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De acordo com o depoimento da vítima, esta estava trabalhando em uma instituição quando os seis indivíduos invadiram o seu local de trabalho e já a agrediram com um golpe na cabeça que a deixou desacordada por alguns instantes. Eles bateram nela, estupraram-na, inseriram ferramentas e uma pistola no interior de sua vagina, riscaram suas coxas e nádegas com as ferramentas (alicate, chave de fenda). Foram realizados exames para verificar se havia espermatozóides deles na vítima e nada foi encontrado, somente vestígios de espermatozóides compatíveis com os indivíduos maiores de idade, fato este que os fazem reafirmar seus discursos de inocência. Para não identificar a identidade dos sujeitos, utilizamos nomes fictícios. Esclarecemos que à época da aplicação do teste, aproximadamente um ano após o crime, os sujeitos de que tratamos neste estudo, contavam com 18 anos: César, Magno e Cássio; Marco,15 anos. Todos, residentes no interior de Goiás, usuários de drogas e tendo em seus históricos roubos e arruaças. Serão apresentadas neste artigo apenas algumas das respostas das pranchas que indicaram o flagrante psicológico de tal crime. Respostas de César: Prancha II: “Aqui tem um pezinho de fora parecendo um neném nascendo. É tem dois pezinhos aqui. É um pé mesmo.” No inquérito: “É uma vagina, pelo formato do meio.” Respostas de Magno: Prancha VI: “Dois cachorro sentado numa árvore, num galho. “Tipo, um pedaço de um vidro quebrado.” Inquérito: “Ele tá assim, tipo num galho. O galho tá solto, um pouco seco. Ele tá sentado em cima dele. Aqui tá parecendo um vidro, um lençol rasgado. Tem formato de um vidro quebrado todo despedaçado e um lençol velho.” (Foi o vidro que rasgou o lençol?) Não.” Resposta de Cássio: Prancha II: “Parece um rosto”. Ideoafetivo: “Solitário. Parece que ele tá triste. Tristeza! Parece que tá chorando. Dá a impressão que tá chorando. Parece que tá com o olho caído.” (Qual é motivo?) “Raiva!” (Qual é o seu sentimento?) “Sinto dó, fico com dó! Respostas de Marco: Prancha II: “Trem preto com as ponta vermelha, parece uma mão fechada. Não sei o que é esse bagulho não. Tem umas pintas vermelhas, um buraco com uma listinha vermelha, parece a mão. Esse aqui. Tem um trem aqui que veio na minha cabeça que eu não vou dizer não. Vermelho com um risco...com o buraco tem um trem (mostra) que
não vou dizer. ( Pode dizer, você está com vergonha?) “Tá parecendo uma vagina com um trem branco, vermelha, cheia de sangue.” Inquérito: “Vagina: quase igual, trem branquinho, parecendo que tá espirrando sangue. Buraco: tá fazendo parte aqui da vagina...espirrando! Tem um cara aqui, outro aqui, eles tipo juntado, batendo a mão. Dois caras brigando...tem sangue aqui, logo na borda aqui.” Ideoafetivo: Tudo parecendo que tem duas pessoas foi vendo de longe e cumprimentando feliz. (Qual o sentimento?) “Bom!” (Vagina é bom?) “Sentimento bom também para os homens.” (Mesmo com sangue?) “Aí tem que esperar dar uma lavadinha, saber o que aconteceu...pra depois né!” A prancha II representa a capacidade do sujeito de reagir e enfrentar o trágico, o terrificante, a dor tanto física quanto psicológica. As respostas dadas nesta prancha apresentam o flagrante de experiências com a genitalidade feminina. “Trem branquinho, parecendo que tá espirrando sangue...tem um cara aqui, outro aqui, eles tipo juntando, batendo a mão”. O que poderia ser um trem branquinho que faz uma vagina espirrar sangue? No depoimento da vítima consta que inseriram ferramentas dentro da sua vagina e que ela tenha ficado muito machucada, fato este tendo sido comemorado de acordo com o teor da resposta dada por Marco nesta prancha. “Aqui tem um pezinho de fora parecendo um neném nascendo. É, tem dois pezinho aqui”. Ora, os bebês não nascem pelos pés, mas pela cabeça. Analisando a resposta de César podemos fazer a seguinte associação: dois pezinhos/duas cabeças/dois estupradores/dois tipos de espermatozóides que não foram compatíveis com as dos quatro menores em questão, por isso a negativa da acusação de estupro. Na resposta de Cássio parece exprimir a reação da vítima: “Solitário. Parece que ele ta triste. Tristeza! Parece que ta chorando. Dá a impressão que ta chorando. Parece que ta com o olho caído.” “Raiva!” Quanto a resposta de Magno na prancha VI: “Dois cachorro sentado numa árvore, num galho. “Tipo, um pedaço de um vidro quebrado.” Um objeto cortante que pode cortar um tecido, provavelmente a pele de uma mulher com alguma ferramenta utilizada por dois “cachorros”. Como vemos, a análise das provas projetivas apontam para um flagrante psicológico, além de remontar a cena do crime e descortinar a dinâmica perversa da personalidade dos sujeitos envolvidos, onde a experiência do crime de estupro é vivenciada sem qualquer sentimento de culpa. Pelo contrário, vibra, goza e despreza o sofrimento da vítima. Portanto, o que estamos falando aqui não é somente de um crime, é o que vem junto a ele, que escandaliza, que choca; manifestado pela crueldade e prazer daqueles que o cometem. É deste modo que o perverso realiza o seu espetáculo, faz da dor de sua vítima um troféu em função do seu próprio gozo.
Page 1: PSICODINÂMICA DO ATO PERVERSO DE F

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