município. Tratava-se<br />

<strong>de</strong> um albergue noturno que o Sr. Veloso pretendia constrir na cida<strong>de</strong> em função <strong>do</strong><br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> viajantes e pessoas pobres que perambulavam pelas ruas sem ter<br />

on<strong>de</strong> pernoitar. Esta idéia, logo <strong>de</strong> início encontrou resistência no la<strong>do</strong> católico.<br />

Inicialmente, a luta <strong>do</strong>s prós e contras estava restrita a artigos publica<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>is<br />

jornais (“O Monitor” e “A Or<strong>de</strong>m”), porém esquentou mais com uma reunião<br />

convocada pelo Sr. Francisco Veloso em sua residência, que transcorreu em esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> guerra fria. Houve a “invasão” <strong>do</strong> local pelo padre Septímio acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> fiéis<br />

e membros <strong>de</strong> associações religiosas. Ten<strong>do</strong>-se o reveren<strong>do</strong> nega<strong>do</strong> a tomar parte na<br />

mesa <strong>do</strong>s trabalhos, permaneceu no ambiente entre o pacifismo e o <strong>de</strong>safio. Para ele,<br />

Francisco Veloso, por ser espírita, “era um figadal inimigo da Igreja” (CÚRIA DE<br />

LORENA, 1939). Após perturbar o ambiente da reunião, o padre retirou-se e o Sr.<br />

Venino Vieira Soares, presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho Particular Vicentino, <strong>de</strong> maneira<br />

pon<strong>de</strong>rada expôs a proposta da construção da Vila Vicentina. Após <strong>de</strong>bates, houve<br />

consenso entre os participantes da reunião <strong>de</strong> que <strong>de</strong>veriam somar esforços para a<br />

edificação <strong>de</strong>ssa Vila. Dias <strong>de</strong>pois, o vigário nomeou uma comissão composta por<br />

Antonio José <strong>de</strong> Almeida, Horácio Pereira Leite, Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> Gue<strong>de</strong>s, Otávio Cândi<strong>do</strong><br />

Ribeiro e Lin<strong>do</strong>lfo da Costa Manso para angariarem <strong>do</strong>nativos em prol da construção<br />

da Vila Vicentina. O Jornal “A Or<strong>de</strong>m”, <strong>de</strong> forma provocativa, publicou matéria<br />

escarnecen<strong>do</strong> da reunião, e recebeu em troca outra <strong>do</strong> Sr. Veloso com o título <strong>de</strong><br />

“<strong>Basta</strong> <strong>de</strong> <strong>Fancaria</strong>” e sub-título “Rebaten<strong>do</strong> um insulto injurioso”. Temos, a partir daí,<br />

idéia <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ânimos existente entre católicos e espíritas, naqueles tempos. O<br />

que impedia os católicos <strong>de</strong> aceitar a construção <strong>do</strong> cita<strong>do</strong> albergue noturno era que<br />

os vicentinos cogitavam construir a “Vila <strong>do</strong>s Pobres”, cuja concretização exigia uma<br />

somatória <strong>de</strong> forças e não retalhação <strong>de</strong> recursos. O conflito entre os católicos e<br />

espíritas serviu para acelerar o início das obras, <strong>de</strong> maneira que, no dia 17 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro, com a presença <strong>do</strong> Bispo Diocesano, ocorreu a cerimônia <strong>de</strong> lançamento<br />

da pedra fundamental da Vila para os Pobres.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Um conflito aparentemente banal entre o vigário <strong>de</strong> uma pequena cida<strong>de</strong><br />

valeparaibana e as comunida<strong>de</strong>s metodista e espírita extrapolou os limites da


Paróquia e chegou à Capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Havia espaço para to<strong>do</strong>s, porém a<br />

intransigência <strong>do</strong> vigário, que queria distantes <strong>do</strong> perímetro da Paróquia quaisquer<br />

idéias vindas <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s “inimigos da Igreja”, agitou a vida da pacata cida<strong>de</strong>. Fé e<br />

po<strong>de</strong>r estavam em jogo. A imprensa escrita foi o veículo usa<strong>do</strong> para a batalha <strong>de</strong><br />

idéias e para conquista <strong>de</strong> corações e mentes. Esse conflito ganhou as ruas e quase<br />

chegou a vias, <strong>de</strong> fato. Impetuoso, o representante da Igreja Católica sempre<br />

provocava, mesmo quan<strong>do</strong> os ânimos já haviam serena<strong>do</strong>. Muitos antigos mora<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> Piquete ainda hoje se recordam <strong>de</strong> como o padre Septímio era provoca<strong>do</strong>r.<br />

Durante procissões, quan<strong>do</strong> passava em frente à Igreja Metodista, ele, insuflan<strong>do</strong> o<br />

peito, gritava: - “Abaixo o protestantismo! Viva a Igreja Católica Apostólica Romana!...<br />

e o povo respondia a to<strong>do</strong> pulmão Viva!...”, ou em frente à casa <strong>do</strong> Sr. Francisco<br />

Veloso gritava: “Morte ao espiritismo! Viva a Igreja Católica Apostólica Romana!...”<br />

Não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> se manifestar através <strong>de</strong> pregações pelas ruas, os protestantes<br />

inovaram com um serviço <strong>de</strong> alto-falante instala<strong>do</strong> na torre da Igreja Metodista, <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> passaram a pregar e a fazer leituras <strong>do</strong> evangelho. O Padre Septímio não se<br />

intimi<strong>do</strong>u, instalou numa das torres da Matriz <strong>de</strong> São Miguel aparelho similar. Iniciouse<br />

uma polêmica pregação no mais alto tom: <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, católicos; <strong>de</strong> outro,<br />

metodistas, através <strong>do</strong>s alto-falantes. Pobres ouvi<strong>do</strong>s! Apesar <strong>do</strong>s contratempos, após<br />

quatro anos à frente da Paróquia <strong>de</strong> São Miguel, houve um sal<strong>do</strong> positivo: o padre<br />

Septímio, indiretamente, fortaleceu espiritualmente toda a comunida<strong>de</strong> piquetense,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da fé professada. O católico ficou mais católico, o evangélico,<br />

mais crente e o espírita, mais cari<strong>do</strong>so. O resulta<strong>do</strong> concreto <strong>de</strong>sse episódio foi a<br />

construção da Vila Vicentina, que contou com mobilização <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong><br />

piquetense. Essa história, no entanto, não acabou com a partida <strong>do</strong> Pe. Septímio...<br />

Bibliografia<br />

A ORDEM, Jornal. 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1941. Ano V, n° 75. CHAVES, A.C.M. Nossa<br />

Homenagem à Fabrica. O ESTAFETA, Piquete-SP, março <strong>de</strong> 1997. In Arquivo<br />

Fundação Christiano Rosa.<br />

CHAVES, A.C.M. 15 <strong>de</strong> junho. O ESTAFETA, Piquete-SP, junho <strong>de</strong> 1997. In Arquivo<br />

Fundação Christiano Rosa.<br />

CONTRERAS , A.G.C, CALLISAYA, A.A.S., IGREJA METODISTA DE PIQUETE:<br />

1929-1989. In Arquivo Fundação Christiano Rosa.<br />

CÚRIA DE LORENA, Livro <strong>do</strong> Tombo da Paróquia <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> 1747 a 1883, ano 1865, pág. 93.<br />

CÚRIA DE LORENA, Livro <strong>do</strong> Tombo da Paróquia <strong>de</strong> São Miguel <strong>do</strong> Piquete, <strong>de</strong><br />

1888 a 1939, n°1. Ano <strong>de</strong> 1888.<br />

CÚRIA DE LORENA, Livro <strong>do</strong> Tombo da Paróquia <strong>de</strong> São Miguel <strong>do</strong> Piquete,<br />

1939 a...,n° 2. Ano <strong>de</strong> 1939.<br />

CÂMARA MUNICIPAL DE LORENA. Ata da 3º Sessão Extraordinária da Câmara<br />

Municipal <strong>de</strong> Lorena. Livro <strong>de</strong> Atas da Câmara <strong>de</strong> Lorena. Ano <strong>de</strong> 1894.<br />

CHAVES, A.C.M. EVANGELIZAÇÃO ATRAVÉS DA NOSSA CULTURA. Piquete:<br />

SP, 1996. Palestra proferida na Novena <strong>de</strong> São Miguel Arcanjo, na Matriz <strong>de</strong> São<br />

Miguel <strong>de</strong> Piquete-SP, em setembro <strong>de</strong> 1996. In Arquivo Fundação Christiano Rosa.<br />

FREIRE, Messias. DESAFIO. Panfleto distribuí<strong>do</strong> no município <strong>de</strong> Piquete, em abril<br />

<strong>de</strong> 1939.<br />

FERREIRA, Dóli <strong>de</strong> Castro. A origem da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Piquete: uma contribuição para a<br />

História Documental <strong>de</strong> Piquete. O ESTAFETA, Piquete-SP, maio <strong>de</strong> 1997. In Arquivo<br />

Fundação Christiano Rosa.


MEMÓRIA, Imagem. Mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong>s Sacer<strong>do</strong>tes. In O ESTAFETA. Dezembro <strong>de</strong> 2000.<br />

MASIEIRO, J.P. Freguesia e paróquia. In <strong>do</strong>cumento <strong>do</strong> Arquivo Fundação<br />

Christiano Rosa<br />

O MONITOR, Coleção <strong>do</strong>. De junho <strong>de</strong> 1939 a julho <strong>de</strong> 1942. In Arquivo Fundação<br />

Christiano Rosa.<br />

VELLOSO, Francisco. <strong>Basta</strong> <strong>de</strong> <strong>Fancaria</strong>: Rebaten<strong>do</strong> um insulto injurioso. Boletim<br />

distribuí<strong>do</strong> no município <strong>de</strong> Piquete, 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1939.

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