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Português<br />
Professor:<br />
A língua é uma das formas mais elaboradas de<br />
linguagem. Assim, ensinar e aprender a língua materna<br />
é entrar neste mundo de representações, comunicação<br />
e expressão; é entrar no mundo da cultura<br />
pela porta da frente e poder manter com ela uma relação<br />
de representação, comunicação e expressão a<br />
partir dos significados construídos no seu tempo, no<br />
seu espaço, na sua inteligência e no seu sentimento.<br />
Isso quer dizer que só o domínio dos elementos<br />
linguísticos não é suficiente; é necessário que na<br />
escola, de forma sistematizada, e nos outros espaços<br />
de vida, haja ampliação permanente do repertório<br />
cultural, portanto de sentidos.<br />
A prática escolar deve dar sentido à aprendizagem<br />
da língua portuguesa na articulação dela com<br />
a produção das outras áreas de conhecimento e<br />
com as vivências não escolares dos seus alunos.<br />
O texto a ser ouvido e lido, falado e escrito não<br />
é “de e para Língua Portuguesa”, e sim para<br />
comunicar, expressar e representar o universo<br />
cultural e humano de cada pessoa, na sua relação<br />
consigo e principalmente com o outro.<br />
Numa dimensão de área, a Língua Portuguesa,<br />
como um sistema linguístico, interage com outras<br />
linguagens não verbais e verbais. Sua vivência pedagógica<br />
não pode ser pensada no mundo escolar<br />
de forma desarticulada, desvinculada dessas outras<br />
linguagens que a criança e o jovem utilizam, desde<br />
muito cedo. A interação comunicativa e a expressão<br />
humana criaram um conjunto de sistemas que<br />
em articulação conformam um universo simbólico<br />
que caracteriza a natureza humana. Alguns desses<br />
sistemas ou manifestações têm tratamento didático<br />
próprio no universo das disciplinas escolares, como<br />
as manifestações artísticas ou o sistema de representação<br />
da linguagem matemática. Entretanto, a<br />
maioria desses sistemas não encontra no currículo<br />
recortes próprios, embora seja importantíssimo<br />
considerá-los na educação escolar, em especial,<br />
na disciplina de Língua Portuguesa.<br />
O ensino da Língua Portuguesa no ensino fundamental,<br />
assim, deve ter seis objetivos básicos:<br />
1. ampliar o domínio da língua materna nas<br />
dimensões de comunicação e expressão<br />
reais ou em simulações significativas, na<br />
sua representação oral;<br />
2. iniciar e ampliar a aprendizagem de um<br />
novo sistema de representação dessa lín-<br />
<strong>Apresentação</strong><br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
gua, a representação escrita, nas dimensões<br />
de comunicação e expressão reais ou<br />
em simulações significativas: um sistema<br />
de notações gráficas, de possibilidades de<br />
comunicação e de capacidades de expressão<br />
diferentes da representação oral da<br />
sua língua materna, mesmo que o registro<br />
escrito ou a leitura em alguns casos seja<br />
realizado por outros;<br />
tomar consciência, pouco a pouco, de como<br />
é constituído o sistema linguístico de que<br />
faz uso, para poder explorá-lo melhor, nas<br />
suas representações oral e escrita;<br />
usar a língua, oral e escrita, como instru-<br />
mento de acesso e interação com o conjunto<br />
da produção humana, nas suas vivências<br />
e especialmente na relação com<br />
os conhecimentos construídos pelas diferentes<br />
áreas de saber do conhecimento<br />
socialmente reconhecido;<br />
contextualizar a sua produção de comunica-<br />
ção, expressão e representação em Língua<br />
Portuguesa no tempo em que vive, nos diferentes<br />
espaços em que atua e nos diversos<br />
lugares sociais que ocupa;<br />
articular a linguagem verbal às outras lin-<br />
guagens, ampliando a capacidade de representação,<br />
comunicação e expressão<br />
das crianças e jovens.<br />
Estrutura do material de Língua<br />
Portuguesa (EF II):<br />
“O estabelecimento de eixos organizadores dos<br />
conteúdos de Língua Portuguesa no ensino fundamental<br />
parte do pressuposto que a língua se realiza<br />
no uso, nas práticas sociais; que os indivíduos se<br />
apropriam dos conteúdos, transformando-os em<br />
conhecimento próprio, por meio da ação sobre eles;<br />
que é importante que o indivíduo possa expandir<br />
sua capacidade de uso da língua e adquirir outras<br />
que não possui em situações linguisticamente significativas,<br />
situações de uso de fato.<br />
A linguagem verbal, atividade discursiva que é,<br />
tem como resultado textos orais ou escritos. Textos<br />
que são produzidos para serem compreendidos. Os<br />
processos de produção e compreensão, por sua<br />
vez, se desdobram respectivamente em atividades<br />
de fala e escrita, leitura e escuta. Quando se afir-<br />
P1
ma, portanto, que a finalidade do ensino de Língua<br />
Portuguesa é a expansão das possibilidades do<br />
uso da linguagem, assume-se que as capacidades<br />
a serem desenvolvidas estão relacionadas às quatro<br />
habilidades linguísticas básicas: falar, escutar,<br />
ler e escrever.” (Parâmetros curriculares nacionais:<br />
língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental.<br />
Brasília, 1997, p. 30.)<br />
Conversa sobre o texto<br />
Os trechos acima foram selecionados dos Parâmetros<br />
Curriculares Nacionais para apresentar os<br />
eixos da disciplina de Língua Portuguesa. A seguir,<br />
temos uma explicação específica do mesmo documento<br />
sobre os eixos falar/escutar:<br />
“Não basta deixar que as crianças falem; apenas<br />
o falar cotidiano e a exposição ao falar alheio<br />
não garantem a aprendizagem necessária. É preciso<br />
que as atividades de uso e as de reflexão<br />
sobre a língua oral estejam contextualizadas em<br />
projetos de estudo, quer sejam da área de Língua<br />
Portuguesa, quer sejam das demais áreas<br />
do conhecimento. A linguagem tem um importante<br />
papel no processo de ensino, pois atravessa<br />
todas as áreas do conhecimento, mas o contrário<br />
também vale: as atividades relacionadas às<br />
diferentes áreas são, por sua vez, fundamentais<br />
para a realização de aprendizagens de natureza<br />
linguística.” (idem, p. 34.)<br />
Portanto, no material que temos em mãos, professor,<br />
nas atividades intituladas “Conversa sobre<br />
o texto”, é necessário considerar como o aluno<br />
expõe suas respostas de maneira clara, contudo<br />
deve-se lembrar sempre que, com a ajuda do professor,<br />
ele deverá articular e melhorar sua performance<br />
oral, assim como sua capacidade de escutar<br />
o outro. Isso não significa que possa dizer “qualquer<br />
coisa ou qualquer resposta”, mas que o aluno deve<br />
ser orientado dentro das possibilidades de respostas<br />
coerentes em relação às perguntas propostas<br />
no material didático.<br />
Mesmo que a opção do professor, em seu manejo<br />
de classe, seja apenas falar e escutar, também<br />
é importante que o registro escrito apareça na lousa<br />
para que aquilo que foi dito tenha um registro escrito<br />
e claro para os alunos do ensino fundamental I<br />
e II. Ouvir as respostas dos alunos e depois discutir<br />
com eles as mais coerentes, para logo após registrar<br />
por escrito a conclusão retirada da discussão<br />
é um excelente recurso didático. Caso não tenha<br />
todos os alunos alfabetizados em sua totalidade,<br />
ainda assim é adequado que se faça o registro por<br />
P2<br />
meio de frases curtas para que possam localizar-se<br />
entre o que foi dito e o que está escrito.<br />
Por isso, quando intitulamos o bloco “Conversa<br />
sobre o texto”, queremos dizer que o professor é<br />
o mediador e o orientador deste bloco do material<br />
que privilegia dois eixos: falar e escutar; mas que<br />
também deve incluir escrever e ler, conforme os<br />
vários níveis de aprendizagem que sua classe poderá<br />
apresentar nas séries iniciais do ensino fundamental.<br />
Em resumo: entre o segundo ano e o quinto<br />
ano do EF, o aluno deverá gradativamente ter autonomia<br />
para redigir suas respostas, baseadas em<br />
discussões coletivas e compartilhadas entre o aluno,<br />
a classe e o professor; entre o sexto e o nono<br />
ano do EF, o aluno deverá redigir e elaborar suas<br />
respostas oralmente ou por escrito a partir da análise<br />
e reflexão própria, mas considerando sempre a<br />
palavra do outro, concordando-se com ela ou não.<br />
Os textos no contexto<br />
Mas tudo isto parte de um pressuposto que é o<br />
eixo “ler”. Um trabalho de leitura deve abordar tipos<br />
diversificados de textos; por isso “Os textos no contexto”,<br />
para que enfoques diferentes de interpretação<br />
possam proporcionar o desenvolvimento de estratégias<br />
e habilidades para o aprender a “ler”.<br />
É bom lembrar que na maioria das vezes a escola<br />
se detém apenas sobre a avaliação de leitura:<br />
perguntas e respostas sobre o texto ou a capacidade<br />
de ler em voz alta e ter entonação; isso também é<br />
importante. Entretanto, é necessário e mais produtivo<br />
estabelecer estratégias, é com este intuito que as<br />
questões do “conversa sobre o texto” e “ os textos no<br />
contexto” são elaboradas: levantar hipóteses, comparar,<br />
apreensão do tema, tradução de símbolos, relações<br />
entre forma e conteúdo, recursos expressivos<br />
do gênero textual e intertextualidade são enfoques<br />
que procuramos valorizar neste material.<br />
Conceito/conexão<br />
Neste tópico do caderno, procuramos apresentar<br />
ao aluno não um sistema fechado com regras e<br />
definições, mas a língua como um processo dinâmico<br />
e em constante mudança.<br />
Construir o conceito gramatical parte de um fato<br />
linguístico que tenha ocorrido em um dos textos<br />
abordados pela unidade, seja ele literário ou não.<br />
É importante levar os alunos a refletirem sobre a<br />
organização da língua por meio da análise. Quando<br />
se diz análise, não queremos dizer exercícios até<br />
a exaustão, nem concordamos com a abolição da<br />
gramática nas aulas.<br />
O objetivo deste tópico do caderno é apresentar<br />
uma nomenclatura, mas não esgotá-la; pois sabe-
mos que muitos conceitos da gramática normativa<br />
são discutíveis. O que se quer com o ensino da<br />
gramática, aquela chamada de textual, é: explorar,<br />
comparar, analisar e construir conceitos em situações<br />
funcionais da linguagem; daí a diversidade de<br />
textos: observar como os autores usaram determinados<br />
aspectos em seus textos.<br />
Sempre que houver dificuldade em determinado<br />
tópico gramatical, indicamos que o professor consulte<br />
a bibliografia comentada ou, dentro do próprio<br />
caderno, a indicação que houver sob o título “texto<br />
com conteúdo”, em que explicamos as possibilidades<br />
gramaticais de determinada questão com maior<br />
ou menor grau de dificuldade.<br />
A maior parte dos “exercícios” deste item concentra-se<br />
em sala de aula, e espera-se que o professor<br />
conduza a resolução de acordo com as dificuldades<br />
da classe, coletivamente. Muitas vezes, sugerimos<br />
o item “atividade para casa” com as mesmas situações,<br />
quando julgamos necessário que algo seja revisto<br />
ou memorizado, de acordo com a circunstância<br />
de aprendizagem, individualmente.<br />
É importante garantir que os alunos tenham<br />
acesso a materiais de consulta como minigramáticas,<br />
dicionários e outros tipos de textos que<br />
possam auxiliá-los quanto ao esclarecimento de<br />
dúvidas.<br />
Vale lembrar que, na escola, os conteúdos relacionados<br />
à dimensão gramatical devem ser relacionados<br />
“às dimensões pragmática e semântica<br />
da linguagem, […] precisam ser tratados de maneira<br />
articulada e simultânea no desenvolvimento<br />
das práticas de produção e recepção de textos.”<br />
(idem, p. 78)<br />
Além do texto<br />
Entendemos que o cruzamento de linguagens é<br />
essencial para o enriquecimento e formação de um<br />
escritor e leitor crítico; para isso, ao elaborarmos o<br />
item “além do texto”, tivemos por objetivo ampliar o<br />
estudo comparado do texto verbal a outro tipo de texto,<br />
ou seja, textos de outras áreas de conhecimento,<br />
enfatizando outras artes — arquitetura, pintura, escultura,<br />
música, cinema — sempre que possível.<br />
Por meio da comparação entre os outros textos<br />
do capítulo e o que se apresenta ao final, o aluno<br />
deverá ampliar seu repertório cultural e assim o de<br />
leitura; além do que, deve aprender a estabelecer<br />
diferenças e semelhanças quanto ao tema e à forma,<br />
assim como uma postura crítica diante de outras<br />
formas textuais.<br />
Espera-se que o aluno, tendo isso de maneira<br />
sistematizada, amplie seu repertório; portanto, produza<br />
textos (no caderno de redação) com mais profundidade<br />
e adequação a sua escolaridade.<br />
Caderno de redação: a produção de texto<br />
“O conhecimento a respeito de questões dessa<br />
natureza [da produção de textos] tem implicações<br />
radicais na didática da alfabetização. A principal<br />
delas é que não se deve ensinar a escrever por<br />
meio de práticas centradas apenas na codificação<br />
de sons em letras. Ao contrário, é preciso oferecer<br />
aos alunos inúmeras oportunidades para aprenderem<br />
a escrever em condições semelhantes às que<br />
caracterizam a escrita fora da escola. É preciso<br />
que se coloquem as questões centrais da produção<br />
desde o início: como escrever, considerando,<br />
ao mesmo tempo, o que pretendem dizer e a quem<br />
o texto se destina — afinal, a eficácia da escrita se<br />
caracteriza pela aproximação máxima entre a intenção<br />
de dizer, o que efetivamente se escreve e a<br />
interpretação de quem lê. É preciso que aprendam<br />
os aspectos notacionais da escrita (o princípio alfabético<br />
e as restrições ortográficas) no interior de um<br />
processo de aprendizagem dos usos da linguagem<br />
escrita. É disso que se está falando quando se diz<br />
que é preciso “aprender a escrever, escrevendo”.<br />
Para aprender a escrever, é necessário ter acesso<br />
à diversidade de textos escritos, testemunhar a<br />
utilização que se faz da escrita em diferentes circunstâncias,<br />
defrontar-se com as reais questões<br />
que a escrita coloca a quem se propõe produzi-la,<br />
arriscar-se a fazer como consegue e receber ajuda<br />
de quem já sabe escrever. Sendo assim, o tratamento<br />
que se dá à escrita na escola não pode inibir<br />
os alunos ou afastá-los do que se pretende; ao contrário,<br />
é preciso aproximá-los, principalmente quando<br />
são iniciados “oficialmente” no mundo da escrita<br />
por meio da alfabetização. Afinal, esse é o início de<br />
um caminho que deverão trilhar para se transformarem<br />
em cidadãos da cultura escrita.” (idem, p. 48)<br />
Considerando tais orientações, o caderno de redação<br />
— como um item de produção de texto — busca<br />
privilegiar situações didáticas que tenham interação<br />
com os demais componentes de cada capítulo<br />
do caderno de língua portuguesa: a diversidade e a<br />
contextualização são estratégias para que a escrita<br />
possa se concretizar.<br />
Grande parte do trabalho com a produção textual<br />
está centrado no momento em que o aluno traz<br />
a sua produção de casa ou a elabora em classe<br />
coletiva ou individualmente conforme a proposta de<br />
cada capítulo. É a partir deste momento, que o professor<br />
torna-se peça fundamental, por dois motivos:<br />
um, ele é o leitor do texto do aluno naquela situação;<br />
dois, é o professor quem melhor pode interferir<br />
basicamente no conteúdo para que este se torne<br />
claro, conciso e coeso, porque é o professor que<br />
P3
tem conhecimentos da disciplina para intervir, sugerir,<br />
substituir, cortar ou inserir dados em um texto;<br />
claro que os demais alunos da sala também podem<br />
ajudar naquilo que se convencionou chamar de “refacção”,<br />
contudo ainda é o professor o principal norteador<br />
e mediador dessas ações.<br />
Se na sua estrutura, o material tem, em média,<br />
uma produção textual para cada semana do<br />
bimestre, é necessária uma certa organização<br />
para a refacção destes textos — é preciso conscientizar<br />
os alunos, desde as séries iniciais, que<br />
a produção não é um castigo e sim um momento<br />
de comunicação; na reescrita do texto deve haver<br />
o desafio em melhorá-lo e é preciso que os alunos<br />
encarem isso como uma atividade em que se evolui<br />
aos poucos. Nem sempre uma intervenção coletiva<br />
traz resultados satisfatórios, procure variar<br />
tais procedimentos didáticos: cada aluno tem suas<br />
particularidades de escrita e estilo, assim como<br />
estágios de aprendizagem.<br />
Procure, dentre as atividades de produção do bimestre,<br />
deixar que uma seja exposta coletivamente<br />
com a intervenção da classe, é importante que percebam<br />
o andamento dos outros; em uma outra produção,<br />
você poderá escrever na lousa e apontar os<br />
problemas pedindo à classe as soluções possíveis;<br />
contudo, programe-se sempre para que pelos menos<br />
duas produções sejam individuais e tutoradas<br />
pelo professor, mesmo porque este também é um<br />
momento de avaliação.<br />
Oriente sempre para que os alunos busquem a<br />
autoavaliação ainda no rascunho, muitas “atividades<br />
exigem uma atenção à análise — tanto quantitativa<br />
como qualitativa — da correspondência entre<br />
segmentos falados e escritos. São situações privilegiadas<br />
de atividade epilinguística, em que, basicamente,<br />
[embora nem sempre] o aluno precisa:<br />
• ler, embora ainda não saiba ler; e<br />
P4<br />
•<br />
escrever, apesar de ainda não saber escre-<br />
ver.<br />
Em ambas é necessário que ele ponha em jogo<br />
tudo o que sabe sobre a escrita para poder realizá-<br />
-las”. (idem, p. 83)<br />
Por isso, o eixo “escrever” pressupõe que ele<br />
tenha interiorizado situações de “falar”, “escutar” e<br />
“ler” contidas nos itens anteriores: “conversa sobre<br />
o texto”,”os textos no contexto”, “ conceito/conexão”<br />
e “além do texto”.<br />
Ainda a título de esclarecer a estrutura do material,<br />
propomos durante a resolução de exercícios:<br />
sequências e sugestões didáticas para que seu caderno<br />
do professor torne-se também um “manual<br />
de educação” e não somente um caderno de res-<br />
postas. O item “texto com conteúdo”, como já foi<br />
explicado, tem o objetivo de auxiliar o professor<br />
em questões de dúvida sobre o conteúdo e dando<br />
referências bibliográficas a respeito de temas<br />
mais complexos, bem como indicação de sites<br />
para que o professor possa aprimorar sua didática.<br />
Na “Bibliografia comentada”, há notas sobre<br />
algumas obras de referência em cada bimestre,<br />
obras que julgamos importantes ser de conhecimento<br />
do professor.<br />
Sobre leitura extraclasse, sempre haverá sugestões<br />
de obras mencionadas no caderno do professor<br />
e de outras obras já citadas também no material<br />
do aluno que podem ser localizadas em suas bibliografias<br />
e notas bibliográficas. A grande maioria das<br />
obras utilizadas neste material são parte do acervo<br />
MEC/PNLL, que foi enviado às escolas públicas de<br />
todo o país; portanto, a recomendação mais enfática<br />
que podemos dar acerca da escolha de leituras<br />
é “diversidade”.<br />
Bibliografia comentada<br />
ABDALA, Benjamin Jr. Introdução à análise narrativa.<br />
São Paulo: Scipione, 1995.<br />
O objetivo desse livro é suprir a necessidade<br />
de conhecer melhor esse tema específico de literatura,<br />
trazendo informações básicas, devidamente<br />
explicadas e interpretadas. Para o autor,<br />
analisar pressupõe argumentar, defender o ponto<br />
de vista crítico que é a sua razão de ser. O volume<br />
aborda as formas narrativas, o foco, a ação, a<br />
personagem, o espaço e o tempo, com exemplos<br />
e textos críticos.<br />
BAGNO, Marcos. O preconceito linguístico.<br />
2.ed. São Paulo: Loyola, 1999.<br />
Incorporando as discussões e propostas mais<br />
recentes das ciências da linguagem e da educação,<br />
Marcos Bagno reitera seu discurso em favor<br />
de uma educação linguística voltada para a inclusão<br />
social e pelo reconhecimento e valorização da<br />
diversidade cultural brasileira.<br />
Combater o preconceito linguístico na escola implica,<br />
ao mesmo tempo, ampliar o repertório verbal<br />
dos aprendizes, garantindo a eles, antes de tudo,<br />
o acesso a múltiplas formas de falar e de escrever,<br />
desde as manifestações mais espontâneas e autênticas<br />
da cultura popular até o cânone literário e<br />
a cultura erudita.<br />
Numa sociedade historicamente pouco democrática<br />
como a brasileira, essa tarefa exige, muitas<br />
vezes, um tom veemente, e este livro assume sem<br />
rodeios uma postura política em favor dos que sempre<br />
ficaram à margem do poder dizer. Na página<br />
pessoal do autor www.marcosbagno.com.br, há ar-
tigos dele e também de outros autores sobre o tema<br />
da variação linguística.<br />
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa.<br />
37 ed. Rio de Janeiro: Lucerna/Nova<br />
Fronteira, 2009.<br />
Com a evolução dos estudos linguísticos e das<br />
pesquisas em língua portuguesa, é difícil termos<br />
uma gramática completa que possa dar conta<br />
deste progresso. No entanto, a edição, atualizada<br />
segundo a nova ortografia, revista pelo professor<br />
Evanildo Bechara, eminente estudioso e pesquisador<br />
de nosso idioma, ajuda a preencher essa<br />
lacunas.<br />
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.<br />
Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa.<br />
Brasília: MEC/SEF, 1997.<br />
Salienta-se aqui a importância da leitura dos<br />
PCNs como fonte de reflexão sobre o ensino da língua<br />
e a importância da bibliografia contida no documento.<br />
O texto na íntegra encontra-se também<br />
disponível na página do Ministério da Educação.<br />
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria,<br />
análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000.<br />
Obra de referência naquilo que propõe o subtítulo,<br />
em linguagem clara e simples consegue indicar<br />
e analisar as obras infantojuvenis que são de fato<br />
fundamentais, além de propor textos que explicam<br />
os gêneros com os quais o professor cotidianamente<br />
trabalha em sala de aula.<br />
CUNHA, Celso. Gramática da língua portuguesa.<br />
Rio de Janeiro: FAE, 1990.<br />
Assim como a obra de Evanildo Bechara, a gramática<br />
de Celso Cunha é utilizada por nós como<br />
fonte de consulta complementar.<br />
GOLDSTEIN, Norma. Análise do poema. São<br />
Paulo: Ática, 2001.<br />
Além de uma linguagem clara, há itinerários e exercícios<br />
dinâmicos para a compreensão mais detalhada<br />
de assuntos que normalmente apresentam dificuldades:<br />
sonoridade, ritmo, imagem; bem como os temas<br />
básicos que se referem a este tipo de texto.<br />
MACHADO, Irene. Literatura e Redação. São<br />
Paulo: Scipione, 1994.<br />
Este livro traz uma abordagem teórica sobre literatura<br />
e redação de acordo com os gêneros literários.<br />
Também propõe muitas atividades de redação<br />
a partir de um gênero literário: desde as formas<br />
simples, como o ditado popular, passando pelo mito<br />
e conto maravilhoso, chegando até a crônica. Ferramenta<br />
bastante útil com exercícios variados.<br />
Professor: A seguir os objetivos do nono ano<br />
para o primeiro bimestre:<br />
Objetivos de ensino/aprendizagem do<br />
primeiro bimestre<br />
1. Comparar textos, identificando semelhanças<br />
e diferenças quanto ao conteúdo e à forma.<br />
2. Desenvolver estratégias de leitura: levantamento<br />
de hipóteses, relações de causa,<br />
consequência, de temporalidade e espacialidade,<br />
generalização, síntese; explicitação<br />
do conteúdo implícito e interlocutor.<br />
3. Produzir, recriar e reconhecer textos com<br />
as características do gênero epistolar (carta,<br />
e-mail, cartão-postal, telegrama…), bem<br />
como suas situações de produção (texto<br />
argumentativo, jornalístico, publicitário, biográfico,<br />
poético…).<br />
4. Conhecer e utilizar com eficiência os elementos<br />
do gênero epistolar: destinatário,<br />
remetente, cabeçalho, recuos, interlocução,<br />
despedida, assinatura…<br />
5. Desenvolver habilidade de leitura de linguagem<br />
não verbal e linguagem mista: pintura,<br />
charge e histórias em quadrinhos, roteiros<br />
de cinema.<br />
6. Aprimorar a exposição oral, exercitando-a<br />
por meio da argumentação, interação verbal<br />
e leitura.<br />
7. Conhecer e apropriar-se dos princípios de<br />
seleção e combinação de palavras.<br />
8. Entender e reconhecer as relações textuais<br />
em que ocorrem as figuras de linguagem.<br />
9. Observar, conhecer e respeitar aspectos da<br />
pluralidade cultural da língua, relacionados<br />
à história e países de língua portuguesa.<br />
Objetivos específicos de ensino/aprendizagem<br />
de cada capítulo<br />
Capítulo 1: Cartas, dos rolos às telas!<br />
1. Ler e identificar as partes de um e-mail.<br />
2. Entender as características de uma autobiografia.<br />
3. Discernir os elementos de uma trama argumentativa.<br />
4.<br />
Compreender a função apelativa da lingua-<br />
gem por meio de um texto publicitário, opinativo<br />
ou epistolar.<br />
5. Reconhecer e aplicar as figuras: metonímia,<br />
hipérbole, reticência, elipse.<br />
Capítulo 2: De carteiros, envelopes e selos!<br />
1.<br />
Reconhecer e aplicar as figuras: metáfora,<br />
comparação, paronomásia, onomato peia e<br />
repetição.<br />
P5
P6<br />
2.<br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
Compreender a narrativa por meio de recursos<br />
poéticos.<br />
Perceber as notações de humor e ironia em<br />
diversos tipos de textos.<br />
Identificar os elementos de uma página de<br />
internet.<br />
Ler e obter informações de um catálogo,<br />
prefácio e ficha técnica.<br />
Consultar um verbete de caráter etimológico.<br />
Capítulo 3: Cartas que vêm e que vão…<br />
1. Ler e entender um roteiro cinematográfico e<br />
seus recursos grafotipográficos.<br />
2. Compreender a estrutura de um soneto.<br />
3. Reconhecer e aplicar as figuras: inversão,<br />
antítese, eufemismo, polissíndeto, personificação.<br />
4. Entender e reconhecer a intertextualidade<br />
como um recurso comum a todas as artes<br />
e linguagens.<br />
Capítulo 4: Cartas de dentro e de fora<br />
1. Reconhecer e aplicar em um texto as figuras:<br />
perífrase, ironia, sinestesia.<br />
2. Identificar a intertextualidade como um recurso<br />
em que textos de vários gêneros dialogam.<br />
3. Entender a motivação de uma carta pessoal<br />
e a biografia como tipo textual como referencial<br />
histórico, além de pessoal.<br />
4. Ler textos não verbais e mistos: pintura e<br />
charge.<br />
Sumário<br />
Capítulo 1 –<br />
Cartas, dos rolos às telas!........P7<br />
Capítulo 2 – De carteiros, envelopes e<br />
selos!........................................................................P25<br />
Capítulo 3 –<br />
Capítulo 4 –<br />
Redação<br />
Capítulo 1 –<br />
Cartas que vão e que vêm......P39<br />
Cartas de dentro e de fora......P46<br />
Cartas, dos rolos às telas!......P61<br />
Capítulo 2 – De carteiros, envelopes e<br />
selos!........................................................................P63<br />
Capítulo 3 –<br />
Capítulo 4 –<br />
Cartas que vão e que vêm…..P64<br />
Cartas de dentro e de fora........68<br />
Organização do tempo<br />
Professor: Você terá aproximadamente sete<br />
semanas e meia para desenvolver as atividades<br />
propostas nesse caderno, o que corresponde a<br />
aproximadamente 45 aulas.<br />
Considere o quadro a seguir no momento de<br />
planejar o bimestre.<br />
Capítulos Quantidade de aulas<br />
<strong>Apresentação</strong> 1 aula<br />
Capítulo 1 8 aulas<br />
Capítulo 2 8 aulas<br />
Capítulo 3 8 aulas<br />
Capítulo 4 8 aulas<br />
Redação 10 aulas<br />
Sistematização 2 aulas<br />
Total 45 aulas<br />
Lembre-se de que o primeiro bimestre é mais<br />
longo que os demais.<br />
Este caderno foi escrito para você.<br />
E para todos que gostam de boas histórias, de<br />
aprender, ler, ouvir e contar, para que você possa<br />
mostrar suas opiniões sobre o mundo a sua volta!<br />
Também foi escrito para que você crie e recrie<br />
textos, falando e escrevendo, para melhorar sua<br />
interação com o que o cerca por meio da língua<br />
portuguesa, este maravilhoso idioma que vai nos<br />
ajudar a desvendar os melhores caminhos para<br />
os quadrinhos, as notícias de jornais, os contos,<br />
as fábulas, a poesia… e muitos outros textos.<br />
Queremos convidá-lo a ler, divertir-se, participar,<br />
criticar e escrever.<br />
Enfim, este caderno é para você crescer melhor<br />
no mundo em que vive!
Para começar<br />
Capítulo<br />
Português 1<br />
Neste capítulo, estudaremos textos epistolares,<br />
além de argumentação e figuras de linguagem.<br />
A carta é um texto epistolar, ou seja, uma carta<br />
pode ser chamada de epístola. Talvez você já<br />
tenha ouvido esse termo na Bíblia; por exemplo,<br />
Epístola de São Paulo aos Coríntios.<br />
Sempre acompanhando a história da humanidade,<br />
as cartas, de amor ou de amizade, e os tratados,<br />
de paz ou de guerra, vêm assumindo o formato<br />
dos novos meios de comunicação. Os instrumentos<br />
de comunicação, quer seja um pombo-correio quer<br />
seja um carteiro, foram modernizando-se, e as cartas,<br />
inicialmente manuscritas em pequenos rolos<br />
de papiros, foram se modificando e, hoje, aparecem<br />
em formatos digitalizados como o do e-mail.<br />
wEBkING/DREAMSTIME.COM<br />
RGBSPACE/DREAMSTIME.COM<br />
Cartas, dos rolos<br />
às telas!<br />
Muitas vezes, as cartas são reunidas em livros<br />
ou, então, viram tema de filmes.<br />
Você sabe a origem da palavra “carta”? Então,<br />
leia este verbete do dicionário Hoauiss:<br />
carta. “do latim charta, ae ou carta, ae “uma folha<br />
de papiro preparada para receber a escrita”;<br />
folha de papel (feito antigamente da entrecasca<br />
do papiro); palavra emprestada e latinizada do<br />
grego khártés, “folha de papiro ou de papel, por<br />
extensão, escrita, obra”.<br />
Conforme você leu no verbete, a palavra “carta”<br />
vem de um momento histórico distante, contudo<br />
continua a ser uma forma de unir pessoas, protestar,<br />
divulgar e discutir ideias ao redor do planeta.<br />
Leia, a seguir, trechos do livro de Daniel Piza,<br />
composto pelos e-mails trocados entre Gustavo<br />
e Fernando:<br />
P7<br />
wIkIMEDIA
P8<br />
As senhoritas de Nova York<br />
NY, 16.10.95<br />
Caro Gustavo,<br />
Cheguei, amigo. Estou em Nova York. Nova<br />
York! Mal posso acreditar. Ainda não vi nada, exceto<br />
a beleza da cidade para quem chega pela<br />
ponte, porque acabamos de entrar no hotel. Mas<br />
decidi testar minha conexão com você. Morra de<br />
inveja: meu pai deu um quarto só para mim. Ele e<br />
minha mãe estão em outro, do lado de lá do corredor.<br />
O meu tem tudo o que a gente imaginou<br />
que tivesse, TV a cabo, frigobar e uma escrivaninha<br />
bacana, onde já instalei meu laptop e consegui<br />
uma linha do hotel e um endereço eletrônico<br />
para trocar mensagens. Anote aí: http://www.fernan@netventure.com.br.<br />
Tente me conectar ainda<br />
hoje. Aqui são 19h20, aí em São Paulo deve<br />
ser 21h20. Antes de dormir vou ver se você me<br />
escreveu. Agora vamos sair para comer e já ter<br />
um gostinho da cidade. See you!<br />
Fernando<br />
SP, 16.10.95<br />
Caro Fernan@net,<br />
Mensagem recebida. Aqui são 22h30. Espero<br />
que a resposta também chegue bem.<br />
Não tenho tempo para delongas hoje: vou<br />
àquela festa do colégio, sabe? Depois lhe conto…<br />
A Adriana vai estar lá, mas pode deixar que<br />
cuido dela (brincadeira). Só me diga uma coisa:<br />
é verdade que o papel higiênico aí é melhor do<br />
que o daqui? Câmbio.<br />
Gustavo<br />
NY, 17.10.95, 14h30 (atenção: hora local)<br />
Gustavão,<br />
Comunicação perfeita. we are connected!<br />
Como foi a festa ontem? Que história é essa<br />
de cuidar da Adriana? Ela sabe se cuidar —<br />
quando eu não estou cuidando dela… Mande<br />
um beijo para ela, diga que já estou com saudade.<br />
Quanto ao papel higiênico, é verdade, meu<br />
amigo, o daqui parece cetim! Se quiser, levo uns<br />
para você.<br />
Não dá para lhe poupar o que já estou achando<br />
desta cidade, meu caro. Agora vou ser sério.<br />
Ponto 1: Nova York é bem mais bonita do<br />
que parece nos filmes e do que dizem as pessoas.<br />
É muito mais europeia, civilizada, homogênea.<br />
São Paulo nunca me pareceu tão feia —<br />
um cimento descascado, perto disto aqui. Nova<br />
York é chique!<br />
Ponto 2: Até agora, nas caminhadas de ontem<br />
à noite e hoje de manhã, achei o trânsito,<br />
a poluição e o barulho de Nova York bem mais<br />
suportáveis do que os de São Paulo. Há uma<br />
organização, um senso de ordem pública.<br />
NY, 21.10.95 (2h)<br />
Gustavo,<br />
Sua carta sobre Crime e castigo me espantou<br />
muito, porque acho que você está certo —<br />
e não está. Mas uma coisa me espantou muito<br />
mais ainda, hoje, e é por isso que estou acordado<br />
a esta hora: hoje à tarde eu vi As senhoritas<br />
de Avignon (Les demoiselles d’Avignon),<br />
um quadro de Pablo Picasso, no MoMA. Era<br />
tão e tão bonito, se é que essa é a palavra,<br />
fiquei diante dele, boquiaberto, Gustavo, por<br />
meia hora. Já o tinha visto em livros, mas, ao<br />
contrário de você, acho que reproduções não<br />
são suficientes — são como ver Veneza por<br />
cartão-postal. Alguma coisa nele mexeu comigo,<br />
meu amigo, mudou minha vida como Crime<br />
e castigo mudou a sua, mas de outro modo.<br />
Depois falo sobre suas ideias a respeito de<br />
Deus e liberdade, bem e mal. (Você também<br />
continua insistindo nesse rancor contra seu<br />
pai. E o que é que anda aprontando?) Discordamos<br />
bastante, meu caro.<br />
Primeiro vou contar para você o que senti<br />
quando descobri As senhoritas de Avignon.<br />
Não sai de minha mente. Tanto que, fora do<br />
museu, fiz um monte de perguntas para o meu<br />
pai, então passamos numa livraria e compramos<br />
dois livros sobre Picasso, que já estou<br />
lendo. Nem sequer jantei.<br />
O quadro fica numa saleta do museu (museu<br />
que também é uma beleza, por sinal). Você<br />
entra e, de repente, olha para a esquerda e leva<br />
um susto: lá está ele, vibrando à sua frente.<br />
Nem vi quais outras obras havia na sala. Fiquei<br />
alguns minutos em pé, olhando o quadro por<br />
vários ângulos, me agachando, me esticando,<br />
olhando todos os cantinhos; depois me sentei<br />
e minha cabeça começou a fumegar. Gustav,<br />
que coisa esquisita! Parecia uma visão. As<br />
mulheres ficam olhando para a gente de um<br />
modo… é hipnótico mesmo. Você vai achar bobagem,<br />
afinal é um racionalista, está interessado<br />
em discutir os grandes temas morais…<br />
Mas logo entendi que havia uma ideia naquele<br />
quadro, que ele não queria só mostrar<br />
cinco mulheres, ou ilustrar qualquer coisa.
Veja só. Duas dessas mulheres encaram o<br />
observador bem de frente, uma delas bem ao<br />
centro da tela. Estão com os braços para cima,<br />
dobrados, com as mãos atrás da nuca, como<br />
se oferecendo para quem olha para elas. Outras<br />
duas, à direita, não têm um rosto normal,<br />
embora semelhante ao daquelas duas. São<br />
máscaras africanas, como li depois. Dessas,<br />
a que está embaixo à direita, sentada (o corpo<br />
de costas, a cara de frente!), também encara o<br />
observador. Há uma quinta mulher, à esquerda,<br />
em pé, de perfil, que tem uma cara que é um<br />
meio-termo entre as duas normais e as duas<br />
africanas. Por que será?<br />
Há mais um monte de coisas estranhas,<br />
em especial um agrupamento de frutas (parecem<br />
ser um cacho de uvas, duas maçãs e<br />
uma fatia de melancia) no pé da tela, em cima<br />
de uma toalha branca. E não há um “fundo”<br />
na tela, Gustav! Nas laterais e entre as figuras<br />
parece haver umas cortinas amarfanhadas<br />
e dobradas, cada uma de uma cor (vermelho,<br />
branco e azul). É como se as mulheres estivessem<br />
no meio dessas cortinas, quase enroladas<br />
nelas. Aí fiquei pensando se elas não<br />
estariam deitadas, e se o jeito certo de ver o<br />
quadro não seria colocá-lo no chão e olhá-<br />
-lo de cima. Mas a mulher sentada à direita me<br />
fez entender que não. Então o que é aquilo?<br />
Onde elas estão? Num quarto, num gramado,<br />
numa praia, numa sala? Sei lá. Sei que o quadro<br />
não é “bonito”, Gustav, mas não consegui<br />
parar de olhar para ele. Eu nunca tinha visto<br />
nada igual.<br />
Vou lhe passar a imagem dele amanha, mas<br />
fique certo de que as cores ao vivo são outras.<br />
A pele delas, por exemplo, é perto da cor da<br />
pele natural, mas um pouco avermelhada, mais<br />
para o salmão, em relação ao que aparece nos<br />
livros. É uma cor estranha, meio agressiva. E<br />
o quadro tem umas áreas de preto, fortes, que<br />
parecem uns rasgos. Não sei se no computador<br />
vai-se ver assim.<br />
Amanhã conto um pouco do que estou lendo,<br />
agora não sei direito o que pensar. É incrível<br />
que esse sujeito tenha feito esse quadro<br />
em 1907! Dizem que foi um auê só quando ele<br />
foi exposto a primeira vez. Queria que você estivesse<br />
aqui, Gustav. Acho que nem o seu Dostoiévski<br />
explicaria o que significa esse quadro.<br />
Azar o seu. Bye!<br />
Fernando<br />
NY,21.10.95 (8h)<br />
Gustavo,<br />
Sou eu de novo. Só dormi algumas horas.<br />
As senhoritas de Avignon não me deixou dormir<br />
mais. Você deve estar dormindo a uma<br />
hora destas, mas não resisti a registrar umas<br />
coisas que pensei sobre o quadro. Que loucura<br />
que ele é. Você sabia que Picasso fez simplesmente<br />
setecentos desenhos preparatórios para<br />
ele? Vou repetir: setecentos. E eu nem sequer<br />
pensei se é bem pintado ou não. É diferente,<br />
com certeza. Mas, pense, setecentos estudos<br />
é algo impensável! Tem mais, meu caro: sabe<br />
quantos anos ele tinha quando começou a trabalhar<br />
no quadro, em 1906? Apenas vinte e cinco.<br />
(Ele nasceu em 1881 e viveu pra caramba:<br />
morreu só em 1973.) Não é impressionante?<br />
O que é mais curioso é que o quadro sugere<br />
um “problema”, uma “equação”, proposta e trabalhada<br />
pelo pintor. Não é arte como questão,<br />
entende? Não foi à toa que exigiu setecentos<br />
estudos. Ele não pintou por “inspiração”! Mesmo<br />
assim, saiu uma bagunça. Não é fácil entender,<br />
mas é fascinante tentar.<br />
O quadro, leio, fundou o Cubismo, um movimento<br />
que Picasso liderou quando morava em<br />
Paris, onde vivia desde 1904.<br />
Para continuar<br />
Conversa sobre o texto<br />
PIZA, Daniel. As senhoritas de Nova<br />
York. São Paulo: FTD, 1996.<br />
1. Você saberia dizer a idade aproximada de<br />
Gustavo e Fernando? Para responder a isso, observe<br />
a linguagem utilizada por eles: formas de<br />
tratamento, expressões, vocabulário, assunto da<br />
conversa, tipo de pontuação.<br />
Professor: Espera-se que os alunos notem<br />
que a linguagem de ambos é coloquial. Podem<br />
observar isso nas formas de tratamento (seus<br />
nomes iniciais), nas expressões que transmitem<br />
intimidade e/ou tom de brincadeira, em alguns<br />
detalhes (como a festa do colégio), na hora do<br />
e-mail (22h30), na menção à Adriana, na dependência<br />
financeira e a companhia em relação ao pai<br />
no comentário sobre a qualidade do papel higiênico.<br />
Podemos inferir que são adolescentes provavelmente<br />
entre 13 e 16 anos.<br />
P9
2. Em que espaço físico encontram-se Fernando<br />
e Gustavo, respectivamente?<br />
Fernando em Nova York, nos Estados Unidos,<br />
e Gustavo em São Paulo, no Brasil.<br />
3.<br />
P10<br />
Pense e responda:<br />
a) Os trechos escritos entre Gustavo e Fernan-<br />
do cobrem um período de quanto tempo?<br />
Cinco dias, pelos trechos lidos.<br />
b) Isso seria possível há 60 anos? Por quê?<br />
Isso não seria possível há 60 anos porque<br />
os meios de comunicação não seriam tão rápidos<br />
quanto nos últimos 15 anos. O computador e, mais<br />
especificamente, a internet são bastante recentes.<br />
Professor: Converse com os alunos sobre o fato<br />
de os e-mails serem de 1995, momento em que só<br />
a classe média alta brasileira tinha acesso a tais<br />
benefícios de comunicação. Caso seja de seu interesse,<br />
esclareça que há 60 anos o mundo acabava<br />
de sair da Segunda Guerra Mundial (1945), e uma<br />
carta levava semanas e, dependendo do lugar, até<br />
mesmo meses para chegar ao destinatário.<br />
c) Ao final de um dos e-mails, um dos amigos<br />
usa a palavra “câmbio”. O que isso sugere?<br />
A palavra “câmbio” é usada geralmente para<br />
abrir a comunicação via rádio. No contexto do email,<br />
o uso da palavra câmbio é uma brincadeira,<br />
talvez utilizada pelas personagens, ou porque<br />
estavam utilizando uma tecnologia ainda nova na<br />
época, ou porque ambos estavam geograficamente<br />
muito distantes um do outro. Há 50 anos, durante<br />
uma guerra, seria possível o uso de rádio, muito<br />
comum nos exércitos.<br />
4. Você deve ter notado que pequenos trechos<br />
das mensagens, por escrito, ficam entre parênteses.<br />
Nessas ocasiões, os parênteses foram usados<br />
para quê?<br />
Foram usados para esclarecer, ou seja, com<br />
caráter explicativo, que é típico deste sinal de<br />
pontuação.<br />
Professor: Vale ressaltar que, no caso de<br />
conversas por e-mails, o sinal de pontuação ressalta<br />
geralmente uma situação em que não é possível<br />
visualizar ou discernir algumas intenções ou<br />
tons, como o humor, a ironia; assim, é preciso es-<br />
crever para que fique claro ao interlocutor a intenção,<br />
como por exemplo (brincadeira).<br />
5. Em um dos trechos, Gustavo começa com<br />
“Fernan@net”. Por sua vez, Fernando chama o<br />
outro de “Gustav”. Entre esses dois personagens,<br />
tais formas de tratamento revelam o quê?<br />
Intimidade e bom humor. Os personagens ora<br />
fazem referência ao que estão lendo, como “traduzir”<br />
o nome de Gustavo para o russo: “Gustav”, ora<br />
para brincar, como o símbolo @ para as letras a/o.<br />
Texto com conteúdo<br />
Professor: Ressalte para o aluno que a função<br />
expressiva é uma característica do texto epistolar<br />
com trama narrativa “em que o emissor revela sua<br />
subjetividade impregnando as palavras de matizes<br />
afetivos e valorativos”. (kAUFMAN, 1995)<br />
6.<br />
Observe o uso das reticências no trecho:<br />
Não tenho tempo pra delongas hoje: vou àquela<br />
festa do colégio, sabe? Depois lhe conto…<br />
Quando usamos as reticências podemos<br />
querer que o destinatário de nosso texto complete<br />
ou tente imaginar aquilo que estamos imaginando.<br />
Se Fernando e Gustavo estivessem falando,<br />
a viva voz, talvez deixassem um silêncio entre as<br />
falas ou alterassem o tom de voz como que para<br />
sugerir algo.<br />
O que as reticências sugerem no trecho acima?<br />
Sugerem que o outro espere um próximo e-mail<br />
ou que imagine a tal festa.<br />
7. Faça um levantamento das expressões que<br />
os interlocutores usaram em língua inglesa.<br />
a) Você conhece o significado de todas elas?<br />
Caso os alunos não conheçam as expressões,<br />
proponha um trabalho com o professor de inglês ou<br />
auxilie-os com o uso de um dicionário.<br />
b) Agora, responda: qual a intenção em usar<br />
uma outra língua em meio aos e-mails escritos em<br />
língua portuguesa?<br />
A intenção é demarcar, com bom humor, o local<br />
da escrita dos e-mails de Fernando: os EUA,<br />
um país que usa a língua inglesa. Lembre-os também<br />
de que a função do destinatário é também
perceber que essas marcas em inglês fazem do outro<br />
uma espécie de “cúmplice” já que se supõe que ambos<br />
tenham nível de conhecimento de língua inglesa<br />
para perceber o que está dito nessas expressões.<br />
8. Além das formas de tratamento usadas, ao<br />
lermos as mensagens percebemos que Gustavo<br />
e Fernando fazem comentários sobre uma pessoa<br />
comum aos dois. Que personagem é esta? E<br />
que palavra (um verbo) ambos usam para referirse<br />
a ela?<br />
A personagem é Adriana. Ambos usam o<br />
verbo “cuidar” para falar dela: supõem-se pelo<br />
trecho que Fernando é o namorado que está longe<br />
e Gustavo o amigo que dá as informações sobre<br />
Adriana.<br />
9. A intimidade entre eles nos é revelada, também,<br />
pelo quanto um conhece da vida familiar do<br />
outro. Que impressões temos sobre o pai de Gustavo?<br />
E sobre o pai de Fernando?<br />
O pai de Fernando parece ser bastante companheiro<br />
e amigo. Pelo comentário que Fernando<br />
faz a respeito da relação de Gustavo com o pai,<br />
parece que isso não ocorre com o amigo, já que há<br />
referência a um certo “rancor” em um dos comentários<br />
entre aspas do e-mail de 21/10/95, às 2h.<br />
Texto com conteúdo<br />
Professor: Caso algum aluno indique que<br />
parece haver uma relação entre o que Gustavo<br />
lê e o que acontece em sua vida, comente que<br />
é provável que os garotos estejam se referindo<br />
a um tema da biografia do escritor russo Fiodor<br />
Dostoiévski: o pai por quem nutriu “rancor” (o que<br />
não se sabe ao certo) foi assassinado por seus<br />
colonos porque os explorava, na Rússia czarista.<br />
Outras versões dizem que o pai do escritor morreu<br />
de alguma doença. Até mesmo Freud estudou<br />
o caso de Dostoiévski e o considerava autor<br />
do melhor livro do mundo Os irmãos Karamazov.<br />
Mas, não faça da questão biográfica do autor a<br />
sua maior qualidade, assim como apontou Freud,<br />
o que importa é o texto de Dostoiésvki, e, para<br />
nós, neste momento, o texto de Daniel Piza.<br />
10. Para relatar suas primeiras impressões a cerca<br />
da cidade, Fernando compara Nova York com<br />
que outra cidade? Por que ele também cita filmes<br />
para referir-se a Nova York?<br />
Fernando compara Nova York a São Paulo,<br />
pois é seu ponto de referência: de onde ele vem e<br />
onde o amigo está. Cita os filmes porque os americanos<br />
mostram cenas de Nova York em vários<br />
deles, e os filmes americanos estão presentes na<br />
vida da maioria dos brasileiros.<br />
11. Gustavo lê Crime e castigo, do escritor russo<br />
Fiodor Dostoiésvki, obra escrita em 1866. Que impressões<br />
temos dessa obra ao lermos os comentários<br />
de Fernando?<br />
No e-mail de 21/10/95, sabemos que o livro<br />
muda a vida de Gustavo, que nele há ideias, das<br />
quais Fernando discorda, sobre Deus e liberdade<br />
e sobre temas morais.<br />
Sugestão didática<br />
Professor: Caso queira, selecione, na biblioteca,<br />
a obra em questão e leia alguns trechos para os alunos.<br />
Crime e castigo está disponível na íntegra em<br />
muitos sites. Também existe uma versão cinematográfica<br />
nacional chamada “Nina” que transpõem o<br />
texto russo para a São Paulo contemporânea.<br />
12. Em visita ao Museu de Arte Moderna (MoMA),<br />
em Nova York, Fernando conhece a tela As senhoritas<br />
de Avignon, do pintor espanhol Pablo Picasso.<br />
Texto com conteúdo<br />
Professor: Como usamos a expressão “página”,<br />
acrescentamos que na sua origem esta palavra<br />
significava “o miolo dos talos de papiro” (Houaiss<br />
eletrônico), planta de onde advém um dos<br />
tipos de papel que já citamos ao iniciar o capítulo;<br />
portanto, se considerar interessante, e sua turma<br />
tiver maturidade, pode encaminhar uma discussão<br />
sobre como guardamos nossas informações<br />
e memórias ao longo da história da humanidade e<br />
como fazemos para resgatá-las quando precisamos,<br />
ou seja, a “página” tem um “endereço” para<br />
que possamos localizar uma informação quando<br />
precisarmos dela.<br />
P11
MOMA<br />
Se fizermos uma busca em páginas da internet, encontraremos o endereço do museu, uma foto de<br />
como é a entrada do museu em Nova York e uma reprodução da tela de Picasso:<br />
P12<br />
wIkIPEDIA/MUSEU DE ARTE MODERNA, NOVA YORk<br />
Les demoiselles d’Avignon, obra de Pablo Picasso (1881-1973). Paris, 1907. Óleo sobre tela, 8’ x 7’ 8” (243.9 x 233.7 cm)<br />
Um dos comentários de Fernando a cerca dessa<br />
obra é sobre a quantidade de esboços feitos antes<br />
que o quadro fosse pintado. Outro comentário<br />
é sobre o fato de que o quadro parece não ter fundo.<br />
Que outros comentários feitos por Fernando lhe<br />
chamaram a atenção? Por quê? Você discorda dos<br />
comentários de Fernando sobre o quadro?<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Pontue a discussão para que releiam<br />
o trecho do e-mail observando o que Fernando<br />
descreve, como o trecho da cor da pele das<br />
mulheres. Faça-os observar o tamanho do quadro<br />
que Fernando está olhando no MoMA, ou seja, é<br />
um quadro com quase 2 metros e meio (indique<br />
para eles as referências abaixo da tela); por isso,<br />
a perspectiva de Fernando é muito diferente de<br />
quem observa isso no papel, como o amigo Gustavo<br />
fará em São Paulo. A indefinição do fundo é<br />
outro ponto que pode levantar uma discussão interessante:<br />
que lugar é este? Por que não há fundo?<br />
O próprio site do museu comenta este fato,<br />
uma brincadeira de Picasso, referente ao título do<br />
quadro: Avignon é uma rua de Paris conhecida<br />
por seus bordéis, no início do século XX.<br />
Mesmo que tenhamos lido apenas alguns trechos<br />
da obra As senhoritas de Nova York, é possível<br />
perceber que a arte (o livro e o quadro, nestes
casos) exerceu influência sobre Fernando e Gustavo.<br />
Leia a seguir um pequeno texto, escrito por Daniel<br />
Piza, sobre si mesmo e sobre suas experiências com<br />
a arte na adolescência e ao longo de sua vida:<br />
Autobiografia<br />
Tive um estalo na minha adolescência<br />
quando conheci algumas obras de arte; no<br />
meu caso, elas foram de Dostoiévski, Picasso<br />
e Machado de Assis, o homem que melhor manejou<br />
nosso idioma.<br />
Eu tinha entre catorze e dezesseis anos e<br />
troquei ansiosamente minhas impressões por<br />
carta com um amigo do colégio Bandeirantes,<br />
em São Paulo, cidade onde nasci e moro.<br />
Desde então, minha vida mudou. Hoje, sou jornalista<br />
cultural. Trabalhei em O Estado de S.<br />
Paulo e na Folha de S.Paulo como redator, repórter<br />
e editor assistente. Atualmente, sou editor<br />
de cultura da Gazeta Mercantil, onde estou<br />
vivendo a grande experiência de coordenar um<br />
suplemento voltado ao que há de melhor nas<br />
artes do Brasil e do mundo. Sou especializado<br />
na cobertura de artes plásticas e literatura,<br />
mas faço minhas intervenções em música,<br />
teatro, cinema, gastronomia, futebol, viagem…<br />
Tenho também praticado todas as formas de<br />
texto jornalístico: reportagem, crítica, entrevista,<br />
ensaio, polêmica. Além disso, sou tradutor.<br />
Já traduzi oito livros de inglês e francês e<br />
destaco entre eles Benito Cereno, de Herman<br />
Melville (Imago, 1993), A máquina do tempo,<br />
de H. G. wells (Nova Alexandria, 1994), e A<br />
arte da ficção, de Henry Gomes (Imaginário,<br />
1995). Também organizei em forma de verbetes<br />
um livro com o melhor do jornalista Paulo<br />
Francis, Waaal — O dicionário da corte (Companhia<br />
das Letras, 1996); naquela fase em que<br />
descobri a leitura, Francis foi um guia amplo e<br />
um modelo de independência de espírito. As<br />
senhoritas de Nova York é meu primeiro livro e<br />
já planejo outros, nas áreas de ficção e não ficção<br />
ou nesse meio-termo em que essa obra de<br />
estreia se encontra. Sou casado há dois anos<br />
com Cristiane, a quem Machado definiria simplesmente<br />
como “um lírio do vale”, e ainda não<br />
tenho filhos. Gosto de viajar, de jogar futebol,<br />
de jantar fora, de ler sobre tudo. E acho que<br />
os amigos são o que há de mais importante na<br />
nossa vida.<br />
PIZA, Daniel. As senhoritas de Nova<br />
York. São Paulo: FTD, 1996.<br />
13. Agora, responda:<br />
Uma obra de arte pode transformar uma<br />
pessoa, ou seja, pode contribuir para que ela<br />
modifique seu olhar sobre o mundo? O que é o<br />
“estalo” de que Daniel Piza fala logo no início de<br />
sua “autobiografia”? Discuta com seus colegas e<br />
anote suas conclusões.<br />
Sim, pode transformar uma pessoa. O “estalo”<br />
a que se refere Daniel Piza é uma tomada<br />
de consciência sobre o funcionamento da arte<br />
e suas formas, como se tivesse “acordado” para<br />
como a arte está presente no cotidiano de todos<br />
nós, com maior ou menor grau de refinamento.<br />
Professor: Aceite as respostas, que são<br />
pessoais, contudo intervenha na discussão: a<br />
tendência dos alunos é falar do que conhecem<br />
como arte — cabe a você conduzir e refinar tais<br />
conhecimentos para que a discussão não caminhe<br />
para coisas que viram ou ouviram apenas na<br />
televisão. Coloque na lousa as ideias discutidas,<br />
pergunte o que os emocionou, se já sofrem o tal<br />
“estalo” com uma canção, uma foto, um filme ou<br />
outras formas de arte. Faça-os notar que Piza<br />
cita, além de Machado de Assis, o escritor e jornalista<br />
Paulo Francis, com quem conviveu.<br />
Para continuar<br />
O texto no contexto<br />
Em As senhoritas de Nova York, lemos cartas<br />
em formato de e-mails com uma trama narrativa,<br />
ou seja, cartas mostrando fatos e ações em uma<br />
sequência de tempo e causa. Por exemplo, Fernando<br />
visita Nova York e Gustavo vai à festa do<br />
colégio; ao mesmo tempo, discutem um livro e um<br />
quadro e, também, preocupam-se com Adriana.<br />
Isso é parte da trama da narrativa, ou seja,<br />
como a história nos será contada. Nesse caso,<br />
por meio das mensagens eletrônicas entre os<br />
dois adolescentes.<br />
Outro fator importante é que entre o emissor<br />
(Gustavo — Fernando) e o receptor (Fernando —<br />
Gustavo) há a subjetividade, isto é, as palavras estão<br />
com seus valores afetivos. Como As senhoritas<br />
de Nova York é também uma obra literária, o autor<br />
Daniel Piza tem a intenção ao criar uma estética;<br />
em outras palavras, um jeito de contar a história.<br />
E se uma carta não tem trama narrativa? E<br />
quando o emissor não conhece pessoalmente<br />
seu interlocutor, seu destinatário? Como seria<br />
uma carta em que você pede algo a alguém que<br />
não conhece?<br />
P13
Texto com conteúdo<br />
Professor: As variantes entre o português de<br />
uso corrente em Moçambique e o nosso, no Brasil,<br />
devem ser respeitadas.<br />
Não há nada que prejudique a leitura ou a<br />
interpretação do texto a seguir. É perfeitamente<br />
possível ler o texto e saber que “Vietname” é Vietnã,<br />
“Irão” é o mesmo Irã. Portanto, ao terminar,<br />
use pequena biografia do fim deste caderno, para<br />
ilustrar e ampliar os conhecimentos de seus alunos<br />
sobre os países de língua portuguesa, bem<br />
como sobre o escritor Mia Couto do qual leremos<br />
uma outra carta no capítulo 1 de redação.<br />
O objetivo dessa carta argumentativa é postar<br />
uma reivindicação, e sua argumentação é o objetivo<br />
da análise a seguir.<br />
Peça aos alunos para grifar os elementos de<br />
vocabulário que desconhecem e verificá-los no<br />
vocabulário após a leitura do texto.<br />
Leia, a seguir, um trecho do texto “Carta ao presidente<br />
Bush”, do livro Pensatempos do escritor<br />
moçambicano Mia Couto dirigida ao ex-presidente<br />
dos Estados Unidos da América, George w. Bush:<br />
Senhor Presidente:<br />
Sou um escritor de uma nação pobre, um<br />
país que já esteve na vossa lista negra. Milhões<br />
de moçambicanos desconheciam que mal vos<br />
tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres:<br />
que ameaça poderíamos constituir? A nossa<br />
arma de destruição massiva estava, afinal, virada<br />
contra nós: era a fome e a miséria. […]<br />
Pois eu, pobre escritor de um pobre país,<br />
tive um sonho. Como Martin Luther king certa<br />
vez sonhou que a América era uma nação<br />
de todos os americanos. Pois sonhei que eu<br />
era não um homem, mas um país. Sim, um<br />
país que não conseguia dormir. Porque vivia<br />
sobressaltado por terríveis fatos. E esse temor<br />
fez com que eu proclamasse uma exigência.<br />
Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro<br />
Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos<br />
da América procedessem à eliminação do seu<br />
armamento de destruição massiva. Por razão<br />
desses terríveis perigos eu exigia mais: que<br />
inspectores das Nações Unidas fossem enviados<br />
para o vosso país. Que terríveis perigos<br />
me alertavam? Que receios o vosso país me<br />
inspirava? Não eram produtos de sonho, infelizmente.<br />
Eram fatos que alimentavam a minha<br />
desconfiança. A lista é tão grande que escolherei<br />
apenas alguns:<br />
P14<br />
— Os Estados Unidos foram a única nação<br />
do mundo que lançou bombas atômicas sobre<br />
outras nações.<br />
— O seu país foi a única nação a ser condenada<br />
por “uso ilegítimo da força” pelo Tribunal<br />
Internacional de Justiça.<br />
— Forças americanas treinaram e armaram<br />
fundamentalistas islâmicos mais extremistas<br />
(incluindo… Bin Laden) a pretexto de derrubarem<br />
os invasores russos no Afeganistão.<br />
— O regime de Saddam Hussein foi apoiado<br />
pelos EUA enquanto praticava as piores<br />
atrocidades contra os iraquianos (incluindo o<br />
gaseamento dos curdos em 1988).<br />
— Como tantos outros dirigentes legítimos,<br />
o africano Patrice Lumumba foi assassinado<br />
com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado<br />
e baleado na cabeça, o seu corpo foi dissolvido<br />
em ácido clorídico.<br />
— Como tantos outros fantoches, Mobutu<br />
Sese Seko foi por vossos agentes conduzido<br />
ao poder e concedeu facilidades especiais à<br />
espionagem americana: o quartel-general da<br />
CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A<br />
ditadura brutal deste zairense não mereceu<br />
nenhum reparo dos EUA até que ele deixou<br />
de ser conveniente, em 1992.<br />
— A invasão de Timor-Leste pelos militares<br />
indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando<br />
as atrocidades foram conhecidas, a resposta<br />
da Administração Clinton foi “o assunto é da<br />
responsabilidade do governo indonésio e não<br />
queremos retirar-lhe essa responsabilidade”.<br />
[…]<br />
— Desde a Segunda Guerra Mundial, os<br />
EUA bombardearam: a China (1945-1946), a<br />
Coreia e a China (1950-1953), a Guatemala<br />
(1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961),<br />
a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru<br />
(1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-<br />
1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala<br />
(1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-<br />
1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua<br />
(1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o<br />
Iraque (1990-2001), o kuwait (1991), a Somália<br />
(1993), a Bósnia (1994-1995), o Sudão (1998), o<br />
Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)…<br />
— Ações de terrorismo biológico e químico<br />
foram postas em prática pelos EUA: o agente<br />
laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus<br />
da peste contra Cuba que durante anos devastou<br />
a produção suína naquele país.
— O wall Street Journal publicou um relatório<br />
que anunciava que 500 mil crianças vietnamitas<br />
nasceram deformadas em consequência da<br />
guerra química das forças norte-americanas.<br />
Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo<br />
da realidade. A guerra que o Senhor Presidente<br />
teimou em iniciar poderá libertar-nos de<br />
um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres.<br />
Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas<br />
já precárias economias e teremos menos<br />
esperança num futuro governado pela razão e<br />
pela moral […] Estaremos, enfim, mais sós e<br />
mais desamparados.<br />
[…]<br />
Senhor Presidente:<br />
Sua Excelência parece não necessitar que<br />
uma instituição internacional legitime o seu direito<br />
de intervenção militar. Ao menos que nós<br />
possamos encontrar moral e verdade na sua argumentação.<br />
Eu e mais milhões de cidadãos não<br />
ficamos convencidos quando o vimos justificar a<br />
guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção<br />
de kyoto para conter o efeito de estufa. Preferíamos<br />
tê-lo visto em Durban na Conferência<br />
Internacional contra o Racismo.<br />
Não se preocupe, senhor Presidente. A nós,<br />
nações pequenas deste mundo, não nos passa<br />
pela cabeça exigir […]. A maior ameaça que pesa<br />
sobre a América não são armamentos de outros.<br />
É o universo de mentira que se criou em redor<br />
dos vossos cidadãos. […] O seu inimigo principal<br />
não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra<br />
só pode ser vencida pelos próprios americanos.<br />
Eu gostaria de poder festejar […]. E festejar<br />
com todos os americanos. Porque nós, caro Presidente<br />
Bush, nós, os povos dos países pequenos,<br />
temos uma arma de construção massiva: a<br />
capacidade de pensar.<br />
COUTO, Mia. Pensatempos. Lisboa: Caminho, 2005.<br />
Para continuar<br />
Conversa sobre o texto<br />
1. Verifique se há outra palavra ou informação<br />
no texto além das que estão no vocabulário a seguir,<br />
que você não conheça. Caso haja, anote-as<br />
e procure em um dicionário ou enciclopédia, de<br />
acordo com o tipo de dúvida. Por exemplo, “suíno”<br />
é uma palavra cujo significado você encontra<br />
no dicionário; já “Martin Luther king”, você terá<br />
que procurar em uma enciclopédia.<br />
Massiva: em massa; relativo a um grande número de<br />
pessoas (arma de destruição em massa indica aquela<br />
que mata muitas pessoas de uma só vez como: agente<br />
laranja, fototoxina, bomba atômica.)<br />
Legitimar: legalizar, justificar.<br />
Martin Luther King: pacifista americano conhecido<br />
pela frase “Eu tive um sonho”; lutou para que os direitos<br />
do cidadão negro americano fossem respeitados<br />
e legitimados.<br />
Pretexto: desculpa.<br />
Atrocidade: crueldade, barbaridade, tortura, assassinato.<br />
Gaseamento: ação de asfixiar, matar com gases<br />
nocivos.<br />
Curdo: povo habitante do Curdistão, território montanhoso<br />
situado entre a Turquia e o Irã.<br />
CIA (Central Intelligence Agency): agência americana<br />
de inteligência.<br />
Fantoche: boneco com movimentos.<br />
Acido clorídrico: substância corrosiva, que dissolve.<br />
Conceder: dar, permitir.<br />
Clinton: ex-presidente americano, que antecedeu a<br />
George w. Bush.<br />
Agente laranja: é um desfolhante, resultado da combinação<br />
de dois herbicidas, isto é, agentes destruidores<br />
dos vegetais. A sua utilização racional pode ser de<br />
grande utilidade para a agricultura, mas se se empregarem<br />
noutras condições, são uma agressão terrível<br />
contra o ambiente, pois aniquilam em prazo mais ou<br />
menos curto a flora e fauna das regiões onde são lançados.<br />
A destruição maciça de árvores e de colheitas<br />
provoca a desnudação do solo que, exposto à erosão<br />
é à ação do Sol, em pouco tempo fica estéril e impróprio<br />
para a agricultura.<br />
Suíno: de porco.<br />
Wall Street Journal: respeitado jornal americano,<br />
cuja sede fica em Nova York.<br />
Organização das Nações Unidas (ONU): criada<br />
após a Segunda Guerra Mundial para levar a conciliação<br />
entre os países do mundo, os inspetores da ONU<br />
têm, entre outras, a função de fiscalizar, mediante denúncias,<br />
se as nações possuem ou utilizam armas de<br />
destruição em massa.<br />
P15<br />
wIkIMEDIA
wIkIMEDIA<br />
2.<br />
P16<br />
Leia o quadro a seguir:<br />
Os textos com trama argumentativa comentam,<br />
explicam, apresentam e confrontam<br />
ideias. Geralmente, organizam-se em três partes:<br />
uma introdução, que apresenta um tema,<br />
um problema sobre o qual se toma uma posição;<br />
um desenvolvimento, que traz a causa e<br />
o efeito de algumas ações, expõe ideias contra<br />
ou a favor do assunto, e mostra o que outras<br />
pessoas disseram sobre o tema; e uma conclusão,<br />
que normalmente é uma proposta de<br />
solução ao problema apresentado na introdução<br />
e/ou desenvolvimento (adaptado de kaufman,<br />
1995, p. 17).<br />
De acordo com o que lemos em “Carta ao<br />
presidente Bush”, o texto de Mia Couto é um texto<br />
com trama argumentativa.<br />
a) Volte ao primeiro parágrafo e responda: qual o<br />
assunto da carta?<br />
Desarmamento ou armas de destruição em<br />
massa.<br />
b) Geralmente, usamos a expressão “lista negra”<br />
para denominar os inimigos de algo ou alguém. Por<br />
que o escritor usou essa expressão?<br />
O autor situa a posição do presidente americano<br />
diante do mundo como se ele fosse inimigo do<br />
mundo, mas não que o mundo seja inimigo dele. Mia<br />
Couto também usa a expressão “lista negra” porque<br />
não consegue entender que motivos levam uma nação<br />
a financiar guerras em outras nações, embora<br />
saibamos que os motivos são econômicos (muitos<br />
dos países citados no texto possuem petróleo, a indústria<br />
de armas americana lucra com guerras etc.).<br />
c) Em uma carta, a apresentação de quem a es-<br />
creve já é um elemento para tentar convencer o leitor<br />
de suas ideias. Como o autor da carta se apresenta?<br />
Como um escritor de um país pobre. Ou com<br />
humildade.<br />
d) A quem se destina esta carta? Você supõe<br />
que Bush conheça Mia Couto? Se não, explique.<br />
A carta é destinada a Bush, contudo o emissor<br />
e o destinatário não se conhecem. A carta em<br />
questão é o que chamamos de carta “aberta”, ou<br />
seja, tem um destinatário específico, mas é feita<br />
para que todos os interessados possam ler. Não há<br />
sinal de intimidade porque é um texto com tom de<br />
denúncia, com a intenção de convencer seu suposto<br />
destinatário a mudar uma atitude. A carta, na verdade,<br />
destina-se às pessoas que querem a paz.<br />
e) Para nos dirigirmos a um interlocutor que não<br />
conhecemos e ao escrevermos um texto que muitas<br />
pessoas lerão, temos que usar algumas formas<br />
de tratamento e deixar claro quem evocamos. Que<br />
formas o escritor usou ao longo do texto para se<br />
referir ao presidente Bush?<br />
Pronomes de tratamento, como “Sua Excelência”;<br />
pronomes em segunda pessoa do plural, como<br />
“vossa”, “vos”; adjetivo como forma de tratamento,<br />
como em “caro”; uso de vírgulas para separar o<br />
vocativo e, também, o uso de dois-pontos. O autor<br />
também usa frases interrogativas e os advérbios<br />
“sim” e “não”.<br />
Professor: Volte ao texto com os alunos e<br />
faça-os grifar tais marcas, para que possam visualizar<br />
a estrutura no texto.
f) A maneira como Gustavo e Fernando trata-<br />
vam-se no texto anterior era bastante informal.<br />
Nesta carta, destinada a um presidente, o tratamento<br />
da linguagem foi informal?<br />
Não, o tratamento é diferente: o uso é formal,<br />
principalmente se considerarmos os exemplos da<br />
resposta anterior.<br />
g) Uma das formas de dialogar e aproximar o<br />
leitor e o destinatário de uma carta é utilizando<br />
frases interrogativas. Isso ocorre em que parágrafos<br />
do texto da carta de Mia Couto?<br />
No primeiro e segundo parágrafos.<br />
Professor: Explique que “são perguntas que se<br />
encerram em si próprias”, ou seja, não esperam uma<br />
resposta; são, na verdade, perguntas “retóricas”.<br />
h) No primeiro e segundo parágrafos, há uma<br />
expressão que se repete e é fundamental para o<br />
entendimento do texto. Que expressão é esta?<br />
A expressão “destruição massiva” que será<br />
retomada no último parágrafo do texto.<br />
3. A partir do segundo parágrafo da carta, podemos<br />
dizer que o escritor já iniciou o desenvolvimento<br />
de sua trama argumentativa.<br />
AFP<br />
a) Que personalidade ele cita para dar veraci-<br />
dade a seu sonho?<br />
Martin Luther king.<br />
b) Qual foi o sonho do escritor?<br />
Sonhou que era um país e exigia do presidente<br />
americano que a paz fosse estabelecida,<br />
sonhou que os inspetores da ONU em vez de<br />
andarem pelos países pobres, investigassem um<br />
país rico como os EUA.<br />
c) Com o trecho: “não era produto de sonho in-<br />
felizmente”, que fatos o autor quer denunciar com<br />
o uso da palavra produto e lista?<br />
O autor passa a enumerar as guerras e invasões<br />
promovidas pelos americanos desde a Segunda<br />
Guerra Mundial.<br />
Professor: O aluno poderá responder com<br />
qualquer um dos itens da “lista”.<br />
d) Após o segundo vocativo, no meio do texto,<br />
temos “pesadelo do sono para o pesadelo da realidade”.<br />
O que isso significa?<br />
O escritor, como recurso argumentativo,<br />
descobre que o pesadelo da “lista” é um fato, portanto,<br />
ele acorda para a “realidade”.<br />
4. Segundo Mia Couto, quais atitudes benéficas<br />
Bush poderia ter tomado em vez de promover<br />
guerras?<br />
Ele cita o fato de o presidente americano recusar-se<br />
a assinar o Protocolo de kyoto, que toma<br />
medidas contra o efeito estufa, e também recusar-<br />
-se a participar de atos contra o racismo.<br />
P17<br />
wIkIMEDIA
wIkIMEDIA<br />
5. Qual é o maior inimigo dos EUA, segundo o<br />
emissor da carta? Comprove com um trecho do<br />
texto.<br />
O maior inimigo é a mentira. “É o universo de<br />
mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos.<br />
[…] O seu inimigo principal não está fora. Está dentro<br />
dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos<br />
próprios americanos.”<br />
6. Ao começar a concluir a carta, o emissor diz<br />
que quer festejar junto aos americanos. O que você<br />
supõe que ele queira festejar?<br />
O desarmamento. A paz.<br />
7. No último parágrafo, próximo de concluir a<br />
carta, o autor retoma uma expressão do primeiro<br />
e segundo parágrafos, só que de forma contrária.<br />
Que expressão é esta e como isso auxilia na conclusão<br />
do texto? Explique.<br />
Em oposição à “destruição massiva”, o autor<br />
usa “construção massiva”, para referir-se à capacidade<br />
de pensar, ou seja, quem pensa não se arma,<br />
não destrói, só constrói.<br />
8. Além da trama argumentativa, a carta é um<br />
texto com função apelativa, que tem como objetivo<br />
modificar um comportamento. Apela-se para convencer<br />
o leitor de que a argumentação apresentada<br />
está correta. Você acredita que atitudes públicas,<br />
como esta do escritor, possam contribuir para resolver<br />
os grandes problemas de nosso tempo?<br />
Resposta pessoal.<br />
Professor: Conduza para uma discussão sobre<br />
a postura das personalidades públicas diante dos problemas<br />
mundiais e como isso influencia ou não uma<br />
tomada de consciência em relação a certos temas.<br />
P18<br />
Para continuar<br />
Conexão/conceito<br />
Estilística<br />
Um livro de gramática geralmente traz, no índice<br />
ou no sumário, os termos: fonologia, morfologia,<br />
sintaxe, semântica e estilística.<br />
Neste capítulo, vamos estudar a estilística, parte<br />
da gramática que trata das figuras de linguagem<br />
também chamadas de figuras de estilo.<br />
Figuras de linguagem<br />
Figuras de linguagem são recursos especiais,<br />
formas diferentes que podem ser usadas<br />
por quem fala ou escreve para comunicar-se com<br />
mais força, com mais beleza, ou seja, em sentido<br />
figurado, menos comum.<br />
Como já vimos em outros anos, o sentido figurado<br />
assume um significado derivado, ou seja, uma<br />
espécie de desvio do que é mais comum usar. Veja<br />
este exemplo:<br />
“… um país que já esteve na vossa lista negra”.<br />
O que significa a expressão em negrito? Anote<br />
sua explicação dentro do quadro a seguir.<br />
É uma lista de pessoas, empresas, instituições<br />
boicotadas por um grupo, sociedade, país<br />
ou por um conjunto de pessoas com as quais se<br />
corta ou se evita qualquer contato, por se terem<br />
revelado indignas de apreço ou confiança. Neste<br />
caso, o escritor referia-se ao fato de o país Moçambique<br />
pertencer à lista de nações a quem a<br />
política americana “maltrata”.<br />
Você notou que teve de recorrer ao dicionário ou<br />
a outras expressões para explicar o significado de<br />
“lista negra”? Embora seja uma expressão bastante<br />
popular, é difícil explicá-la com nossas palavras.<br />
Isso ocorre porque está em sentido figurado, ou<br />
seja, foi necessário intensificar a ideia ou desviá-<br />
-la da ideia de “um item embaixo do outro” ou da<br />
ideia de “cor”, que seriam os sentidos comuns da
expressão “lista negra”. No sentido figurado, ela se<br />
desvia: assume o sentido de “negra” por ser uma<br />
cor intensa visualmente e no sentido de “lista” por<br />
ser algo posto à parte, na diferença.<br />
Você já imaginou que pode encontrar ou mesmo<br />
empregar, ao longo de sua vida, um número infinito<br />
de sentidos figurados para dar maior significado<br />
a palavras ou expressões? Não podemos prever<br />
o sentido figurado que nascerá para uma palavra<br />
ou expressão. Isso ocorre porque a língua é viva e<br />
se torna ainda mais viva e pulsante nas mãos dos<br />
grandes escritores e poetas. Entretanto, podemos<br />
explicar os mais diversos tipos de sentidos figurados<br />
por meio das figuras de linguagem.<br />
As figuras de linguagem podem ser divididas<br />
em três tipos: as figuras de palavras, as figuras de<br />
construção e as figuras de pensamento.<br />
A seguir analisaremos cada uma delas:<br />
Figuras de palavras<br />
As figuras de palavras consistem na substituição<br />
de uma palavra por outra, isto é, no emprego figurado,<br />
simbólico, de uma palavra por outra, quer por<br />
uma relação muito próxima, quer por uma associação,<br />
uma comparação, ou seja, são os desvios de<br />
significado para se atingir um efeito expressivo.<br />
Uma figura de palavra bastante usada é a metonímia,<br />
palavra que vem do grego metonymia, “além do<br />
nome”, “mudança de nome”. Observe os exemplos:<br />
Sua carta sobre Dostoiésvki me espantou…<br />
(Dostoiésvki é o autor do livro; o que Gustavo<br />
lê é a obra dele.)<br />
Hoje à tarde eu vi Picasso…<br />
(Picasso é o pintor; o que Fernando viu foi o<br />
quadro de Picasso.)<br />
Nesses dois exemplos, temos o nome dos autores<br />
no lugar de suas obras.<br />
A seguir, foi empregado o efeito pela sua causa:<br />
Os aviões americanos semearam a morte<br />
em vários continentes.<br />
(Os aviões americanos semeavam bombas /<br />
que matam/ mortíferas em vários continentes.)<br />
Dizemos que ocorreu uma metonímia:<br />
A metonímia é uma figura de linguagem<br />
que usa uma palavra por outra porque há<br />
uma relação de dependência, de proximidade<br />
ou contiguidade.<br />
Se fizéssemos um gráfico, poderíamos ter:<br />
Crime e Castigo<br />
(livro)<br />
As senhoritas<br />
do Avignon<br />
(quadro)<br />
Morte<br />
Dostoiésvki Picasso Bomba<br />
Por esse motivo, uma metonímia é uma figura<br />
de palavras.<br />
Professor: Se preferir, peça aos alunos que<br />
pesquisem em jornais ou mesmo na internet os<br />
exemplos solicitados. Se possível, coloque na lousa<br />
os vários exemplos encontrados pela turma e<br />
faça uma discussão com a classe.<br />
Figuras de pensamento<br />
As figuras de pensamento são os desvios na<br />
construção de uma ideia que, normalmente, referem-se<br />
à emoção, ao sentimento, à paixão. Uma<br />
figura de pensamento utiliza um processo de entendimento<br />
que ocorre no plano das ideias.<br />
Recorde que Mia Couto iniciou a carta argumentativa<br />
usando a expressão “destruição massiva”, depois<br />
desenvolveu exemplos de como o presidente americano<br />
liderava essa “destruição massiva”, ao final do<br />
texto usou uma expressão contrária para mostrar a<br />
sua mensagem e concluir o texto: “construção massiva”<br />
para dizer como os países pobres combatem a<br />
“destruição”. Dizemos que ocorreu uma antítese.<br />
A antítese é uma figura de pensamento que<br />
expressa uma ideia com sentido oposto.<br />
É um recurso de estilo que pode ocorrer em um<br />
texto mais longo, como no exemplo da carta, ou em<br />
um exemplo com apenas uma frase:<br />
Não é fácil entender, mas é fascinante tentar!<br />
Esse exemplo consiste em um trecho em que<br />
Fernando conclui sua análise sobre o quadro de Picasso,<br />
observe:<br />
Não entender / mas tentar<br />
fácil/ fascinante.<br />
A ação de “não entender” é um pensamento oposto<br />
a “mas tentar”.<br />
Mesmo sendo ideias opostas, resumem uma mensagem:<br />
“não entendo e continuo tentando entender”.<br />
É um período em que se desenvolve uma antítese.<br />
P19
Outra figura de pensamento, bastante usada no<br />
cotidiano, é a hipérbole.<br />
P20<br />
Observe:<br />
Fernando diz a Gustavo, comentando sobre o<br />
quarto de hotel:<br />
Morra de inveja…<br />
Esta é uma afirmação expressiva e não significa<br />
que Fernando deseje a morte do amigo, ou que<br />
seja possível morrer de algo cuja causa seja inveja.<br />
Apenas significa que ele está achando o quarto<br />
muito bom e que todo mundo gostaria de estar em<br />
um quarto como aquele.<br />
Podemos definir:<br />
A hipérbole é uma figura de pensamento<br />
que expressa afirmação exagerada.<br />
Uma figura de pensamento muito importante é<br />
a ironia, usada quando se tem a intenção de sarcasmo,<br />
ou seja, quando se está pensando o contrário<br />
do que se está dizendo ou escrevendo.<br />
Por exemplo, em determinado momento da carta<br />
ao presidente, o escritor diz:<br />
Não se preocupe, presidente.<br />
Nesse caso, o escritor está sendo sarcástico,<br />
irônico, porque a carta e o seu conteúdo são justamente<br />
motivos de grandes preocupações não só<br />
para um presidente, mas para toda a humanidade.<br />
Quando ele escreve “não”, na verdade quer dizer:<br />
“Sim, preocupe-se, presidente!”. Assim, podemos<br />
definir:<br />
Ironia é a figura de pensamento que se usa<br />
para dizer o contrário do que se está pensando,<br />
com tom de sarcasmo.<br />
Uma figura de pensamento que apareceu várias<br />
vezes nos textos entre Gustavo e Fernando foi a<br />
reticência, ou seja, quando deixamos um espaço<br />
(representado pela reticência) para que o pensamento<br />
de quem lê ou ouve preencha o que não<br />
foi dito ou escrito.<br />
As mulheres ficam olhando pra gente de um<br />
modo… é hipnótico mesmo.<br />
Neste caso, logo a seguir o garoto completou<br />
o pensamento, mas houve uma espécie de intervalo,<br />
representado pela reticência, em que nós,<br />
leitores, tentamos preencher que “modo de olhar”<br />
seria esse.<br />
Portanto:<br />
Reticência é uma figura de pensamento<br />
em que o pensamento é suspenso, interrompido,<br />
escondido.<br />
Figuras de construção<br />
As figuras de construção são os desvios da<br />
norma gramatical — seu objetivo também é atingir<br />
uma expressão.<br />
Uma figura de construção tem esse nome porque<br />
acaba por desviar, ou melhor, construir o que<br />
queremos dizer ou escrever para uma maneira<br />
que não é comum, é irregular. Com isso não se<br />
provoca um “erro”, mas se dá ao texto um estilo<br />
mais “conciso”, quer dizer elegante ou expressivo;<br />
por isso também pode ser chamada de figura de<br />
sintaxe, ou seja, como o texto é construído.<br />
Uma importante figura de construção é a elipse:<br />
…o daqui parece cetim…<br />
O exemplo acima é o comentário que Fernando<br />
faz quando o amigo pergunta do papel higiênico<br />
americano; para não repetir o termo “papel higiênico”<br />
e deixar a frase mais “enxuta”, ele deixa o termo<br />
subentendido:<br />
o (papel higiênico) daqui parece cetim.<br />
É uma espécie de economia de palavras. Portanto:<br />
A elipse é a omissão de um termo que facilmente<br />
podemos entender pelo contexto.<br />
1. Releia os trechos a seguir, considerando o<br />
contexto de As senhoritas de Nova York e, depois,<br />
determine se alguma figura de linguagem<br />
(metonímia, hipérbole, reticência, elipse, ironia,<br />
antítese) está representada no trecho sublinhado<br />
de cada excerto:<br />
“O quadro,<br />
a) leio, fundou o Cubismo.”<br />
Metonímia, “o quadro leio” está sendo utilizado<br />
no lugar do nome do pintor Picasso.
) “ Azar o seu. Bye!”<br />
Ironia, em tom de brincadeira se deseja azar<br />
no lugar de sorte.<br />
c) “Minha cabeça começou a fumegar.”<br />
Metáfora, cruza-se a imagem de uma cabeça<br />
que pensa com algo que esquenta e solta fumaça.<br />
d) “...são como ver Veneza por cartão-postal”.<br />
Elipse, a cidade de Veneza; também uma<br />
comparação simples (como).<br />
e) “...está interessado em discutir os grandes te-<br />
mas morais…”<br />
Reticência e também ironia, já que o garoto<br />
“tira sarro” do amigo concentrado na leitura do escritor<br />
russo.<br />
2. Identifique, nas frases a seguir, usadas por<br />
muitos de nós no cotidiano, que figuras de linguagem<br />
estão representadas nos enunciados:<br />
a)<br />
A chuva de ontem? Quase caiu o mundo!<br />
hipérbole, choveu muito.<br />
b) Ele não parece tão quietinho assim…<br />
reticência, completa-se a ideia com um pensamento.<br />
c) Que gracinha, não?!<br />
ironia, indica que não é uma graça, é sem graça,<br />
expressão popular.<br />
d) Minha mãe ficou muito brava, aliás, como to-<br />
das as mães da classe!<br />
elipse, todas as mães da classe ficaram bravas.<br />
e) Meus sobrinhos gostam muito do desenho A<br />
bela e a fera.<br />
antítese, de bela = bonita + fera = monstro.<br />
f) O jornal dizia que os sem-teto invadiram as ve-<br />
lhas casas das ruas centrais.<br />
metonímia, sem-teto para aqueles que não<br />
têm casa.<br />
g) Ele é bom de bico, isso sim!<br />
metáfora, bico cruza a imagem da boca humana<br />
que fala e arroga com o bico de um pássaro.<br />
h) A mãe fez apenas um mingau de maisena para<br />
o bebê.<br />
Metonímia, Maizena é a marca, o produto é amido<br />
de milho.<br />
i) Meu irmão odeia usar a gilete para se barbear,<br />
prefere o barbeador elétrico.<br />
Metonímia, Gillette é a marca, o produto é lâmina.<br />
As figuras de linguagem<br />
e o texto publicitário<br />
Observe o anúncio a seguir.<br />
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3. As figuras de linguagem não são apenas da<br />
linguagem verbal. Ocorrem também na linguagem<br />
não verbal e na mista.<br />
a) Sabendo que o anúncio promove a venda<br />
de um software e de seu manual digital, o que<br />
parecem ser os pontos luminosos no logotipo da<br />
segunda imagem?<br />
Cada lâmpada acesa parece uma ideia, uma<br />
instrução de manuseio do software.<br />
b) Por aproximação, o que a imagem da lâmpada<br />
representa na primeira imagem?<br />
Representa a ideia, assumindo um caráter de<br />
ícone: a luz da lâmpada, uma parte da lâmpada.<br />
c) Que tipo de figura de linguagem podemos en-<br />
contrar nessa relação? Explique.<br />
Metonímia. Porque toma uma parte pelo seu<br />
PHOTOMO/DREAMSTIME.COM – MEDIO IMAGES/PHOTODISk/GETTY IMAGES<br />
P21
todo: a lâmpada pela luz associada à ideia e os vários<br />
pontos luminosos na “mão” produzem a ideia<br />
de que, ao clicar nela, o usuário terá várias sugestões<br />
de manuseio do software. São todas associações<br />
por contiguidade.<br />
Para continuar<br />
Além do texto<br />
Leia a seguir a sinopse e algumas curiosidades<br />
sobre o filme Cartas de Iwo Jima, do diretor<br />
Clint Eastwood:<br />
Junho de 1944. Tadamichi kuribayashi (ken<br />
watanabe), o tenente-general do exército imperial<br />
japonês, chega à ilha de Iwo Jima. Muito<br />
respeitado por ser um hábil estrategista, kuribayashi<br />
estudara nos Estados Unidos, onde<br />
fizera grandes amigos e conhecia o exército<br />
ocidental e sua capacidade tecnológica. Por<br />
isso, o Japão colocou em suas mãos o destino<br />
de Iwo Jima, considerada a última linha<br />
de defesa do país. Ao contrário dos outros comandantes,<br />
kuribayashi moderniza o modo de<br />
agir, alterando a estratégia que era usada. Ele<br />
supervisiona a construção de uma fortaleza<br />
subterrânea, feita de túneis que davam para as<br />
suas tropas: a estratégia ideal contra as forças<br />
americanas, que começam a desembarcar na<br />
ilha em 19 de fevereiro de 1945. Os japoneses<br />
sabiam que as chances de sair dali vivos eram<br />
mínimas. Enquanto isto acontece, kuribayashi<br />
e outros escrevem várias cartas, que dariam<br />
vozes e rostos para aqueles que ali estavam e<br />
o relato dos meses que antecederam a batalha<br />
e o combate propriamente dito, a partir da ótica<br />
dos japoneses.<br />
Curiosidades sobre o filme:<br />
P22<br />
• Cartas de Iwo Jima foi rodado simul-<br />
•<br />
taneamente ao filme A conquista da<br />
honra (2006), também do diretor Clint<br />
Eastwood, que conta a mesma história,<br />
contudo sob a ótica dos americanos.<br />
Apesar disso, não há nenhum integrante<br />
do elenco que apareça nos dois filmes.<br />
ken watanabe leu as cartas enviadas<br />
pelo verdadeiro general Tadamichi kuribayashi<br />
à sua família, como forma de se<br />
preparar para o personagem.<br />
http://iwojimathemovie.warnerbros.com/<br />
lettersofiwojima/framework/framework.html<br />
(acesso em 12 de março de 2009)<br />
Veja algumas cenas do filme:<br />
Basicamente, um filme é produzido colocando-<br />
-se uma foto na outra, quer dizer, o cineasta edita<br />
as imagens e monta uma sequência narrativa capaz<br />
de mostrar determinada perspectiva. Conforme<br />
você leu anteriormente, o diretor Clint Eastwood<br />
conseguiu fazer dois filmes ao mesmo tempo: um<br />
sob a ótica dos japoneses e outro com a maneira<br />
de ver a mesma batalha, só que sob a perspectiva<br />
dos americanos.<br />
Em Cartas de Iwo Jima, vamos acompanhando<br />
o desenrolar da batalha a ser preparada, mas também<br />
vamos descobrindo por meio de algumas personagens<br />
(veja as fotos de cenas) o cotidiano dos<br />
japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.<br />
Assista a esse filme com sua classe e faça<br />
anotações sobre as personagens que escreveram<br />
as cartas:<br />
1.<br />
2.<br />
Que tema abordaram?<br />
Que personagens escreveram cartas?<br />
PHOTO 12/AFP<br />
PHOTO 12/AFP
3.<br />
Que perspectivas tinham para o futuro?<br />
4. Essas personagens relembravam fatos do<br />
passado nas cartas?<br />
5. Elas citam nas cartas o que está acontecendo<br />
no presente, na ilha?<br />
6.<br />
7.<br />
Essas cartas chegam até os destinatários?<br />
Como chegam?<br />
Sugestão didática<br />
Professor: O objetivo deste bloco de atividade é<br />
um exercício de observação. Cada aluno deve anotar<br />
sobre uma personagem, pelo menos. Caso consigam<br />
anotar sobre mais de uma, melhor. A questão que<br />
aqui se posta está relacionada ao fato de as cartas<br />
apenas chegarem a seus destinatários tempos depois<br />
da guerra terminada, o que só é revelado ao fim<br />
do filme.<br />
Caso não tenha possibilidade de encontrar esse<br />
filme para locação, peça aos alunos para observarem<br />
as imagens das cenas; como as pessoas estão vestidas,<br />
por exemplo. Por meio deste tipo de observação,<br />
mantenha um diálogo com a classe para que escrevam<br />
pequenas legendas para as cenas, considerando<br />
o que leram na sinopse, ou ainda, peça para imaginarem<br />
que tipo de carta cada um deles escreveria diante<br />
dessa situação da guerra e do fato da sinopse sugerir<br />
que o retorno para casa seria quase impossível.<br />
O interessante aqui é pontuar para os alunos<br />
como a narrativa é construída por meio das cartas<br />
que são escritas e como cada uma das pessoas<br />
contribui para que a narrativa tenha um desfecho,<br />
que está relacionado ao episódio histórico da Segunda<br />
Guerra Mundial.<br />
Caso queira, pode propor um trabalho interdisciplinar<br />
com Geografia e História para que assistam ao filme<br />
A conquista da honra, que mostra o outro lado do<br />
mesmo episódio, só que da perspectiva americana.<br />
Para finalizar<br />
Professor: Preencha o quadro juntamente com os<br />
alunos — este pode ser um momento de revisão.<br />
A resposta dos alunos pode auxiliá-lo na autoavaliação.<br />
Você considera que conseguiu realizar todas<br />
as atividades com seus alunos? Quanto você contribuiu<br />
para o conhecimento dos alunos?<br />
e-mail<br />
Conteúdos<br />
Autobiografia<br />
Etimologia da<br />
palavra carta<br />
Argumentação /<br />
Função apelativa<br />
Texto publicitário<br />
Metonímia<br />
Hipérbole<br />
Elipse<br />
Reticência<br />
Ironia<br />
Antítese<br />
Para casa<br />
O que aprendi<br />
no capítulo 1<br />
1. Observe o anúncio a seguir, antes de responder<br />
às questões:<br />
Uma chave na mão e uma aventura no caminho<br />
P23<br />
JOHN FOXX/STOCkBYTE/GETTY IMAGES
a) Nesse anúncio, podemos afirmar que há elip-<br />
se na linguagem verbal?<br />
Escreva a parte verbal do anúncio para demonstrar<br />
sua resposta.<br />
Sim, há elipse: “Você com uma chave/ da<br />
moto/ na mão e com uma aventura a fazer pelo /<br />
seu/ caminho”.<br />
P24<br />
b) Além da elipse, o anúncio apresenta outra fi-<br />
gura de linguagem?<br />
Sim, uma metonímia: a parte pelo todo: a chave<br />
da moto pela moto inteira.
Para começar<br />
Capítulo<br />
Português 2<br />
Neste capítulo, trabalharemos com a linguagem<br />
poética e com as figuras de linguagem.<br />
O carteiro e o poeta<br />
Crescido no seio de pescadores, nunca o jovem<br />
Mario Jiménez suspeitou que no correio daquele<br />
dia haveria um anzol com que apanharia<br />
o poeta. Mal lhe entregara o fardo, o poeta distinguira<br />
com precisão meridiana uma carta cujo<br />
envelope rasgou diante de seus próprios olhos.<br />
Essa inédita conduta, incompatível com a serenidade<br />
e discrição do poeta, encorajou no carteiro<br />
o início de um interrogatório e, por que não dizê-<br />
-lo, de uma amizade.<br />
— Por que abre essa carta antes das outras?<br />
— Porque é da Suécia.<br />
— E o que é que a Suécia tem de especial,<br />
fora as suecas?<br />
Embora Pablo Neruda possuísse duas pálpebras<br />
inalteráveis, dessa vez, pestanejou.<br />
— O Prêmio Nobel de Literatura, filho.<br />
— Vão lhe dar.<br />
— Se me dão, não recusar.<br />
— E quanto dinheiro é?<br />
O poeta, que já havia chegado ao miolo da<br />
missiva, disse, sem ênfase:<br />
— Cento e cinquenta mil e duzentos e cinquenta<br />
dólares.<br />
Mario pensou a seguinte piadinha: “e cinquenta<br />
centavos”, mas o instinto reprimiu sua<br />
contumaz impertinência e, em troca, perguntou<br />
da maneira mais polida:<br />
— E então?<br />
— Hum?<br />
— Dão-lhe o Prêmio Nobel?<br />
— Pode ser, mas desta vez há candidatos<br />
com mais chance.<br />
— Por quê?<br />
— Porque escreveram grandes obras.<br />
— E as outras cartas?<br />
— Leio depois — suspirou o poeta.<br />
— Ah!…<br />
Mario, que pressentia o fim do diálogo, deixou-se<br />
consumir por uma ausência semelhante<br />
à de seu predileto e único cliente, mas foi tão radical<br />
que obrigou o poeta a perguntar:<br />
De carteiros,<br />
envelopes e selos!<br />
— Em que você ficou aí pensando?<br />
— No que dirão as outras cartas. Serão de<br />
amor?<br />
O robusto poeta tossiu.<br />
— Rapaz! Estou casado. Que a Matilde não<br />
escute!<br />
— Desculpe, dom Pablo.<br />
Neruda assaltou com ímpeto seu bolso e<br />
extraiu uma nota daquela categoria “mais que<br />
o normal”. O carteiro disse “obrigado”, nem tão<br />
angustiado pela soma quanto pela iminente despedida.<br />
Essa mesma tristeza pareceu imobilizálo<br />
até um grau alarmante. O poeta, que se dispunha<br />
a entrar, não pôde deixar de se interessar<br />
por essa inércia tão pronunciada.<br />
— Que há?<br />
— Dom Pablo?…<br />
— Você fica aí parado como um poste.<br />
Mario retorceu o pescoço e procurou os olhos<br />
do poeta, indo de baixo para cima.<br />
— Cravado como uma lança?<br />
— Não, quieto como uma torre de xadrez.<br />
— Mais tranquilo que um gato de porcelana?<br />
Neruda soltou o trinco do portão e acariciou-<br />
-se o queixo.<br />
— Mario Jiménez, afora as Odes elementares,<br />
tenho livros muito melhores. É indigno que<br />
você fique me submetendo a todo tipo de comparações<br />
e metáforas.<br />
— Como é, dom Pablo?<br />
— Metáforas, homem!<br />
— Que são essas coisas?<br />
O poeta colocou a mão sobre o ombro do rapaz.<br />
— Para esclarecer mais ou menos da maneira<br />
imprecisa, são modos de dizer uma coisa<br />
comparando-a com outra.<br />
— Dê-me um exemplo…<br />
Neruda olhou o relógio e suspirou.<br />
— Bem, quando você diz que o céu está chorando.<br />
O que é que você quer dizer com isto?<br />
— Ora, fácil! Que está chovendo, ué!<br />
— Bem, isso é uma metáfora.<br />
— E por que se chama tão complicado, se é<br />
uma coisa tão fácil?<br />
— Porque os nomes não têm nada a ver com<br />
a simplicidade ou complexidade das coisas. Pela<br />
sua teoria, uma coisa pequena que voa não deveria<br />
ter um nome tão grande como mariposa.<br />
P25
Elefante tem a mesma quantidade de letras que<br />
mariposa, é muito maior e não voa — concluiu<br />
Neruda exausto. Com um resto de ânimo indicou<br />
para Mario o rumo da enseada. Mas o carteiro<br />
teve a presença de espírito de dizer:<br />
— […] gostaria tanto de ser poeta!<br />
— Rapaz! Todos são poetas no Chile. É mais<br />
original que você continue sendo carteiro. Pelos<br />
menos caminha bastante e não engorda. Todos<br />
os poetas no Chile somos barrigudos.<br />
Neruda retomou o trinco do portão e dispunha-se<br />
a entrar quando Mario, olhando o voo de<br />
um pássaro invisível, disse:<br />
— É que se seu fosse poeta podia dizer o que<br />
quero.<br />
— E o que é que você quer dizer?<br />
— Bom, justamente o problema é este. Como<br />
não sou poeta, não posso dizer.<br />
O poeta apertou as sobrancelhas por cima do<br />
tabique do nariz.<br />
— Mario?!<br />
— Dom Pablo?!<br />
— Vou me despedir e fechar o portão.<br />
— Está certo, dom Pablo.<br />
— Até amanhã.<br />
— Até amanhã.<br />
Neruda deteve o olhar sobre o resto das cartas<br />
e logo entreabriu o portão. O carteiro estudava<br />
as nuvens com os braços cruzados no peito.<br />
O poeta foi até seu lado e espetou-lhe o ombro<br />
com um dedo. Sem desfazer a postura, o rapaz<br />
ficou olhando para ele.<br />
— Voltei porque suspeitei que você continuava<br />
aqui.<br />
— É que fiquei pensando…<br />
Neruda apertou os dedos no cotovelo do carteiro<br />
e o foi conduzindo até o poste onde havia<br />
estacionado a bicicleta.<br />
— E você fica sentado para pensar? Se quer<br />
ser poeta, comece por pensar caminhando.[…]<br />
Agora vá para a enseada pela praia e, enquanto<br />
observa o movimento do mar, pode ir inventando<br />
metáforas.<br />
— Dê-me um exemplo!…<br />
— Olha este poema: “Aqui na Ilha, o mar, e<br />
quanto mar. Sai de si mesmo a cada momento.<br />
Diz que sim, que não, que não. Diz que sim, em<br />
azul, em espuma, em galope. Diz que não, que<br />
não. Não pode sossegar. Chamo-me mar, repete<br />
batendo numa pedra sem convencê-la. E então,<br />
com sete línguas verdes, de sete tigres verdes,<br />
de sete cães verdes, de sete mares verdes, percorre-a,<br />
beija-a, umedece-a e golpeia-se o peito<br />
P26<br />
repetindo seu nome.”<br />
Fez uma pausa satisfeito.<br />
— O que você acha?<br />
— Estranho.<br />
— “Estranho”. Mas que crítico mais severo!<br />
— Não, dom Pablo. Estranho não é o poema.<br />
Estranho é como eu me sentia quando o senhor<br />
recitava o poema.<br />
— Querido Mario, vamos ver se desenrola um<br />
pouco porque eu não posso passar toda a manhã<br />
desfrutando o papo.<br />
— Como posso lhe explicar? Quando o senhor<br />
dizia o poema, as palavras iam daqui para<br />
ali.<br />
— Como o mar, ora!<br />
— Pois é, moviam-se exatamente como o<br />
mar.<br />
— Isso é ritmo.<br />
— Eu me senti estranho, porque com tanto<br />
movimento fiquei enjoado.<br />
— Você ficou enjoado…<br />
— Claro! Eu ia como um barco tremendo em<br />
suas palavras.<br />
As pálpebras do poeta se despregaram lentamente.<br />
— “Como um barco tremendo em minhas<br />
palavras.”<br />
— Claro.<br />
— Sabe o que você fez, Mario?<br />
— O quê?<br />
— Uma metáfora.<br />
— Mas não vale porque saiu por acaso.<br />
— Não há imagem que não seja casual, filho.<br />
Mario levou a mão ao coração e quis controlar<br />
um palpitar desaforado que lhe havia subido<br />
até a língua e que lutava por estalar entre seus<br />
dentes. Deteve a caminhada e, com um dedo impertinente<br />
manipulado a centímetros do nariz de<br />
seu emérito cliente, disse:<br />
— O senhor acha que todo mundo, quero<br />
dizer todo o mundo, com o vento, os mares, as<br />
árvores, as montanhas, o fogo, os animais, as<br />
casas, os desertos, as chuvas…<br />
— … agora já pode dizer “etcétera”.<br />
— … os etcéteras! O senhor acha que o mundo<br />
inteiro é a metáfora de alguma coisa?<br />
Neruda abriu a boca e seu robusto queixo pareceu<br />
desprender-se do rosto.<br />
— Perguntei merda, dom Pablo?<br />
— Não, homem, não.<br />
— É que ficou com uma cara tão estranha…<br />
— Não, acontece que eu fiquei pensando.<br />
Espantou com a mão uma fumaça imaginária,
levantou as calças descaídas e, espetando o peito<br />
do jovem com o indicador, disse:<br />
— Olha, Mario. Vamos fazer um trato. Agora eu<br />
vou até a cozinha, preparo para mim uma omelete<br />
de aspirinas para meditar sobre a sua pergunta e<br />
amanhã lhe dou a minha opinião.<br />
— Sério, dom Pablo?<br />
— Sim, homem, claro. Até amanhã.<br />
Voltou até sua casa e, após fechar o portão,<br />
encostou-se nele e pacientemente cruzou os braços.<br />
— Não vai entrar? – gritou Mario.<br />
— Ah, não. Dessa vez espero que você vá.<br />
O carteiro desprendeu a bicicleta do poste, fez<br />
soar contente sua campainha e, com um sorriso<br />
tão amplo que abarcava poeta e contorno, disse:<br />
— Até logo, dom Pablo.<br />
— Até logo, rapaz.<br />
Para continuar<br />
Conversa sobre o texto<br />
SkARMETA, Antonio. O carteiro e o poeta.<br />
Rio de Janeiro: Record, 1996.<br />
1. Faça um levantamento das palavras que lhe<br />
são desconhecidas, construindo um vocabulário:<br />
Professor: Esta sequência é apenas uma sugestão<br />
— aumente-a ou reduza-a conforme as habilidades<br />
de suas classes. Peça, em uma segunda<br />
leitura, que anotem no próprio texto ou façam uma<br />
lista de palavras, mas deixe que sigam seus próprios<br />
caminhos de vocabulário. Depois, à lousa, vá<br />
listando o que procuraram em comum — normalmente<br />
serão as mesmas palavras.<br />
Enseada: pequena baía que serve de porto<br />
para barcos menores; angra.<br />
Fardo: pacote.<br />
Missiva: carta.<br />
Ênfase: aquilo a que se dá maior importância<br />
ou mais atenção.<br />
Contumaz: insistente, costumeiro.<br />
Impertinência: inconveniência, insolência,<br />
atrevimento.<br />
Iminente: aquilo que em breve vai acontecer.<br />
Inércia: falta de reação, ficar parado.<br />
Emérito: sábio.<br />
Ode: um tipo de poema.<br />
Elementar: essencial, o que não pode deixar<br />
de ser dito.<br />
Polidez: educação, cortesia.<br />
Tabique: septo, no texto: franzir as sobrancelhas<br />
acima do nariz, demonstrar desagrado ou impaciência.<br />
Precisão: exatidão<br />
Meridiano: dividir ao meio, no texto: achar com<br />
o olhar em “meio ao monte de cartas” a carta da<br />
Suécia.<br />
2. Mario, o carteiro, refere-se ao poeta Pablo<br />
Neruda usando a palavra “dom”. Considerando o<br />
que você leu no texto, identifique a melhor acepção<br />
do dicionário Houaiss eletrônico para o uso<br />
desta palavra no caso das duas personagens.<br />
A acepção número 4 (quatro).<br />
Acepções<br />
substantivo masculino<br />
1 Rubrica: termo eclesiástico, história.<br />
denominação que acompanha certos cargos<br />
eclesiásticos<br />
Obs.: inicial ger. maiúsc.<br />
Ex.: D. Hélder Câmara<br />
2 Rubrica: história.<br />
título honorífico que precede o nome de batismo,<br />
aplicado a monarcas e príncipes ou a membros<br />
da alta nobreza de Portugal e Espanha<br />
Obs.: cf. dona<br />
Ex.: <br />
3 Rubrica: história.<br />
título concedido pelos reis a homens ilustres<br />
que prestaram grandes serviços à corte<br />
Obs.: inicial ger. maiúsc.<br />
Ex.: D. Vasco da Gama<br />
4 Derivação: por extensão de sentido.<br />
entre espanhóis e hispano-americanos, título<br />
que precede o nome de batismo, aplicado a qualquer<br />
homem adulto a quem se quer tratar com<br />
cortesia ou respeito<br />
Obs.: inicial ger. maiúsc.<br />
5 Regionalismo: Portugal. Uso: ironia. Diacronismo:<br />
obsoleto.<br />
denominação us. sarcasticamente, precedendo<br />
expressões injuriosas<br />
Ex.: d. falso, d. traidor<br />
3. Ao longo do texto, ficamos sabendo onde esse<br />
episódio da narrativa se passa? Qual o espaço dessa<br />
narrativa?<br />
Sim, à frente do portão da casa do poeta. O<br />
próprio poeta sugere que é uma ilha, por causa da<br />
enseada, do mar; além do que repete por duas vezes<br />
que no “Chile” todos são poetas.<br />
P27
4. O próprio título do texto nos apresenta as personagens<br />
centrais dessa narrativa. A que outra personagem<br />
o texto se refere?<br />
À Matilde, esposa de Neruda.<br />
5. Por que a carta que vinha da Suécia parecia<br />
tão importante?<br />
Provavelmente a carta anunciava que Neruda<br />
era candidato a um prêmio, o mais importante no<br />
âmbito da literatura mundial, o prêmio Nobel. A instituição<br />
que faz a premiação fica na Suécia, e qualquer<br />
escritor ficaria honrado em recebê-lo.<br />
Professor: Caso queira acrescentar aos seus<br />
alunos, esta narrativa passa-se em 1969. De fato,<br />
Neruda recebeu o prêmio, em 1971. Hoje o prêmio<br />
é de um milhão de dólares.<br />
6. Podemos entrever as características psicológicas<br />
destas duas personagens, se observarmos<br />
com atenção o vocabulário utilizado pelo narrador<br />
para descrever suas ações:<br />
Neruda: serenidade, discrição, robusto, barrigudo,<br />
emérito…<br />
Mario: contumaz, angustiado, impertinente…<br />
Circule as palavras acima que não dizem respeito<br />
às características psicológicas de Neruda<br />
e Mario.<br />
Circular: robusto e barrigudo, porque são características<br />
físicas.<br />
Professor: O objetivo deste exercício é retomar<br />
o vocabulário feito pelos alunos para que<br />
se evidencie o entendimento do que foi feito na<br />
questão 1.<br />
7. Que gesto o poeta Pablo Neruda repete várias<br />
vezes para tirar Mario da inércia?<br />
Com o dedo indicador o espeta, o cutuca: “espetou-lhe<br />
o ombro com um dedo”.<br />
8. Esta “inércia pronunciada” do carteiro Mario<br />
chama a atenção do poeta; a partir dessa imobilidade<br />
de Mario quando está divagando, pensando,<br />
surgem as “comparações” e “metáforas”.<br />
Que expressões foram usadas para mostrar que<br />
Mario estava estático, parado, inerte?<br />
“parado como um poste”<br />
“cravado como uma lança”<br />
“quieto como uma torre de xadrez”<br />
“mais tranquilo que um gato de porcelana”.<br />
Professor: Aproveite para antecipar aos alunos<br />
que a diferença entre a metáfora e a comparação<br />
dá-se pelo uso de termos comparativos: “mais/<br />
que”, “como”, o que não ocorre na metáfora.<br />
P28<br />
9. Por que a palavra “metáfora” causa um susto<br />
em Mario?<br />
Mario é um homem simples, criado em uma<br />
aldeia de pescadores, assim como tudo que é estranho,<br />
a palavra desconhecida o assustou.<br />
10. O que estes quatro gestos de dom Pablo revelam?<br />
a)<br />
b)<br />
c)<br />
d)<br />
“acariciou-se o queixo”;<br />
perplexidade, pensativo.<br />
“colocou a mão sobre o ombro do rapaz”;<br />
consolo, conselho, explicação.<br />
“olhou o relógio e suspirou”;<br />
impaciência<br />
“indicou… o rumo da enseada”.<br />
solicitação para o carteiro ir embora.<br />
11. O que significa “presença de espírito”, no contexto<br />
da narrativa?<br />
Desde o início do episódio, percebemos que<br />
Mario quer prolongar o diálogo com Neruda e, neste<br />
momento, adia mais uma vez a hora de sair do<br />
portão do poeta.<br />
12. Que exemplo Neruda deu para explicar a Mario<br />
o que é uma metáfora?<br />
O poeta explica que “céu chorando” aproxima-<br />
-se de “chovendo”.<br />
Professor: Aproveite para explicar que a metáfora<br />
é uma figura de linguagem. Coloque no quadro<br />
dois círculos que se interceptam: em um deles,<br />
escreva a palavra “céu” e, no outro, a palavra “chorar”,<br />
o termo de intersecção, ou seja, a expressão<br />
sugerida pela imagem é “chuva”, o que há em comum<br />
entre céu e chorar: água de cima = chuva.<br />
Céu Chuva Chorar<br />
13. De acordo com o poeta, o que é ritmo? Que<br />
exemplo foi dado e o que isso provocou em Mario?<br />
Neruda recita um poema sobre o mar, em que<br />
as palavras e a sua sonoridade provocam o movimento<br />
rítmico das ondas numa sucessão de imagens<br />
que criam o que, muitas vezes, o mar provoca<br />
em algumas pessoas: enjoo, por isso Mario se diz<br />
estranho, porque fica enjoado.
14. Que metáfora Mario criou para explicar ao<br />
poeta como ouvir o poema sobre o mar?<br />
“Como um barco tremendo em suas palavras.”<br />
15. Como você traduziria essa sensação de Mario<br />
ao notar que também pode fazer uma “metáfora” e<br />
dizer o que quer: “um palpitar desaforado que lhe<br />
havia subido até a língua e que lutava por estalar<br />
entre seus dentes.”<br />
Mario empolgou-se e emocionou-se com a<br />
descoberta da “metáfora”.<br />
16. Que palavra dom Pablo sugere que Mario use<br />
quando ele começa a demorar em suas explicações?<br />
O que significa esta palavra?<br />
D. Pablo sugere a abreviatura “etc.” da forma<br />
latina “et cetera” por extenso, que significa “assim<br />
por diante” ou “entre outras coisas”.<br />
Professor: Aproveite para explicar aos alunos<br />
o uso de algumas expressões cotidianas que<br />
vieram do latim e como localizá-las no dicionário,<br />
quando for necessário consultar seu sentido.<br />
17. O que significa “Neruda abriu a boca e seu<br />
robusto queixo pareceu desprender-se do rosto”?<br />
Que palavra você usaria para substituir o trecho?<br />
Espantado, de boca aberta, perplexo.<br />
18. Em discurso direto, que fala mostra que Mario<br />
não tinha consciência do quanto a pergunta era<br />
complexa, difícil até mesmo para o poeta Neruda?<br />
“— Perguntei merda, dom Pablo?”<br />
19. O que significa no contexto: “preparar um omelete<br />
de aspirinas”? Antes de concluir, observe as<br />
duas acepções do dicionário eletrônico Houaiss:<br />
aspirina. substantivo feminino<br />
Rubrica: química.<br />
1 nome comercial de medicamento analgésico<br />
e antipirético cujo princípio ativo é o ácido<br />
acetilsalicílico<br />
2 Derivação: por metonímia.<br />
comprimido que contém esse medicamento<br />
Espera-se que os alunos entendam que “aspirina”<br />
quer dizer que a pergunta dele foi profunda e<br />
deve ter lhe dado “dor de cabeça”. “Omelete” refere-se<br />
à imagem de revirar e bater um ovo, ou seja,<br />
a pergunta revirou as ideias do poeta.<br />
Professor: Saliente também que o poeta, muitas<br />
vezes, usa de “ironia” para se dirigir ao carteiro,<br />
mas porque é parte do comportamento impaciente<br />
da personagem Neruda e não por que despreza ou<br />
quer satirizar o carteiro Mario.<br />
20. Que resposta ou opinião você daria à pergunta<br />
feita pelo carteiro Mario Jimenez?<br />
“O senhor acha que o mundo inteiro é a metáfora<br />
de alguma coisa?”<br />
Professor: Note que muitas vezes os alunos<br />
poderão dar respostas bem rápidas, enquanto<br />
o poeta precisou pensar e fazer “omeletes”.<br />
Incentive-os a responder dizendo que talvez eles<br />
tenham uma solução até mais rápida que a do<br />
próprio poeta. Aceite as imagens que eles possam<br />
dar para a resposta. Dê a sua imagem como<br />
resposta ou diga--lhes que o mundo poderá ser<br />
a metáfora daquilo que conseguirmos imaginar<br />
— as imagens são uma produção de como os<br />
humanos lidam com as comparações, portanto<br />
qualquer resposta coerente poderá ser válida.<br />
Para continuar<br />
Os textos no contexto<br />
A palavra “carteiro” tem a sua origem na palavra<br />
“carta”, que, como já vimos no capítulo anterior, está<br />
ligada a papiro para divulgação de mensagens, informações,<br />
leis e artes da época.<br />
Sabe qual é a origem da palavra “correio”?<br />
Ao consultar um dicionário de etimologia, que<br />
descreve a origem das palavras, encontramos a<br />
seguinte:<br />
correio. esp. correo (1492) ‘o que tem por<br />
ofício levar a correspondência’, segundo Corominas,<br />
voc. de orig. contrv., que se prende ao v.lat.<br />
currère ‘correr’; o esp. deve provir do cat. correu<br />
(d1196), provç. corrieu (c1000) ‘mensageiro, correio’,<br />
que parecem ligar-se ao fr.ant. corlieu ‘id.’,<br />
comp. no fr. de corir ‘correr’ + lieu ‘lugar’, tendo<br />
o voc. esp. absorvido o signf. do ant. esp. correo<br />
‘bolsa de levar dinheiro’, homônimo de origem<br />
diferente; f.hist. sXV correo ‘mensageiro, repartição<br />
que recebe e entrega correspondência’, sXV<br />
correo, sXV correeyo ‘saco, bolsa de dinheiro’<br />
1. De acordo com o que você leu acima, explique<br />
qual é a origem da palavra “correio”.<br />
Professor: Propositalmente mantivemos as<br />
abreviaturas do dicionário para que os alunos possam<br />
deduzir seu sentido como “contrv.”, ou seja,<br />
controverso, contraditório. Caso não consigam deduzir<br />
as abreviaturas, indique para que procurem<br />
em um dicionário. Há excelentes dicionários etimológicos<br />
nas bibliotecas das escolas públicas, tanto<br />
o Houaiss, como o Cunha.<br />
P29
www.CORREIOS.COM.BR<br />
Se eles localizarem a palavra “correr” por aproximação<br />
a “correios” já será excelente e suficiente.<br />
Outro dado importante é “saco de levar dinheiro”<br />
que denota as primeiras relações comerciais entre<br />
pessoas de lugares distantes.<br />
Uma maneira de ajudá-los é fazer um campo<br />
semântico a partir da palavra “correia”.<br />
Correia ou cinto: aquilo com que prendemos<br />
ou guardamos coisas (lembre-os do cinto de segurança,<br />
uma forma aproximada de correia, ou a<br />
correia de uma mala, aquele elástico interno que<br />
usamos para manter as roupas/utensílios no lugar,<br />
ou correia de uma máquina de costura com<br />
pedal ou de motor de uma máquina). Este tipo<br />
de campo semântico pode ajudá-los a entender<br />
de onde se origina a palavra “correios”, ou seja,<br />
aquele que corre para entregar, mas que também<br />
carrega algo de valor.<br />
Ao longo do tempo, as agências dos correios por<br />
todo o mundo modernizaram-se conforme os meios<br />
de comunicação foram também se aprimorando e<br />
tornando-se mais rápidos.<br />
Veja a página na internet da Empresa Brasileira<br />
de Correios e Telégrafos:<br />
2. É possível saber o CEP (código de endereçamento<br />
postal) de uma localidade pela página dos<br />
correios? Que informação você precisa ter para<br />
descobrir esse número?<br />
Sim, este é um dos serviços oferecidos pelos<br />
correios que pode ser acessado via internet. Precisamos<br />
do nome da rua (= logradouro), localidade<br />
(= cidade), estado (= UF, unidade federativa). Caso<br />
P30<br />
queira explicar aos alunos, cada rua tem um número<br />
de CEP, ruas muito longas como as das grandes<br />
capitais podem ter até mais de um CEP. Tipo<br />
significa se é rua, avenida, travessa, por exemplo.<br />
É importante salientar esses dados, pois muitas<br />
pessoas não sabem preencher dados como UF em<br />
muitos documentos, embora a página mostre a sigla<br />
do estado do Acre = AC.<br />
3. É possível enviar um telegrama pela internet,<br />
como podemos ver na parte de baixo da página à<br />
direita. O que significa “limpar” e “continuar”, abaixo<br />
do quadro para digitarmos o telegrama?<br />
Caso você digite algo errado ou desista de enviar,<br />
pode clicar em “limpar”; assim, poderá cancelar<br />
ou digitar novamente seu telegrama nesta tela.<br />
“Continuar” indica que você deve digitar a mensagem,<br />
indicar se é urgente ou importante e depois<br />
continuar com outros procedimentos, como colocar<br />
o endereço onde será entregue o telegrama e como<br />
você pagará por isto.<br />
4. Localize um ícone verde do lado direito. Nele<br />
está escrito “transparência pública” e acima dele alguns<br />
itens como “concursos” e “contas anuais”. O<br />
que você acha que isso significa?<br />
O correio brasileiro é um órgão do governo,<br />
portanto, pertence ao povo. Todo órgão público é<br />
obrigado a mostrar suas contas de pagamentos e<br />
gastos (contas anuais), como comprou e de quem<br />
comprou (licitações e contratos), como contrata<br />
seus funcionários (concursos), por isso este bloco<br />
chama-se “transparência pública”, que tem como<br />
objetivo deixar claro para o público, ou seja, para o<br />
povo, todas as transações acima mencionadas.<br />
Professor: Caso queira acrescentar, diga aos<br />
alunos que nas pesquisas de opinião realizadas em<br />
todo o país, os Correios do Brasil são o órgão em<br />
que os brasileiros mais acreditam, confiam e consideram<br />
mais eficiente, seguido dos Bombeiros.<br />
5. O que significa e para que servem “rastreamento”<br />
e “caracteres” abaixo da página, ao lado<br />
direito?<br />
“Rastrear” significa procurar; assim, este ícone<br />
permite que o cliente verifique se uma encomenda<br />
enviada já chegou e quando chegou ao seu destino.<br />
Os “caracteres” são números e letras que cada<br />
uma dessas encomendas tem. Você digita estes<br />
caracteres e o programa lhe fornece a informação:<br />
se chegou ou não, onde e quando.<br />
6. Na página, temos um ícone vermelho. Que esclarecimento<br />
nos é dado por ele?<br />
Pela internet, as pessoas podem mandar mensagens<br />
falsas em nome dos correios. O ícone é um
alerta para que não abramos e-mails porque os correios<br />
não enviam esse tipo de mensagem.<br />
7. O que lhe parece o símbolo dos correios?<br />
Que elementos estão relacionados ao trabalho<br />
dos correios?<br />
O símbolo dos correios parece várias cartas<br />
em formato de uma caixa se abrindo, ao mesmo<br />
tempo em que temos a impressão de que estão voando,<br />
ou seja, a entrega rápida.<br />
8. As cores amarela e azul estão associadas a<br />
outro símbolo brasileiro, que aparece acima da página.<br />
Que símbolo é esse?<br />
A bandeira nacional.<br />
9. Levante hipóteses pensando no significado da<br />
palavra “correio” que você leu anteriormente: por<br />
que azul e amarelo e não branco ou verde?<br />
Provavelmente quem criou o símbolo dos<br />
correios pensou no amarelo como forma de indicar<br />
riquezas, como na bandeira nacional (forma<br />
metonímica da cor do ouro), e no azul, que lembra<br />
o céu, como o da bandeira, e poderia também<br />
representar voar, ou seja, o transporte mais rápido<br />
dos dias atuais.<br />
Para continuar<br />
Conceito/conexão<br />
Figuras de linguagem<br />
Metáfora e comparação<br />
Conforme vimos no capítulo anterior, as figuras<br />
de linguagem são formas expressivas com<br />
que podemos usar não só a linguagem verbal,<br />
mas também a não verbal.<br />
A mais conhecida de todas as figuras de linguagem<br />
é a metáfora, como você percebeu pelas<br />
conversas entre o carteiro e o poeta.<br />
Metáfora é o emprego de uma imagem com<br />
um sentido que não lhe é comum ou próprio.<br />
Esse novo sentido é resultado de uma relação de<br />
semelhança, de intersecção entre dois termos.<br />
A palavra “metáfora”, que o carteiro achou tão<br />
complicada, significa “transpor”, “mudar”, ou seja,<br />
indica que o significado de algo muda, torna-se<br />
diferente do comum. Quando aproximamos esses<br />
elementos diferentes acabamos criando um<br />
terceiro elemento, ou seja, um desvio de sentido.<br />
Retomemos alguns exemplos do texto “O carteiro<br />
e o poeta”, no trecho em que Neruda recita<br />
um de seus poemas:<br />
… o mar, e quanto mar. Sai de si mesmo a<br />
cada momento. Diz que sim, que não, que não.<br />
Diz que sim, em azul, em espuma, em galope.<br />
Diz que não, que não…<br />
Observe a expressão em negrito: em galope.<br />
Volte e releia: podemos induzir que quem ou o<br />
que está em galope é o mar.<br />
Neste pequeno trecho, temos uma metáfora.<br />
Quando o poeta comparou o movimento do mar<br />
com o dizer “sim” e “não”, quando comparou que<br />
“dizer sim” era “dizer em azul, em espuma, em galope”.<br />
O que aconteceu foi uma gradação, ou seja,<br />
passo a passo ele foi mostrando como o movimento<br />
do mar, das ondas, falavam com a pedra. Gradativamente,<br />
foi aumentando o movimento, que saiu<br />
de uma cor/azul, uma imagem/espuma, o que até<br />
aqui são características do mar.<br />
Professor: Caso queira, poderá introduzir<br />
também a “figura da gradação que consiste em<br />
dispor várias palavras ou expressões que se<br />
enriquecem mutuamente em progressão ascendente<br />
ou descendente”. Neste caso, trabalha-se<br />
metonimicamente também, já que toma-se a parte<br />
(azul) pelo todo (mar), a parte (espuma) pelo<br />
todo (mar pelo todo, partes brancas do mar…).<br />
Alguns alunos notarão antes de outros que as figuras<br />
acabam por sobrepor-se. Por isso usamos<br />
um mesmo trecho ao longo do capítulo para que<br />
eles notem que um pequeno trecho tem em seu<br />
núcleo o poder expressivo muito forte.<br />
Mas, em galope, refere-se ao mar no seu sentido<br />
próprio, mais comum? Com certeza, não.<br />
Usamos a palavra “galope” no seu sentido comum<br />
para fazermos alusão a situações ligadas<br />
a um cavalo, a uma corrida, a uma maneira de<br />
cavalgar, ou seja, cavalgar de maneira rápida.<br />
No entanto, no poema isto não é comum; por<br />
isso, o que ocorre é uma imagem que se mistura<br />
— esse é o desvio, isso é a metáfora:<br />
O mar dizer que sim<br />
dizer que não rápido em galope<br />
batendo na pedra<br />
Portanto, a imagem de uma corrida rápida do<br />
mar até a pedra é um recurso para tornar o trecho<br />
mais expressivo.<br />
Foi este movimento compassado que fez o carteiro<br />
sentir-se “enjoado” e “estranho”. Veja como<br />
ele respondeu a essa metáfora de Neruda:<br />
P31
… como um barco tremendo em suas palavras…<br />
Nesse trecho, ocorreu algo semelhante a uma<br />
metáfora, só que chamamos de comparação.<br />
A comparação faz uso de algumas expressões:<br />
como, tal, qual, semelhante a, que<br />
nem… A comparação também é uma figura de<br />
linguagem que consiste em aproximar dois seres<br />
pela semelhança.<br />
Mario, o carteiro, colocou-se como se fosse<br />
um barco.<br />
As palavras do poeta, Neruda, como se fossem<br />
o mar.<br />
O movimento do mar como se estivesse tremendo.<br />
Portanto, ficou “enjoado” e “ estranho”, porque<br />
sentiu o balanço/tremendo/ o movimento do mar,<br />
como se estivesse em um barco.<br />
Repetição<br />
Você também se recorda que o poeta explicou<br />
ao carteiro sobre o ritmo, o movimento que alguns<br />
poemas pedem.<br />
A repetição também é uma figura de linguagem,<br />
de construção. Repete-se para aumentar ou<br />
intensificar, para sugerir algo nesta repetição:<br />
“Aqui na Ilha, o mar, e quanto mar. Sai de<br />
si mesmo a cada momento. Diz que sim, que<br />
não, que não. Diz que sim, em azul, em espuma,<br />
em galope. Diz que não, que não. Não<br />
pode sossegar. Chamo-me mar, repete batendo<br />
numa pedra sem convencê-la. E então, com<br />
sete línguas verdes, de sete tigres verdes,<br />
de sete cães verdes, de sete mares verdes,<br />
percorre-a, beija-a, umedece-a e golpeia-se o<br />
peito repetindo seu nome.”<br />
A repetição é responsável, nessas expressões em<br />
negrito, pelo ritmo. Observe que também no poema<br />
de Neruda há a repetição de sons aproximados, semelhantes<br />
e os sons das mesmas palavras.<br />
Talvez você tenha se perguntado se podemos ter<br />
várias figuras de linguagem ao mesmo tempo.<br />
P32<br />
Sim, pois muitas vezes um texto é rico em recursos<br />
expressivos e poderá apresentar várias<br />
figuras encadeadas, próximas, como vimos no<br />
trecho do poeta Neruda.<br />
Paronomásia<br />
Uma figura de linguagem bastante recorrente,<br />
isto é, muito usada para criar efeitos expressivos<br />
entre o sentido e o som é a paronomásia.<br />
A paronomásia consiste em dar expressividade<br />
entre palavras com semelhança de som,<br />
mas com significado diferente.<br />
Observe este provérbio:<br />
“Quem casa, quer casa.”<br />
Nesse provérbio, há o que chamamos de trocadilho:<br />
uma aproximação sonora entre o verbo<br />
“casa” (de casar) e o substantivo “casa” (residência).<br />
Segundo esse dito popular, aqueles que se<br />
casam querem ter espaço reservado (casa) para<br />
a convivência.<br />
Onomatopeia<br />
Uma onomatopeia consiste na representação<br />
falada ou escrita de sons, produzidos<br />
por animais ou coisas, ou mesmo de certos<br />
sons humanos.<br />
Texto com conteúdo<br />
Ainda sobre onomatopeia, segundo o dicionário<br />
Houaiss online:<br />
“Gramática<br />
a) as onomatopeias são ger. consideradas signos<br />
motivados, i.e., que têm relação objetiva — e<br />
não apenas arbitrária — com aquilo que significam<br />
(por evocação); quanto a isso, duas distinções<br />
principais devem ser feitas: 1 entre onomatopeias<br />
não linguísticas e linguísticas: aquelas<br />
imitam ou procuram imitar, mais ou menos fielmente,<br />
os sons do mundo com o aparelho fonador,<br />
sem necessariamente articularem a emissão<br />
vocal da maneira usualmente empr. na língua;<br />
já as onomatopeias linguísticas estão integradas<br />
ao sistema fonológico, tendo por isso uma<br />
semelhança apenas aproximativa e histórica e<br />
culturalmente cambiante com os sons imitados;<br />
pode-se fazer distinção semelhante entre repre-
sentações gráficas de onomatopeias: há aquelas<br />
que seguem certas convenções ou regularidades<br />
ortográficas da língua (blém-blém; bibi-fonfom) e<br />
as us. ou criadas ad hoc (o motor falhou: fffrttoct)<br />
— mas note-se que uma grafia regular como<br />
cocoricó pode, num escrito, estar representando<br />
graficamente um grito imitativo (onomatopeia não<br />
linguística); 2 distinção entre onomatopeias brutas<br />
e gramaticalizadas (segundo J.P. Reynvoet):<br />
aquelas são invariáveis e, freq., sintaticamente<br />
autônomas (não se combinam gramaticalmente<br />
com palavras para formar frases, embora possam,<br />
eventualmente, figurar como complementos<br />
diretos: o relógio fazia tique-taque; tique-taque,<br />
tique-taque e o tempo passava; a mulher resmungou:<br />
humpf): já no caso das onomatopeias ditas<br />
gramaticais, essas onomatopeias brutas (eventualmente<br />
substantivadas) funcionam como morfemas<br />
lexicais (lexemas) com os quais se combinam<br />
morfemas gramaticais (gramemas) para<br />
a formação de novas palavras — dito de outro<br />
modo, as onomatopeias gramaticais são derivados<br />
formados normalmente a partir de onomatopeias<br />
brutas (tique-taque [subst., ‘o som/tique-taque/<br />
do relogio’], tiquetaquear [v., ‘produzir o som<br />
/tique-taque/’], *tiquetaqueante [adj.2g., ‘que faz<br />
o som/tiquetaque/’]) b) dentro do campo dos signos<br />
considerados motivados, cabem outras duas<br />
distinções: 1) entre onomatopeias brutas e interjeições<br />
primárias (Reynvoet): ambos os tipos de<br />
signos têm relação objetiva — ao menos em parte<br />
— com aquilo que dignificam, mas, enquanto as<br />
onomatopeias evocam ou imitam acusticamente<br />
fenômenos externos (passíveis de descrição ou<br />
design. por palavras), as interjeições evocam ou<br />
expressam, articuladamente, fenômenos interiores/subjetivos<br />
(tb. eles passíveis de comunicação<br />
ou design. por palavras); essa diferença implica<br />
uma outra: as onomatopeias têm com o que denotam<br />
uma relação de semelhança, sem vínculo<br />
necessário (a onomatopeia pam pode estar<br />
afastada, no tempo e no espaço, do choque ou<br />
pancada que imita), e as interjeições estão em<br />
contiguidade com o fenômeno/estado interno denotado<br />
(pois ‘decorrem’ ou ‘se originam’ dele); 2)<br />
distinção entre onomatopeias propriamente ditas<br />
e as chamadas palavras expressivas (ver): estas<br />
não se reportam a um som determinado, mas sugerem,<br />
por seu aspecto fônico/acústico, alguma<br />
característica daquilo que é designado/denotado<br />
(zás, vapt-vupt, créu); essa evocação ou sugestão<br />
é intuitiva e complexa, pois se reporta à<br />
experiência que emissor e receptor, ou falante e<br />
ouvinte, têm da língua e de seus recursos expressivos<br />
c) observa-se, em tempos recentes, uso de<br />
empréstimos ou adaptações de palavras onomatopaicas<br />
do inglês; esse tipo de influência, bem<br />
característico da relação entre cultura dominante<br />
e dominada, ocorre tb. na grafia (p.ex.: tsk, shh<br />
[pedido de silêncio], cof-cof [tosse], argh), pois<br />
verifica-se principalmente em histórias em quadrinhos,<br />
meio que por excelência faz uso escrito<br />
de onomatopeias, e em arte pop.”<br />
Leia o texto a seguir:<br />
A porta do quarto estava emperrada. Lá dentro,<br />
o bebezinho chorava que chorava:<br />
—<br />
Chamaram o marceneiro para abri-la. Nada.<br />
Veio o chaveiro. Nada também. A mãe, a tia, o<br />
pai e o cunhado tentaram dar um jeito na situação.<br />
Sem resultado. Preocupado com o irmão,<br />
Joãzinho foi em direção à porta e…<br />
Problema resolvido…<br />
O choro do bebê trancado no quarto é representado<br />
por “Buá! Buá! BUÁ!”, expressão grafada<br />
com letras que crescem gradativamente. Essa<br />
representação, chamada onomatopeia, mostra o<br />
choro crescente da criança. No mesmo texto, o<br />
som da porta quebrando-se é representado por<br />
“CRÁC!”, ou seja, por letras grandes, em negrito,<br />
seguidas de exclamação, que intensifica o som.<br />
Trata-se, assim, de outra onomatopeia.<br />
Observe as histórias em quadrinhos: é muito<br />
comum encontrar onomatopeias nelas.<br />
Texto com conteúdo<br />
Professor: Um bom recurso de leitura sobre<br />
HQ e recursos expressivos é a obra QUELLA-<br />
GUYOT, Didier. A história em quadrinhos. Trad.<br />
de Maria Stela Gonçalves e Adail Sobral. São<br />
Paulo: Loyola, 2004. (obra presente na biblioteca<br />
PNLL/MEC)<br />
P33
1. Após ler os quadrinhos, responda: que recurso expressivo o cartunista Quino utilizou ao grafar<br />
“atchim” como correspondente à espirro ou resfriado?<br />
JOAQUIN SALVADOR LAVADO (QUINO)/TODA<br />
MAFALDA – MARTINS FONTES, 1991<br />
2.<br />
a)<br />
b)<br />
P34<br />
Onomatopeia. Representou o som que produzimos ao espirrar.<br />
Agora, observe estes quadrinhos:<br />
JOAQUIN SALVADOR LAVADO (QUINO)/TODA<br />
MAFALDA – MARTINS FONTES, 1991<br />
Que figura de linguagem temos na segunda cena?<br />
paronomásia ou trocadilho<br />
Mesmo usando essa figura, por que o menino considerou-se fracassado?<br />
Porque usou um clichê, ou seja, um recurso muito comum, conhecido por toda gente.<br />
Para continuar<br />
Além do texto<br />
Leia, a seguir, o prefácio (texto de apresentação de um livro) de um catálogo angolano, sobre a<br />
função e a importância dos selos:<br />
Hoje, o selo postal transformou-se em um convincente embaixador itinerante da fraternidade entre<br />
os povos, um elemento de propaganda, catalisador de contatos entre pessoas de nações diferentes,<br />
uma forma eficaz de promoção da imagem do País nos lugares mais remotos. O selo, tal qual o hino e a<br />
bandeira, constitui um símbolo nacional. Por meio do selo, fala-se da história e etnografia, imortalizam-<br />
-se os heróis, consagram-se as ciências, as artes, os desportos e, enfim, faz-se propaganda turística.<br />
Agora observe as imagens e a ficha técnica a seguir:<br />
Professor:<br />
Neste “Além do texto”, temos uma ficha técnica, prefácio de um catálogo de selos e marcas de um<br />
texto informativo para análise. Vale lembrar que o objetivo é a leitura das máscaras africanas como<br />
um objeto de arte — este é o ponto importante desta seção —, bem como o resgate desse tema em<br />
As senhoritas de Nova York no capítulo anterior.
© ENCTA (Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola)<br />
© ENCTA (Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola)<br />
© ENCTA (Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola)<br />
Texto com conteúdo<br />
Circuncisão: retirada cirúrgica do prepúcio, pele que envolve a glande do pênis, praticada por<br />
razões higiênicas e religiosas. No caso das máscaras que temos nas imagens, o ritual é sociocultural<br />
— significa que o indivíduo circuncidado passa a pertencer a um grupo socialmente mais<br />
reconhecido, a idade em que a circuncisão é feita varia muito entre as etnias, mas na passagem da<br />
P35
infância para a adolescência é mais comum.<br />
Ráfia: folhas de palmeira, cuja fibra chamamos<br />
de ráfia.<br />
Mabela: tecido feito de ráfia, parecido com<br />
“estopa”.<br />
Policromatismo: várias cores.<br />
Embaixador: cargo diplomático de primeira<br />
hierarquia, a grosso modo um cargo diplomático<br />
negocia e defende os direitos de um país perante<br />
outro país estrangeiro.<br />
Estádio: equivalente a estágio.<br />
Estatuto: posição, classe social.<br />
Etnografia: estudo descritivo de um ou mais<br />
aspectos sociais e culturais de um povo ou grupo<br />
social.<br />
Você se recorda que, no capítulo anterior, o menino<br />
que estava em Nova York comenta que Picasso<br />
estudou as máscaras africanas?<br />
Muito bem! Acima você observou a imagem de<br />
algumas máscaras de povos que vivem na Angola,<br />
um dos países africanos que, como o nosso, tem<br />
como uma das línguas oficiais o português.<br />
No catálogo, temos uma série de selos com<br />
máscaras. Agora, responda:<br />
1. Por que tanto na ficha coletiva como na ficha<br />
individual temos o texto em duas línguas?<br />
Porque o português é a língua oficial em Angola,<br />
já a língua inglesa é usada como língua comercial<br />
na maioria dos países.<br />
2. Sabemos que um selo é bem menor do que<br />
87 cm. Então, por que na ficha com mais detalhes<br />
temos essa dimensão? O que significa o quadrado<br />
pontilhado em cima da imagem? Observe os dados<br />
da outra ficha técnica para comparar e responder.<br />
É o tamanho da máscara com os adornos.<br />
Os pontilhados demarcam o que será mostrado no<br />
selo, é o ‘picote’ de onde serão impressos blocos<br />
com os selos para serem destacados. Na ficha técnica<br />
com várias máscaras, vemos que os selos medem<br />
30 x 40 mm.<br />
3. Como o selo é de origem angolana, o preço<br />
traz a abreviatura kZ, referente a “kwanza”, o<br />
nome da moeda corrente angolana (esse nome<br />
advém do principal rio que corre em território angolano).<br />
Se o selo fosse brasileiro, como seria a<br />
abreviatura?<br />
R de Real, a nossa moeda corrente. (Dois<br />
reais: R$ 2,00)<br />
4. Uma máscara<br />
é um objeto de arte. O que mais<br />
lhe chama a atenção na imagem maior, na ficha<br />
P36<br />
mais detalhada?<br />
Talvez os alunos respondam que os adornos<br />
da máscara com o gorro e a barba. Demonstre<br />
que, de fato, o que chama a atenção é a proximidade<br />
do entalhe em madeira com a expressão<br />
humana da máscara, que parece captar uma espécie<br />
de serenidade nos olhos e boca entreabertos,<br />
como se a máscara pudesse ter uma espécie<br />
de “vida”. As cores também influenciam para dar<br />
esta expressão “viva” para a máscara.<br />
5. Agora, releia o trecho do prefácio. Você concorda<br />
que um selo pode ser um “embaixador” de<br />
um país?<br />
Sim, espera-se que os alunos percebam que<br />
um selo pode ser portador de um objeto de arte<br />
como a máscara que observamos. Dessa forma,<br />
um selo faz a divulgação da cultura e da arte de<br />
um país, assim como um embaixador.<br />
Sequência didática<br />
Professor: Caso seja de seu interesse e haja<br />
um trabalho interdisciplinar, assista com os alunos<br />
ao filme A intérprete. A protagonista (Nicole<br />
kidman) interpreta uma africana com nacionalidade<br />
americana que trabalha como tradutora<br />
na ONU (o que pode esclarecer a citação dos<br />
“inspetores da ONU” e a CIA, na carta de Mia<br />
Couto no capítulo anterior). Esse filme traz várias<br />
situações interessantes que podem vir a complementar<br />
as discussões abordadas neste capítulo:<br />
a relação entre as máscaras na sala do apartamento<br />
da intérprete e seu significado para ela,<br />
já que está ameaçada de morte. Temos também<br />
os embaixadores e os cargos diplomáticos que<br />
podem ser esclarecedores para os alunos, assim<br />
como os envelopes com cadernos e os e-mails<br />
enviados à protagonista pelo irmão, pouco antes<br />
deste ser assassinado. Enfim, o filme pode ser<br />
um bom conjunto para discutir os meios de comunicação,<br />
a diplomacia, como política e comércio,<br />
bem como a arte no mundo de hoje.<br />
Para finalizar<br />
Professor: Preencha o quadro juntamente<br />
com os alunos — este pode ser um momento de<br />
revisão.<br />
A resposta dos alunos pode auxiliá-lo na autoavaliação.<br />
Você considera que conseguiu realizar<br />
todas as atividades com seus alunos? Quanto você<br />
contribuiu para o conhecimento dos alunos?
Página de internet<br />
Conteúdos O que aprendi no capítulo 2<br />
Narrativa com recursos da linguagem poética<br />
Onomatopeia/ histórias em quadrinhos<br />
Catálogo, prefácio e ficha técnica<br />
Etimologia<br />
Metáfora<br />
Repetição<br />
Paronomásia<br />
Comparação<br />
Para casa<br />
Mafalda ouve um programa de rádio em que o locutor faz uso de uma comparação “a vida é como um<br />
rio”. Na sequência, ela faz um comentário sobre isso.<br />
a)<br />
Que figura de linguagem ela utilizou para comentar?<br />
uma metáfora (e também uma ironia).<br />
b) Que sentido assumiu a palavra “hidráulica”?<br />
Mafalda usa a metáfora, pois a hidráulica é uma ciência (parte integrante da Física) que estuda o fluxo<br />
dos líquidos, como os rios. Para ela, a vida teria um curso controlado, previsto pelo homem. O humor do<br />
quadrinho consiste em um clichê popular, uma vez que as pessoas pensam que entendem de mecânica,<br />
hidráulica e afins, assim como da vida dos outros e todos se sentem aptos a dar palpites.<br />
JOAQUIN SALVADOR LAVADO (QUINO)/TODA<br />
MAFALDA – MARTINS FONTES, 1991<br />
P37
Anotações<br />
P38
Para começar<br />
Capítulo<br />
Português 3<br />
Neste capítulo, estudaremos roteiro, intertextualidade,<br />
além de figuras de linguagem.<br />
Central do Brasil<br />
1. DIVERSAS CENAS - CENTRAL DO BRASIL<br />
- INT. - DIA<br />
Ecoa uma VOZ num alto-falante distante.<br />
Ouvem-se APITOS e RUÍDOS de trens. Uma<br />
mulher de quarenta anos, rosto ovalado, maquiagem<br />
carregada, hesita antes de começar<br />
a falar.<br />
MULHER<br />
Querido, o meu coração é seu. Não importa<br />
o que você seja ou o que tenha feito, te<br />
amo. Esses anos todos que você ficar aí dentro<br />
trancado eu também vou ficar trancada aqui fora<br />
te esperando…<br />
Trens despejam centenas de pessoas nas<br />
plataformas da estação. Em cena, um senhor<br />
septuagenário.<br />
SENHOR<br />
Foi um cara que me enganou e eu quero<br />
mandar uma carta pra ele. Seu Zé Amaro,<br />
muito obrigado pelo que você fez comigo. Eu<br />
confiei em você e você me enganou. Até a chave<br />
do meu apartamento você carregou…<br />
Uma mão escreve com caligrafia rebuscada<br />
sobre um papel de carta o que está sendo dito.<br />
Novos APITOS. O alto-falante ao longe anuncia<br />
a chegada e a partida de trens. A mão segue<br />
rabiscando as folhas. Em cena, uma mulher de<br />
trinta e poucos anos, ar proletário e sotaque nordestino<br />
carregado.<br />
MULHER<br />
Jesus, você foi a pior coisa que já me<br />
aconteceu. Eu não tô te escrevendo pra te dar<br />
satisfação da minha vida. Só escrevo porque<br />
o teu filho Josué pediu. Eu contei pra ele que<br />
você não vale nada, mas ainda assim o menino<br />
pôs na ideia que quer te conhecer…<br />
Cartas que vão<br />
e que vêm…<br />
Josué, um menino de uns 9 anos, a olha<br />
desaprovador. Ele leva uma pequena mochila<br />
nas costas. Finalmente aparece quem<br />
escreve o que está sendo ditado: Dora, uma<br />
mulher de mais de cinquenta anos, sentada<br />
numa mesinha portátil. O mau humor imanente,<br />
os cabelos meio despenteados e as<br />
roupas que usa, desleixadas, quase masculinas,<br />
tornam claro que Dora não se preocupa<br />
em se mostrar atraente.<br />
DORA<br />
Endereço…<br />
MULHER<br />
Jesus de Paiva. Sítio Volta da Pedra, Bom<br />
Jesus do Norte, Pernambuco.<br />
Ana parte apática com o filho, que a puxa<br />
pela mão. Um RAPAZ está agora ditando<br />
para Dora.<br />
DETALHE da mão de Dora que segue preenchendo<br />
as linhas das cartas com sua caligrafia<br />
desenhada. Uma moça do interior está<br />
à sua frente.<br />
não…<br />
MOÇA<br />
O endereço eu não sei dizer direito<br />
DORA<br />
Sem endereço não dá!<br />
MOÇA<br />
Coloca assim: terceira casa depois da<br />
padaria, Mimoso, Pernambuco.<br />
Rostos se sucedem.<br />
RAPAZ<br />
Cansanção, Bahia.<br />
VELHA<br />
Carangola, Minas Gerais.<br />
MOÇA<br />
Município de Relutaba, Ceará.<br />
VELHO<br />
Muzambinho, Minas Gerais.<br />
As falas das pessoas se sobrepõem até formar<br />
um ZUMBIDO GERAL, que se junta ao BA-<br />
RULHO de multidão. Ouvimos os ruídos de<br />
APITOS, do alto-falante anunciando a partida<br />
de trens, de RANGIDOS nos trilhos.<br />
P39
[…]<br />
2. VAGÃO - INT. – TARDINHA<br />
Dora vai sendo espremida pela pequena<br />
multidão que se comprime no vagão. Ela consegue<br />
se agarrar numa barra de ferro quando<br />
o trem balança, range nos trilhos e parte lentamente.<br />
[…]<br />
3. CONJUNTO HABITACIONAL - EXT. –<br />
TARDINHA<br />
Passo arrastado, Dora caminha para o bloco<br />
do conjunto residencial de classe média<br />
baixa onde mora no subúrbio, carregando<br />
uma sacola de compras.<br />
Para continuar<br />
P40<br />
João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein<br />
Conversa sobre o texto<br />
1. Antes de iniciarmos a análise do trecho, identifique<br />
palavras que você não conhece e crie o seu<br />
próprio vocabulário, consultando um dicionário ou<br />
discutindo com seus colegas e o professor.<br />
Sugestão de palavras para o vocabulário:<br />
Hesitar: estado de incerteza, perplexidade.<br />
Septuagenário: pessoa com idade entre 70 e<br />
79 anos.<br />
Proletário: operário.<br />
Imanente: inseparável, que está sempre.<br />
Apático: distante, indiferente.<br />
Suceder: acontecer, seguir um atrás do outro,<br />
um após o outro.<br />
2. O texto que você leu possui marcas de leitura<br />
muito específicas. O que significam os números ao<br />
longo do texto?<br />
As cenas, ou seja, a ordem em que elas acontecem.<br />
3. Há também várias abreviaturas típicas deste<br />
gênero textual. Faça um levantamento delas e deduza,<br />
de acordo com o contexto, o que significam.<br />
INT. = interior da estação de trem Central do<br />
Brasil ou do vagão de trem, por exemplo.<br />
EXT. = exterior do conjunto habitacional ou da<br />
estação de trem.<br />
4. Notamos também que o tipo e o tamanho de<br />
letras usadas se alternam ao longo do texto junto<br />
a sinais de pontuação. Qual o motivo disso? Liste<br />
essas formas e levante hipóteses sobre seus<br />
usos no texto.<br />
As letras maiúsculas e negrito servem para introduzir<br />
as falas = DORA<br />
As letras maiúsculas, em meio ao itálico, indicam<br />
o que terá mais ênfase na cena, por exemplo:<br />
VOZ, APITOS, RUÍDOS, DETALHE, ZUMBIDO GE-<br />
RAL, BARULHO, RANGIDOS.<br />
Os trechos em itálico são introduções ou finalizações<br />
da cena, situações em que não haverá falas<br />
de imediato, são as marcações de cena como as<br />
rubricas do teatro.<br />
Professor: Informe aos alunos que ainda é<br />
possível aparecer, neste tipo de texto, outras características.<br />
Veja: as marcações entre parênteses indicam<br />
como a fala será realizada. Por exemplo, “off” significa<br />
que ou não aparece o personagem ou ele se<br />
movimenta como se estivesse falando. Geralmente<br />
usa-se o verbo no gerúndio (interrompendo) ou<br />
um adjetivo (irônica) para o ator e equipe saberem<br />
como a ação/ fala deve ser representada.<br />
As aspas dentro da fala da personagem indicam<br />
que ela está citando um outro texto.<br />
5. Um roteiro tem características de que outro<br />
tipo de texto? Cite as semelhanças que os aproximam.<br />
O texto dramático, de teatro. As marcações de<br />
cena e rubricas.<br />
6. Dentre as figuras de linguagem que já conhecemos,<br />
qual delas está estampada neste trecho?<br />
Seu Zé Amaro, muito obrigado pelo que você<br />
fez comigo.<br />
A fala do senhor revela ironia, porque o outro<br />
lhe tirou tudo e ele diz “muito obrigado”.<br />
7. No trecho “a mão segue rabiscando a folha”<br />
temos uma outra figura de linguagem, muito utilizada<br />
no cinema, porque é possível fazer a câmera focar<br />
uma parte, ou seja, colocar em “close” um movimento,<br />
por exemplo, sem mostrar o todo da tomada<br />
(cena). Que figura é esta? Explique sua resposta.<br />
A figura é a metonímia, pois mostra-se a<br />
parte pelo todo: neste caso, a mão de Dora escreve.<br />
No gráfico, a mão na parte menor e Dora<br />
na parte maior.<br />
8. Explique por que podemos considerar o trecho<br />
a seguir como uma metáfora: “meu coração é seu”.<br />
Embora seja um conhecido clichê (sentido figurado<br />
muito usado e que perde o valor estético),<br />
faz-se um recurso expressivo, coração= representa<br />
o sentimento de amor por outra pessoa/ lugar onde
ocorre o amor.<br />
Meu “coração” (amor) é seu (é para você).<br />
9. Agora, releia o título do roteiro e responda:<br />
por que o título é “Central do Brasil”?<br />
Professor: A resposta é pessoal, mas se espera<br />
que os alunos levantem hipóteses que o roteiro<br />
acontece em uma grande estação de trem. Nas<br />
diversas estações e paradas pelo Brasil, descobrimos<br />
mais sobre como as pessoas vivem e convivem<br />
no país e como se ligaram por meio de cartas que<br />
Dora escreve. Caso seja de seu interesse, procure<br />
na biblioteca de sua escola os exemplares deste<br />
livro, assista ao filme com os alunos para estabelecer<br />
as comparações entre o roteiro e o produto final<br />
na forma cinematográfica.<br />
Para continuar<br />
Os textos no contexto<br />
Como vimos anteriormente, existem várias maneiras<br />
de se enviar uma mensagem: cartas, cartões,<br />
telegramas, e-mails. Mas há, também, muitos<br />
modos de se escrever uma carta. Leia o soneto a<br />
seguir para conhecer uma destas formas:<br />
Carta<br />
Há muito tempo, sim, não te escrevo.<br />
Ficaram velhas todas as notícias.<br />
Eu mesmo envelheci. Olha, em relevo,<br />
Estes sinais em mim, não das carícias<br />
(tão leves) que fazias no meu rosto:<br />
são golpes, são espinhos, são lembranças<br />
da vida a teu menino, que ao sol-posto<br />
perde a sabedoria das crianças.<br />
A falta que me fazes não é tanto<br />
à hora de dormir, quando dizias:<br />
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.<br />
É quando, ao despertar, revejo a um canto<br />
a noite acumulada de meus dias,<br />
e sinto que estou vivo, e que não sonho.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. “Carta” In: Lição de<br />
coisas. Rio de Janeiro: Record. © Graña Drummond<br />
1. Pelo que lemos no poema, para quem é esta<br />
carta? Comprove com trechos.<br />
Provavelmente para a mãe. “à hora de dormir”,<br />
“leves carícias”, “teu menino”.<br />
2. Esse soneto, que é um gênero lírico, possui<br />
algumas características do gênero epistolar<br />
(carta).<br />
a) Que situações típicas de uma carta podemos<br />
perceber no poema?<br />
O eu lírico estabelece uma conversa com<br />
um interlocutor (a mãe), uso de parênteses para<br />
explicação, uso de segunda pessoa do singular,<br />
transcrição do que o interlocutor disse anteriormente<br />
entre aspas, afirmações para trazer o interlocutor<br />
para o texto, uso de imperativo; além<br />
do mais, o título prenuncia o modelo.<br />
b) Transcreva trechos para comprovar sua res-<br />
posta.<br />
“carta”, “sim”, “te”, “teu”, “fazes”, “dizias”,”<br />
“Deus te abençoe”, “olha”, “(tão leves)”.<br />
3. Que expressões o eu lírico utilizou para demonstrar<br />
que havia envelhecido? Podemos dizer<br />
que estes termos são metáforas?<br />
“Estes sinais em mim” (que estão em) “em<br />
relevo” são as rugas; “a noite acumulada de meus<br />
dias”, “revejo”, “lembranças”, “ao sol-posto”,” ficaram<br />
velhas todas as notícias”.<br />
Sim, são metáforas porque estabelecem comparações<br />
com seres de universos diferentes, por<br />
exemplo: “noite acumulada” quer dizer que muito<br />
tempo passou-se; ou: “sol-posto”, equivale a dizer<br />
que se envelhece, estando na noite dos dias. Na<br />
verdade, o que o eu lírico faz ao longo do poema<br />
é um encadeamento de metáforas, uma alegoria<br />
para a tomada de consciência do envelhecer.<br />
4. Além da passagem do tempo delimitada por<br />
algumas expressões, notamos também que há um<br />
certo saudosismo e tristeza. Que outras expressões<br />
comprovam essa afirmação?<br />
“golpes”, “espinhos”, “ e que não sonho”, “<br />
perde a sabedoria das crianças.”<br />
Professor: Converse com os alunos sobre o<br />
tempo na poesia, explicando-lhes que sabedoria<br />
= inocência, e que “espinhos e golpes” = problemas<br />
do mundo adulto. Não sonhar pode indicar<br />
um pessimismo diante da passagem do tempo;<br />
pode também estabelecer algum tipo de relação<br />
entre sonhar dormindo (da criança que foi embalada<br />
pela mãe) e o sonhar acordado (devaneio)<br />
que, neste caso, já não ocorre mais, daí um certo<br />
pessimismo e saudades da infância.<br />
P41
Para continuar<br />
Conceito/conexão<br />
Estilística<br />
Figuras de linguagem<br />
Antítese<br />
A antítese é uma figura de pensamento em<br />
que aproximamos palavras ou expressões com<br />
sentido contrário, oposto.<br />
Observe um exemplo do roteiro: logo no início,<br />
uma moça dita para Dora uma carta na qual é possível<br />
deduzir que seu amado está preso, para dizer que<br />
ela irá esperá-lo, pronuncia-se da seguinte forma:<br />
P42<br />
…vou ficar trancada aqui fora te esperando…<br />
Desta forma temos:<br />
trancar = fechar, ficar recolhido em algum lugar,<br />
estar dentro<br />
+<br />
fora = um lugar externo, exterior.<br />
Além da construção de uma metáfora, temos um<br />
recurso de estilo poderoso quando utilizamos uma<br />
antítese. No caso acima, a moça quis dizer que, para<br />
ela, o mundo além das grades onde se encontrava<br />
seu amado era uma prisão; portanto, estar fora significa<br />
“estar trancada”, uma sequência oposta, contrária<br />
em termos de pensamento.<br />
Eufemismo<br />
O eufemismo é uma figura de pensamento<br />
que indica que tentamos suavizar, amenizar<br />
uma ideia que poderia soar deselegante ou para<br />
atenuar uma imagem violenta que provocaria<br />
algum tipo de comoção em quem ouve ou lê.<br />
Muitas vezes o eufemismo pode ser usado com<br />
bom humor.<br />
Leia este trecho em que uma personagem refere-se<br />
à morte da mãe de Josué, em outro trecho<br />
de Central do Brasil:<br />
… Já tá acertando as contas lá em cima…<br />
Essa forma foi utilizada por que a morte é sempre<br />
uma informação que causa espanto, dor, e é<br />
uma imagem forte; por isso, é comum tentarmos<br />
suavizar seu impacto. No trecho, “acertando as<br />
contas lá em cima” significa que a mãe morreu,<br />
foi para cima, para o céu.<br />
Em outro trecho, Dora sugere/escreve a seguinte<br />
descrição para expressar o sentimento de<br />
outra personagem:<br />
Queria deixar o último fio preto de cabelo<br />
da minha cabeça para você tirar!<br />
Você sabe o que significa “último fio preto de<br />
cabelo”?<br />
Nada mais é do que suavizar a ideia de querer<br />
envelhecer ao lado do pai, ou seja, quando os<br />
cabelos ficarem brancos, a personagem quer que<br />
ele esteja próximo dela para arrancar esse último<br />
fio preto. Ocorre um eufemismo também porque<br />
suaviza a ideia de envelhecimento e, consequentemente,<br />
de morte.<br />
Polissíndeto<br />
Polissíndeto é a repetição de uma conjunção<br />
(geralmente a conjunção e) para sugerir<br />
continuidade ou ações que se sucedem.<br />
Tem esse nome porque significa “poli” (vários) +<br />
“síndeto” (conjunção).<br />
Leia estes versos de Drummond:<br />
e a noite abria em sonho.[…]/e sinto que estou<br />
vivo, e que não sonho.<br />
Para expressar a maneira como sente a passagem<br />
do tempo, o eu lírico repete a conjunção “e” ao<br />
lado da conjunção “que”.<br />
Inversão<br />
A inversão é uma figura de construção em<br />
que temos o uso da ordem indireta para criar<br />
efeitos sonoros e dar destaques a determinados<br />
sentidos. Também é chamada de hipérbato.
Agora, releia o trecho do poema “Carta”:<br />
Ficaram velhas todas as notícias<br />
Em uma ordem mais comum, que é a direta,<br />
teríamos:<br />
Todas as notícias ficaram velhas<br />
Podemos considerar como ordem direta aquela<br />
que usamos com a seguinte estrutura sintática:<br />
Personificação<br />
sujeito + verbo + predicado<br />
Personificação é uma figura de pensamento<br />
em que se empresta vida ou ação humana<br />
para seres inanimados ou irracionais.<br />
… e a noite abria em sonho…<br />
Embora tenhamos uma imagem metafórica no<br />
trecho por meio do verbo “abrir”, para que esta<br />
imagem se concretize também temos a personificação:<br />
“noite”, que é um elemento da natureza,<br />
mais “sonho”, que é uma ação humana.<br />
©JOAQUÍN SALVADOR LAVADO (QUINO)/<br />
TODA MAFALDA – MARTINS FONTES, 1991<br />
3.<br />
a)<br />
b)<br />
Leia o quadrinho e, depois, responda:<br />
1.<br />
Observe este texto:<br />
Qual o eufemismo usado pela mãe de Mafalda para explicar a morte?<br />
“ir para o céu”.<br />
Nunca dois iguais<br />
foram tão diferentes!<br />
Viva as diferenças...<br />
ONG – Viva as diferenças<br />
Que figura de pensamento temos? Explique.<br />
Uma antítese, porque a expressão “iguais”<br />
é oposta à expressão “diferentes”, na linguagem<br />
verbal. No texto não verbal, temos essa ideia reforçada,<br />
pois há a presenca de gêmeos que, mesmo<br />
iguais, apresentam características diferentes.<br />
2. As expressões populares são ricas em eufemismos.<br />
Determine o sentido das ocorrências<br />
a seguir:<br />
a) Foi para a terra dos pés juntos.<br />
b) Passou desta para melhor.<br />
c) Abotoou o paletó.<br />
Os itens são todos atenuantes para morte.<br />
O que de fato a outra menina entendeu com a palavra “céu”?<br />
A menina entendeu que seria uma viagem espacial, por isso utilizou a palavra “lançamento”.<br />
4. Você deve ter notado que, para conseguir a rima em seu poema “Carta”, o poeta teve que usar<br />
a inversão ou hipérbato, trocando a ordem das palavras para obter um efeito expressivo, que desse<br />
P43<br />
ELENA ROSTUNOVA/DREAMSTIME.COM
mais sonoridade ao texto, demarcando com isso<br />
as rimas.<br />
Volte ao texto de Carlos Drummond e, usando<br />
o sentido das palavras e a pontuação como pista,<br />
“desinverta”, “destroque” os versos, colocando-os<br />
em ordem direta e transformando-os em prosa.<br />
Professor: Poderá haver várias respostas. O<br />
objetivo é fazê-los perceber que não é difícil a leitura<br />
do poema, desde que se conheça o código, que<br />
neste caso, é a inversão dos termos.<br />
Também mencione que não é necessário mexer<br />
em todos os termos.<br />
Sugestão para resposta:<br />
Sim, há muito tempo não te escrevo.<br />
Todas as notícias ficaram velhas.<br />
Eu mesmo envelheci.<br />
Olha em mim estes sinais em relevo, não das<br />
carícias (tão leves) que fazias no meu rosto: são<br />
golpes, são espinhos, são lembranças da vida a<br />
teu menino que ao sol-posto perde a sabedoria<br />
das crianças.<br />
A falta que me fazes não é tanto à hora de<br />
dormir, quando dizias:<br />
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.<br />
Ao despertar, é quando revejo a um canto a<br />
noite acumulada de meus dias, e sinto que estou<br />
vivo, e que não sonho.<br />
Para continuar<br />
Além do texto<br />
Leia, a seguir, um texto inspirado na canção<br />
“Mensagem”, letra de Cícero Nunes e Ado Cabral,<br />
cantada por Maria Bethânia.<br />
Sentada na varanda, a mulher avistou o<br />
carteiro que se aproximava. Com uma carta<br />
na mão, ele chegou até ela e chamou-lhe pelo<br />
nome. A mulher, surpresa com a situação, foi<br />
pegar a tal carta.<br />
Ao olhar o envelope, reconheceu a caligrafia<br />
do homem que, em outros tempos, já lhe escrevera<br />
para terminar o relacionamento. Ela ficou<br />
assustada, temerosa, em dúvida. O que estaria<br />
escrito naquela carta? Seriam boas novas? Ou<br />
mais promessas infundadas? Seu sofrimento<br />
aumentaria se lesse as palavras do amado? Por<br />
fim, rasgou a carta, queimou o papel. Preferiu<br />
não saber das notícias. Assim, não havia risco<br />
de sofrer ainda mais.<br />
Leia, agora, o poema “Todas as cartas de amor”,<br />
de Álvaro de Campos:<br />
P44<br />
Todas as cartas de amor são<br />
Ridículas.<br />
Não seriam cartas de amor se não fossem<br />
Ridículas.<br />
Também escrevi em meu tempo cartas de<br />
amor.<br />
Como as outras.<br />
Ridículas.<br />
As cartas de amor, se há amor.<br />
Têm de ser<br />
Ridículas.<br />
Quem me dera no tempo em que escrevia<br />
Sem dar por isso<br />
Cartas de amor<br />
Ridículas.<br />
Afinal.<br />
Só as criaturas que nunca escreveram<br />
Cartas de amor.<br />
É que são<br />
Ridículas.<br />
1. No primeiro texto, temos uma narrativa. Resuma<br />
com suas palavras qual a trama dessa narrativa.<br />
Uma mulher recebe uma carta e reconhece<br />
a caligrafia do amado que a deixou. Mas o medo<br />
de sofrer é tanto que ela não tem coragem de<br />
abri-la. Mesmo correndo o risco de nunca saber<br />
se as notícias eram ou não boas, prefere, para<br />
não sofrer mais, queimar a carta ainda fechada.<br />
Assim, por vezes, a dor da ignorância é menor<br />
que a dor de uma nova rejeição.<br />
2. O recurso de estabelecer um diálogo entre textos<br />
que possuem algum tipo de semelhança, seja<br />
na forma e/ou no conteúdo, chama-se intertextualidade.<br />
O texto “Mensagem” estabelece intertextualidade<br />
com o poema de Álvaro de Campos? Se<br />
sim, o que há em comum?<br />
Sim, há um intertexto com a narrativa, porque<br />
ambas tratam da temática das cartas de amor.<br />
Texto com conteúdo<br />
Professor: Pontue para os alunos que Álvaro<br />
de Campos foi um dos heterônimos do poeta<br />
português Fernando Pessoa, uma das mais expressivas<br />
vozes do Modernismo, em Língua Portuguesa,<br />
movimento do início do século XX. Esse<br />
heterônimo se caracterizou pelos temas futuristas<br />
e raramente a temática amorosa foi abordada por<br />
ele. Temos, então, uma das poucas exceções —<br />
nela, o heterônimo deu um tratamento surpreendente,<br />
pois utilizou algo típico de sua linguagem,<br />
que é a ironia.
3. O poema de Álvaro de Campos gera uma expectativa.<br />
Desde seu início, nos faz pensar que o eu<br />
lírico considera as cartas de amor como ridículas.<br />
Isso continua por todo o poema? Se não, explique.<br />
A expressão “quem me dera” quebra a ironia<br />
que pensamos existir no início do poema, a expressão<br />
“criaturas que nunca escreveram cartas de<br />
amor…” nos devolve para ironia, enquanto que no<br />
último verso, há uma conclusão que não se espera:<br />
quem não escreveu é ridículo, o oposto do que o<br />
leitor deve ter imaginado ao iniciar a leitura.<br />
Professor: Se quiser, estabeleça com os alunos<br />
um diálogo a respeito das figuras de linguagem<br />
presentes no texto: “carta nos traz” = personificação;<br />
“criaturas”, “se há amor” = ironia.<br />
Para complementar a atividade, é possivel trabalhar<br />
a canção “Mensagem”, de Cícero Nunes e<br />
Aldo Cabral, texto que serviu de base para a criação<br />
da narrativa transcrita. Se sua escola tiver internet,<br />
você pode encontrar esta música no site: http://<br />
letras.terra.com.br/maria-bethania/112663/ (acesso<br />
em 25/07/2008)<br />
Para finalizar<br />
Professor: Preencha o quadro juntamente com os<br />
alunos — este pode ser um momento de revisão.<br />
A resposta dos alunos pode auxiliá-lo em sua<br />
autoavaliação. Você considera que conseguiu realizar<br />
todas as atividades com seus alunos? Quanto<br />
você contribuiu para o conhecimento dos alunos?<br />
Conteúdos<br />
Roteiro<br />
cinematográfico<br />
Soneto<br />
Intertextualidade<br />
Personificação<br />
Antítese<br />
Eufemismo<br />
Polissíndeto<br />
Inversão<br />
O que aprendi<br />
no capítulo 3<br />
Para casa<br />
1. Leia a primeira estrofe do Hino Nacional brasileiro,<br />
cuja letra foi composta por Osório Duque<br />
Estrada:<br />
a)<br />
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas<br />
De um povo heroico o brado retumbante,<br />
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,<br />
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.<br />
Grife os verbos.<br />
Ouviram, brilhou.<br />
b) Verifique no dicionário as palavras que você<br />
não conhece o significado.<br />
Sugestão: plácido = calmo; brado = grito;<br />
retumbante = que é forte, que faz eco; fúlgido =<br />
brilhante.<br />
c) Observando as inversões, identifique os pos-<br />
síveis sujeitos para estes verbos. Fique atento à<br />
concordância — os verbos, via de regra, concordam<br />
em pessoa e número com seus sujeitos.<br />
As margens plácidas do Ipiranga (sujeito)<br />
ouviram/ o sol da Liberdade (sujeito) brilhou.<br />
d) Agora, reescreva o trecho novamente em<br />
forma de prosa.<br />
As margens plácidas do (riacho) Ipiranga ouviram<br />
o brado retumbante de um povo heroico. E<br />
nesse instante o sol da Liberdade brilhou no céu<br />
da Pátria em raios fúlgidos. (sugestão)<br />
e) Algum elemento sofreu empréstimo de ação<br />
humana, ou seja, ocorre personificação em algum<br />
momento? Se sim, demonstre.<br />
Sim. O riacho ganhou a ação humana de ouvir,<br />
no sentido de presenciar; portanto ocorreu a<br />
personificação.<br />
P45
Para começar<br />
P46<br />
Capítulo<br />
Português 4<br />
Cartas de dentro<br />
e de fora<br />
Neste capítulo, trabalharemos com textos epistolares e, também, com as figuras de linguagem.
P47
P48<br />
SANTOS, Joel Rufino. Quando voltei tive uma surpresa. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
Para continuar<br />
Conversa sobre o texto<br />
1. Observando a forma dessa carta e o tipo de<br />
letra usada — a cursiva —, podemos dizer que é<br />
uma carta familiar? Por quê? Quem são o destinatário<br />
e o remetente?<br />
Sim, pois a forma de tratamento inicial: “Nelsinho,<br />
meu querido” e as correções em meio a carta<br />
nos dão esta impressão. Nelsinho é o filho de Joel,<br />
o pai; concluímos isso pelas referências ao longo<br />
do texto e a conversa em inglês.<br />
2. Ao longo da carta, deduzimos que Nelsinho<br />
tem quantos anos? Comprove.<br />
Como o remetente cita a iniciação na escola,<br />
os pés quase tocando o acelerador, podemos deduzir<br />
que ele tem cerca de 8 anos ou menos.<br />
3. Qual o motivo da carta?<br />
O pai escreve para contar porque está ausente.<br />
4. Que surpresa teve o remetente ao voltar de<br />
viagem?<br />
Foi convidado pelo governo a dar explicações<br />
de suas atividades, com as quais o governo não<br />
concorda.<br />
5. “A contar coisas que fiz”. Que coisas eram essas?<br />
Explicar as aulas que deu, os livros que escreveu,<br />
as histórias que contou.<br />
6. Quem irá decidir se o remetente está certo em<br />
suas ações?<br />
Um juiz.<br />
7. Onde está, de fato, o pai de Nelsinho, o Joel?<br />
Quem está com ele?<br />
Na prisão em São Paulo. Muitas pessoas com<br />
vários tipos de profissão, mulheres e homens em<br />
espaços separados.<br />
8. Quais as atividades das pessoas neste espaço<br />
em que Joel está?<br />
Cozinham para elas mesmas, fazem artesanato,<br />
jogam, assistem TV, estudam, trabalham.<br />
9. Joel usa a palavra “quarto” para explicar<br />
onde está. Mas ele está realmente em um quarto?<br />
Que outra palavra podemos usar para substituir<br />
“quarto”?<br />
Cela, cela 31, cela para 6 ou 9 pessoas.<br />
Texto com conteúdo<br />
Professor: Converse com os alunos sobre o período<br />
em que a história se desenrola: o da ditadura<br />
militar no Brasil, entre 1964 e 1974, ou seja, no período<br />
também conhecido como os “anos de chumbo”. Ao<br />
fim deste livro, presente na biblioteca do PNLL/MEC,<br />
temos um glossário histórico com dados ano a ano do<br />
período. Sobre 1973, lemos: “janeiro a fevereiro: Joel<br />
é torturado na OBAN (Operação Bandeirante, o braço<br />
repressivo das Forças Armadas, equivalente ao<br />
DOI-CODI, do II Exército). Ameaçam trazer Teresa<br />
(na época separada de Joel) e Nelson para serem<br />
torturados. Joel é levado para o DOPS. Joel é condenado<br />
pela Justiça Militar a quatro anos de prisão,<br />
reformados para dois anos. Começa a cumprir pena<br />
no Presídio Tiradentes, sendo depois transferido<br />
para o Presídio do Hipódromo, em São Paulo, onde<br />
as cartas que compõem o livro são escritas.<br />
10. Como você deve ter notado, as expressões<br />
“quarto”, “prédio de quatro andares muito movimentado”,<br />
“janelas” de onde se “vê um pedaço do céu”<br />
são formas encontradas pelo narrador para suavizar<br />
e contar ao filho onde está. Podemos considerar<br />
essa maneira de contar um eufemismo? Retome o<br />
conceito no capítulo anterior e tire suas conclusões.<br />
Sim, podemos considerar os trechos acima<br />
como um eufemismo, uma vez que o pai precisa encontrar<br />
uma maneira menos agressiva de dizer ao<br />
menino onde está, sem chocá-lo diante da brutalidade<br />
dos termos “justiça militar”: Joel usa “quarto”<br />
para cela, prédio para presídio, “janelas onde se vê<br />
um pedaço de céu” para janelas com grades.<br />
11. No trecho final da carta, não há despedida,<br />
mas há uma pequena brincadeira de Joel para Nelsinho,<br />
em que o chama de “poliglota” (pessoa que<br />
fala várias línguas) e registra um diálogo imaginário<br />
em inglês. Consulte um dicionário e peça auxílio ao<br />
seu professor de inglês para descobrir, caso não<br />
saiba, o significado da palavra sun. Depois, procure<br />
também qual é a palavra para “filho”, em inglês.<br />
Agora, deduza: será que Joel cometeu um erro ortográfico?<br />
Ou será que há um outro sentido para<br />
sun, neste contexto?<br />
Professor: Auxilie os alunos na tradução do trecho,<br />
ou peça ao professor de língua estrangeira da<br />
classe para retomar esse exercício. A palavra sun<br />
significa “sol”, e a palavra “filho” é son, em inglês;<br />
portanto, Joel deve ter brincado querendo dizer que<br />
o filho é a luz para ele, o sol. Há quem dirá que é<br />
um erro ortográfico, respeitemos as opiniões, apesar<br />
da obviedade do contexto, já que estar preso é<br />
estar na escuridão da cela, com pouca luz, à espera<br />
de algo que venha de fora.<br />
P49
Para continuar<br />
O texto no contexto<br />
P50<br />
Olga<br />
Logo no começo de fevereiro de 1942,<br />
pouco antes do dia em que Olga completaria<br />
34 anos, as mulheres foram reunidas no pátio<br />
central de Ravensbrück para ouvir nos alto-falantes<br />
do campo a relação das duzentas prisioneiras<br />
que na manhã seguinte seriam “transferidas<br />
para outros campos de concentração”. As<br />
mulheres eram chamadas em ordem alfabética<br />
e não pelos números — e as que tivessem sido<br />
selecionadas deveriam afastar-se do grupo e<br />
formar novamente um outro bloco, ao lado, já<br />
haviam sido chamadas mais de 150 quando o<br />
nome ecoou:<br />
— Olga Benário Prestes!<br />
[…] Ao entrar no bloco 11 para pegar sua<br />
trouxa, Olga encontrou duas velhinhas judias<br />
em prantos, curvadas e rezando em iídiche.<br />
[…] Eram oito horas da noite quando os altofalantes<br />
do campo deram o último aviso:<br />
— As prisioneiras relacionadas na chamada<br />
de hoje têm trinta minutos para escolher<br />
seus pertences e se apresentar à oficial, junto<br />
aos ônibus.<br />
Meia hora: tempo suficiente para escrever<br />
uma carta à filha e ao marido.<br />
Dez dias depois, quando o caminhão voltou<br />
a Ravensbrück com as roupas das mulheres<br />
embarcadas naquela noite, Emmy Handke<br />
correu a procurar o vestido de Olga. Apalpou<br />
sofregamente a barra e dela tirou um pequenino<br />
pedaço de papel onde estava escrita apenas<br />
uma palavra: Bernburg.<br />
…………………………………………........................<br />
SÃO PAULO, BRASIL<br />
Julho de 1945<br />
Depois foi dada a palavra a Pablo Neruda,<br />
que, em lugar de fazer um discurso, declamou<br />
um poema que compusera em homenagem a<br />
Prestes, comovendo a multidão com seus últimos<br />
versos:<br />
Hoy pido um gran silencio de volcanes y<br />
rios.<br />
Um gran silencio pido de tierras e varones.<br />
Pido silencio a América, de la nieve a la<br />
pampa.<br />
Silencio: la palavra al Capitán del Pueblo.<br />
Silencio: que el Brasil hablará por su boca.<br />
(Hoje, peço um grande silêncio aos vulcões<br />
e rios.<br />
Um grande silêncio peço à terra e aos<br />
homens.<br />
Peço silêncio à América, da neve aos<br />
pampas.<br />
Silêncio: com a palavra o capitão do povo.<br />
Silêncio: que o Brasil falará por sua boca.)<br />
Emocionada, a massa humana não parava<br />
de aplaudir. Bem-humorado, Neruda voltou ao<br />
microfone e repetiu a última linha do poema:<br />
— Silencio: que el Brasil hablará por su<br />
boca.<br />
Tocaram o Hino Nacional e Prestes falou<br />
durante uma hora e meia. […]<br />
…………………………………….<br />
Era noite fechada quando Luís Carlos Prestes<br />
deixou o Pacaembu em direção à Estação<br />
Roosevelt, onde tomaria um trem de volta ao Rio<br />
de Janeiro. Cercado de amigos, ele se preparava<br />
para subir a escada do vagão-leito, quando<br />
um jovem chegou correndo, abrindo passagem<br />
entre os que se despediam do chefe comunista:<br />
— Capitão Prestes! Capitão Prestes! Um<br />
momento, não embarque!<br />
[…] O rapaz se identificou:<br />
— Sou repórter da agência de notícias United<br />
Press. Nós tínhamos pedido às sucursais<br />
europeias que buscassem sobre Olga Benário,<br />
e acabamos de receber este telegrama sobre<br />
ela, enviado pelo correspondente em Berlim.<br />
Ansioso, Prestes levou o pedaço de papel<br />
aos olhos e leu-o com o rosto crispado, diante<br />
do silêncio dos amigos que o fitavam. […] Era<br />
um despacho curto, sem muitos detalhes:<br />
Berlim — As autoridades aliadas acabaram<br />
de informar que entre as duzentas mulheres<br />
executadas na câmara de gás da cidade alemã<br />
de Bernburg, na Páscoa de 1942, estava a sra.<br />
Olga Benário Prestes, esposa do dirigente comunista<br />
brasileiro Luís Carlos Prestes.<br />
Prestes entrou no trem, em silêncio, sentou--se<br />
e leu mais uma vez a notícia.<br />
……………………………………................………….
Só muitos anos depois é que receberia a<br />
última carta que Olga escrevera a ele e à filha,<br />
ainda em Ravensbrück, na noite da viagem de<br />
ônibus para Bernburg.<br />
[…]<br />
Querida Anita, meu querido marido: choro<br />
debaixo das mantas para que ninguém me<br />
ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem<br />
alcançar-me para suportar algo tão<br />
terrível. É precisamente por isso que esforçome<br />
para despedir-me de vocês agora, para não<br />
ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois<br />
desta noite, quero viver para este futuro<br />
tão breve que me resta. De ti aprendi, querido,<br />
o quanto significa a força de vontade, especialmente<br />
se emana de fontes como as nossas.<br />
Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor<br />
do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me,<br />
que até o último instante não terão por que se<br />
envergonhar de mim. Quero que me entendam<br />
bem: preparar-me para a morte não significa<br />
que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente<br />
quando ela chegue. Mas, no entanto, podem<br />
ainda acontecer tantas coisas… Até o último<br />
momento manter-me-ei firme e com vontade<br />
de viver. Agora vou dormir para ser mais forte<br />
amanhã. Beijo-os pela última vez.<br />
Olga<br />
MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo: Companhia<br />
das Letras, 1993. p. 232, 238-240.<br />
1. O livro Olga é o que consideramos uma biografia,<br />
porque relata o máximo possível a verdade<br />
dos fatos pesquisados, neste caso, por Fernando<br />
Morais que os organizou em forma de romance<br />
histórico. O trecho que você leu tem quatro partes<br />
de dois capítulos do livro. Considerando sua<br />
leitura, o autor organizou o livro em ordem cronológica?<br />
Se sim ou não, explique.<br />
Não, o livro não está organizado em ordem<br />
cronológica exatamente. Na verdade, é uma colagem<br />
de fragmentos da vida da biografada, pontuada<br />
pelos fatos históricos. Nos trechos, por<br />
exemplo, notamos que no primeiro estamos durante<br />
10 dias de 1942, depois estamos em julho<br />
de 1945, depois retrocedemos novamente para a<br />
carta escrita em 1942 por Olga.<br />
2. A biografia é um tipo de narrativa. Que outros<br />
tipos de texto você notou dentro dessa narrativa?<br />
Levante hipóteses: por que eles foram usados den-<br />
tro da narrativa?<br />
Ao longo dos trechos lidos, podemos encontrar<br />
um poema, um telegrama, uma carta e um<br />
bilhete. Esses textos foram usados para dar veracidade<br />
à trama.<br />
Professor: Explique que, neste caso, sabe-se<br />
que foram pesquisados por Fernando Morais.<br />
3. Em que momento sabemos o que significa<br />
“Bernburg” no bilhete de Olga? Como o bilhete chega<br />
até Emmy?<br />
No momento em que Prestes lê o telegrama<br />
é esclarecido que “Bernburg” é uma cidade alemã,<br />
local onde Olga foi morta, em uma câmara<br />
de gás.<br />
Professor: Caso ache necessário, dê a seguinte<br />
informação para sua turma:<br />
Em outros momentos do livro, no campo de concentração,<br />
Olga e as amigas combinam determinadas<br />
senhas para saber para onde estão sendo<br />
levadas. Uma das formas era colocar o papel na<br />
barra da roupa que vestiam, já que os prisioneiros,<br />
normalmente, possuíam apenas uma roupa.<br />
4. O motivo pelo qual Olga está em um campo de<br />
concentração é esclarecido ao longo dos trechos?<br />
Explique.<br />
Não, mesmo porque nada justificaria enviar<br />
alguém a um campo de concentração, mas deduzimos<br />
pelo contexto e por conhecimento histórico<br />
que Olga tinha origem judaica e era comunista.<br />
Professor: Caso queira complementar, Olga<br />
foi presa pela polícia política de Getúlio Vargas e<br />
entregue à Alemanha Nazista. Grávida, deu à luz<br />
à menina Anita, de Prestes, na prisão, já na Alemanha.<br />
A menina foi retirada daquele país pela<br />
mãe de Prestes.<br />
5. Você deve se recordar da personagem Pablo<br />
Neruda, do livro O carteiro e o poeta. Em Olga, Neruda<br />
aparece em alguns momentos como uma personagem<br />
histórica, pois era um político importante<br />
de seu país, o Chile. É possível supor pelo texto,<br />
que Prestes também fosse importante no Brasil daquela<br />
época? Comprove sua resposta com elementos<br />
do poema de Neruda.<br />
Independentemente do conhecimento histórico<br />
que os alunos possam ter, pelos excertos<br />
é possível perceber que se trata de alguém conhecido,<br />
uma vez que é apresentado em um estádio<br />
(Pacaembu), por Pablo Neruda, que lhe fez<br />
um poema, no qual lemos: “o Brasil falará por sua<br />
boca”. Em outras palavras, era alguém importante<br />
para a política do período. É chamado de “capitão”<br />
P51
pelo jornalista em meio à multidão, bem como no<br />
poema. Pedir silêncio aos elementos da natureza<br />
é um sinal de que algo importante será dito ou alguém<br />
que é importante falará, deixar o país todo<br />
(Brasil) falar pela boca de Prestes também é uma<br />
demonstração de poder.<br />
Sugestão didática<br />
Professor: Caso seja interessante para o manejo<br />
de sua sala, converse com o professor de<br />
História sobre a “Coluna Prestes”. Caso os alunos<br />
se interessem, o filme Olga é de fácil acesso<br />
em locadoras. O livro também é parte do acervo<br />
PNLL/MEC.<br />
6. Por que Neruda é caracterizado como “bem-<br />
-humorado” no texto? Esperava-se que ele declamasse<br />
um poema?<br />
Não se esperava que ele declamasse um<br />
poema, mas sim que fizesse um discurso, como<br />
todo político faz. É bem-humorado, pois tem presença<br />
de espírito de voltar ao microfone e pedir<br />
silêncio à multidão, que aplaudia entusiasmada,<br />
utilizando para isso o verso final de seu poema,<br />
afim de que o Hino fosse tocado e Prestes pudesse<br />
discursar.<br />
7. No último trecho, sabemos parte do conteúdo<br />
da carta escrita em meia hora no campo de<br />
concentração. Diante da morte, que tipo de sentimento<br />
Olga nos revela ao conversar com Prestes<br />
e Anita?<br />
Esperança. Apesar de saber que está condenada<br />
— afinal, entrar na lista era estar condenado<br />
—, Olga pensa que muitas coisas podem<br />
acontecer até o próximo dia, então se despede<br />
com palavras de coragem e afrontamento, enfim<br />
palavras de quem tem esperança.<br />
8. O que significa na carta de Olga a expressão:<br />
“se emana de fontes como as nossas”?<br />
Professor: Embora esta resposta seja pessoal,<br />
pode haver várias respostas. Na leitura dos outros<br />
excertos, toma-se ciência de que os interlocutores<br />
são comunistas e casados, portanto podem haver<br />
dois raciocínios: o amor entre eles ou as ideias políticas<br />
entre eles. Caso queira comentar com os alunos:<br />
a alemã Olga conheceu Prestes por meio do<br />
exército russo, do qual era agente — um soldado<br />
treinado. Sua missão era escoltar Prestes e trazê-<br />
-lo de volta ao Brasil; para isso, o partido comunista<br />
envia os dois, disfarçados de marido e mulher. Antes<br />
de chegar ao Brasil, o disfarce vira realidade.<br />
P52<br />
9. O que há em comum entre os textos de Joel<br />
Rufino dos Santos e de Fernando de Morais, quanto<br />
à forma e quanto ao conteúdo? Explique.<br />
Quanto à forma, ambos possuem cartas, embora<br />
de maneiras diferentes. Quanto ao conteúdo,<br />
ambos abordam espaços opressivos de ditaduras<br />
(no Brasil): a de Vargas e a Militar, bem como mostram<br />
os espaços de confinamento, de prisão e a<br />
maneira que as pessoas usam as cartas e bilhetes<br />
para transportarem para fora desses espaços<br />
opressivos suas esperanças no futuro.<br />
Professor: Alguns alunos podem sugerir que<br />
ambos os textos são baseados em fatos verídicos.<br />
Explique a eles que, embora isso também<br />
seja um item comum entre os dois textos, esta<br />
informação não diz respeito à forma e ao conteúdo<br />
do texto.<br />
Para continuar<br />
Conceito/conexão<br />
Estilística<br />
Figuras de linguagem<br />
Perífrase<br />
Perífrase é uma expressão que renomeia<br />
seres por meio de algum atributo ou de algo que<br />
tenham realizado.<br />
Observe a seguinte expressão, que é o título<br />
de um livro de Jorge Amado:<br />
“O cavaleiro da esperança.”<br />
Essa expressão revela uma perífrase bastante<br />
conhecida que foi atribuída a Luís Carlos<br />
Prestes: o “cavaleiro da esperança”. Ele era chamado<br />
assim porque andou a cavalo pelo país com<br />
cerca de mil homens e percorreu 25.000 km por<br />
dois anos e cinco meses — o grupo ficou conhecido<br />
como Coluna Prestes.<br />
Existem documentários, outros livros, letras de<br />
música e um samba-enredo com o título “O cavaleiro<br />
da esperança”. Essa expressão é uma perífrase porque<br />
deu um novo nome a Luís Carlos Prestes; por<br />
isso, é uma figura de palavra, ou seja, coloca uma<br />
outra palavra ou expressão para renomear.<br />
Várias perífrases sao tão populares que nem<br />
notamos que estão sendo usadas. Veja a seguir se<br />
você sabe a quem/que se referem duas delas:
a)<br />
b)<br />
Rei do futebol<br />
Pelé<br />
Cidade Maravilhosa<br />
Rio de Janeiro<br />
Observe esta propaganda de uma linha de perfumes:<br />
Linha Aroma Floral<br />
Descubra o perfume que combina com você!<br />
Verde<br />
Frescor<br />
Sinestesia<br />
A sinestesia também é uma figura de palavras<br />
e ocorre quando há uma mistura entre as<br />
percepções de sentidos: tato, olfato, paladar,<br />
visão, audição.<br />
Frutas<br />
cítricas<br />
A propaganda faz referência à “Linha Aroma Floral”, indicando três possibilidades: Frescor, Frutas<br />
Cítricas e Verde.<br />
Observe que são perfumes, portanto a descrição deveria se basear em algo relacionado ao cheiro,<br />
ao que é inalado; no entanto, não é isso o que ocorre. Para poder explicar como são as fragrâncias<br />
(do olfato) faz-se uso de outros sentidos: tato = frescor, visão = verde, paladar = frutas cítricas.<br />
Note, por exemplo, que há uma fusão, uma mistura, uma permuta ou troca de palavras para podermos<br />
saber como é o cheiro: “Floral Frutas Cítricas” diz respeito não só ao olfato, mas também ao paladar,<br />
ao gosto de frutas como “limão e laranja”, ou seja, a propaganda acredita que o consumidor levará<br />
em conta não só o cheiro específico de cada fruta, mas também o sabor gustativo de cada uma delas.<br />
Há expressões mais populares para definir fragrâncias, como por exemplo: “perfume doce”. Em<br />
todos os casos citados, o que ocorreu foi uma sinestesia.<br />
Além de ser um recurso cotidiano na linguagem, a sinestesia é uma espécie de desdobramento<br />
da metáfora e está muito presente na linguagem poética.<br />
STOCkBYTE/GETTY IMAGES – RYAN ME VAY/PHOTODISC/GETTY IMAGES – MILOSLUZ/DREAMSTIME.COM<br />
P53
1. Leia com atenção o fragmento de umas das<br />
cartas de Nação crioula, do escritor angolano José<br />
Eduardo Agualusa.<br />
Fradique quis ouvir minha opinião. Disse-lhe<br />
que, tal como os buschmen, eu preferia a todos os<br />
perfumes o simples aroma da chuva. Três meses<br />
depois recebi em Luanda um frasquinho de cristal,<br />
lacrado, contendo água. No rótulo Fradique tinha<br />
escrito: “primeira chuva de outono em Paris. 20 de<br />
outubro de 1868”. Mais tarde, enviou-me de uma<br />
escalada aos Alpes as sobras de um temporal; e<br />
quando, em 1871, subiu o Nilo, sozinho, até o país<br />
dos núbios, ofereceu-me como recordação algumas<br />
gotas de orvalho recolhidas numa manhã macia,<br />
em Omdurman. Esta preciosa coleção de chuva,<br />
conservada em mais de cinquenta frasquinhos<br />
de várias cores e formatos, em cristal e porcelana,<br />
inclui ainda um pouco de água-benta, caída numa<br />
tarde de abril […], a salsugem de uma tempestade<br />
no mar, ao largo de Salvador, depois que Fradique,<br />
pela última vez, se despediu de mim.<br />
P54<br />
AGUALUSA, José Eduardo. Nação crioula: a<br />
correspondência secreta de Fradique Mendes.<br />
Rio de Janeiro: Griphus, 2001, p. 141.<br />
Identifique a figura de linguagem presente<br />
nesse trecho, explicando sua imagem.<br />
A figura de linguagem no trecho está na expressão<br />
—“manhã macia”, em que um elemento<br />
visual “manhã” como indicação de luz = visão —<br />
provoca uma imagem junto à palavra “macia” do<br />
grupo semântico relacionado ao tato; portanto traz<br />
a ideia de que “a luz nos toca de forma suave”.<br />
Buschmen: povo que vive em território angolano.<br />
Luanda: capital de Angola.<br />
Salsugem: restos de sal.<br />
Omdurman: cidade do Sudão.<br />
2.<br />
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/06/08<br />
Leia com atenção a charge de Angeli.<br />
Que figura de linguagem você identifica observando<br />
o texto verbal e o texto não verbal?<br />
A figura de linguagem é a ironia, um recurso recorrente<br />
em charges para jornais. Ela ocorre sutilmente<br />
entre os desenhos exagerados das mulheres no elevador,<br />
celular, sacolas; com exceção da menina, todos<br />
possuem óculos escuros, a camisa marcada com NY,<br />
símbolo do consumismo no mundo (além do que temos<br />
palavras em inglês: floor, “elevador”). A roupa da<br />
menina parece de um tempo que já não existe mais,<br />
como se saísse de um seriado americano dos anos<br />
1960. Analisando esta charge de cima para baixo,<br />
podemos dizer que todos esses detalhes provocam o<br />
distanciamento entre pobres e classe média. Esta linguagem<br />
não verbal, se entrelaça à linguagem verbal<br />
representada pela ironia da fala da menina. Podemos<br />
também identificar, embora irônica, uma perífrase em<br />
“São Paulo: cidade shopping center” porque “apelida”<br />
a cidade com uma das suas características: a classe<br />
média que frequenta o shopping assiduamente.<br />
3.<br />
GALDZER/DREAMSTIME.COM<br />
Observe a propaganda a seguir:<br />
Perfume<br />
Pimenta<br />
Doce<br />
Aroma campestre,<br />
avermelhado e intenso<br />
Equilíbrio entre notas mais<br />
quentes e confortáveis<br />
Que figura de linguagem deu nome ao produto?<br />
A antítese, pois a palavra “pimenta” remete a<br />
algo ardido e está ligado ao termo “doce”, outro tipo<br />
de paladar.<br />
4. O autor do texto fez uso de sinestesia para explicar<br />
o produto. Cite os exemplos que identificar.<br />
“avermelhado” = visão; “quentes e confortáveis”<br />
= tato<br />
Professor: Caso os alunos perguntem se há<br />
relação entre “notas” e o termo usado para a música,<br />
diga que “notas” é do vocabulário da química:<br />
quando se faz um perfume, ele é composto por três<br />
notas, uma espécie de pirâmide de cheiro, quer dizer:<br />
o que se “nota”, o cheiro que se sente primeiro<br />
— de saída —, depois de algumas horas — de corpo<br />
— e o que se fixa mais — o de fundo.
Para continuar<br />
Além do texto<br />
Observe as imagens a seguir, que são do artista equatoriano Oswaldo Guayasamin (1919-1999). Elas<br />
pertencem a uma coleção chamada “A idade da ira”. A série que você vê, chama-se “As mãos” e é composta<br />
por 13 telas a óleo, de tamanho 130 x 90 cm, feitas entre 1961 e 1990:<br />
Série “As mãos”, Coleção “Idade da ira” (1963-1968), obra de Oswaldo Guayasamin. © Fundação Guayasamin<br />
1. Retome a tela de Picasso, As senhoritas de<br />
Avignon (1907), no capítulo 1 deste bimestre. Que<br />
semelhanças você nota entre a tela de Picasso e as<br />
de Guayasamin?<br />
Os alunos devem notar que o tipo de traço dos<br />
artistas se assemelham, lembrando a geometria<br />
das máscaras africanas. A perspectiva também é<br />
um ponto semelhante, pois nos permite apreciá-las<br />
de vários ângulos com interpretações diferenciadas,<br />
principalmente pela maneira como um “falso<br />
fundo” é pintado.<br />
Professor: Caso queira, comente com os alunos<br />
sobre o Cubismo, movimento modernista do início<br />
do século XX que revolucionou a arte contemporânea<br />
por meio da geometria. Se for de seu interesse,<br />
proponha ao professor de Arte um trabalho sobre os<br />
artistas desse período. Se sua escola tiver disponibilidade<br />
para acessar a internet, proponha aos alunos<br />
uma visita online ao site do pintor equatoriano que<br />
traz outras telas para serem apreciadas.<br />
2. Agora, reveja a sequência novamente e nomeie<br />
as telas: Todas elas começam com “As mãos<br />
”. Seus títulos revelam as atitudes, os gestos,<br />
as sensações, os sentimentos que as mãos expressam.<br />
Observe que as mãos ora cobrem ora mostram<br />
determinadas partes do rosto: é isto que dá o<br />
nome às telas. Tome como referência a última tela.<br />
Depois, compare seus títulos com os títulos originais,<br />
dados pelo professor.<br />
Professor: O objetivo é a leitura do texto não verbal.<br />
Ouça os títulos que os alunos deram: apenas corrija,<br />
caso haja discrepância; por exemplo, se o aluno<br />
nomear a tela “as mãos da ternura” como “as mãos<br />
da ira”, título claramente inadequado; mas se titular<br />
“as mãos da ira” como “as mãos da raiva”, “do ódio”<br />
ou algo próximo disso, considere como adequado.<br />
Incentive-os a observar as partes do rosto que apa-<br />
recem: Por que em uma só aparece o olho? Por que<br />
olha para cima? Por que aparece apenas a boca?<br />
Por que a última é protesto? Por que, em uma delas<br />
o rosto não aparece? São perguntas que você deverá<br />
postar durante a feitura do exercício.<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
As mãos insaciáveis<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
As mãos da ira<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/<br />
FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
P55
P56<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
As mãos das lágrimas<br />
As mãos da oração<br />
As mãos do medo<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
As mãos do grito<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
As mãos da ternura<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
As mãos da meditação<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
As mãos do silêncio<br />
As mãos da esperança<br />
As mãos do mendigo<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
As mãos do terror<br />
As mãos do protesto<br />
3. Guayasamin dizia que algumas de suas obras<br />
eram sua “pele de fora” e que outras eram sua “pele<br />
de dentro”.<br />
a) A sequência “As mãos” eram de “dentro” ou<br />
de “fora”?<br />
De dentro, pelo teor introspectivo.<br />
Professor: O pintor se referia à “pele de fora”<br />
quando pintava paisagem e acrescentava que era o<br />
“descanso do guerreiro”.<br />
b) As duas cartas que você leu neste capítulo fo-<br />
ram escritas de “dentro” ou de “fora”? Explique com<br />
suas palavras.<br />
As duas cartas foram escritas “de dentro”, já<br />
que literalmente seus protagonistas estavam presos,<br />
mesmo porque o teor delas também revelava<br />
introspecção e vários dos sentimentos e atitudes<br />
que lemos nos quadros de Guayasamin.<br />
4. Quando visitamos um museu, uma galeria ou<br />
uma exposição, na saída há sempre um “livro de<br />
visitas” no qual escrevemos nosso nome, a data e<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN<br />
P57<br />
OSwALDO GUAYASAMIN/FUNDAçÃO GUAYASAMIN
observações sobre o que vimos em nossa visita.<br />
Escreva algumas linhas como se estivesse assinando<br />
uma visita à exposição “As mãos”; revele<br />
suas impressões pessoais ou os sentimentos que<br />
as telas lhe provocaram.<br />
Resposta pessoal.<br />
Para finalizar<br />
Professor: Preencha o quadro juntamente com<br />
os alunos — este pode ser um momento de revisão.<br />
A resposta dos alunos pode auxiliá-lo em sua<br />
autoavaliação. Você considera que conseguiu realizar<br />
todas as atividades com seus alunos? Quanto<br />
você contribuiu para o conhecimento deles?<br />
P58<br />
Conteúdos<br />
Carta pessoal<br />
Biografia<br />
Telegrama<br />
Título de uma pintura<br />
Perífrase<br />
Sinestesia<br />
Ironia<br />
Intertextualidade<br />
Texto publicitário<br />
Para casa<br />
O que aprendi<br />
no capítulo 4<br />
1. Algumas expressões populares também<br />
apresentam sinestesia. Explique quais sentidos<br />
estão presentes em:<br />
a) Ele usou um tom de voz áspero comigo.<br />
“Voz” = audição + “áspero” = tato; indica o tom<br />
de quem estava bravo ou indiferente.<br />
RGBSPACE/DREAMSTIME.COM<br />
b) Chegou falando grosso com todos.<br />
“Falar” = audição + “grosso” = tato; indica<br />
bronquear, chamar a atenção.<br />
c) Abri a geladeira e cheirava azedo.<br />
“Cheirar” = olfato + “azedo” = paladar; por<br />
aproximação, o cheiro demonstra que algum alimento<br />
está se deteriorando na geladeira.<br />
2. Considerando que a imagem a seguir é de<br />
uma propaganda, como você interpreta: “hidratante<br />
com notas de sensibilidade e encanto”?<br />
C r e m e p a r a o c o r p o<br />
Hidratante de Rosas<br />
Com extrato natural de rosas<br />
Hidratante com notas de sensibilidade e encanto<br />
Resposta pessoal, mas se espera que o<br />
aluno perceba que a linguagem conotativa é um<br />
elemento para persuadir o leitor, uma vez que só<br />
sentimos o perfume de alguém se estamos próximo<br />
ou somos íntimos, por isso vende-se, além<br />
da “fragrância”, a possibilidade de termos certo<br />
“mistério” e certa “sensibilidade”, o que nos tornaria<br />
“diferentes” dos outros.
Assinale com X<br />
O que aprendi neste primeiro bimestre<br />
1 o E-mail, etimologia, autobiografia,<br />
argumentação, função apelativa,<br />
cena/cinema, metonímia, hipérbole,<br />
reticência, elipse, texto publicitário.<br />
2 o Narrativa e linguagem poética,<br />
onomatopeia, metáfora, catálogo,<br />
repetição, paronomásia.<br />
3 o Roteiro, soneto,<br />
intertextualidade, inversão,<br />
eufemismo, personificação,<br />
antítese, polissíndeto.<br />
4 o Carta pessoal, biografia,<br />
telegrama, perífrase, ironia,<br />
sinestesia, título de pintura.<br />
Artistas citados<br />
Fernando Morais nasceu em Mariana (MG), em<br />
1946. É jornalista, trabalhou no Jornal da Tarde, na revista<br />
Veja e em várias outras publicações da imprensa<br />
brasileira. Recebeu um prêmio Esso e três prêmios<br />
Abril de jornalismo. Foi deputado e secretário da Cultura<br />
e da Educação do Estado de São Paulo.<br />
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em<br />
1955. Foi diretor da Agência de Informação de Moçambique,<br />
da revista Tempo e do jornal Notícias de<br />
Maputo. Tornou-se, nestes últimos anos, um dos<br />
ficcionistas mais conhecidos das literaturas de língua<br />
portuguesa. É biólogo e trabalha em uma reserva<br />
em Moçambique. Seu trabalho sobre a língua<br />
permite-lhe obter uma grande expressividade, por<br />
meio da qual comunica aos leitores a vida em Moçambique<br />
após a independência. Seus livros estão<br />
traduzidos para o francês, o inglês, o alemão, o italiano<br />
e o espanhol. As obras O outro pé da sereia,<br />
A varanda de Frangipani e Terra sonâmbula são<br />
editadas no Brasil pela Companhia das Letras.<br />
P59
Anotações<br />
P60
Capítulo<br />
Português 1<br />
Redação 1<br />
Leia este texto escrito por Mia Couto:<br />
Carta para meu filho Madyo Dawany<br />
Hoje cheguei e não havia o teu sorriso<br />
reconfortando-me. Fiquei triste e sem coragem<br />
como se fosse do teu tamanho, assim pequenino.<br />
Não é possível tu estares comigo e isso rouba-me<br />
o coração.<br />
Este desejo de te querer junto a mim é um<br />
desejo egoísta, eu sei. Quero isso mais por mim<br />
que por ti. Quando te escrevo é mais para mim<br />
que para ti.<br />
Faço-te esta confissão de egoísmo para<br />
que saibas, meu filho, que te amo de todas as<br />
maneiras que sei amar. E mesmo assim sinto<br />
que não sei amar, que me falta estar vivo. Saberás<br />
do que falo quando desvendares alguns<br />
mistérios do mundo. Assim crescerás à medida<br />
do teu sonho.<br />
Quero que respeites esta insuficiente maneira<br />
de amar dos homens do meu tempo. E<br />
que ames tudo aquilo que os homens antes de ti<br />
construíram por amor a outros homens, mesmo<br />
que o tenham feito incompletamente. E que recordes<br />
que por trás de cada coisa transformada<br />
há sempre uma gota de sangue: tudo resulta da<br />
luta, mesmo que essa luta tenha sido apenas<br />
interior e aparente.<br />
Sentirei que a minha vida se desdobra<br />
como a onda que mesmo desfeita se renova.<br />
Sentir-me-ei como a onda que sabe que depois<br />
de desfeita se prolongará no eterno movimento<br />
dos homens lutando e construindo por amor aos<br />
outros que nem sequer conhecem.<br />
Julho 1981<br />
Cartas, dos rolos<br />
às telas!<br />
Como você pode perceber, é uma carta de<br />
um pai para um filho, provavelmente escrita quando<br />
o menino ainda era um bebê ou antes de saber<br />
ler. Portanto, é uma carta para ser lida no futuro,<br />
por alguém com quem o destinatário tem um relacionamento,<br />
neste caso, familiar. É uma carta de<br />
trama argumentativa porque não nos conta uma<br />
história específica, mas sim aconselha e apela<br />
para que o filho “cresça tanto quanto era sonhar”<br />
e que não esqueça que a vida é composta de luta<br />
mesmo que seja apenas por dentro de nós; diante<br />
disso, percebemos que, embora seja argumentativa,<br />
é subjetiva também.<br />
Professor: Pontue com os alunos as partes<br />
da carta que julgar apropriadas. Faça junto com<br />
eles marcações de pontuação e conectores argumentativos.<br />
Aplique a ficha de autoavaliação neste<br />
texto, caso ache mais adequado. Questione-os<br />
se o emissor está vivendo um tempo de guerra<br />
quando escreve; se este emissor, que é pai do garoto,<br />
quer pensar sobre o futuro do filho; por que<br />
quer dar conselhos; que exemplos, em relação a<br />
outras pessoas, dá ao filho escrevendo; enfim,<br />
procure conversar com a classe sobre a natureza<br />
poética da carta de Mia Couto que, ao mesmo<br />
tempo, também é apelativa, pois argumenta em<br />
favor da construção do sonho de humanidade e<br />
de respeito ao próximo.<br />
Escreva uma carta, para ser lida no futuro, para<br />
alguém com quem você tenha algum tipo de relacionamento<br />
no presente, pode ser relacionamento<br />
social, familiar, político, religioso, intelectual…<br />
Sua carta poderá ser narrativa ou argumentativa<br />
— escolha o melhor tipo de trama para você. Contudo,<br />
a função dela deverá ser apelativa, ou seja, deve<br />
haver a tentativa de convencer o interlocutor.<br />
O assunto da carta deverá partir de: “crescer à<br />
medida do sonho” ou “tudo resulta da luta”.<br />
Após terminar, verifique a ficha de autoavaliação.<br />
P61
P62<br />
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Coloquei local e data acima e à direita?<br />
Coloquei destinatário?<br />
Escrevi a saudação?<br />
Usei pronome de tratamento adequado?<br />
Usei fórmula de despedida?<br />
Coloquei minha assinatura?<br />
Deixei a margem à esquerda?<br />
Usei ponto final no meio e no final dos parágrafos?<br />
Usei letra maiúscula depois do ponto?<br />
Usei vírgulas depois do local, do destinatário<br />
e da despedida?<br />
Usei letra maiúscula nos nomes próprios?<br />
A letra está legível?<br />
Pulei linhas para dar a formatação de carta?<br />
Há erros ortografia ou falta algum acento<br />
gráfico?<br />
A sugestão do assunto para a carta dependerá<br />
muito da maturidade de sua classe. A tendência é<br />
escreverem para os pais ou para os filhos que terão<br />
— claro que é louvável e possível, mas explique<br />
também que podem escrever para alguém da igreja<br />
que frequentam e admiram: um pastor ou um padre;<br />
alguém da escola: um professor; alguém do bairro:<br />
um líder comunitário ou vereador. Tente ampliar a<br />
gama de interlocutores com quem possam estabelecer<br />
um diálogo por meio da carta.
wATER BOATS CANAL BUILDINGS<br />
Capítulo<br />
Português 2<br />
Redação 1<br />
Você se recorda que, no capítulo 1 do caderno<br />
de Língua Portuguesa, os dois amigos, Fernando e<br />
Gustavo, conversam sobre duas obras de arte — o<br />
livro de Dostoiévski e a tela de Picasso?<br />
Em determinado momento, para se referir à<br />
tela vista em um livro ou num e-mail, um deles escreve:<br />
“são como ver Veneza por cartão-postal”.<br />
Além de estabelecer uma comparação — observe<br />
o termo “como” entre os elementos: tela de<br />
Picasso + Veneza por cartão-postal —, um dos garotos<br />
também nos instiga a pensar como poderia<br />
ser um cartão-postal da cidade de Veneza, na Itália,<br />
um dos pontos turísticos mais visitados do mundo.<br />
Observe:<br />
Veneza<br />
Veneza fica à beira-mar e é conhecida por<br />
seus canais. A embarcação que você vê chama-se<br />
gôndola. Turistas passeiam pela cidade em gôndolas<br />
guiadas por gondoleiros, e os moradores da cidade<br />
também usam esse meio de transporte.<br />
VENEZIA<br />
Un rio con gondola<br />
378<br />
© Copyright 2004-2006 by Storti Edizioni srl<br />
Foto: Marc De Tollenaere<br />
All Rights Reserved Ponted in E.U.<br />
1<br />
23456 78912 8<br />
A segunda imagem é o verso do cartão que<br />
você viu anteriormente.<br />
Há um padrão comum a todos os cartões postais:<br />
do lado esquerdo, tem-se um espaço maior para<br />
De carteiros,<br />
envelopes e selos!<br />
escrever a mensagem para o destinatário deste cartão.<br />
Também é frequente as pessoas colocarem datas<br />
ao fim da mensagem, mesmo que o correio carimbe<br />
sempre com a data e o local de envio.<br />
Mas, por que enviamos cartões-postais?<br />
Quando viajamos, é comum contarmos aos amigos<br />
coisas peculiares que ocorreram conosco ou que<br />
vimos: desde comidas de que gostamos até mesmo<br />
situações em que ficamos perdidos por sermos visitantes,<br />
turistas. Muitas vezes, queremos dividir imagens<br />
e palavras com pessoas que gostaríamos que<br />
estivessem conosco ou, por estarmos distantes, sentimos<br />
saudades.<br />
Muitas pessoas colecionam cartões-postais, assim<br />
como se colecionam selos de cartas.<br />
Ainda do lado esquerdo, é comum termos a indicação<br />
do local de onde vem o cartão, mesmo que<br />
na frente, junto com a imagem, já conste o nome da<br />
cidade ou do país de onde ele veio; nem só de paisagens<br />
são feitos os cartões-postais — muitas vezes<br />
pode-se usar foto de uma escultura, de uma pintura;<br />
enfim de algo que simbolize aquela cidade, região ou<br />
país. Neste caso, como vimos, as gôndolas são um<br />
símbolo veneziano.<br />
É comum termos também as referências da<br />
imagem, como o nome da editora dos cartões,<br />
por exemplo.<br />
Do lado direito, há um código de barras como<br />
em qualquer produto para ser vendido, algumas linhas<br />
que servem para o remetente escrever o nome<br />
do destinatário e o endereço para onde vai o cartão.<br />
Não se coloca o endereço de onde o remetente está,<br />
porque fica óbvio: o remetente está a passeio e provavelmente<br />
não há tempo de receber cartas, respostas<br />
de cartões. Imagine que você esteja viajando e irá<br />
enviar um cartão-postal para um amigo. Preencha o<br />
verso do cartão abaixo contendo sobre sua viagem.<br />
VENEZIA<br />
Un rio con gondola<br />
378<br />
© Copyright 2004-2006 by Storti Edizioni srl<br />
Foto: Marc De Tollenaere<br />
All Rights Reserved Ponted in E.U.<br />
1 23456 78912 8<br />
P63
P64<br />
Capítulo<br />
Português 3<br />
Redação 1<br />
Leia atentamente o excerto de O primo Basílio<br />
(1878), do romancista português Eça de Queiroz:<br />
[…] Tinha suspirado, tinha beijado o papel<br />
devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam<br />
aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho<br />
dilatava-se ao calor amoroso que saía delas,<br />
como um corpo ressequido que se estira num<br />
banho tépido; sentia um acréscimo de estima por<br />
si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa<br />
existência superiormente interessante, onde<br />
cada hora tinha o seu encanto diferente, cada<br />
passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria<br />
de um luxo radioso de sensações!<br />
QUEIROZ, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Ática, 1998.<br />
Esta é a reação de uma personagem diante<br />
de uma carta que recebe do homem amado. Agora,<br />
imagine qual poderia ser o conteúdo desta carta e<br />
redija uma pequena carta de amor, em resposta a<br />
esta, considerando as pistas que o trecho lhe deu.<br />
Antes de passar a limpo, verifique a ficha de<br />
autoavaliação.<br />
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Coloquei local e data acima e à direita?<br />
Coloquei destinatário?<br />
Escrevi a saudação?<br />
Usei pronome de tratamento adequado?<br />
Despedi-me adequadamente?<br />
Coloquei assinatura?<br />
Deixei a margem à esquerda?<br />
Usei ponto final no meio e no final dos parágrafos?<br />
Usei letra maiúscula depois do ponto?<br />
Usei vírgulas depois do local, do destinatário<br />
e da despedida?<br />
Usei letra maiúscula nos nomes próprios?<br />
A letra está legível?<br />
Pulei linhas para dar a formatação de carta?<br />
Há erros de ortografia ou falta algum acento<br />
gráfico?<br />
Cumpri o tema dado, considerando o trecho<br />
do romance?<br />
Cartas que vão<br />
e que vêm...<br />
Sugestão didática:<br />
Professor: Não é pré-requisito que os alunos<br />
conheçam o enredo do romance de Eça de Queiroz,<br />
mas, caso queira, conte-lhes sobre a importância<br />
desta obra durante o período Realista, ou comente<br />
sobre as versões televisivas e cinematográficas da<br />
obra. Apenas cuide para que assumam a “máscara”<br />
de um homem que escreve uma carta de amor<br />
para uma mulher e o que está dito na carta provoca<br />
o que ela pensa no trecho. No livro, este trecho é<br />
a reação de Luísa diante de uma carta enviada por<br />
Basílio, seu primo. Insista nas relações intertextuais<br />
abordadas no capítulo de língua portuguesa, principalmente<br />
no poema “Todas as cartas de amor são<br />
ridículas”, de Álvaro de Campos.
Redação 2<br />
Leia o texto com atenção para responder às<br />
questões e realizar a proposta de redação:<br />
CAMMERAYDAVE/DREAMSTIME.COM<br />
Projeto artístico utiliza caramujos<br />
para enviar e-mails.<br />
Alunos da Universidade de Bournemouth,<br />
na Grã-Bretanha desenvolveram um projeto artístico<br />
denominado “Real Snail Mail” (trocadilho,<br />
em inglês, com o termo e-mail e lesma ou caramujo).<br />
A partir desse projeto, chips de computador<br />
foram implantados em três caramujos, que<br />
“carregam” e-mails entre usuários de um site.<br />
Os caramujos Austin, Muriel e Cecil tornaram-se<br />
“carteiros eletrônicos” em plena era cibernética,<br />
que promete velocidade, aceleração,<br />
sempre mais e em menos tempo.<br />
Em vez desse imediatismo, as mensagens<br />
dos visitantes do site viajarão a uma velocidade<br />
média de 50 metros por hora, podendo levar<br />
dias ou até meses para chegar ao destinatário.<br />
O objetivo do projeto é estimular as pessoas a<br />
diminuir a velocidade no dia a dia e contemplar a<br />
tecnologia e a obra.<br />
Quer saber como funciona esse processo?<br />
Então busque mais detalhes no site http://<br />
diversao.uol.com.br/ultnot/bbc/2008/06/17/ult2242u1653.jhtm.<br />
1. No capítulo 1 deste bimestre, você leu um<br />
trecho de um livro em que dois adolescentes conversavam<br />
por meio de e-mails. O livro é datado de<br />
1995 e, naquele momento, poucas pessoas tinham<br />
um endereço eletrônico ou acesso à rede de computadores,<br />
a internet. Passada mais de uma década,<br />
uma vez que a reportagem acima é de 2008,<br />
temos uma proposta artística que nos é esclarecida<br />
no texto que você leu.<br />
a) Que proposta é esta?<br />
Pesquisadores e artistas se uniram e implantaram<br />
um chip em três caramujos.<br />
b) Você considera esta proposta como uma for-<br />
ma de arte? Discuta com seus colegas e anotem<br />
suas conclusões.<br />
Resposta pessoal.<br />
Professor: Caso os alunos sintam dificuldade<br />
em apreender a pergunta/resposta deste exercício,<br />
ajude-os a observar que a questão científica nunca<br />
foi o real objetivo dos alunos da Universidade de<br />
Bournemouth, embora estes usem a ciência para<br />
concretizá-lo. O projeto se identifica muito mais<br />
com a arte do que com a ciência.<br />
c) O projeto de “arte lenta” é intitulado “Real Snail<br />
Mail” (trocadilho em inglês com o termo e-mail e<br />
lesma ou caramujo)”. Por que o autor do texto diz<br />
que o nome do projeto é um trocadilho?<br />
Porque o som das palavras “real”, “snail” e<br />
“mail” são semelhantes.<br />
d) Você diria que o título do projeto é também<br />
uma ironia? Se sim, explique.<br />
Sim, porque na verdade o projeto quer chamar<br />
a atenção para a preocupação excessiva com<br />
o tempo. Para tanto, os pesquisadores e artistas<br />
juntaram o que há de mais rápido em comunicação<br />
(e-mail) com um dos animais mais lentos (caramujo).<br />
Assim, criou-se, além de uma antítese (rapidez<br />
e lentidão/ velocidade da luz e caramujo), a ironia.<br />
P65
2. Pessoas de uma universidade inglesa idealizaram<br />
o projeto.<br />
a) Segundo o texto, quem são os remetentes e<br />
os destinatários dos e-mails?<br />
Usuários de um site, de uma página da internet.<br />
b) Quanto tempo leva para os “carteiros eletrôni-<br />
cos” percorrerem 50 metros?<br />
Em média, uma hora.<br />
3. Os artistas desse projeto comentam que “Culturalmente,<br />
somos obcecados com o imediato” e<br />
que “Tempo não é para ser vivido, mas para ser<br />
preenchido até o ponto de explosão.”<br />
P66<br />
a) Você concorda ou discorda da afirmação de-<br />
les? As pessoas, nos dias de hoje, exageram querendo<br />
sempre velocidade?<br />
Resposta pessoal.<br />
b) Para você, esta velocidade é realmente ne-<br />
cessária? Se sim, em quais situações há essa necessidade?<br />
Resposta pessoal.<br />
Professor: Oriente os alunos: em determinadas<br />
situações, como uma emergência policial ou médica,<br />
em caso de aviso de uma catástrofe, por exemplo, a<br />
velocidade é importante; mas, na maioria dos casos,<br />
as pessoas estão tão envolvidas nos processos tecnológicos<br />
que não notam a superficialidade ou inutilidade<br />
da maioria dos e-mails, como os de corrente<br />
e de publicidade, entre outros. Neste último caso, o<br />
tempo tão raro e útil acaba por ser desperdiçado.
4. Vamos supor que você seja um dos visitantes do site e queira enviar uma mensagem para alguém por<br />
meio dos caramujos. Como seria esta mensagem? Para quem? Qual o assunto? Escreva sua mensagem.<br />
Faça um rascunho e depois passe o texto a limpo no quadro.<br />
Enviar mensagem<br />
Para:<br />
Cc:<br />
Assunto:<br />
Mensagem<br />
P67
P68<br />
Capítulo<br />
Português 4<br />
Redação 1<br />
Leia o texto a seguir, grifando as dúvidas de<br />
vocabulário quando for o caso.<br />
A Amazônia brasileira para os brasileiros<br />
Johan Eliasch<br />
Divulgou-se que eu teria dito que a floresta<br />
amazônica poderia ser “comprada” pelo valor<br />
total de US$ 50 bilhões. Eu jamais disse isso!<br />
(1) REPORTAGENS positivas e negativas,<br />
algumas delas contendo vários erros factuais,<br />
têm sido publicadas recentemente a respeito do<br />
meu envolvimento na proteção da floresta amazônica<br />
e, portanto, alguns esclarecimentos à opinião<br />
pública brasileira merecem ser prestados de<br />
forma clara e objetiva.<br />
(2) Sou um admirador do Brasil, da cultura<br />
multifacetada, das belezas naturais e da<br />
amabilidade do povo brasileiro. Tenho imenso<br />
respeito pela liderança exercida por este país<br />
no combate ao desmatamento e na proteção<br />
ao meio ambiente. Nenhum país tem feito mais<br />
para tentar entender os fatores que geram o<br />
desmatamento e os desafios na promoção do<br />
desenvolvimento sustentável.<br />
(3) A floresta amazônica brasileira pertence<br />
ao Brasil e acredito firmemente que assim<br />
deva continuar. Alguns observadores estrangeiros<br />
têm sustentado que o governo brasileiro<br />
deve ser guiado sobre como proteger a floresta<br />
ou, ainda, que intervenções internacionais seriam<br />
necessárias.<br />
(4) Tal opinião, normalmente defendida por<br />
pessoas que nunca estiveram no Brasil ou na<br />
floresta amazônica, mostra-se completamente<br />
equivocada. Tem sido divulgado, sem o menor<br />
fundamento, que eu teria dito que a floresta amazônica<br />
poderia ser “comprada” pelo valor total de<br />
US$ 50 bilhões. Eu jamais disse isso! Fiz um discurso<br />
à indústria de seguros em julho de 2006,<br />
quando procurei demonstrar a direta relação<br />
existente entre o desmatamento da floresta e alguns<br />
desastres naturais.<br />
(5) O que eu disse, para que fique publicamente<br />
esclarecido, é que o valor despendido<br />
por empresas seguradoras em decorrência dos<br />
efeitos devastadores do furacão katrina em 2005<br />
(cerca de US$ 75 bilhões) foi superior ao hipotético<br />
valor capital da floresta amazônica.<br />
Cartas de dentro<br />
e de fora<br />
(6) Afirmei que a indústria seguradora<br />
tem um claro interesse em patrocinar financeiramente<br />
a proteção das florestas tropicais. Tal<br />
proteção teria reflexos nas mudanças climáticas,<br />
evitando, consequentemente, os acidentes<br />
naturais daí decorrentes.<br />
(7) Se o carbono armazenado nas florestas<br />
tropicais é um recurso global contra mudanças<br />
climáticas, o Brasil, assim como outros<br />
países onde tais florestas estão localizadas,<br />
deve ser recompensado pelo uso sustentável<br />
de tais recursos.<br />
(8) Por que o Brasil deveria assumir tal responsabilidade<br />
isoladamente? A única forma de<br />
reduzir o desmatamento e, ao mesmo tempo,<br />
assegurar os objetivos de crescimento e desenvolvimento<br />
dos países detentores de florestas<br />
tropicais é ter todos trabalhando em torno do<br />
mesmo objetivo.<br />
(9) Acredito que devemos reunir a habilidade<br />
e a competência do Brasil e de outros países<br />
detentores de florestas tropicais com uma<br />
substancial disponibilidade de recursos por parte<br />
dos países economicamente mais desenvolvidos.<br />
Os países ricos, afinal, são aqueles que<br />
mais se beneficiaram pelo desenvolvimento e<br />
progresso industrial e mais causaram, portanto,<br />
efeitos negativos ao meio ambiente.<br />
(10) Se a comunidade internacional agir<br />
unida em questões de combate à pobreza e na<br />
transferência de parte dos frutos econômicos<br />
do uso da floresta para as populações locais<br />
(uso sustentável), em vez de empresas exploradoras<br />
(desenvolvimento não sustentável), poderemos<br />
atacar o problema do desmatamento<br />
de forma efetiva.<br />
(11) A proteção da floresta é um modelo<br />
comunitário e, como cidadão da comunidade internacional,<br />
procuro assumir a responsabilidade<br />
que me cabe nesse contexto.<br />
(12) O resto do mundo deve estar preparado<br />
para compensar as nações detentoras<br />
de florestas tropicais pela proteção desse patrimônio.<br />
(13) Essa pode ser uma oportunidade sem<br />
precedentes no combate à pobreza e um instrumento<br />
para o desenvolvimento econômico do<br />
Brasil (mais especificamente da região amazônica),<br />
do Congo e de alguns países asiáticos.
(14) Não sou um conservacionista passivo.<br />
O Brasil tem uma imensa responsabilidade nesse<br />
contexto e tem feito esforços heroicos em áreas<br />
de proteção do meio ambiente.<br />
(15) Eu e muitos outros, brasileiros ou estrangeiros,<br />
dividimos o mesmo ideal. Por que<br />
então não colocar de lado polêmicas políticas<br />
e atuar em conjunto? O futuro do planeta está<br />
em jogo e somos todos responsáveis por deixá-<br />
-lo em melhores condições para essa e futuras<br />
gerações.<br />
Caderno Opinião (Folha de S. Paulo,<br />
11/06/2008) Tendências e Debates<br />
Johan Eliasch, 46, bacharel em Economia, mestre<br />
em Engenharia pelo Instituto Real de Tecnologia<br />
da Suécia, é assessor especial do primeiro-ministro<br />
britânico para assuntos relativos ao desmatamento e<br />
mudanças climáticas, presidente do Conselho Administrativo<br />
e CEO da Head N.V. e copresidente da Cool<br />
Earth, além de patrono da Universidade de Estocolmo<br />
(Suécia).<br />
Os artigos publicados com assinatura não traduzem<br />
a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao<br />
propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros<br />
e mundiais e de refletir as diversas tendências<br />
do pensamento contemporâneo.<br />
1. Que palavras você<br />
anotou para fazer o vocabulário?<br />
Liste-as a seguir e, com o auxílio de um<br />
dicionário, esclareça suas dúvidas.<br />
Professor: As palavras a seguir são sugestões.<br />
Deverão aparecer outras, então auxilie os<br />
alunos sobre as melhores acepções, adequandoas<br />
ao contexto.<br />
Factual: de fato, de verdade, que não foram<br />
interpretados de forma adequada.<br />
Despender: gastar.<br />
Hipótese: ideia que não foi confirmada ainda,<br />
mas que poderá ser ou não, depende sempre<br />
de provas.<br />
Conservacionismo: que é tradicional, que<br />
segue uma linha conservadora, ou seja, mantém-<br />
-se sempre próximo ao que já está estabelecido e<br />
é de costume.<br />
Passivo: aquele que aceita sem discussão,<br />
que não age.<br />
Polêmica: agitação, ideia que provoca sobressaltos<br />
e reações, fazendo com que se discutam<br />
suas razões.<br />
Contemporâneo: atual, dos dias de hoje.<br />
CEO: do inglês chief executive officer, “diretor<br />
executivo” ou “diretor geral”.<br />
2. Após reler o texto, responda: a seção do jornal<br />
em que se encontra o texto pede que ele seja narrativo<br />
ou argumentativo?<br />
Argumentativo, porque é uma seção de opinião<br />
e debate.<br />
3. No primeiro parágrafo, o autor faz esclarecimentos,<br />
mostra os motivos pelos quais escreve o<br />
texto. Que motivos são esses?<br />
Para esclarecer o que ele diz ser uma interpretação<br />
errada de uma comparação que fez sobre<br />
a Amazônia brasileira.<br />
4.<br />
A quem se dirige o autor?<br />
À opinião pública brasileira.<br />
5. No segundo parágrafo, por que o autor justifica-se<br />
dizendo que é “admirador do Brasil”. Que<br />
elementos da nota sobre a biografia do autor esclarecem<br />
esta afirmação?<br />
Ele é estrangeiro, portanto fala de fora do<br />
país.<br />
6. O autor tem como motivação negar uma afirmação<br />
— a de que teria dito que a floresta amazônica<br />
valeria 50 bilhões — e, por causa disso, uma<br />
polêmica foi iniciada.<br />
a) Podemos dizer que esse texto é uma resposta<br />
a esta polêmica?<br />
Sim.<br />
b) O que o jornal diz, abaixo do texto do autor,<br />
sobre a responsabilidade dos textos que publica?<br />
O jornal Folha de S.Paulo não diz se a opinião<br />
dela é a mesma do autor, pelo contrário, na última<br />
nota se isenta desta responsabilidade, enfatizando<br />
que o texto em questão é um artigo assinado. O leitor<br />
apenas saberia se o jornal concorda ou não com<br />
a opinião do artigo assinado se na seção “editorial”<br />
tivéssemos um texto comentando o caso: positiva<br />
ou negativamente. O jornal tem a função de manter<br />
debates públicos.<br />
7. Entre os parágrafos 7 e 13, o que o autor<br />
propõe?<br />
Propõe iniciativas que há tempos já estão<br />
em desenvolvimento no Brasil, como o desenvolvimento<br />
sustentável para as pessoas da região<br />
e a não intervenção de grupos estrangeiros no<br />
território brasileiro.<br />
P69
8. Nos dois últimos parágrafos, o autor conclui<br />
falando sobre responsabilidades. De quem seriam<br />
essas responsabilidades quanto à floresta<br />
amazônica?<br />
Ele diz que a responsabilidade é do Brasil,<br />
mas também que é de todos que não são brasileiros<br />
porque vivemos em um mesmo planeta.<br />
Professor: Comente com os alunos que tanto<br />
os argumentos quanto a conclusão do autor são<br />
“clichês”, ou seja, ele diz o que sempre é dito,<br />
não apresenta novidades ou saídas, a começar<br />
do título do texto.<br />
Redação 2<br />
O texto a seguir pertence a uma outra seção<br />
do jornal Folha de S.Paulo, leia com atenção:<br />
P70<br />
PAINEL DO LEITOR<br />
Amazônia<br />
Muito bonito o que escreveu Johan Eliasch<br />
na seção “Tendências/ Debates” em 11/6, a começar<br />
pelo título: “A Amazônia brasileira para os<br />
brasileiros”.<br />
Ele só não diz que, se os estrangeiros continuarem<br />
a comprar terra na Amazônia — como<br />
ele, que comprou aí 161.000 hectares —, não vai<br />
sobrar nenhum centímetro quadrado para brasileiro.<br />
Ele também não conta que sua madeireira foi<br />
multada pelo Ibama por não seguir a lei ambiental<br />
e por destruir a “nossa” floresta.<br />
Quando a Suécia, a Inglaterra e os Estados<br />
Unidos permitirem a venda de parte considerável<br />
de seus territórios para estrangeiros, aí vou pensar<br />
no que diz o senhor Eliasch.<br />
Nós, brasileiros, já estamos “vacinados”, graças<br />
aos nossos políticos safados, e conversa bonita<br />
de estrangeiros “bem-intencionados”, que dizem<br />
uma coisa e fazem outra, já não nos comovem.<br />
Rute Bevilaqua (São Paulo, SP)<br />
O “Painel do Leitor” recebe colaborações por e-mail,<br />
fax e correio. As mensagens devem ser concisas e<br />
conter nome completo, endereço e telefone. A Folha<br />
se reserva o direito de publicar trechos.<br />
1. Como você deve ter notado, esta é uma seção<br />
para que os leitores possam dar suas opiniões<br />
sobre os textos escritos no jornal. Esse trecho que<br />
você leu é uma opinião sobre o texto “A Amazônia<br />
brasileira para os brasileiros”. Por que a Folha diz<br />
que as mensagens devem ser concisas?<br />
Conciso significa resumido, de maneira adequada<br />
a uma resposta; neste caso, mesmo que as<br />
mensagens sejam longas, o jornal diz que só publicará<br />
os trechos necessários para esclarecer a<br />
opinião do leitor.<br />
2. No primeiro parágrafo, a leitora esclarece a<br />
que texto se dirige sua opinião, o autor e quando<br />
foi publicado. No segundo parágrafo, ela usa a<br />
expressão “ele só não diz que”. Isso significa que<br />
a opinião dela concorda ou discorda com a do<br />
autor?<br />
A leitora deixa claro com essa expressão que<br />
Eliasch omitiu, ao seu ver, algumas informações,<br />
como o quanto ele tem se beneficiado pessoalmente<br />
da Amazônia e seus hectares. Portanto, a leitora<br />
discorda do autor.<br />
3. Que acontecimento faria a leitora concordar<br />
com o autor?<br />
Se os países com os quais o autor tem relações,<br />
como Suécia, Inglaterra e os Estados Unidos,<br />
também vendessem partes de suas terras a<br />
estrangeiros.<br />
4. O texto da leitora assume tom de ironia. Que<br />
expressões comprovam esta afirmação?<br />
“Muito bonito”, “bem-intecionados”, “nossa<br />
floresta”, “vacinados”, “ele só não diz que”, entre<br />
outras.
5. Caso tivesse possibilidade de responder ao texto, que posição você assumiria? Você concorda com<br />
os argumentos da leitora? Ou prefere concordar com o texto da atividade 1? Escreva um e-mail expressando<br />
sua opinião para o debate. Lembre-se de que ele deve ser conciso, conforme pede o jornal: dois ou<br />
três parágrafos curtos. Faça um rascunho e, depois, passe a limpo no quadro sugerido, preenchendo os<br />
demais campos exigidos pelo jornal.<br />
Enviar mensagem<br />
Para:<br />
Cc:<br />
Assunto:<br />
Mensagem<br />
Professor: Oriente os alunos para a concisão do texto. Caso seja de seu interesse, poderá também<br />
propor que o e-mail seja coletivo. Anote na lousa as opiniões dos alunos, escreva o e-mail com<br />
a opinião e argumentos da maioria da classe. Você poderá também executar essa atividade em forma<br />
de debate, colocando na lousa as opiniões contra/favor dos dois textos. Se tiver interesse, envie o<br />
texto por e-mail — embora seja um texto de 2008, o tema tratado está sempre nas páginas de jornais<br />
e sempre suscita polêmica.<br />
P71
Anotações<br />
P72