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Apresentação - Planej

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Português<br />

Professor:<br />

A língua é uma das formas mais elaboradas de<br />

linguagem. Assim, ensinar e aprender a língua materna<br />

é entrar neste mundo de representações, comunicação<br />

e expressão; é entrar no mundo da cultura<br />

pela porta da frente e poder manter com ela uma relação<br />

de representação, comunicação e expressão a<br />

partir dos significados construídos no seu tempo, no<br />

seu espaço, na sua inteligência e no seu sentimento.<br />

Isso quer dizer que só o domínio dos elementos<br />

linguísticos não é suficiente; é necessário que na<br />

escola, de forma sistematizada, e nos outros espaços<br />

de vida, haja ampliação permanente do repertório<br />

cultural, portanto de sentidos.<br />

A prática escolar deve dar sentido à aprendizagem<br />

da língua portuguesa na articulação dela com<br />

a produção das outras áreas de conhecimento e<br />

com as vivências não escolares dos seus alunos.<br />

O texto a ser ouvido e lido, falado e escrito não<br />

é “de e para Língua Portuguesa”, e sim para<br />

comunicar, expressar e representar o universo<br />

cultural e humano de cada pessoa, na sua relação<br />

consigo e principalmente com o outro.<br />

Numa dimensão de área, a Língua Portuguesa,<br />

como um sistema linguístico, interage com outras<br />

linguagens não verbais e verbais. Sua vivência pedagógica<br />

não pode ser pensada no mundo escolar<br />

de forma desarticulada, desvinculada dessas outras<br />

linguagens que a criança e o jovem utilizam, desde<br />

muito cedo. A interação comunicativa e a expressão<br />

humana criaram um conjunto de sistemas que<br />

em articulação conformam um universo simbólico<br />

que caracteriza a natureza humana. Alguns desses<br />

sistemas ou manifestações têm tratamento didático<br />

próprio no universo das disciplinas escolares, como<br />

as manifestações artísticas ou o sistema de representação<br />

da linguagem matemática. Entretanto, a<br />

maioria desses sistemas não encontra no currículo<br />

recortes próprios, embora seja importantíssimo<br />

considerá-los na educação escolar, em especial,<br />

na disciplina de Língua Portuguesa.<br />

O ensino da Língua Portuguesa no ensino fundamental,<br />

assim, deve ter seis objetivos básicos:<br />

1. ampliar o domínio da língua materna nas<br />

dimensões de comunicação e expressão<br />

reais ou em simulações significativas, na<br />

sua representação oral;<br />

2. iniciar e ampliar a aprendizagem de um<br />

novo sistema de representação dessa lín-<br />

<strong>Apresentação</strong><br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

gua, a representação escrita, nas dimensões<br />

de comunicação e expressão reais ou<br />

em simulações significativas: um sistema<br />

de notações gráficas, de possibilidades de<br />

comunicação e de capacidades de expressão<br />

diferentes da representação oral da<br />

sua língua materna, mesmo que o registro<br />

escrito ou a leitura em alguns casos seja<br />

realizado por outros;<br />

tomar consciência, pouco a pouco, de como<br />

é constituído o sistema linguístico de que<br />

faz uso, para poder explorá-lo melhor, nas<br />

suas representações oral e escrita;<br />

usar a língua, oral e escrita, como instru-<br />

mento de acesso e interação com o conjunto<br />

da produção humana, nas suas vivências<br />

e especialmente na relação com<br />

os conhecimentos construídos pelas diferentes<br />

áreas de saber do conhecimento<br />

socialmente reconhecido;<br />

contextualizar a sua produção de comunica-<br />

ção, expressão e representação em Língua<br />

Portuguesa no tempo em que vive, nos diferentes<br />

espaços em que atua e nos diversos<br />

lugares sociais que ocupa;<br />

articular a linguagem verbal às outras lin-<br />

guagens, ampliando a capacidade de representação,<br />

comunicação e expressão<br />

das crianças e jovens.<br />

Estrutura do material de Língua<br />

Portuguesa (EF II):<br />

“O estabelecimento de eixos organizadores dos<br />

conteúdos de Língua Portuguesa no ensino fundamental<br />

parte do pressuposto que a língua se realiza<br />

no uso, nas práticas sociais; que os indivíduos se<br />

apropriam dos conteúdos, transformando-os em<br />

conhecimento próprio, por meio da ação sobre eles;<br />

que é importante que o indivíduo possa expandir<br />

sua capacidade de uso da língua e adquirir outras<br />

que não possui em situações linguisticamente significativas,<br />

situações de uso de fato.<br />

A linguagem verbal, atividade discursiva que é,<br />

tem como resultado textos orais ou escritos. Textos<br />

que são produzidos para serem compreendidos. Os<br />

processos de produção e compreensão, por sua<br />

vez, se desdobram respectivamente em atividades<br />

de fala e escrita, leitura e escuta. Quando se afir-<br />

P1


ma, portanto, que a finalidade do ensino de Língua<br />

Portuguesa é a expansão das possibilidades do<br />

uso da linguagem, assume-se que as capacidades<br />

a serem desenvolvidas estão relacionadas às quatro<br />

habilidades linguísticas básicas: falar, escutar,<br />

ler e escrever.” (Parâmetros curriculares nacionais:<br />

língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Brasília, 1997, p. 30.)<br />

Conversa sobre o texto<br />

Os trechos acima foram selecionados dos Parâmetros<br />

Curriculares Nacionais para apresentar os<br />

eixos da disciplina de Língua Portuguesa. A seguir,<br />

temos uma explicação específica do mesmo documento<br />

sobre os eixos falar/escutar:<br />

“Não basta deixar que as crianças falem; apenas<br />

o falar cotidiano e a exposição ao falar alheio<br />

não garantem a aprendizagem necessária. É preciso<br />

que as atividades de uso e as de reflexão<br />

sobre a língua oral estejam contextualizadas em<br />

projetos de estudo, quer sejam da área de Língua<br />

Portuguesa, quer sejam das demais áreas<br />

do conhecimento. A linguagem tem um importante<br />

papel no processo de ensino, pois atravessa<br />

todas as áreas do conhecimento, mas o contrário<br />

também vale: as atividades relacionadas às<br />

diferentes áreas são, por sua vez, fundamentais<br />

para a realização de aprendizagens de natureza<br />

linguística.” (idem, p. 34.)<br />

Portanto, no material que temos em mãos, professor,<br />

nas atividades intituladas “Conversa sobre<br />

o texto”, é necessário considerar como o aluno<br />

expõe suas respostas de maneira clara, contudo<br />

deve-se lembrar sempre que, com a ajuda do professor,<br />

ele deverá articular e melhorar sua performance<br />

oral, assim como sua capacidade de escutar<br />

o outro. Isso não significa que possa dizer “qualquer<br />

coisa ou qualquer resposta”, mas que o aluno deve<br />

ser orientado dentro das possibilidades de respostas<br />

coerentes em relação às perguntas propostas<br />

no material didático.<br />

Mesmo que a opção do professor, em seu manejo<br />

de classe, seja apenas falar e escutar, também<br />

é importante que o registro escrito apareça na lousa<br />

para que aquilo que foi dito tenha um registro escrito<br />

e claro para os alunos do ensino fundamental I<br />

e II. Ouvir as respostas dos alunos e depois discutir<br />

com eles as mais coerentes, para logo após registrar<br />

por escrito a conclusão retirada da discussão<br />

é um excelente recurso didático. Caso não tenha<br />

todos os alunos alfabetizados em sua totalidade,<br />

ainda assim é adequado que se faça o registro por<br />

P2<br />

meio de frases curtas para que possam localizar-se<br />

entre o que foi dito e o que está escrito.<br />

Por isso, quando intitulamos o bloco “Conversa<br />

sobre o texto”, queremos dizer que o professor é<br />

o mediador e o orientador deste bloco do material<br />

que privilegia dois eixos: falar e escutar; mas que<br />

também deve incluir escrever e ler, conforme os<br />

vários níveis de aprendizagem que sua classe poderá<br />

apresentar nas séries iniciais do ensino fundamental.<br />

Em resumo: entre o segundo ano e o quinto<br />

ano do EF, o aluno deverá gradativamente ter autonomia<br />

para redigir suas respostas, baseadas em<br />

discussões coletivas e compartilhadas entre o aluno,<br />

a classe e o professor; entre o sexto e o nono<br />

ano do EF, o aluno deverá redigir e elaborar suas<br />

respostas oralmente ou por escrito a partir da análise<br />

e reflexão própria, mas considerando sempre a<br />

palavra do outro, concordando-se com ela ou não.<br />

Os textos no contexto<br />

Mas tudo isto parte de um pressuposto que é o<br />

eixo “ler”. Um trabalho de leitura deve abordar tipos<br />

diversificados de textos; por isso “Os textos no contexto”,<br />

para que enfoques diferentes de interpretação<br />

possam proporcionar o desenvolvimento de estratégias<br />

e habilidades para o aprender a “ler”.<br />

É bom lembrar que na maioria das vezes a escola<br />

se detém apenas sobre a avaliação de leitura:<br />

perguntas e respostas sobre o texto ou a capacidade<br />

de ler em voz alta e ter entonação; isso também é<br />

importante. Entretanto, é necessário e mais produtivo<br />

estabelecer estratégias, é com este intuito que as<br />

questões do “conversa sobre o texto” e “ os textos no<br />

contexto” são elaboradas: levantar hipóteses, comparar,<br />

apreensão do tema, tradução de símbolos, relações<br />

entre forma e conteúdo, recursos expressivos<br />

do gênero textual e intertextualidade são enfoques<br />

que procuramos valorizar neste material.<br />

Conceito/conexão<br />

Neste tópico do caderno, procuramos apresentar<br />

ao aluno não um sistema fechado com regras e<br />

definições, mas a língua como um processo dinâmico<br />

e em constante mudança.<br />

Construir o conceito gramatical parte de um fato<br />

linguístico que tenha ocorrido em um dos textos<br />

abordados pela unidade, seja ele literário ou não.<br />

É importante levar os alunos a refletirem sobre a<br />

organização da língua por meio da análise. Quando<br />

se diz análise, não queremos dizer exercícios até<br />

a exaustão, nem concordamos com a abolição da<br />

gramática nas aulas.<br />

O objetivo deste tópico do caderno é apresentar<br />

uma nomenclatura, mas não esgotá-la; pois sabe-


mos que muitos conceitos da gramática normativa<br />

são discutíveis. O que se quer com o ensino da<br />

gramática, aquela chamada de textual, é: explorar,<br />

comparar, analisar e construir conceitos em situações<br />

funcionais da linguagem; daí a diversidade de<br />

textos: observar como os autores usaram determinados<br />

aspectos em seus textos.<br />

Sempre que houver dificuldade em determinado<br />

tópico gramatical, indicamos que o professor consulte<br />

a bibliografia comentada ou, dentro do próprio<br />

caderno, a indicação que houver sob o título “texto<br />

com conteúdo”, em que explicamos as possibilidades<br />

gramaticais de determinada questão com maior<br />

ou menor grau de dificuldade.<br />

A maior parte dos “exercícios” deste item concentra-se<br />

em sala de aula, e espera-se que o professor<br />

conduza a resolução de acordo com as dificuldades<br />

da classe, coletivamente. Muitas vezes, sugerimos<br />

o item “atividade para casa” com as mesmas situações,<br />

quando julgamos necessário que algo seja revisto<br />

ou memorizado, de acordo com a circunstância<br />

de aprendizagem, individualmente.<br />

É importante garantir que os alunos tenham<br />

acesso a materiais de consulta como minigramáticas,<br />

dicionários e outros tipos de textos que<br />

possam auxiliá-los quanto ao esclarecimento de<br />

dúvidas.<br />

Vale lembrar que, na escola, os conteúdos relacionados<br />

à dimensão gramatical devem ser relacionados<br />

“às dimensões pragmática e semântica<br />

da linguagem, […] precisam ser tratados de maneira<br />

articulada e simultânea no desenvolvimento<br />

das práticas de produção e recepção de textos.”<br />

(idem, p. 78)<br />

Além do texto<br />

Entendemos que o cruzamento de linguagens é<br />

essencial para o enriquecimento e formação de um<br />

escritor e leitor crítico; para isso, ao elaborarmos o<br />

item “além do texto”, tivemos por objetivo ampliar o<br />

estudo comparado do texto verbal a outro tipo de texto,<br />

ou seja, textos de outras áreas de conhecimento,<br />

enfatizando outras artes — arquitetura, pintura, escultura,<br />

música, cinema — sempre que possível.<br />

Por meio da comparação entre os outros textos<br />

do capítulo e o que se apresenta ao final, o aluno<br />

deverá ampliar seu repertório cultural e assim o de<br />

leitura; além do que, deve aprender a estabelecer<br />

diferenças e semelhanças quanto ao tema e à forma,<br />

assim como uma postura crítica diante de outras<br />

formas textuais.<br />

Espera-se que o aluno, tendo isso de maneira<br />

sistematizada, amplie seu repertório; portanto, produza<br />

textos (no caderno de redação) com mais profundidade<br />

e adequação a sua escolaridade.<br />

Caderno de redação: a produção de texto<br />

“O conhecimento a respeito de questões dessa<br />

natureza [da produção de textos] tem implicações<br />

radicais na didática da alfabetização. A principal<br />

delas é que não se deve ensinar a escrever por<br />

meio de práticas centradas apenas na codificação<br />

de sons em letras. Ao contrário, é preciso oferecer<br />

aos alunos inúmeras oportunidades para aprenderem<br />

a escrever em condições semelhantes às que<br />

caracterizam a escrita fora da escola. É preciso<br />

que se coloquem as questões centrais da produção<br />

desde o início: como escrever, considerando,<br />

ao mesmo tempo, o que pretendem dizer e a quem<br />

o texto se destina — afinal, a eficácia da escrita se<br />

caracteriza pela aproximação máxima entre a intenção<br />

de dizer, o que efetivamente se escreve e a<br />

interpretação de quem lê. É preciso que aprendam<br />

os aspectos notacionais da escrita (o princípio alfabético<br />

e as restrições ortográficas) no interior de um<br />

processo de aprendizagem dos usos da linguagem<br />

escrita. É disso que se está falando quando se diz<br />

que é preciso “aprender a escrever, escrevendo”.<br />

Para aprender a escrever, é necessário ter acesso<br />

à diversidade de textos escritos, testemunhar a<br />

utilização que se faz da escrita em diferentes circunstâncias,<br />

defrontar-se com as reais questões<br />

que a escrita coloca a quem se propõe produzi-la,<br />

arriscar-se a fazer como consegue e receber ajuda<br />

de quem já sabe escrever. Sendo assim, o tratamento<br />

que se dá à escrita na escola não pode inibir<br />

os alunos ou afastá-los do que se pretende; ao contrário,<br />

é preciso aproximá-los, principalmente quando<br />

são iniciados “oficialmente” no mundo da escrita<br />

por meio da alfabetização. Afinal, esse é o início de<br />

um caminho que deverão trilhar para se transformarem<br />

em cidadãos da cultura escrita.” (idem, p. 48)<br />

Considerando tais orientações, o caderno de redação<br />

— como um item de produção de texto — busca<br />

privilegiar situações didáticas que tenham interação<br />

com os demais componentes de cada capítulo<br />

do caderno de língua portuguesa: a diversidade e a<br />

contextualização são estratégias para que a escrita<br />

possa se concretizar.<br />

Grande parte do trabalho com a produção textual<br />

está centrado no momento em que o aluno traz<br />

a sua produção de casa ou a elabora em classe<br />

coletiva ou individualmente conforme a proposta de<br />

cada capítulo. É a partir deste momento, que o professor<br />

torna-se peça fundamental, por dois motivos:<br />

um, ele é o leitor do texto do aluno naquela situação;<br />

dois, é o professor quem melhor pode interferir<br />

basicamente no conteúdo para que este se torne<br />

claro, conciso e coeso, porque é o professor que<br />

P3


tem conhecimentos da disciplina para intervir, sugerir,<br />

substituir, cortar ou inserir dados em um texto;<br />

claro que os demais alunos da sala também podem<br />

ajudar naquilo que se convencionou chamar de “refacção”,<br />

contudo ainda é o professor o principal norteador<br />

e mediador dessas ações.<br />

Se na sua estrutura, o material tem, em média,<br />

uma produção textual para cada semana do<br />

bimestre, é necessária uma certa organização<br />

para a refacção destes textos — é preciso conscientizar<br />

os alunos, desde as séries iniciais, que<br />

a produção não é um castigo e sim um momento<br />

de comunicação; na reescrita do texto deve haver<br />

o desafio em melhorá-lo e é preciso que os alunos<br />

encarem isso como uma atividade em que se evolui<br />

aos poucos. Nem sempre uma intervenção coletiva<br />

traz resultados satisfatórios, procure variar<br />

tais procedimentos didáticos: cada aluno tem suas<br />

particularidades de escrita e estilo, assim como<br />

estágios de aprendizagem.<br />

Procure, dentre as atividades de produção do bimestre,<br />

deixar que uma seja exposta coletivamente<br />

com a intervenção da classe, é importante que percebam<br />

o andamento dos outros; em uma outra produção,<br />

você poderá escrever na lousa e apontar os<br />

problemas pedindo à classe as soluções possíveis;<br />

contudo, programe-se sempre para que pelos menos<br />

duas produções sejam individuais e tutoradas<br />

pelo professor, mesmo porque este também é um<br />

momento de avaliação.<br />

Oriente sempre para que os alunos busquem a<br />

autoavaliação ainda no rascunho, muitas “atividades<br />

exigem uma atenção à análise — tanto quantitativa<br />

como qualitativa — da correspondência entre<br />

segmentos falados e escritos. São situações privilegiadas<br />

de atividade epilinguística, em que, basicamente,<br />

[embora nem sempre] o aluno precisa:<br />

• ler, embora ainda não saiba ler; e<br />

P4<br />

•<br />

escrever, apesar de ainda não saber escre-<br />

ver.<br />

Em ambas é necessário que ele ponha em jogo<br />

tudo o que sabe sobre a escrita para poder realizá-<br />

-las”. (idem, p. 83)<br />

Por isso, o eixo “escrever” pressupõe que ele<br />

tenha interiorizado situações de “falar”, “escutar” e<br />

“ler” contidas nos itens anteriores: “conversa sobre<br />

o texto”,”os textos no contexto”, “ conceito/conexão”<br />

e “além do texto”.<br />

Ainda a título de esclarecer a estrutura do material,<br />

propomos durante a resolução de exercícios:<br />

sequências e sugestões didáticas para que seu caderno<br />

do professor torne-se também um “manual<br />

de educação” e não somente um caderno de res-<br />

postas. O item “texto com conteúdo”, como já foi<br />

explicado, tem o objetivo de auxiliar o professor<br />

em questões de dúvida sobre o conteúdo e dando<br />

referências bibliográficas a respeito de temas<br />

mais complexos, bem como indicação de sites<br />

para que o professor possa aprimorar sua didática.<br />

Na “Bibliografia comentada”, há notas sobre<br />

algumas obras de referência em cada bimestre,<br />

obras que julgamos importantes ser de conhecimento<br />

do professor.<br />

Sobre leitura extraclasse, sempre haverá sugestões<br />

de obras mencionadas no caderno do professor<br />

e de outras obras já citadas também no material<br />

do aluno que podem ser localizadas em suas bibliografias<br />

e notas bibliográficas. A grande maioria das<br />

obras utilizadas neste material são parte do acervo<br />

MEC/PNLL, que foi enviado às escolas públicas de<br />

todo o país; portanto, a recomendação mais enfática<br />

que podemos dar acerca da escolha de leituras<br />

é “diversidade”.<br />

Bibliografia comentada<br />

ABDALA, Benjamin Jr. Introdução à análise narrativa.<br />

São Paulo: Scipione, 1995.<br />

O objetivo desse livro é suprir a necessidade<br />

de conhecer melhor esse tema específico de literatura,<br />

trazendo informações básicas, devidamente<br />

explicadas e interpretadas. Para o autor,<br />

analisar pressupõe argumentar, defender o ponto<br />

de vista crítico que é a sua razão de ser. O volume<br />

aborda as formas narrativas, o foco, a ação, a<br />

personagem, o espaço e o tempo, com exemplos<br />

e textos críticos.<br />

BAGNO, Marcos. O preconceito linguístico.<br />

2.ed. São Paulo: Loyola, 1999.<br />

Incorporando as discussões e propostas mais<br />

recentes das ciências da linguagem e da educação,<br />

Marcos Bagno reitera seu discurso em favor<br />

de uma educação linguística voltada para a inclusão<br />

social e pelo reconhecimento e valorização da<br />

diversidade cultural brasileira.<br />

Combater o preconceito linguístico na escola implica,<br />

ao mesmo tempo, ampliar o repertório verbal<br />

dos aprendizes, garantindo a eles, antes de tudo,<br />

o acesso a múltiplas formas de falar e de escrever,<br />

desde as manifestações mais espontâneas e autênticas<br />

da cultura popular até o cânone literário e<br />

a cultura erudita.<br />

Numa sociedade historicamente pouco democrática<br />

como a brasileira, essa tarefa exige, muitas<br />

vezes, um tom veemente, e este livro assume sem<br />

rodeios uma postura política em favor dos que sempre<br />

ficaram à margem do poder dizer. Na página<br />

pessoal do autor www.marcosbagno.com.br, há ar-


tigos dele e também de outros autores sobre o tema<br />

da variação linguística.<br />

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa.<br />

37 ed. Rio de Janeiro: Lucerna/Nova<br />

Fronteira, 2009.<br />

Com a evolução dos estudos linguísticos e das<br />

pesquisas em língua portuguesa, é difícil termos<br />

uma gramática completa que possa dar conta<br />

deste progresso. No entanto, a edição, atualizada<br />

segundo a nova ortografia, revista pelo professor<br />

Evanildo Bechara, eminente estudioso e pesquisador<br />

de nosso idioma, ajuda a preencher essa<br />

lacunas.<br />

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa.<br />

Brasília: MEC/SEF, 1997.<br />

Salienta-se aqui a importância da leitura dos<br />

PCNs como fonte de reflexão sobre o ensino da língua<br />

e a importância da bibliografia contida no documento.<br />

O texto na íntegra encontra-se também<br />

disponível na página do Ministério da Educação.<br />

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria,<br />

análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000.<br />

Obra de referência naquilo que propõe o subtítulo,<br />

em linguagem clara e simples consegue indicar<br />

e analisar as obras infantojuvenis que são de fato<br />

fundamentais, além de propor textos que explicam<br />

os gêneros com os quais o professor cotidianamente<br />

trabalha em sala de aula.<br />

CUNHA, Celso. Gramática da língua portuguesa.<br />

Rio de Janeiro: FAE, 1990.<br />

Assim como a obra de Evanildo Bechara, a gramática<br />

de Celso Cunha é utilizada por nós como<br />

fonte de consulta complementar.<br />

GOLDSTEIN, Norma. Análise do poema. São<br />

Paulo: Ática, 2001.<br />

Além de uma linguagem clara, há itinerários e exercícios<br />

dinâmicos para a compreensão mais detalhada<br />

de assuntos que normalmente apresentam dificuldades:<br />

sonoridade, ritmo, imagem; bem como os temas<br />

básicos que se referem a este tipo de texto.<br />

MACHADO, Irene. Literatura e Redação. São<br />

Paulo: Scipione, 1994.<br />

Este livro traz uma abordagem teórica sobre literatura<br />

e redação de acordo com os gêneros literários.<br />

Também propõe muitas atividades de redação<br />

a partir de um gênero literário: desde as formas<br />

simples, como o ditado popular, passando pelo mito<br />

e conto maravilhoso, chegando até a crônica. Ferramenta<br />

bastante útil com exercícios variados.<br />

Professor: A seguir os objetivos do nono ano<br />

para o primeiro bimestre:<br />

Objetivos de ensino/aprendizagem do<br />

primeiro bimestre<br />

1. Comparar textos, identificando semelhanças<br />

e diferenças quanto ao conteúdo e à forma.<br />

2. Desenvolver estratégias de leitura: levantamento<br />

de hipóteses, relações de causa,<br />

consequência, de temporalidade e espacialidade,<br />

generalização, síntese; explicitação<br />

do conteúdo implícito e interlocutor.<br />

3. Produzir, recriar e reconhecer textos com<br />

as características do gênero epistolar (carta,<br />

e-mail, cartão-postal, telegrama…), bem<br />

como suas situações de produção (texto<br />

argumentativo, jornalístico, publicitário, biográfico,<br />

poético…).<br />

4. Conhecer e utilizar com eficiência os elementos<br />

do gênero epistolar: destinatário,<br />

remetente, cabeçalho, recuos, interlocução,<br />

despedida, assinatura…<br />

5. Desenvolver habilidade de leitura de linguagem<br />

não verbal e linguagem mista: pintura,<br />

charge e histórias em quadrinhos, roteiros<br />

de cinema.<br />

6. Aprimorar a exposição oral, exercitando-a<br />

por meio da argumentação, interação verbal<br />

e leitura.<br />

7. Conhecer e apropriar-se dos princípios de<br />

seleção e combinação de palavras.<br />

8. Entender e reconhecer as relações textuais<br />

em que ocorrem as figuras de linguagem.<br />

9. Observar, conhecer e respeitar aspectos da<br />

pluralidade cultural da língua, relacionados<br />

à história e países de língua portuguesa.<br />

Objetivos específicos de ensino/aprendizagem<br />

de cada capítulo<br />

Capítulo 1: Cartas, dos rolos às telas!<br />

1. Ler e identificar as partes de um e-mail.<br />

2. Entender as características de uma autobiografia.<br />

3. Discernir os elementos de uma trama argumentativa.<br />

4.<br />

Compreender a função apelativa da lingua-<br />

gem por meio de um texto publicitário, opinativo<br />

ou epistolar.<br />

5. Reconhecer e aplicar as figuras: metonímia,<br />

hipérbole, reticência, elipse.<br />

Capítulo 2: De carteiros, envelopes e selos!<br />

1.<br />

Reconhecer e aplicar as figuras: metáfora,<br />

comparação, paronomásia, onomato peia e<br />

repetição.<br />

P5


P6<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

Compreender a narrativa por meio de recursos<br />

poéticos.<br />

Perceber as notações de humor e ironia em<br />

diversos tipos de textos.<br />

Identificar os elementos de uma página de<br />

internet.<br />

Ler e obter informações de um catálogo,<br />

prefácio e ficha técnica.<br />

Consultar um verbete de caráter etimológico.<br />

Capítulo 3: Cartas que vêm e que vão…<br />

1. Ler e entender um roteiro cinematográfico e<br />

seus recursos grafotipográficos.<br />

2. Compreender a estrutura de um soneto.<br />

3. Reconhecer e aplicar as figuras: inversão,<br />

antítese, eufemismo, polissíndeto, personificação.<br />

4. Entender e reconhecer a intertextualidade<br />

como um recurso comum a todas as artes<br />

e linguagens.<br />

Capítulo 4: Cartas de dentro e de fora<br />

1. Reconhecer e aplicar em um texto as figuras:<br />

perífrase, ironia, sinestesia.<br />

2. Identificar a intertextualidade como um recurso<br />

em que textos de vários gêneros dialogam.<br />

3. Entender a motivação de uma carta pessoal<br />

e a biografia como tipo textual como referencial<br />

histórico, além de pessoal.<br />

4. Ler textos não verbais e mistos: pintura e<br />

charge.<br />

Sumário<br />

Capítulo 1 –<br />

Cartas, dos rolos às telas!........P7<br />

Capítulo 2 – De carteiros, envelopes e<br />

selos!........................................................................P25<br />

Capítulo 3 –<br />

Capítulo 4 –<br />

Redação<br />

Capítulo 1 –<br />

Cartas que vão e que vêm......P39<br />

Cartas de dentro e de fora......P46<br />

Cartas, dos rolos às telas!......P61<br />

Capítulo 2 – De carteiros, envelopes e<br />

selos!........................................................................P63<br />

Capítulo 3 –<br />

Capítulo 4 –<br />

Cartas que vão e que vêm…..P64<br />

Cartas de dentro e de fora........68<br />

Organização do tempo<br />

Professor: Você terá aproximadamente sete<br />

semanas e meia para desenvolver as atividades<br />

propostas nesse caderno, o que corresponde a<br />

aproximadamente 45 aulas.<br />

Considere o quadro a seguir no momento de<br />

planejar o bimestre.<br />

Capítulos Quantidade de aulas<br />

<strong>Apresentação</strong> 1 aula<br />

Capítulo 1 8 aulas<br />

Capítulo 2 8 aulas<br />

Capítulo 3 8 aulas<br />

Capítulo 4 8 aulas<br />

Redação 10 aulas<br />

Sistematização 2 aulas<br />

Total 45 aulas<br />

Lembre-se de que o primeiro bimestre é mais<br />

longo que os demais.<br />

Este caderno foi escrito para você.<br />

E para todos que gostam de boas histórias, de<br />

aprender, ler, ouvir e contar, para que você possa<br />

mostrar suas opiniões sobre o mundo a sua volta!<br />

Também foi escrito para que você crie e recrie<br />

textos, falando e escrevendo, para melhorar sua<br />

interação com o que o cerca por meio da língua<br />

portuguesa, este maravilhoso idioma que vai nos<br />

ajudar a desvendar os melhores caminhos para<br />

os quadrinhos, as notícias de jornais, os contos,<br />

as fábulas, a poesia… e muitos outros textos.<br />

Queremos convidá-lo a ler, divertir-se, participar,<br />

criticar e escrever.<br />

Enfim, este caderno é para você crescer melhor<br />

no mundo em que vive!


Para começar<br />

Capítulo<br />

Português 1<br />

Neste capítulo, estudaremos textos epistolares,<br />

além de argumentação e figuras de linguagem.<br />

A carta é um texto epistolar, ou seja, uma carta<br />

pode ser chamada de epístola. Talvez você já<br />

tenha ouvido esse termo na Bíblia; por exemplo,<br />

Epístola de São Paulo aos Coríntios.<br />

Sempre acompanhando a história da humanidade,<br />

as cartas, de amor ou de amizade, e os tratados,<br />

de paz ou de guerra, vêm assumindo o formato<br />

dos novos meios de comunicação. Os instrumentos<br />

de comunicação, quer seja um pombo-correio quer<br />

seja um carteiro, foram modernizando-se, e as cartas,<br />

inicialmente manuscritas em pequenos rolos<br />

de papiros, foram se modificando e, hoje, aparecem<br />

em formatos digitalizados como o do e-mail.<br />

wEBkING/DREAMSTIME.COM<br />

RGBSPACE/DREAMSTIME.COM<br />

Cartas, dos rolos<br />

às telas!<br />

Muitas vezes, as cartas são reunidas em livros<br />

ou, então, viram tema de filmes.<br />

Você sabe a origem da palavra “carta”? Então,<br />

leia este verbete do dicionário Hoauiss:<br />

carta. “do latim charta, ae ou carta, ae “uma folha<br />

de papiro preparada para receber a escrita”;<br />

folha de papel (feito antigamente da entrecasca<br />

do papiro); palavra emprestada e latinizada do<br />

grego khártés, “folha de papiro ou de papel, por<br />

extensão, escrita, obra”.<br />

Conforme você leu no verbete, a palavra “carta”<br />

vem de um momento histórico distante, contudo<br />

continua a ser uma forma de unir pessoas, protestar,<br />

divulgar e discutir ideias ao redor do planeta.<br />

Leia, a seguir, trechos do livro de Daniel Piza,<br />

composto pelos e-mails trocados entre Gustavo<br />

e Fernando:<br />

P7<br />

wIkIMEDIA


P8<br />

As senhoritas de Nova York<br />

NY, 16.10.95<br />

Caro Gustavo,<br />

Cheguei, amigo. Estou em Nova York. Nova<br />

York! Mal posso acreditar. Ainda não vi nada, exceto<br />

a beleza da cidade para quem chega pela<br />

ponte, porque acabamos de entrar no hotel. Mas<br />

decidi testar minha conexão com você. Morra de<br />

inveja: meu pai deu um quarto só para mim. Ele e<br />

minha mãe estão em outro, do lado de lá do corredor.<br />

O meu tem tudo o que a gente imaginou<br />

que tivesse, TV a cabo, frigobar e uma escrivaninha<br />

bacana, onde já instalei meu laptop e consegui<br />

uma linha do hotel e um endereço eletrônico<br />

para trocar mensagens. Anote aí: http://www.fernan@netventure.com.br.<br />

Tente me conectar ainda<br />

hoje. Aqui são 19h20, aí em São Paulo deve<br />

ser 21h20. Antes de dormir vou ver se você me<br />

escreveu. Agora vamos sair para comer e já ter<br />

um gostinho da cidade. See you!<br />

Fernando<br />

SP, 16.10.95<br />

Caro Fernan@net,<br />

Mensagem recebida. Aqui são 22h30. Espero<br />

que a resposta também chegue bem.<br />

Não tenho tempo para delongas hoje: vou<br />

àquela festa do colégio, sabe? Depois lhe conto…<br />

A Adriana vai estar lá, mas pode deixar que<br />

cuido dela (brincadeira). Só me diga uma coisa:<br />

é verdade que o papel higiênico aí é melhor do<br />

que o daqui? Câmbio.<br />

Gustavo<br />

NY, 17.10.95, 14h30 (atenção: hora local)<br />

Gustavão,<br />

Comunicação perfeita. we are connected!<br />

Como foi a festa ontem? Que história é essa<br />

de cuidar da Adriana? Ela sabe se cuidar —<br />

quando eu não estou cuidando dela… Mande<br />

um beijo para ela, diga que já estou com saudade.<br />

Quanto ao papel higiênico, é verdade, meu<br />

amigo, o daqui parece cetim! Se quiser, levo uns<br />

para você.<br />

Não dá para lhe poupar o que já estou achando<br />

desta cidade, meu caro. Agora vou ser sério.<br />

Ponto 1: Nova York é bem mais bonita do<br />

que parece nos filmes e do que dizem as pessoas.<br />

É muito mais europeia, civilizada, homogênea.<br />

São Paulo nunca me pareceu tão feia —<br />

um cimento descascado, perto disto aqui. Nova<br />

York é chique!<br />

Ponto 2: Até agora, nas caminhadas de ontem<br />

à noite e hoje de manhã, achei o trânsito,<br />

a poluição e o barulho de Nova York bem mais<br />

suportáveis do que os de São Paulo. Há uma<br />

organização, um senso de ordem pública.<br />

NY, 21.10.95 (2h)<br />

Gustavo,<br />

Sua carta sobre Crime e castigo me espantou<br />

muito, porque acho que você está certo —<br />

e não está. Mas uma coisa me espantou muito<br />

mais ainda, hoje, e é por isso que estou acordado<br />

a esta hora: hoje à tarde eu vi As senhoritas<br />

de Avignon (Les demoiselles d’Avignon),<br />

um quadro de Pablo Picasso, no MoMA. Era<br />

tão e tão bonito, se é que essa é a palavra,<br />

fiquei diante dele, boquiaberto, Gustavo, por<br />

meia hora. Já o tinha visto em livros, mas, ao<br />

contrário de você, acho que reproduções não<br />

são suficientes — são como ver Veneza por<br />

cartão-postal. Alguma coisa nele mexeu comigo,<br />

meu amigo, mudou minha vida como Crime<br />

e castigo mudou a sua, mas de outro modo.<br />

Depois falo sobre suas ideias a respeito de<br />

Deus e liberdade, bem e mal. (Você também<br />

continua insistindo nesse rancor contra seu<br />

pai. E o que é que anda aprontando?) Discordamos<br />

bastante, meu caro.<br />

Primeiro vou contar para você o que senti<br />

quando descobri As senhoritas de Avignon.<br />

Não sai de minha mente. Tanto que, fora do<br />

museu, fiz um monte de perguntas para o meu<br />

pai, então passamos numa livraria e compramos<br />

dois livros sobre Picasso, que já estou<br />

lendo. Nem sequer jantei.<br />

O quadro fica numa saleta do museu (museu<br />

que também é uma beleza, por sinal). Você<br />

entra e, de repente, olha para a esquerda e leva<br />

um susto: lá está ele, vibrando à sua frente.<br />

Nem vi quais outras obras havia na sala. Fiquei<br />

alguns minutos em pé, olhando o quadro por<br />

vários ângulos, me agachando, me esticando,<br />

olhando todos os cantinhos; depois me sentei<br />

e minha cabeça começou a fumegar. Gustav,<br />

que coisa esquisita! Parecia uma visão. As<br />

mulheres ficam olhando para a gente de um<br />

modo… é hipnótico mesmo. Você vai achar bobagem,<br />

afinal é um racionalista, está interessado<br />

em discutir os grandes temas morais…<br />

Mas logo entendi que havia uma ideia naquele<br />

quadro, que ele não queria só mostrar<br />

cinco mulheres, ou ilustrar qualquer coisa.


Veja só. Duas dessas mulheres encaram o<br />

observador bem de frente, uma delas bem ao<br />

centro da tela. Estão com os braços para cima,<br />

dobrados, com as mãos atrás da nuca, como<br />

se oferecendo para quem olha para elas. Outras<br />

duas, à direita, não têm um rosto normal,<br />

embora semelhante ao daquelas duas. São<br />

máscaras africanas, como li depois. Dessas,<br />

a que está embaixo à direita, sentada (o corpo<br />

de costas, a cara de frente!), também encara o<br />

observador. Há uma quinta mulher, à esquerda,<br />

em pé, de perfil, que tem uma cara que é um<br />

meio-termo entre as duas normais e as duas<br />

africanas. Por que será?<br />

Há mais um monte de coisas estranhas,<br />

em especial um agrupamento de frutas (parecem<br />

ser um cacho de uvas, duas maçãs e<br />

uma fatia de melancia) no pé da tela, em cima<br />

de uma toalha branca. E não há um “fundo”<br />

na tela, Gustav! Nas laterais e entre as figuras<br />

parece haver umas cortinas amarfanhadas<br />

e dobradas, cada uma de uma cor (vermelho,<br />

branco e azul). É como se as mulheres estivessem<br />

no meio dessas cortinas, quase enroladas<br />

nelas. Aí fiquei pensando se elas não<br />

estariam deitadas, e se o jeito certo de ver o<br />

quadro não seria colocá-lo no chão e olhá-<br />

-lo de cima. Mas a mulher sentada à direita me<br />

fez entender que não. Então o que é aquilo?<br />

Onde elas estão? Num quarto, num gramado,<br />

numa praia, numa sala? Sei lá. Sei que o quadro<br />

não é “bonito”, Gustav, mas não consegui<br />

parar de olhar para ele. Eu nunca tinha visto<br />

nada igual.<br />

Vou lhe passar a imagem dele amanha, mas<br />

fique certo de que as cores ao vivo são outras.<br />

A pele delas, por exemplo, é perto da cor da<br />

pele natural, mas um pouco avermelhada, mais<br />

para o salmão, em relação ao que aparece nos<br />

livros. É uma cor estranha, meio agressiva. E<br />

o quadro tem umas áreas de preto, fortes, que<br />

parecem uns rasgos. Não sei se no computador<br />

vai-se ver assim.<br />

Amanhã conto um pouco do que estou lendo,<br />

agora não sei direito o que pensar. É incrível<br />

que esse sujeito tenha feito esse quadro<br />

em 1907! Dizem que foi um auê só quando ele<br />

foi exposto a primeira vez. Queria que você estivesse<br />

aqui, Gustav. Acho que nem o seu Dostoiévski<br />

explicaria o que significa esse quadro.<br />

Azar o seu. Bye!<br />

Fernando<br />

NY,21.10.95 (8h)<br />

Gustavo,<br />

Sou eu de novo. Só dormi algumas horas.<br />

As senhoritas de Avignon não me deixou dormir<br />

mais. Você deve estar dormindo a uma<br />

hora destas, mas não resisti a registrar umas<br />

coisas que pensei sobre o quadro. Que loucura<br />

que ele é. Você sabia que Picasso fez simplesmente<br />

setecentos desenhos preparatórios para<br />

ele? Vou repetir: setecentos. E eu nem sequer<br />

pensei se é bem pintado ou não. É diferente,<br />

com certeza. Mas, pense, setecentos estudos<br />

é algo impensável! Tem mais, meu caro: sabe<br />

quantos anos ele tinha quando começou a trabalhar<br />

no quadro, em 1906? Apenas vinte e cinco.<br />

(Ele nasceu em 1881 e viveu pra caramba:<br />

morreu só em 1973.) Não é impressionante?<br />

O que é mais curioso é que o quadro sugere<br />

um “problema”, uma “equação”, proposta e trabalhada<br />

pelo pintor. Não é arte como questão,<br />

entende? Não foi à toa que exigiu setecentos<br />

estudos. Ele não pintou por “inspiração”! Mesmo<br />

assim, saiu uma bagunça. Não é fácil entender,<br />

mas é fascinante tentar.<br />

O quadro, leio, fundou o Cubismo, um movimento<br />

que Picasso liderou quando morava em<br />

Paris, onde vivia desde 1904.<br />

Para continuar<br />

Conversa sobre o texto<br />

PIZA, Daniel. As senhoritas de Nova<br />

York. São Paulo: FTD, 1996.<br />

1. Você saberia dizer a idade aproximada de<br />

Gustavo e Fernando? Para responder a isso, observe<br />

a linguagem utilizada por eles: formas de<br />

tratamento, expressões, vocabulário, assunto da<br />

conversa, tipo de pontuação.<br />

Professor: Espera-se que os alunos notem<br />

que a linguagem de ambos é coloquial. Podem<br />

observar isso nas formas de tratamento (seus<br />

nomes iniciais), nas expressões que transmitem<br />

intimidade e/ou tom de brincadeira, em alguns<br />

detalhes (como a festa do colégio), na hora do<br />

e-mail (22h30), na menção à Adriana, na dependência<br />

financeira e a companhia em relação ao pai<br />

no comentário sobre a qualidade do papel higiênico.<br />

Podemos inferir que são adolescentes provavelmente<br />

entre 13 e 16 anos.<br />

P9


2. Em que espaço físico encontram-se Fernando<br />

e Gustavo, respectivamente?<br />

Fernando em Nova York, nos Estados Unidos,<br />

e Gustavo em São Paulo, no Brasil.<br />

3.<br />

P10<br />

Pense e responda:<br />

a) Os trechos escritos entre Gustavo e Fernan-<br />

do cobrem um período de quanto tempo?<br />

Cinco dias, pelos trechos lidos.<br />

b) Isso seria possível há 60 anos? Por quê?<br />

Isso não seria possível há 60 anos porque<br />

os meios de comunicação não seriam tão rápidos<br />

quanto nos últimos 15 anos. O computador e, mais<br />

especificamente, a internet são bastante recentes.<br />

Professor: Converse com os alunos sobre o fato<br />

de os e-mails serem de 1995, momento em que só<br />

a classe média alta brasileira tinha acesso a tais<br />

benefícios de comunicação. Caso seja de seu interesse,<br />

esclareça que há 60 anos o mundo acabava<br />

de sair da Segunda Guerra Mundial (1945), e uma<br />

carta levava semanas e, dependendo do lugar, até<br />

mesmo meses para chegar ao destinatário.<br />

c) Ao final de um dos e-mails, um dos amigos<br />

usa a palavra “câmbio”. O que isso sugere?<br />

A palavra “câmbio” é usada geralmente para<br />

abrir a comunicação via rádio. No contexto do email,<br />

o uso da palavra câmbio é uma brincadeira,<br />

talvez utilizada pelas personagens, ou porque<br />

estavam utilizando uma tecnologia ainda nova na<br />

época, ou porque ambos estavam geograficamente<br />

muito distantes um do outro. Há 50 anos, durante<br />

uma guerra, seria possível o uso de rádio, muito<br />

comum nos exércitos.<br />

4. Você deve ter notado que pequenos trechos<br />

das mensagens, por escrito, ficam entre parênteses.<br />

Nessas ocasiões, os parênteses foram usados<br />

para quê?<br />

Foram usados para esclarecer, ou seja, com<br />

caráter explicativo, que é típico deste sinal de<br />

pontuação.<br />

Professor: Vale ressaltar que, no caso de<br />

conversas por e-mails, o sinal de pontuação ressalta<br />

geralmente uma situação em que não é possível<br />

visualizar ou discernir algumas intenções ou<br />

tons, como o humor, a ironia; assim, é preciso es-<br />

crever para que fique claro ao interlocutor a intenção,<br />

como por exemplo (brincadeira).<br />

5. Em um dos trechos, Gustavo começa com<br />

“Fernan@net”. Por sua vez, Fernando chama o<br />

outro de “Gustav”. Entre esses dois personagens,<br />

tais formas de tratamento revelam o quê?<br />

Intimidade e bom humor. Os personagens ora<br />

fazem referência ao que estão lendo, como “traduzir”<br />

o nome de Gustavo para o russo: “Gustav”, ora<br />

para brincar, como o símbolo @ para as letras a/o.<br />

Texto com conteúdo<br />

Professor: Ressalte para o aluno que a função<br />

expressiva é uma característica do texto epistolar<br />

com trama narrativa “em que o emissor revela sua<br />

subjetividade impregnando as palavras de matizes<br />

afetivos e valorativos”. (kAUFMAN, 1995)<br />

6.<br />

Observe o uso das reticências no trecho:<br />

Não tenho tempo pra delongas hoje: vou àquela<br />

festa do colégio, sabe? Depois lhe conto…<br />

Quando usamos as reticências podemos<br />

querer que o destinatário de nosso texto complete<br />

ou tente imaginar aquilo que estamos imaginando.<br />

Se Fernando e Gustavo estivessem falando,<br />

a viva voz, talvez deixassem um silêncio entre as<br />

falas ou alterassem o tom de voz como que para<br />

sugerir algo.<br />

O que as reticências sugerem no trecho acima?<br />

Sugerem que o outro espere um próximo e-mail<br />

ou que imagine a tal festa.<br />

7. Faça um levantamento das expressões que<br />

os interlocutores usaram em língua inglesa.<br />

a) Você conhece o significado de todas elas?<br />

Caso os alunos não conheçam as expressões,<br />

proponha um trabalho com o professor de inglês ou<br />

auxilie-os com o uso de um dicionário.<br />

b) Agora, responda: qual a intenção em usar<br />

uma outra língua em meio aos e-mails escritos em<br />

língua portuguesa?<br />

A intenção é demarcar, com bom humor, o local<br />

da escrita dos e-mails de Fernando: os EUA,<br />

um país que usa a língua inglesa. Lembre-os também<br />

de que a função do destinatário é também


perceber que essas marcas em inglês fazem do outro<br />

uma espécie de “cúmplice” já que se supõe que ambos<br />

tenham nível de conhecimento de língua inglesa<br />

para perceber o que está dito nessas expressões.<br />

8. Além das formas de tratamento usadas, ao<br />

lermos as mensagens percebemos que Gustavo<br />

e Fernando fazem comentários sobre uma pessoa<br />

comum aos dois. Que personagem é esta? E<br />

que palavra (um verbo) ambos usam para referirse<br />

a ela?<br />

A personagem é Adriana. Ambos usam o<br />

verbo “cuidar” para falar dela: supõem-se pelo<br />

trecho que Fernando é o namorado que está longe<br />

e Gustavo o amigo que dá as informações sobre<br />

Adriana.<br />

9. A intimidade entre eles nos é revelada, também,<br />

pelo quanto um conhece da vida familiar do<br />

outro. Que impressões temos sobre o pai de Gustavo?<br />

E sobre o pai de Fernando?<br />

O pai de Fernando parece ser bastante companheiro<br />

e amigo. Pelo comentário que Fernando<br />

faz a respeito da relação de Gustavo com o pai,<br />

parece que isso não ocorre com o amigo, já que há<br />

referência a um certo “rancor” em um dos comentários<br />

entre aspas do e-mail de 21/10/95, às 2h.<br />

Texto com conteúdo<br />

Professor: Caso algum aluno indique que<br />

parece haver uma relação entre o que Gustavo<br />

lê e o que acontece em sua vida, comente que<br />

é provável que os garotos estejam se referindo<br />

a um tema da biografia do escritor russo Fiodor<br />

Dostoiévski: o pai por quem nutriu “rancor” (o que<br />

não se sabe ao certo) foi assassinado por seus<br />

colonos porque os explorava, na Rússia czarista.<br />

Outras versões dizem que o pai do escritor morreu<br />

de alguma doença. Até mesmo Freud estudou<br />

o caso de Dostoiévski e o considerava autor<br />

do melhor livro do mundo Os irmãos Karamazov.<br />

Mas, não faça da questão biográfica do autor a<br />

sua maior qualidade, assim como apontou Freud,<br />

o que importa é o texto de Dostoiésvki, e, para<br />

nós, neste momento, o texto de Daniel Piza.<br />

10. Para relatar suas primeiras impressões a cerca<br />

da cidade, Fernando compara Nova York com<br />

que outra cidade? Por que ele também cita filmes<br />

para referir-se a Nova York?<br />

Fernando compara Nova York a São Paulo,<br />

pois é seu ponto de referência: de onde ele vem e<br />

onde o amigo está. Cita os filmes porque os americanos<br />

mostram cenas de Nova York em vários<br />

deles, e os filmes americanos estão presentes na<br />

vida da maioria dos brasileiros.<br />

11. Gustavo lê Crime e castigo, do escritor russo<br />

Fiodor Dostoiésvki, obra escrita em 1866. Que impressões<br />

temos dessa obra ao lermos os comentários<br />

de Fernando?<br />

No e-mail de 21/10/95, sabemos que o livro<br />

muda a vida de Gustavo, que nele há ideias, das<br />

quais Fernando discorda, sobre Deus e liberdade<br />

e sobre temas morais.<br />

Sugestão didática<br />

Professor: Caso queira, selecione, na biblioteca,<br />

a obra em questão e leia alguns trechos para os alunos.<br />

Crime e castigo está disponível na íntegra em<br />

muitos sites. Também existe uma versão cinematográfica<br />

nacional chamada “Nina” que transpõem o<br />

texto russo para a São Paulo contemporânea.<br />

12. Em visita ao Museu de Arte Moderna (MoMA),<br />

em Nova York, Fernando conhece a tela As senhoritas<br />

de Avignon, do pintor espanhol Pablo Picasso.<br />

Texto com conteúdo<br />

Professor: Como usamos a expressão “página”,<br />

acrescentamos que na sua origem esta palavra<br />

significava “o miolo dos talos de papiro” (Houaiss<br />

eletrônico), planta de onde advém um dos<br />

tipos de papel que já citamos ao iniciar o capítulo;<br />

portanto, se considerar interessante, e sua turma<br />

tiver maturidade, pode encaminhar uma discussão<br />

sobre como guardamos nossas informações<br />

e memórias ao longo da história da humanidade e<br />

como fazemos para resgatá-las quando precisamos,<br />

ou seja, a “página” tem um “endereço” para<br />

que possamos localizar uma informação quando<br />

precisarmos dela.<br />

P11


MOMA<br />

Se fizermos uma busca em páginas da internet, encontraremos o endereço do museu, uma foto de<br />

como é a entrada do museu em Nova York e uma reprodução da tela de Picasso:<br />

P12<br />

wIkIPEDIA/MUSEU DE ARTE MODERNA, NOVA YORk<br />

Les demoiselles d’Avignon, obra de Pablo Picasso (1881-1973). Paris, 1907. Óleo sobre tela, 8’ x 7’ 8” (243.9 x 233.7 cm)<br />

Um dos comentários de Fernando a cerca dessa<br />

obra é sobre a quantidade de esboços feitos antes<br />

que o quadro fosse pintado. Outro comentário<br />

é sobre o fato de que o quadro parece não ter fundo.<br />

Que outros comentários feitos por Fernando lhe<br />

chamaram a atenção? Por quê? Você discorda dos<br />

comentários de Fernando sobre o quadro?<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Pontue a discussão para que releiam<br />

o trecho do e-mail observando o que Fernando<br />

descreve, como o trecho da cor da pele das<br />

mulheres. Faça-os observar o tamanho do quadro<br />

que Fernando está olhando no MoMA, ou seja, é<br />

um quadro com quase 2 metros e meio (indique<br />

para eles as referências abaixo da tela); por isso,<br />

a perspectiva de Fernando é muito diferente de<br />

quem observa isso no papel, como o amigo Gustavo<br />

fará em São Paulo. A indefinição do fundo é<br />

outro ponto que pode levantar uma discussão interessante:<br />

que lugar é este? Por que não há fundo?<br />

O próprio site do museu comenta este fato,<br />

uma brincadeira de Picasso, referente ao título do<br />

quadro: Avignon é uma rua de Paris conhecida<br />

por seus bordéis, no início do século XX.<br />

Mesmo que tenhamos lido apenas alguns trechos<br />

da obra As senhoritas de Nova York, é possível<br />

perceber que a arte (o livro e o quadro, nestes


casos) exerceu influência sobre Fernando e Gustavo.<br />

Leia a seguir um pequeno texto, escrito por Daniel<br />

Piza, sobre si mesmo e sobre suas experiências com<br />

a arte na adolescência e ao longo de sua vida:<br />

Autobiografia<br />

Tive um estalo na minha adolescência<br />

quando conheci algumas obras de arte; no<br />

meu caso, elas foram de Dostoiévski, Picasso<br />

e Machado de Assis, o homem que melhor manejou<br />

nosso idioma.<br />

Eu tinha entre catorze e dezesseis anos e<br />

troquei ansiosamente minhas impressões por<br />

carta com um amigo do colégio Bandeirantes,<br />

em São Paulo, cidade onde nasci e moro.<br />

Desde então, minha vida mudou. Hoje, sou jornalista<br />

cultural. Trabalhei em O Estado de S.<br />

Paulo e na Folha de S.Paulo como redator, repórter<br />

e editor assistente. Atualmente, sou editor<br />

de cultura da Gazeta Mercantil, onde estou<br />

vivendo a grande experiência de coordenar um<br />

suplemento voltado ao que há de melhor nas<br />

artes do Brasil e do mundo. Sou especializado<br />

na cobertura de artes plásticas e literatura,<br />

mas faço minhas intervenções em música,<br />

teatro, cinema, gastronomia, futebol, viagem…<br />

Tenho também praticado todas as formas de<br />

texto jornalístico: reportagem, crítica, entrevista,<br />

ensaio, polêmica. Além disso, sou tradutor.<br />

Já traduzi oito livros de inglês e francês e<br />

destaco entre eles Benito Cereno, de Herman<br />

Melville (Imago, 1993), A máquina do tempo,<br />

de H. G. wells (Nova Alexandria, 1994), e A<br />

arte da ficção, de Henry Gomes (Imaginário,<br />

1995). Também organizei em forma de verbetes<br />

um livro com o melhor do jornalista Paulo<br />

Francis, Waaal — O dicionário da corte (Companhia<br />

das Letras, 1996); naquela fase em que<br />

descobri a leitura, Francis foi um guia amplo e<br />

um modelo de independência de espírito. As<br />

senhoritas de Nova York é meu primeiro livro e<br />

já planejo outros, nas áreas de ficção e não ficção<br />

ou nesse meio-termo em que essa obra de<br />

estreia se encontra. Sou casado há dois anos<br />

com Cristiane, a quem Machado definiria simplesmente<br />

como “um lírio do vale”, e ainda não<br />

tenho filhos. Gosto de viajar, de jogar futebol,<br />

de jantar fora, de ler sobre tudo. E acho que<br />

os amigos são o que há de mais importante na<br />

nossa vida.<br />

PIZA, Daniel. As senhoritas de Nova<br />

York. São Paulo: FTD, 1996.<br />

13. Agora, responda:<br />

Uma obra de arte pode transformar uma<br />

pessoa, ou seja, pode contribuir para que ela<br />

modifique seu olhar sobre o mundo? O que é o<br />

“estalo” de que Daniel Piza fala logo no início de<br />

sua “autobiografia”? Discuta com seus colegas e<br />

anote suas conclusões.<br />

Sim, pode transformar uma pessoa. O “estalo”<br />

a que se refere Daniel Piza é uma tomada<br />

de consciência sobre o funcionamento da arte<br />

e suas formas, como se tivesse “acordado” para<br />

como a arte está presente no cotidiano de todos<br />

nós, com maior ou menor grau de refinamento.<br />

Professor: Aceite as respostas, que são<br />

pessoais, contudo intervenha na discussão: a<br />

tendência dos alunos é falar do que conhecem<br />

como arte — cabe a você conduzir e refinar tais<br />

conhecimentos para que a discussão não caminhe<br />

para coisas que viram ou ouviram apenas na<br />

televisão. Coloque na lousa as ideias discutidas,<br />

pergunte o que os emocionou, se já sofrem o tal<br />

“estalo” com uma canção, uma foto, um filme ou<br />

outras formas de arte. Faça-os notar que Piza<br />

cita, além de Machado de Assis, o escritor e jornalista<br />

Paulo Francis, com quem conviveu.<br />

Para continuar<br />

O texto no contexto<br />

Em As senhoritas de Nova York, lemos cartas<br />

em formato de e-mails com uma trama narrativa,<br />

ou seja, cartas mostrando fatos e ações em uma<br />

sequência de tempo e causa. Por exemplo, Fernando<br />

visita Nova York e Gustavo vai à festa do<br />

colégio; ao mesmo tempo, discutem um livro e um<br />

quadro e, também, preocupam-se com Adriana.<br />

Isso é parte da trama da narrativa, ou seja,<br />

como a história nos será contada. Nesse caso,<br />

por meio das mensagens eletrônicas entre os<br />

dois adolescentes.<br />

Outro fator importante é que entre o emissor<br />

(Gustavo — Fernando) e o receptor (Fernando —<br />

Gustavo) há a subjetividade, isto é, as palavras estão<br />

com seus valores afetivos. Como As senhoritas<br />

de Nova York é também uma obra literária, o autor<br />

Daniel Piza tem a intenção ao criar uma estética;<br />

em outras palavras, um jeito de contar a história.<br />

E se uma carta não tem trama narrativa? E<br />

quando o emissor não conhece pessoalmente<br />

seu interlocutor, seu destinatário? Como seria<br />

uma carta em que você pede algo a alguém que<br />

não conhece?<br />

P13


Texto com conteúdo<br />

Professor: As variantes entre o português de<br />

uso corrente em Moçambique e o nosso, no Brasil,<br />

devem ser respeitadas.<br />

Não há nada que prejudique a leitura ou a<br />

interpretação do texto a seguir. É perfeitamente<br />

possível ler o texto e saber que “Vietname” é Vietnã,<br />

“Irão” é o mesmo Irã. Portanto, ao terminar,<br />

use pequena biografia do fim deste caderno, para<br />

ilustrar e ampliar os conhecimentos de seus alunos<br />

sobre os países de língua portuguesa, bem<br />

como sobre o escritor Mia Couto do qual leremos<br />

uma outra carta no capítulo 1 de redação.<br />

O objetivo dessa carta argumentativa é postar<br />

uma reivindicação, e sua argumentação é o objetivo<br />

da análise a seguir.<br />

Peça aos alunos para grifar os elementos de<br />

vocabulário que desconhecem e verificá-los no<br />

vocabulário após a leitura do texto.<br />

Leia, a seguir, um trecho do texto “Carta ao presidente<br />

Bush”, do livro Pensatempos do escritor<br />

moçambicano Mia Couto dirigida ao ex-presidente<br />

dos Estados Unidos da América, George w. Bush:<br />

Senhor Presidente:<br />

Sou um escritor de uma nação pobre, um<br />

país que já esteve na vossa lista negra. Milhões<br />

de moçambicanos desconheciam que mal vos<br />

tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres:<br />

que ameaça poderíamos constituir? A nossa<br />

arma de destruição massiva estava, afinal, virada<br />

contra nós: era a fome e a miséria. […]<br />

Pois eu, pobre escritor de um pobre país,<br />

tive um sonho. Como Martin Luther king certa<br />

vez sonhou que a América era uma nação<br />

de todos os americanos. Pois sonhei que eu<br />

era não um homem, mas um país. Sim, um<br />

país que não conseguia dormir. Porque vivia<br />

sobressaltado por terríveis fatos. E esse temor<br />

fez com que eu proclamasse uma exigência.<br />

Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro<br />

Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos<br />

da América procedessem à eliminação do seu<br />

armamento de destruição massiva. Por razão<br />

desses terríveis perigos eu exigia mais: que<br />

inspectores das Nações Unidas fossem enviados<br />

para o vosso país. Que terríveis perigos<br />

me alertavam? Que receios o vosso país me<br />

inspirava? Não eram produtos de sonho, infelizmente.<br />

Eram fatos que alimentavam a minha<br />

desconfiança. A lista é tão grande que escolherei<br />

apenas alguns:<br />

P14<br />

— Os Estados Unidos foram a única nação<br />

do mundo que lançou bombas atômicas sobre<br />

outras nações.<br />

— O seu país foi a única nação a ser condenada<br />

por “uso ilegítimo da força” pelo Tribunal<br />

Internacional de Justiça.<br />

— Forças americanas treinaram e armaram<br />

fundamentalistas islâmicos mais extremistas<br />

(incluindo… Bin Laden) a pretexto de derrubarem<br />

os invasores russos no Afeganistão.<br />

— O regime de Saddam Hussein foi apoiado<br />

pelos EUA enquanto praticava as piores<br />

atrocidades contra os iraquianos (incluindo o<br />

gaseamento dos curdos em 1988).<br />

— Como tantos outros dirigentes legítimos,<br />

o africano Patrice Lumumba foi assassinado<br />

com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado<br />

e baleado na cabeça, o seu corpo foi dissolvido<br />

em ácido clorídico.<br />

— Como tantos outros fantoches, Mobutu<br />

Sese Seko foi por vossos agentes conduzido<br />

ao poder e concedeu facilidades especiais à<br />

espionagem americana: o quartel-general da<br />

CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A<br />

ditadura brutal deste zairense não mereceu<br />

nenhum reparo dos EUA até que ele deixou<br />

de ser conveniente, em 1992.<br />

— A invasão de Timor-Leste pelos militares<br />

indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando<br />

as atrocidades foram conhecidas, a resposta<br />

da Administração Clinton foi “o assunto é da<br />

responsabilidade do governo indonésio e não<br />

queremos retirar-lhe essa responsabilidade”.<br />

[…]<br />

— Desde a Segunda Guerra Mundial, os<br />

EUA bombardearam: a China (1945-1946), a<br />

Coreia e a China (1950-1953), a Guatemala<br />

(1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961),<br />

a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru<br />

(1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-<br />

1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala<br />

(1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-<br />

1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua<br />

(1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o<br />

Iraque (1990-2001), o kuwait (1991), a Somália<br />

(1993), a Bósnia (1994-1995), o Sudão (1998), o<br />

Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)…<br />

— Ações de terrorismo biológico e químico<br />

foram postas em prática pelos EUA: o agente<br />

laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus<br />

da peste contra Cuba que durante anos devastou<br />

a produção suína naquele país.


— O wall Street Journal publicou um relatório<br />

que anunciava que 500 mil crianças vietnamitas<br />

nasceram deformadas em consequência da<br />

guerra química das forças norte-americanas.<br />

Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo<br />

da realidade. A guerra que o Senhor Presidente<br />

teimou em iniciar poderá libertar-nos de<br />

um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres.<br />

Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas<br />

já precárias economias e teremos menos<br />

esperança num futuro governado pela razão e<br />

pela moral […] Estaremos, enfim, mais sós e<br />

mais desamparados.<br />

[…]<br />

Senhor Presidente:<br />

Sua Excelência parece não necessitar que<br />

uma instituição internacional legitime o seu direito<br />

de intervenção militar. Ao menos que nós<br />

possamos encontrar moral e verdade na sua argumentação.<br />

Eu e mais milhões de cidadãos não<br />

ficamos convencidos quando o vimos justificar a<br />

guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção<br />

de kyoto para conter o efeito de estufa. Preferíamos<br />

tê-lo visto em Durban na Conferência<br />

Internacional contra o Racismo.<br />

Não se preocupe, senhor Presidente. A nós,<br />

nações pequenas deste mundo, não nos passa<br />

pela cabeça exigir […]. A maior ameaça que pesa<br />

sobre a América não são armamentos de outros.<br />

É o universo de mentira que se criou em redor<br />

dos vossos cidadãos. […] O seu inimigo principal<br />

não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra<br />

só pode ser vencida pelos próprios americanos.<br />

Eu gostaria de poder festejar […]. E festejar<br />

com todos os americanos. Porque nós, caro Presidente<br />

Bush, nós, os povos dos países pequenos,<br />

temos uma arma de construção massiva: a<br />

capacidade de pensar.<br />

COUTO, Mia. Pensatempos. Lisboa: Caminho, 2005.<br />

Para continuar<br />

Conversa sobre o texto<br />

1. Verifique se há outra palavra ou informação<br />

no texto além das que estão no vocabulário a seguir,<br />

que você não conheça. Caso haja, anote-as<br />

e procure em um dicionário ou enciclopédia, de<br />

acordo com o tipo de dúvida. Por exemplo, “suíno”<br />

é uma palavra cujo significado você encontra<br />

no dicionário; já “Martin Luther king”, você terá<br />

que procurar em uma enciclopédia.<br />

Massiva: em massa; relativo a um grande número de<br />

pessoas (arma de destruição em massa indica aquela<br />

que mata muitas pessoas de uma só vez como: agente<br />

laranja, fototoxina, bomba atômica.)<br />

Legitimar: legalizar, justificar.<br />

Martin Luther King: pacifista americano conhecido<br />

pela frase “Eu tive um sonho”; lutou para que os direitos<br />

do cidadão negro americano fossem respeitados<br />

e legitimados.<br />

Pretexto: desculpa.<br />

Atrocidade: crueldade, barbaridade, tortura, assassinato.<br />

Gaseamento: ação de asfixiar, matar com gases<br />

nocivos.<br />

Curdo: povo habitante do Curdistão, território montanhoso<br />

situado entre a Turquia e o Irã.<br />

CIA (Central Intelligence Agency): agência americana<br />

de inteligência.<br />

Fantoche: boneco com movimentos.<br />

Acido clorídrico: substância corrosiva, que dissolve.<br />

Conceder: dar, permitir.<br />

Clinton: ex-presidente americano, que antecedeu a<br />

George w. Bush.<br />

Agente laranja: é um desfolhante, resultado da combinação<br />

de dois herbicidas, isto é, agentes destruidores<br />

dos vegetais. A sua utilização racional pode ser de<br />

grande utilidade para a agricultura, mas se se empregarem<br />

noutras condições, são uma agressão terrível<br />

contra o ambiente, pois aniquilam em prazo mais ou<br />

menos curto a flora e fauna das regiões onde são lançados.<br />

A destruição maciça de árvores e de colheitas<br />

provoca a desnudação do solo que, exposto à erosão<br />

é à ação do Sol, em pouco tempo fica estéril e impróprio<br />

para a agricultura.<br />

Suíno: de porco.<br />

Wall Street Journal: respeitado jornal americano,<br />

cuja sede fica em Nova York.<br />

Organização das Nações Unidas (ONU): criada<br />

após a Segunda Guerra Mundial para levar a conciliação<br />

entre os países do mundo, os inspetores da ONU<br />

têm, entre outras, a função de fiscalizar, mediante denúncias,<br />

se as nações possuem ou utilizam armas de<br />

destruição em massa.<br />

P15<br />

wIkIMEDIA


wIkIMEDIA<br />

2.<br />

P16<br />

Leia o quadro a seguir:<br />

Os textos com trama argumentativa comentam,<br />

explicam, apresentam e confrontam<br />

ideias. Geralmente, organizam-se em três partes:<br />

uma introdução, que apresenta um tema,<br />

um problema sobre o qual se toma uma posição;<br />

um desenvolvimento, que traz a causa e<br />

o efeito de algumas ações, expõe ideias contra<br />

ou a favor do assunto, e mostra o que outras<br />

pessoas disseram sobre o tema; e uma conclusão,<br />

que normalmente é uma proposta de<br />

solução ao problema apresentado na introdução<br />

e/ou desenvolvimento (adaptado de kaufman,<br />

1995, p. 17).<br />

De acordo com o que lemos em “Carta ao<br />

presidente Bush”, o texto de Mia Couto é um texto<br />

com trama argumentativa.<br />

a) Volte ao primeiro parágrafo e responda: qual o<br />

assunto da carta?<br />

Desarmamento ou armas de destruição em<br />

massa.<br />

b) Geralmente, usamos a expressão “lista negra”<br />

para denominar os inimigos de algo ou alguém. Por<br />

que o escritor usou essa expressão?<br />

O autor situa a posição do presidente americano<br />

diante do mundo como se ele fosse inimigo do<br />

mundo, mas não que o mundo seja inimigo dele. Mia<br />

Couto também usa a expressão “lista negra” porque<br />

não consegue entender que motivos levam uma nação<br />

a financiar guerras em outras nações, embora<br />

saibamos que os motivos são econômicos (muitos<br />

dos países citados no texto possuem petróleo, a indústria<br />

de armas americana lucra com guerras etc.).<br />

c) Em uma carta, a apresentação de quem a es-<br />

creve já é um elemento para tentar convencer o leitor<br />

de suas ideias. Como o autor da carta se apresenta?<br />

Como um escritor de um país pobre. Ou com<br />

humildade.<br />

d) A quem se destina esta carta? Você supõe<br />

que Bush conheça Mia Couto? Se não, explique.<br />

A carta é destinada a Bush, contudo o emissor<br />

e o destinatário não se conhecem. A carta em<br />

questão é o que chamamos de carta “aberta”, ou<br />

seja, tem um destinatário específico, mas é feita<br />

para que todos os interessados possam ler. Não há<br />

sinal de intimidade porque é um texto com tom de<br />

denúncia, com a intenção de convencer seu suposto<br />

destinatário a mudar uma atitude. A carta, na verdade,<br />

destina-se às pessoas que querem a paz.<br />

e) Para nos dirigirmos a um interlocutor que não<br />

conhecemos e ao escrevermos um texto que muitas<br />

pessoas lerão, temos que usar algumas formas<br />

de tratamento e deixar claro quem evocamos. Que<br />

formas o escritor usou ao longo do texto para se<br />

referir ao presidente Bush?<br />

Pronomes de tratamento, como “Sua Excelência”;<br />

pronomes em segunda pessoa do plural, como<br />

“vossa”, “vos”; adjetivo como forma de tratamento,<br />

como em “caro”; uso de vírgulas para separar o<br />

vocativo e, também, o uso de dois-pontos. O autor<br />

também usa frases interrogativas e os advérbios<br />

“sim” e “não”.<br />

Professor: Volte ao texto com os alunos e<br />

faça-os grifar tais marcas, para que possam visualizar<br />

a estrutura no texto.


f) A maneira como Gustavo e Fernando trata-<br />

vam-se no texto anterior era bastante informal.<br />

Nesta carta, destinada a um presidente, o tratamento<br />

da linguagem foi informal?<br />

Não, o tratamento é diferente: o uso é formal,<br />

principalmente se considerarmos os exemplos da<br />

resposta anterior.<br />

g) Uma das formas de dialogar e aproximar o<br />

leitor e o destinatário de uma carta é utilizando<br />

frases interrogativas. Isso ocorre em que parágrafos<br />

do texto da carta de Mia Couto?<br />

No primeiro e segundo parágrafos.<br />

Professor: Explique que “são perguntas que se<br />

encerram em si próprias”, ou seja, não esperam uma<br />

resposta; são, na verdade, perguntas “retóricas”.<br />

h) No primeiro e segundo parágrafos, há uma<br />

expressão que se repete e é fundamental para o<br />

entendimento do texto. Que expressão é esta?<br />

A expressão “destruição massiva” que será<br />

retomada no último parágrafo do texto.<br />

3. A partir do segundo parágrafo da carta, podemos<br />

dizer que o escritor já iniciou o desenvolvimento<br />

de sua trama argumentativa.<br />

AFP<br />

a) Que personalidade ele cita para dar veraci-<br />

dade a seu sonho?<br />

Martin Luther king.<br />

b) Qual foi o sonho do escritor?<br />

Sonhou que era um país e exigia do presidente<br />

americano que a paz fosse estabelecida,<br />

sonhou que os inspetores da ONU em vez de<br />

andarem pelos países pobres, investigassem um<br />

país rico como os EUA.<br />

c) Com o trecho: “não era produto de sonho in-<br />

felizmente”, que fatos o autor quer denunciar com<br />

o uso da palavra produto e lista?<br />

O autor passa a enumerar as guerras e invasões<br />

promovidas pelos americanos desde a Segunda<br />

Guerra Mundial.<br />

Professor: O aluno poderá responder com<br />

qualquer um dos itens da “lista”.<br />

d) Após o segundo vocativo, no meio do texto,<br />

temos “pesadelo do sono para o pesadelo da realidade”.<br />

O que isso significa?<br />

O escritor, como recurso argumentativo,<br />

descobre que o pesadelo da “lista” é um fato, portanto,<br />

ele acorda para a “realidade”.<br />

4. Segundo Mia Couto, quais atitudes benéficas<br />

Bush poderia ter tomado em vez de promover<br />

guerras?<br />

Ele cita o fato de o presidente americano recusar-se<br />

a assinar o Protocolo de kyoto, que toma<br />

medidas contra o efeito estufa, e também recusar-<br />

-se a participar de atos contra o racismo.<br />

P17<br />

wIkIMEDIA


wIkIMEDIA<br />

5. Qual é o maior inimigo dos EUA, segundo o<br />

emissor da carta? Comprove com um trecho do<br />

texto.<br />

O maior inimigo é a mentira. “É o universo de<br />

mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos.<br />

[…] O seu inimigo principal não está fora. Está dentro<br />

dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos<br />

próprios americanos.”<br />

6. Ao começar a concluir a carta, o emissor diz<br />

que quer festejar junto aos americanos. O que você<br />

supõe que ele queira festejar?<br />

O desarmamento. A paz.<br />

7. No último parágrafo, próximo de concluir a<br />

carta, o autor retoma uma expressão do primeiro<br />

e segundo parágrafos, só que de forma contrária.<br />

Que expressão é esta e como isso auxilia na conclusão<br />

do texto? Explique.<br />

Em oposição à “destruição massiva”, o autor<br />

usa “construção massiva”, para referir-se à capacidade<br />

de pensar, ou seja, quem pensa não se arma,<br />

não destrói, só constrói.<br />

8. Além da trama argumentativa, a carta é um<br />

texto com função apelativa, que tem como objetivo<br />

modificar um comportamento. Apela-se para convencer<br />

o leitor de que a argumentação apresentada<br />

está correta. Você acredita que atitudes públicas,<br />

como esta do escritor, possam contribuir para resolver<br />

os grandes problemas de nosso tempo?<br />

Resposta pessoal.<br />

Professor: Conduza para uma discussão sobre<br />

a postura das personalidades públicas diante dos problemas<br />

mundiais e como isso influencia ou não uma<br />

tomada de consciência em relação a certos temas.<br />

P18<br />

Para continuar<br />

Conexão/conceito<br />

Estilística<br />

Um livro de gramática geralmente traz, no índice<br />

ou no sumário, os termos: fonologia, morfologia,<br />

sintaxe, semântica e estilística.<br />

Neste capítulo, vamos estudar a estilística, parte<br />

da gramática que trata das figuras de linguagem<br />

também chamadas de figuras de estilo.<br />

Figuras de linguagem<br />

Figuras de linguagem são recursos especiais,<br />

formas diferentes que podem ser usadas<br />

por quem fala ou escreve para comunicar-se com<br />

mais força, com mais beleza, ou seja, em sentido<br />

figurado, menos comum.<br />

Como já vimos em outros anos, o sentido figurado<br />

assume um significado derivado, ou seja, uma<br />

espécie de desvio do que é mais comum usar. Veja<br />

este exemplo:<br />

“… um país que já esteve na vossa lista negra”.<br />

O que significa a expressão em negrito? Anote<br />

sua explicação dentro do quadro a seguir.<br />

É uma lista de pessoas, empresas, instituições<br />

boicotadas por um grupo, sociedade, país<br />

ou por um conjunto de pessoas com as quais se<br />

corta ou se evita qualquer contato, por se terem<br />

revelado indignas de apreço ou confiança. Neste<br />

caso, o escritor referia-se ao fato de o país Moçambique<br />

pertencer à lista de nações a quem a<br />

política americana “maltrata”.<br />

Você notou que teve de recorrer ao dicionário ou<br />

a outras expressões para explicar o significado de<br />

“lista negra”? Embora seja uma expressão bastante<br />

popular, é difícil explicá-la com nossas palavras.<br />

Isso ocorre porque está em sentido figurado, ou<br />

seja, foi necessário intensificar a ideia ou desviá-<br />

-la da ideia de “um item embaixo do outro” ou da<br />

ideia de “cor”, que seriam os sentidos comuns da


expressão “lista negra”. No sentido figurado, ela se<br />

desvia: assume o sentido de “negra” por ser uma<br />

cor intensa visualmente e no sentido de “lista” por<br />

ser algo posto à parte, na diferença.<br />

Você já imaginou que pode encontrar ou mesmo<br />

empregar, ao longo de sua vida, um número infinito<br />

de sentidos figurados para dar maior significado<br />

a palavras ou expressões? Não podemos prever<br />

o sentido figurado que nascerá para uma palavra<br />

ou expressão. Isso ocorre porque a língua é viva e<br />

se torna ainda mais viva e pulsante nas mãos dos<br />

grandes escritores e poetas. Entretanto, podemos<br />

explicar os mais diversos tipos de sentidos figurados<br />

por meio das figuras de linguagem.<br />

As figuras de linguagem podem ser divididas<br />

em três tipos: as figuras de palavras, as figuras de<br />

construção e as figuras de pensamento.<br />

A seguir analisaremos cada uma delas:<br />

Figuras de palavras<br />

As figuras de palavras consistem na substituição<br />

de uma palavra por outra, isto é, no emprego figurado,<br />

simbólico, de uma palavra por outra, quer por<br />

uma relação muito próxima, quer por uma associação,<br />

uma comparação, ou seja, são os desvios de<br />

significado para se atingir um efeito expressivo.<br />

Uma figura de palavra bastante usada é a metonímia,<br />

palavra que vem do grego metonymia, “além do<br />

nome”, “mudança de nome”. Observe os exemplos:<br />

Sua carta sobre Dostoiésvki me espantou…<br />

(Dostoiésvki é o autor do livro; o que Gustavo<br />

lê é a obra dele.)<br />

Hoje à tarde eu vi Picasso…<br />

(Picasso é o pintor; o que Fernando viu foi o<br />

quadro de Picasso.)<br />

Nesses dois exemplos, temos o nome dos autores<br />

no lugar de suas obras.<br />

A seguir, foi empregado o efeito pela sua causa:<br />

Os aviões americanos semearam a morte<br />

em vários continentes.<br />

(Os aviões americanos semeavam bombas /<br />

que matam/ mortíferas em vários continentes.)<br />

Dizemos que ocorreu uma metonímia:<br />

A metonímia é uma figura de linguagem<br />

que usa uma palavra por outra porque há<br />

uma relação de dependência, de proximidade<br />

ou contiguidade.<br />

Se fizéssemos um gráfico, poderíamos ter:<br />

Crime e Castigo<br />

(livro)<br />

As senhoritas<br />

do Avignon<br />

(quadro)<br />

Morte<br />

Dostoiésvki Picasso Bomba<br />

Por esse motivo, uma metonímia é uma figura<br />

de palavras.<br />

Professor: Se preferir, peça aos alunos que<br />

pesquisem em jornais ou mesmo na internet os<br />

exemplos solicitados. Se possível, coloque na lousa<br />

os vários exemplos encontrados pela turma e<br />

faça uma discussão com a classe.<br />

Figuras de pensamento<br />

As figuras de pensamento são os desvios na<br />

construção de uma ideia que, normalmente, referem-se<br />

à emoção, ao sentimento, à paixão. Uma<br />

figura de pensamento utiliza um processo de entendimento<br />

que ocorre no plano das ideias.<br />

Recorde que Mia Couto iniciou a carta argumentativa<br />

usando a expressão “destruição massiva”, depois<br />

desenvolveu exemplos de como o presidente americano<br />

liderava essa “destruição massiva”, ao final do<br />

texto usou uma expressão contrária para mostrar a<br />

sua mensagem e concluir o texto: “construção massiva”<br />

para dizer como os países pobres combatem a<br />

“destruição”. Dizemos que ocorreu uma antítese.<br />

A antítese é uma figura de pensamento que<br />

expressa uma ideia com sentido oposto.<br />

É um recurso de estilo que pode ocorrer em um<br />

texto mais longo, como no exemplo da carta, ou em<br />

um exemplo com apenas uma frase:<br />

Não é fácil entender, mas é fascinante tentar!<br />

Esse exemplo consiste em um trecho em que<br />

Fernando conclui sua análise sobre o quadro de Picasso,<br />

observe:<br />

Não entender / mas tentar<br />

fácil/ fascinante.<br />

A ação de “não entender” é um pensamento oposto<br />

a “mas tentar”.<br />

Mesmo sendo ideias opostas, resumem uma mensagem:<br />

“não entendo e continuo tentando entender”.<br />

É um período em que se desenvolve uma antítese.<br />

P19


Outra figura de pensamento, bastante usada no<br />

cotidiano, é a hipérbole.<br />

P20<br />

Observe:<br />

Fernando diz a Gustavo, comentando sobre o<br />

quarto de hotel:<br />

Morra de inveja…<br />

Esta é uma afirmação expressiva e não significa<br />

que Fernando deseje a morte do amigo, ou que<br />

seja possível morrer de algo cuja causa seja inveja.<br />

Apenas significa que ele está achando o quarto<br />

muito bom e que todo mundo gostaria de estar em<br />

um quarto como aquele.<br />

Podemos definir:<br />

A hipérbole é uma figura de pensamento<br />

que expressa afirmação exagerada.<br />

Uma figura de pensamento muito importante é<br />

a ironia, usada quando se tem a intenção de sarcasmo,<br />

ou seja, quando se está pensando o contrário<br />

do que se está dizendo ou escrevendo.<br />

Por exemplo, em determinado momento da carta<br />

ao presidente, o escritor diz:<br />

Não se preocupe, presidente.<br />

Nesse caso, o escritor está sendo sarcástico,<br />

irônico, porque a carta e o seu conteúdo são justamente<br />

motivos de grandes preocupações não só<br />

para um presidente, mas para toda a humanidade.<br />

Quando ele escreve “não”, na verdade quer dizer:<br />

“Sim, preocupe-se, presidente!”. Assim, podemos<br />

definir:<br />

Ironia é a figura de pensamento que se usa<br />

para dizer o contrário do que se está pensando,<br />

com tom de sarcasmo.<br />

Uma figura de pensamento que apareceu várias<br />

vezes nos textos entre Gustavo e Fernando foi a<br />

reticência, ou seja, quando deixamos um espaço<br />

(representado pela reticência) para que o pensamento<br />

de quem lê ou ouve preencha o que não<br />

foi dito ou escrito.<br />

As mulheres ficam olhando pra gente de um<br />

modo… é hipnótico mesmo.<br />

Neste caso, logo a seguir o garoto completou<br />

o pensamento, mas houve uma espécie de intervalo,<br />

representado pela reticência, em que nós,<br />

leitores, tentamos preencher que “modo de olhar”<br />

seria esse.<br />

Portanto:<br />

Reticência é uma figura de pensamento<br />

em que o pensamento é suspenso, interrompido,<br />

escondido.<br />

Figuras de construção<br />

As figuras de construção são os desvios da<br />

norma gramatical — seu objetivo também é atingir<br />

uma expressão.<br />

Uma figura de construção tem esse nome porque<br />

acaba por desviar, ou melhor, construir o que<br />

queremos dizer ou escrever para uma maneira<br />

que não é comum, é irregular. Com isso não se<br />

provoca um “erro”, mas se dá ao texto um estilo<br />

mais “conciso”, quer dizer elegante ou expressivo;<br />

por isso também pode ser chamada de figura de<br />

sintaxe, ou seja, como o texto é construído.<br />

Uma importante figura de construção é a elipse:<br />

…o daqui parece cetim…<br />

O exemplo acima é o comentário que Fernando<br />

faz quando o amigo pergunta do papel higiênico<br />

americano; para não repetir o termo “papel higiênico”<br />

e deixar a frase mais “enxuta”, ele deixa o termo<br />

subentendido:<br />

o (papel higiênico) daqui parece cetim.<br />

É uma espécie de economia de palavras. Portanto:<br />

A elipse é a omissão de um termo que facilmente<br />

podemos entender pelo contexto.<br />

1. Releia os trechos a seguir, considerando o<br />

contexto de As senhoritas de Nova York e, depois,<br />

determine se alguma figura de linguagem<br />

(metonímia, hipérbole, reticência, elipse, ironia,<br />

antítese) está representada no trecho sublinhado<br />

de cada excerto:<br />

“O quadro,<br />

a) leio, fundou o Cubismo.”<br />

Metonímia, “o quadro leio” está sendo utilizado<br />

no lugar do nome do pintor Picasso.


) “ Azar o seu. Bye!”<br />

Ironia, em tom de brincadeira se deseja azar<br />

no lugar de sorte.<br />

c) “Minha cabeça começou a fumegar.”<br />

Metáfora, cruza-se a imagem de uma cabeça<br />

que pensa com algo que esquenta e solta fumaça.<br />

d) “...são como ver Veneza por cartão-postal”.<br />

Elipse, a cidade de Veneza; também uma<br />

comparação simples (como).<br />

e) “...está interessado em discutir os grandes te-<br />

mas morais…”<br />

Reticência e também ironia, já que o garoto<br />

“tira sarro” do amigo concentrado na leitura do escritor<br />

russo.<br />

2. Identifique, nas frases a seguir, usadas por<br />

muitos de nós no cotidiano, que figuras de linguagem<br />

estão representadas nos enunciados:<br />

a)<br />

A chuva de ontem? Quase caiu o mundo!<br />

hipérbole, choveu muito.<br />

b) Ele não parece tão quietinho assim…<br />

reticência, completa-se a ideia com um pensamento.<br />

c) Que gracinha, não?!<br />

ironia, indica que não é uma graça, é sem graça,<br />

expressão popular.<br />

d) Minha mãe ficou muito brava, aliás, como to-<br />

das as mães da classe!<br />

elipse, todas as mães da classe ficaram bravas.<br />

e) Meus sobrinhos gostam muito do desenho A<br />

bela e a fera.<br />

antítese, de bela = bonita + fera = monstro.<br />

f) O jornal dizia que os sem-teto invadiram as ve-<br />

lhas casas das ruas centrais.<br />

metonímia, sem-teto para aqueles que não<br />

têm casa.<br />

g) Ele é bom de bico, isso sim!<br />

metáfora, bico cruza a imagem da boca humana<br />

que fala e arroga com o bico de um pássaro.<br />

h) A mãe fez apenas um mingau de maisena para<br />

o bebê.<br />

Metonímia, Maizena é a marca, o produto é amido<br />

de milho.<br />

i) Meu irmão odeia usar a gilete para se barbear,<br />

prefere o barbeador elétrico.<br />

Metonímia, Gillette é a marca, o produto é lâmina.<br />

As figuras de linguagem<br />

e o texto publicitário<br />

Observe o anúncio a seguir.<br />

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sua navegação.<br />

3. As figuras de linguagem não são apenas da<br />

linguagem verbal. Ocorrem também na linguagem<br />

não verbal e na mista.<br />

a) Sabendo que o anúncio promove a venda<br />

de um software e de seu manual digital, o que<br />

parecem ser os pontos luminosos no logotipo da<br />

segunda imagem?<br />

Cada lâmpada acesa parece uma ideia, uma<br />

instrução de manuseio do software.<br />

b) Por aproximação, o que a imagem da lâmpada<br />

representa na primeira imagem?<br />

Representa a ideia, assumindo um caráter de<br />

ícone: a luz da lâmpada, uma parte da lâmpada.<br />

c) Que tipo de figura de linguagem podemos en-<br />

contrar nessa relação? Explique.<br />

Metonímia. Porque toma uma parte pelo seu<br />

PHOTOMO/DREAMSTIME.COM – MEDIO IMAGES/PHOTODISk/GETTY IMAGES<br />

P21


todo: a lâmpada pela luz associada à ideia e os vários<br />

pontos luminosos na “mão” produzem a ideia<br />

de que, ao clicar nela, o usuário terá várias sugestões<br />

de manuseio do software. São todas associações<br />

por contiguidade.<br />

Para continuar<br />

Além do texto<br />

Leia a seguir a sinopse e algumas curiosidades<br />

sobre o filme Cartas de Iwo Jima, do diretor<br />

Clint Eastwood:<br />

Junho de 1944. Tadamichi kuribayashi (ken<br />

watanabe), o tenente-general do exército imperial<br />

japonês, chega à ilha de Iwo Jima. Muito<br />

respeitado por ser um hábil estrategista, kuribayashi<br />

estudara nos Estados Unidos, onde<br />

fizera grandes amigos e conhecia o exército<br />

ocidental e sua capacidade tecnológica. Por<br />

isso, o Japão colocou em suas mãos o destino<br />

de Iwo Jima, considerada a última linha<br />

de defesa do país. Ao contrário dos outros comandantes,<br />

kuribayashi moderniza o modo de<br />

agir, alterando a estratégia que era usada. Ele<br />

supervisiona a construção de uma fortaleza<br />

subterrânea, feita de túneis que davam para as<br />

suas tropas: a estratégia ideal contra as forças<br />

americanas, que começam a desembarcar na<br />

ilha em 19 de fevereiro de 1945. Os japoneses<br />

sabiam que as chances de sair dali vivos eram<br />

mínimas. Enquanto isto acontece, kuribayashi<br />

e outros escrevem várias cartas, que dariam<br />

vozes e rostos para aqueles que ali estavam e<br />

o relato dos meses que antecederam a batalha<br />

e o combate propriamente dito, a partir da ótica<br />

dos japoneses.<br />

Curiosidades sobre o filme:<br />

P22<br />

• Cartas de Iwo Jima foi rodado simul-<br />

•<br />

taneamente ao filme A conquista da<br />

honra (2006), também do diretor Clint<br />

Eastwood, que conta a mesma história,<br />

contudo sob a ótica dos americanos.<br />

Apesar disso, não há nenhum integrante<br />

do elenco que apareça nos dois filmes.<br />

ken watanabe leu as cartas enviadas<br />

pelo verdadeiro general Tadamichi kuribayashi<br />

à sua família, como forma de se<br />

preparar para o personagem.<br />

http://iwojimathemovie.warnerbros.com/<br />

lettersofiwojima/framework/framework.html<br />

(acesso em 12 de março de 2009)<br />

Veja algumas cenas do filme:<br />

Basicamente, um filme é produzido colocando-<br />

-se uma foto na outra, quer dizer, o cineasta edita<br />

as imagens e monta uma sequência narrativa capaz<br />

de mostrar determinada perspectiva. Conforme<br />

você leu anteriormente, o diretor Clint Eastwood<br />

conseguiu fazer dois filmes ao mesmo tempo: um<br />

sob a ótica dos japoneses e outro com a maneira<br />

de ver a mesma batalha, só que sob a perspectiva<br />

dos americanos.<br />

Em Cartas de Iwo Jima, vamos acompanhando<br />

o desenrolar da batalha a ser preparada, mas também<br />

vamos descobrindo por meio de algumas personagens<br />

(veja as fotos de cenas) o cotidiano dos<br />

japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.<br />

Assista a esse filme com sua classe e faça<br />

anotações sobre as personagens que escreveram<br />

as cartas:<br />

1.<br />

2.<br />

Que tema abordaram?<br />

Que personagens escreveram cartas?<br />

PHOTO 12/AFP<br />

PHOTO 12/AFP


3.<br />

Que perspectivas tinham para o futuro?<br />

4. Essas personagens relembravam fatos do<br />

passado nas cartas?<br />

5. Elas citam nas cartas o que está acontecendo<br />

no presente, na ilha?<br />

6.<br />

7.<br />

Essas cartas chegam até os destinatários?<br />

Como chegam?<br />

Sugestão didática<br />

Professor: O objetivo deste bloco de atividade é<br />

um exercício de observação. Cada aluno deve anotar<br />

sobre uma personagem, pelo menos. Caso consigam<br />

anotar sobre mais de uma, melhor. A questão que<br />

aqui se posta está relacionada ao fato de as cartas<br />

apenas chegarem a seus destinatários tempos depois<br />

da guerra terminada, o que só é revelado ao fim<br />

do filme.<br />

Caso não tenha possibilidade de encontrar esse<br />

filme para locação, peça aos alunos para observarem<br />

as imagens das cenas; como as pessoas estão vestidas,<br />

por exemplo. Por meio deste tipo de observação,<br />

mantenha um diálogo com a classe para que escrevam<br />

pequenas legendas para as cenas, considerando<br />

o que leram na sinopse, ou ainda, peça para imaginarem<br />

que tipo de carta cada um deles escreveria diante<br />

dessa situação da guerra e do fato da sinopse sugerir<br />

que o retorno para casa seria quase impossível.<br />

O interessante aqui é pontuar para os alunos<br />

como a narrativa é construída por meio das cartas<br />

que são escritas e como cada uma das pessoas<br />

contribui para que a narrativa tenha um desfecho,<br />

que está relacionado ao episódio histórico da Segunda<br />

Guerra Mundial.<br />

Caso queira, pode propor um trabalho interdisciplinar<br />

com Geografia e História para que assistam ao filme<br />

A conquista da honra, que mostra o outro lado do<br />

mesmo episódio, só que da perspectiva americana.<br />

Para finalizar<br />

Professor: Preencha o quadro juntamente com os<br />

alunos — este pode ser um momento de revisão.<br />

A resposta dos alunos pode auxiliá-lo na autoavaliação.<br />

Você considera que conseguiu realizar todas<br />

as atividades com seus alunos? Quanto você contribuiu<br />

para o conhecimento dos alunos?<br />

e-mail<br />

Conteúdos<br />

Autobiografia<br />

Etimologia da<br />

palavra carta<br />

Argumentação /<br />

Função apelativa<br />

Texto publicitário<br />

Metonímia<br />

Hipérbole<br />

Elipse<br />

Reticência<br />

Ironia<br />

Antítese<br />

Para casa<br />

O que aprendi<br />

no capítulo 1<br />

1. Observe o anúncio a seguir, antes de responder<br />

às questões:<br />

Uma chave na mão e uma aventura no caminho<br />

P23<br />

JOHN FOXX/STOCkBYTE/GETTY IMAGES


a) Nesse anúncio, podemos afirmar que há elip-<br />

se na linguagem verbal?<br />

Escreva a parte verbal do anúncio para demonstrar<br />

sua resposta.<br />

Sim, há elipse: “Você com uma chave/ da<br />

moto/ na mão e com uma aventura a fazer pelo /<br />

seu/ caminho”.<br />

P24<br />

b) Além da elipse, o anúncio apresenta outra fi-<br />

gura de linguagem?<br />

Sim, uma metonímia: a parte pelo todo: a chave<br />

da moto pela moto inteira.


Para começar<br />

Capítulo<br />

Português 2<br />

Neste capítulo, trabalharemos com a linguagem<br />

poética e com as figuras de linguagem.<br />

O carteiro e o poeta<br />

Crescido no seio de pescadores, nunca o jovem<br />

Mario Jiménez suspeitou que no correio daquele<br />

dia haveria um anzol com que apanharia<br />

o poeta. Mal lhe entregara o fardo, o poeta distinguira<br />

com precisão meridiana uma carta cujo<br />

envelope rasgou diante de seus próprios olhos.<br />

Essa inédita conduta, incompatível com a serenidade<br />

e discrição do poeta, encorajou no carteiro<br />

o início de um interrogatório e, por que não dizê-<br />

-lo, de uma amizade.<br />

— Por que abre essa carta antes das outras?<br />

— Porque é da Suécia.<br />

— E o que é que a Suécia tem de especial,<br />

fora as suecas?<br />

Embora Pablo Neruda possuísse duas pálpebras<br />

inalteráveis, dessa vez, pestanejou.<br />

— O Prêmio Nobel de Literatura, filho.<br />

— Vão lhe dar.<br />

— Se me dão, não recusar.<br />

— E quanto dinheiro é?<br />

O poeta, que já havia chegado ao miolo da<br />

missiva, disse, sem ênfase:<br />

— Cento e cinquenta mil e duzentos e cinquenta<br />

dólares.<br />

Mario pensou a seguinte piadinha: “e cinquenta<br />

centavos”, mas o instinto reprimiu sua<br />

contumaz impertinência e, em troca, perguntou<br />

da maneira mais polida:<br />

— E então?<br />

— Hum?<br />

— Dão-lhe o Prêmio Nobel?<br />

— Pode ser, mas desta vez há candidatos<br />

com mais chance.<br />

— Por quê?<br />

— Porque escreveram grandes obras.<br />

— E as outras cartas?<br />

— Leio depois — suspirou o poeta.<br />

— Ah!…<br />

Mario, que pressentia o fim do diálogo, deixou-se<br />

consumir por uma ausência semelhante<br />

à de seu predileto e único cliente, mas foi tão radical<br />

que obrigou o poeta a perguntar:<br />

De carteiros,<br />

envelopes e selos!<br />

— Em que você ficou aí pensando?<br />

— No que dirão as outras cartas. Serão de<br />

amor?<br />

O robusto poeta tossiu.<br />

— Rapaz! Estou casado. Que a Matilde não<br />

escute!<br />

— Desculpe, dom Pablo.<br />

Neruda assaltou com ímpeto seu bolso e<br />

extraiu uma nota daquela categoria “mais que<br />

o normal”. O carteiro disse “obrigado”, nem tão<br />

angustiado pela soma quanto pela iminente despedida.<br />

Essa mesma tristeza pareceu imobilizálo<br />

até um grau alarmante. O poeta, que se dispunha<br />

a entrar, não pôde deixar de se interessar<br />

por essa inércia tão pronunciada.<br />

— Que há?<br />

— Dom Pablo?…<br />

— Você fica aí parado como um poste.<br />

Mario retorceu o pescoço e procurou os olhos<br />

do poeta, indo de baixo para cima.<br />

— Cravado como uma lança?<br />

— Não, quieto como uma torre de xadrez.<br />

— Mais tranquilo que um gato de porcelana?<br />

Neruda soltou o trinco do portão e acariciou-<br />

-se o queixo.<br />

— Mario Jiménez, afora as Odes elementares,<br />

tenho livros muito melhores. É indigno que<br />

você fique me submetendo a todo tipo de comparações<br />

e metáforas.<br />

— Como é, dom Pablo?<br />

— Metáforas, homem!<br />

— Que são essas coisas?<br />

O poeta colocou a mão sobre o ombro do rapaz.<br />

— Para esclarecer mais ou menos da maneira<br />

imprecisa, são modos de dizer uma coisa<br />

comparando-a com outra.<br />

— Dê-me um exemplo…<br />

Neruda olhou o relógio e suspirou.<br />

— Bem, quando você diz que o céu está chorando.<br />

O que é que você quer dizer com isto?<br />

— Ora, fácil! Que está chovendo, ué!<br />

— Bem, isso é uma metáfora.<br />

— E por que se chama tão complicado, se é<br />

uma coisa tão fácil?<br />

— Porque os nomes não têm nada a ver com<br />

a simplicidade ou complexidade das coisas. Pela<br />

sua teoria, uma coisa pequena que voa não deveria<br />

ter um nome tão grande como mariposa.<br />

P25


Elefante tem a mesma quantidade de letras que<br />

mariposa, é muito maior e não voa — concluiu<br />

Neruda exausto. Com um resto de ânimo indicou<br />

para Mario o rumo da enseada. Mas o carteiro<br />

teve a presença de espírito de dizer:<br />

— […] gostaria tanto de ser poeta!<br />

— Rapaz! Todos são poetas no Chile. É mais<br />

original que você continue sendo carteiro. Pelos<br />

menos caminha bastante e não engorda. Todos<br />

os poetas no Chile somos barrigudos.<br />

Neruda retomou o trinco do portão e dispunha-se<br />

a entrar quando Mario, olhando o voo de<br />

um pássaro invisível, disse:<br />

— É que se seu fosse poeta podia dizer o que<br />

quero.<br />

— E o que é que você quer dizer?<br />

— Bom, justamente o problema é este. Como<br />

não sou poeta, não posso dizer.<br />

O poeta apertou as sobrancelhas por cima do<br />

tabique do nariz.<br />

— Mario?!<br />

— Dom Pablo?!<br />

— Vou me despedir e fechar o portão.<br />

— Está certo, dom Pablo.<br />

— Até amanhã.<br />

— Até amanhã.<br />

Neruda deteve o olhar sobre o resto das cartas<br />

e logo entreabriu o portão. O carteiro estudava<br />

as nuvens com os braços cruzados no peito.<br />

O poeta foi até seu lado e espetou-lhe o ombro<br />

com um dedo. Sem desfazer a postura, o rapaz<br />

ficou olhando para ele.<br />

— Voltei porque suspeitei que você continuava<br />

aqui.<br />

— É que fiquei pensando…<br />

Neruda apertou os dedos no cotovelo do carteiro<br />

e o foi conduzindo até o poste onde havia<br />

estacionado a bicicleta.<br />

— E você fica sentado para pensar? Se quer<br />

ser poeta, comece por pensar caminhando.[…]<br />

Agora vá para a enseada pela praia e, enquanto<br />

observa o movimento do mar, pode ir inventando<br />

metáforas.<br />

— Dê-me um exemplo!…<br />

— Olha este poema: “Aqui na Ilha, o mar, e<br />

quanto mar. Sai de si mesmo a cada momento.<br />

Diz que sim, que não, que não. Diz que sim, em<br />

azul, em espuma, em galope. Diz que não, que<br />

não. Não pode sossegar. Chamo-me mar, repete<br />

batendo numa pedra sem convencê-la. E então,<br />

com sete línguas verdes, de sete tigres verdes,<br />

de sete cães verdes, de sete mares verdes, percorre-a,<br />

beija-a, umedece-a e golpeia-se o peito<br />

P26<br />

repetindo seu nome.”<br />

Fez uma pausa satisfeito.<br />

— O que você acha?<br />

— Estranho.<br />

— “Estranho”. Mas que crítico mais severo!<br />

— Não, dom Pablo. Estranho não é o poema.<br />

Estranho é como eu me sentia quando o senhor<br />

recitava o poema.<br />

— Querido Mario, vamos ver se desenrola um<br />

pouco porque eu não posso passar toda a manhã<br />

desfrutando o papo.<br />

— Como posso lhe explicar? Quando o senhor<br />

dizia o poema, as palavras iam daqui para<br />

ali.<br />

— Como o mar, ora!<br />

— Pois é, moviam-se exatamente como o<br />

mar.<br />

— Isso é ritmo.<br />

— Eu me senti estranho, porque com tanto<br />

movimento fiquei enjoado.<br />

— Você ficou enjoado…<br />

— Claro! Eu ia como um barco tremendo em<br />

suas palavras.<br />

As pálpebras do poeta se despregaram lentamente.<br />

— “Como um barco tremendo em minhas<br />

palavras.”<br />

— Claro.<br />

— Sabe o que você fez, Mario?<br />

— O quê?<br />

— Uma metáfora.<br />

— Mas não vale porque saiu por acaso.<br />

— Não há imagem que não seja casual, filho.<br />

Mario levou a mão ao coração e quis controlar<br />

um palpitar desaforado que lhe havia subido<br />

até a língua e que lutava por estalar entre seus<br />

dentes. Deteve a caminhada e, com um dedo impertinente<br />

manipulado a centímetros do nariz de<br />

seu emérito cliente, disse:<br />

— O senhor acha que todo mundo, quero<br />

dizer todo o mundo, com o vento, os mares, as<br />

árvores, as montanhas, o fogo, os animais, as<br />

casas, os desertos, as chuvas…<br />

— … agora já pode dizer “etcétera”.<br />

— … os etcéteras! O senhor acha que o mundo<br />

inteiro é a metáfora de alguma coisa?<br />

Neruda abriu a boca e seu robusto queixo pareceu<br />

desprender-se do rosto.<br />

— Perguntei merda, dom Pablo?<br />

— Não, homem, não.<br />

— É que ficou com uma cara tão estranha…<br />

— Não, acontece que eu fiquei pensando.<br />

Espantou com a mão uma fumaça imaginária,


levantou as calças descaídas e, espetando o peito<br />

do jovem com o indicador, disse:<br />

— Olha, Mario. Vamos fazer um trato. Agora eu<br />

vou até a cozinha, preparo para mim uma omelete<br />

de aspirinas para meditar sobre a sua pergunta e<br />

amanhã lhe dou a minha opinião.<br />

— Sério, dom Pablo?<br />

— Sim, homem, claro. Até amanhã.<br />

Voltou até sua casa e, após fechar o portão,<br />

encostou-se nele e pacientemente cruzou os braços.<br />

— Não vai entrar? – gritou Mario.<br />

— Ah, não. Dessa vez espero que você vá.<br />

O carteiro desprendeu a bicicleta do poste, fez<br />

soar contente sua campainha e, com um sorriso<br />

tão amplo que abarcava poeta e contorno, disse:<br />

— Até logo, dom Pablo.<br />

— Até logo, rapaz.<br />

Para continuar<br />

Conversa sobre o texto<br />

SkARMETA, Antonio. O carteiro e o poeta.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1996.<br />

1. Faça um levantamento das palavras que lhe<br />

são desconhecidas, construindo um vocabulário:<br />

Professor: Esta sequência é apenas uma sugestão<br />

— aumente-a ou reduza-a conforme as habilidades<br />

de suas classes. Peça, em uma segunda<br />

leitura, que anotem no próprio texto ou façam uma<br />

lista de palavras, mas deixe que sigam seus próprios<br />

caminhos de vocabulário. Depois, à lousa, vá<br />

listando o que procuraram em comum — normalmente<br />

serão as mesmas palavras.<br />

Enseada: pequena baía que serve de porto<br />

para barcos menores; angra.<br />

Fardo: pacote.<br />

Missiva: carta.<br />

Ênfase: aquilo a que se dá maior importância<br />

ou mais atenção.<br />

Contumaz: insistente, costumeiro.<br />

Impertinência: inconveniência, insolência,<br />

atrevimento.<br />

Iminente: aquilo que em breve vai acontecer.<br />

Inércia: falta de reação, ficar parado.<br />

Emérito: sábio.<br />

Ode: um tipo de poema.<br />

Elementar: essencial, o que não pode deixar<br />

de ser dito.<br />

Polidez: educação, cortesia.<br />

Tabique: septo, no texto: franzir as sobrancelhas<br />

acima do nariz, demonstrar desagrado ou impaciência.<br />

Precisão: exatidão<br />

Meridiano: dividir ao meio, no texto: achar com<br />

o olhar em “meio ao monte de cartas” a carta da<br />

Suécia.<br />

2. Mario, o carteiro, refere-se ao poeta Pablo<br />

Neruda usando a palavra “dom”. Considerando o<br />

que você leu no texto, identifique a melhor acepção<br />

do dicionário Houaiss eletrônico para o uso<br />

desta palavra no caso das duas personagens.<br />

A acepção número 4 (quatro).<br />

Acepções<br />

substantivo masculino<br />

1 Rubrica: termo eclesiástico, história.<br />

denominação que acompanha certos cargos<br />

eclesiásticos<br />

Obs.: inicial ger. maiúsc.<br />

Ex.: D. Hélder Câmara<br />

2 Rubrica: história.<br />

título honorífico que precede o nome de batismo,<br />

aplicado a monarcas e príncipes ou a membros<br />

da alta nobreza de Portugal e Espanha<br />

Obs.: cf. dona<br />

Ex.: <br />

3 Rubrica: história.<br />

título concedido pelos reis a homens ilustres<br />

que prestaram grandes serviços à corte<br />

Obs.: inicial ger. maiúsc.<br />

Ex.: D. Vasco da Gama<br />

4 Derivação: por extensão de sentido.<br />

entre espanhóis e hispano-americanos, título<br />

que precede o nome de batismo, aplicado a qualquer<br />

homem adulto a quem se quer tratar com<br />

cortesia ou respeito<br />

Obs.: inicial ger. maiúsc.<br />

5 Regionalismo: Portugal. Uso: ironia. Diacronismo:<br />

obsoleto.<br />

denominação us. sarcasticamente, precedendo<br />

expressões injuriosas<br />

Ex.: d. falso, d. traidor<br />

3. Ao longo do texto, ficamos sabendo onde esse<br />

episódio da narrativa se passa? Qual o espaço dessa<br />

narrativa?<br />

Sim, à frente do portão da casa do poeta. O<br />

próprio poeta sugere que é uma ilha, por causa da<br />

enseada, do mar; além do que repete por duas vezes<br />

que no “Chile” todos são poetas.<br />

P27


4. O próprio título do texto nos apresenta as personagens<br />

centrais dessa narrativa. A que outra personagem<br />

o texto se refere?<br />

À Matilde, esposa de Neruda.<br />

5. Por que a carta que vinha da Suécia parecia<br />

tão importante?<br />

Provavelmente a carta anunciava que Neruda<br />

era candidato a um prêmio, o mais importante no<br />

âmbito da literatura mundial, o prêmio Nobel. A instituição<br />

que faz a premiação fica na Suécia, e qualquer<br />

escritor ficaria honrado em recebê-lo.<br />

Professor: Caso queira acrescentar aos seus<br />

alunos, esta narrativa passa-se em 1969. De fato,<br />

Neruda recebeu o prêmio, em 1971. Hoje o prêmio<br />

é de um milhão de dólares.<br />

6. Podemos entrever as características psicológicas<br />

destas duas personagens, se observarmos<br />

com atenção o vocabulário utilizado pelo narrador<br />

para descrever suas ações:<br />

Neruda: serenidade, discrição, robusto, barrigudo,<br />

emérito…<br />

Mario: contumaz, angustiado, impertinente…<br />

Circule as palavras acima que não dizem respeito<br />

às características psicológicas de Neruda<br />

e Mario.<br />

Circular: robusto e barrigudo, porque são características<br />

físicas.<br />

Professor: O objetivo deste exercício é retomar<br />

o vocabulário feito pelos alunos para que<br />

se evidencie o entendimento do que foi feito na<br />

questão 1.<br />

7. Que gesto o poeta Pablo Neruda repete várias<br />

vezes para tirar Mario da inércia?<br />

Com o dedo indicador o espeta, o cutuca: “espetou-lhe<br />

o ombro com um dedo”.<br />

8. Esta “inércia pronunciada” do carteiro Mario<br />

chama a atenção do poeta; a partir dessa imobilidade<br />

de Mario quando está divagando, pensando,<br />

surgem as “comparações” e “metáforas”.<br />

Que expressões foram usadas para mostrar que<br />

Mario estava estático, parado, inerte?<br />

“parado como um poste”<br />

“cravado como uma lança”<br />

“quieto como uma torre de xadrez”<br />

“mais tranquilo que um gato de porcelana”.<br />

Professor: Aproveite para antecipar aos alunos<br />

que a diferença entre a metáfora e a comparação<br />

dá-se pelo uso de termos comparativos: “mais/<br />

que”, “como”, o que não ocorre na metáfora.<br />

P28<br />

9. Por que a palavra “metáfora” causa um susto<br />

em Mario?<br />

Mario é um homem simples, criado em uma<br />

aldeia de pescadores, assim como tudo que é estranho,<br />

a palavra desconhecida o assustou.<br />

10. O que estes quatro gestos de dom Pablo revelam?<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

d)<br />

“acariciou-se o queixo”;<br />

perplexidade, pensativo.<br />

“colocou a mão sobre o ombro do rapaz”;<br />

consolo, conselho, explicação.<br />

“olhou o relógio e suspirou”;<br />

impaciência<br />

“indicou… o rumo da enseada”.<br />

solicitação para o carteiro ir embora.<br />

11. O que significa “presença de espírito”, no contexto<br />

da narrativa?<br />

Desde o início do episódio, percebemos que<br />

Mario quer prolongar o diálogo com Neruda e, neste<br />

momento, adia mais uma vez a hora de sair do<br />

portão do poeta.<br />

12. Que exemplo Neruda deu para explicar a Mario<br />

o que é uma metáfora?<br />

O poeta explica que “céu chorando” aproxima-<br />

-se de “chovendo”.<br />

Professor: Aproveite para explicar que a metáfora<br />

é uma figura de linguagem. Coloque no quadro<br />

dois círculos que se interceptam: em um deles,<br />

escreva a palavra “céu” e, no outro, a palavra “chorar”,<br />

o termo de intersecção, ou seja, a expressão<br />

sugerida pela imagem é “chuva”, o que há em comum<br />

entre céu e chorar: água de cima = chuva.<br />

Céu Chuva Chorar<br />

13. De acordo com o poeta, o que é ritmo? Que<br />

exemplo foi dado e o que isso provocou em Mario?<br />

Neruda recita um poema sobre o mar, em que<br />

as palavras e a sua sonoridade provocam o movimento<br />

rítmico das ondas numa sucessão de imagens<br />

que criam o que, muitas vezes, o mar provoca<br />

em algumas pessoas: enjoo, por isso Mario se diz<br />

estranho, porque fica enjoado.


14. Que metáfora Mario criou para explicar ao<br />

poeta como ouvir o poema sobre o mar?<br />

“Como um barco tremendo em suas palavras.”<br />

15. Como você traduziria essa sensação de Mario<br />

ao notar que também pode fazer uma “metáfora” e<br />

dizer o que quer: “um palpitar desaforado que lhe<br />

havia subido até a língua e que lutava por estalar<br />

entre seus dentes.”<br />

Mario empolgou-se e emocionou-se com a<br />

descoberta da “metáfora”.<br />

16. Que palavra dom Pablo sugere que Mario use<br />

quando ele começa a demorar em suas explicações?<br />

O que significa esta palavra?<br />

D. Pablo sugere a abreviatura “etc.” da forma<br />

latina “et cetera” por extenso, que significa “assim<br />

por diante” ou “entre outras coisas”.<br />

Professor: Aproveite para explicar aos alunos<br />

o uso de algumas expressões cotidianas que<br />

vieram do latim e como localizá-las no dicionário,<br />

quando for necessário consultar seu sentido.<br />

17. O que significa “Neruda abriu a boca e seu<br />

robusto queixo pareceu desprender-se do rosto”?<br />

Que palavra você usaria para substituir o trecho?<br />

Espantado, de boca aberta, perplexo.<br />

18. Em discurso direto, que fala mostra que Mario<br />

não tinha consciência do quanto a pergunta era<br />

complexa, difícil até mesmo para o poeta Neruda?<br />

“— Perguntei merda, dom Pablo?”<br />

19. O que significa no contexto: “preparar um omelete<br />

de aspirinas”? Antes de concluir, observe as<br />

duas acepções do dicionário eletrônico Houaiss:<br />

aspirina. substantivo feminino<br />

Rubrica: química.<br />

1 nome comercial de medicamento analgésico<br />

e antipirético cujo princípio ativo é o ácido<br />

acetilsalicílico<br />

2 Derivação: por metonímia.<br />

comprimido que contém esse medicamento<br />

Espera-se que os alunos entendam que “aspirina”<br />

quer dizer que a pergunta dele foi profunda e<br />

deve ter lhe dado “dor de cabeça”. “Omelete” refere-se<br />

à imagem de revirar e bater um ovo, ou seja,<br />

a pergunta revirou as ideias do poeta.<br />

Professor: Saliente também que o poeta, muitas<br />

vezes, usa de “ironia” para se dirigir ao carteiro,<br />

mas porque é parte do comportamento impaciente<br />

da personagem Neruda e não por que despreza ou<br />

quer satirizar o carteiro Mario.<br />

20. Que resposta ou opinião você daria à pergunta<br />

feita pelo carteiro Mario Jimenez?<br />

“O senhor acha que o mundo inteiro é a metáfora<br />

de alguma coisa?”<br />

Professor: Note que muitas vezes os alunos<br />

poderão dar respostas bem rápidas, enquanto<br />

o poeta precisou pensar e fazer “omeletes”.<br />

Incentive-os a responder dizendo que talvez eles<br />

tenham uma solução até mais rápida que a do<br />

próprio poeta. Aceite as imagens que eles possam<br />

dar para a resposta. Dê a sua imagem como<br />

resposta ou diga--lhes que o mundo poderá ser<br />

a metáfora daquilo que conseguirmos imaginar<br />

— as imagens são uma produção de como os<br />

humanos lidam com as comparações, portanto<br />

qualquer resposta coerente poderá ser válida.<br />

Para continuar<br />

Os textos no contexto<br />

A palavra “carteiro” tem a sua origem na palavra<br />

“carta”, que, como já vimos no capítulo anterior, está<br />

ligada a papiro para divulgação de mensagens, informações,<br />

leis e artes da época.<br />

Sabe qual é a origem da palavra “correio”?<br />

Ao consultar um dicionário de etimologia, que<br />

descreve a origem das palavras, encontramos a<br />

seguinte:<br />

correio. esp. correo (1492) ‘o que tem por<br />

ofício levar a correspondência’, segundo Corominas,<br />

voc. de orig. contrv., que se prende ao v.lat.<br />

currère ‘correr’; o esp. deve provir do cat. correu<br />

(d1196), provç. corrieu (c1000) ‘mensageiro, correio’,<br />

que parecem ligar-se ao fr.ant. corlieu ‘id.’,<br />

comp. no fr. de corir ‘correr’ + lieu ‘lugar’, tendo<br />

o voc. esp. absorvido o signf. do ant. esp. correo<br />

‘bolsa de levar dinheiro’, homônimo de origem<br />

diferente; f.hist. sXV correo ‘mensageiro, repartição<br />

que recebe e entrega correspondência’, sXV<br />

correo, sXV correeyo ‘saco, bolsa de dinheiro’<br />

1. De acordo com o que você leu acima, explique<br />

qual é a origem da palavra “correio”.<br />

Professor: Propositalmente mantivemos as<br />

abreviaturas do dicionário para que os alunos possam<br />

deduzir seu sentido como “contrv.”, ou seja,<br />

controverso, contraditório. Caso não consigam deduzir<br />

as abreviaturas, indique para que procurem<br />

em um dicionário. Há excelentes dicionários etimológicos<br />

nas bibliotecas das escolas públicas, tanto<br />

o Houaiss, como o Cunha.<br />

P29


www.CORREIOS.COM.BR<br />

Se eles localizarem a palavra “correr” por aproximação<br />

a “correios” já será excelente e suficiente.<br />

Outro dado importante é “saco de levar dinheiro”<br />

que denota as primeiras relações comerciais entre<br />

pessoas de lugares distantes.<br />

Uma maneira de ajudá-los é fazer um campo<br />

semântico a partir da palavra “correia”.<br />

Correia ou cinto: aquilo com que prendemos<br />

ou guardamos coisas (lembre-os do cinto de segurança,<br />

uma forma aproximada de correia, ou a<br />

correia de uma mala, aquele elástico interno que<br />

usamos para manter as roupas/utensílios no lugar,<br />

ou correia de uma máquina de costura com<br />

pedal ou de motor de uma máquina). Este tipo<br />

de campo semântico pode ajudá-los a entender<br />

de onde se origina a palavra “correios”, ou seja,<br />

aquele que corre para entregar, mas que também<br />

carrega algo de valor.<br />

Ao longo do tempo, as agências dos correios por<br />

todo o mundo modernizaram-se conforme os meios<br />

de comunicação foram também se aprimorando e<br />

tornando-se mais rápidos.<br />

Veja a página na internet da Empresa Brasileira<br />

de Correios e Telégrafos:<br />

2. É possível saber o CEP (código de endereçamento<br />

postal) de uma localidade pela página dos<br />

correios? Que informação você precisa ter para<br />

descobrir esse número?<br />

Sim, este é um dos serviços oferecidos pelos<br />

correios que pode ser acessado via internet. Precisamos<br />

do nome da rua (= logradouro), localidade<br />

(= cidade), estado (= UF, unidade federativa). Caso<br />

P30<br />

queira explicar aos alunos, cada rua tem um número<br />

de CEP, ruas muito longas como as das grandes<br />

capitais podem ter até mais de um CEP. Tipo<br />

significa se é rua, avenida, travessa, por exemplo.<br />

É importante salientar esses dados, pois muitas<br />

pessoas não sabem preencher dados como UF em<br />

muitos documentos, embora a página mostre a sigla<br />

do estado do Acre = AC.<br />

3. É possível enviar um telegrama pela internet,<br />

como podemos ver na parte de baixo da página à<br />

direita. O que significa “limpar” e “continuar”, abaixo<br />

do quadro para digitarmos o telegrama?<br />

Caso você digite algo errado ou desista de enviar,<br />

pode clicar em “limpar”; assim, poderá cancelar<br />

ou digitar novamente seu telegrama nesta tela.<br />

“Continuar” indica que você deve digitar a mensagem,<br />

indicar se é urgente ou importante e depois<br />

continuar com outros procedimentos, como colocar<br />

o endereço onde será entregue o telegrama e como<br />

você pagará por isto.<br />

4. Localize um ícone verde do lado direito. Nele<br />

está escrito “transparência pública” e acima dele alguns<br />

itens como “concursos” e “contas anuais”. O<br />

que você acha que isso significa?<br />

O correio brasileiro é um órgão do governo,<br />

portanto, pertence ao povo. Todo órgão público é<br />

obrigado a mostrar suas contas de pagamentos e<br />

gastos (contas anuais), como comprou e de quem<br />

comprou (licitações e contratos), como contrata<br />

seus funcionários (concursos), por isso este bloco<br />

chama-se “transparência pública”, que tem como<br />

objetivo deixar claro para o público, ou seja, para o<br />

povo, todas as transações acima mencionadas.<br />

Professor: Caso queira acrescentar, diga aos<br />

alunos que nas pesquisas de opinião realizadas em<br />

todo o país, os Correios do Brasil são o órgão em<br />

que os brasileiros mais acreditam, confiam e consideram<br />

mais eficiente, seguido dos Bombeiros.<br />

5. O que significa e para que servem “rastreamento”<br />

e “caracteres” abaixo da página, ao lado<br />

direito?<br />

“Rastrear” significa procurar; assim, este ícone<br />

permite que o cliente verifique se uma encomenda<br />

enviada já chegou e quando chegou ao seu destino.<br />

Os “caracteres” são números e letras que cada<br />

uma dessas encomendas tem. Você digita estes<br />

caracteres e o programa lhe fornece a informação:<br />

se chegou ou não, onde e quando.<br />

6. Na página, temos um ícone vermelho. Que esclarecimento<br />

nos é dado por ele?<br />

Pela internet, as pessoas podem mandar mensagens<br />

falsas em nome dos correios. O ícone é um


alerta para que não abramos e-mails porque os correios<br />

não enviam esse tipo de mensagem.<br />

7. O que lhe parece o símbolo dos correios?<br />

Que elementos estão relacionados ao trabalho<br />

dos correios?<br />

O símbolo dos correios parece várias cartas<br />

em formato de uma caixa se abrindo, ao mesmo<br />

tempo em que temos a impressão de que estão voando,<br />

ou seja, a entrega rápida.<br />

8. As cores amarela e azul estão associadas a<br />

outro símbolo brasileiro, que aparece acima da página.<br />

Que símbolo é esse?<br />

A bandeira nacional.<br />

9. Levante hipóteses pensando no significado da<br />

palavra “correio” que você leu anteriormente: por<br />

que azul e amarelo e não branco ou verde?<br />

Provavelmente quem criou o símbolo dos<br />

correios pensou no amarelo como forma de indicar<br />

riquezas, como na bandeira nacional (forma<br />

metonímica da cor do ouro), e no azul, que lembra<br />

o céu, como o da bandeira, e poderia também<br />

representar voar, ou seja, o transporte mais rápido<br />

dos dias atuais.<br />

Para continuar<br />

Conceito/conexão<br />

Figuras de linguagem<br />

Metáfora e comparação<br />

Conforme vimos no capítulo anterior, as figuras<br />

de linguagem são formas expressivas com<br />

que podemos usar não só a linguagem verbal,<br />

mas também a não verbal.<br />

A mais conhecida de todas as figuras de linguagem<br />

é a metáfora, como você percebeu pelas<br />

conversas entre o carteiro e o poeta.<br />

Metáfora é o emprego de uma imagem com<br />

um sentido que não lhe é comum ou próprio.<br />

Esse novo sentido é resultado de uma relação de<br />

semelhança, de intersecção entre dois termos.<br />

A palavra “metáfora”, que o carteiro achou tão<br />

complicada, significa “transpor”, “mudar”, ou seja,<br />

indica que o significado de algo muda, torna-se<br />

diferente do comum. Quando aproximamos esses<br />

elementos diferentes acabamos criando um<br />

terceiro elemento, ou seja, um desvio de sentido.<br />

Retomemos alguns exemplos do texto “O carteiro<br />

e o poeta”, no trecho em que Neruda recita<br />

um de seus poemas:<br />

… o mar, e quanto mar. Sai de si mesmo a<br />

cada momento. Diz que sim, que não, que não.<br />

Diz que sim, em azul, em espuma, em galope.<br />

Diz que não, que não…<br />

Observe a expressão em negrito: em galope.<br />

Volte e releia: podemos induzir que quem ou o<br />

que está em galope é o mar.<br />

Neste pequeno trecho, temos uma metáfora.<br />

Quando o poeta comparou o movimento do mar<br />

com o dizer “sim” e “não”, quando comparou que<br />

“dizer sim” era “dizer em azul, em espuma, em galope”.<br />

O que aconteceu foi uma gradação, ou seja,<br />

passo a passo ele foi mostrando como o movimento<br />

do mar, das ondas, falavam com a pedra. Gradativamente,<br />

foi aumentando o movimento, que saiu<br />

de uma cor/azul, uma imagem/espuma, o que até<br />

aqui são características do mar.<br />

Professor: Caso queira, poderá introduzir<br />

também a “figura da gradação que consiste em<br />

dispor várias palavras ou expressões que se<br />

enriquecem mutuamente em progressão ascendente<br />

ou descendente”. Neste caso, trabalha-se<br />

metonimicamente também, já que toma-se a parte<br />

(azul) pelo todo (mar), a parte (espuma) pelo<br />

todo (mar pelo todo, partes brancas do mar…).<br />

Alguns alunos notarão antes de outros que as figuras<br />

acabam por sobrepor-se. Por isso usamos<br />

um mesmo trecho ao longo do capítulo para que<br />

eles notem que um pequeno trecho tem em seu<br />

núcleo o poder expressivo muito forte.<br />

Mas, em galope, refere-se ao mar no seu sentido<br />

próprio, mais comum? Com certeza, não.<br />

Usamos a palavra “galope” no seu sentido comum<br />

para fazermos alusão a situações ligadas<br />

a um cavalo, a uma corrida, a uma maneira de<br />

cavalgar, ou seja, cavalgar de maneira rápida.<br />

No entanto, no poema isto não é comum; por<br />

isso, o que ocorre é uma imagem que se mistura<br />

— esse é o desvio, isso é a metáfora:<br />

O mar dizer que sim<br />

dizer que não rápido em galope<br />

batendo na pedra<br />

Portanto, a imagem de uma corrida rápida do<br />

mar até a pedra é um recurso para tornar o trecho<br />

mais expressivo.<br />

Foi este movimento compassado que fez o carteiro<br />

sentir-se “enjoado” e “estranho”. Veja como<br />

ele respondeu a essa metáfora de Neruda:<br />

P31


… como um barco tremendo em suas palavras…<br />

Nesse trecho, ocorreu algo semelhante a uma<br />

metáfora, só que chamamos de comparação.<br />

A comparação faz uso de algumas expressões:<br />

como, tal, qual, semelhante a, que<br />

nem… A comparação também é uma figura de<br />

linguagem que consiste em aproximar dois seres<br />

pela semelhança.<br />

Mario, o carteiro, colocou-se como se fosse<br />

um barco.<br />

As palavras do poeta, Neruda, como se fossem<br />

o mar.<br />

O movimento do mar como se estivesse tremendo.<br />

Portanto, ficou “enjoado” e “ estranho”, porque<br />

sentiu o balanço/tremendo/ o movimento do mar,<br />

como se estivesse em um barco.<br />

Repetição<br />

Você também se recorda que o poeta explicou<br />

ao carteiro sobre o ritmo, o movimento que alguns<br />

poemas pedem.<br />

A repetição também é uma figura de linguagem,<br />

de construção. Repete-se para aumentar ou<br />

intensificar, para sugerir algo nesta repetição:<br />

“Aqui na Ilha, o mar, e quanto mar. Sai de<br />

si mesmo a cada momento. Diz que sim, que<br />

não, que não. Diz que sim, em azul, em espuma,<br />

em galope. Diz que não, que não. Não<br />

pode sossegar. Chamo-me mar, repete batendo<br />

numa pedra sem convencê-la. E então, com<br />

sete línguas verdes, de sete tigres verdes,<br />

de sete cães verdes, de sete mares verdes,<br />

percorre-a, beija-a, umedece-a e golpeia-se o<br />

peito repetindo seu nome.”<br />

A repetição é responsável, nessas expressões em<br />

negrito, pelo ritmo. Observe que também no poema<br />

de Neruda há a repetição de sons aproximados, semelhantes<br />

e os sons das mesmas palavras.<br />

Talvez você tenha se perguntado se podemos ter<br />

várias figuras de linguagem ao mesmo tempo.<br />

P32<br />

Sim, pois muitas vezes um texto é rico em recursos<br />

expressivos e poderá apresentar várias<br />

figuras encadeadas, próximas, como vimos no<br />

trecho do poeta Neruda.<br />

Paronomásia<br />

Uma figura de linguagem bastante recorrente,<br />

isto é, muito usada para criar efeitos expressivos<br />

entre o sentido e o som é a paronomásia.<br />

A paronomásia consiste em dar expressividade<br />

entre palavras com semelhança de som,<br />

mas com significado diferente.<br />

Observe este provérbio:<br />

“Quem casa, quer casa.”<br />

Nesse provérbio, há o que chamamos de trocadilho:<br />

uma aproximação sonora entre o verbo<br />

“casa” (de casar) e o substantivo “casa” (residência).<br />

Segundo esse dito popular, aqueles que se<br />

casam querem ter espaço reservado (casa) para<br />

a convivência.<br />

Onomatopeia<br />

Uma onomatopeia consiste na representação<br />

falada ou escrita de sons, produzidos<br />

por animais ou coisas, ou mesmo de certos<br />

sons humanos.<br />

Texto com conteúdo<br />

Ainda sobre onomatopeia, segundo o dicionário<br />

Houaiss online:<br />

“Gramática<br />

a) as onomatopeias são ger. consideradas signos<br />

motivados, i.e., que têm relação objetiva — e<br />

não apenas arbitrária — com aquilo que significam<br />

(por evocação); quanto a isso, duas distinções<br />

principais devem ser feitas: 1 entre onomatopeias<br />

não linguísticas e linguísticas: aquelas<br />

imitam ou procuram imitar, mais ou menos fielmente,<br />

os sons do mundo com o aparelho fonador,<br />

sem necessariamente articularem a emissão<br />

vocal da maneira usualmente empr. na língua;<br />

já as onomatopeias linguísticas estão integradas<br />

ao sistema fonológico, tendo por isso uma<br />

semelhança apenas aproximativa e histórica e<br />

culturalmente cambiante com os sons imitados;<br />

pode-se fazer distinção semelhante entre repre-


sentações gráficas de onomatopeias: há aquelas<br />

que seguem certas convenções ou regularidades<br />

ortográficas da língua (blém-blém; bibi-fonfom) e<br />

as us. ou criadas ad hoc (o motor falhou: fffrttoct)<br />

— mas note-se que uma grafia regular como<br />

cocoricó pode, num escrito, estar representando<br />

graficamente um grito imitativo (onomatopeia não<br />

linguística); 2 distinção entre onomatopeias brutas<br />

e gramaticalizadas (segundo J.P. Reynvoet):<br />

aquelas são invariáveis e, freq., sintaticamente<br />

autônomas (não se combinam gramaticalmente<br />

com palavras para formar frases, embora possam,<br />

eventualmente, figurar como complementos<br />

diretos: o relógio fazia tique-taque; tique-taque,<br />

tique-taque e o tempo passava; a mulher resmungou:<br />

humpf): já no caso das onomatopeias ditas<br />

gramaticais, essas onomatopeias brutas (eventualmente<br />

substantivadas) funcionam como morfemas<br />

lexicais (lexemas) com os quais se combinam<br />

morfemas gramaticais (gramemas) para<br />

a formação de novas palavras — dito de outro<br />

modo, as onomatopeias gramaticais são derivados<br />

formados normalmente a partir de onomatopeias<br />

brutas (tique-taque [subst., ‘o som/tique-taque/<br />

do relogio’], tiquetaquear [v., ‘produzir o som<br />

/tique-taque/’], *tiquetaqueante [adj.2g., ‘que faz<br />

o som/tiquetaque/’]) b) dentro do campo dos signos<br />

considerados motivados, cabem outras duas<br />

distinções: 1) entre onomatopeias brutas e interjeições<br />

primárias (Reynvoet): ambos os tipos de<br />

signos têm relação objetiva — ao menos em parte<br />

— com aquilo que dignificam, mas, enquanto as<br />

onomatopeias evocam ou imitam acusticamente<br />

fenômenos externos (passíveis de descrição ou<br />

design. por palavras), as interjeições evocam ou<br />

expressam, articuladamente, fenômenos interiores/subjetivos<br />

(tb. eles passíveis de comunicação<br />

ou design. por palavras); essa diferença implica<br />

uma outra: as onomatopeias têm com o que denotam<br />

uma relação de semelhança, sem vínculo<br />

necessário (a onomatopeia pam pode estar<br />

afastada, no tempo e no espaço, do choque ou<br />

pancada que imita), e as interjeições estão em<br />

contiguidade com o fenômeno/estado interno denotado<br />

(pois ‘decorrem’ ou ‘se originam’ dele); 2)<br />

distinção entre onomatopeias propriamente ditas<br />

e as chamadas palavras expressivas (ver): estas<br />

não se reportam a um som determinado, mas sugerem,<br />

por seu aspecto fônico/acústico, alguma<br />

característica daquilo que é designado/denotado<br />

(zás, vapt-vupt, créu); essa evocação ou sugestão<br />

é intuitiva e complexa, pois se reporta à<br />

experiência que emissor e receptor, ou falante e<br />

ouvinte, têm da língua e de seus recursos expressivos<br />

c) observa-se, em tempos recentes, uso de<br />

empréstimos ou adaptações de palavras onomatopaicas<br />

do inglês; esse tipo de influência, bem<br />

característico da relação entre cultura dominante<br />

e dominada, ocorre tb. na grafia (p.ex.: tsk, shh<br />

[pedido de silêncio], cof-cof [tosse], argh), pois<br />

verifica-se principalmente em histórias em quadrinhos,<br />

meio que por excelência faz uso escrito<br />

de onomatopeias, e em arte pop.”<br />

Leia o texto a seguir:<br />

A porta do quarto estava emperrada. Lá dentro,<br />

o bebezinho chorava que chorava:<br />

—<br />

Chamaram o marceneiro para abri-la. Nada.<br />

Veio o chaveiro. Nada também. A mãe, a tia, o<br />

pai e o cunhado tentaram dar um jeito na situação.<br />

Sem resultado. Preocupado com o irmão,<br />

Joãzinho foi em direção à porta e…<br />

Problema resolvido…<br />

O choro do bebê trancado no quarto é representado<br />

por “Buá! Buá! BUÁ!”, expressão grafada<br />

com letras que crescem gradativamente. Essa<br />

representação, chamada onomatopeia, mostra o<br />

choro crescente da criança. No mesmo texto, o<br />

som da porta quebrando-se é representado por<br />

“CRÁC!”, ou seja, por letras grandes, em negrito,<br />

seguidas de exclamação, que intensifica o som.<br />

Trata-se, assim, de outra onomatopeia.<br />

Observe as histórias em quadrinhos: é muito<br />

comum encontrar onomatopeias nelas.<br />

Texto com conteúdo<br />

Professor: Um bom recurso de leitura sobre<br />

HQ e recursos expressivos é a obra QUELLA-<br />

GUYOT, Didier. A história em quadrinhos. Trad.<br />

de Maria Stela Gonçalves e Adail Sobral. São<br />

Paulo: Loyola, 2004. (obra presente na biblioteca<br />

PNLL/MEC)<br />

P33


1. Após ler os quadrinhos, responda: que recurso expressivo o cartunista Quino utilizou ao grafar<br />

“atchim” como correspondente à espirro ou resfriado?<br />

JOAQUIN SALVADOR LAVADO (QUINO)/TODA<br />

MAFALDA – MARTINS FONTES, 1991<br />

2.<br />

a)<br />

b)<br />

P34<br />

Onomatopeia. Representou o som que produzimos ao espirrar.<br />

Agora, observe estes quadrinhos:<br />

JOAQUIN SALVADOR LAVADO (QUINO)/TODA<br />

MAFALDA – MARTINS FONTES, 1991<br />

Que figura de linguagem temos na segunda cena?<br />

paronomásia ou trocadilho<br />

Mesmo usando essa figura, por que o menino considerou-se fracassado?<br />

Porque usou um clichê, ou seja, um recurso muito comum, conhecido por toda gente.<br />

Para continuar<br />

Além do texto<br />

Leia, a seguir, o prefácio (texto de apresentação de um livro) de um catálogo angolano, sobre a<br />

função e a importância dos selos:<br />

Hoje, o selo postal transformou-se em um convincente embaixador itinerante da fraternidade entre<br />

os povos, um elemento de propaganda, catalisador de contatos entre pessoas de nações diferentes,<br />

uma forma eficaz de promoção da imagem do País nos lugares mais remotos. O selo, tal qual o hino e a<br />

bandeira, constitui um símbolo nacional. Por meio do selo, fala-se da história e etnografia, imortalizam-<br />

-se os heróis, consagram-se as ciências, as artes, os desportos e, enfim, faz-se propaganda turística.<br />

Agora observe as imagens e a ficha técnica a seguir:<br />

Professor:<br />

Neste “Além do texto”, temos uma ficha técnica, prefácio de um catálogo de selos e marcas de um<br />

texto informativo para análise. Vale lembrar que o objetivo é a leitura das máscaras africanas como<br />

um objeto de arte — este é o ponto importante desta seção —, bem como o resgate desse tema em<br />

As senhoritas de Nova York no capítulo anterior.


© ENCTA (Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola)<br />

© ENCTA (Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola)<br />

© ENCTA (Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola)<br />

Texto com conteúdo<br />

Circuncisão: retirada cirúrgica do prepúcio, pele que envolve a glande do pênis, praticada por<br />

razões higiênicas e religiosas. No caso das máscaras que temos nas imagens, o ritual é sociocultural<br />

— significa que o indivíduo circuncidado passa a pertencer a um grupo socialmente mais<br />

reconhecido, a idade em que a circuncisão é feita varia muito entre as etnias, mas na passagem da<br />

P35


infância para a adolescência é mais comum.<br />

Ráfia: folhas de palmeira, cuja fibra chamamos<br />

de ráfia.<br />

Mabela: tecido feito de ráfia, parecido com<br />

“estopa”.<br />

Policromatismo: várias cores.<br />

Embaixador: cargo diplomático de primeira<br />

hierarquia, a grosso modo um cargo diplomático<br />

negocia e defende os direitos de um país perante<br />

outro país estrangeiro.<br />

Estádio: equivalente a estágio.<br />

Estatuto: posição, classe social.<br />

Etnografia: estudo descritivo de um ou mais<br />

aspectos sociais e culturais de um povo ou grupo<br />

social.<br />

Você se recorda que, no capítulo anterior, o menino<br />

que estava em Nova York comenta que Picasso<br />

estudou as máscaras africanas?<br />

Muito bem! Acima você observou a imagem de<br />

algumas máscaras de povos que vivem na Angola,<br />

um dos países africanos que, como o nosso, tem<br />

como uma das línguas oficiais o português.<br />

No catálogo, temos uma série de selos com<br />

máscaras. Agora, responda:<br />

1. Por que tanto na ficha coletiva como na ficha<br />

individual temos o texto em duas línguas?<br />

Porque o português é a língua oficial em Angola,<br />

já a língua inglesa é usada como língua comercial<br />

na maioria dos países.<br />

2. Sabemos que um selo é bem menor do que<br />

87 cm. Então, por que na ficha com mais detalhes<br />

temos essa dimensão? O que significa o quadrado<br />

pontilhado em cima da imagem? Observe os dados<br />

da outra ficha técnica para comparar e responder.<br />

É o tamanho da máscara com os adornos.<br />

Os pontilhados demarcam o que será mostrado no<br />

selo, é o ‘picote’ de onde serão impressos blocos<br />

com os selos para serem destacados. Na ficha técnica<br />

com várias máscaras, vemos que os selos medem<br />

30 x 40 mm.<br />

3. Como o selo é de origem angolana, o preço<br />

traz a abreviatura kZ, referente a “kwanza”, o<br />

nome da moeda corrente angolana (esse nome<br />

advém do principal rio que corre em território angolano).<br />

Se o selo fosse brasileiro, como seria a<br />

abreviatura?<br />

R de Real, a nossa moeda corrente. (Dois<br />

reais: R$ 2,00)<br />

4. Uma máscara<br />

é um objeto de arte. O que mais<br />

lhe chama a atenção na imagem maior, na ficha<br />

P36<br />

mais detalhada?<br />

Talvez os alunos respondam que os adornos<br />

da máscara com o gorro e a barba. Demonstre<br />

que, de fato, o que chama a atenção é a proximidade<br />

do entalhe em madeira com a expressão<br />

humana da máscara, que parece captar uma espécie<br />

de serenidade nos olhos e boca entreabertos,<br />

como se a máscara pudesse ter uma espécie<br />

de “vida”. As cores também influenciam para dar<br />

esta expressão “viva” para a máscara.<br />

5. Agora, releia o trecho do prefácio. Você concorda<br />

que um selo pode ser um “embaixador” de<br />

um país?<br />

Sim, espera-se que os alunos percebam que<br />

um selo pode ser portador de um objeto de arte<br />

como a máscara que observamos. Dessa forma,<br />

um selo faz a divulgação da cultura e da arte de<br />

um país, assim como um embaixador.<br />

Sequência didática<br />

Professor: Caso seja de seu interesse e haja<br />

um trabalho interdisciplinar, assista com os alunos<br />

ao filme A intérprete. A protagonista (Nicole<br />

kidman) interpreta uma africana com nacionalidade<br />

americana que trabalha como tradutora<br />

na ONU (o que pode esclarecer a citação dos<br />

“inspetores da ONU” e a CIA, na carta de Mia<br />

Couto no capítulo anterior). Esse filme traz várias<br />

situações interessantes que podem vir a complementar<br />

as discussões abordadas neste capítulo:<br />

a relação entre as máscaras na sala do apartamento<br />

da intérprete e seu significado para ela,<br />

já que está ameaçada de morte. Temos também<br />

os embaixadores e os cargos diplomáticos que<br />

podem ser esclarecedores para os alunos, assim<br />

como os envelopes com cadernos e os e-mails<br />

enviados à protagonista pelo irmão, pouco antes<br />

deste ser assassinado. Enfim, o filme pode ser<br />

um bom conjunto para discutir os meios de comunicação,<br />

a diplomacia, como política e comércio,<br />

bem como a arte no mundo de hoje.<br />

Para finalizar<br />

Professor: Preencha o quadro juntamente<br />

com os alunos — este pode ser um momento de<br />

revisão.<br />

A resposta dos alunos pode auxiliá-lo na autoavaliação.<br />

Você considera que conseguiu realizar<br />

todas as atividades com seus alunos? Quanto você<br />

contribuiu para o conhecimento dos alunos?


Página de internet<br />

Conteúdos O que aprendi no capítulo 2<br />

Narrativa com recursos da linguagem poética<br />

Onomatopeia/ histórias em quadrinhos<br />

Catálogo, prefácio e ficha técnica<br />

Etimologia<br />

Metáfora<br />

Repetição<br />

Paronomásia<br />

Comparação<br />

Para casa<br />

Mafalda ouve um programa de rádio em que o locutor faz uso de uma comparação “a vida é como um<br />

rio”. Na sequência, ela faz um comentário sobre isso.<br />

a)<br />

Que figura de linguagem ela utilizou para comentar?<br />

uma metáfora (e também uma ironia).<br />

b) Que sentido assumiu a palavra “hidráulica”?<br />

Mafalda usa a metáfora, pois a hidráulica é uma ciência (parte integrante da Física) que estuda o fluxo<br />

dos líquidos, como os rios. Para ela, a vida teria um curso controlado, previsto pelo homem. O humor do<br />

quadrinho consiste em um clichê popular, uma vez que as pessoas pensam que entendem de mecânica,<br />

hidráulica e afins, assim como da vida dos outros e todos se sentem aptos a dar palpites.<br />

JOAQUIN SALVADOR LAVADO (QUINO)/TODA<br />

MAFALDA – MARTINS FONTES, 1991<br />

P37


Anotações<br />

P38


Para começar<br />

Capítulo<br />

Português 3<br />

Neste capítulo, estudaremos roteiro, intertextualidade,<br />

além de figuras de linguagem.<br />

Central do Brasil<br />

1. DIVERSAS CENAS - CENTRAL DO BRASIL<br />

- INT. - DIA<br />

Ecoa uma VOZ num alto-falante distante.<br />

Ouvem-se APITOS e RUÍDOS de trens. Uma<br />

mulher de quarenta anos, rosto ovalado, maquiagem<br />

carregada, hesita antes de começar<br />

a falar.<br />

MULHER<br />

Querido, o meu coração é seu. Não importa<br />

o que você seja ou o que tenha feito, te<br />

amo. Esses anos todos que você ficar aí dentro<br />

trancado eu também vou ficar trancada aqui fora<br />

te esperando…<br />

Trens despejam centenas de pessoas nas<br />

plataformas da estação. Em cena, um senhor<br />

septuagenário.<br />

SENHOR<br />

Foi um cara que me enganou e eu quero<br />

mandar uma carta pra ele. Seu Zé Amaro,<br />

muito obrigado pelo que você fez comigo. Eu<br />

confiei em você e você me enganou. Até a chave<br />

do meu apartamento você carregou…<br />

Uma mão escreve com caligrafia rebuscada<br />

sobre um papel de carta o que está sendo dito.<br />

Novos APITOS. O alto-falante ao longe anuncia<br />

a chegada e a partida de trens. A mão segue<br />

rabiscando as folhas. Em cena, uma mulher de<br />

trinta e poucos anos, ar proletário e sotaque nordestino<br />

carregado.<br />

MULHER<br />

Jesus, você foi a pior coisa que já me<br />

aconteceu. Eu não tô te escrevendo pra te dar<br />

satisfação da minha vida. Só escrevo porque<br />

o teu filho Josué pediu. Eu contei pra ele que<br />

você não vale nada, mas ainda assim o menino<br />

pôs na ideia que quer te conhecer…<br />

Cartas que vão<br />

e que vêm…<br />

Josué, um menino de uns 9 anos, a olha<br />

desaprovador. Ele leva uma pequena mochila<br />

nas costas. Finalmente aparece quem<br />

escreve o que está sendo ditado: Dora, uma<br />

mulher de mais de cinquenta anos, sentada<br />

numa mesinha portátil. O mau humor imanente,<br />

os cabelos meio despenteados e as<br />

roupas que usa, desleixadas, quase masculinas,<br />

tornam claro que Dora não se preocupa<br />

em se mostrar atraente.<br />

DORA<br />

Endereço…<br />

MULHER<br />

Jesus de Paiva. Sítio Volta da Pedra, Bom<br />

Jesus do Norte, Pernambuco.<br />

Ana parte apática com o filho, que a puxa<br />

pela mão. Um RAPAZ está agora ditando<br />

para Dora.<br />

DETALHE da mão de Dora que segue preenchendo<br />

as linhas das cartas com sua caligrafia<br />

desenhada. Uma moça do interior está<br />

à sua frente.<br />

não…<br />

MOÇA<br />

O endereço eu não sei dizer direito<br />

DORA<br />

Sem endereço não dá!<br />

MOÇA<br />

Coloca assim: terceira casa depois da<br />

padaria, Mimoso, Pernambuco.<br />

Rostos se sucedem.<br />

RAPAZ<br />

Cansanção, Bahia.<br />

VELHA<br />

Carangola, Minas Gerais.<br />

MOÇA<br />

Município de Relutaba, Ceará.<br />

VELHO<br />

Muzambinho, Minas Gerais.<br />

As falas das pessoas se sobrepõem até formar<br />

um ZUMBIDO GERAL, que se junta ao BA-<br />

RULHO de multidão. Ouvimos os ruídos de<br />

APITOS, do alto-falante anunciando a partida<br />

de trens, de RANGIDOS nos trilhos.<br />

P39


[…]<br />

2. VAGÃO - INT. – TARDINHA<br />

Dora vai sendo espremida pela pequena<br />

multidão que se comprime no vagão. Ela consegue<br />

se agarrar numa barra de ferro quando<br />

o trem balança, range nos trilhos e parte lentamente.<br />

[…]<br />

3. CONJUNTO HABITACIONAL - EXT. –<br />

TARDINHA<br />

Passo arrastado, Dora caminha para o bloco<br />

do conjunto residencial de classe média<br />

baixa onde mora no subúrbio, carregando<br />

uma sacola de compras.<br />

Para continuar<br />

P40<br />

João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein<br />

Conversa sobre o texto<br />

1. Antes de iniciarmos a análise do trecho, identifique<br />

palavras que você não conhece e crie o seu<br />

próprio vocabulário, consultando um dicionário ou<br />

discutindo com seus colegas e o professor.<br />

Sugestão de palavras para o vocabulário:<br />

Hesitar: estado de incerteza, perplexidade.<br />

Septuagenário: pessoa com idade entre 70 e<br />

79 anos.<br />

Proletário: operário.<br />

Imanente: inseparável, que está sempre.<br />

Apático: distante, indiferente.<br />

Suceder: acontecer, seguir um atrás do outro,<br />

um após o outro.<br />

2. O texto que você leu possui marcas de leitura<br />

muito específicas. O que significam os números ao<br />

longo do texto?<br />

As cenas, ou seja, a ordem em que elas acontecem.<br />

3. Há também várias abreviaturas típicas deste<br />

gênero textual. Faça um levantamento delas e deduza,<br />

de acordo com o contexto, o que significam.<br />

INT. = interior da estação de trem Central do<br />

Brasil ou do vagão de trem, por exemplo.<br />

EXT. = exterior do conjunto habitacional ou da<br />

estação de trem.<br />

4. Notamos também que o tipo e o tamanho de<br />

letras usadas se alternam ao longo do texto junto<br />

a sinais de pontuação. Qual o motivo disso? Liste<br />

essas formas e levante hipóteses sobre seus<br />

usos no texto.<br />

As letras maiúsculas e negrito servem para introduzir<br />

as falas = DORA<br />

As letras maiúsculas, em meio ao itálico, indicam<br />

o que terá mais ênfase na cena, por exemplo:<br />

VOZ, APITOS, RUÍDOS, DETALHE, ZUMBIDO GE-<br />

RAL, BARULHO, RANGIDOS.<br />

Os trechos em itálico são introduções ou finalizações<br />

da cena, situações em que não haverá falas<br />

de imediato, são as marcações de cena como as<br />

rubricas do teatro.<br />

Professor: Informe aos alunos que ainda é<br />

possível aparecer, neste tipo de texto, outras características.<br />

Veja: as marcações entre parênteses indicam<br />

como a fala será realizada. Por exemplo, “off” significa<br />

que ou não aparece o personagem ou ele se<br />

movimenta como se estivesse falando. Geralmente<br />

usa-se o verbo no gerúndio (interrompendo) ou<br />

um adjetivo (irônica) para o ator e equipe saberem<br />

como a ação/ fala deve ser representada.<br />

As aspas dentro da fala da personagem indicam<br />

que ela está citando um outro texto.<br />

5. Um roteiro tem características de que outro<br />

tipo de texto? Cite as semelhanças que os aproximam.<br />

O texto dramático, de teatro. As marcações de<br />

cena e rubricas.<br />

6. Dentre as figuras de linguagem que já conhecemos,<br />

qual delas está estampada neste trecho?<br />

Seu Zé Amaro, muito obrigado pelo que você<br />

fez comigo.<br />

A fala do senhor revela ironia, porque o outro<br />

lhe tirou tudo e ele diz “muito obrigado”.<br />

7. No trecho “a mão segue rabiscando a folha”<br />

temos uma outra figura de linguagem, muito utilizada<br />

no cinema, porque é possível fazer a câmera focar<br />

uma parte, ou seja, colocar em “close” um movimento,<br />

por exemplo, sem mostrar o todo da tomada<br />

(cena). Que figura é esta? Explique sua resposta.<br />

A figura é a metonímia, pois mostra-se a<br />

parte pelo todo: neste caso, a mão de Dora escreve.<br />

No gráfico, a mão na parte menor e Dora<br />

na parte maior.<br />

8. Explique por que podemos considerar o trecho<br />

a seguir como uma metáfora: “meu coração é seu”.<br />

Embora seja um conhecido clichê (sentido figurado<br />

muito usado e que perde o valor estético),<br />

faz-se um recurso expressivo, coração= representa<br />

o sentimento de amor por outra pessoa/ lugar onde


ocorre o amor.<br />

Meu “coração” (amor) é seu (é para você).<br />

9. Agora, releia o título do roteiro e responda:<br />

por que o título é “Central do Brasil”?<br />

Professor: A resposta é pessoal, mas se espera<br />

que os alunos levantem hipóteses que o roteiro<br />

acontece em uma grande estação de trem. Nas<br />

diversas estações e paradas pelo Brasil, descobrimos<br />

mais sobre como as pessoas vivem e convivem<br />

no país e como se ligaram por meio de cartas que<br />

Dora escreve. Caso seja de seu interesse, procure<br />

na biblioteca de sua escola os exemplares deste<br />

livro, assista ao filme com os alunos para estabelecer<br />

as comparações entre o roteiro e o produto final<br />

na forma cinematográfica.<br />

Para continuar<br />

Os textos no contexto<br />

Como vimos anteriormente, existem várias maneiras<br />

de se enviar uma mensagem: cartas, cartões,<br />

telegramas, e-mails. Mas há, também, muitos<br />

modos de se escrever uma carta. Leia o soneto a<br />

seguir para conhecer uma destas formas:<br />

Carta<br />

Há muito tempo, sim, não te escrevo.<br />

Ficaram velhas todas as notícias.<br />

Eu mesmo envelheci. Olha, em relevo,<br />

Estes sinais em mim, não das carícias<br />

(tão leves) que fazias no meu rosto:<br />

são golpes, são espinhos, são lembranças<br />

da vida a teu menino, que ao sol-posto<br />

perde a sabedoria das crianças.<br />

A falta que me fazes não é tanto<br />

à hora de dormir, quando dizias:<br />

“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.<br />

É quando, ao despertar, revejo a um canto<br />

a noite acumulada de meus dias,<br />

e sinto que estou vivo, e que não sonho.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Carta” In: Lição de<br />

coisas. Rio de Janeiro: Record. © Graña Drummond<br />

1. Pelo que lemos no poema, para quem é esta<br />

carta? Comprove com trechos.<br />

Provavelmente para a mãe. “à hora de dormir”,<br />

“leves carícias”, “teu menino”.<br />

2. Esse soneto, que é um gênero lírico, possui<br />

algumas características do gênero epistolar<br />

(carta).<br />

a) Que situações típicas de uma carta podemos<br />

perceber no poema?<br />

O eu lírico estabelece uma conversa com<br />

um interlocutor (a mãe), uso de parênteses para<br />

explicação, uso de segunda pessoa do singular,<br />

transcrição do que o interlocutor disse anteriormente<br />

entre aspas, afirmações para trazer o interlocutor<br />

para o texto, uso de imperativo; além<br />

do mais, o título prenuncia o modelo.<br />

b) Transcreva trechos para comprovar sua res-<br />

posta.<br />

“carta”, “sim”, “te”, “teu”, “fazes”, “dizias”,”<br />

“Deus te abençoe”, “olha”, “(tão leves)”.<br />

3. Que expressões o eu lírico utilizou para demonstrar<br />

que havia envelhecido? Podemos dizer<br />

que estes termos são metáforas?<br />

“Estes sinais em mim” (que estão em) “em<br />

relevo” são as rugas; “a noite acumulada de meus<br />

dias”, “revejo”, “lembranças”, “ao sol-posto”,” ficaram<br />

velhas todas as notícias”.<br />

Sim, são metáforas porque estabelecem comparações<br />

com seres de universos diferentes, por<br />

exemplo: “noite acumulada” quer dizer que muito<br />

tempo passou-se; ou: “sol-posto”, equivale a dizer<br />

que se envelhece, estando na noite dos dias. Na<br />

verdade, o que o eu lírico faz ao longo do poema<br />

é um encadeamento de metáforas, uma alegoria<br />

para a tomada de consciência do envelhecer.<br />

4. Além da passagem do tempo delimitada por<br />

algumas expressões, notamos também que há um<br />

certo saudosismo e tristeza. Que outras expressões<br />

comprovam essa afirmação?<br />

“golpes”, “espinhos”, “ e que não sonho”, “<br />

perde a sabedoria das crianças.”<br />

Professor: Converse com os alunos sobre o<br />

tempo na poesia, explicando-lhes que sabedoria<br />

= inocência, e que “espinhos e golpes” = problemas<br />

do mundo adulto. Não sonhar pode indicar<br />

um pessimismo diante da passagem do tempo;<br />

pode também estabelecer algum tipo de relação<br />

entre sonhar dormindo (da criança que foi embalada<br />

pela mãe) e o sonhar acordado (devaneio)<br />

que, neste caso, já não ocorre mais, daí um certo<br />

pessimismo e saudades da infância.<br />

P41


Para continuar<br />

Conceito/conexão<br />

Estilística<br />

Figuras de linguagem<br />

Antítese<br />

A antítese é uma figura de pensamento em<br />

que aproximamos palavras ou expressões com<br />

sentido contrário, oposto.<br />

Observe um exemplo do roteiro: logo no início,<br />

uma moça dita para Dora uma carta na qual é possível<br />

deduzir que seu amado está preso, para dizer que<br />

ela irá esperá-lo, pronuncia-se da seguinte forma:<br />

P42<br />

…vou ficar trancada aqui fora te esperando…<br />

Desta forma temos:<br />

trancar = fechar, ficar recolhido em algum lugar,<br />

estar dentro<br />

+<br />

fora = um lugar externo, exterior.<br />

Além da construção de uma metáfora, temos um<br />

recurso de estilo poderoso quando utilizamos uma<br />

antítese. No caso acima, a moça quis dizer que, para<br />

ela, o mundo além das grades onde se encontrava<br />

seu amado era uma prisão; portanto, estar fora significa<br />

“estar trancada”, uma sequência oposta, contrária<br />

em termos de pensamento.<br />

Eufemismo<br />

O eufemismo é uma figura de pensamento<br />

que indica que tentamos suavizar, amenizar<br />

uma ideia que poderia soar deselegante ou para<br />

atenuar uma imagem violenta que provocaria<br />

algum tipo de comoção em quem ouve ou lê.<br />

Muitas vezes o eufemismo pode ser usado com<br />

bom humor.<br />

Leia este trecho em que uma personagem refere-se<br />

à morte da mãe de Josué, em outro trecho<br />

de Central do Brasil:<br />

… Já tá acertando as contas lá em cima…<br />

Essa forma foi utilizada por que a morte é sempre<br />

uma informação que causa espanto, dor, e é<br />

uma imagem forte; por isso, é comum tentarmos<br />

suavizar seu impacto. No trecho, “acertando as<br />

contas lá em cima” significa que a mãe morreu,<br />

foi para cima, para o céu.<br />

Em outro trecho, Dora sugere/escreve a seguinte<br />

descrição para expressar o sentimento de<br />

outra personagem:<br />

Queria deixar o último fio preto de cabelo<br />

da minha cabeça para você tirar!<br />

Você sabe o que significa “último fio preto de<br />

cabelo”?<br />

Nada mais é do que suavizar a ideia de querer<br />

envelhecer ao lado do pai, ou seja, quando os<br />

cabelos ficarem brancos, a personagem quer que<br />

ele esteja próximo dela para arrancar esse último<br />

fio preto. Ocorre um eufemismo também porque<br />

suaviza a ideia de envelhecimento e, consequentemente,<br />

de morte.<br />

Polissíndeto<br />

Polissíndeto é a repetição de uma conjunção<br />

(geralmente a conjunção e) para sugerir<br />

continuidade ou ações que se sucedem.<br />

Tem esse nome porque significa “poli” (vários) +<br />

“síndeto” (conjunção).<br />

Leia estes versos de Drummond:<br />

e a noite abria em sonho.[…]/e sinto que estou<br />

vivo, e que não sonho.<br />

Para expressar a maneira como sente a passagem<br />

do tempo, o eu lírico repete a conjunção “e” ao<br />

lado da conjunção “que”.<br />

Inversão<br />

A inversão é uma figura de construção em<br />

que temos o uso da ordem indireta para criar<br />

efeitos sonoros e dar destaques a determinados<br />

sentidos. Também é chamada de hipérbato.


Agora, releia o trecho do poema “Carta”:<br />

Ficaram velhas todas as notícias<br />

Em uma ordem mais comum, que é a direta,<br />

teríamos:<br />

Todas as notícias ficaram velhas<br />

Podemos considerar como ordem direta aquela<br />

que usamos com a seguinte estrutura sintática:<br />

Personificação<br />

sujeito + verbo + predicado<br />

Personificação é uma figura de pensamento<br />

em que se empresta vida ou ação humana<br />

para seres inanimados ou irracionais.<br />

… e a noite abria em sonho…<br />

Embora tenhamos uma imagem metafórica no<br />

trecho por meio do verbo “abrir”, para que esta<br />

imagem se concretize também temos a personificação:<br />

“noite”, que é um elemento da natureza,<br />

mais “sonho”, que é uma ação humana.<br />

©JOAQUÍN SALVADOR LAVADO (QUINO)/<br />

TODA MAFALDA – MARTINS FONTES, 1991<br />

3.<br />

a)<br />

b)<br />

Leia o quadrinho e, depois, responda:<br />

1.<br />

Observe este texto:<br />

Qual o eufemismo usado pela mãe de Mafalda para explicar a morte?<br />

“ir para o céu”.<br />

Nunca dois iguais<br />

foram tão diferentes!<br />

Viva as diferenças...<br />

ONG – Viva as diferenças<br />

Que figura de pensamento temos? Explique.<br />

Uma antítese, porque a expressão “iguais”<br />

é oposta à expressão “diferentes”, na linguagem<br />

verbal. No texto não verbal, temos essa ideia reforçada,<br />

pois há a presenca de gêmeos que, mesmo<br />

iguais, apresentam características diferentes.<br />

2. As expressões populares são ricas em eufemismos.<br />

Determine o sentido das ocorrências<br />

a seguir:<br />

a) Foi para a terra dos pés juntos.<br />

b) Passou desta para melhor.<br />

c) Abotoou o paletó.<br />

Os itens são todos atenuantes para morte.<br />

O que de fato a outra menina entendeu com a palavra “céu”?<br />

A menina entendeu que seria uma viagem espacial, por isso utilizou a palavra “lançamento”.<br />

4. Você deve ter notado que, para conseguir a rima em seu poema “Carta”, o poeta teve que usar<br />

a inversão ou hipérbato, trocando a ordem das palavras para obter um efeito expressivo, que desse<br />

P43<br />

ELENA ROSTUNOVA/DREAMSTIME.COM


mais sonoridade ao texto, demarcando com isso<br />

as rimas.<br />

Volte ao texto de Carlos Drummond e, usando<br />

o sentido das palavras e a pontuação como pista,<br />

“desinverta”, “destroque” os versos, colocando-os<br />

em ordem direta e transformando-os em prosa.<br />

Professor: Poderá haver várias respostas. O<br />

objetivo é fazê-los perceber que não é difícil a leitura<br />

do poema, desde que se conheça o código, que<br />

neste caso, é a inversão dos termos.<br />

Também mencione que não é necessário mexer<br />

em todos os termos.<br />

Sugestão para resposta:<br />

Sim, há muito tempo não te escrevo.<br />

Todas as notícias ficaram velhas.<br />

Eu mesmo envelheci.<br />

Olha em mim estes sinais em relevo, não das<br />

carícias (tão leves) que fazias no meu rosto: são<br />

golpes, são espinhos, são lembranças da vida a<br />

teu menino que ao sol-posto perde a sabedoria<br />

das crianças.<br />

A falta que me fazes não é tanto à hora de<br />

dormir, quando dizias:<br />

“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.<br />

Ao despertar, é quando revejo a um canto a<br />

noite acumulada de meus dias, e sinto que estou<br />

vivo, e que não sonho.<br />

Para continuar<br />

Além do texto<br />

Leia, a seguir, um texto inspirado na canção<br />

“Mensagem”, letra de Cícero Nunes e Ado Cabral,<br />

cantada por Maria Bethânia.<br />

Sentada na varanda, a mulher avistou o<br />

carteiro que se aproximava. Com uma carta<br />

na mão, ele chegou até ela e chamou-lhe pelo<br />

nome. A mulher, surpresa com a situação, foi<br />

pegar a tal carta.<br />

Ao olhar o envelope, reconheceu a caligrafia<br />

do homem que, em outros tempos, já lhe escrevera<br />

para terminar o relacionamento. Ela ficou<br />

assustada, temerosa, em dúvida. O que estaria<br />

escrito naquela carta? Seriam boas novas? Ou<br />

mais promessas infundadas? Seu sofrimento<br />

aumentaria se lesse as palavras do amado? Por<br />

fim, rasgou a carta, queimou o papel. Preferiu<br />

não saber das notícias. Assim, não havia risco<br />

de sofrer ainda mais.<br />

Leia, agora, o poema “Todas as cartas de amor”,<br />

de Álvaro de Campos:<br />

P44<br />

Todas as cartas de amor são<br />

Ridículas.<br />

Não seriam cartas de amor se não fossem<br />

Ridículas.<br />

Também escrevi em meu tempo cartas de<br />

amor.<br />

Como as outras.<br />

Ridículas.<br />

As cartas de amor, se há amor.<br />

Têm de ser<br />

Ridículas.<br />

Quem me dera no tempo em que escrevia<br />

Sem dar por isso<br />

Cartas de amor<br />

Ridículas.<br />

Afinal.<br />

Só as criaturas que nunca escreveram<br />

Cartas de amor.<br />

É que são<br />

Ridículas.<br />

1. No primeiro texto, temos uma narrativa. Resuma<br />

com suas palavras qual a trama dessa narrativa.<br />

Uma mulher recebe uma carta e reconhece<br />

a caligrafia do amado que a deixou. Mas o medo<br />

de sofrer é tanto que ela não tem coragem de<br />

abri-la. Mesmo correndo o risco de nunca saber<br />

se as notícias eram ou não boas, prefere, para<br />

não sofrer mais, queimar a carta ainda fechada.<br />

Assim, por vezes, a dor da ignorância é menor<br />

que a dor de uma nova rejeição.<br />

2. O recurso de estabelecer um diálogo entre textos<br />

que possuem algum tipo de semelhança, seja<br />

na forma e/ou no conteúdo, chama-se intertextualidade.<br />

O texto “Mensagem” estabelece intertextualidade<br />

com o poema de Álvaro de Campos? Se<br />

sim, o que há em comum?<br />

Sim, há um intertexto com a narrativa, porque<br />

ambas tratam da temática das cartas de amor.<br />

Texto com conteúdo<br />

Professor: Pontue para os alunos que Álvaro<br />

de Campos foi um dos heterônimos do poeta<br />

português Fernando Pessoa, uma das mais expressivas<br />

vozes do Modernismo, em Língua Portuguesa,<br />

movimento do início do século XX. Esse<br />

heterônimo se caracterizou pelos temas futuristas<br />

e raramente a temática amorosa foi abordada por<br />

ele. Temos, então, uma das poucas exceções —<br />

nela, o heterônimo deu um tratamento surpreendente,<br />

pois utilizou algo típico de sua linguagem,<br />

que é a ironia.


3. O poema de Álvaro de Campos gera uma expectativa.<br />

Desde seu início, nos faz pensar que o eu<br />

lírico considera as cartas de amor como ridículas.<br />

Isso continua por todo o poema? Se não, explique.<br />

A expressão “quem me dera” quebra a ironia<br />

que pensamos existir no início do poema, a expressão<br />

“criaturas que nunca escreveram cartas de<br />

amor…” nos devolve para ironia, enquanto que no<br />

último verso, há uma conclusão que não se espera:<br />

quem não escreveu é ridículo, o oposto do que o<br />

leitor deve ter imaginado ao iniciar a leitura.<br />

Professor: Se quiser, estabeleça com os alunos<br />

um diálogo a respeito das figuras de linguagem<br />

presentes no texto: “carta nos traz” = personificação;<br />

“criaturas”, “se há amor” = ironia.<br />

Para complementar a atividade, é possivel trabalhar<br />

a canção “Mensagem”, de Cícero Nunes e<br />

Aldo Cabral, texto que serviu de base para a criação<br />

da narrativa transcrita. Se sua escola tiver internet,<br />

você pode encontrar esta música no site: http://<br />

letras.terra.com.br/maria-bethania/112663/ (acesso<br />

em 25/07/2008)<br />

Para finalizar<br />

Professor: Preencha o quadro juntamente com os<br />

alunos — este pode ser um momento de revisão.<br />

A resposta dos alunos pode auxiliá-lo em sua<br />

autoavaliação. Você considera que conseguiu realizar<br />

todas as atividades com seus alunos? Quanto<br />

você contribuiu para o conhecimento dos alunos?<br />

Conteúdos<br />

Roteiro<br />

cinematográfico<br />

Soneto<br />

Intertextualidade<br />

Personificação<br />

Antítese<br />

Eufemismo<br />

Polissíndeto<br />

Inversão<br />

O que aprendi<br />

no capítulo 3<br />

Para casa<br />

1. Leia a primeira estrofe do Hino Nacional brasileiro,<br />

cuja letra foi composta por Osório Duque<br />

Estrada:<br />

a)<br />

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas<br />

De um povo heroico o brado retumbante,<br />

E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,<br />

Brilhou no céu da Pátria nesse instante.<br />

Grife os verbos.<br />

Ouviram, brilhou.<br />

b) Verifique no dicionário as palavras que você<br />

não conhece o significado.<br />

Sugestão: plácido = calmo; brado = grito;<br />

retumbante = que é forte, que faz eco; fúlgido =<br />

brilhante.<br />

c) Observando as inversões, identifique os pos-<br />

síveis sujeitos para estes verbos. Fique atento à<br />

concordância — os verbos, via de regra, concordam<br />

em pessoa e número com seus sujeitos.<br />

As margens plácidas do Ipiranga (sujeito)<br />

ouviram/ o sol da Liberdade (sujeito) brilhou.<br />

d) Agora, reescreva o trecho novamente em<br />

forma de prosa.<br />

As margens plácidas do (riacho) Ipiranga ouviram<br />

o brado retumbante de um povo heroico. E<br />

nesse instante o sol da Liberdade brilhou no céu<br />

da Pátria em raios fúlgidos. (sugestão)<br />

e) Algum elemento sofreu empréstimo de ação<br />

humana, ou seja, ocorre personificação em algum<br />

momento? Se sim, demonstre.<br />

Sim. O riacho ganhou a ação humana de ouvir,<br />

no sentido de presenciar; portanto ocorreu a<br />

personificação.<br />

P45


Para começar<br />

P46<br />

Capítulo<br />

Português 4<br />

Cartas de dentro<br />

e de fora<br />

Neste capítulo, trabalharemos com textos epistolares e, também, com as figuras de linguagem.


P47


P48<br />

SANTOS, Joel Rufino. Quando voltei tive uma surpresa. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.


Para continuar<br />

Conversa sobre o texto<br />

1. Observando a forma dessa carta e o tipo de<br />

letra usada — a cursiva —, podemos dizer que é<br />

uma carta familiar? Por quê? Quem são o destinatário<br />

e o remetente?<br />

Sim, pois a forma de tratamento inicial: “Nelsinho,<br />

meu querido” e as correções em meio a carta<br />

nos dão esta impressão. Nelsinho é o filho de Joel,<br />

o pai; concluímos isso pelas referências ao longo<br />

do texto e a conversa em inglês.<br />

2. Ao longo da carta, deduzimos que Nelsinho<br />

tem quantos anos? Comprove.<br />

Como o remetente cita a iniciação na escola,<br />

os pés quase tocando o acelerador, podemos deduzir<br />

que ele tem cerca de 8 anos ou menos.<br />

3. Qual o motivo da carta?<br />

O pai escreve para contar porque está ausente.<br />

4. Que surpresa teve o remetente ao voltar de<br />

viagem?<br />

Foi convidado pelo governo a dar explicações<br />

de suas atividades, com as quais o governo não<br />

concorda.<br />

5. “A contar coisas que fiz”. Que coisas eram essas?<br />

Explicar as aulas que deu, os livros que escreveu,<br />

as histórias que contou.<br />

6. Quem irá decidir se o remetente está certo em<br />

suas ações?<br />

Um juiz.<br />

7. Onde está, de fato, o pai de Nelsinho, o Joel?<br />

Quem está com ele?<br />

Na prisão em São Paulo. Muitas pessoas com<br />

vários tipos de profissão, mulheres e homens em<br />

espaços separados.<br />

8. Quais as atividades das pessoas neste espaço<br />

em que Joel está?<br />

Cozinham para elas mesmas, fazem artesanato,<br />

jogam, assistem TV, estudam, trabalham.<br />

9. Joel usa a palavra “quarto” para explicar<br />

onde está. Mas ele está realmente em um quarto?<br />

Que outra palavra podemos usar para substituir<br />

“quarto”?<br />

Cela, cela 31, cela para 6 ou 9 pessoas.<br />

Texto com conteúdo<br />

Professor: Converse com os alunos sobre o período<br />

em que a história se desenrola: o da ditadura<br />

militar no Brasil, entre 1964 e 1974, ou seja, no período<br />

também conhecido como os “anos de chumbo”. Ao<br />

fim deste livro, presente na biblioteca do PNLL/MEC,<br />

temos um glossário histórico com dados ano a ano do<br />

período. Sobre 1973, lemos: “janeiro a fevereiro: Joel<br />

é torturado na OBAN (Operação Bandeirante, o braço<br />

repressivo das Forças Armadas, equivalente ao<br />

DOI-CODI, do II Exército). Ameaçam trazer Teresa<br />

(na época separada de Joel) e Nelson para serem<br />

torturados. Joel é levado para o DOPS. Joel é condenado<br />

pela Justiça Militar a quatro anos de prisão,<br />

reformados para dois anos. Começa a cumprir pena<br />

no Presídio Tiradentes, sendo depois transferido<br />

para o Presídio do Hipódromo, em São Paulo, onde<br />

as cartas que compõem o livro são escritas.<br />

10. Como você deve ter notado, as expressões<br />

“quarto”, “prédio de quatro andares muito movimentado”,<br />

“janelas” de onde se “vê um pedaço do céu”<br />

são formas encontradas pelo narrador para suavizar<br />

e contar ao filho onde está. Podemos considerar<br />

essa maneira de contar um eufemismo? Retome o<br />

conceito no capítulo anterior e tire suas conclusões.<br />

Sim, podemos considerar os trechos acima<br />

como um eufemismo, uma vez que o pai precisa encontrar<br />

uma maneira menos agressiva de dizer ao<br />

menino onde está, sem chocá-lo diante da brutalidade<br />

dos termos “justiça militar”: Joel usa “quarto”<br />

para cela, prédio para presídio, “janelas onde se vê<br />

um pedaço de céu” para janelas com grades.<br />

11. No trecho final da carta, não há despedida,<br />

mas há uma pequena brincadeira de Joel para Nelsinho,<br />

em que o chama de “poliglota” (pessoa que<br />

fala várias línguas) e registra um diálogo imaginário<br />

em inglês. Consulte um dicionário e peça auxílio ao<br />

seu professor de inglês para descobrir, caso não<br />

saiba, o significado da palavra sun. Depois, procure<br />

também qual é a palavra para “filho”, em inglês.<br />

Agora, deduza: será que Joel cometeu um erro ortográfico?<br />

Ou será que há um outro sentido para<br />

sun, neste contexto?<br />

Professor: Auxilie os alunos na tradução do trecho,<br />

ou peça ao professor de língua estrangeira da<br />

classe para retomar esse exercício. A palavra sun<br />

significa “sol”, e a palavra “filho” é son, em inglês;<br />

portanto, Joel deve ter brincado querendo dizer que<br />

o filho é a luz para ele, o sol. Há quem dirá que é<br />

um erro ortográfico, respeitemos as opiniões, apesar<br />

da obviedade do contexto, já que estar preso é<br />

estar na escuridão da cela, com pouca luz, à espera<br />

de algo que venha de fora.<br />

P49


Para continuar<br />

O texto no contexto<br />

P50<br />

Olga<br />

Logo no começo de fevereiro de 1942,<br />

pouco antes do dia em que Olga completaria<br />

34 anos, as mulheres foram reunidas no pátio<br />

central de Ravensbrück para ouvir nos alto-falantes<br />

do campo a relação das duzentas prisioneiras<br />

que na manhã seguinte seriam “transferidas<br />

para outros campos de concentração”. As<br />

mulheres eram chamadas em ordem alfabética<br />

e não pelos números — e as que tivessem sido<br />

selecionadas deveriam afastar-se do grupo e<br />

formar novamente um outro bloco, ao lado, já<br />

haviam sido chamadas mais de 150 quando o<br />

nome ecoou:<br />

— Olga Benário Prestes!<br />

[…] Ao entrar no bloco 11 para pegar sua<br />

trouxa, Olga encontrou duas velhinhas judias<br />

em prantos, curvadas e rezando em iídiche.<br />

[…] Eram oito horas da noite quando os altofalantes<br />

do campo deram o último aviso:<br />

— As prisioneiras relacionadas na chamada<br />

de hoje têm trinta minutos para escolher<br />

seus pertences e se apresentar à oficial, junto<br />

aos ônibus.<br />

Meia hora: tempo suficiente para escrever<br />

uma carta à filha e ao marido.<br />

Dez dias depois, quando o caminhão voltou<br />

a Ravensbrück com as roupas das mulheres<br />

embarcadas naquela noite, Emmy Handke<br />

correu a procurar o vestido de Olga. Apalpou<br />

sofregamente a barra e dela tirou um pequenino<br />

pedaço de papel onde estava escrita apenas<br />

uma palavra: Bernburg.<br />

…………………………………………........................<br />

SÃO PAULO, BRASIL<br />

Julho de 1945<br />

Depois foi dada a palavra a Pablo Neruda,<br />

que, em lugar de fazer um discurso, declamou<br />

um poema que compusera em homenagem a<br />

Prestes, comovendo a multidão com seus últimos<br />

versos:<br />

Hoy pido um gran silencio de volcanes y<br />

rios.<br />

Um gran silencio pido de tierras e varones.<br />

Pido silencio a América, de la nieve a la<br />

pampa.<br />

Silencio: la palavra al Capitán del Pueblo.<br />

Silencio: que el Brasil hablará por su boca.<br />

(Hoje, peço um grande silêncio aos vulcões<br />

e rios.<br />

Um grande silêncio peço à terra e aos<br />

homens.<br />

Peço silêncio à América, da neve aos<br />

pampas.<br />

Silêncio: com a palavra o capitão do povo.<br />

Silêncio: que o Brasil falará por sua boca.)<br />

Emocionada, a massa humana não parava<br />

de aplaudir. Bem-humorado, Neruda voltou ao<br />

microfone e repetiu a última linha do poema:<br />

— Silencio: que el Brasil hablará por su<br />

boca.<br />

Tocaram o Hino Nacional e Prestes falou<br />

durante uma hora e meia. […]<br />

…………………………………….<br />

Era noite fechada quando Luís Carlos Prestes<br />

deixou o Pacaembu em direção à Estação<br />

Roosevelt, onde tomaria um trem de volta ao Rio<br />

de Janeiro. Cercado de amigos, ele se preparava<br />

para subir a escada do vagão-leito, quando<br />

um jovem chegou correndo, abrindo passagem<br />

entre os que se despediam do chefe comunista:<br />

— Capitão Prestes! Capitão Prestes! Um<br />

momento, não embarque!<br />

[…] O rapaz se identificou:<br />

— Sou repórter da agência de notícias United<br />

Press. Nós tínhamos pedido às sucursais<br />

europeias que buscassem sobre Olga Benário,<br />

e acabamos de receber este telegrama sobre<br />

ela, enviado pelo correspondente em Berlim.<br />

Ansioso, Prestes levou o pedaço de papel<br />

aos olhos e leu-o com o rosto crispado, diante<br />

do silêncio dos amigos que o fitavam. […] Era<br />

um despacho curto, sem muitos detalhes:<br />

Berlim — As autoridades aliadas acabaram<br />

de informar que entre as duzentas mulheres<br />

executadas na câmara de gás da cidade alemã<br />

de Bernburg, na Páscoa de 1942, estava a sra.<br />

Olga Benário Prestes, esposa do dirigente comunista<br />

brasileiro Luís Carlos Prestes.<br />

Prestes entrou no trem, em silêncio, sentou--se<br />

e leu mais uma vez a notícia.<br />

……………………………………................………….


Só muitos anos depois é que receberia a<br />

última carta que Olga escrevera a ele e à filha,<br />

ainda em Ravensbrück, na noite da viagem de<br />

ônibus para Bernburg.<br />

[…]<br />

Querida Anita, meu querido marido: choro<br />

debaixo das mantas para que ninguém me<br />

ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem<br />

alcançar-me para suportar algo tão<br />

terrível. É precisamente por isso que esforçome<br />

para despedir-me de vocês agora, para não<br />

ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois<br />

desta noite, quero viver para este futuro<br />

tão breve que me resta. De ti aprendi, querido,<br />

o quanto significa a força de vontade, especialmente<br />

se emana de fontes como as nossas.<br />

Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor<br />

do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me,<br />

que até o último instante não terão por que se<br />

envergonhar de mim. Quero que me entendam<br />

bem: preparar-me para a morte não significa<br />

que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente<br />

quando ela chegue. Mas, no entanto, podem<br />

ainda acontecer tantas coisas… Até o último<br />

momento manter-me-ei firme e com vontade<br />

de viver. Agora vou dormir para ser mais forte<br />

amanhã. Beijo-os pela última vez.<br />

Olga<br />

MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo: Companhia<br />

das Letras, 1993. p. 232, 238-240.<br />

1. O livro Olga é o que consideramos uma biografia,<br />

porque relata o máximo possível a verdade<br />

dos fatos pesquisados, neste caso, por Fernando<br />

Morais que os organizou em forma de romance<br />

histórico. O trecho que você leu tem quatro partes<br />

de dois capítulos do livro. Considerando sua<br />

leitura, o autor organizou o livro em ordem cronológica?<br />

Se sim ou não, explique.<br />

Não, o livro não está organizado em ordem<br />

cronológica exatamente. Na verdade, é uma colagem<br />

de fragmentos da vida da biografada, pontuada<br />

pelos fatos históricos. Nos trechos, por<br />

exemplo, notamos que no primeiro estamos durante<br />

10 dias de 1942, depois estamos em julho<br />

de 1945, depois retrocedemos novamente para a<br />

carta escrita em 1942 por Olga.<br />

2. A biografia é um tipo de narrativa. Que outros<br />

tipos de texto você notou dentro dessa narrativa?<br />

Levante hipóteses: por que eles foram usados den-<br />

tro da narrativa?<br />

Ao longo dos trechos lidos, podemos encontrar<br />

um poema, um telegrama, uma carta e um<br />

bilhete. Esses textos foram usados para dar veracidade<br />

à trama.<br />

Professor: Explique que, neste caso, sabe-se<br />

que foram pesquisados por Fernando Morais.<br />

3. Em que momento sabemos o que significa<br />

“Bernburg” no bilhete de Olga? Como o bilhete chega<br />

até Emmy?<br />

No momento em que Prestes lê o telegrama<br />

é esclarecido que “Bernburg” é uma cidade alemã,<br />

local onde Olga foi morta, em uma câmara<br />

de gás.<br />

Professor: Caso ache necessário, dê a seguinte<br />

informação para sua turma:<br />

Em outros momentos do livro, no campo de concentração,<br />

Olga e as amigas combinam determinadas<br />

senhas para saber para onde estão sendo<br />

levadas. Uma das formas era colocar o papel na<br />

barra da roupa que vestiam, já que os prisioneiros,<br />

normalmente, possuíam apenas uma roupa.<br />

4. O motivo pelo qual Olga está em um campo de<br />

concentração é esclarecido ao longo dos trechos?<br />

Explique.<br />

Não, mesmo porque nada justificaria enviar<br />

alguém a um campo de concentração, mas deduzimos<br />

pelo contexto e por conhecimento histórico<br />

que Olga tinha origem judaica e era comunista.<br />

Professor: Caso queira complementar, Olga<br />

foi presa pela polícia política de Getúlio Vargas e<br />

entregue à Alemanha Nazista. Grávida, deu à luz<br />

à menina Anita, de Prestes, na prisão, já na Alemanha.<br />

A menina foi retirada daquele país pela<br />

mãe de Prestes.<br />

5. Você deve se recordar da personagem Pablo<br />

Neruda, do livro O carteiro e o poeta. Em Olga, Neruda<br />

aparece em alguns momentos como uma personagem<br />

histórica, pois era um político importante<br />

de seu país, o Chile. É possível supor pelo texto,<br />

que Prestes também fosse importante no Brasil daquela<br />

época? Comprove sua resposta com elementos<br />

do poema de Neruda.<br />

Independentemente do conhecimento histórico<br />

que os alunos possam ter, pelos excertos<br />

é possível perceber que se trata de alguém conhecido,<br />

uma vez que é apresentado em um estádio<br />

(Pacaembu), por Pablo Neruda, que lhe fez<br />

um poema, no qual lemos: “o Brasil falará por sua<br />

boca”. Em outras palavras, era alguém importante<br />

para a política do período. É chamado de “capitão”<br />

P51


pelo jornalista em meio à multidão, bem como no<br />

poema. Pedir silêncio aos elementos da natureza<br />

é um sinal de que algo importante será dito ou alguém<br />

que é importante falará, deixar o país todo<br />

(Brasil) falar pela boca de Prestes também é uma<br />

demonstração de poder.<br />

Sugestão didática<br />

Professor: Caso seja interessante para o manejo<br />

de sua sala, converse com o professor de<br />

História sobre a “Coluna Prestes”. Caso os alunos<br />

se interessem, o filme Olga é de fácil acesso<br />

em locadoras. O livro também é parte do acervo<br />

PNLL/MEC.<br />

6. Por que Neruda é caracterizado como “bem-<br />

-humorado” no texto? Esperava-se que ele declamasse<br />

um poema?<br />

Não se esperava que ele declamasse um<br />

poema, mas sim que fizesse um discurso, como<br />

todo político faz. É bem-humorado, pois tem presença<br />

de espírito de voltar ao microfone e pedir<br />

silêncio à multidão, que aplaudia entusiasmada,<br />

utilizando para isso o verso final de seu poema,<br />

afim de que o Hino fosse tocado e Prestes pudesse<br />

discursar.<br />

7. No último trecho, sabemos parte do conteúdo<br />

da carta escrita em meia hora no campo de<br />

concentração. Diante da morte, que tipo de sentimento<br />

Olga nos revela ao conversar com Prestes<br />

e Anita?<br />

Esperança. Apesar de saber que está condenada<br />

— afinal, entrar na lista era estar condenado<br />

—, Olga pensa que muitas coisas podem<br />

acontecer até o próximo dia, então se despede<br />

com palavras de coragem e afrontamento, enfim<br />

palavras de quem tem esperança.<br />

8. O que significa na carta de Olga a expressão:<br />

“se emana de fontes como as nossas”?<br />

Professor: Embora esta resposta seja pessoal,<br />

pode haver várias respostas. Na leitura dos outros<br />

excertos, toma-se ciência de que os interlocutores<br />

são comunistas e casados, portanto podem haver<br />

dois raciocínios: o amor entre eles ou as ideias políticas<br />

entre eles. Caso queira comentar com os alunos:<br />

a alemã Olga conheceu Prestes por meio do<br />

exército russo, do qual era agente — um soldado<br />

treinado. Sua missão era escoltar Prestes e trazê-<br />

-lo de volta ao Brasil; para isso, o partido comunista<br />

envia os dois, disfarçados de marido e mulher. Antes<br />

de chegar ao Brasil, o disfarce vira realidade.<br />

P52<br />

9. O que há em comum entre os textos de Joel<br />

Rufino dos Santos e de Fernando de Morais, quanto<br />

à forma e quanto ao conteúdo? Explique.<br />

Quanto à forma, ambos possuem cartas, embora<br />

de maneiras diferentes. Quanto ao conteúdo,<br />

ambos abordam espaços opressivos de ditaduras<br />

(no Brasil): a de Vargas e a Militar, bem como mostram<br />

os espaços de confinamento, de prisão e a<br />

maneira que as pessoas usam as cartas e bilhetes<br />

para transportarem para fora desses espaços<br />

opressivos suas esperanças no futuro.<br />

Professor: Alguns alunos podem sugerir que<br />

ambos os textos são baseados em fatos verídicos.<br />

Explique a eles que, embora isso também<br />

seja um item comum entre os dois textos, esta<br />

informação não diz respeito à forma e ao conteúdo<br />

do texto.<br />

Para continuar<br />

Conceito/conexão<br />

Estilística<br />

Figuras de linguagem<br />

Perífrase<br />

Perífrase é uma expressão que renomeia<br />

seres por meio de algum atributo ou de algo que<br />

tenham realizado.<br />

Observe a seguinte expressão, que é o título<br />

de um livro de Jorge Amado:<br />

“O cavaleiro da esperança.”<br />

Essa expressão revela uma perífrase bastante<br />

conhecida que foi atribuída a Luís Carlos<br />

Prestes: o “cavaleiro da esperança”. Ele era chamado<br />

assim porque andou a cavalo pelo país com<br />

cerca de mil homens e percorreu 25.000 km por<br />

dois anos e cinco meses — o grupo ficou conhecido<br />

como Coluna Prestes.<br />

Existem documentários, outros livros, letras de<br />

música e um samba-enredo com o título “O cavaleiro<br />

da esperança”. Essa expressão é uma perífrase porque<br />

deu um novo nome a Luís Carlos Prestes; por<br />

isso, é uma figura de palavra, ou seja, coloca uma<br />

outra palavra ou expressão para renomear.<br />

Várias perífrases sao tão populares que nem<br />

notamos que estão sendo usadas. Veja a seguir se<br />

você sabe a quem/que se referem duas delas:


a)<br />

b)<br />

Rei do futebol<br />

Pelé<br />

Cidade Maravilhosa<br />

Rio de Janeiro<br />

Observe esta propaganda de uma linha de perfumes:<br />

Linha Aroma Floral<br />

Descubra o perfume que combina com você!<br />

Verde<br />

Frescor<br />

Sinestesia<br />

A sinestesia também é uma figura de palavras<br />

e ocorre quando há uma mistura entre as<br />

percepções de sentidos: tato, olfato, paladar,<br />

visão, audição.<br />

Frutas<br />

cítricas<br />

A propaganda faz referência à “Linha Aroma Floral”, indicando três possibilidades: Frescor, Frutas<br />

Cítricas e Verde.<br />

Observe que são perfumes, portanto a descrição deveria se basear em algo relacionado ao cheiro,<br />

ao que é inalado; no entanto, não é isso o que ocorre. Para poder explicar como são as fragrâncias<br />

(do olfato) faz-se uso de outros sentidos: tato = frescor, visão = verde, paladar = frutas cítricas.<br />

Note, por exemplo, que há uma fusão, uma mistura, uma permuta ou troca de palavras para podermos<br />

saber como é o cheiro: “Floral Frutas Cítricas” diz respeito não só ao olfato, mas também ao paladar,<br />

ao gosto de frutas como “limão e laranja”, ou seja, a propaganda acredita que o consumidor levará<br />

em conta não só o cheiro específico de cada fruta, mas também o sabor gustativo de cada uma delas.<br />

Há expressões mais populares para definir fragrâncias, como por exemplo: “perfume doce”. Em<br />

todos os casos citados, o que ocorreu foi uma sinestesia.<br />

Além de ser um recurso cotidiano na linguagem, a sinestesia é uma espécie de desdobramento<br />

da metáfora e está muito presente na linguagem poética.<br />

STOCkBYTE/GETTY IMAGES – RYAN ME VAY/PHOTODISC/GETTY IMAGES – MILOSLUZ/DREAMSTIME.COM<br />

P53


1. Leia com atenção o fragmento de umas das<br />

cartas de Nação crioula, do escritor angolano José<br />

Eduardo Agualusa.<br />

Fradique quis ouvir minha opinião. Disse-lhe<br />

que, tal como os buschmen, eu preferia a todos os<br />

perfumes o simples aroma da chuva. Três meses<br />

depois recebi em Luanda um frasquinho de cristal,<br />

lacrado, contendo água. No rótulo Fradique tinha<br />

escrito: “primeira chuva de outono em Paris. 20 de<br />

outubro de 1868”. Mais tarde, enviou-me de uma<br />

escalada aos Alpes as sobras de um temporal; e<br />

quando, em 1871, subiu o Nilo, sozinho, até o país<br />

dos núbios, ofereceu-me como recordação algumas<br />

gotas de orvalho recolhidas numa manhã macia,<br />

em Omdurman. Esta preciosa coleção de chuva,<br />

conservada em mais de cinquenta frasquinhos<br />

de várias cores e formatos, em cristal e porcelana,<br />

inclui ainda um pouco de água-benta, caída numa<br />

tarde de abril […], a salsugem de uma tempestade<br />

no mar, ao largo de Salvador, depois que Fradique,<br />

pela última vez, se despediu de mim.<br />

P54<br />

AGUALUSA, José Eduardo. Nação crioula: a<br />

correspondência secreta de Fradique Mendes.<br />

Rio de Janeiro: Griphus, 2001, p. 141.<br />

Identifique a figura de linguagem presente<br />

nesse trecho, explicando sua imagem.<br />

A figura de linguagem no trecho está na expressão<br />

—“manhã macia”, em que um elemento<br />

visual “manhã” como indicação de luz = visão —<br />

provoca uma imagem junto à palavra “macia” do<br />

grupo semântico relacionado ao tato; portanto traz<br />

a ideia de que “a luz nos toca de forma suave”.<br />

Buschmen: povo que vive em território angolano.<br />

Luanda: capital de Angola.<br />

Salsugem: restos de sal.<br />

Omdurman: cidade do Sudão.<br />

2.<br />

FOLHA DE SÃO PAULO - 02/06/08<br />

Leia com atenção a charge de Angeli.<br />

Que figura de linguagem você identifica observando<br />

o texto verbal e o texto não verbal?<br />

A figura de linguagem é a ironia, um recurso recorrente<br />

em charges para jornais. Ela ocorre sutilmente<br />

entre os desenhos exagerados das mulheres no elevador,<br />

celular, sacolas; com exceção da menina, todos<br />

possuem óculos escuros, a camisa marcada com NY,<br />

símbolo do consumismo no mundo (além do que temos<br />

palavras em inglês: floor, “elevador”). A roupa da<br />

menina parece de um tempo que já não existe mais,<br />

como se saísse de um seriado americano dos anos<br />

1960. Analisando esta charge de cima para baixo,<br />

podemos dizer que todos esses detalhes provocam o<br />

distanciamento entre pobres e classe média. Esta linguagem<br />

não verbal, se entrelaça à linguagem verbal<br />

representada pela ironia da fala da menina. Podemos<br />

também identificar, embora irônica, uma perífrase em<br />

“São Paulo: cidade shopping center” porque “apelida”<br />

a cidade com uma das suas características: a classe<br />

média que frequenta o shopping assiduamente.<br />

3.<br />

GALDZER/DREAMSTIME.COM<br />

Observe a propaganda a seguir:<br />

Perfume<br />

Pimenta<br />

Doce<br />

Aroma campestre,<br />

avermelhado e intenso<br />

Equilíbrio entre notas mais<br />

quentes e confortáveis<br />

Que figura de linguagem deu nome ao produto?<br />

A antítese, pois a palavra “pimenta” remete a<br />

algo ardido e está ligado ao termo “doce”, outro tipo<br />

de paladar.<br />

4. O autor do texto fez uso de sinestesia para explicar<br />

o produto. Cite os exemplos que identificar.<br />

“avermelhado” = visão; “quentes e confortáveis”<br />

= tato<br />

Professor: Caso os alunos perguntem se há<br />

relação entre “notas” e o termo usado para a música,<br />

diga que “notas” é do vocabulário da química:<br />

quando se faz um perfume, ele é composto por três<br />

notas, uma espécie de pirâmide de cheiro, quer dizer:<br />

o que se “nota”, o cheiro que se sente primeiro<br />

— de saída —, depois de algumas horas — de corpo<br />

— e o que se fixa mais — o de fundo.


Para continuar<br />

Além do texto<br />

Observe as imagens a seguir, que são do artista equatoriano Oswaldo Guayasamin (1919-1999). Elas<br />

pertencem a uma coleção chamada “A idade da ira”. A série que você vê, chama-se “As mãos” e é composta<br />

por 13 telas a óleo, de tamanho 130 x 90 cm, feitas entre 1961 e 1990:<br />

Série “As mãos”, Coleção “Idade da ira” (1963-1968), obra de Oswaldo Guayasamin. © Fundação Guayasamin<br />

1. Retome a tela de Picasso, As senhoritas de<br />

Avignon (1907), no capítulo 1 deste bimestre. Que<br />

semelhanças você nota entre a tela de Picasso e as<br />

de Guayasamin?<br />

Os alunos devem notar que o tipo de traço dos<br />

artistas se assemelham, lembrando a geometria<br />

das máscaras africanas. A perspectiva também é<br />

um ponto semelhante, pois nos permite apreciá-las<br />

de vários ângulos com interpretações diferenciadas,<br />

principalmente pela maneira como um “falso<br />

fundo” é pintado.<br />

Professor: Caso queira, comente com os alunos<br />

sobre o Cubismo, movimento modernista do início<br />

do século XX que revolucionou a arte contemporânea<br />

por meio da geometria. Se for de seu interesse,<br />

proponha ao professor de Arte um trabalho sobre os<br />

artistas desse período. Se sua escola tiver disponibilidade<br />

para acessar a internet, proponha aos alunos<br />

uma visita online ao site do pintor equatoriano que<br />

traz outras telas para serem apreciadas.<br />

2. Agora, reveja a sequência novamente e nomeie<br />

as telas: Todas elas começam com “As mãos<br />

”. Seus títulos revelam as atitudes, os gestos,<br />

as sensações, os sentimentos que as mãos expressam.<br />

Observe que as mãos ora cobrem ora mostram<br />

determinadas partes do rosto: é isto que dá o<br />

nome às telas. Tome como referência a última tela.<br />

Depois, compare seus títulos com os títulos originais,<br />

dados pelo professor.<br />

Professor: O objetivo é a leitura do texto não verbal.<br />

Ouça os títulos que os alunos deram: apenas corrija,<br />

caso haja discrepância; por exemplo, se o aluno<br />

nomear a tela “as mãos da ternura” como “as mãos<br />

da ira”, título claramente inadequado; mas se titular<br />

“as mãos da ira” como “as mãos da raiva”, “do ódio”<br />

ou algo próximo disso, considere como adequado.<br />

Incentive-os a observar as partes do rosto que apa-<br />

recem: Por que em uma só aparece o olho? Por que<br />

olha para cima? Por que aparece apenas a boca?<br />

Por que a última é protesto? Por que, em uma delas<br />

o rosto não aparece? São perguntas que você deverá<br />

postar durante a feitura do exercício.<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

As mãos insaciáveis<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

As mãos da ira<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/<br />

FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

P55


P56<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

As mãos das lágrimas<br />

As mãos da oração<br />

As mãos do medo<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

As mãos do grito<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

As mãos da ternura<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

As mãos da meditação<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN


OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

As mãos do silêncio<br />

As mãos da esperança<br />

As mãos do mendigo<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

As mãos do terror<br />

As mãos do protesto<br />

3. Guayasamin dizia que algumas de suas obras<br />

eram sua “pele de fora” e que outras eram sua “pele<br />

de dentro”.<br />

a) A sequência “As mãos” eram de “dentro” ou<br />

de “fora”?<br />

De dentro, pelo teor introspectivo.<br />

Professor: O pintor se referia à “pele de fora”<br />

quando pintava paisagem e acrescentava que era o<br />

“descanso do guerreiro”.<br />

b) As duas cartas que você leu neste capítulo fo-<br />

ram escritas de “dentro” ou de “fora”? Explique com<br />

suas palavras.<br />

As duas cartas foram escritas “de dentro”, já<br />

que literalmente seus protagonistas estavam presos,<br />

mesmo porque o teor delas também revelava<br />

introspecção e vários dos sentimentos e atitudes<br />

que lemos nos quadros de Guayasamin.<br />

4. Quando visitamos um museu, uma galeria ou<br />

uma exposição, na saída há sempre um “livro de<br />

visitas” no qual escrevemos nosso nome, a data e<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />

P57<br />

OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN


observações sobre o que vimos em nossa visita.<br />

Escreva algumas linhas como se estivesse assinando<br />

uma visita à exposição “As mãos”; revele<br />

suas impressões pessoais ou os sentimentos que<br />

as telas lhe provocaram.<br />

Resposta pessoal.<br />

Para finalizar<br />

Professor: Preencha o quadro juntamente com<br />

os alunos — este pode ser um momento de revisão.<br />

A resposta dos alunos pode auxiliá-lo em sua<br />

autoavaliação. Você considera que conseguiu realizar<br />

todas as atividades com seus alunos? Quanto<br />

você contribuiu para o conhecimento deles?<br />

P58<br />

Conteúdos<br />

Carta pessoal<br />

Biografia<br />

Telegrama<br />

Título de uma pintura<br />

Perífrase<br />

Sinestesia<br />

Ironia<br />

Intertextualidade<br />

Texto publicitário<br />

Para casa<br />

O que aprendi<br />

no capítulo 4<br />

1. Algumas expressões populares também<br />

apresentam sinestesia. Explique quais sentidos<br />

estão presentes em:<br />

a) Ele usou um tom de voz áspero comigo.<br />

“Voz” = audição + “áspero” = tato; indica o tom<br />

de quem estava bravo ou indiferente.<br />

RGBSPACE/DREAMSTIME.COM<br />

b) Chegou falando grosso com todos.<br />

“Falar” = audição + “grosso” = tato; indica<br />

bronquear, chamar a atenção.<br />

c) Abri a geladeira e cheirava azedo.<br />

“Cheirar” = olfato + “azedo” = paladar; por<br />

aproximação, o cheiro demonstra que algum alimento<br />

está se deteriorando na geladeira.<br />

2. Considerando que a imagem a seguir é de<br />

uma propaganda, como você interpreta: “hidratante<br />

com notas de sensibilidade e encanto”?<br />

C r e m e p a r a o c o r p o<br />

Hidratante de Rosas<br />

Com extrato natural de rosas<br />

Hidratante com notas de sensibilidade e encanto<br />

Resposta pessoal, mas se espera que o<br />

aluno perceba que a linguagem conotativa é um<br />

elemento para persuadir o leitor, uma vez que só<br />

sentimos o perfume de alguém se estamos próximo<br />

ou somos íntimos, por isso vende-se, além<br />

da “fragrância”, a possibilidade de termos certo<br />

“mistério” e certa “sensibilidade”, o que nos tornaria<br />

“diferentes” dos outros.


Assinale com X<br />

O que aprendi neste primeiro bimestre<br />

1 o E-mail, etimologia, autobiografia,<br />

argumentação, função apelativa,<br />

cena/cinema, metonímia, hipérbole,<br />

reticência, elipse, texto publicitário.<br />

2 o Narrativa e linguagem poética,<br />

onomatopeia, metáfora, catálogo,<br />

repetição, paronomásia.<br />

3 o Roteiro, soneto,<br />

intertextualidade, inversão,<br />

eufemismo, personificação,<br />

antítese, polissíndeto.<br />

4 o Carta pessoal, biografia,<br />

telegrama, perífrase, ironia,<br />

sinestesia, título de pintura.<br />

Artistas citados<br />

Fernando Morais nasceu em Mariana (MG), em<br />

1946. É jornalista, trabalhou no Jornal da Tarde, na revista<br />

Veja e em várias outras publicações da imprensa<br />

brasileira. Recebeu um prêmio Esso e três prêmios<br />

Abril de jornalismo. Foi deputado e secretário da Cultura<br />

e da Educação do Estado de São Paulo.<br />

Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em<br />

1955. Foi diretor da Agência de Informação de Moçambique,<br />

da revista Tempo e do jornal Notícias de<br />

Maputo. Tornou-se, nestes últimos anos, um dos<br />

ficcionistas mais conhecidos das literaturas de língua<br />

portuguesa. É biólogo e trabalha em uma reserva<br />

em Moçambique. Seu trabalho sobre a língua<br />

permite-lhe obter uma grande expressividade, por<br />

meio da qual comunica aos leitores a vida em Moçambique<br />

após a independência. Seus livros estão<br />

traduzidos para o francês, o inglês, o alemão, o italiano<br />

e o espanhol. As obras O outro pé da sereia,<br />

A varanda de Frangipani e Terra sonâmbula são<br />

editadas no Brasil pela Companhia das Letras.<br />

P59


Anotações<br />

P60


Capítulo<br />

Português 1<br />

Redação 1<br />

Leia este texto escrito por Mia Couto:<br />

Carta para meu filho Madyo Dawany<br />

Hoje cheguei e não havia o teu sorriso<br />

reconfortando-me. Fiquei triste e sem coragem<br />

como se fosse do teu tamanho, assim pequenino.<br />

Não é possível tu estares comigo e isso rouba-me<br />

o coração.<br />

Este desejo de te querer junto a mim é um<br />

desejo egoísta, eu sei. Quero isso mais por mim<br />

que por ti. Quando te escrevo é mais para mim<br />

que para ti.<br />

Faço-te esta confissão de egoísmo para<br />

que saibas, meu filho, que te amo de todas as<br />

maneiras que sei amar. E mesmo assim sinto<br />

que não sei amar, que me falta estar vivo. Saberás<br />

do que falo quando desvendares alguns<br />

mistérios do mundo. Assim crescerás à medida<br />

do teu sonho.<br />

Quero que respeites esta insuficiente maneira<br />

de amar dos homens do meu tempo. E<br />

que ames tudo aquilo que os homens antes de ti<br />

construíram por amor a outros homens, mesmo<br />

que o tenham feito incompletamente. E que recordes<br />

que por trás de cada coisa transformada<br />

há sempre uma gota de sangue: tudo resulta da<br />

luta, mesmo que essa luta tenha sido apenas<br />

interior e aparente.<br />

Sentirei que a minha vida se desdobra<br />

como a onda que mesmo desfeita se renova.<br />

Sentir-me-ei como a onda que sabe que depois<br />

de desfeita se prolongará no eterno movimento<br />

dos homens lutando e construindo por amor aos<br />

outros que nem sequer conhecem.<br />

Julho 1981<br />

Cartas, dos rolos<br />

às telas!<br />

Como você pode perceber, é uma carta de<br />

um pai para um filho, provavelmente escrita quando<br />

o menino ainda era um bebê ou antes de saber<br />

ler. Portanto, é uma carta para ser lida no futuro,<br />

por alguém com quem o destinatário tem um relacionamento,<br />

neste caso, familiar. É uma carta de<br />

trama argumentativa porque não nos conta uma<br />

história específica, mas sim aconselha e apela<br />

para que o filho “cresça tanto quanto era sonhar”<br />

e que não esqueça que a vida é composta de luta<br />

mesmo que seja apenas por dentro de nós; diante<br />

disso, percebemos que, embora seja argumentativa,<br />

é subjetiva também.<br />

Professor: Pontue com os alunos as partes<br />

da carta que julgar apropriadas. Faça junto com<br />

eles marcações de pontuação e conectores argumentativos.<br />

Aplique a ficha de autoavaliação neste<br />

texto, caso ache mais adequado. Questione-os<br />

se o emissor está vivendo um tempo de guerra<br />

quando escreve; se este emissor, que é pai do garoto,<br />

quer pensar sobre o futuro do filho; por que<br />

quer dar conselhos; que exemplos, em relação a<br />

outras pessoas, dá ao filho escrevendo; enfim,<br />

procure conversar com a classe sobre a natureza<br />

poética da carta de Mia Couto que, ao mesmo<br />

tempo, também é apelativa, pois argumenta em<br />

favor da construção do sonho de humanidade e<br />

de respeito ao próximo.<br />

Escreva uma carta, para ser lida no futuro, para<br />

alguém com quem você tenha algum tipo de relacionamento<br />

no presente, pode ser relacionamento<br />

social, familiar, político, religioso, intelectual…<br />

Sua carta poderá ser narrativa ou argumentativa<br />

— escolha o melhor tipo de trama para você. Contudo,<br />

a função dela deverá ser apelativa, ou seja, deve<br />

haver a tentativa de convencer o interlocutor.<br />

O assunto da carta deverá partir de: “crescer à<br />

medida do sonho” ou “tudo resulta da luta”.<br />

Após terminar, verifique a ficha de autoavaliação.<br />

P61


P62<br />

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•<br />

•<br />

•<br />

Coloquei local e data acima e à direita?<br />

Coloquei destinatário?<br />

Escrevi a saudação?<br />

Usei pronome de tratamento adequado?<br />

Usei fórmula de despedida?<br />

Coloquei minha assinatura?<br />

Deixei a margem à esquerda?<br />

Usei ponto final no meio e no final dos parágrafos?<br />

Usei letra maiúscula depois do ponto?<br />

Usei vírgulas depois do local, do destinatário<br />

e da despedida?<br />

Usei letra maiúscula nos nomes próprios?<br />

A letra está legível?<br />

Pulei linhas para dar a formatação de carta?<br />

Há erros ortografia ou falta algum acento<br />

gráfico?<br />

A sugestão do assunto para a carta dependerá<br />

muito da maturidade de sua classe. A tendência é<br />

escreverem para os pais ou para os filhos que terão<br />

— claro que é louvável e possível, mas explique<br />

também que podem escrever para alguém da igreja<br />

que frequentam e admiram: um pastor ou um padre;<br />

alguém da escola: um professor; alguém do bairro:<br />

um líder comunitário ou vereador. Tente ampliar a<br />

gama de interlocutores com quem possam estabelecer<br />

um diálogo por meio da carta.


wATER BOATS CANAL BUILDINGS<br />

Capítulo<br />

Português 2<br />

Redação 1<br />

Você se recorda que, no capítulo 1 do caderno<br />

de Língua Portuguesa, os dois amigos, Fernando e<br />

Gustavo, conversam sobre duas obras de arte — o<br />

livro de Dostoiévski e a tela de Picasso?<br />

Em determinado momento, para se referir à<br />

tela vista em um livro ou num e-mail, um deles escreve:<br />

“são como ver Veneza por cartão-postal”.<br />

Além de estabelecer uma comparação — observe<br />

o termo “como” entre os elementos: tela de<br />

Picasso + Veneza por cartão-postal —, um dos garotos<br />

também nos instiga a pensar como poderia<br />

ser um cartão-postal da cidade de Veneza, na Itália,<br />

um dos pontos turísticos mais visitados do mundo.<br />

Observe:<br />

Veneza<br />

Veneza fica à beira-mar e é conhecida por<br />

seus canais. A embarcação que você vê chama-se<br />

gôndola. Turistas passeiam pela cidade em gôndolas<br />

guiadas por gondoleiros, e os moradores da cidade<br />

também usam esse meio de transporte.<br />

VENEZIA<br />

Un rio con gondola<br />

378<br />

© Copyright 2004-2006 by Storti Edizioni srl<br />

Foto: Marc De Tollenaere<br />

All Rights Reserved Ponted in E.U.<br />

1<br />

23456 78912 8<br />

A segunda imagem é o verso do cartão que<br />

você viu anteriormente.<br />

Há um padrão comum a todos os cartões postais:<br />

do lado esquerdo, tem-se um espaço maior para<br />

De carteiros,<br />

envelopes e selos!<br />

escrever a mensagem para o destinatário deste cartão.<br />

Também é frequente as pessoas colocarem datas<br />

ao fim da mensagem, mesmo que o correio carimbe<br />

sempre com a data e o local de envio.<br />

Mas, por que enviamos cartões-postais?<br />

Quando viajamos, é comum contarmos aos amigos<br />

coisas peculiares que ocorreram conosco ou que<br />

vimos: desde comidas de que gostamos até mesmo<br />

situações em que ficamos perdidos por sermos visitantes,<br />

turistas. Muitas vezes, queremos dividir imagens<br />

e palavras com pessoas que gostaríamos que<br />

estivessem conosco ou, por estarmos distantes, sentimos<br />

saudades.<br />

Muitas pessoas colecionam cartões-postais, assim<br />

como se colecionam selos de cartas.<br />

Ainda do lado esquerdo, é comum termos a indicação<br />

do local de onde vem o cartão, mesmo que<br />

na frente, junto com a imagem, já conste o nome da<br />

cidade ou do país de onde ele veio; nem só de paisagens<br />

são feitos os cartões-postais — muitas vezes<br />

pode-se usar foto de uma escultura, de uma pintura;<br />

enfim de algo que simbolize aquela cidade, região ou<br />

país. Neste caso, como vimos, as gôndolas são um<br />

símbolo veneziano.<br />

É comum termos também as referências da<br />

imagem, como o nome da editora dos cartões,<br />

por exemplo.<br />

Do lado direito, há um código de barras como<br />

em qualquer produto para ser vendido, algumas linhas<br />

que servem para o remetente escrever o nome<br />

do destinatário e o endereço para onde vai o cartão.<br />

Não se coloca o endereço de onde o remetente está,<br />

porque fica óbvio: o remetente está a passeio e provavelmente<br />

não há tempo de receber cartas, respostas<br />

de cartões. Imagine que você esteja viajando e irá<br />

enviar um cartão-postal para um amigo. Preencha o<br />

verso do cartão abaixo contendo sobre sua viagem.<br />

VENEZIA<br />

Un rio con gondola<br />

378<br />

© Copyright 2004-2006 by Storti Edizioni srl<br />

Foto: Marc De Tollenaere<br />

All Rights Reserved Ponted in E.U.<br />

1 23456 78912 8<br />

P63


P64<br />

Capítulo<br />

Português 3<br />

Redação 1<br />

Leia atentamente o excerto de O primo Basílio<br />

(1878), do romancista português Eça de Queiroz:<br />

[…] Tinha suspirado, tinha beijado o papel<br />

devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam<br />

aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho<br />

dilatava-se ao calor amoroso que saía delas,<br />

como um corpo ressequido que se estira num<br />

banho tépido; sentia um acréscimo de estima por<br />

si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa<br />

existência superiormente interessante, onde<br />

cada hora tinha o seu encanto diferente, cada<br />

passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria<br />

de um luxo radioso de sensações!<br />

QUEIROZ, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Ática, 1998.<br />

Esta é a reação de uma personagem diante<br />

de uma carta que recebe do homem amado. Agora,<br />

imagine qual poderia ser o conteúdo desta carta e<br />

redija uma pequena carta de amor, em resposta a<br />

esta, considerando as pistas que o trecho lhe deu.<br />

Antes de passar a limpo, verifique a ficha de<br />

autoavaliação.<br />

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•<br />

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•<br />

•<br />

•<br />

Coloquei local e data acima e à direita?<br />

Coloquei destinatário?<br />

Escrevi a saudação?<br />

Usei pronome de tratamento adequado?<br />

Despedi-me adequadamente?<br />

Coloquei assinatura?<br />

Deixei a margem à esquerda?<br />

Usei ponto final no meio e no final dos parágrafos?<br />

Usei letra maiúscula depois do ponto?<br />

Usei vírgulas depois do local, do destinatário<br />

e da despedida?<br />

Usei letra maiúscula nos nomes próprios?<br />

A letra está legível?<br />

Pulei linhas para dar a formatação de carta?<br />

Há erros de ortografia ou falta algum acento<br />

gráfico?<br />

Cumpri o tema dado, considerando o trecho<br />

do romance?<br />

Cartas que vão<br />

e que vêm...<br />

Sugestão didática:<br />

Professor: Não é pré-requisito que os alunos<br />

conheçam o enredo do romance de Eça de Queiroz,<br />

mas, caso queira, conte-lhes sobre a importância<br />

desta obra durante o período Realista, ou comente<br />

sobre as versões televisivas e cinematográficas da<br />

obra. Apenas cuide para que assumam a “máscara”<br />

de um homem que escreve uma carta de amor<br />

para uma mulher e o que está dito na carta provoca<br />

o que ela pensa no trecho. No livro, este trecho é<br />

a reação de Luísa diante de uma carta enviada por<br />

Basílio, seu primo. Insista nas relações intertextuais<br />

abordadas no capítulo de língua portuguesa, principalmente<br />

no poema “Todas as cartas de amor são<br />

ridículas”, de Álvaro de Campos.


Redação 2<br />

Leia o texto com atenção para responder às<br />

questões e realizar a proposta de redação:<br />

CAMMERAYDAVE/DREAMSTIME.COM<br />

Projeto artístico utiliza caramujos<br />

para enviar e-mails.<br />

Alunos da Universidade de Bournemouth,<br />

na Grã-Bretanha desenvolveram um projeto artístico<br />

denominado “Real Snail Mail” (trocadilho,<br />

em inglês, com o termo e-mail e lesma ou caramujo).<br />

A partir desse projeto, chips de computador<br />

foram implantados em três caramujos, que<br />

“carregam” e-mails entre usuários de um site.<br />

Os caramujos Austin, Muriel e Cecil tornaram-se<br />

“carteiros eletrônicos” em plena era cibernética,<br />

que promete velocidade, aceleração,<br />

sempre mais e em menos tempo.<br />

Em vez desse imediatismo, as mensagens<br />

dos visitantes do site viajarão a uma velocidade<br />

média de 50 metros por hora, podendo levar<br />

dias ou até meses para chegar ao destinatário.<br />

O objetivo do projeto é estimular as pessoas a<br />

diminuir a velocidade no dia a dia e contemplar a<br />

tecnologia e a obra.<br />

Quer saber como funciona esse processo?<br />

Então busque mais detalhes no site http://<br />

diversao.uol.com.br/ultnot/bbc/2008/06/17/ult2242u1653.jhtm.<br />

1. No capítulo 1 deste bimestre, você leu um<br />

trecho de um livro em que dois adolescentes conversavam<br />

por meio de e-mails. O livro é datado de<br />

1995 e, naquele momento, poucas pessoas tinham<br />

um endereço eletrônico ou acesso à rede de computadores,<br />

a internet. Passada mais de uma década,<br />

uma vez que a reportagem acima é de 2008,<br />

temos uma proposta artística que nos é esclarecida<br />

no texto que você leu.<br />

a) Que proposta é esta?<br />

Pesquisadores e artistas se uniram e implantaram<br />

um chip em três caramujos.<br />

b) Você considera esta proposta como uma for-<br />

ma de arte? Discuta com seus colegas e anotem<br />

suas conclusões.<br />

Resposta pessoal.<br />

Professor: Caso os alunos sintam dificuldade<br />

em apreender a pergunta/resposta deste exercício,<br />

ajude-os a observar que a questão científica nunca<br />

foi o real objetivo dos alunos da Universidade de<br />

Bournemouth, embora estes usem a ciência para<br />

concretizá-lo. O projeto se identifica muito mais<br />

com a arte do que com a ciência.<br />

c) O projeto de “arte lenta” é intitulado “Real Snail<br />

Mail” (trocadilho em inglês com o termo e-mail e<br />

lesma ou caramujo)”. Por que o autor do texto diz<br />

que o nome do projeto é um trocadilho?<br />

Porque o som das palavras “real”, “snail” e<br />

“mail” são semelhantes.<br />

d) Você diria que o título do projeto é também<br />

uma ironia? Se sim, explique.<br />

Sim, porque na verdade o projeto quer chamar<br />

a atenção para a preocupação excessiva com<br />

o tempo. Para tanto, os pesquisadores e artistas<br />

juntaram o que há de mais rápido em comunicação<br />

(e-mail) com um dos animais mais lentos (caramujo).<br />

Assim, criou-se, além de uma antítese (rapidez<br />

e lentidão/ velocidade da luz e caramujo), a ironia.<br />

P65


2. Pessoas de uma universidade inglesa idealizaram<br />

o projeto.<br />

a) Segundo o texto, quem são os remetentes e<br />

os destinatários dos e-mails?<br />

Usuários de um site, de uma página da internet.<br />

b) Quanto tempo leva para os “carteiros eletrôni-<br />

cos” percorrerem 50 metros?<br />

Em média, uma hora.<br />

3. Os artistas desse projeto comentam que “Culturalmente,<br />

somos obcecados com o imediato” e<br />

que “Tempo não é para ser vivido, mas para ser<br />

preenchido até o ponto de explosão.”<br />

P66<br />

a) Você concorda ou discorda da afirmação de-<br />

les? As pessoas, nos dias de hoje, exageram querendo<br />

sempre velocidade?<br />

Resposta pessoal.<br />

b) Para você, esta velocidade é realmente ne-<br />

cessária? Se sim, em quais situações há essa necessidade?<br />

Resposta pessoal.<br />

Professor: Oriente os alunos: em determinadas<br />

situações, como uma emergência policial ou médica,<br />

em caso de aviso de uma catástrofe, por exemplo, a<br />

velocidade é importante; mas, na maioria dos casos,<br />

as pessoas estão tão envolvidas nos processos tecnológicos<br />

que não notam a superficialidade ou inutilidade<br />

da maioria dos e-mails, como os de corrente<br />

e de publicidade, entre outros. Neste último caso, o<br />

tempo tão raro e útil acaba por ser desperdiçado.


4. Vamos supor que você seja um dos visitantes do site e queira enviar uma mensagem para alguém por<br />

meio dos caramujos. Como seria esta mensagem? Para quem? Qual o assunto? Escreva sua mensagem.<br />

Faça um rascunho e depois passe o texto a limpo no quadro.<br />

Enviar mensagem<br />

Para:<br />

Cc:<br />

Assunto:<br />

Mensagem<br />

P67


P68<br />

Capítulo<br />

Português 4<br />

Redação 1<br />

Leia o texto a seguir, grifando as dúvidas de<br />

vocabulário quando for o caso.<br />

A Amazônia brasileira para os brasileiros<br />

Johan Eliasch<br />

Divulgou-se que eu teria dito que a floresta<br />

amazônica poderia ser “comprada” pelo valor<br />

total de US$ 50 bilhões. Eu jamais disse isso!<br />

(1) REPORTAGENS positivas e negativas,<br />

algumas delas contendo vários erros factuais,<br />

têm sido publicadas recentemente a respeito do<br />

meu envolvimento na proteção da floresta amazônica<br />

e, portanto, alguns esclarecimentos à opinião<br />

pública brasileira merecem ser prestados de<br />

forma clara e objetiva.<br />

(2) Sou um admirador do Brasil, da cultura<br />

multifacetada, das belezas naturais e da<br />

amabilidade do povo brasileiro. Tenho imenso<br />

respeito pela liderança exercida por este país<br />

no combate ao desmatamento e na proteção<br />

ao meio ambiente. Nenhum país tem feito mais<br />

para tentar entender os fatores que geram o<br />

desmatamento e os desafios na promoção do<br />

desenvolvimento sustentável.<br />

(3) A floresta amazônica brasileira pertence<br />

ao Brasil e acredito firmemente que assim<br />

deva continuar. Alguns observadores estrangeiros<br />

têm sustentado que o governo brasileiro<br />

deve ser guiado sobre como proteger a floresta<br />

ou, ainda, que intervenções internacionais seriam<br />

necessárias.<br />

(4) Tal opinião, normalmente defendida por<br />

pessoas que nunca estiveram no Brasil ou na<br />

floresta amazônica, mostra-se completamente<br />

equivocada. Tem sido divulgado, sem o menor<br />

fundamento, que eu teria dito que a floresta amazônica<br />

poderia ser “comprada” pelo valor total de<br />

US$ 50 bilhões. Eu jamais disse isso! Fiz um discurso<br />

à indústria de seguros em julho de 2006,<br />

quando procurei demonstrar a direta relação<br />

existente entre o desmatamento da floresta e alguns<br />

desastres naturais.<br />

(5) O que eu disse, para que fique publicamente<br />

esclarecido, é que o valor despendido<br />

por empresas seguradoras em decorrência dos<br />

efeitos devastadores do furacão katrina em 2005<br />

(cerca de US$ 75 bilhões) foi superior ao hipotético<br />

valor capital da floresta amazônica.<br />

Cartas de dentro<br />

e de fora<br />

(6) Afirmei que a indústria seguradora<br />

tem um claro interesse em patrocinar financeiramente<br />

a proteção das florestas tropicais. Tal<br />

proteção teria reflexos nas mudanças climáticas,<br />

evitando, consequentemente, os acidentes<br />

naturais daí decorrentes.<br />

(7) Se o carbono armazenado nas florestas<br />

tropicais é um recurso global contra mudanças<br />

climáticas, o Brasil, assim como outros<br />

países onde tais florestas estão localizadas,<br />

deve ser recompensado pelo uso sustentável<br />

de tais recursos.<br />

(8) Por que o Brasil deveria assumir tal responsabilidade<br />

isoladamente? A única forma de<br />

reduzir o desmatamento e, ao mesmo tempo,<br />

assegurar os objetivos de crescimento e desenvolvimento<br />

dos países detentores de florestas<br />

tropicais é ter todos trabalhando em torno do<br />

mesmo objetivo.<br />

(9) Acredito que devemos reunir a habilidade<br />

e a competência do Brasil e de outros países<br />

detentores de florestas tropicais com uma<br />

substancial disponibilidade de recursos por parte<br />

dos países economicamente mais desenvolvidos.<br />

Os países ricos, afinal, são aqueles que<br />

mais se beneficiaram pelo desenvolvimento e<br />

progresso industrial e mais causaram, portanto,<br />

efeitos negativos ao meio ambiente.<br />

(10) Se a comunidade internacional agir<br />

unida em questões de combate à pobreza e na<br />

transferência de parte dos frutos econômicos<br />

do uso da floresta para as populações locais<br />

(uso sustentável), em vez de empresas exploradoras<br />

(desenvolvimento não sustentável), poderemos<br />

atacar o problema do desmatamento<br />

de forma efetiva.<br />

(11) A proteção da floresta é um modelo<br />

comunitário e, como cidadão da comunidade internacional,<br />

procuro assumir a responsabilidade<br />

que me cabe nesse contexto.<br />

(12) O resto do mundo deve estar preparado<br />

para compensar as nações detentoras<br />

de florestas tropicais pela proteção desse patrimônio.<br />

(13) Essa pode ser uma oportunidade sem<br />

precedentes no combate à pobreza e um instrumento<br />

para o desenvolvimento econômico do<br />

Brasil (mais especificamente da região amazônica),<br />

do Congo e de alguns países asiáticos.


(14) Não sou um conservacionista passivo.<br />

O Brasil tem uma imensa responsabilidade nesse<br />

contexto e tem feito esforços heroicos em áreas<br />

de proteção do meio ambiente.<br />

(15) Eu e muitos outros, brasileiros ou estrangeiros,<br />

dividimos o mesmo ideal. Por que<br />

então não colocar de lado polêmicas políticas<br />

e atuar em conjunto? O futuro do planeta está<br />

em jogo e somos todos responsáveis por deixá-<br />

-lo em melhores condições para essa e futuras<br />

gerações.<br />

Caderno Opinião (Folha de S. Paulo,<br />

11/06/2008) Tendências e Debates<br />

Johan Eliasch, 46, bacharel em Economia, mestre<br />

em Engenharia pelo Instituto Real de Tecnologia<br />

da Suécia, é assessor especial do primeiro-ministro<br />

britânico para assuntos relativos ao desmatamento e<br />

mudanças climáticas, presidente do Conselho Administrativo<br />

e CEO da Head N.V. e copresidente da Cool<br />

Earth, além de patrono da Universidade de Estocolmo<br />

(Suécia).<br />

Os artigos publicados com assinatura não traduzem<br />

a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao<br />

propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros<br />

e mundiais e de refletir as diversas tendências<br />

do pensamento contemporâneo.<br />

1. Que palavras você<br />

anotou para fazer o vocabulário?<br />

Liste-as a seguir e, com o auxílio de um<br />

dicionário, esclareça suas dúvidas.<br />

Professor: As palavras a seguir são sugestões.<br />

Deverão aparecer outras, então auxilie os<br />

alunos sobre as melhores acepções, adequandoas<br />

ao contexto.<br />

Factual: de fato, de verdade, que não foram<br />

interpretados de forma adequada.<br />

Despender: gastar.<br />

Hipótese: ideia que não foi confirmada ainda,<br />

mas que poderá ser ou não, depende sempre<br />

de provas.<br />

Conservacionismo: que é tradicional, que<br />

segue uma linha conservadora, ou seja, mantém-<br />

-se sempre próximo ao que já está estabelecido e<br />

é de costume.<br />

Passivo: aquele que aceita sem discussão,<br />

que não age.<br />

Polêmica: agitação, ideia que provoca sobressaltos<br />

e reações, fazendo com que se discutam<br />

suas razões.<br />

Contemporâneo: atual, dos dias de hoje.<br />

CEO: do inglês chief executive officer, “diretor<br />

executivo” ou “diretor geral”.<br />

2. Após reler o texto, responda: a seção do jornal<br />

em que se encontra o texto pede que ele seja narrativo<br />

ou argumentativo?<br />

Argumentativo, porque é uma seção de opinião<br />

e debate.<br />

3. No primeiro parágrafo, o autor faz esclarecimentos,<br />

mostra os motivos pelos quais escreve o<br />

texto. Que motivos são esses?<br />

Para esclarecer o que ele diz ser uma interpretação<br />

errada de uma comparação que fez sobre<br />

a Amazônia brasileira.<br />

4.<br />

A quem se dirige o autor?<br />

À opinião pública brasileira.<br />

5. No segundo parágrafo, por que o autor justifica-se<br />

dizendo que é “admirador do Brasil”. Que<br />

elementos da nota sobre a biografia do autor esclarecem<br />

esta afirmação?<br />

Ele é estrangeiro, portanto fala de fora do<br />

país.<br />

6. O autor tem como motivação negar uma afirmação<br />

— a de que teria dito que a floresta amazônica<br />

valeria 50 bilhões — e, por causa disso, uma<br />

polêmica foi iniciada.<br />

a) Podemos dizer que esse texto é uma resposta<br />

a esta polêmica?<br />

Sim.<br />

b) O que o jornal diz, abaixo do texto do autor,<br />

sobre a responsabilidade dos textos que publica?<br />

O jornal Folha de S.Paulo não diz se a opinião<br />

dela é a mesma do autor, pelo contrário, na última<br />

nota se isenta desta responsabilidade, enfatizando<br />

que o texto em questão é um artigo assinado. O leitor<br />

apenas saberia se o jornal concorda ou não com<br />

a opinião do artigo assinado se na seção “editorial”<br />

tivéssemos um texto comentando o caso: positiva<br />

ou negativamente. O jornal tem a função de manter<br />

debates públicos.<br />

7. Entre os parágrafos 7 e 13, o que o autor<br />

propõe?<br />

Propõe iniciativas que há tempos já estão<br />

em desenvolvimento no Brasil, como o desenvolvimento<br />

sustentável para as pessoas da região<br />

e a não intervenção de grupos estrangeiros no<br />

território brasileiro.<br />

P69


8. Nos dois últimos parágrafos, o autor conclui<br />

falando sobre responsabilidades. De quem seriam<br />

essas responsabilidades quanto à floresta<br />

amazônica?<br />

Ele diz que a responsabilidade é do Brasil,<br />

mas também que é de todos que não são brasileiros<br />

porque vivemos em um mesmo planeta.<br />

Professor: Comente com os alunos que tanto<br />

os argumentos quanto a conclusão do autor são<br />

“clichês”, ou seja, ele diz o que sempre é dito,<br />

não apresenta novidades ou saídas, a começar<br />

do título do texto.<br />

Redação 2<br />

O texto a seguir pertence a uma outra seção<br />

do jornal Folha de S.Paulo, leia com atenção:<br />

P70<br />

PAINEL DO LEITOR<br />

Amazônia<br />

Muito bonito o que escreveu Johan Eliasch<br />

na seção “Tendências/ Debates” em 11/6, a começar<br />

pelo título: “A Amazônia brasileira para os<br />

brasileiros”.<br />

Ele só não diz que, se os estrangeiros continuarem<br />

a comprar terra na Amazônia — como<br />

ele, que comprou aí 161.000 hectares —, não vai<br />

sobrar nenhum centímetro quadrado para brasileiro.<br />

Ele também não conta que sua madeireira foi<br />

multada pelo Ibama por não seguir a lei ambiental<br />

e por destruir a “nossa” floresta.<br />

Quando a Suécia, a Inglaterra e os Estados<br />

Unidos permitirem a venda de parte considerável<br />

de seus territórios para estrangeiros, aí vou pensar<br />

no que diz o senhor Eliasch.<br />

Nós, brasileiros, já estamos “vacinados”, graças<br />

aos nossos políticos safados, e conversa bonita<br />

de estrangeiros “bem-intencionados”, que dizem<br />

uma coisa e fazem outra, já não nos comovem.<br />

Rute Bevilaqua (São Paulo, SP)<br />

O “Painel do Leitor” recebe colaborações por e-mail,<br />

fax e correio. As mensagens devem ser concisas e<br />

conter nome completo, endereço e telefone. A Folha<br />

se reserva o direito de publicar trechos.<br />

1. Como você deve ter notado, esta é uma seção<br />

para que os leitores possam dar suas opiniões<br />

sobre os textos escritos no jornal. Esse trecho que<br />

você leu é uma opinião sobre o texto “A Amazônia<br />

brasileira para os brasileiros”. Por que a Folha diz<br />

que as mensagens devem ser concisas?<br />

Conciso significa resumido, de maneira adequada<br />

a uma resposta; neste caso, mesmo que as<br />

mensagens sejam longas, o jornal diz que só publicará<br />

os trechos necessários para esclarecer a<br />

opinião do leitor.<br />

2. No primeiro parágrafo, a leitora esclarece a<br />

que texto se dirige sua opinião, o autor e quando<br />

foi publicado. No segundo parágrafo, ela usa a<br />

expressão “ele só não diz que”. Isso significa que<br />

a opinião dela concorda ou discorda com a do<br />

autor?<br />

A leitora deixa claro com essa expressão que<br />

Eliasch omitiu, ao seu ver, algumas informações,<br />

como o quanto ele tem se beneficiado pessoalmente<br />

da Amazônia e seus hectares. Portanto, a leitora<br />

discorda do autor.<br />

3. Que acontecimento faria a leitora concordar<br />

com o autor?<br />

Se os países com os quais o autor tem relações,<br />

como Suécia, Inglaterra e os Estados Unidos,<br />

também vendessem partes de suas terras a<br />

estrangeiros.<br />

4. O texto da leitora assume tom de ironia. Que<br />

expressões comprovam esta afirmação?<br />

“Muito bonito”, “bem-intecionados”, “nossa<br />

floresta”, “vacinados”, “ele só não diz que”, entre<br />

outras.


5. Caso tivesse possibilidade de responder ao texto, que posição você assumiria? Você concorda com<br />

os argumentos da leitora? Ou prefere concordar com o texto da atividade 1? Escreva um e-mail expressando<br />

sua opinião para o debate. Lembre-se de que ele deve ser conciso, conforme pede o jornal: dois ou<br />

três parágrafos curtos. Faça um rascunho e, depois, passe a limpo no quadro sugerido, preenchendo os<br />

demais campos exigidos pelo jornal.<br />

Enviar mensagem<br />

Para:<br />

Cc:<br />

Assunto:<br />

Mensagem<br />

Professor: Oriente os alunos para a concisão do texto. Caso seja de seu interesse, poderá também<br />

propor que o e-mail seja coletivo. Anote na lousa as opiniões dos alunos, escreva o e-mail com<br />

a opinião e argumentos da maioria da classe. Você poderá também executar essa atividade em forma<br />

de debate, colocando na lousa as opiniões contra/favor dos dois textos. Se tiver interesse, envie o<br />

texto por e-mail — embora seja um texto de 2008, o tema tratado está sempre nas páginas de jornais<br />

e sempre suscita polêmica.<br />

P71


Anotações<br />

P72

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