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jornal-agosto-2008_8 págs.p65 - APASE

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177 - <strong>agosto</strong> de <strong>2008</strong> Política olítica Sindical<br />

Sindical<br />

Menos carinho, mais dignidade!<br />

Não se trata, evidentemente, da parte dos<br />

governantes em aceitar as evidências de por que<br />

motivos a educação vai tão mal. Também não se<br />

trata de a sociedade se revoltar contra as greves<br />

do funcionalismo público, em especial as<br />

manifestações na Avenida Paulista. Ninguém<br />

quer fazer o “mea-culpa, mea máxima culpa”.<br />

Pelo contrário, a mídia tem se comportado<br />

de forma a sempre criticar as atitudes dos<br />

professores nos movimentos reivindicatórios. Por<br />

exemplo, divulga com destaque estudo do<br />

DIESE (Departamento Intersindical de Estudo<br />

Sócio-econômico), em que 82% das horas<br />

paradas se deve às paralisações no setor público.<br />

Mas não aprofunda a análise da explicação,<br />

apontando que a concentração de greves, se deve<br />

à falta de negociação entre os governos federal,<br />

estadual e municipal e o funcionalismo público.<br />

Nem que a causa principal das reivindicações,<br />

48,7%, são motivadas pelo reajuste salarial.<br />

As tantas reportagens e caricaturas do<br />

professor em programas de TV depreciam os<br />

trabalhadores em educação. Agora, até o<br />

judiciário resolveu investir contra os mestres.<br />

Escancaram a empáfia de que estão acima do<br />

bem e do mal. Julgam-se caídos do céu por<br />

descuido, portanto, não precisaram aprender<br />

nada nos bancos escolares. O juiz que proibiu<br />

a manifestação dos professores na avenida<br />

Paulista, em 4 de julho, em seu despacho disse<br />

que a greve da categoria se deve “à insatisfação<br />

pura e simples com a má escolha do emprego e<br />

da profissão, pelos professores, como se o<br />

restante dos cidadãos tivessem culpa por isso”.<br />

Pergunta ao meritíssimo juiz, Maury Ângelo<br />

Bottesini: quer trocar seu salário pelo de<br />

professor da rede pública estadual de S. Paulo?<br />

A prova mais contundente dessa<br />

orquestração contra os servidores da educação,<br />

em suas justas atitudes de luta por mais<br />

dignidade, pode ser lida na espécie de<br />

“confiteor” que o “ombudsman” da Folha de S.<br />

Paulo (pág. A 6, de 6/7/08), faz de como esse<br />

<strong>jornal</strong>, à semelhança de outros suportes da<br />

mídia, tem tratado os educadores. Excertos do<br />

referido texto, “Aos mestres, sem carinho”:<br />

- “o <strong>jornal</strong> posicionou-se em editorial contra a<br />

paralisação, publicou colunas agressivas, não<br />

tratou a educação como problema sério de<br />

políticas públicas”;<br />

- “a greve é excelente oportunidade para a<br />

imprensa fazer levantamento detalhado das<br />

condições da educação que a Folha desperdiça”;<br />

- “há consenso nacional sobre a importância da<br />

educação, mas poucos dizem presente em<br />

demonstrar concretamente esse compromisso”;<br />

- “um <strong>jornal</strong>, para ir além da retórica, precisa<br />

investir em reportagens minuciosas sobre os<br />

Abordagem<br />

Abordagem<br />

problemas que travam a melhora da educação”;<br />

- “a imprensa não faz uma radiografia de<br />

dificuldades da educação que detonou a greve,<br />

como: violência de alunos contra professores;<br />

existência de equipamentos didáticos<br />

necessários nas escolas; incentivo para<br />

aperfeiçoamento profissional; tamanho das<br />

turmas em salas de aula, adequação de carga<br />

horária e currículo; acesso à internet; realização<br />

de excursões; qualidade de bibliotecas,<br />

laboratórios e salas de arte”;<br />

- “não houve diagnóstico das condições salariais<br />

médias dos professores: qual porcentagem de<br />

sua remuneração é salário e qual são bônus e<br />

gratificações, como se compara o pagamento<br />

do professor paulista com os de outros Estados<br />

e países, quantas horas semanais precisa<br />

trabalhar (em sala de aula e fora dela) para<br />

ganhar uma remuneração minimamente<br />

compatível com sua formação e a importância<br />

estratégica de sua profissão”;<br />

- “por fim, reconhece que houve época em que<br />

a educação era tema prioritário para o <strong>jornal</strong> –<br />

agora não é mais. Deveria ser”.<br />

Essa confissão crítica pelo próprio <strong>jornal</strong>, que<br />

serve para toda a mídia, não nos ilude, nem serve<br />

de consolo. Presta-se, porém, para incentivar mais<br />

ainda as entidades de classe dos trabalhadores em<br />

educação a se unirem de forma irreversível, se<br />

articulando e agirem para reverter a posição de<br />

menosprezo dos governantes e da mídia, bem<br />

como, da indiferença e ignorância da sociedade, a<br />

Decreto 53.037/08: mais conquistas usurpadas das<br />

categorias do Magistério Paulista<br />

“E o operário disse: Não!<br />

E o operário fez-se forte<br />

Na sua resolução.”<br />

(Vinícius de Moraes)<br />

Há 14 anos, quando da implantação do<br />

Plano Real, um pacote de sabão em pedra<br />

custava R$ 0,98, hoje custa R$ 4,50. É uma<br />

inflação de quase 400%. Fico aqui imaginando,<br />

em meu ingênuo sonhar. Que bom seria se o<br />

salário do Quadro do Magistério tivesse sido<br />

reajustado, no mencionado período, na mesma<br />

proporção. Os profissionais da educação teriam,<br />

sem dúvida, um belo salário. Mas a realidade é<br />

muito diferente, pois o Governo continua nos<br />

premiando com uma tirana política das<br />

gratificações e nos negando o direito à reposição<br />

da inflação em data-base estipulada por Lei.<br />

Em vez disto, continua nos dando<br />

presentes de verdadeiro “amigo da onça”.<br />

Além de culpar as categorias do magistério<br />

por insucessos na educação, atulhando as<br />

escolas com montanhas de papel, cada vez<br />

mais quer deixar claro, ao contrário do que<br />

pensa nossa população, que nossas funções<br />

são dispensáveis.<br />

O último exemplo foi o Decreto 53.037/08,<br />

que dispõe sobre a regionalização dos concursos<br />

públicos e define normas relativas à remoção,<br />

substituição e contratação temporária de<br />

docentes. Já alterado pelo Decreto 53.161/08,<br />

o texto insiste em manter a exigência de um<br />

período mínimo de 200 (duzentos) dias para<br />

substituição nos termos do Artigo 22 do<br />

Estatuto do Magistério, o que equivale a dizer<br />

que, em afastamentos como férias, licençaprêmio<br />

e licença-gestante, o Supervisor de<br />

Ensino afastado não pode ser substituído.<br />

Esta medida tem tornado insustentável a<br />

situação das Diretorias de Ensino, pois têm<br />

de conceder os direitos amparados pela<br />

legislação e deixar a Supervisão de Ensino das<br />

escolas a descoberto.<br />

Bom, depois de tudo por que vimos<br />

passando, obrigados a empurrar nas escolas<br />

uma proposta pedagógica de cuja elaboração<br />

não participamos, acho que tudo é possível.<br />

O famigerado Decreto ainda restringe muito<br />

a possibilidade de que o funcionário recém<br />

empossado possa se aproximar de sua<br />

residência. Tal medida vem na contramão, pois<br />

é por ocasião do ingresso que os funcionários,<br />

estando longe de casa, mais precisam de<br />

mecanismos que lhes permitam trabalhar perto<br />

de suas famílias. Qual a justificativa para tal<br />

atitude? Bem, estranhamente, o Decreto não<br />

apresenta justificativa nenhuma, iniciandose,<br />

com a secura característica da atual<br />

Administração, pelo artigo primeiro, com<br />

determinações que só fazem prejudicar as<br />

categorias do Quadro do Magistério.<br />

Pois é, caro colega, qual será a resposta<br />

adequada a estes desmandos? Direitos<br />

conseguidos com justiça, por meio da Lei<br />

Complementar 444/85, o último Estatuto do<br />

Magistério elaborado com participação dos<br />

segmentos representativos do ensino, estão<br />

sendo retirados por Decretos e até mesmo por<br />

Resoluções. Como isto é possível, pois se o direito<br />

conseguido com o apoio de todas as categorias,<br />

merecendo mesmo o apoio e reconhecimento<br />

das classes políticas, é tirado por meio de<br />

instrumentos menores da Legislação?<br />

Conforme costumam dizer em Direito,<br />

restar-nos-á unicamente o “jus sperniandis”?<br />

São muitas as perguntas, mas acho que a<br />

única resposta justa que podemos dar é a<br />

expressão de nosso desejo, por ocasião da ida<br />

3<br />

fim de tratarem os professores com menos carinho<br />

e com mais dignidade.<br />

As entidades da educação não vão se calar<br />

ante à irrisória resposta do governo paulista de<br />

5% de reajuste, como a subserviente Assembléia<br />

dos Deputados acaba de aprovar. Não basta o<br />

mesmo <strong>jornal</strong> citado colocar em manchete<br />

“Governo de SP não cumpre suas metas para a<br />

educação”, e, em editorial afirmar que “uma<br />

carreira digna para atrair bons mestres pode<br />

não ser garantia suficiente de melhor ensino,<br />

mas é parte da solução”. Nem tão pouco com<br />

a fixação pelo governo federal do piso salarial<br />

de R$ 950,00 para os professores de todo o<br />

país. Não dá para aceitar mais essa política de<br />

salário mínimo, de piso, que só serve para<br />

acomodar os governantes de turno.<br />

A campanha unificada das entidades dos<br />

profissionais da educação não se intimidará<br />

com a fala do juiz citado, para quem o<br />

comportamento de greve é “sanha destruidora<br />

de sindicalistas”. Melhor justiça faria o judiciário<br />

se defendesse a aplicação das disposições<br />

constitucionais a respeito da isonomia salarial.<br />

Quem sabe os professores não continuariam a<br />

receber menos que um apertador de botão nos<br />

elevadores do congresso e menos que um<br />

entregador de intimação do judiciário. <strong>APASE</strong>,<br />

que somos todos nós, tem essa postura. Ou<br />

alguém discorda?<br />

Eugênio Dodecézino Berto<br />

Diretor de Organização Sindical<br />

às urnas das eleições, sejam as municipais, que<br />

acontecem este ano, sejam as de âmbito<br />

nacional. Temos de olhar muito atentamente<br />

para tudo que está acontecendo, para não nos<br />

acomodarmos, incorrendo no erro em que<br />

temos incorrido.<br />

Afinal, se uma população está insatisfeita,<br />

não deve esconder esta condição, mostrando,<br />

como no Livro Sagrado, com “choro e ranger<br />

de dentes”, sua fúria e seu desconforto. Para<br />

tanto, é preciso ter a clareza necessária, para<br />

dar o troco na medida dos benefícios não<br />

recebidos. Se a classe política não nos valoriza,<br />

por que temos de valorizá-la? Como se faz<br />

com uma roupa usada, temos de trocá-los,<br />

trocá-los e trocá-los, até que recebamos o<br />

reconhecimento que temos, mas que só nos é<br />

negado pelos políticos que estão no poder.<br />

Estas preocupações são essenciais, porque<br />

amamos a educação e é preciso perceber que<br />

ela está se desfazendo diante de nós. Isto<br />

porque temos a sensibilidade para saber que<br />

toda vez que um pedacinho dela se perde é<br />

como se perdêssemos um pedacinho de cada<br />

um de nós.<br />

Lutemos, pois, caros colegas, cientes de<br />

que, nesta difícil empreitada, nosso Sindicato<br />

Apase necessita de nosso apoio, agindo por<br />

meio de ações em todos os níveis de decisão.<br />

Jaime Rodrigues da Silva<br />

Supervisor de Ensino - DE Ribeirão Preto

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