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42 Livros A Última Missão Tal como Jean Latérguy, que imortalizou os Comandos no seu famoso livro Os Centuriões, relativo às campanhas do Vietname, o Coronel José de Moura Calheiros vem, neste livro A Última Missão, descrever a gesta do seu Batalhão de Caçadores Pára-quedistas N.º 12 (BCP12), na campanha da Guiné. A acção decorre entre Dezembro de 1972 e Julho de 1973, onde três militares morrem e, com o desfecho abrupto do conflito, não foi possível trazêlos para a metrópole. Ora, a última missão foi a de se conseguir em parceria com a Liga dos Combatentes e com o Instituto Nacional de Medicina Legal, ir à Guiné investigar o local onde foram enterrados, há 35 anos e conseguir a consequente inumação. Se fosse tão-somente esse tema, por si só já daria um livro, mas não é o caso! Partindo do cenário da Guiné, o Coronel José Calheiros leva-nos ao teatro de operações de Angola quando, no dia 16 de Março de 1961, foram chamados de emergência para uma missão de intervenção, num ambiente eufórico, rumo à aventura para aquilo que, segundo julgavam, seriam duas semanas! Regressaram mais de dois anos depois – e nas palavras do autor – E porque foram substituídos por outros! E estes por outros. E esses por outros. Porque os quinze dias, afinal, foram quase quinze anos! Então, o autor era um jovem Tenente, idealista, ambicioso e aventuroso, e vainos descrevendo com especial mestria, como em 1963, com 27 anos, já Comandante da 1.ª Companhia de Caçadores Pára-quedistas, inicia a sua comissão na África profunda, com péssimas comunicações, áreas imensas, deslocações longas, as primeiras baixas, o baptismo de fogo, que o vão marcar para sempre. As suas descrições de combates são realistas, cruas e verídicas. A paisagem bela e grandiosa, com os inolvidáveis nascer e pôr-do-sol, as trovoadas e tempestades, comuns a toda a África. 1967. 2.ª Comissão – que o então Capitão Calheiros inicia em Moçambique, como Comandante da 2.º Companhia de Caçadores Pára-quedistas. Regresso ao mato onde não havia matas frescas, nem o capim verde e as matas verdejantes de Angola, com maiores dificuldades que tivera em Angola, devido às grandes distâncias e forte componente operacional. Mais baixas e desalento, mas um sentimento forte de missão bem cumprida! 1971. 3.ª Comissão – na Guiné. As primeiras impressões à chegada Bissalanca; calor tremendo e humidade asfixiante. Chegada a Bissau: Mercado de Bandim, Palácio do Governador, Praça do Império, Quartel-general e Comando- Chefe. Grande Hotel, dois restaurantes: o Pelicano e o Solar dos Dez. À noite ouvem-se os rebentamentos a poucos quilómetros. Está-se num verdadeiro teatro de guerra, que só se costumava ver nos filmes ingleses da altura, passados em Jerusalém, Chipre, etc. Mas a Guiné era como um conjunto de pessoas que se conheciam todas devido às poucas distâncias, que compartilhavam as dores e sofrimentos de todos os outros, que estavam em sítios muito complicados, existindo um forte espírito de corpo (opinião do signatário). A nova missão, do já Major Calheiros, era a de 2º. Comandante do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas N.º 12. Uma Companhia estava em Bissalanca e as outras estavam destacadas no interior em actividade operacional. E é na Guiné que o Coronel Calheiros vai-nos fazer envolver em duríssimas operações de combate. Guidage, Guileje, Cantanheez e Gadamael são as páginas extraordinárias de abnegação, lealdade, espírito de sacrifício e de camaradagem, levados ao extremo da perda de vidas, que só lendo se poderá perceber o quão valentes e abnegados foram estes militares anónimos e generosos, envolvidos em combates que, se não fora reais, poderíamos pensar no filme Apocalipse Now. Vai-nos descrever aquartelamentos dizimados pelo fogo intenso do inimigo, de Comandantes à beira da loucura por se verem impotentes perante tanta tragédia e tantos militares ficarem loucos e desalentados. A fome, o medo, a
sede, as evacuações e o papel valorosamente efectuado, mas muitas vezes esquecido, pelas jovens enfermeiras Pára-quedistas, que cumpriram em todo o Ultramar a sua Missão de socorro e cuidados, pelos valentes pilotos que desafiavam o fogo inimigo, com incidência para os helicópteros. Enfim, a campanha na sua vertente mais violenta. Um nome sempre presente, o do Comandante do BCP12 – O Tenente-Coronel Araújo e Sá, já falecido. E é no decurso dessas operações que morrem três soldados do BCP12 (o Vitoriano, o Lourenço, e o Peixoto e Melo), que por falta de evacuação, (falta de caixões, de pregos e de madeira), dão azo a serem enterrados na “terra de ninguém”, abandonados pelo fim do conflito. 35 anos depois, a Liga de Combatentes consegue a autorização de deslocação de uma equipa técnica constituída por três antropólogos, uma arqueóloga, um técnico forense e um técnico de geo-radar, além do Major-General Norberto Bernardes, do Major-General Hugo Borges, do Coronel Chanky Danif, do autor e do Sargento-Mor Carvalho Oliveira (intervenientes em vários combates citados). A SIC também esteve presente na reportagem. Livros Difícil mas não impossível (a sua localização), porque os únicos dados eram um croqui feito, na altura, por um militar anónimo. O regresso, 35 anos depois, a um país depauperado, mas sempre com as populações alegres, sorridentes, outros ex-inimigos, mas todos contentes com a nossa presença. A missão de os trazer para Portugal foi um êxito e estão enterrados no lugar próprio. José Calheiros, escreveu um livro épico e notável, com uma sensibilidade fora de vulgar, aliado a uma clareza e realismo tão profundo, que se torna obrigatório a sua leitura, tanto pelos militares que viveram esses tempos, como pelas actuais gerações, para perceberem melhor o quanto custou, a mais fantástica gesta do Século XX, feita pelo Exército em particular e pelos outros ramos das Forças Armadas em geral, durante aqueles quinze anos de combate. Tenente-Coronel João Pinto Bessa CALHEIROS, José de Moura, A Última Missão, Caminhos Romanos, 2010, 639 páginas. 43
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