Pesquisa e organização: Prof. Coord. Elizabete Herling ... - forpedi
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Nessa idade, a gente sabe muito pouco da vida dos adultos. Talvez a dona Andréia tivesse brigado com o<br />
namorado. Pode ser que o diretor da escola tivesse dado uma bronca nela. Vai ver que tinha alguém doente<br />
na família.<br />
Mas a gente não queria saber de nada. Só queria ter aula de desenho.<br />
Foi quando a dona Andréia apareceu. Todos nós ficamos contentes.<br />
Não foi só contente. Foi uma espécie de alegria total, de gritaria, de explosão.<br />
Ela entrou na classe.<br />
Alguém gritou:<br />
- É a Andréia!<br />
Não era o jeito certo de falar. Tinha de dizer "dona Andréia". Mas àquela altura ninguém estava ligando.<br />
Todo mundo começou a gritar:<br />
- É a Andréia! É a Andréia!<br />
O berreiro foi ganhando ritmo. Como se fosse torcida de futebol.<br />
- AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA!<br />
Parecia um jogador entrando em campo. Ou um cantor de rock.<br />
- AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA!<br />
Ela começou ficando alegre com a zoeira. Deu um sorriso. O sorriso dela era lindo.<br />
- AN-DRÉ-IA!<br />
Depois, ela ficou um pouco assustada. Não estava entendendo a bagunça.<br />
- AN-DRÉ-IA!<br />
Foi então que eu vi. Ela começou a chorar.<br />
E saiu da sala.<br />
Na hora, não entendi.<br />
Fiquei pensando.<br />
Quem sabe ela se assustou muito. Talvez não imaginasse que a gente gostava tanto dela.<br />
E, às vezes, muito amor assusta as pessoas.<br />
Pode ser que ela tivesse ficado brava. Tínhamos de dizer "dona Andréia", e não dissemos. Era meio<br />
chocante só dizer "Andréia", como se ela fosse irmã da gente, ou apresentadora de televisão, ou empregada.<br />
Ela também pode ter chorado por outro motivo qualquer. Estava triste com o namorado, ou com alguma<br />
doença da família, e toda aquela alegria da gente atrapalhando os sentimentos dela.<br />
A Andréia nunca mais voltou.<br />
As aulas de desenho acabaram. Comecei a perceber uma coisa.<br />
É que às vezes, quando a gente gosta demais de uma pessoa, não dá certo. Dá uma bobeira na gente. A gente<br />
começa a gritar:<br />
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