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Apresentação - Planej

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Professor:<br />

Português<br />

Seguem abaixo os objetivos gerais e específicos<br />

contidos neste caderno.<br />

Objetivos de ensino/aprendizagem do bimestre:<br />

1. Comparar textos, identificando semelhanças<br />

e diferenças quanto ao conteúdo e à<br />

forma.<br />

2. Desenvolver estratégias de leitura.<br />

3. Motivar os alunos para o tema da unidade:<br />

lugares imaginários.<br />

4. Produzir e recriar textos com as características<br />

do gênero narrativo, bem como suas<br />

situações de produção e adaptação.<br />

5. Conhecer e consultar o dicionário de maneira<br />

rápida e eficiente.<br />

6. Desenvolver habilidade de leitura de texto<br />

não verbal (mapa e fotografia).<br />

7. Aprimorar a exposição oral, exercitando-a<br />

por meio da argumentação, da interação<br />

verbal e da leitura, com textos teatrais, em<br />

prosa e verso.<br />

8. Conceituar e reconhecer aspectos semânticos<br />

do artigo, do numeral e do pronome.<br />

9. Observar, conhecer e respeitar aspectos<br />

da pluralidade cultural da língua, relacionados<br />

à história e a países de língua portuguesa.<br />

Objetivos específicos de ensino/aprendizagem<br />

de cada capítulo:<br />

Capítulo 8: Terra de Oz<br />

1.<br />

2.<br />

Reconhecer aspectos semânticos discursivos<br />

relacionados à língua: artigos e sua<br />

classificação.<br />

Ler textos em linguagem verbal e não<br />

verbal: mapas e fotos.<br />

<strong>Apresentação</strong><br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

Desenvolver ao ler: síntese, tradução de<br />

símbolos, relações entre forma e conteúdo.<br />

Identificar os elementos do texto teatral (rubricas,<br />

ato, entonação).<br />

Reconhecer uma obra clássica e suas diversas<br />

formas de adaptação.<br />

Revisão de tópico: texto informativo.<br />

Capítulo 9: País das Maravilhas<br />

1. Reconhecer aspectos semânticos discursivos<br />

relacionados à língua: numerais e sua<br />

classificação.<br />

2. Desenvolver ao ler: síntese, tradução de<br />

símbolos, relações entre forma e conteúdo<br />

do texto poético.<br />

3. Revisão de tópicos: notícia e resenha.<br />

Capítulo 10: País dos Contrários<br />

1. Identificar o conflito narrativo, bem como as<br />

categorias: tempo/época e espaço/ambiente.<br />

2. Desenvolver ao ler: espacialidade e temporalidade,<br />

relações de causa e consequência,<br />

uso de comparações.<br />

3. Reconhecer elementos de variação linguística<br />

4. Entender a caracterização de personagens<br />

na prosa.<br />

5. Utilizar e reconhecer os aspectos semânticos<br />

dos pronomes.<br />

Organização do tempo<br />

Professor: Você terá, aproximadamente, sete semanas<br />

para desenvolver as atividades propostas neste<br />

caderno, o que corresponde a cerca de 45 aulas.<br />

Entenda como apresentação, neste bimestre, o<br />

tema do caderno: lugares imaginários.<br />

Considere o quadro a seguir ao planejar o<br />

bimestre.<br />

P1


P2<br />

Capítulos Quantidade de aulas<br />

<strong>Apresentação</strong> 1 aula<br />

Capítulo 8 10 aulas<br />

Capítulo 9 10 aulas<br />

Capítulo 10 12 aulas<br />

Redação 10 aulas<br />

Sistematização 2 aulas<br />

Sumário<br />

Total 45 aulas<br />

Capítulo 8 – Terra de Oz ______________ P3<br />

Capítulo 9 – País das Maravilhas ______ P15<br />

Capítulo 10 – País dos Contrários ______ P31<br />

Redação<br />

Capítulo 8 – Terra de Oz _____________ P53<br />

Capítulo 9 – País das Maravilhas ______ P54<br />

Capítulo 10 – País dos Contrários ______ P55


Capítulo<br />

Português 8<br />

Texto com conteúdo:<br />

Professor: Neste caderno, abordamos textos<br />

considerados clássicos da literatura universal. Para<br />

seu enriquecimento, sugerimos a leitura da obra de<br />

Ana Maria Machado: Como e por que ler os clássicos<br />

universais desde cedo, da editora Objetiva,<br />

constante no acervo do MEC/PNLL/Biblioteca do<br />

professor. Transcrevemos a seguir trechos da obra<br />

de Italo Calvino, Por que ler os clássicos, em que o<br />

renomado escritor exemplifica, com rara clareza, os<br />

motivos de se ler um clássico:<br />

POR QUE LER OS CLÁSSICOS<br />

“Comecemos com algumas propostas de definição.<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

7.<br />

8.<br />

9.<br />

10.<br />

Os clássicos são aqueles livros dos quais,<br />

em geral, se ouve dizer: “Estou relendo…” e<br />

nunca ‘‘Estou lendo…”.<br />

Dizem-se clássicos aqueles livros que<br />

constituem uma riqueza para quem os tenha<br />

lido e amado; mas constituem uma riqueza<br />

não menor para quem se reserva a<br />

sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores<br />

condições para apreciá-los.<br />

Os clássicos são livros que exercem uma in-<br />

fluência particular quando se impõem como<br />

inesquecíveis e também quando se ocultam<br />

nas dobras da memória, mimetizando-se<br />

como inconsciente coletivo ou individual.[...]<br />

Toda releitura de um clássico é uma leitura<br />

de descoberta como a primeira.<br />

Toda primeira leitura de um clássico é na<br />

realidade uma releitura. [...]<br />

Um clássico é um livro que nunca terminou<br />

de dizer aquilo que tinha para dizer.<br />

Os clássicos são aqueles livros que che-<br />

gam a nós trazendo consigo as marcas das<br />

leituras que precederam a nossa e atrás de<br />

si os traços que deixaram na cultura ou nas<br />

culturas que atravessaram (ou mais simplesmente<br />

na linguagem ou nos costumes).<br />

Um clássico é uma obra que provoca inces-<br />

santemente uma nuvem de discursos críticos<br />

sobre si, mas continuamente a repele<br />

para longe.<br />

Os clássicos são livros que, quanto mais<br />

pensamos conhecer por ouvir dizer, quando<br />

são lidos de fato mais se revelam novos,<br />

inesperados, inéditos.<br />

Chama-se de clássico um livro que se con-<br />

figura como equivalente do universo, à semelhança<br />

dos antigos talismãs.<br />

Terra de Oz<br />

11. O “seu” clássico é aquele que não pode<br />

ser-lhe indiferente e que serve para definir<br />

a você próprio em relação a ele e talvez em<br />

contraste com ele.<br />

12. Um clássico é um livro que vem antes de outros<br />

clássicos; mas quem leu antes os outros<br />

e depois lê aquele reconhece logo o seu lugar<br />

na genealogia.<br />

13. É clássico aquilo que tende a relegar as<br />

atualidades à posição de barulho de fundo,<br />

mas ao mesmo tempo não pode prescindir<br />

desse barulho de fundo.<br />

14. É clássico aquilo que persiste como rumor<br />

mesmo onde predomina a atualidade mais<br />

incompatível.”<br />

<strong>Apresentação</strong><br />

Querido aluno, este caderno foi escrito para<br />

você que gosta de aprender, ler, ouvir e contar boas<br />

histórias; e para que você possa mostrar suas opiniões<br />

sobre o mundo à sua volta.<br />

Também foi escrito para que você, falando e escrevendo,<br />

crie e recrie textos, melhore sua interação<br />

com o que cerca e desvende os caminhos para<br />

os quadrinhos, as notícias de jornais, os contos, as<br />

fábulas, as poesias e muitos outros textos.<br />

Queremos convidá-lo a ler, a se divertir, a criticar,<br />

a escrever; enfim, a crescer melhor no mundo<br />

em que vive.<br />

Para começar<br />

Neste capítulo, conheceremos uma obra considerada<br />

clássica, adaptada para o cinema e para o<br />

teatro; e, em morfologia, estudaremos os artigos.<br />

Neste caderno, você lerá textos que chamamos<br />

de clássicos. Mas o que é um clássico?<br />

Uma obra é considerada clássica da literatura<br />

universal por ser uma obra famosa, que já foi<br />

adaptada para o cinema e para o teatro. Também<br />

é clássica por ter explorado um tema original, por<br />

construir personagens marcantes que se tornaram<br />

imortais e por servir de modelo para outros<br />

autores. Todos esses aspectos fazem com que<br />

seja uma referência para as novas gerações, e o<br />

leitor, ao fazer novas leituras dela, encontra novos<br />

significados.<br />

Quando uma obra é clássica, ela passa a ser<br />

não só comentada, mas lida e recomendada. É uma<br />

leitura que vale a pena! Acontece, inclusive, de o<br />

leitor se identificar com o herói, como a Dorothy (que<br />

P3


conheceremos a seguir). Depois, fica lembrando da<br />

personagem, sem tirá-la da cabeça. E a Dorothy<br />

acaba fazendo parte da sua vida, de suas lembranças,<br />

de seus pensamentos, de seus sonhos. Uma<br />

boa história marca de verdade a vida do leitor.<br />

A seguir, selecionamos alguns trechos do clássico:<br />

O mágico de Oz<br />

1. O ciclone<br />

Dorothy vivia numa casinha no coração das<br />

grandes pradarias do Kansas com tio Henry e<br />

tia Ema. Quatro paredes, um assoalho e um telhado<br />

formavam o único compartimento da casa.<br />

[…] Não havia sótão nem porão, a não ser um<br />

pequeno buraco, cavado no chão e apelidado<br />

de porão anticiclones, onde a família ficava bem<br />

protegida em caso de furacões violentos. Chegava-se<br />

até ele por uma escada que descia de<br />

um alçapão localizado no meio do quarto.<br />

Em volta da casa, estendia-se a imensa pradaria<br />

cor de cinza. Nenhuma árvore, nenhuma<br />

casa… […] Os raios de sol tinham feito daquelas<br />

terras uma grande massa cinzenta. Até mesmo<br />

a relva não era mais verde. O sol torrara as extremidades<br />

das suas hastes, tornando-a cinzenta<br />

como tudo o mais. […]<br />

Quando tia Ema chegara ali, era jovem e bonita.<br />

O sol e o vento transformaram-na, porém.<br />

Roubaram o brilho dos seus olhos, o rubor dos<br />

seus lábios e das maçãs do seu rosto. Agora era<br />

magra e descarnada, e não esboçava sequer um<br />

sorriso. Quando Dorothy, que era órfã, chegou à<br />

sua casa, deixou tia Ema muito espantada com<br />

seu riso constante.<br />

Tio Henry não ria nunca. Trabalhava de manhã<br />

até à noite. Era muito sério e circunspecto, e<br />

ignorava o que fosse a alegria.<br />

Era Totó quem fazia Dorothy rir e a preservava<br />

de tornar-se cinzenta como tudo o que a cercava.<br />

Totó não era cinzento; era um cãozinho preto, de<br />

pelo longo e sedoso, e pequeninos olhos negros<br />

a brilharem acima do focinho. Totó brincava o dia<br />

inteiro com Dorothy e ela lhe queria muito bem.<br />

P4<br />

Hoje, entretanto, não brincavam. Tio Henry,<br />

sentado na soleira da porta, olhava para o céu,<br />

ainda mais cinzento que nos outros dias. […]<br />

Fez-se ouvir, ao norte, um gemido longínquo<br />

de ventania. Tio Henry e Dorothy puderam ver o<br />

capim ondular-se antes da tempestade desabar.<br />

Do sul veio um assobio agudo e, ao se voltarem<br />

para aquele lado, viram ondas de capim vindas<br />

na direção da casa.<br />

— Vem aí um ciclone, Ema! — gritou tio Henry<br />

para a mulher, levantando-se. — Vou cuidar do<br />

gado.<br />

Tia Ema abandonou sua ocupação e veio até<br />

a porta. Um olhar foi o bastante para que constatasse<br />

o perigo próximo.<br />

— Depressa, Dorothy! — gritou. — Para o<br />

porão.<br />

Totó saltou dos braços da menina e escondeu-se<br />

debaixo da cama. Enquanto Dorothy tentava<br />

agarrar o cãozinho, tia Ema abriu o alçapão<br />

e desceu assustada para o porão.<br />

Finalmente, Dorothy conseguiu alcançar Totó,<br />

e pôs-se a seguir a tia. Estava no meio do quarto,<br />

quando um terrível uivo do vento se fez ouvir.<br />

A casa tremeu tanto que a menina perdeu o<br />

equilíbrio e caiu sentada no chão.<br />

Nesse momento, sucedeu algo de muito<br />

estranho.<br />

A casa rodopiou três vezes e ergueu-se lentamente<br />

nos ares. Dorothy sentiu-se como se<br />

estivesse num balão.<br />

Os ventos norte e sul fizeram da casa o centro<br />

do ciclone. A pressão exercida por todos<br />

os lados elevou-a até o alto do ciclone. E foi<br />

carregada por milhas e milhas como se fosse<br />

uma pluma.<br />

[…] Dorothy, no entanto, limitou-se a sentar e<br />

esperar pelo que aconteceria.<br />

Certa vez, Totó chegou muito perto do alçapão<br />

e caiu. A princípio, a menina julgou tê-lo perdido<br />

para sempre, mas logo notou que uma de<br />

suas orelhinhas se esticava por meio da abertura.<br />

A forte pressão do ciclone mantivera-o suspenso<br />

no ar. Ela engatinhou até o alçapão, agarrou<br />

o cachorrinho pela orelha e puxou-o para o quarto<br />

novamente, fechando a portinhola para evitar<br />

novos acidentes.<br />

Passaram-se muitas horas e, aos poucos,<br />

Dorothy começou a sentir-se sozinha. […] Inicialmente<br />

ela quisera saber o que seria feito<br />

dela quando a casa caísse, mas como as horas<br />

se passavam sem que nada de terrível acontecesse,<br />

ela deixou de se preocupar e resolveu<br />

esperar com calma e ver o que o futuro traria.<br />

Afinal, arrastou-se até a cama e deitou-se. Totó<br />

foi ter com ela e logo adormeceram.


2. O diálogo com os Comilões<br />

Dorothy foi despertada por um choque tão<br />

brusco que, não fora a maciez de sua cama, provavelmente<br />

teria se machucado.<br />

Uma vez acordada, Dorothy perguntou a si<br />

mesma o que havia acontecido. Sentou-se e notou<br />

que a casa estava imóvel e o sol entrava pela<br />

janela, iluminando o quarto. […]<br />

Um grito de deslumbramento escapou-lhe<br />

diante da paisagem maravilhosa.<br />

O ciclone pousara a casinha num lugar<br />

magnífico. Árvores majestosas, carregadas de<br />

frutos; flores suntuosas e pássaros de lindas<br />

plumagens, cantando aqui e ali, formavam um<br />

conjunto de estonteante beleza com a relva<br />

verdejante.<br />

Um pouco além corria um riacho de voz doce<br />

e suave, sussurrando para a menina que, durante<br />

tanto tempo, vivera nas planícies áridas e cinzentas<br />

do Kansas.<br />

Daí a pouco Dorothy notou que um grupo de<br />

pessoas estranhas, duma espécie que jamais<br />

vira, se dirigia para ela. Não eram altos quanto<br />

a gente grande que ela conhecia, nem eram pequenos<br />

demais. Na realidade eram mais ou menos<br />

da sua altura, se bem que parecessem muito<br />

mais velhos. […] Os homens se vestiam todos<br />

de azul […]. A mulher, entretanto, parecia muito<br />

mais velha. Seu rosto era enrugado e o cabelo<br />

grisalho. Vestia, por sua vez, uma espécie de<br />

túnica branca, repleta de estrelinhas reluzentes<br />

que brilhavam ao sol.<br />

Quando já estavam perto da menina, detiveram-se<br />

e cochicharam entre si, como se temessem<br />

chegar mais perto.<br />

— Eu quero voltar para junto dos meus tios.<br />

Será que vocês podem me ajudar a encontrar o<br />

caminho?<br />

[…] Balançaram a cabeça negativamente e<br />

um deles disse:<br />

— A leste, há um grande deserto que ninguém<br />

ousaria atravessar. A mesma coisa no sul.<br />

Ao norte fica minha terra, e além dela, o mesmo<br />

deserto. A oeste fica a terra dominada pela Fada<br />

Perversa; se você passasse por lá, certamente<br />

seria feita escrava.<br />

Dorothy começou a soluçar. […] Entretanto, a<br />

velhinha chegou até Dorothy, fez uma reverência<br />

e disse-lhe com uma voz doce: […]<br />

— A terra de Oz está apartada de toda a civilização.<br />

Portanto, aqui ainda há fadas e mágicos.<br />

O mais poderoso de todos é o Mágico de Oz, que<br />

vive na Cidade das Esmeraldas. É mais poderoso<br />

que todos os outros reunidos.[…]<br />

— Então é preciso que você vá à cidade das<br />

Esmeraldas. Talvez Oz lhe ajude.<br />

A fada beijou carinhosamente a testa da menina,<br />

deixando uma marca redonda e brilhante,<br />

como a menina constatou mais tarde.<br />

— A estrada que conduz à cidade das Esmeraldas<br />

é coberta de tijolos amarelos, de modo<br />

que você não pode enganar-se. Se chegar a ver<br />

Oz, não tenha medo dele. Conte-lhe toda a sua<br />

história e peça-lhe auxílio. Adeus, querida.<br />

BAUM, L. F. O mágico de Oz. Trad. Celso Luiz Amorim. Rio<br />

de Janeiro: Record, 2002. Col. Literatura em minha casa, v. 4.<br />

P5


Para continuar<br />

Conversa sobre o texto<br />

1. Antes de começar a responder às questões,<br />

releia o texto e anote as palavras que você não conhece.<br />

Procure em um dicionário e explique, com<br />

suas palavras, o significado delas.<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Segue lista de palavras que provavelmente<br />

os alunos anotarão.<br />

Circunspecto: reservado, prudente, atento.<br />

Pradaria: campo, onde predomina pastagem,<br />

grama.<br />

Pluma: pena.<br />

Mobília: móvel.<br />

Apartado: separado.<br />

Civilização: um tipo de cultura que se diz organizada<br />

de acordo com regras e princípios seguidos<br />

pela maioria das pessoas pertencentes a ela.<br />

Ciclone: tempestade de ventos muito violentos,<br />

P6<br />

OCEANO<br />

PACÍFICO<br />

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA<br />

ESTADOS<br />

UNIDOS<br />

MÉXICO<br />

Kansas<br />

Os tios vivem no campo, cuidam do gado, trabalham muito.<br />

que giram em turbilhão e se deslocam a grande velocidade.<br />

Uso informal: furacão, tufão, vento devastador.<br />

Relva: grama.<br />

Estonteante: maravilhoso.<br />

Suntuoso: grandioso.<br />

2. Ao lermos um texto, podemos observar que o<br />

ambiente (a descrição que o narrador faz de um cenário,<br />

de um espaço, colocando suas impressões)<br />

nos leva a imaginar também o estado de espírito das<br />

personagens que ali vivem. Como o narrador caracteriza<br />

a casa em que Dorothy vive com os tios? Como<br />

são os objetos?<br />

São enferrujados, velhos. A casa é pequena,<br />

empobrecida e cinza.<br />

3. Dorothy vive “nas grandes pradarias do Kansas”.<br />

Observe o mapa dos Estados Unidos e verifique<br />

onde fica esse estado americano. Depois responda:<br />

considerando o que o narrador nos contou, como vivem<br />

e em que trabalham os tios de Dorothy?<br />

CANADÁ<br />

OCEANO<br />

ATLÂNTICO<br />

0 290<br />

km


Sugestão didática:<br />

Professor: Caso seja de seu interesse, converse<br />

com os alunos sobre esse estado americano ou<br />

peça uma pesquisa interdisciplinar de Geografia:<br />

já no século XIX e até os dias de hoje, o Kansas é<br />

um estado agropecuário, caracteriza-se pela produção<br />

de trigo, criação de gado e grandes extensões<br />

de campos de girassóis, bem como a exploração<br />

de petróleo e minério. Os ciclones são uma<br />

constante em determinadas épocas do ano. Talvez<br />

seja interessante conversar com os alunos sobre<br />

os pontos cardeais e até mesmo sobre a origem<br />

do nome “Kansas”, provindo do povo originário<br />

do local (Kansa) cuja tradução aproximada seria:<br />

“povos do vento sul”. O autor, Baum, viveu muito<br />

tempo nesse estado e sua família possuía terras<br />

e plantações.<br />

4. Uma das técnicas para criar personagens<br />

é descrevê-las de forma que se pareçam com o<br />

espaço onde vivem. Tio Henry e Tia Ema ficaram<br />

parecidos com as pradarias? Explique com suas<br />

palavras.<br />

Sim, ambos parecem tristes e descarnados,<br />

sem brilho, cinzentos como a pradaria queimada<br />

pelo sol.<br />

5.<br />

Que cor predomina na descrição do espaço?<br />

Cinza<br />

6. Ao anunciar o ciclone, o narrador o faz por<br />

meio dos sons. Que sons eram esses?<br />

Assobios, gemidos e uivos.<br />

7. O que acontece com Dorothy e Totó durante<br />

o ciclone?<br />

São arremessados ao ar, ao olho do ciclone,<br />

junto com a casa.<br />

8. Após o ciclone, Dorothy acorda em um lugar<br />

diferente. Que diferença podemos notar na natureza<br />

descrita? É a mesma do Kansas? As cores e os<br />

sons mudaram?<br />

A paisagem é generosa e cheia de cores verdejantes.<br />

O som da água é suave.<br />

9. Quem poderá ajudar Dorothy a voltar para<br />

casa, segundo a fada? Por quê?<br />

O mágico de Oz, porque o consideram o mais<br />

poderoso de todos.<br />

Sugestão didática.<br />

Professor: É possível fazer um trabalho com o<br />

mapa da maravilhosa terra de Oz. Procure-o no<br />

livro Dicionário de lugares imaginários. São Paulo:<br />

Cia das Letras, p. 323, de Alberto Manguel e<br />

Gianni Guadalupi.<br />

Para continuar<br />

O texto no contexto<br />

Quando o ciclone levou Dorothy, a órfã, e seu<br />

cãozinho Totó, do Kansas até a Terra de Oz, ela temeu<br />

não ver nunca mais sua tia Ema e o tio Henry.<br />

Mas ela encontrou os Munchkins, os comilões,<br />

e eles lhe disseram para seguir a Estrada dos Tijolos<br />

Amarelos até a Cidade das Esmeraldas, onde<br />

o Grande Mágico de Oz lhe concederia qualquer<br />

desejo. No caminho, ela encontrou o Espantalho<br />

sem cérebro, o Lenhador de Lata sem coração e<br />

o Leão Covarde. Os quatro amigos partiram em<br />

busca de seus mais profundos desejos e, numa<br />

série de aventuras fantásticas, encontraram um<br />

campo de papoulas mortíferas, animais selvagens,<br />

macacos voadores, derrotaram a Feiticeira<br />

Má e rumaram ao encontro do Mágico de Oz.<br />

A seguir, você lerá o trecho final de O mágico de<br />

Oz, adaptado por Tatiana Belinky para o teatro:<br />

Cenários<br />

PRIMEIRO ATO: Floresta — cenário grande,<br />

árvores, arbustos etc.<br />

SEGUNDO E TERCEIRO ATOS: Pracinha<br />

na frente do Palácio de Esmeraldas, com a fachada<br />

do Palácio, grande portão com aldraba,<br />

janelinha no portão, de um lado do palco. E do<br />

outro, atrás do portão, a sala do trono (descrição<br />

no texto).<br />

TERCEIRO ATO<br />

Guarda (aparecendo na janelinha)<br />

O grande Oz mandou dizer que não pode<br />

recebê-los hoje. Voltem outro dia.<br />

Dorinha<br />

Nada disso! Promessa é dívida! Ele tem de<br />

nos receber imediatamente!<br />

Guarda<br />

Mas ele disse que não pode.<br />

Espantalho<br />

Tem de poder! Abra o portão!<br />

Guarda<br />

Não posso!<br />

P7


Leão<br />

Ah, não pode? Pois nós podemos! Nós vamos<br />

abrir esse portão com você ou sem você! Vamos,<br />

amigos, metamos o ombro nesse portão, todos<br />

juntos!<br />

(Os três metem o ombro no portão, que se<br />

abre facilmente. O guarda recua e eles passam.<br />

Na sala há também um biombo. Eles param<br />

admirados porque o trono está vazio. Quando<br />

estão na sala, percebem o movimento de alguém<br />

atrás do biombo.)<br />

Dorinha<br />

O trono está vazio!<br />

Espantalho<br />

Parece que ouvi um som estranho…<br />

Homem de Lata<br />

Eu também…<br />

[…]<br />

Dorinha<br />

Por que será que o Grande Mágico de Oz não<br />

se manifesta?<br />

[…]<br />

Leão<br />

Deixem isso comigo. Eu vou chamá-lo à minha<br />

moda. (Dá um rugido formidável e logo se<br />

ouve uma exclamação de susto vinda de trás do<br />

biombo e, em seguida, a voz do Mágico, mas já<br />

bem menos tonitruante e um pouco trêmula.)<br />

Oz (pouco convincente)<br />

Eu sou Oz, o Grande e Terrível! Quem são<br />

vocês e por que me procuram?<br />

Dorinha<br />

Onde é que o senhor está?<br />

Oz<br />

Estou aqui mesmo, mas sou invisível aos<br />

olhos de vocês.<br />

Espantalho<br />

E nós também somos invisíveis aos olhos do<br />

senhor?<br />

Oz<br />

Claro que não. Os meus olhos veem tudo.<br />

Espantalho<br />

Nesse caso, o senhor sabe muito bem quem<br />

nós somos!<br />

Leão<br />

E para que viemos!<br />

Oz<br />

Para que foi?<br />

Dorinha (enfezada)<br />

Para exigir o cumprimento das suas promessas,<br />

Mágico de Oz.<br />

Oz<br />

Promessas???? Que promessas?<br />

(Os quatro se entreolham indignados.)<br />

P8<br />

Dorinha<br />

O senhor prometeu ajudar-me a voltar para<br />

casa!<br />

Espantalho<br />

E a mim, o senhor prometeu um cérebro!<br />

Homem de Lata<br />

E a mim, um coração!<br />

Leão<br />

E a mim, prometeu dar coragem!<br />

Oz (gaguejando um pouco)<br />

Mas… eu… eu… exigi um serviço em troca<br />

disso tudo…<br />

Dorinha<br />

O serviço foi executado e o senhor sabe bem<br />

disso!<br />

Oz<br />

Quer dizer que… Quer dizer que a Feiticeira<br />

Má…<br />

Dorinha<br />

Está derretida e liquidada!<br />

Oz (grande suspiro de alívio)<br />

[…]<br />

Leão<br />

O senhor tem de cumprir as promessas senão…<br />

(Ruge terrivelmente. O homem de lata ergue<br />

o machado e todos fazem um movimento em<br />

direção ao biombo que imediatamente cai, deixando<br />

aparecer o Mágico de Oz: um velhinho<br />

inofensivo e muito amedrontado. Todos param.)<br />

Dorinha (após breve pausa de espanto)<br />

Quem é o senhor?<br />

Oz (trêmulo)<br />

Eu sou Oz, o Grande, o Terrível… (Todos dão<br />

um passo em direção a ele.) Mas não me batam,<br />

por favor! Farei tudo que vocês mandarem!<br />

(Todos se entreolham admirados.)<br />

Dorinha<br />

E eu pensava que Oz era uma grande cabeça<br />

sentada no trono!!!<br />

[…]<br />

Oz (brandamente)<br />

Estavam todos enganados… Eu estava… Eu<br />

estava fazendo de conta…<br />

Dorinha<br />

Então o senhor não é um Grande Mágico?<br />

Oz (olhando para os lados)<br />

Psst! Não fale alto, minha menina, senão alguém<br />

pode ouvi-la… Se alguém escutar, estarei<br />

perdido… Vocês pensam mesmo que eu sou feiticeiro?<br />

Dorinha<br />

E não é, então?


Oz<br />

Não… Eu sou um homem como outro qualquer…<br />

Dorinha<br />

Mas… e a cabeça do trono?<br />

Oz<br />

É uma máscara…<br />

Dorinha<br />

E a voz que saía da cabeça?<br />

Oz<br />

Eu faço a minha voz sair de qualquer lugar.<br />

(Um pouco orgulhoso) Eu sou ventríloquo…<br />

(Todos se entreolham.)<br />

Espantalho<br />

O senhor é muito mais que isso! O senhor é<br />

um “grandessíssimo” charlatão!<br />

[…]<br />

Oz<br />

Meus amigos, não se preocupem tanto com<br />

essas coisinhas… Pensem no destino terrível<br />

que me espera, se alguém descobrir a minha tapeação!<br />

[…]<br />

E tenho mesmo, tenho muita vergonha. Mas<br />

eu não poderia fazer outra coisa…<br />

[…] É que eu tinha tanto medo da Feiticeira Má,<br />

que o único modo de me defender contra ela e<br />

também contra a cidade das Esmeraldas inteira foi<br />

esse de fingir ser um feiticeiro muito poderoso…<br />

[…]<br />

Dorinha (indignada)<br />

O senhor é um homem mau!<br />

Oz<br />

Oh não… o que eu sou, é um péssimo feiticeiro…<br />

Espantalho (desanimado)<br />

Então, o senhor não pode me dar um cérebro?<br />

Oz<br />

Mas você não precisa de um cérebro! Você já<br />

é inteligente!<br />

Espantalho<br />

Como assim?<br />

Dorinha<br />

É verdade! Quem inventou o plano para liquidarmos<br />

a bruxa foi ele!<br />

(O espantalho ficou pensativo.)<br />

Homem de lata<br />

E eu? Vou ficar sem coração?<br />

Oz<br />

Para que você quer um coração? […] Isso<br />

você já tem.<br />

Homem de Lata<br />

Como assim?<br />

Dorinha<br />

É verdade! O homem de lata é a bondade em<br />

pessoa! […] Foi ele quem não me deixou servir<br />

de isca para a Feiticeira e se ofereceu em meu<br />

lugar! E se ele fez isso é porque gosta de mim!<br />

(Para o homem de lata) Não é?<br />

(O homem de lata fica pensativo e encabulado.)<br />

Leão<br />

E eu? Vou ficar para sempre medroso? Não<br />

ganho minha coragem?<br />

Oz<br />

Quem lhe disse que você não tem coragem?<br />

[…]<br />

Dorinha<br />

É verdade! O Leão é muito corajoso! Foi ele<br />

quem resolveu entrar no Palácio de qualquer<br />

maneira! Foi ele quem obrigou o Mágico a aparecer<br />

e se desmascarar!<br />

Oz<br />

Então? Estão vendo? O que falta não é coragem,<br />

é sim um pouco de confiança em si mesmo.<br />

(O Leão fica pensativo e depois contente.)<br />

[…]<br />

Oz<br />

Então… estão todos satisfeitos?<br />

Os três<br />

Estamos, estamos! Muito obrigado, Grande<br />

Oz! Agora podemos ser felizes! Adeus, adeus!<br />

Dorinha<br />

Adeus, meus amigos, felicidades!<br />

(Eles saem pulando e acenando. Dorinha<br />

acena também — Pausa. Dorinha enxuga uma<br />

lágrima.)<br />

Oz (Percebendo que ela está triste, quer<br />

alegrá-la.)<br />

Viu? Afinal foi fácil dar-lhes o que pediam…<br />

Dorinha (pensativa)<br />

Engraçado… Eles não precisavam daquilo<br />

que tanto procuravam… Eles só pensavam que<br />

não tinham inteligência, coração, coragem…<br />

Oz<br />

E todo o tempo eles o tinham dentro de si…<br />

Dorinha (lembrando-se)<br />

É, mas agora eu gostaria de voltar para<br />

casa…<br />

Acho que já posso, não é?<br />

Oz<br />

Bem, isso já é mais difícil…<br />

P9


Dorinha (aflita)<br />

Mas eu quero voltar para casa!<br />

Oz<br />

Vamos pensar em alguma coisa… Vamos<br />

pensar bem forte que você está voltando para<br />

casa…<br />

Dorinha<br />

E o senhor acha que isso dará certo?<br />

Oz<br />

Vamos tentar… Pense bem forte…<br />

(Dorinha fecha os olhos fazendo esforço<br />

para concentrar-se ao mesmo tempo que o<br />

Mágico — Começa a tocar uma música para<br />

escurecimento e a luz do palco vai diminuindo<br />

até ficar escuro por completo. Fecha-se o pano.<br />

O contrarregra recoloca a [cama] na frente da<br />

cortina — Dorinha senta e a luz vai acendendo-<br />

-se aos poucos, até a claridade natural. Dorinha<br />

dorme.)<br />

Tia (entrando)<br />

Dorinha? Ora, veja se isso é lugar de dormir!<br />

Dorinha, acorde!<br />

(desce o pano)<br />

P10<br />

BELINKy, Tatiana. O mágico de Oz. Adaptado de<br />

L. Baum. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 62-67.<br />

1. O texto que você acabou de ler foi adaptado<br />

para o teatro, ou seja, para o gênero dramático,<br />

e transformou-se em uma peça teatral. Para isso<br />

foram feitas algumas modificações na maneira de<br />

contar, já que o texto dessa forma é feito para ser<br />

encenado. Você sabe o que significa “ato”?<br />

Os atos são as partes da peça; essa, por<br />

exemplo, sabemos que tem três porque desce o<br />

pano no final do texto.<br />

2. Alguns trechos estão entre parênteses e as<br />

letras em itálico. Para que serve esse recurso chamado<br />

rubrica?<br />

Para marcar e orientar as cenas para os atores,<br />

para dizer como as falas devem ser representadas<br />

e o que estará no palco.<br />

3. Por que você acha que há muitas frases interrogativas,<br />

exclamativas e imperativas? Isso muda a<br />

maneira de ler o texto?<br />

Sim, isso muda porque a maneira de falar é a<br />

encenação mais forte e necessária para quem está<br />

no palco, por isso tantas pontuações.<br />

Professor: Chame a atenção para o fato de que,<br />

muitas vezes, as falas também rimam para que proporcionem<br />

um ritmo rápido ao texto teatral.<br />

4. Observe o sentido dessas duas palavras, segundo<br />

o Dicionário Houaiss eletrônico:<br />

Charlatão: 1. aquele que se apresenta nas praças<br />

ou nas feiras para vender drogas e elixires reputados<br />

milagrosos, seduzindo o público e iludindo-o<br />

com discursos e trejeitos espalhafatosos. 2. que ou<br />

aquele que se diz possuidor de remédios infalíveis<br />

(diz-se de curandeiro).<br />

Ventríloquo: pessoa capaz de falar movendo<br />

muito pouco os lábios, para dar a impressão de que<br />

a voz vem de outra pessoa ou de um boneco, e não<br />

do falante (ventriloquia).<br />

Agora, responda:<br />

a) Na sua opinião, o Mágico de Oz é um ventrílo-<br />

quo e/ou um charlatão?<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Os alunos podem considerar que o<br />

Mágico de Oz é um charlatão e um ventríloquo, já<br />

que, de certa maneira, o charlatão convence o seu<br />

público, nesse caso as pessoas da terra de Oz, e<br />

para isso ele usou uma habilidade — a do ventríloquo.<br />

b) As ações do Mágico de Oz ajudaram a melho-<br />

rar a vida do Leão, do Espantalho e do Homem de<br />

Lata? Por quê?<br />

As ações do mágico, de forma indireta, ajudaram<br />

os amigos de Dorohty e a ela também, pois fez<br />

com que descobrissem que o que mais desejam já<br />

estava dentro deles.<br />

5. Dorinha ou Dorothy, ao final da narrativa,<br />

volta para casa. Para ela, qual foi a solução que<br />

o mágico deu? Você acredita que ela tenha apenas<br />

dormido?<br />

Resposta pessoal. Possibilidade de resposta:<br />

O mágico sugere que ela se concentre e pense forte<br />

em seu desejo e dessa forma resolve também o<br />

problema da menina que era voltar para casa. Dormir<br />

é uma forma de sonhar, sonhar também é uma<br />

forma de aprender com aquilo que não aconteceu<br />

de fato. Talvez os lugares imaginados pela menina<br />

a ajudem a ser feliz no Kansas e a resolver seus<br />

problemas mais íntimos.<br />

6. Agora que você já releu o texto e percebeu as<br />

alterações que a forma teatral provoca nos textos,<br />

que tal fazer uma leitura dramatizada observando<br />

as orientações das rubricas? Reúna alguns colegas,<br />

e seu professor dividirá os papéis, fazendo a função<br />

de diretor teatral. Boa leitura!


Para continuar<br />

Conceito / conexão<br />

No bimestre anterior, vimos dois tópicos de morfologia:<br />

os substantivos e os adjetivos. Neste começaremos<br />

pelos artigos:<br />

Artigo é uma palavra usada antes de<br />

substantivos, geralmente para indicar, determinar<br />

o seu gênero (masculino/feminino) e<br />

também o seu número (singular/plural).<br />

Texto com conteúdo:<br />

Professor: Seguindo as gramáticas normativas,<br />

optamos por nomear artigo como palavra. Entretanto,<br />

lembramos que a definição de palavra numa<br />

dada língua deve passar por vários testes, tanto<br />

fonológicos, como morfológicos e sintáticos, desse<br />

modo não é tarefa fácil a conceituação de palavra<br />

em português. O artigo é considerado por Mattoso<br />

Câmara Júnior, fonologicamente, como uma partícula<br />

proclítica átona que se adjunge a um nome<br />

substantivo e, morfologicamente, como uma forma<br />

dependente, portanto não podemos considerá-lo<br />

como palavra per se. Por outro lado, a adjunção de<br />

um artigo a uma palavra é o processo formal básico<br />

para sua substantivação. Ex.: um cantar, o admirar,<br />

os três. Caso você se interesse por esse assunto,<br />

como leitura pessoal, indicamos:<br />

BASíLIO, M. Formação e classes de palavras no<br />

português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.<br />

CÂMARA JÚNIOR, J. Mattoso. Estrutura da Língua<br />

Portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970.<br />

ROSA, M. C. Introdução à Morfologia. São Paulo:<br />

Contexto, 2000.<br />

Observe os artigos destacados no exemplo:<br />

Os raios de sol tinham feito daquelas terras<br />

uma grande massa cinzenta. Até mesmo a relva<br />

não era mais verde. O sol torrara as extremidades<br />

das suas hastes, tornando-a cinzenta como<br />

tudo o mais.<br />

Você notou que é necessária uma concordância<br />

de gênero e número?<br />

Os raios de sol = masculino e plural<br />

Nesse caso, o artigo “os” concorda com a palavra<br />

“raios”.<br />

Uma grande massa cinzenta = feminino e<br />

singular<br />

Já nesse, o artigo “uma” concorda com “massa”.<br />

Agora você: com que palavra o artigo “o” concorda?<br />

E o artigo “as”?<br />

O sol torrara as extremidades das suas hastes.<br />

O artigo “o” concorda com sol (masculino/singular)<br />

e “as” concorda com “extremidades” (feminino/<br />

plural).<br />

Além da concordância, os artigos também exercem<br />

a função de determinar as palavras que estão<br />

acompanhando, por isso se dividem em definidos e<br />

indefinidos:<br />

o, a, os, as = artigos definidos<br />

um, uma, uns, umas = artigos indefinidos<br />

Se quisermos determinar, mostrar que algo nos<br />

é particular, mais preciso, mais definido, usamos: o,<br />

a, os, as. Por exemplo:<br />

Em volta da casa, estendia-se a imensa pradaria<br />

cor de cinza. Nenhuma árvore, nenhuma<br />

casa… Apenas a planície a roçar o céu em toda<br />

a parte.<br />

Os artigos “a” desse trecho mostram que “pradaria”,<br />

“planície”, “parte” são imagens bem conhecidas<br />

e definidas pelo narrador do texto.<br />

Observe outro exemplo:<br />

Um grito de deslumbramento escapou-lhe<br />

diante da paisagem maravilhosa.<br />

Por que o artigo indefinido “um” foi usado nesse<br />

caso? Porque o narrador se refere a um grito qualquer,<br />

sem exatidão, já que no texto é o primeiro de<br />

deslumbramento; portanto, o artigo indefinido é o<br />

mais indicado. Caso tivesse usado “o grito de deslumbramento<br />

escapou-lhe…”, teríamos a impressão<br />

de que Dorothy já tinha feito isso antes na narrativa,<br />

e isso ainda não ocorreu. Note que mudar de “um”<br />

para “o” altera o sentido do texto.<br />

Por isso, a questão mais importante não é a<br />

classificação, e sim o sentido que o artigo dá à<br />

palavra que ele acompanha.<br />

P11


Sequência Didática:<br />

Professor: O uso do artigo definido em detrimento<br />

do artigo indefinido é semanticamente ligado<br />

à informação nova (artigo indefinido) e à informação<br />

já dada no contexto de uso, ou conhecida<br />

pelo falante/interlocutor (artigo definido). Um ótimo<br />

exercício seria solicitar que os alunos gravassem<br />

alguns minutos de diálogo espontâneo entre dois<br />

colegas da classe e, logo depois, transcrevessem<br />

esse diálogo, anotando o uso dos artigos na fala.<br />

Você pode questionar a sala sobre o uso dos artigos<br />

definidos e indefinidos, que sempre seguem a<br />

regra semântica dada acima. Esse tipo de exercício<br />

é interessante porque, além de fazer o aluno pensar<br />

sobre sua própria língua, o faz entender, na prática,<br />

ambas as definições gramaticais dadas para os artigos<br />

em língua portuguesa.<br />

P12<br />

Releia um trecho da peça, sem os artigos:<br />

Dorinha (indignada)<br />

senhor é homem mau!<br />

Oz<br />

Oh não… o que eu sou, é péssimo feiticeiro…<br />

Retorne ao trecho e complete com os artigos.<br />

Provavelmente você completou com os mesmos<br />

artigos do texto. Por que isso ocorre?<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

“o” senhor = o personagem já sabe, conhece,<br />

já se referiu ao mágico em seu discurso, portanto<br />

utiliza o artigo definido.<br />

“um” homem = semelhante a qualquer homem<br />

mau (indefinido).<br />

“um” feiticeiro = semelhante a qualquer feiticeiro<br />

ruim (indefinido).<br />

Professor: Note que os alunos podem omitir<br />

este último item, o que de fato poderia ocorrer sem<br />

prejuízo de sentido, já que a omissão do artigo indefinido<br />

continua mantendo, semanticamente, a indefinição<br />

do sintagma nominal “péssimo feiticeiro”.<br />

Tente você: circule os artigos do trecho e<br />

indique que palavra os acompanha:<br />

(Os três metem o ombro no portão, que se<br />

abre facilmente. O guarda recua e eles passam.<br />

Na sala há também um biombo. Eles param<br />

admirados porque o trono está vazio. Quando<br />

estão na sala, percebem o movimento de alguém<br />

atrás do biombo.)<br />

Circular: os – três / o – ombro / o – guarda / um –<br />

biombo / o – trono / o – movimento.<br />

Professor: Os casos de contração/combinação<br />

da preposição, numeral, pronome pessoal serão<br />

estudados em outros capítulos, mas nada impede<br />

que você indique aos alunos tais casos nos exercícios.<br />

Julgando pela semelhança de palavras, é<br />

possível que circulem: em + o = no /de + o = do.<br />

Note também nesse exemplo que a palavra “três”<br />

semanticamente torna-se substantivo e é acompanhada<br />

de “os”, portanto há omissão do substantivo<br />

“amigos”. Recorde-os para o caso do título de um<br />

dos textos do bimestre anterior “Os da minha rua” –<br />

o artigo “os” indica que eram os colegas da minha<br />

rua, o substantivo está implícito.<br />

Agora, responda: se trocássemos o artigo em<br />

destaque no trecho a seguir por “o”, o sentido seria<br />

o mesmo? Por quê?<br />

Daí a pouco Dorothy notou que um grupo de<br />

pessoas estranhas, duma espécie que jamais<br />

vira, se dirigia para ela.<br />

Não, porque indicaria um grupo de pessoas<br />

conhecidas, não seria mais indefinido: “o grupo de<br />

pessoas estranhas” daria a impressão de que Dorothy<br />

já os tinha visto antes.<br />

Professor: Caso haja possibilidade, retome os<br />

dois textos do capítulo e aponte situações em que<br />

ocorrem artigos definidos e indefinidos, mostrando<br />

aos alunos que a alteração pode acarretar mudança<br />

ou prejuízo de sentido.<br />

Para continuar<br />

Além do texto<br />

A seguir, você lerá a sinopse da adaptação de<br />

O mágico de Oz para o cinema, feita em 1939:


Sinopse: Dorothy Gale (Judy Garland) é<br />

uma garota de 11 anos, que vive na fazenda<br />

dos seus tios, Henry (Charley Grapewin) e<br />

Ema (Clara Blandick), em Kansas.<br />

Totó, o cãozinho de Dorothy, ataca a Srta.<br />

Gulch (Margaret Hamilton), que consegue uma<br />

ordem judicial para pôr o cachorro “para dormir”.<br />

Sentindo-se obrigados a cumprir a lei,<br />

Henry e Ema permitem que Gulch leve Totó<br />

na sua bicicleta, em uma cesta, para cumprir<br />

o que foi determinado. No meio do caminho, o<br />

cão escapa e volta para a fazenda. Dorothy<br />

foge com ele, temendo uma nova captura.<br />

Na estrada, durante a fuga, Dorothy conhece<br />

um adivinho falso, o professor Marvel<br />

(Frank Morgan), e ela fica fascinada pelos<br />

seus “dons”. Ao perceber que a garota havia<br />

fugido, Marvel a convence a voltar para casa.<br />

Quando Dorothy e Totó retornam, surge um<br />

tornado enorme que se move em direção à fazenda.<br />

Junto com os colonos Zeke (Bert Lahr),<br />

Hickory (Jack Haley) e Hunk (Ray Bolger),<br />

Ema e Henry vão para um abrigo, fechando as<br />

portas antes de verem Dorothy. Assim, ela não<br />

teve tempo de se proteger ao lado dos tios.<br />

Então, ela corre para dentro da casa e um<br />

pedaço de janela arrancado pelo vento bate na<br />

sua cabeça. Na sequência, descobre que a casa<br />

da fazenda foi arrancada do chão pelo ciclone e<br />

está se dirigindo para o centro do tornado.<br />

Pela janela, Dorothy vê, voando com a força<br />

do vento, os animais da fazenda, um homem remando<br />

um barco, uma mulher idosa tricotando<br />

calmamente em uma cadeira de balanço. Ela<br />

também vê, pedalando sua bicicleta, Gulch, que<br />

de repente se transforma em uma bruxa de chapéu<br />

pontudo, montada em uma vassoura.<br />

A casa gira até o solo fazendo um grande<br />

barulho. Com ansiedade pelo que está por vir,<br />

Dorothy abre a porta da casa e fica deslumbrada<br />

com a visão maravilhosa do lugar em que<br />

está. A partir disso, começa a viver inúmeras<br />

aventuras!<br />

Disponível em: .<br />

Acesso em: 05 jan. de 2009. Texto adaptado.<br />

1. Que diferenças você notou entre a sinopse e o<br />

texto em prosa do início do capítulo?<br />

Há uma descrição mais detalhada das ações<br />

e do cenário antes do ciclone, outros personagens<br />

são citados.<br />

2. A sinopse é feita para apresentar e resumir algumas<br />

ideias sobre aquilo a que vamos assistir ou o<br />

que vamos ler. Essa sinopse que lemos anteriormente<br />

se concentra no início ou no fim da história? Por<br />

que você acha que isso ocorre?<br />

Conta o início da história, para provocar curiosidade<br />

e fazer com que queiramos assistir ao filme<br />

para ver o que acontece.<br />

3. Observe uma foto do filme. Por que é possível<br />

dizer que esse filme não é atual?<br />

Porque as cores são mais opacas, já que não<br />

havia a digitalização de imagens. A caracterização<br />

(maquiagem/figurino) também é bastante simples,<br />

considerando o que vemos no cinema nos<br />

dias de hoje.<br />

4. No início deste capítulo, explicamos o que é uma<br />

obra clássica. Há muitos fatores que tornam clássica<br />

uma obra, como: as personagens tornam-se marcantes;<br />

há inovações temáticas ou estilísticas; a obra,<br />

geralmente, recebe adaptações para cinema e teatro.<br />

Você conhece alguma outra adaptação de O mágico<br />

de Oz? Você considera esse texto um clássico? Discuta<br />

com seus colegas e anotem suas conclusões.<br />

Professor: É provável que citem alguma adaptação<br />

para animação, ou seja, desenho. Os alunos<br />

responderão se é um clássico ou não de acordo<br />

com suas próprias vivências: para alguns pode ser<br />

uma obra da qual gostem e já tenham tido contado;<br />

para outros, uma nova descoberta.<br />

P13<br />

MGM/THE PICTURE DESK/AFP


Para finalizar<br />

Professor: Preencha o quadro com os alunos.<br />

Este pode ser um momento de revisão. A resposta<br />

dos alunos pode auxiliar na autoavaliação: você<br />

considera que conseguiu realizar todas as atividades?<br />

Quanto você contribuiu para o conhecimento<br />

dos alunos?<br />

P14<br />

Conteúdos<br />

Clássicos<br />

Artigos<br />

Mapas<br />

Texto original<br />

Teatro<br />

Cinema<br />

O que aprendi<br />

no capítulo 8<br />

Para casa<br />

Leia o texto a seguir para responder às<br />

questões:<br />

Escultura em areia: arte do efêmero<br />

A 6 a Edição do Festival Internacional de<br />

Escultura em Areia — FIESA 2008 — teve<br />

como tema “Hollywood”. O festival ocorreu em<br />

Pera, no Algarve, de 22 de maio a 22 de setembro,<br />

das 10h às 24h, e de 23 de setembro a 22<br />

de outubro, das 10h às 22h.<br />

O Fiesa é o maior evento mundial de escultura<br />

em areia, único na península Ibérica. Na 6ª<br />

edição, os visitantes tiveram a chance de fazer<br />

uma viagem fabulosa por meio dos mais belos<br />

cenários de Hollywood. Em areia, os artistas representaram<br />

ficção, humor, fantasia e personagens<br />

conhecidas em todo o mundo, como Charlie<br />

Chaplin, Marilyn Monroe, King Kong, os Marretas<br />

e os dinossauros de Jurassik Park.<br />

Durante o dia, as esculturas puderam ser<br />

apreciadas em seus pormenores e, à noite,<br />

fez-se um ambiente fantástico e colorido, com<br />

projeções de vídeo e slides dessa edição e<br />

das anteriores.<br />

Para a preparação do evento, cinquenta e<br />

seis escultores de vários países, reconhecidos<br />

internacionalmente, tiveram um mês para dar<br />

forma a trinta mil toneladas de areia.<br />

Houve, também, um espaço interativo e lúdico,<br />

no qual os visitantes puderam ensaiar e<br />

mostrar as suas habilidades criativas no trabalho<br />

com essa forma de expressão artística.<br />

Disponível em: . Acesso<br />

em: 5 jan. 2009. Adaptado.<br />

1. O texto que você leu é informativo? Por quê?<br />

Sim, porque usa uma linguagem mais direta<br />

do que a literária e informa sobre um fato, dando os<br />

dados de quando, onde, como, quem.<br />

2. Anote a seguir as palavras cujo significado<br />

você não conhece. Depois, procure em um dicionário<br />

o sentido delas no texto.<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Na devolutiva da tarefa, provavelmente<br />

os alunos deverão citar: lúdica (brincadeira)<br />

e efêmero (passageiro).<br />

3. Qual é o assunto principal do texto?<br />

O texto apresenta um festival de esculturas na<br />

areia cujo tema central são as personagens famosas<br />

de filmes de Hollywood.<br />

4. Volte ao segundo parágrafo do texto e circule<br />

alguns artigos. Depois, usando uma seta, demonstre<br />

a que palavra eles se referem.<br />

o/Fiesa; o/evento; os/visitantes; os/artistas;<br />

a/chance; uma/viagem; o/mundo; os/Marretas; os/dinossauros.<br />

5. Releia o título do texto. Por que se pode dizer<br />

que a escultura em areia é uma arte efêmera?<br />

Efêmero significa passageiro, fugaz. Diferentemente<br />

de uma escultura em bronze, por exemplo,<br />

a escultura em areia será destruída pelo tempo,<br />

pelo vento. Ela dura bem menos do que as outras<br />

(em bronze, em gesso), é passageira.


Para começar<br />

Capítulo<br />

Português 9<br />

Neste capítulo, conheceremos uma obra<br />

clássica e o que é nonsense; em morfologia,<br />

estudaremos os numerais.<br />

Alice no País das Maravilhas<br />

O País das Maravilhas é um mundo onde as regras<br />

do tempo e do espaço estão de cabeça para<br />

baixo. Criado em 1865 por Lewis Carroll, é o cenário<br />

para as aventuras de Alice. Esse clássico da<br />

literatura segue os caminhos do nonsense.<br />

E o que é nonsense?<br />

Quando uma obra tem frases, situações ou ditos<br />

que parecem disparates, absurdos, fora de lógica,<br />

dizemos que é sem sentido. O nonsense funciona<br />

como um tipo de humor feito de jogos de palavras,<br />

trocadilhos e brincadeiras. Como Alice no País das<br />

Maravilhas foi escrito em inglês, muitas das frases<br />

e ditos foram adaptados pelos muitos tradutores<br />

para a língua portuguesa e para o leitor brasileiro,<br />

como você.<br />

O primeiro capítulo chama-se “Descendo pela<br />

toca do Coelho”. Leia-o a seguir:<br />

“Alice estava começando a se cansar de ficar<br />

sentada ao lado da irmã à beira do lago, sem<br />

nada para fazer. Uma ou duas vezes ela tinha<br />

espiado no livro que a irmã estava lendo, mas<br />

ele não tinha desenhos nem diálogos. “E para<br />

que serve um livro sem desenhos ou diálogos?”,<br />

se perguntou Alice.<br />

Então, ficou pensando consigo mesma (da<br />

melhor maneira possível, pois o dia quente a<br />

fazia sentir-se sonolenta e burra) se o prazer<br />

de fazer uma corrente de margaridas valeria o<br />

esforço de se levantar e colher as flores. De repente,<br />

um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa<br />

passou correndo por ela.<br />

País das Maravilhas<br />

Não havia nada de muito extraordinário nisso.<br />

Nem Alice achou assim tão estranho escutar o<br />

Coelho dizer para si mesmo: “Oh, meu Deus! Oh,<br />

meu Deus! Vou chegar atrasado!” (Quando ela<br />

pensou sobre isto, mais tarde, achou que deveria<br />

ter se espantado com a cena, mas naquela hora<br />

tudo lhe pareceu muito natural.) Mas, quando o<br />

Coelho tirou um relógio do bolso do colete, deu<br />

uma olhada nas horas e seguiu adiante, apressado,<br />

Alice deu um salto! Ela nunca tinha visto<br />

um Coelho com bolso no colete nem com um relógio<br />

para tirar do bolso.<br />

Muito curiosa, correu pelo campo atrás dele,<br />

e chegou bem a tempo de ver quando ele sumiu<br />

numa grande toca embaixo da cerca viva.<br />

No momento seguinte, lá entrou Alice atrás<br />

do Coelho, sem nem pensar como é que iria sair<br />

de lá depois.<br />

A toca era reta como um túnel, depois afundava<br />

de repente. Tão de repente, que Alice não<br />

teve tempo de pensar em parar e já começou a<br />

cair no que parecia ser um poço muito profundo.<br />

Ou o poço era muito fundo, ou ela estava<br />

caindo muito devagar, pois teve bastante tempo<br />

para olhar ao redor enquanto caía e para se perguntar<br />

o que iria acontecer a seguir.<br />

Primeiro, tentou olhar para baixo e descobrir<br />

aonde ia chegar, mas estava escuro demais para<br />

ver alguma coisa. Depois, olhou para as paredes<br />

do poço e notou que estavam cobertas de guarda-louças<br />

e prateleiras de livros. Aqui e ali viu<br />

mapas e desenhos pendurados em pregos. […]<br />

P15


Para baixo, para baixo, para baixo. A queda<br />

nunca ia chegar ao fim?<br />

— Gostaria de saber quantos quilômetros já<br />

caí a essa altura — disse em voz alta. — Devo<br />

estar chegando perto do centro da Terra. Deixe-<br />

-me ver: isso seria seis mil e quinhentos quilômetros<br />

para baixo, acho…<br />

(Sabem, Alice tinha aprendido muitas dessas<br />

coisas na escola e, mesmo não sendo uma hora<br />

muito boa para exibir os seus conhecimentos,<br />

já que não havia ninguém para escutar, ainda<br />

assim era muito bom praticar a lição.)<br />

— …sim, é mais ou menos essa distância…<br />

mas aí eu me pergunto: em que latitude ou longitude<br />

estou agora?<br />

(Alice não tinha a menor ideia do que era latitude,<br />

nem longitude, mas achava que eram palavras<br />

muito imponentes para dizer.)<br />

[…]<br />

Para baixo, para baixo, para baixo. Não havia<br />

nada mais para fazer, por isso Alice logo começou<br />

a falar de novo.<br />

— Acho que Dinah vai sentir a minha falta<br />

hoje à noite. (Dinah era a gata.) Espero que se<br />

lembrem do seu pires de leite na hora do chá.<br />

De repente, Alice começou a falar como se a<br />

gata estivesse ouvindo:<br />

— Minha querida Dinah! Gostaria que estivesse<br />

aqui comigo! Não há camundongos no ar,<br />

infelizmente, mas você poderia pegar um morcego.<br />

Morcegos são muito parecidos com camundongos,<br />

sabe? Mas será que gatos comem morcegos?<br />

Neste momento, Alice começou a ficar<br />

com sono, e continuou a falar consigo mesma,<br />

meio que sonhando:<br />

— Gatos comem morcegos? Gatos comem<br />

morcegos? — e às vezes: — Morcegos comem<br />

gatos? (Sabem, como ela não sabia a resposta<br />

para nenhuma das perguntas, tanto fazia a ordem<br />

que lhes dava.)<br />

Alice sentiu que estava cochilando e, mal começou<br />

a sonhar que caminhava de mãos dadas<br />

com Dinah […] quando, de repente: pam! pam!<br />

Caiu em cima de um monte de galhos e folhas<br />

secas, e a queda chegou ao fim.<br />

Alice não se machucou e levantou-se num segundo.<br />

Olhou para cima, mas estava tudo escuro<br />

no alto. À sua frente, havia outra longa passagem,<br />

e dava para ver o Coelho Branco atravessando-a,<br />

apressado. Não havia um minuto a perder. Alice<br />

disparou como o vento, bem a tempo de escutá-lo<br />

dizer, enquanto virava uma esquina:<br />

P16<br />

— Ai, as minhas orelhas e os meus bigodes,<br />

estou atrasado!<br />

Ela estava bem atrás dele antes de virar a<br />

esquina, mas depois já não havia nem sombra<br />

do Coelho. Viu-se numa sala comprida e baixa,<br />

iluminada por uma fileira de lâmpadas penduradas<br />

no teto.<br />

Havia portas em todo o redor, mas estavam<br />

trancadas. Depois que Alice percorreu a sala<br />

de um lado para o outro, tentando abrir cada<br />

uma das portas, caminhou tristemente para o<br />

meio dela, perguntando-se como é que iria sair<br />

dali.<br />

De repente, viu à sua frente uma mesinha de<br />

três pés, toda de vidro maciço. Não havia nada<br />

sobre a mesa, só uma chave de ouro. Primeiro,<br />

Alice achou que fosse de uma das portas do<br />

salão. Mas, ai!, ou as fechaduras eram grandes<br />

demais, ou a chave era pequena demais.<br />

O certo é que não abria nenhuma das portas.<br />

Depois, descobriu uma cortina baixa que não<br />

tinha notado antes e, atrás da cortina, uma portinha<br />

de menos de dois palmos de altura. Foi só<br />

experimentar a chave na fechadura […]!<br />

Alice abriu a porta e viu que ela dava para<br />

uma passagem, pouco maior que um buraco<br />

de rato. Ajoelhou-se e olhou lá para dentro…<br />

[…]<br />

Então ela resolveu voltar para junto da mesinha,<br />

meio na esperança de achar outra chave ou<br />

talvez um manual de instruções. […]<br />

Mas o que ela achou dessa vez foi uma<br />

garrafinha com uma etiqueta de papel amarrada<br />

no gargalo, e as palavras ‘BEBA-ME’, impressas<br />

com letras grandes e bem bonitas. […]<br />

Não tinha nenhum veneno escrito nessa garrafa,<br />

por isso Alice resolveu provar.<br />

— Que sensação meio esquisita! — disse Alice.<br />

— Devo estar me encolhendo…”<br />

CARROLL, L. Alice no País das Maravilhas. Trad.<br />

Rosaura Eichenberg. Porto Alegre: L &PM, p. 7-10.


Para continuar<br />

Conversa sobre o texto<br />

1. Procure em um dicionário o significado das seguintes<br />

palavras do texto:<br />

a) Imponente: que se impõe, que mostra autoridade.<br />

b) Latitude: distância angular norte e sul de um<br />

ponto ao equador terrestre, medida em graus.<br />

c) Longitude: distância em graus, minutos e<br />

segundos de um ponto ao meridiano inicial ou<br />

de referência.<br />

2. Quando a narrativa de Alice começa, ela está<br />

sentada ao lado da irmã e se faz uma pergunta:<br />

“para que serve um livro sem figuras ou diálogos?”.<br />

Qual a importância para você dos diálogos e das<br />

figuras em uma história?<br />

Re s p o s t a p e s s o a l<br />

Professor: Oriente os alunos dizendo que os<br />

diálogos dão movimento e ritmo à história, ajudam<br />

a caracterizar as personagens por meio do que<br />

falam, e as figuras podem ajudar a explicar certas<br />

coisas que não entendemos ou até a acrescentar<br />

dados junto daquilo que imaginamos enquanto lemos,<br />

portanto formam um texto à parte.<br />

3. No capítulo sobre a Terra de Oz, lemos que os<br />

parênteses tinham a função de explicar, indicar as<br />

cenas para os atores. E neste texto, para que foram<br />

usados os parênteses?<br />

Neste caso, essa marcação serve para mostrar<br />

o que Alice pensa por meio da voz do narrador.<br />

4. Você deve ter notado que, ao longo do trecho,<br />

muitas vezes o autor usou letras maiúsculas e palavras<br />

em itálico. Por que isso acontece nesse texto?<br />

Isso tem a mesma função no teatro?<br />

Pode ter a mesma função, como usar para entonação<br />

mais alta ou mais baixa da voz de quem<br />

lê, mas a provável justificativa para isso, já que este<br />

texto é impresso, é a de que tais recursos grafotipográficos<br />

estão respondendo àquilo que Alice pede<br />

logo no início: “figuras”, ou seja, é uma maneira<br />

também de desenhar o texto e ilustrá-lo, só que por<br />

meio das próprias letras.<br />

Professor: Ressalte que tais marcas textuais<br />

não eram muito comuns na época de Carroll, por<br />

isso funcionam também como uma espécie de “jeito”<br />

novo de contar por escrito.<br />

5.<br />

O que leva Alice a seguir o coelho branco?<br />

A curiosidade<br />

6. Antes do capítulo 1, Lewis Carroll deixou escrito<br />

um poema. Leia-o a seguir:<br />

Num dourado entardecer<br />

rio abaixo a deslizar,<br />

os dois remos nem pediam<br />

nossos braços a remar.<br />

Mãos pequeninas fingiam<br />

nosso passeio guiar.<br />

Três meninas bem cruéis<br />

em todo esse encantamento<br />

inventaram de ouvir<br />

um conto nesse momento.<br />

A Primeira exige história,<br />

bem mandona se revela.<br />

Gentil, espera a Segunda<br />

“que tenham absurdos nela”.<br />

E a Terceira interrompe<br />

toda hora, a tagarela.<br />

Mas quando se faz silêncio,<br />

elas seguem a fantasia<br />

de uma criança que sonha<br />

terras novas, de poesia,<br />

conversando com animais,<br />

crendo que isso ocorria.<br />

Mas quando a fonte secava<br />

e o narrador, cansado,<br />

tentava adiar um pouco,<br />

deixar a história de lado,<br />

“Outra vez…” — “Agora mesmo!”<br />

bem insistente era o brado.<br />

E assim foi nascendo o conto:<br />

um a um, bem devagar,<br />

muitos acontecimentos<br />

passaram a se encadear.<br />

Depois voltamos para casa,<br />

bem felizes a cantar.<br />

Alice! Tome esta história,<br />

alegria de um instante,<br />

feita de sonhos da infância<br />

em que a memória se encante,<br />

como grinaldas de flores<br />

colhidas em terra distante.<br />

CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Trad.<br />

Ana Maria Machado. São Paulo: Ática, 1997, p. 11-12.<br />

P17


7. O poema, como se fosse uma dedicatória, explica<br />

em que situação Carroll inventou essa narrativa.<br />

a) Que pessoas aparecem no poema?<br />

O narrador e três meninas, uma delas chamada<br />

Alice.<br />

b) Onde estavam quando a história era contada<br />

e o que faziam?<br />

Em um barco a remar sobre um rio.<br />

c) No poema há ritmo e rimas. O que nos faz<br />

lembrar o ritmo do poema? Observe com atenção a<br />

primeira estrofe.<br />

O movimento dos remos na água.<br />

d) Uma das meninas pede que “tenham absur-<br />

dos”, isso é o que chamamos nonsense. Que situações<br />

você percebeu no trecho do capítulo que<br />

podemos classificar como absurdas?<br />

Algumas delas: coelho que usa relógio, colete<br />

e fala; cair em um poço/buraco onde há móveis e<br />

potes de geleia; tomar um frasco que faz com que a<br />

menina diminua etc.<br />

Para continuar<br />

O texto no contexto<br />

A seguir, leremos outro trecho de Alice no País<br />

das Maravilhas, do capítulo IX — A história da Falsa<br />

Tartaruga:<br />

— Vamos continuar com o jogo — disse a<br />

Rainha para Alice.<br />

E esta, assustada demais para dizer uma palavra<br />

que fosse, seguiu-a lentamente de volta ao<br />

campo de croquet.<br />

Os outros convidados tinham aproveitado a<br />

ausência da Rainha para descansar na sombra.<br />

Mas desde que a avistaram apressaram-se a<br />

voltar ao jogo, tendo a Rainha simplesmente observado<br />

que um minuto de atraso lhes custaria<br />

a vida.<br />

Durante o tempo todo que jogaram, a Rainha<br />

não parou um minuto de discutir com os jogadores<br />

e gritar “Cortem a cabeça dele!” ou “Cortem<br />

a cabeça dela!”. Os que eram sentenciados ficavam<br />

sob a custódia dos soldados, que naturalmente<br />

tinham de deixar a sua posição de arcos.<br />

Assim, em cerca de meia hora mais ou menos,<br />

não havia mais arcos no campo, e todos os jogadores,<br />

exceto o Rei, a Rainha e Alice, estavam<br />

presos e sentenciados à morte.<br />

P18<br />

A Rainha abandonou então a partida, quase<br />

sem fôlego, e perguntou a Alice: — Você já viu a<br />

Falsa Tartaruga?<br />

— Não — respondeu Alice. — Nem sei o que<br />

é uma Falsa Tartaruga.<br />

[…] — Venha, então — disse a Rainha. — Ela<br />

lhe contará sua história.<br />

Enquanto se afastavam, Alice ouviu o Rei dizer<br />

em voz baixa ao grupo de condenados: —<br />

Estão todos perdoados. — “Ótimo, isso é uma<br />

boa coisa”, disse ela para si mesma, pois sentia-<br />

-se bastante infeliz com as numerosas condenações<br />

ordenadas pela Rainha.<br />

Em breve chegaram junto a um Grifo, deitado<br />

ao sol e dormindo um sono profundo. […] —<br />

Acorde, seu preguiçoso! — ordenou a Rainha<br />

— e leve essa jovem para ver a Falsa Tartaruga<br />

e ouvir sua história. Tenho de voltar e verificar<br />

algumas execuções que ordenei. — E a Rainha<br />

afastou-se, deixando Alice sozinha com o Grifo.<br />

Alice não gostou lá muito do aspecto dessa<br />

criatura. Mas pensou que, no fim de contas, seria<br />

tão perigoso estar com ele como na companhia<br />

da feroz Rainha. Portanto, esperou.<br />

O Grifo sentou-se e esfregou os olhos. Contemplou<br />

depois a Rainha até que ela sumisse de<br />

vista. Riu então à socapa.<br />

— É muito engraçado! — murmurou, meio<br />

para si mesmo e meio para Alice.<br />

— Qual é a graça? — perguntou Alice.<br />

— Ora, ela é que é engraçada — disse o<br />

Grifo. — Você sabe, isso tudo é fantasia dela:<br />

nunca executam ninguém. Vamos!<br />

[…] Não foram muito longe até avistarem a<br />

Falsa Tartaruga a certa distância. Ela estava<br />

sentada, triste e solitária, na saliência de uma<br />

pedra, e, ao se aproximarem, Alice pôde ouvila<br />

suspirar como se tivesse o coração partido.<br />

Apiedou-se profundamente. — Por que ela está<br />

tão triste? — perguntou ao Grifo, e este respondeu,<br />

quase com as mesmas palavras que dissera<br />

antes: — É tudo fantasia dela, você sabe: não<br />

tem motivo nenhum pra ficar triste. Vamos!<br />

Aproximaram-se da Falsa Tartaruga, que os<br />

contemplou com grandes olhos cheios de lágrimas,<br />

mas não disse nada.<br />

— Aqui esta jovem — disse o Grifo — quer<br />

conhecer a sua história, quer mesmo.<br />

— Eu lhe contarei — disse a Falsa Tartaruga,<br />

com uma voz profunda e cavernosa. — Sentem-<br />

-se, todos dois, e não digam uma só palavra até<br />

eu ter acabado.


Sentaram-se, pois, e ninguém disse uma palavra<br />

durante alguns minutos. Alice pensou: “Só<br />

quero ver como ela pode acabar, se não começa<br />

nunca”. Mas esperou pacientemente.<br />

— Outrora — começou enfim a Falsa Tartaruga,<br />

com um profundo suspiro — eu era uma<br />

verdadeira tartaruga.<br />

Essas palavras foram seguidas por um longo<br />

silêncio, rompido apenas por ocasional “Hjkrrh!”<br />

do Grifo e soluços constantes da Falsa Tartaruga.<br />

Alice estava a ponto de se levantar e dizer:<br />

“Obrigada, senhora, por uma história tão interessante!”,<br />

mas não podia deixar de pensar que com<br />

certeza havia mais alguma coisa a ser dita. Portanto,<br />

ficou sentada e não disse nada.<br />

— Quando éramos pequenos — continuou,<br />

por fim, a Falsa Tartaruga, mais serena, embora<br />

soluçando um pouco de vez em quando, — frequentávamos<br />

uma escola do mar. A professora<br />

era uma velha tartaruga… e nós a chamávamos<br />

de Torturuga…<br />

— Mas por que Torturuga, se ela era uma tartaruga?<br />

Perguntou Alice.<br />

— Nós a chamávamos de Torturuga porque<br />

aprender com ela era uma tortura — respondeu<br />

irritada a Falsa Tartaruga. — Na verdade você é<br />

bem obtusa, hein?<br />

— Devia ter vergonha de fazer uma pergunta<br />

tão boba — acrescentou o Grifo. E ambos ficaram<br />

calados, olhando para a pobre Alice, que<br />

teve vontade de enfiar-se chão adentro.<br />

— Bem, nós íamos para essa escola no mar,<br />

embora você não pareça acreditar…<br />

— Nunca disse nada disso! — interrompeu<br />

Alice.<br />

— Disse sim — insistiu a Falsa Tartaruga.<br />

— E cale a boca! — acrescentou o Grifo,<br />

antes que Alice pudesse dizer qualquer coisa.<br />

A Falsa Tartaruga continuou.<br />

— Tivemos a melhor educação possível… na<br />

verdade, íamos à escola diariamente…<br />

— Eu também ia ao externato diariamente —<br />

comentou Alice. — Não vejo por que se orgulhar<br />

tanto disso.<br />

— Com matérias suplementares? — perguntou,<br />

um pouco inquieta, a Falsa Tartaruga.<br />

— Sim — respondeu Alice —, aprendíamos<br />

francês e música.<br />

— E lavagem? — perguntou a Falsa Tartaruga.<br />

— Claro que não! — exclamou Alice indignada.<br />

— Ah, então a sua não era uma escola tão<br />

boa assim — disse a Falsa Tartaruga com grande<br />

alívio. — Mas na nossa, ao pé da conta eles<br />

punham: “Francês, música e lavagem — cursos<br />

suplementares”.<br />

— Mas não vejo por que vocês precisavam<br />

disso — comentou Alice — vivendo no fundo do<br />

mar.<br />

— Eu não tinha recursos pra pagar esses cursos<br />

extras — disse a Falsa Tartaruga com um<br />

suspiro. — Contentava-me com os cursos regulares.<br />

— E quais eram? — inquiriu Alice.<br />

— As Belas Tretas e o bom Estrilo, pra começar,<br />

é claro — replicou a Falsa Tartaruga — e depois<br />

os diferentes ramos da Aritmética: Ambição,<br />

Distração, Murchificação e Derrisão.<br />

— Nunca ouvi falar de “Murchificação” —<br />

arriscou-se Alice a dizer. — Que é isso?<br />

O Grifo ergueu as patas para o ar, manifestando<br />

surpresa.<br />

— O quê? Nunca ouviu falar de murchificação!<br />

Exclamou.<br />

— Você sabe o que é inchar, não sabe?<br />

— S-im… — respondeu Alice com hesitação. —<br />

Quer dizer… acho que é… encher alguma coisa.<br />

— Pois então — continuou o Grifo — se você<br />

não entende o que é murchificar, então é uma<br />

toleirona.<br />

Alice não teve coragem de perguntar mais<br />

nada sobre o assunto. Por isso, voltou-se para a<br />

Falsa Tartaruga e indagou:<br />

— Que mais se ensinava na escola?<br />

— Bem, tínhamos os Estudos Histéricos respondeu<br />

a Falsa Tartaruga, contando as matérias<br />

na pata — isto é, os fatos histéricos antigos e<br />

modernos, e também Marografia; e ainda Desgrenhar:<br />

o mestre-desgrenhista era um velho<br />

congro que vinha uma vez por semana e nos ensinava<br />

a desgrenhar e a espichar em taramela.<br />

— E como é isso? — perguntou Alice.<br />

— Bem, não posso demonstrar eu mesma —<br />

disse a Falsa Tartaruga. —Ando meio emperrada.<br />

E o Grifo nunca aprendeu isso.<br />

P19


— Não tive tempo — desculpou-se o Grifo. —<br />

Estudei com o mestre de Letras Clássicas. Era<br />

um caranguejo bem velho, ora se era.<br />

[…] — E quantas horas por dia duravam as<br />

aulas? — perguntou Alice, apressando-se em<br />

mudar de assunto.<br />

— Dez horas no primeiro dia, nove no segundo,<br />

e assim por diante — informou a Falsa Tartaruga.<br />

— Que horário engraçado! — exclamou Alice.<br />

— É por isso que se chamavam de cursos —<br />

explicou o Grifo.<br />

— Porque de dia para dia as aulas ficavam<br />

mais apressadas, pois curso quer dizer corrida,<br />

entende?<br />

A ideia era totalmente nova para Alice, e ela<br />

refletiu um pouco antes de fazer novo comentário.<br />

— Então o décimo primeiro dia tinha de ser<br />

sempre um feriado?<br />

— É claro que sim — respondeu a Falsa Tartaruga.<br />

— E no décimo segundo dia, como é que era? —<br />

continuou Alice com vivacidade.<br />

— Basta de falar de lições — interrompeu o<br />

Grifo em tom categórico. — Fale a ela agora alguma<br />

coisa de jogos.<br />

1. Antes de começar a responder às questões<br />

e descobrir mais sobre os jogos de Alice, releia o<br />

texto e anote as palavras que você não conhece.<br />

Depois, discuta com seus colegas e explique com<br />

suas palavras o significado:<br />

À socapa:<br />

Custódia:<br />

Contemplar:<br />

Inquirir:<br />

Taramela:<br />

Pantim:<br />

Saliência:<br />

Obtusa:<br />

Congro:<br />

P20<br />

Toleirão:<br />

Externato:<br />

Suplementar:<br />

Execução:<br />

Croquet:<br />

À socapa: de lado, escondido, sorrateiramente.<br />

Inquirir: perguntar, questionar.<br />

Custódia: sob guarda, preso ou protegido.<br />

Contemplar: olhar, observar, acompanhar.<br />

Taramela: língua, trava de porta.<br />

Toleirona: aquela que é lerda, tolo, pateta.<br />

Pantim: lamparina usada pelos indianos.<br />

Saliência: buracos entre uma pedra e outra.<br />

Obtuso: confuso, rude<br />

Congro: tipo de peixe, enguia.<br />

Externato: escola em que se fica o dia todo, contrário<br />

de internato.<br />

Suplementar: extra, a mais.<br />

Execução: condenação.<br />

Croquet: jogo de recreação em que se empurram<br />

bolas de madeira ou de plástico para que passem<br />

sob os arcos no chão. Jogo semelhante ao golfe.<br />

2.<br />

Observe este trecho:<br />

— S-im… — respondeu Alice com hesitação. —<br />

Quer dizer… acho que é… encher alguma coisa.<br />

O que você acha que significa “hesitação”?<br />

Como você chegou a essa conclusão?<br />

Professor: Espera-se que os alunos deduzam<br />

que significa “ficar em dúvida, titubear”, e que as<br />

marcas grafotipográficas tenham indicado isto: separação<br />

por hífen do advérbio “sim”, as reticências<br />

e o uso do verbo “achar”.


3. Além do croquet e do baralho há um outro tipo<br />

de jogo na narrativa: o jogo de palavras, ou melhor,<br />

o trocadilho, que é feito de sons semelhantes ou<br />

iguais, mas que possuem significados diferentes,<br />

resultando equívocos, atrapalhações, por vezes,<br />

engraçados. No capítulo IX, isso é bastante comum<br />

quando a Falsa Tartaruga e o Grifo explicam para<br />

Alice como eram as aulas na escola do mar. Um<br />

exemplo: a Falsa Tartaruga chama a sua professora<br />

de “tortoruga” e diz que suas aulas eram uma<br />

“tortura”, portanto ficou “tortoruga”: uma mistura de<br />

tartaruga com tortura.<br />

Você consegue identificar outros trocadilhos<br />

nesse trecho do capítulo? Anote-os a seguir e compare<br />

com os de seus colegas. Comece observando<br />

o nome das matérias da escola do mar.<br />

Belas Tretas e bom Estrilo = belas letras e bom<br />

estilo (de escrever); Murchificação = subtração; Ambição<br />

= adição (referente a quem só quer acumular<br />

coisas e bens); Distração = poderia ser associada<br />

a multiplicação; Derrisão = zombação, tirar sarro;<br />

Desgrenhar = desenhar; Gaguejo = solfejo (uma referência<br />

às aulas de música); Marografia = Geografia<br />

(porque estão no mar); Estudos Histéricos = História;<br />

espichar a taramela = ensinar a mostrar a língua, espichar<br />

a língua.<br />

Professor: Comente com os alunos sobre o fato<br />

de a obra ser uma tradução e, neste caso, muitas<br />

vezes o tradutor modifica muito para que os trocadilhos<br />

façam sentido; a cada adaptação e tradução de<br />

Alice podemos perceber soluções muito diferentes.<br />

Na tradução de Ana Maria Machado, pela editora<br />

Ática, por exemplo, há uma solução interessante: a<br />

tradução de “tortoruga” não existe, ela preferiu usar<br />

“Dona Jabotá”, ou seja, um “jabuti que mal chegava<br />

na escola já BOTAva os alunos” para estudar, isto<br />

é, uma mistura de JABUTI COM VERBO BOTAR (já<br />

que botam ovos) = Jabotá.<br />

4. O tempo também passa de maneira diferente<br />

no País das Maravilhas. Como era a sequência de<br />

aulas na escola do mar?<br />

A cada dia, o tempo das aulas diminuía mais<br />

até chegar ao feriado, de um em um, por isso chamava-se<br />

curso, pela maneira como corriam, assim<br />

como a água, já que era uma escola do mar, o curso<br />

da água.<br />

5. Releia este trecho: “Mas na nossa, ao pé da<br />

conta eles punham: “Francês, música e lavagem…”<br />

Nesse contexto, o que significa a expressão “ao pé<br />

da conta”?<br />

Indica que eles escreviam francês, música e<br />

lavagem um embaixo do outro, como se fosse uma<br />

conta de matemática, conta de armar.<br />

6. Você deve ter notado que a Rainha é bastante<br />

autoritária, mesmo que alguns, como o Grifo, não a<br />

levem a sério. A Falsa Tartaruga também fica muito<br />

brava quando é interrompida. Muitas vezes, ao escrever<br />

uma história, o autor acaba fazendo uma crítica<br />

ao tempo e ao lugar em que viveu. Uma crítica<br />

ocorre quando analisamos e observamos o mundo<br />

a nossa volta. Para fazer isso, às vezes é necessária<br />

uma dose de humor.<br />

Você acha que os trocadilhos com o nome das<br />

matérias na escola e o fato de a Rainha não ser<br />

levada a sério são críticas do autor ao seu tempo?<br />

Ou tudo isso é apenas “fantasia”, como diz o Grifo,<br />

coisas para brincar e imaginar?<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Caso os alunos tenham dúvidas, explique<br />

que o sistema monárquico e o sistema escolar<br />

da Inglaterra vitoriana eram bastante rígidos;<br />

de fato existiam execuções e a escola era bastante<br />

autoritária, assim como a Tartaruga, não permitindo<br />

a intervenção dos alunos. Eles podem tanto responder<br />

que são críticas ou apenas acharem que a<br />

narrativa é um jogo de imaginar, como toda boa história<br />

o é. Ambas as respostas estão corretas, isso<br />

dependerá da interpretação que os alunos fizerem.<br />

P21


Para continuar<br />

Conceito/conexão<br />

Numeral<br />

…pois sentia-se bastante infeliz com as numerosas<br />

condenações ordenadas pela Rainha…<br />

Como deve ter notado, Alice no País das Maravilhas<br />

é uma história cheia desses jogos, às vezes<br />

com palavras, às vezes com números.<br />

Você sabia que Lewis Carroll era um matemático<br />

e que lecionou em uma importante universidade<br />

inglesa? Além desse trabalho, ele era um apaixonado<br />

pela confecção de jogos e enigmas.<br />

Neste capítulo, estudaremos o numeral e sua<br />

função.<br />

O numeral é uma palavra que mostra a quantidade,<br />

a ordem, o múltiplo ou a fração.<br />

P22<br />

Por isso, recebem a seguinte classificação:<br />

Cardinal: o que exprime quantidade:<br />

… seis mil e quinhentos quilômetros…<br />

Para ler e escrever os numerais por extenso,<br />

observe que usamos a palavra “e” entre as centenas<br />

e entre as unidades:<br />

6.515 = seis mil quinhentos e quinze.<br />

Não é necessário usar vírgula entre eles.<br />

Ordinal: o que mostra ordem, sequência:<br />

Primeiro, Alice achou que fosse de uma das<br />

portas do salão…<br />

Eu estou no sexto ano do Ensino Fundamental.<br />

Multiplicativo: que mostra a multiplicação, ou<br />

seja, exprime um aumento proporcional. Popularmente,<br />

usa-se também a palavra “vez” para indicar<br />

a quantidade que se repete.<br />

Depois de comer o bolo, Alice notou que tinha<br />

o dobro de seu tamanho.<br />

Multiplicativos Fracionários<br />

duplo ou dobro meio ou metade<br />

triplo terço<br />

quádruplo quarto<br />

quíntuplo quinto<br />

sêxtuplo sexto<br />

séptuplo sétimo<br />

óctuplo oitavo<br />

nônuplo nono<br />

décuplo décimo<br />

undécuplo undécimo ou onze avos<br />

duodécuplo duodécimo ou doze avos<br />

cêntuplo centésimo<br />

Fracionário: são os números que exprimem diminuição<br />

proporcional, ou seja, uma divisão, uma<br />

fração:<br />

Alice percebeu que tinha um décimo de seu<br />

tamanho.<br />

Agora, tente você: circule os numerais no trecho<br />

a seguir e indique qual a sua classificação:<br />

Dez horas no primeiro dia, nove no segundo,<br />

e assim por diante — informou a Falsa Tartaruga.<br />

Circular: dez/nove/cardinal; primeiro/segundo/ordinal.<br />

Flexão dos numerais<br />

Os numerais cardinais um, dois e aqueles<br />

que terminam em –entos possuem formas femininas:<br />

A Falsa Tartaruga pediu silêncio em duas<br />

partes da história.<br />

O Rei perdoava pelo menos dois soldados<br />

após o jogo.<br />

Seriam seis mil e quinhentos quilômetros…<br />

Seriam seis mil e quinhentas milhas<br />

submarinas…<br />

As palavras milhão, bilhão, trilhão fazem<br />

plural assim:


Pensou um milhão de vezes antes de responder<br />

ao Coelho.<br />

Pensou milhões de vezes antes de responder<br />

ao Coelho.<br />

Observe a concordância do numeral fracionário<br />

“meio”:<br />

Era meio-dia e meia (12h30).<br />

Por que devemos usar “meia”? Porque estamos<br />

falando de “meia hora” e não “meio hora”.<br />

Os ordinais variam em gênero e número:<br />

A Primeira exige história,<br />

bem mandona se revela.<br />

Gentil, espera a Segunda<br />

“que tenham absurdos nela”.<br />

E a Terceira interrompe<br />

toda hora, a tagarela.<br />

Nesse caso, foi usado o feminino e o singular:<br />

primeira, segunda, terceira.<br />

Reescreva essa estrofe, colocando os numerais<br />

no masculino (gênero) e no plural (número). Você<br />

terá que fazer a concordância com os verbos e os<br />

adjetivos:<br />

Os Primeiros exigem história(s),<br />

Bem mandões se revelam.<br />

Gentis, esperam os Segundos<br />

“que tenham absurdos nela(s).”<br />

E os Terceiros interrompem<br />

Toda hora, os tagarelas.<br />

Algarismos<br />

Romanos Arábicos<br />

Professor: Aproveite para demonstrar como<br />

as palavras não têm função de forma isolada. Ao<br />

mudar os numerais, temos que mudar também os<br />

artigos, os verbos, os adjetivos, os substantivos e<br />

todas as formas que forem necessárias para a concordância.<br />

Escreva na lousa a estrofe e modifique<br />

os termos com os alunos, mostrando-lhes as alterações.<br />

Mostre que, no caso das palavras “história” e<br />

“nela”, a variação para o plural é opcional.<br />

A palavra “zero” e “ambos” também são numerais,<br />

e “ambos” pode variar para o feminino “ambas”.<br />

Leia este trecho do cap. VI:<br />

— Naquela direção — disse o Gato, apontando<br />

com a pata direita — mora um Chapeleiro. E<br />

naquela — acrescentou, levantando a outra pata<br />

— mora a Lebre de Março. Visite qualquer um<br />

dos dois: ambos são loucos.<br />

— Mas, eu não quero me encontrar com gente<br />

louca — comentou Alice.<br />

— Ah, você não tem como evitar isso — replicou<br />

o Gato. Todos aqui somos loucos.<br />

Agora, responda: o numeral “ambos” é usado<br />

para indicar qual quantidade?<br />

Para substituir o numeral “dois”.<br />

Quando usamos as palavras, dizemos numerais.<br />

Quando usamos os símbolos matemáticos,<br />

dizemos “algarismos”. Os algarismos arábicos são<br />

os mais usados em nossa cultura (1, 2, 3…). Além<br />

disso, fazemos uso dos algarismos romanos.<br />

Cardinais Ordinais<br />

I 1 um primeiro<br />

II 2 dois segundo<br />

III 3 três terceiro<br />

IV 4 quatro quarto<br />

V 5 cinco quinto<br />

VI 6 seis sexto<br />

VII 7 sete sétimo<br />

VIII 8 oito oitavo<br />

IX 9 nove nono<br />

P23


P24<br />

Algarismos<br />

Romanos Arábicos<br />

Cardinais Ordinais<br />

X 10 dez décimo<br />

XI 11 onze undécimo ou décimo primeiro<br />

XII 12 doze duodécimo ou décimo segundo<br />

XIII 13 treze décimo terceiro<br />

XIV 14 quatorze décimo quarto<br />

XV 15 quinze décimo quinto<br />

XVI 16 dezesseis décimo sexto<br />

XVII 17 dezessete décimo sétimo<br />

XVIII 18 dezoito décimo oitavo<br />

XIX 19 dezenove décimo nono<br />

XX 20 vinte vigésimo<br />

XXI 21 vinte e um vigésimo primeiro<br />

XXX 30 trinta trigésimo<br />

XL 40 quarenta quadrigésimo<br />

L 50 cinquenta quinquagésimo<br />

LX 60 sessenta sexagésimo<br />

LXX 70 setenta septuagésimo<br />

LXXX 80 oitenta octogésimo<br />

XC 90 noventa nonagésimo<br />

C 100 cem centésimo<br />

CC 200 duzentos ducentésimo<br />

CCC 300 trezentos trecentésimo<br />

CD 400 quatrocentos quadringentésimo<br />

D 500 quinhentos quingentésimo<br />

DC 600 seiscentos seiscentésimo ou sexcentésimo<br />

DCC 700 setecentos septingentésimo<br />

DCCC 800 oitocentos octingentésimo<br />

CM 900 novecentos noningentésimo ou nongentésimo<br />

M 1.000 mil milésimo<br />

X 10.000 dez mil dez milésimos<br />

C 100.000 cem mil cem milésimos<br />

M 1.000.000 um milhão milionésimo<br />

M<br />

1.000.000.000 um bilhão bilionésimo


Observe a tabela e pense em como funciona a<br />

regra para a formação do algarismo romano. Depois,<br />

complete a lacuna com esse tipo de algarismo.<br />

Alice no País das Maravilhas foi escrita por<br />

Carroll no século .<br />

Espera-se que os alunos convertam 1865<br />

para século XIX.<br />

No capítulo anterior, você aprendeu sobre os artigos<br />

indefinidos: um, uma; mas note que também<br />

temos o numeral um/uma:<br />

… um minuto de atraso lhes custaria a vida.<br />

Neste caso, a palavra “um” foi usada como numeral,<br />

porque indicou uma medida de tempo (minuto).<br />

É diferente quando fazemos uso do artigo<br />

indefinido. Observe:<br />

… Mas, quando o Coelho tirou um relógio do<br />

bolso do colete…<br />

No exemplo anterior, foi usado um artigo indefinido,<br />

porque o sentido é de qualquer relógio.<br />

Agora, faça você: a palavra “uma”, nos trechos a seguir,<br />

é um numeral ou um artigo indefinido? Por quê?<br />

— Sentem-se, todos dois, e não digam uma<br />

só palavra até eu ter acabado.<br />

Numeral, porque a tartaruga pede no sentido<br />

de quantidade, para não dizer absolutamente<br />

nada, e não uma palavra qualquer.<br />

A Rainha de Copas fez umas tortas<br />

Certo dia de verão;<br />

O Valete de Copas roubou as tortas<br />

Sem hesitação.<br />

Antiga cantiga infantil<br />

O artigo indefinido “umas” refere-se ao<br />

substantivo “tortas”, porque não houve a intenção<br />

de especificar a quantidade exata.<br />

Os numerais no nosso cotidiano<br />

Um numeral muitas vezes vem acompanhado de<br />

indicadores de medida de tempo, espaço, peso, temperatura:<br />

segundos, metros, gramas, graus Celsius<br />

etc.<br />

…e, atrás da cortina, uma portinha de menos<br />

de dois palmos de altura.<br />

Algumas medidas têm uma forma popular, como<br />

o exemplo anterior “palmos”. Veja o que o dicionário<br />

diz sobre ela:<br />

Palmo: metrologia. Medida de comprimento que<br />

corresponde a oito polegadas (‘medida’) ou 22 cm,<br />

baseada no comprimento médio de um palmo.<br />

Outras formas são chamadas de numeral coletivo,<br />

porque indicam um conjunto: novena, dezena,<br />

década, dúzia, centena, grosa, lustro, milhar,<br />

milheiro, par.<br />

Quando vamos à feira, pedimos 12 bananas ou<br />

uma dúzia de bananas? Você se recorda de outra<br />

forma de contar e medir usada no Brasil?<br />

Geralmente, uma dúzia de bananas, depende<br />

muito da região do Brasil. É comum usar a garrafa<br />

de 1 litro como medida para grãos também em<br />

muitos lugares. Outra medida comum no Brasil é<br />

meia dúzia para o número “6”. Interessante notar<br />

que algumas vezes o número 6 é substituído por<br />

“meia”, principalmente quando ditamos um número<br />

de telefone para alguém.<br />

Agora, faça uma pesquisa em dicionários e em<br />

enciclopédias para responder à seguinte questão:<br />

Se estivéssemos em um país como a Inglaterra,<br />

poderíamos usar “quilômetros” para indicar distância?<br />

E “graus Celsius” para indicar temperatura, no<br />

termômetro? Poderíamos dizer “quilos”? Seríamos<br />

entendidos? Anote suas conclusões.<br />

Escala Fahrenheit: escala de temperatura usada<br />

em países de língua inglesa e baseada em dois<br />

pontos fixos: o de fusão da água, ao qual se atribui<br />

o valor 32, e o de ebulição da água, ao qual se atribui<br />

o valor 212 (a unidade correspondente é o grau<br />

Fahrenheit); uma libra é equivalente a 0,4535923<br />

quilogramas ou cerca de 453 gramas; e uma milha<br />

terrestre = 1.609 m ou 1 km 609 m.<br />

P25


Sugestão didática:<br />

Professor: Explique aos alunos que, nos dicionários,<br />

geralmente, há tabelas de numerais cardinais,<br />

ordinais, fracionários, multiplicativos, caso tenham<br />

dúvidas na ortografia.<br />

Existem também as tabelas de conversão de pesos<br />

e medidas (o Minidicionário Houaiss é um dos<br />

que trazem uma tabela completa; algumas agendas<br />

também trazem tais tabelas, bem como alguns<br />

modelos de celulares).<br />

Caso seja de seu interesse e eles tenham aulas<br />

de língua estrangeira, converse com o professor<br />

dessa disciplina para organizarem uma atividade<br />

juntos, mostrando as diferentes convenções. É uma<br />

maneira de motivá-los a entender as diferenças culturais<br />

de cada país.<br />

Outra maneira mais rápida de indicar as medidas,<br />

e assim observar o uso de algarismos e numerais,<br />

é pedir que olhem as etiquetas de roupas<br />

e a sola de tênis e chinelos, já que muitos trazem<br />

as referências de outros países para onde são exportados/importados<br />

junto às numerações usadas<br />

no Brasil.<br />

Ainda sobre medidas, você pode preparar uma<br />

atividade com o professor de Geografia, usando<br />

como mote o fato de Alice não saber o que é Latitude/Longitude<br />

no capítulo I e no trecho do capítulo<br />

VI. citado no tópico “conceito/conexão”.<br />

Você pode também desenvolver um projeto<br />

interdisciplinar, com duração para o bimestre,<br />

junto à Matemática, pedindo a leitura de algumas<br />

obras que são parte do acervo do MEC enviado<br />

às escolas públicas. Verifique na biblioteca de<br />

sua escola:<br />

— Alice no País dos Números, editora Ática.<br />

(com pouca dificuldade, indicada para quinto e sexto<br />

ano).<br />

— Alice no País dos Enigmas (2000), de<br />

Raymond Smullyan, editora Jorge Zahar (com<br />

a necessidade de se selecionar alguns dos<br />

enigmas de acordo com o grau de conhecimento<br />

dos alunos).<br />

O site da revista Superinteressante também oferece<br />

várias reportagens com alguns jogos. Veja um<br />

deles a seguir.<br />

Para usar a cabeça<br />

Exercite o raciocínio com um passatempo mental<br />

que parece uma corrida com obstáculos.<br />

Por Luiz Dal Monte, arquiteto e designer de jogos<br />

e brinquedos.<br />

O inglês Charles Lutwidge Dodgson (1832-<br />

1898) ficou famoso como escritor e fotógrafo. Suas<br />

fotos fizeram história e, com o pseudônimo Lewis<br />

P26<br />

Carroll, ele assinou clássicos como Alice no País<br />

das Maravilhas e Alice através do espelho. Mas<br />

Dodgson também foi diácono e professor de Matemática.<br />

Fascinado por jogos, quebra-cabeças e<br />

matemática recreativa, criou, durante as longas<br />

noites de insônia que o acompanharam por toda<br />

a vida, problemas que frequentam as coletâneas<br />

sobre o assunto.<br />

O jogo que ensinaremos a seguir é um exemplo<br />

da sua inventividade. Conhecido como arithmetical<br />

croquet (croqué aritmético), destina-se a dois participantes<br />

e não requer absolutamente nenhum equipamento,<br />

transcorrendo integralmente na cabeça<br />

dos competidores. Papel e lápis, de qualquer forma,<br />

podem ajudar a prever as jogadas.<br />

No croqué, que é a base da invenção de<br />

Dodgson, os jogadores impulsionam bolas de<br />

madeira com um taco em forma de marreta,<br />

fazendo-as passar por baixo de pequenos arcos,<br />

de acordo com um trajeto preestabelecido. No<br />

croqué aritmético, esse trajeto é representado<br />

por uma série de números de 1 a 100, e os arcos,<br />

pelos múltiplos de 10.<br />

O primeiro jogador diz um número menor ou<br />

igual a 8, e o segundo faz o mesmo. Então o primeiro<br />

fala outro número, necessariamente maior<br />

que aquele proposto por ele mesmo antes, mas<br />

não distante mais que oito unidades dele. Depois,<br />

joga novamente o segundo e, sempre com essas<br />

condições, ambos vão se alternando, até que alguém<br />

alcance exatamente 100, vencendo a partida.<br />

Quanto aos arcos, há duas maneiras de ultrapassá-los.<br />

Uma delas implica partir de um número<br />

anterior a ele para outro posterior e à mesma distância.<br />

Por exemplo, para passar pelo arco 30, seria<br />

possível ir do 27 para o 33, pois 30 – 27 = 33 – 30 =<br />

3. Se um jogador não conseguir passar adequadamente<br />

por um arco, deve recuar na próxima jogada<br />

para um número anterior a ele, de forma a poder<br />

fazer uma segunda e última tentativa. Deixar duas<br />

vezes de passar corretamente por um arco é fatal:<br />

perde-se a partida no ato — o que também vale<br />

para o arco 100.<br />

A outra forma de ultrapassar um arco é dirigir-<br />

-se diretamente a ele e, na jogada seguinte, sair<br />

para um ponto equidistante ao que se deixara antes.<br />

Um exemplo ajuda a entender: você pode ir do<br />

46 para o 50 e depois para o 54. Quem está exatamente<br />

num arco só pode sair dele obedecendo a<br />

essa condição.<br />

Agora, a regra fundamental: qualquer distância<br />

que um jogador escolha impede o oponente de<br />

optar, no seu turno seguinte, por outra idêntica ou<br />

igual à diferença entre ela e 9. Assim, se um joga-


dor avançou 3 unidades, seu adversário não pode<br />

avançar 3 nem 6 na sua próxima jogada. Porém,<br />

quando o jogador para exatamente num arco, ou<br />

quando está saindo de um número entre 90 e 100,<br />

nenhuma restrição é feita à próxima jogada do<br />

oponente, exceto no caso de ele estar no mesmo<br />

número.<br />

Finalmente, quando alguém parar num arco, seu<br />

adversário pode impedir que ele saia dali, utilizando<br />

a mesma distância que ele precisaria para isso, ou<br />

sua diferença para 9. Inclusive, é permitido alternar<br />

o uso desses dois números, mas não usar um deles<br />

duas vezes seguidas. Desse modo, se um tiver ido<br />

de 57 para 60, o outro pode mantê-lo ali enquanto<br />

puder, usando as distâncias 3, 6, 3,6 etc.<br />

Para continuar<br />

Além do texto<br />

Leia a seguir um texto da revista Superinteressante,<br />

na seção: Livros — Imperdível.<br />

Alice vai longe<br />

Em uma tarde quente no interior da Inglaterra,<br />

uma garotinha resolve seguir um coelho esbaforido<br />

que não para de olhar para seu relógio. A toca<br />

do coelho é a passagem secreta de Lewis Carroll,<br />

o matemático inglês Charles Lutwidge Dodgson<br />

(1832-1898), para as aventuras de Alice no País<br />

das Maravilhas e Alice através do espelho. As<br />

duas histórias estão em Alice—edição comentada,<br />

em que as peripécias da menina são esmiuçadas<br />

pelo matemático e jornalista americano<br />

Martin Gardner. A edição traz o capítulo inédito<br />

“O Marimbondo de Peruca”, suprimido de Através<br />

do espelho, e mantém as ilustrações originais<br />

de John Tenniel (1820-1914). Além de bem escritos,<br />

os livros são repletos de charadas, enigmas<br />

e trocadilhos. A menina começa a questionar a<br />

própria lógica e a pensar de acordo com as estranhas<br />

criaturas que encontra no caminho. Se na<br />

infância ler Alice é muito bom, depois de crescido<br />

é ainda melhor.<br />

Veja estas curiosidades:<br />

• Fotografia era um dos hobbies de Carroll,<br />

um dos primeiros entusiastas dessa arte.<br />

Uma das meninas que retratou foi Alice<br />

Liddell, a inspiração para seu livro.<br />

•<br />

•<br />

Alice Liddell e suas duas irmãs pediram,<br />

durante um passeio de barco pelo rio<br />

Tâmisa, Inglaterra, que Carroll lhes contasse<br />

uma história. Ele inventou quase<br />

toda a narrativa […].<br />

Salvador Dalí, o pintor surrealista espa-<br />

nhol (1904-1989), ilustrou uma edição do<br />

livro em 1969. Não é para menos: a história<br />

está cheia de elementos surreais,<br />

como o relógio do chapeleiro louco, que<br />

marca os meses, mas não as horas.<br />

• A cultura pop até hoje faz referência às<br />

histórias de Carroll. Um exemplo é Neo,<br />

o herói do filme Matrix, que, assim como<br />

Alice, precisa seguir um coelho e escolher<br />

a pílula que vai tomar.<br />

Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2009. Adaptado.<br />

1. Observe o sentido das palavras a seguir e depois<br />

releia o texto para responder às questões.<br />

Entusiasta: alguém que é empolgado, entusiasmado.<br />

Esbaforido: cansado.<br />

Peripécia: aventura.<br />

Esmiuçado: detalhado.<br />

Suprimido: retirado.<br />

Hobby: atividade que se pratica em momentos de<br />

lazer.<br />

Surrealista: aquele que segue o movimento artístico<br />

Surrealismo, que procura tratar do absurdo que<br />

existe no pensamento e nos sonhos.<br />

Lógica: uma maneira de pensar diante daquilo<br />

que é verdadeiro ou não.<br />

Cultura pop: aquilo que fica conhecido pelos<br />

meios de comunicação de massa, como, por exemplo,<br />

rádio, televisão e cinema, principalmente.<br />

2. Qual é o assunto da reportagem da revista Superinteressante?<br />

Mais uma edição do livro de Lewis Carroll.<br />

3. Segundo a reportagem, qual a diferença dessa<br />

edição para outras já publicadas?<br />

Essa edição apresenta um capítulo a mais que<br />

havia sido retirado das outras.<br />

P27


4. Além da literatura, o texto faz referência a outras<br />

três formas de arte. Quais são elas?<br />

P28<br />

Fotografia, pintura e cinema.<br />

5. Em algum momento da reportagem aparece a<br />

opinião de quem a escreveu sobre o livro? Grife o<br />

trecho no texto.<br />

Sim.<br />

Grifar: “Se na infância ler Alice no País das Maravilhas<br />

é muito bom, depois de crescido é ainda<br />

melhor”.<br />

6. Assim como O mágico de Oz, podemos considerar<br />

Alice no País das Maravilhas um clássico da<br />

literatura? O que você pensa, considerando o que<br />

aprendeu neste capítulo?<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Mostre aos alunos que os clássicos<br />

passam muitas vezes pela cultura de massa por<br />

meio do cinema, desenho animado e, no Brasil,<br />

muitas vezes até em novelas. O filme citado pela<br />

reportagem (Matrix) é um bom exemplo de como a<br />

mídia absorve muito desses clássicos.<br />

Para finalizar<br />

Professor: Preencha o quadro com os alunos.<br />

Este pode ser um momento de revisão. A resposta<br />

dos alunos pode auxiliar na autoavaliação: você<br />

considera que conseguiu realizar todas as atividades?<br />

Quanto você contribuiu para o conhecimento<br />

dos alunos?<br />

Nonsense<br />

Conteúdos<br />

Obra clássica<br />

Elementos<br />

grafotipográficos do texto<br />

Numeral<br />

Resenha de livro<br />

Notícia<br />

O que aprendi<br />

no capítulo 9<br />

Para casa<br />

Leia a resenha do livro Alice no país da<br />

mentira, de Pedro Bandeira, para responder às<br />

questões a seguir.<br />

Livro: Alice no País da Mentira<br />

Autor: Pedro Bandeira<br />

Coleção: Vaga-lume Júnior<br />

Preço sugerido: R$ 23,90<br />

Ficha técnica<br />

ISBN: 8508100310<br />

Formato: 17x24<br />

Edição: 1<br />

Ano da edição: 2005<br />

Página: 88<br />

Catálogo<br />

Juvenis<br />

Assunto: Relativização de<br />

conceitos, solidariedade,<br />

amizade.<br />

Nível: Ensino Fundamental<br />

Série: 3 a e 4 a , 5 a e 6 a<br />

Tema: Ética e cidadania,<br />

pluralidade cultural.<br />

Como o próprio nome indica, esse livro de<br />

Pedro Bandeira está relacionado aos clássicos<br />

do escritor inglês Lewis Carrol, Alice no País<br />

das Maravilhas e Alice através do espelho.<br />

Em Alice no País da Mentira, Pedro Bandeira<br />

cria situações nas quais a protagonista visita os<br />

países da Mentira e da Verdade, locais diferentes<br />

da realidade a que está acostumada.


Sua fantasia inicia-se depois que ela foi caluniada<br />

por Lucas, seu melhor amigo. Muito magoada,<br />

Alice se isola no sótão da casa da avó.<br />

Nesse local, ela acha um espelho que reflete<br />

dois espaços: o lugar onde estava e outro sótão,<br />

chamado de Sótão do Espelho.<br />

Alice não consegue conter sua curiosidade.<br />

Então atravessa a face mole do espelho e<br />

começa a explorar o novo local, que está todo<br />

empoeirado. Por conta da poeira, ela espirra. O<br />

espirro serve de passaporte para sua viagem ao<br />

País da Mentira, onde é guiada pelo governador<br />

de toda as mentiras, o Barão Mimi. Durante<br />

esse passeio, ela percebe que falar uma mentira<br />

nem sempre é um mal quando, por exemplo, ela<br />

é “proferida para não ofender outras pessoas”.<br />

Além disso, a garota vai conhecendo a natureza<br />

de diferentes tipos de mentira, como a monstruosa<br />

Mentira Cabeluda.<br />

Por meio do espelho, Alice dirige-se ao País<br />

da Verdade, onde é guiada pelo Sábio Didi, tratamento<br />

informal para Diógenes de Sínope, filósofo<br />

grego nascido em 413 a.C. Nesse país, ela<br />

aprende que as verdades podem ser relativas.<br />

Portanto, não existem apenas boas verdades:<br />

“há verdades horrendas, como a deleção”.<br />

Nos dois países, em diferentes situações, a<br />

garota começa a descobrir o quanto há de relativo<br />

nas verdades e mentiras ditas “absolutas”.<br />

Alice sempre ouve este alerta: “Aprenda a escolher!<br />

Você tem de descobrir a diferença!”.<br />

Disponível em: .<br />

Acesso em: 5 jan. 2009. Adaptado.<br />

1. No primeiro quadro, temos a sugestão de preço<br />

da editora para a venda do livro. Supondo que<br />

tivesse que preencher um cheque para comprá-lo,<br />

como você escreveria, por extenso, o valor?<br />

Vinte e três reais e noventa centavos.<br />

2. Na ficha técnica do livro, há uma sigla. ISBN.<br />

Leia o que ela significa:<br />

International Standard Book Number, mais conhecido<br />

pela sua sigla ISBN, é o Número Padrão<br />

Internacional de Livro, um sistema identificador<br />

único para livros e publicações não periódicas. O<br />

objetivo do sistema é identificar numericamente<br />

um livro segundo seu título, autor, país (ou código<br />

de idioma) e a editora. Desse modo, é possivel<br />

individualizar edições diferentes.<br />

Depois de realizada a identificação, ela só se<br />

aplica àquela obra e edição, não se repetindo<br />

em outra. Utilizado também para identificar software,<br />

seu sistema numérico é convertido em<br />

código de barras. Esse procedimento elimina<br />

barreiras linguísticas e facilita a sua circulação<br />

e comercialização.<br />

A versatilidade desse sistema de registro<br />

facilita a interconexão de arquivos e a recuperação<br />

e transmissão de dados em sistemas<br />

automatizados, razão pela qual é adotado internacionalmente.<br />

a) Ainda na ficha técnica, o que significa 17x24?<br />

17 centímetros de largura e 24 centímetros de<br />

comprimento.<br />

b)<br />

Quando esse livro começou a ser vendido?<br />

Em 2005.<br />

c) A maioria dos dados, da ficha e do catálogo,<br />

estão em números cardinais. Quais não estão?<br />

Aqueles que estão abreviados e que se referem<br />

às séries (quarta, quinta…), o mesmo que ano:<br />

quarto, quinto. Portanto, são numerais ordinais.<br />

d) Na resenha sobre o texto, aparece “413 a.C.”.<br />

O que significa a.C.?<br />

Antes do nascimento de Cristo.<br />

e) No catálogo, nos itens “Tema” e “Assunto”,<br />

temos a indicação de que o livro fala sobre “ética”<br />

e “relativização de conceitos”. Após ler a resenha<br />

do livro, como você explicaria o sentido dessas<br />

palavras?<br />

No trecho, pode-se dizer que a narrativa começa<br />

por uma questão ética: o colega de escola<br />

a discriminou. Depois, a resenha vai contando<br />

como o livro trabalha os conceitos/as ideias que<br />

fazemos da “verdade” e da “mentira” e como isso<br />

é relativo (ou seja, relativização, depende do contex<br />

to, da situação).<br />

P29


Anotações<br />

P30


Para começar<br />

Capítulo<br />

Português 10<br />

Neste capítulo, estudaremos o conflito na<br />

narrativa e, em morfologia, os pronomes pessoais,<br />

possessivos, demonstrativos, indefinidos e<br />

interrogativos.<br />

A narrativa, que leremos a seguir, é parte da<br />

obra Estranhões & bizarrocos (Estórias para adormecer<br />

anjos), do escritor angolano José Eduardo<br />

Agualusa:<br />

Quero que conheçam este gato. Chama-se<br />

Felini e, acreditem, não se parece com nenhum<br />

outro. Falo-vos de um gato, digamos assim, muito<br />

ambicioso. Felini era ainda adolescente, mal<br />

se viam os bigodes, quando se apaixonou. Coisa<br />

séria. Muito séria. Deixou de comer, deixou<br />

de lamber o pelo, e passou a andar pelos telhados<br />

como um vagabundo — sujo, magro, desgrenhado<br />

—, gemendo tristemente o seu amor.<br />

A mãe ficou preocupada:<br />

— Meu filho — perguntou-lhe —, quem é<br />

essa gata?<br />

Gata? Felini olhou-a desesperado. Não, não<br />

era uma gata. Era uma vaca! Graciosa, a vaca,<br />

pastava os seus dias, isto é, passava os seus<br />

dias, no terreiro em frente à aldeia, com as outras<br />

vacas. A mãe de Felini riu-se, pasmada, e<br />

foi contar às amigas: o seu filho — o pobrezinho! —,<br />

estava apaixonado por uma vaca. A novidade<br />

espalhou-se pela vizinhança. Os gatos grandes<br />

davam-lhe palmadas nas costas: “tens mais boca<br />

que barriga”, diziam. Os colegas troçavam dele.<br />

O pior não era isso. O pior, para Felini, aquilo<br />

que realmente o incomodava, era a indiferença<br />

de Graciosa.<br />

País dos Contrários<br />

Felini sentava-se à noite em frente do estábulo<br />

onde dormia Graciosa e compunha canções<br />

para a lua, canções tristíssimas, que falavam<br />

dos olhos mansos do seu amor, e do seu pelo<br />

macio, e do seu caminhar pelo pasto úmido ao<br />

amanhecer. Graciosa nem olhava para ele. A<br />

mãe de Felini, cada vez mais preocupada com<br />

tamanha persistência, foi procurá-lo:<br />

— Meu filho — explicou-lhe —, como queres<br />

que uma vaca se interesse por ti? As vacas gostam<br />

de animais grandes, como elas, de bois. Os<br />

gatos gostam de gatas.<br />

Era esse o problema? Então — decidiu<br />

Felini —, então seria um boi. A partir desse dia<br />

começou a pastar, como as vacas, e com tal<br />

apetite que cresceu, e cresceu, e cresceu, até<br />

alcançar o tamanho de um boi. Só nessa altura<br />

voltou a procurar Graciosa. A vaquinha, porém,<br />

olhou-o com susto:<br />

— Meu Deus, um gato boi!<br />

O grito dela atraiu os outros animais. Todos o<br />

olhavam com horror. Os gatos já não o aceitavam —<br />

ele deixara de ser um gato. As vacas fugiam ao<br />

vê-lo. Felini, tristíssimo, decidiu então partir para<br />

outro país. O mundo era imenso. Em algum lado<br />

encontraria quem o aceitasse sem estranheza.<br />

Andou durante muitos dias. Atravessou desertos.<br />

Perdeu-se no labirinto de florestas intermináveis.<br />

Escalou montanhas geladas, respirou o<br />

ar perigoso dos pântanos, viu o sol levantar-se<br />

sobre paisagens de assombro. Ao fim de muitos<br />

meses, encontrou um rio cujas águas corriam<br />

pela montanha acima, e não a descer, em direção<br />

ao mar, como estamos acostumados a ver.<br />

Perguntou a um pássaro em que lugar estava.<br />

P31


— Se cruzares o rio — disse-lhe o pássaro<br />

— entras, no País dos Contrários. Ali tudo se<br />

passa ao contrário: os ponteiros dos relógios<br />

giram para a esquerda, os animais nascem velhos<br />

e morrem bebês e toda a gente fala do fim<br />

para o princípio. É um tanto complicado, mas<br />

depois habituas-te.<br />

Disse isso e despediu-se. Mal chegou ao outro<br />

lado do rio, voltou-se e começou a voar de<br />

costas. Felini encolheu os ombros. Se um pássaro<br />

podia viver num país assim, ele também podia.<br />

Atravessou o rio a nado. Estava a descansar<br />

na areia quando um elefante, tão pequeno quanto<br />

uma formiga, se aproximou dele:<br />

— Chamas te que é como — disse — olá!<br />

— Chamo-me Felini — respondeu Felini. —<br />

E tu? Nunca tinha visto um elefante tão pequeno.<br />

O elefante olhou para ele admirado:<br />

— Estrangeiro um como falas mas Contrários<br />

dos País do habitante um pareces — disse.<br />

— Direito falas não por que?<br />

Felini abanou a cabeça. Que diabo de língua<br />

era aquela? Depois compreendeu e começou a<br />

rir. O elefante estava a falar ao contrário: “Por<br />

que não falas direito?” — tinha dito — “Pareces<br />

um habitante do País dos Contrários mas falas<br />

como um estrangeiro”. O gato contou-lhe as<br />

suas aventuras, até cruzar o rio, esforçando-se<br />

por se fazer entender na estranha língua do país.<br />

Disse-lhe que tinha decidido conhecer o mundo<br />

porque na terra onde nascera o olhavam como<br />

se fosse um monstro.<br />

— Tu como são gatos os todos aqui — tranquilizou-o<br />

o elefante — não aqui.<br />

Nesse mesmo dia Felini encontrou vários<br />

gatos iguais a ele. Em pouco tempo fez novas<br />

amizades e, decorridas algumas semanas, já se<br />

sentia tão à vontade naquele lugar como na sua<br />

própria aldeia. Podia ter sido inteiramente feliz,<br />

mas teve pouca sorte, coitado, voltou a apaixonar-se<br />

— por uma vaca!<br />

Uma vaquinha tão pequena que não lhe chegava<br />

aos calcanhares.<br />

P32<br />

AGUALUSA, José Eduardo. Estranhões &<br />

bizarrocos. Porto: D. Quixote, 2000, p. 38-44.<br />

Para continuar<br />

Conversa sobre o texto<br />

1. Antes de começar a responder às questões, releia<br />

o texto e anote as palavras que você não conhece.<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Oriente os alunos sobre o fato de<br />

esse texto ser escrito em outra variante da língua<br />

portuguesa — de autoria de um escritor angolano<br />

—, portanto é natural o uso da segunda pessoa do<br />

discurso, de provérbios e palavras diferentes das<br />

nossas, tais como: aldeia = lugar onde se mora, pequena<br />

cidade; sítio: = lugar; troçar = tirar sarro; a<br />

construção “toda a gente” = as pessoas ou todos.<br />

2. Nos primeiros parágrafos do texto, o narrador<br />

da história dirige-se a nós, leitores. É possível dizer,<br />

neste momento, que o texto terá um tom de humor?<br />

Se sim, explique.<br />

Sim, porque o narrador cria um ambiente em<br />

que o gato parece o estereótipo do apaixonado que<br />

vai se sair mal. Logo de início, utiliza as seguintes<br />

palavras para descrevê-lo: ambicioso, desgrenhado,<br />

triste, compõe canções.<br />

3. Já estudamos, no capítulo anterior, que o trocadilho<br />

pode provocar humor. Você identificou algum<br />

trecho em que isso ocorre? Transcreva-o a<br />

seguir.<br />

“pastava os seus dias”, trocadilho de: “passava<br />

os seus dias”<br />

4. Felini é um gato quase adolescente e passa<br />

por um conflito inicial na narrativa. Que conflito é<br />

esse?<br />

Apaixona-se por uma vaca.<br />

5. Muitas vezes, o nome de uma personagem<br />

a identifica e mostra suas características. Os<br />

nomes “Felini” e “Graciosa” confirmam isso? Ou<br />

não? Explique.<br />

Sim, porque Felini lembra o adjetivo felino (de<br />

gato) e Graciosa mostra como ela pastava e também<br />

é um nome comumente dado a vacas, assim<br />

como Mimosa, por exemplo; ambos os nomes reiteram<br />

suas formas animais.


6.<br />

a) Para resolver seu conflito, Felini acaba provo-<br />

cando outro conflito? Qual?<br />

Sim, pois começa a pastar e assim fica gigantesco,<br />

passando, dessa maneira a ser excluído tanto<br />

do grupo dos gatos como das vacas, já que é<br />

grande demais para um gato e, para uma vaca, é<br />

um gato grande.<br />

b) O que os gatos grandes queriam dizer com o<br />

provérbio: “tens mais boca que barriga”?<br />

Felini come mais do que a barriga pode suportar,<br />

ou seja, Felini quer algo (a vaca) maior do que<br />

ele (um gato).<br />

c) Qual seria o provérbio com o sentido parecido,<br />

usado por nós no Brasil?<br />

No Brasil, o provérbio seria: “tem o olho maior<br />

que a barriga”.<br />

d) Que adjetivo usado no primeiro parágrafo po-<br />

deria substituir tal provérbio?<br />

Ambicioso, de ambição.<br />

7. Que atitude Felini toma a partir do momento<br />

em que é excluído por gatos e vacas?<br />

Decide procurar um lugar, uma terra em que<br />

as pessoas o aceitem como ele é agora: um gato<br />

grande.<br />

8. Após andar muito, Felini encontra um pássaro<br />

a quem pergunta onde está. Que descrição o pássaro<br />

faz do País dos Contrários?<br />

No País dos Contrários, o tempo funciona ao<br />

contrário: bebês morrem e velhos ficam jovens, os<br />

ponteiros do relógio andam para a esquerda.<br />

9. Nesse país, Felini é um estrangeiro e encontra<br />

um elefante. Como é o elefante e a língua daquele<br />

lugar?<br />

Ele é pequeno, e as palavras que falam são<br />

todas embaralhadas.<br />

10.<br />

Faça o que se pede.<br />

a) Selecione as falas do elefante e de Felini, colo-<br />

cando-as em uma ordem compreensível para nós.<br />

Olá, como é que te chamas?<br />

Falas como um estrangeiro, mas pareces um<br />

habitante do País dos Contrários.<br />

Por que não falas direito?<br />

Aqui não, aqui todos os gatos são como tu.<br />

b) Que pontuação foi usada quando o narrador<br />

“traduziu” o que o elefante dizia?<br />

Além do travessão, acrescentou aspas para mostrar<br />

que estava citando ou traduzindo a fala do elefante.<br />

11. Embora Felini estivesse feliz no novo país, o<br />

que voltou a acontecer? Em que novo conflito se<br />

envolveu?<br />

Apaixonou-se novamente por uma vaca, que<br />

agora era pequena e ele, um gato grande.<br />

12. Você deve ter notado que as personagens,<br />

assim como nas fábulas, são animais. No entanto,<br />

o comportamento no País dos Contrários, e fora<br />

dele, é bastante humano.<br />

a) O que podemos concluir sobre as aventuras<br />

de Felini? De fato, é o lugar, o espaço onde estamos<br />

que importa? Discuta com seus colegas e anote<br />

suas conclusões.<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Oriente os alunos sobre a relatividade<br />

de conceitos expostos por meio da alegoria<br />

das dimensões/tamanho das personagens. Saliente<br />

que, de fato, o mais importante são as ações e<br />

atitudes que temos, como nos vemos e como aceitamos<br />

os outros ao nosso redor, inclusive com suas<br />

diferenças. O lugar onde estamos não resolve tais<br />

conflitos, afinal, a questão não é ser igual: conviver<br />

com a diferença é o tema desse texto.<br />

b) Por que esse texto foi incluído em um livro<br />

chamado Estranhões & bizarrocos? O que isso significa<br />

para você? Isso se parece com o nonsense?<br />

O livro provavelmente inclui outras histórias<br />

em que as personagens são “muito estranhas” =<br />

estranhões e “um pouco bizarras (extravagante,<br />

esquisito)” = bizarrocos. Sim, a relatividade das<br />

dimensões lembra muito o que são as cenas do<br />

nonsense em Alice no País das Maravilhas. O País<br />

dos Contrários faz lembrar tanto Oz como o País<br />

das Maravilhas, já que na cena inicial, em ambas<br />

as narrativas, os animais falam, além do que Alice<br />

cresce, assim como Felini.<br />

Para continuar<br />

O texto no contexto<br />

As viagens de Gulliver é uma obra clássica e,<br />

assim como Alice no País das Maravilhas e O mágico<br />

de Oz, já passou por muitas adaptações e<br />

traduções. O autor irlandês Jonathan Swift (1667-<br />

1745) procurou tratar das realidades e injustiças de<br />

sua época a seu modo, usando fantasia, aventura<br />

e humor.<br />

P33


Primeira parte<br />

P34<br />

Viagem a Lilliput<br />

1. Após a tempestade, um reino em miniatura<br />

O grito desesperado do marinheiro soou<br />

quase ao mesmo tempo que o barulho do<br />

choque do majestoso veleiro Antílope, no<br />

qual viajávamos, com as pedras. Foi uma<br />

confusão. […]<br />

Estava quase paralisado pelo medo […] quando<br />

fui cuspido para fora do navio. [...] Senti meu<br />

corpo envolto na água gelada do mar. […] Minha<br />

preocupação passou a ser só uma: manter-me<br />

vivo. [...]<br />

Lutei com as ondas durante horas a fio. Foi<br />

assim que, ao esticar uma das pernas, toquei<br />

em alguma coisa que parecia o fundo. […]<br />

Pude então ficar de pé, com a água batendo<br />

no meu queixo. Com o resto das forças, caminhei<br />

em direção à praia, onde, exausto, deixei<br />

o corpo cair sobre a areia fofa. Olhando o céu,<br />

ainda com estrelas, a primeira imagem que me<br />

apareceu foi a de minha mulher, Mary, e das<br />

crianças.<br />

Mary havia discordado totalmente desta minha<br />

viagem: não adiantou, […] eu embarcara<br />

como médico no Antílope, deixando o porto de<br />

Bristol, Inglaterra, no dia 4 de maio de 1699.<br />

Assim, pensando neles e em grandes aventuras,<br />

adormeci profundamente, longe de imaginar<br />

que estava sendo observado por alguns<br />

olhinhos escondidos na relva.<br />

[...] Ao acordar, senti o sol nos olhos. Tentei<br />

mover a cabeça e não consegui: meus cabelos<br />

estavam presos ao chão. Tentei me levantar e<br />

não pude: meu corpo estava como que colado<br />

na areia. Meu Deus! O que estaria acontecendo?<br />

Para piorar a situação, senti algo subindo<br />

pela minha perna esquerda. Pensei que fosse<br />

algum siri ou caranguejo. Mas aquela coisinha<br />

logo alcançou meu peito… Baixei bem os olhos,<br />

como se fosse examinar a ponta de meu nariz,<br />

e vi uma criaturinha humana de menos de um<br />

palmo de altura observando-me com o mesmo<br />

olhar de espanto com que eu a encarava.<br />

Percebi então que dezenas de outros homenzinhos<br />

como aquele corriam pelo meu corpo. Assustado,<br />

dei um tremendo berro. Foi como um<br />

terremoto para eles. Apavorados, começaram a<br />

atirar-se ao chão. […]<br />

Um deles, mais corajoso, gritou:<br />

— Hekinah degul!<br />

Todos começaram a repetir a mesma coisa,<br />

cada vez mais alto. Só pensei em sair dali.<br />

Concentrei minhas forças no braço esquerdo e<br />

consegui libertá-lo. Todo o meu corpo estava<br />

amarrado por centenas de linhas a ganchos espetados<br />

no chão. Antes que pudesse soltar as<br />

outras amarras com a mão esquerda, ouvi um<br />

segundo grito uníssono:<br />

— Tolgo phonac!<br />

Era uma ordem de ataque, porque senti centenas<br />

de pequenas flechadas em minha mão<br />

esquerda e no rosto. [...] Já irritado, tentei livrar-<br />

-me delas, mexendo o corpo o quanto podia. Mas<br />

recebi uma chuva maior de flechadas e resolvi<br />

aquietar-me para pensar melhor no que fazer.<br />

Enquanto isso, eles construíram rapidamente<br />

um minipalanque de meio metro de altura do<br />

meu lado esquerdo, próximo à minha cabeça.<br />

Alguns deles subiram até lá, e aquele que parecia<br />

o chefão do grupo deu um novo grito: então<br />

cinquenta homenzinhos cortaram os fios que<br />

prendiam minha cabeça, e eu virei em direção<br />

ao palanque.<br />

Neste momento, o tal chefe proferiu um longo<br />

discurso, do qual não entendi coisa alguma. Pela<br />

entonação, imaginei que fazia ameaças. Quando<br />

terminou, ficaram todos em silêncio, olhando<br />

para mim, como se eu tivesse entendido tudo e<br />

devesse responder. Fiz uma cara de bons amigos,<br />

de quem não quer briga e, com a mão esquerda,<br />

tentei mostrar que estava com fome.


O chefe entendeu imediatamente [...]. Já haviam<br />

mandado preparar a comida: a uma ordem<br />

sua, mais de cem homenzinhos começaram a<br />

subir por uma escada, encostada em meu corpo,<br />

para trazer os alimentos até minha boca. Eram<br />

pernis e lombos assados de carneiro, menores<br />

do que asas de passarinho, que eu comia com<br />

pãezinhos do tamanho da unha do meu dedo mínimo.<br />

[…] Colocaram em minha mão esquerda<br />

tonéis de vinho, cada um equivalendo a um copo<br />

dos nossos. [...]<br />

Percebi que ficaram surpresos com a quantidade<br />

que eu comia e a velocidade com que o<br />

fazia, mas notei que estavam completamente à<br />

vontade ao me alimentar. Passeavam pelo meu<br />

corpo com desenvoltura e eu bem que me senti<br />

tentado a pegar uns trinta ou quarenta e atirálos<br />

todos ao chão. Porém, logo me lembrei das<br />

flechadas… Além disso, de alguma maneira,<br />

eu tinha firmado um acordo de paz e não podia<br />

atacar um povo que me dava comida em abundância<br />

e com tanta boa vontade.<br />

O homenzinho das credenciais iniciou então<br />

novo discurso, só que desta vez acompanhado<br />

de muita mímica. Falava várias vezes a<br />

palavra Lilliput, que mais tarde eu soube ser<br />

o nome do país, e apontava em certa direção:<br />

era a capital, para onde o rei havia decidido<br />

que eu seria levado. Fiz gestos indicando que<br />

eu queria ser desamarrado, mas a autoridade<br />

presente foi firme e sacudiu a cabeça negativamente.<br />

Fiquei zangado e tentei soltar-me<br />

outra vez. Fui atingido então por milhares de<br />

flechas […]. Pedi desculpas pelo incidente e<br />

demonstrei que concordava com as condições<br />

impostas.<br />

— Pelom selan! — ordenou Sua Excelência.<br />

Os homenzinhos que estavam no chão começaram<br />

a cuidar de mim, passando um unguento<br />

para aliviar a dor das flechadas. Ao<br />

mesmo tempo foram soltando, aos poucos, as<br />

amarras que me prendiam o lado esquerdo do<br />

corpo, o que me permitiu, com alívio, mudar de<br />

posição. Eu nada podia fazer, mesmo livre pela<br />

metade, pois estava com muito sono. […]<br />

2. Fortemente armado, o Homem-Montanha<br />

chega à cidade<br />

Fiquei sabendo de tudo depois, uma vez que,<br />

durante toda a operação, dormia a sono alto, graças<br />

ao sonífero que os médicos do reino haviam<br />

posto no vinho.<br />

[…]<br />

Mais ou menos ao meio-dia seguinte, chegamos<br />

a uns 200 metros dos portões da cidade.<br />

O rei e toda a sua corte vieram ao nosso encontro,<br />

mas seus ministros não permitiram que o monarca<br />

corresse o risco de subir em cima de mim.<br />

Calculo que mais de cem mil habitantes da<br />

capital e arredores vieram visitar-me. E acredito<br />

que uns dez mil, não todos de uma vez, é claro,<br />

devem ter subido em mim com a ajuda de escadas,<br />

apesar da precaução dos guardas. Porém,<br />

logo foi baixado um decreto proibindo essa prática,<br />

sob pena de morte. […]<br />

Estava cansado de ficar deitado, já que havia<br />

sido forçado a manter-me nessa posição durante<br />

toda a viagem. Resolvi levantar-me. Foi um acontecimento:<br />

o barulho que causei e o espanto daquela<br />

gente ao me ver em pé não é coisa que se consiga<br />

contar. Só quem estivesse lá poderia acreditar…<br />

3. Uma cidadezinha de presépio<br />

Desde que eu chegara a Lilliput, era a primeira<br />

vez que ficava em pé. [...] Do alto, a visão geral<br />

era emocionante: os campos estendiam-se, divididos<br />

em partes como canteiros de flores; as árvores<br />

mais altas teriam pouco menos que minha<br />

altura; as vacas, carneiros e cavalos pareciam<br />

brinquedos animados.<br />

Quanto à capital do reino, ficava à minha esquerda<br />

e fazia-me lembrar uma cidadezinha de<br />

presépio. […]<br />

Foi nesse dia que o rei decidiu deixar a torre,<br />

que até agora fora seu posto de observação,<br />

para examinar-me mais de perto. […] Andando<br />

em volta de mim, o monarca estava muito admirado.<br />

Percebi, contudo, que sempre se mantinha<br />

onde as correntes não me deixariam alcançá-lo.<br />

Começou então a falar, mas não entendi<br />

uma palavra do que dizia. Tentei expressar-me<br />

em diversas línguas: inglês, holandês, francês,<br />

português, espanhol, italiano. Foi inútil.<br />

Após umas duas horas, a corte retirou-se. Permaneceu<br />

apenas uma guarda especial, a fim de<br />

proteger-me da multidão que estava impaciente<br />

para aproximar-se. Não podendo fazê-lo, alguns<br />

tiveram o desplante de começar a atirar flechas.<br />

E quase acertaram o meu olho esquerdo. Então o<br />

comandante da guarda mandou que agarrassem<br />

seis dos mais impertinentes e os empurrassem<br />

com as pontas das lanças até onde eu pudesse<br />

pegá-los. Coloquei cinco no bolso do meu casaco<br />

e fingi que ia comer o sexto vivo. O homem<br />

gritava desesperadamente. Porém, logo soltei o<br />

P35


prisioneiro, pondo-o no chão, e ele correu para<br />

bem longe. Fiz exatamente a mesma coisa com<br />

os outros cinco, tirando um a um do bolso, […] todos<br />

que assistiam à cena se emocionaram com<br />

esse ato de clemência. Mais tarde esse fato iria<br />

interceder a meu favor na corte: para eles, era<br />

uma demonstração de bondade da minha parte<br />

não ter devorado seus conterrâneos.<br />

A notícia de minha existência logo se espalhou<br />

por todo o reino. Então, as pessoas ricas,<br />

ociosas, ou simplesmente curiosas resolveram<br />

vir ver-me. As cidades ficaram quase vazias, as<br />

lavouras, negligenciadas, e os negócios, abandonados.<br />

Diante disso, o rei proclamou que todos<br />

os que já haviam me visto deviam voltar para<br />

seus lares e que ninguém mais poderia chegar<br />

perto de minha casa, a não ser com licença da<br />

corte. Foi nessa época que alguns secretários<br />

do governo enriqueceram rapidamente, arranjando<br />

licenças especiais.<br />

Quem me contou tudo isso, tempos depois,<br />

foi um dos homenzinhos, que se tornou meu amigo.<br />

Como ocupava um alto cargo — era ministro<br />

— estava a par dos segredos da corte. Disse-<br />

-me também que o soberano se reunia frequentemente<br />

com seus ministros para tentar decidir<br />

qual seria o meu destino. […]<br />

10. Um eterno enigma<br />

Foi difícil convencer o rei a permitir minha<br />

partida. […] Minha fuga seria um eterno enigma<br />

para o soberano e para o povo de Lilliput.<br />

Na tarde do terceiro dia, em mar alto, quando<br />

já quase se esgotavam minhas provisões e minha<br />

esperança, avistei, vindo em minha direção,<br />

o mastro alto de um grande navio onde tremulava<br />

a bandeira da Inglaterra.<br />

P36<br />

SWIFT, J. As viagens de Gulliver. Trad. Claudia Lopes.<br />

8. ed. São Paulo: Scipione. Série Reencontro, 1993.<br />

1. Explique o sentido das palavras a seguir, de<br />

acordo com o contexto da narrativa que você leu.<br />

Burburinho:<br />

Interceder:<br />

Clemência:<br />

Conterrâneo:<br />

Negligenciado:<br />

Ocioso:<br />

Decreto:<br />

Unguento:<br />

Uníssono:<br />

Burburinho: barulho de vozes.<br />

Interceder: intervir, intrometer-se, resolver<br />

para alguém.<br />

Clemência: perdão.<br />

Conterrâneo: pessoa que nasce no mesmo lugar<br />

de outra.<br />

Negligenciado: largado.<br />

Ocioso: sem fazer nada.<br />

Decreto: parte de uma lei.<br />

Unguento: pasta usada como remédio; pomada.<br />

Uníssono: todos falando ao mesmo tempo, em<br />

uma só voz.<br />

2. Em outros textos que lemos durante este bimestre,<br />

o narrador das aventuras é sempre em terceira<br />

pessoa, ou seja, encontra-se fora dos acontecimentos.<br />

Nesse, a narração ocorre em primeira pessoa: o<br />

próprio Gulliver conta a história. Transcreva um trecho<br />

do texto que comprove essa afirmação.<br />

“eu embarcara”.<br />

3. Para que Gulliver embarca no veleiro: por trabalho<br />

e/ou aventura? E sua esposa, o que pensava<br />

disso? O que você pensa dessa decisão?<br />

Por aventura, embora também estivesse a trabalho,<br />

unindo o útil ao agradável.


Professor: Explique aos alunos que, em meados<br />

do século XVII até o XIX, Inglaterra e França tornaram-se<br />

países tão importantes na navegação quanto<br />

Portugal e Espanha séculos antes. Ingleses e franceses<br />

se lançavam em aventuras em alto-mar, buscando<br />

lugares remotos e ainda desconhecidos e riquezas.<br />

Esse fato deu origem a centenas de obras em<br />

que os personagens são náufragos, como é o caso<br />

de Robinson Crusoé.<br />

4. Após o naufrágio, Gulliver acordou em Lilliput,<br />

uma terra de pequeninos. Que armas possuíam tais<br />

pessoas e como fizeram para prendê-lo?<br />

Possuíam flechas e lanças, amarraram o corpo<br />

todo de Gulliver ao chão utilizando ganchos e linhas.<br />

5. A diferença é algo que percebemos sempre que<br />

saímos de nosso lugar ou que temos algo em nossa<br />

aparência ou atitude que nos faz ser notados pelos<br />

outros. Isso não é ruim, aprendemos com as diferenças.<br />

Felini tornou-se um gato do tamanho de um boi.<br />

Alice era considerada “obtusa” pela Tartaruga.<br />

a) Para mostrar como viam Gulliver, que nome os<br />

liliputianos deram a ele?<br />

Podemos inferir pelo título do capítulo que o<br />

nome dado a Gulliver era Homem-Montanha.<br />

b) De que país vinha Gulliver? Qual era sua na-<br />

cionalidade?<br />

Da Inglaterra. Deduzimos isso quando ele<br />

avista a bandeira inglesa na fuga e quando, antes,<br />

avisa de que porto está saindo em viagem: Bristol.<br />

Portanto, Gulliver era inglês.<br />

6. Tanto Gulliver como os liliputianos pareciam<br />

assustados com suas diferenças de tamanho. Mesmo<br />

que o tamanho seja diferente, a organização social<br />

de Lilliput era bem parecida com a da Inglaterra.<br />

Qual era a forma de governo? Havia exército?<br />

A monarquia, com rei e corte, assim como havia<br />

também os ministros. Sim, pois os soldados do<br />

exército é que mantinham Gulliver vigiado.<br />

7. Além do tamanho, outra diferença era a língua.<br />

Os liliputianos falavam uma língua desconhecida.<br />

Retorne ao texto e sugira uma possível tradução<br />

para as três frases, de acordo com o contexto.<br />

Sugestão: 1. “O Homem-Montanha acordou”.<br />

2. “Atirem as flechas”. 3. “Cuidem dos ferimentos”.<br />

8. Você se recorda que a Rainha de Copas em<br />

Alice no País das Maravilhas mandava matar todo<br />

mundo. Você percebeu algo de semelhante em Lilliput?<br />

Comente.<br />

Sim, há pena de morte decretada pelo rei para<br />

quem se aproximar de Gulliver; assim como na história<br />

de Alice, os monarcas mandam e desmandam.<br />

Professor: Retome a questão do texto como crítica<br />

social à época (ou a hoje, como preferir, observe<br />

a biografia de Swift nas notas), pergunte a eles se a<br />

pena de morte não seria algo demasiado forte para<br />

este tipo de transgressão: querer ver o estrangeiro<br />

gigante. Relacione tal questão a temas atuais.<br />

9. Em determinado momento, a presença de<br />

Gulliver tumultua a vida no reino, porque as pessoas<br />

começam a vir de longe para vê-lo e com isso<br />

param de trabalhar. O rei baixa um decreto dizendo<br />

que só quem tiver uma “licença especial” poderá<br />

ver Gulliver. Quem se aproveita de tal situação?<br />

Que nome damos a essa situação e atitude?<br />

Os secretários do governo, do reino, que enriquecem<br />

vendendo as licenças. Chamamos de burocracia<br />

e corrupção.<br />

10. O número de dez episódios e o fato de o narrador<br />

dizer várias vezes que “depois ficou sabendo”<br />

nos levam a imaginar que Gulliver permaneceu em<br />

Lilliput por algum tempo?<br />

Sim.<br />

Professor: Caso os alunos tenham curiosidade,<br />

conte a eles que a estada de Gulliver foi de dois<br />

meses, segundo deduzimos por meio da segunda<br />

parte da narrativa de Swift.<br />

11. Em determinado momento da narrativa, as<br />

pessoas tentam agredir Gulliver. Por que você<br />

acha que elas agiram assim? É o mesmo motivo<br />

pelo qual Felini passou a ser um monstro para<br />

gatos e vacas?<br />

As pessoas tendem a reagir agressivamente<br />

diante do desconhecido ou também podem assumir<br />

uma postura de exclusão, como foi o caso de Felini.<br />

12. E você já se sentiu como um estrangeiro em<br />

algum lugar? Por que motivos? Discuta com seus<br />

colegas e anote suas conclusões.<br />

Resposta pessoal<br />

Professor: Discuta com a classe sobre viagens<br />

que fizeram, pessoas que têm sotaque diferente ou<br />

até mesmo estrangeiros que eles tenham conhecido<br />

em nosso país e cuja língua não entenderam. Aproveite<br />

para levantar questões sobre as diferenças físicas<br />

que a puberdade começa a provocar quando<br />

estão em meio ao sexto ano (11 anos). Como se<br />

sentem crescendo e ficando com o corpo diferente?<br />

Como Alice? Lembre-se de que a “conversa sobre<br />

o texto” é um momento importante para relacionar<br />

as atividades com as vivências cotidianas de cada<br />

um, assim compartilhadas.<br />

P37


Para continuar<br />

Conceito/conexão<br />

Pronomes<br />

Neste capítulo, estudaremos pronomes. Para<br />

começar, compare os exemplos a seguir:<br />

Uma vaquinha tão pequena que não chegava<br />

aos calcanhares de Felini.<br />

Ela era tão pequena que não lhe chegava<br />

aos calcanhares.<br />

Note que, na segunda frase, a palavra “ela” se refere<br />

a “uma vaquinha” e substitui essa palavra, porque,<br />

pelo contexto, conseguiríamos saber de quem/que se<br />

fala. A palavra “lhe” substitui “Felini”.<br />

Felini já se sentia tão à vontade naquele lugar<br />

como na sua própria aldeia.<br />

Ele estava tão à vontade como se estivesse<br />

na sua própria aldeia.<br />

Nesse outro exemplo, “ele” substitui novamente<br />

“Felini”. Observe que a palavra “sua” apenas acompanha<br />

o substantivo “aldeia”, não a substitui.<br />

Palavras que substituem ou acompanham,<br />

principalmente substantivos, são chamadas de<br />

pronomes.<br />

Quando um pronome substitui uma palavra,<br />

chamamos de pronome substantivo, como os do<br />

primeiro exemplo.<br />

No entanto, há também os pronomes adjetivos,<br />

que acompanham outra palavra, como “sua”<br />

acompanha a palavra “aldeia”.<br />

Os pronomes têm uma função muito importante<br />

na construção de um texto. São eles que fazem as<br />

ligações e as substituições, promovendo a “coesão”,<br />

ou seja, dando sentido para aquilo que está sendo<br />

dito ou escrito. Leia esta sequência:<br />

O grito dela atraiu os outros animais. Todos<br />

o olhavam com horror. Os gatos já não o aceitavam<br />

— ele deixara de ser um gato. As vacas<br />

fugiam ao vê-lo.<br />

As palavras destacadas são pronomes e têm<br />

como função, além de acompanhar, evitar a repetição<br />

de termos dos quais já se falou na narrativa,<br />

isto é, os pronomes estão fazendo as ligações que<br />

chamamos de “coesão”.<br />

Veja: a quem se refere o termo “dela”? Refere-se<br />

ao grito de quem? Da vaca. O substantivo “vaca” foi<br />

P38<br />

substituído pelo pronome “ela”. Já o pronome “outros”<br />

acompanha o substantivo “animais”.<br />

E os pronomes “o” e “ele”, nesse contexto, referem-se<br />

a qual personagem?<br />

Ao gato Felini.<br />

Classificação dos pronomes<br />

Há vários tipos de pronomes: os pessoais, os<br />

demonstrativos, os possessivos, os interrogativos,<br />

os indefinidos e os relativos.<br />

Pronome pessoal<br />

Para mostrar as pessoas do discurso, ou seja,<br />

as três pessoas que participam das situações de<br />

comunicação, usamos os pronomes pessoais, divididos<br />

em retos e oblíquos:<br />

Primeira<br />

pessoa do<br />

singular<br />

Segunda<br />

pessoa do<br />

singular<br />

Terceira<br />

pessoa do<br />

singular<br />

Primeira<br />

pessoa do<br />

plural<br />

Segunda<br />

pessoa do<br />

plural<br />

Terceira<br />

pessoa do<br />

plural<br />

Retos Oblíquos<br />

eu<br />

me, mim,<br />

comigo<br />

tu te, ti, contigo<br />

ele/ela<br />

o, a, lhe, se,<br />

si, consigo<br />

nós nos, conosco<br />

vós vos, convosco<br />

eles/elas<br />

os, as, lhes,<br />

se, si, consigo<br />

Quando nos comunicamos, temos três pessoas<br />

do discurso envolvidas:<br />

• aquele que fala: primeira pessoa do singular<br />

ou plural;<br />

• com quem se fala: segunda pessoa do singular<br />

ou plural;<br />

• de quem/que se fala: terceira pessoa do singular<br />

ou plural.<br />

O narrador de País dos Contrários começou o<br />

texto assim:


Quero que conheçam este gato. Chama-se<br />

Felini e, acreditem, não se parece com nenhum<br />

outro. Falo-vos de um gato…<br />

Observe que o pronome “eu” (primeira pessoa<br />

do singular) diz respeito a quem conta, ou seja, o<br />

narrador/locutor que se dirige a nós seus ouvintes/<br />

leitores.<br />

Você observou que o pronome “eu” não foi escrito?<br />

Então, como sabemos qual é a pessoa do<br />

discurso, nesse caso?<br />

Porque observamos os verbos: “quero” e “falo”<br />

(eu falo, tu falas, ele fala, nós falamos, vós falais,<br />

ele falam).<br />

Em: “falo-vos”, o pronome “vos” (segunda pessoa<br />

do plural) refere-se a quem ouve/lê a narrativa.<br />

Se falarmos de uma terceira pessoa do discurso<br />

(ele), podemos usar o pronome oblíquo “se” junto<br />

de alguns verbos: “chama-se” ou “não se parece”,<br />

como vimos no exemplo.<br />

Às vezes, os pronomes oblíquos o, a, os, as podem<br />

assumir um jeito modificado (lo, la, los, las)<br />

quando estão perto do verbo. Isso ocorre após as<br />

formas verbais terminadas em -r, -s ou -z. Veja:<br />

As vacas fugiam ao vê-lo. (ver)<br />

A mãe foi procurá-lo. (procurar)<br />

Também pode acontecer com as formas verbais<br />

terminadas em sons nasais, tais como: -am, -em,<br />

-õe… Nesse caso, usamos no, na, nos, nas:<br />

Em sua aldeia, incomodavam-no.<br />

Agora tente você: leia os trechos, grife os pronomes<br />

pessoais e depois anote se são pronomes<br />

retos ou oblíquos.<br />

Felini olhou-a desesperado.<br />

A vaquinha, porém, olhou-o com um susto.<br />

… lá encontraria quem o aceitasse sem estranheza…<br />

… mas depois habituas-te.<br />

Chamo-me Felini.<br />

E tu?<br />

Meu filho, perguntou-lhe — Quem é essa<br />

gata?<br />

Grifar: a (oblíquo), o (oblíquo), o (oblíquo), te<br />

(oblíquo), me (oblíquo), tu (reto), lhe (oblíquo).<br />

Professor: Faça a ressalva sobre os pronomes<br />

retos implícitos: eu (chamo), ele (encontraria), tu<br />

(habituas), ela (perguntou).<br />

Também ressalte que “o” e “a”, em alguns casos<br />

acima, não são artigos e sim pronomes. Anote na<br />

lousa: “A vaquinha, porém, olhou-o com um susto”.<br />

e demonstre que “a” é um artigo que acompanha o<br />

substantivo “vaquinha”, assim como “um” acompanha<br />

“susto”; já “o” substitui “Felini”, por isso é pronome.<br />

Faça isso sempre que na frase ocorrer um artigo,<br />

ensinando à classe como distingui-lo do pronome.<br />

Mais dois exercícios: agora circule os artigos,<br />

grife os pronomes pessoais oblíquos e preencha o<br />

espaço com um pronome reto.<br />

Os gatos grandes davam-lhe palmadas nas<br />

costas: “ tens mais boca que barriga”.<br />

Os colegas troçavam dele.<br />

Circular: “os” acompanhando o substantivo “gatos”;<br />

“os” acompanhando o substantivo “colegas”.<br />

Professor: Destaque o uso da combinação em<br />

+ as = nas, assim como a combinação da preposição<br />

+ pronome reto = dele.<br />

Grifar: “lhe”, pronome oblíquo referindo-se a<br />

Felini.<br />

Preencher com tu (tens), pronome reto que estava<br />

de forma implícita.<br />

Como queres que uma vaca grande<br />

se interesse por ti? Era esse o problema? […] A partir<br />

desse dia, começou a pastar…<br />

Preencher com “tu” (queres) e “ele” (começou),<br />

pronomes retos.<br />

Grifar: “se”, oblíquo (usado no texto pela mãe do<br />

gato) que se refere ao Felini; “ti”, oblíquo de segunda<br />

pessoa, que também se refere ao Felini.<br />

Circular o artigo “o” antes da palavra “problema”.<br />

Professor: Novamente faça a ressalva sobre a<br />

palavra “a” nesse trecho: não é nem pronome, nem<br />

artigo, mas uma preposição: “a partir”, “a pastar”.<br />

Demonstre que a preposição não está acompanhando,<br />

substituindo ou definindo, mas fazendo<br />

uma junção de sentido com o verbo.<br />

Recomendamos que volte aos textos deste capítulo<br />

e mostre outras situações em que haja pronomes<br />

com função de substantivo e adjetivo. Não<br />

P39


trataremos, durante o sexto ano, das regras de uso<br />

de acordo com a posição do pronome oblíquo (próclise,<br />

mesóclise, ênclise) por entendermos que é<br />

prioritário para o aluno dessa série inferir sobre as<br />

substituições e adotá-las na sua escrita cotidiana,<br />

escrevendo um texto de maneira coesa. Caso haja<br />

possibilidade, faça como situação complementar,<br />

consultando uma gramática.<br />

Entre os pronomes pessoais também temos as<br />

formas de tratamento, usadas para determinadas<br />

situações sociais.<br />

As mais comuns são “você” e “senhor”, que devemos<br />

utilizar de acordo com a situação de comunicação<br />

na qual nos envolvemos.<br />

P40<br />

Título<br />

Presidente<br />

da República,<br />

governador,<br />

ministro de<br />

Estado, chefe<br />

da casa civil,<br />

senador,<br />

deputado,<br />

secretário de<br />

Estado, prefeito<br />

Diretor (de estatal,<br />

autarquia etc.)<br />

Formas de tratamento de autoridades<br />

Cabeçalho de<br />

correspondência<br />

Excelentíssimo<br />

Senhor<br />

Civis<br />

Por exemplo, se estamos conversando com alguém<br />

de nossa idade, podemos usar “você”; mas<br />

se estamos falando com alguém mais velho ou que<br />

tem algum grau de autoridade, como nossos pais<br />

ou até mesmo alguém com quem não temos intimidade,<br />

devemos usar a forma “senhor”, por uma<br />

questão de respeito.<br />

Observe como você usa essas palavras em seu<br />

cotidiano: você descobrirá que até o nosso tom de<br />

voz muda, dependendo do interlocutor, ou seja,<br />

daquele com quem estamos falando.<br />

A seguir, observe a tabela do Minidicionário<br />

Houaiss, nela temos outras formas menos comuns<br />

de tratamento; porém, elas são utilizadas em situações<br />

públicas em que precisamos escrever ou falar<br />

com um interlocutor.<br />

Abreviatura<br />

Forma de<br />

referência<br />

Abreviatura<br />

Ex. mo Sr. Vossa Excelência V. Ex. a<br />

Senhor Diretor Sr. Vossa Senhoria V.S.<br />

Vereador Senhor Vereador Sr. Vossa Excelência V. Ex. a<br />

Cônsul Ilustríssimo<br />

Senhor Cônsul<br />

Reitor Magnífico Senhor<br />

Cônsul<br />

Título<br />

Desembargador,<br />

promotor, curador<br />

Juiz<br />

Cabeçalho de<br />

correspondência<br />

Il. mo Sr. Vossa Excelência V. Ex. a<br />

Il. mo Sr.<br />

Judiciárias<br />

Abreviatura<br />

Vossa<br />

Magnificência<br />

Forma de<br />

referência<br />

V. Mag. a<br />

Abreviatura<br />

Excelentíssimo Senhor Ex. mo Sr. Vossa Excelência V. Ex. a<br />

Excelentíssimo<br />

Senhor Juiz<br />

Ex. mo Sr. Meritíssimo MM.


Título<br />

Oficiais generais ou<br />

comandantes (até<br />

coronel ou capitão<br />

de mar e guerra)<br />

Demais patentes<br />

Título<br />

Formas de tratamento de autoridades<br />

Cabeçalho de<br />

correspondência<br />

Excelentíssimo<br />

Senhor (patente)<br />

Ilustríssimo Senhor<br />

(patente)<br />

Cabeçalho de<br />

correspondência<br />

Militares<br />

Abreviatura<br />

Ex. mo Sr.<br />

(patente)<br />

Forma de<br />

referência<br />

Abreviatura<br />

Vossa Excelência V. Ex. a<br />

Il. mo Sr. (patente) Vossa Senhoria V. S.<br />

Eclesiásticas<br />

Abreviatura<br />

Forma de<br />

referência<br />

Abreviatura<br />

Papa Santíssimo Papa S. S. Sua Santidade S. S.<br />

Cardeal Eminentíssimo Sr. Em. mo Sr.<br />

Arcebispo, bispo Reverendíssimo Senhor Rev. mo Sr.<br />

Abade, cônego,<br />

monsenhor,<br />

sacerdote,<br />

superior de ordem<br />

religiosa e demais<br />

autoridades<br />

Título<br />

Reverendíssimo Senhor Rev. mo Sr.<br />

Cabeçalho de<br />

correspondência<br />

Monárquicas<br />

Abreviatura<br />

Vossa Eminência<br />

Reverendíssíma<br />

Vossa Excelência<br />

Reverendíssima<br />

Vossa<br />

Reverendíssima<br />

Forma de<br />

referência<br />

V. Em. Rev. ma<br />

V. Ex. Rev. ma<br />

V. Rev. ma<br />

Abreviatura<br />

Rei, rainha Sua Majestde (Real) S.M.(R.) Vossa Majestade V.M.<br />

Imperador,<br />

imperatriz<br />

Príncipe, princesa<br />

Título<br />

Sua Majestade Imperial S.M.I. Vossa Majestade V.M.<br />

Sua Alteza<br />

(Cristianíssima,<br />

Fidelíssima, Imperial,<br />

Real ou Sereníssima)<br />

Cabeçalho de<br />

correspondência<br />

S.A. (S.A.C.,<br />

S.A.F., S.A.I.,<br />

S.A.R., S.A.S.)<br />

Formas de tratamento de autoridades<br />

Diversas<br />

Abreviatura<br />

Vossa Alteza V.A.<br />

Forma de<br />

referência<br />

Abreviatura<br />

Dom Digníssimo Dom Dig. D. Vossa Senhoria V.S.<br />

Doutor Senhor Doutor Sr. Dr. Doutor Dr.<br />

Professor Senhor Professor Sr. Prof. Professor Prof.<br />

Comendador Senhor Comendador Sr. Com. Comendador Com.<br />

P41


Agora retome a tabela para saber qual forma de<br />

tratamento usar no cabeçalho de uma carta, caso<br />

tivesse que escrever para:<br />

• a Rainha de Copas, anunciando a chegada<br />

de Alice ao País das Maravilhas:<br />

Majestade<br />

• o gato Felini, como se fosse a vaquinha<br />

Graciosa:<br />

tu<br />

Professor: Sugerimos “tu” porque o texto em<br />

questão está escrito na variedade do português<br />

angolano. Assim, alguns alunos podem responder<br />

“você” já que utilizam a variante do português<br />

brasileiro.<br />

• a esposa de Gulliver, dizendo que seu barco<br />

naufragou:<br />

senhora<br />

• o vereador de seu bairro, fazendo uma reclamação<br />

sobre o asfalto esburacado:<br />

Senhor Vereador<br />

Os pronomes no cotidiano<br />

Você notou que no texto do gato Felini, o pronome<br />

tu é bastante usado?<br />

Isso ocorre porque, em alguns países de língua<br />

portuguesa, essa é a forma mais comum de uso: a<br />

segunda pessoa (tu), assim como em alguns estados<br />

brasileiros.<br />

O falante da língua deve utilizar os pronomes<br />

“tu” e “você” de acordo com sua variante linguística,<br />

como já vimos no primeiro bimestre. As duas<br />

formas são válidas. O importante é que se faça a<br />

concordância adequadamente:<br />

P42<br />

Eu me chamo Felini. E você?<br />

Chamo-me Felini. E tu?<br />

E na sua região, qual é o uso mais comum: tu ou<br />

você? Discuta com seus colegas. Anote exemplos<br />

de frases usadas em seu cotidiano que tenham esses<br />

pronomes.<br />

Resposta pessoal<br />

Pronome possessivo<br />

Os pronomes possessivos indicam as relações<br />

de posse entre as pessoas do discurso:<br />

Pronomes<br />

retos<br />

Pronomes possessivos<br />

Eu meu, minha, meus, minhas<br />

Tu teu, tua, teus, tuas<br />

Ele seu, sua, seus, suas<br />

Nós nosso, nossa, nossos, nossas<br />

Vós vosso, vossa, vossos, vossas<br />

Eles seu, sua, seus, suas<br />

Observe o exemplo:<br />

O gato contou-lhe as suas aventuras.<br />

O pronome destacado é um possessivo de<br />

terceira pessoa do plural, porque refere-se ao<br />

substantivo “aventuras”, por isso está no plural e<br />

no feminino. Nesse caso, concorda com a coisa<br />

possuída.<br />

— Meu filho, — perguntou-lhe, — Quem é<br />

essa gata?<br />

Nesse exemplo, temos a primeira pessoa do<br />

discurso (meu) para indicar posse; “filho” é a coisa<br />

possuída, mas o uso aqui é determinado pelo<br />

valor afetivo que damos a essa forma, como em:<br />

“Meu Deus!”<br />

Agora você: circule o pronome possessivo e indique<br />

o possuidor e a coisa possuída.<br />

Felini passou a andar pelos telhados, gemendo<br />

tristemente o seu amor.<br />

Circular: seu (terceira pessoa do discurso),<br />

possuidor = Felini, possuído: amor.<br />

Nas tabelas com as formas de tratamento, também<br />

temos o uso dos pronomes possessivos, como<br />

forma de referência. Leia esta fala:<br />

— Vossa Alteza, o embaixador do Brasil deseja<br />

uma reunião para discutirem os pormenores<br />

do acordo.<br />

O pronome “vossa” acompanha a forma de tratamento<br />

“Alteza” usada para príncipes e princesas,<br />

porque se fala diretamente com ele, por isso, segunda<br />

pessoa do discurso.<br />

Note que a pessoa do discurso muda conforme<br />

a situação: se falarmos sobre o príncipe, então teremos<br />

o uso da terceira pessoa:<br />

Sua Alteza concordou com a reunião.


Para continuar<br />

Além do texto<br />

Peter Pan<br />

Morava em Londres, capital da Inglaterra,<br />

uma família chamada Darling. Lá as famílias<br />

também são conhecidas pelos sobrenomes. O<br />

sr. e a sra. Darling tinham três filhos: Wendy, a<br />

menina, era a mais velha; no meio vinha o João;<br />

Miguel era o caçula.<br />

As crianças tinham um quarto de dormir muito<br />

bonito, à maneira inglesa, com figuras engraçadas<br />

e bichinhos de feltro arrumados em todos<br />

os cantos. […]<br />

Havia no quarto agora uma luz, mil vezes<br />

mais brilhante, revoando velozmente por todos<br />

os cantos, entrando e saindo por todas as gavetas<br />

antes que alguém pudesse dizer ui.<br />

Um segundo depois a janela se abria e Peter<br />

Pan entrava. […]<br />

— Sininho, Sininho, onde você está?<br />

Ela estava no momento dentro de uma jarra,<br />

adorando, pois era a primeira vez que entrava<br />

em uma.<br />

— Ora, Sininho, saia logo aí de dentro e me<br />

diga se achou minha sombra.<br />

Sininho havia dito que a sombra estava na<br />

caixa grande, pretendendo dizer que estava no<br />

gavetão do armário. Peter Pan pulou lá dentro e<br />

começou a jogar as coisas todas para fora. […]<br />

Achou logo a sombra e, de pura alegria, nem<br />

percebeu que fechou a gaveta, prendendo Sininho<br />

lá dentro.<br />

Ficou foi muito desapontado quando viu que<br />

a sombra não se colou a ele imediatamente. E<br />

a sombra estava também um pouco amassada.<br />

Tentou colá-la com o sabonete do banheiro,<br />

mas não deu certo. Todo desconsolado, Peter<br />

Pan sentou-se no chão e começou a soluçar.<br />

Os soluços acordaram Wendy, que se sentou<br />

na cama […], achando tudo muito divertido, perguntou:<br />

— Por que está chorando, menino?<br />

Peter Pan levantou-se, com inesperada educação,<br />

e fez para ela uma reverência. Da cama,<br />

muito satisfeita com o gentil cumprimento, Wendy<br />

também inclinou a cabeça.<br />

— Qual é o seu nome? — perguntou ele.<br />

— Wendy Linda Angela Darling — ela respondeu<br />

com certo orgulho. — E o seu?<br />

— Peter Pan.<br />

— Peter Pan de quê?<br />

— Peter Pan de nada — respondeu ele, meio<br />

aborrecido, pois pela primeira vez percebeu que<br />

seu nome era muito pequeno.<br />

— Me desculpe.<br />

— Deixe isso pra lá.<br />

— Onde você mora?<br />

— Dobrando a primeira rua à direita, siga em<br />

frente até o nascer do dia.<br />

— Que endereço mais gozado!<br />

— Não tem nada de gozado. Eu não acho.<br />

[…]<br />

— É esse o endereço que os outros escrevem<br />

nas cartas?<br />

— Que cartas?! — Peter Pan replicou, com<br />

desprezo.<br />

— Nunca recebeu uma carta?<br />

— Nunca.<br />

— Mas sua mãe não recebe cartas?<br />

— Que mãe?!<br />

— Você não tem mãe?<br />

— Nem pai. […] Estava chorando porque<br />

não consigo colar a minha sombra no meu corpo.<br />

Aliás, eu não estava chorando coisa nenhuma!<br />

— Uai, ela descolou? — perguntou Wendy.<br />

— Descolou, olha aí?<br />

— Que horror! — exclamou sem poder disfarçar<br />

o riso. […] Os homens não entendem<br />

nada dessas coisas, uf! É preciso costurar a<br />

sombra.<br />

— Que coisa é essa?<br />

— Como você é ignorante!<br />

— Não sou ingnorante coisa nenhuma!<br />

— É capaz de doer um pouquinho — avisou.<br />

— Pode doer, eu não choro — Em pouco<br />

tempo sua sombra já estava arranjadinha, embora<br />

um pouquinho amarrotada. […]<br />

P43


Então, ele falou com jeito irresistível:<br />

— Wendy, qualquer menina vale mais do<br />

que vinte meninos.<br />

[…]<br />

— Quantos anos você tem, Peter?<br />

— Não sei. Só sei que sou muito jovem.<br />

De fato ele não sabia nada a esse respeito.<br />

— Wendy, fugi de casa no dia em que nasci.<br />

— No dia em que nasceu! […] Conte pra<br />

mim!<br />

— Foi porque — Peter Pan começou a falar<br />

baixinho — ouvi mamãe e papai conversando<br />

sobre mim, quando eu fosse grande. Eu não<br />

queria ficar grande de jeito nenhum! Queria ficar<br />

sempre criança para brincar o tempo todo.<br />

Foi por isso que fugi para o parque da cidade e<br />

vivi lá muito tempo na companhia das fadas.<br />

Wendy ficou até meio tonta ao ouvir isso. […]<br />

E desandou a fazer uma cascata de perguntas.<br />

Mas todas as perguntas se resumiam nisso:<br />

como são as fadas?<br />

— Quando a primeira criança do mundo deu<br />

uma risada, surgiu a primeira fada.<br />

— Ah, quer dizer que deve existir uma fada<br />

para cada criança que existe no mundo?<br />

— Devia, mas não existe.<br />

— Como assim?<br />

— Muito simples. Há muitas crianças que<br />

não acreditam nas fadas. Quando um garoto<br />

ou uma garota diz: “Eu não acredito em fada”,<br />

morre uma fada. Entendeu? Wendy, aposto que<br />

prendi Sininho lá dentro.<br />

Abriu a gaveta e Sininho saiu voando, furiosa,<br />

dizendo coisas.<br />

Sentados ambos na poltrona, os dois continuaram<br />

a conversar.<br />

— Mas onde você passa a maior parte do<br />

tempo?<br />

— Com os meninos perdidos.<br />

— Meninos perdidos?<br />

— Meninos que caem dos carrinhos quando<br />

as babás estão olhando para outro lado. Se<br />

não são reclamados em sete dias, são enviados<br />

para a Terra do Nunca. Sou o chefe lá.<br />

— Deve ser um estouro!<br />

— É, é mesmo. Só tem uma coisa: lá não<br />

temos companheiras, só companheiros.<br />

— Não há garotas?<br />

— Nem uma! Garota é sempre esperta demais<br />

para cair do carrinho.<br />

Wendy ficou cheia de si ao ouvir isso […].<br />

— Sabe? Eu não sei histórias. Os meninos<br />

perdidos não sabem histórias.<br />

P44<br />

— Que coisa horrível!<br />

— Você sabe por que as andorinhas fazem<br />

os ninhos perto das janelas das casas? É para<br />

ouvir histórias. Sua mãe outro dia estava contando<br />

uma história tão bonita.<br />

— Qual?<br />

— Aquela do príncipe que não encontrou a<br />

moça que usava sapatinho de vidro.<br />

— Ora, Peter Pan, Cinderela! E ele acabou<br />

achando Cinderela e foram felizes para sempre.<br />

Peter Pan ficou tão alegre que se levantou e<br />

correu para a janela.<br />

— Aonde você vai? — gritou-lhe Wendy.<br />

— Vou contar para os outros meninos.<br />

Peter agarrou a garota e começou a arrastá-<br />

-la para a janela.<br />

— Solte-me! — ela ordenou, com voz zangada.<br />

— Wendy, venha comigo contar histórias<br />

para os outros.<br />

— Infelizmente, não posso: e mamãe?! Além<br />

disso, não sei voar.<br />

— Mas eu ensino!<br />

— Oba!<br />

— Wendy, escute aqui: em vez de dormir feito<br />

boba nesta cama, você devia estar comigo<br />

voando nas costas dos ventos.<br />

— Oba!<br />

— E as sereias, Wendy?!<br />

— Sereias? Com caudas?<br />

— Caudas enormes.<br />

— Ah, se eu visse uma sereia!<br />

O papo de Peter Pan estava colando bem.<br />

— Wendy, nós todos obedeceríamos a<br />

você.<br />

— É mesmo?<br />

— E podia costurar nossas roupas e fazer<br />

bolsos para nós. Nós não temos bolsos.<br />

Como resistir?<br />

— É uma coisa louca! Peter, você pode também<br />

ensinar João e Miguel a voar?<br />

Parecia facílimo voar. Os garotos tentaram<br />

fazer o mesmo, primeiro do chão, depois das<br />

camas. Mas foram para baixo e não para cima.<br />

— Como é que é, Peter Pan? — perguntou<br />

João, esfregando o joelho.<br />

— Simples: primeiro você pensa tudo o que<br />

há de melhor para pensar, são esses pensamentos<br />

que fazem a gente voar.<br />

Ninguém sabia voar um palmo. Estaria Peter<br />

Pan zombando deles? Acho que sim. Pois só<br />

voaram depois que Peter soprou um pouco do<br />

pó das asas de Sininho sobre eles. […]


O sr. e a sra. Darling estavam exatamente<br />

cruzando a rua, de olhos fixos na janela do<br />

quarto das crianças, quando viram três figurinhas<br />

por meio da cortina, três figurinhas em<br />

roupas de dormir.<br />

— Três não! Quatro!<br />

Trêmulos, abriram a porta da rua. Correram<br />

para a escada. Não chegaram a tempo.<br />

BARRIE, James M. Peter Pan. 13. ed. Trad. de Paulo<br />

Mendes Campos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001, p. 7-25.<br />

1. Em que espaço se passa o encontro de Wendy<br />

e Peter Pan?<br />

Passa-se no quarto de dormir dela e de seus<br />

irmãos, em Londres, na Inglaterra.<br />

2. Por qual motivo Peter Pan vai ao quarto de<br />

Wendy?<br />

Porque perdeu sua sombra que está dentro de<br />

uma gaveta no quarto das crianças.<br />

3. Peter Pan está acompanhado de sua fada Sininho.<br />

Que características ela possui?<br />

Muita luz, fala, voa e é mal-humorada.<br />

4. De acordo com Peter, ele mora: “Dobrando a<br />

primeira rua à direita, siga em frente até o nascer do<br />

dia”; isso demonstra que ele vem de outras “terras”.<br />

a) Por que você acha que esse lugar recebeu o<br />

nome de “Terra do Nunca”? É um lugar indefinido,<br />

quanto ao tempo ou ao espaço?<br />

A palavra “nunca” se refere ao tempo. Na Terra<br />

do Nunca, as crianças não crescem e sua localização<br />

também demonstra que o espaço também é indefinido.<br />

b) Que ação de Wendy mostra que ela entende<br />

essa diferença?<br />

Peter tenta colar a sombra com sabonete, o<br />

que mostra que ele não sabe para que serve um<br />

sabonete. Wendy, por sua vez, costura a sombra, o<br />

que é algo estranho também. Em nenhum momento,<br />

Wendy se surpreende pelo fato de Peter ter se<br />

descolado de sua sombra.<br />

5. Por que Peter Pan fugiu de casa logo que nasceu?<br />

Para onde ele foi?<br />

Porque ouviu os pais conversarem sobre seu<br />

destino, não gostou disso e foi viver com as fadas<br />

n o p a r q u e.<br />

Professor: Comente o fato de que as famílias,<br />

na época em que a obra foi escrita, tinham o costume<br />

de decidir e fazer planos sobre o destino de<br />

seus filhos, tais como profissão, com quem se casariam,<br />

no que trabalhariam; ressalte que em alguns<br />

momentos a obra faz uma crítica a isso.<br />

Para continuar<br />

Conceito/conexão<br />

Pronomes<br />

Neste momento, aprenderemos um pouco mais<br />

sobre outros tipos de pronomes: os demonstrativos,<br />

os indefinidos e os interrogativos.<br />

Pronomes demonstrativos<br />

Os pronomes demonstrativos são aqueles<br />

que mostram o lugar, a posição ou a identificação<br />

dos seres. Esse jeito de localizar pode<br />

acontecer no espaço, no tempo ou no próprio<br />

texto, fazendo a ligação com as pessoas do discurso.<br />

Suas formas variáveis, ou seja, aquelas que<br />

possuem plural e feminino são: este (primeira<br />

pessoa), esse (segunda pessoa), aquele (terceira<br />

pessoa).<br />

Há também as formas invariáveis, isto é, não fazem<br />

nem plural nem feminino: isto, isso, aquilo.<br />

Os pronomes demonstrativos também podem<br />

se unir a outras palavras, formando, por exemplo:<br />

em + essa = nessa, de + esta = desta, de + aquela<br />

= daquela, a + aquela = àquela.<br />

Os homens não entendem nada dessas<br />

coisas, uf. É preciso costurar a sombra.<br />

Observe os exemplos, quanto ao espaço:<br />

• Wendy, costure esta sombra em mim! (O pronome<br />

esta indica que a sombra está perto da<br />

pessoa que fala — Peter Pan.)<br />

• Wendy, costure essa sombra em mim! (O<br />

pronome essa indica que a sombra está perto<br />

da pessoa com quem se fala — Wendy.)<br />

P45


P46<br />

• Wendy, costure em mim aquela sombra que<br />

deixei no gavetão!!! (O pronome aquela diz<br />

que a sombra está afastada da pessoa que<br />

fala — Peter Pan — e da pessoa com quem<br />

se fala — Wendy.)<br />

Quanto ao tempo, veja alguns exemplos:<br />

• Durante esta noite, Peter Pan procura sua sombra<br />

no quarto das crianças. (O pronome esta<br />

sugere tempo presente, a ação ainda transcorre<br />

no “agora”.)<br />

• Desses tempos, se recordara com saudades do<br />

amigo Peter Pan. (O pronome esses — mais a<br />

palavra de — sugere que a ação ocorreu no<br />

passado da pessoa que fala — Wendy.)<br />

• Naquela noite, Peter Pan procurava sua sombra<br />

no gavetão. (O pronome naquela [em + aquela]<br />

indica que a ação de Peter ocorria em um tempo<br />

afastado, vago, distante do presente.)<br />

Texto com conteúdo:<br />

Professor: Pronomes demonstrativos expressam<br />

referência a uma oposição de espaço, dividido<br />

linguisticamente nos dois campos polares do<br />

eixo falante-ouvinte e num terceiro campo à parte<br />

desse eixo. Transposta a indicação geral no espaço<br />

(dêitica) para indicação particular no próprio<br />

contexto linguístico (anafórica), tem-se o campo<br />

do que vai ser dito no contexto, o do que já foi<br />

dito, e um terceiro campo abrangendo outros contextos.<br />

Há, assim, em português, três espécies de<br />

demonstrativos: (1) este: indicação no âmbito do<br />

falante (uso dêitico) ou no do que vai ser dito no<br />

contexto (uso anafórico); (2) esse: indicação no<br />

âmbito do ouvinte (uso dêitico) ou no que já foi dito<br />

no contexto (uso anafórico); (3) aquele: indicação<br />

de um âmbito exterior ao falante e ouvinte (uso dêitico)<br />

ou exterior ao contexto em que o pronome<br />

se acha (uso anafórico). No uso anafórico, porém,<br />

a estilística interfere frequentemente nessa distribuição<br />

puramente gramatical das formas, dandose<br />

a substituição de esse por este e o emprego<br />

de aquele para uma indicação dentro do contexto,<br />

distanciada do ponto atual da enunciação […].<br />

No português do Brasil, principalmente na fala, há<br />

uma redução dos demonstrativos em dois tipos<br />

apenas, este e esse, gramaticalmente equivalentes,<br />

e estilisticamente diversos como mais enfático<br />

e menos enfático, de um lado, e, de outro lado,<br />

aquele, na base da distinção entre o campo do falante<br />

e tudo o mais.<br />

Adaptado de CÂMARA JR. Mattoso. Dicionário de<br />

filologia e gramática referente à língua portuguesa.<br />

Rio de Janeiro: J. Ozon, 1970, p. 133-134.<br />

No próprio texto, os pronomes podem anunciar<br />

ou resgatar coisas que foram ou serão ditas:<br />

Peter Pan fez apenas isto: colocou um botão<br />

na mão dela.<br />

Mas todas as perguntas se resumiam nisto:<br />

como são as fadas?<br />

De fato, ele não sabia nada a esse respeito.<br />

Nas duas primeiras frases, o demonstrativo<br />

anuncia algo que será dito e explicado; enquanto<br />

na terceira frase, o demonstrativo resgata algo que<br />

já foi dito no próprio texto.<br />

Algumas formas também podem funcionar como<br />

explicação:<br />

Wendy chegou a dizer que daria um beijo nele,<br />

isto é, se ele quisesse.<br />

Os pronomes demonstrativos muitas vezes<br />

substituem gestos físicos e são acompanhados de<br />

uma entonação especial quando falamos, revelando<br />

nossas intenções, sentimentos ou ideias. Observe<br />

os substantivos da caixa e diga que valor afetivo<br />

têm as expressões em destaque:<br />

admiração – indignação – irrelevância<br />

pena – confiança – raiva – medo<br />

surpresa – desagrado – repulsa – consolo<br />

— Deixe isso pra lá. consolo,<br />

irrelevância<br />

— Que coisa é essa? repulsa,<br />

surpresa<br />

— Isso não, isso não! medo,<br />

indignação<br />

— Aquilo sim é que era comida boa! admiração<br />

— Mais esta agora! surpresa,<br />

desagrado<br />

— Isso não se diz pra uma pessoa! pena,<br />

indignação<br />

— Aquele menino me paga! raiva<br />

Pronomes indefinidos<br />

Os pronomes indefinidos são aqueles que<br />

se referem à terceira pessoa do discurso, de maneira<br />

imprecisa, vaga.<br />

Alguns funcionam como substantivos:<br />

algo – alguém – nada – ninguém – outrem<br />

… preferiam fingir que nada estava acontecendo…<br />

Ninguém sabia voar um palmo…


Outros funcionam como adjetivos:<br />

certo – cada<br />

… ela respondeu com certo orgulho… (O pronome<br />

“certo” funciona como adjetivo para o substantivo<br />

“orgulho”)<br />

… deve existir uma fada para cada criança que<br />

existe no mundo… (O pronome “cada” funciona<br />

como adjetivo para o substantivo “criança”)<br />

Mas, na maioria das vezes, os pronomes indefinidos<br />

podem ser tanto substantivos quanto<br />

adjetivos:<br />

algum – bastante – demais – mais – menos<br />

nenhum – outro – pouco – qualquer – qual<br />

que – quanto – tal – tanto – todo – vários<br />

Observe os exemplos com os indefinidos em<br />

destaque:<br />

Eu não queria ficar grande de jeito nenhum.<br />

Queria ficar sempre criança para brincar o tempo<br />

todo.<br />

Havia no quarto agora, uma outra luz…<br />

E depois do sonho, alguma coisa sempre ficava…<br />

Observe também que alguns possuem plural<br />

ou não, ou apenas a forma masculina sem a forma<br />

feminina. O pronome “qualquer” é o que tem uma<br />

regra diferente para o plural — que é feito no meio<br />

da palavra:<br />

Wendy, qualquer menina vale mais do que<br />

vinte meninos.<br />

Wendy, quaisquer meninas valem mais do<br />

que milhões de meninos.<br />

Nos trechos a seguir, circule os pronomes que<br />

você identificar como indefinidos:<br />

Mas ninguém conhecia nenhum Ministério<br />

dos Sonhos…<br />

Reuni todos aqui porque algo precisa ser feito.<br />

… Entrando e saindo por todas as gavetas antes<br />

que alguém pudesse dizer ui…<br />

Algo vai mal na Terra do Nunca, cavalheiros…<br />

Esse negócio não está nada bom!<br />

Não estava nada espantada de ver uma pessoa<br />

chorando no chão do quarto…<br />

Tinha uma certa inclinação para escrever poesia…<br />

Na ordem, circular:<br />

ninguém, nenhum, todos, algo, todas, alguém,<br />

algo, certa<br />

Pronomes interrogativos<br />

Os pronomes interrogativos referem-se<br />

à terceira pessoa do discurso de forma vaga,<br />

imprecisa, assim como os pronomes indefinidos.<br />

Estão presentes nas frases usadas para<br />

formular perguntas diretas ou indiretas.<br />

São eles:<br />

que – quem – qual – quanto<br />

Observe os exemplos:<br />

Que cartas?<br />

Por que não havia meninas por lá?<br />

Quem foi James Barrie?<br />

Qual é o seu nome?<br />

Texto com conteúdo:<br />

Professor: Note que, sobre o exemplo: “Onde<br />

você está?”, Matoso Câmara diz que pertencem<br />

ainda ao quadro dos interrogativos portugueses as<br />

partículas: onde (para lugar), como (para modo) e<br />

quando (para tempo) que secundariamente, em outros<br />

contextos, pertencem à classe dos advérbios,<br />

fazendo parte do grupo de pronomes que só têm a<br />

função de advérbio.<br />

Assim como os pronomes demonstrativos, algumas<br />

vezes os pronomes interrogativos podem<br />

assumir uma forma exclamativa e interrogativa ao<br />

mesmo tempo, revelando um valor afetivo:<br />

— Ah, quantas histórias eu poderia contar<br />

para os meninos perdidos!<br />

Observe que, nesse caso, temos uma pergunta<br />

que é entonada, pela voz da menina Wendy, como<br />

se fosse uma exclamação, indicando admiração<br />

pelo que poderia ser contado.<br />

Agora tente você: observe a frase, indique o pronome<br />

interrogativo e depois diga se no seu uso há<br />

um valor afetivo.<br />

— Que coisa horrível! Pronome interrogativo<br />

= que, valor = pena.<br />

— Coitado, que aborrecimento… idem à resposta<br />

anterior.<br />

P47


Professor: Os pronomes relativos serão retomados<br />

em capítulos do oitavo e nono anos, por julgarmos<br />

ser mais importante para o sexto ano interiorizar os<br />

conceitos em relação aos outros tipos de pronomes,<br />

aqui apresentados. Caso haja possibilidade, você poderá<br />

apresentá-los, sempre indicando no texto as relações<br />

estabelecidas, já que a forma “que” tanto é um<br />

pronome interrogativo, quanto pode ser um pronome<br />

relativo e, muito comumente, poderá apresentar-se<br />

como uma conjunção em nossa língua.<br />

Para finalizar<br />

Professor: Preencha o quadro com os alunos.<br />

Este pode ser um momento de revisão. A resposta dos<br />

alunos pode auxiliar na autoavaliação: você considera<br />

que conseguiu realizar todas as atividades? Quanto<br />

você contribuiu para o conhecimento dos alunos?<br />

Conflito<br />

Provérbio<br />

Pronomes<br />

Adaptação<br />

P48<br />

Conteúdos<br />

Espaço/ambiente<br />

Época/tempo<br />

Variação linguística<br />

Para casa<br />

O que aprendi<br />

no capítulo 10<br />

Leia o texto a seguir, antes de responder às<br />

questões:<br />

Depois de algum tempo, quando viram que<br />

eu não pedia mais carne, apareceu diante de<br />

meus olhos um membro que dava impressão<br />

de ser de alto nível, pela pose majestosa.<br />

Sua Excelência subiu pela parte mais fina da<br />

minha perna direita e caminhou até junto de<br />

meu rosto, acompanhado por uma comitiva de<br />

doze pequeninos; pegou nas credenciais quase<br />

dez minutos, sem dar sinais de cólera, mas<br />

com uma espécie de firme disposição; apontava<br />

seguidamente para um lugar que eu depois<br />

fiquei sabendo que era a Capital e que ficava a<br />

cerca de novecentos metros de distância; era<br />

para lá que Sua Majestade e seu Conselho tinham<br />

decidido que eu devia ser levado. Respondi<br />

com poucas palavras, que não serviram<br />

de nada, e com a mão solta apontei para a que<br />

ainda estava presa (mas por cima da cabeça de<br />

Sua Excelência e com muito cuidado para não<br />

machucá-lo), depois apontei para minha cabeça,<br />

em seguida para meu corpo, indicando que<br />

queria ser solto. Parece que ele me entendeu<br />

bem, pois sacudiu a cabeça em negação e ergueu<br />

as mãos num gesto que significava que eu<br />

devia ser carregado, como todo prisioneiro. No<br />

entanto, fez outros sinais para me comunicar<br />

que eu receberia carne e vinho suficientes, que<br />

teria bom tratamento. Mais uma vez fui tentado<br />

a rebentar as cordas que me prendiam, porém<br />

quando comecei a fazer força para isso senti as<br />

picadas das flechas no rosto e nas mãos, que<br />

aliás já estavam bem machucadas e com alguns<br />

dardos ainda espetados nelas. Ao observar que<br />

o número de meus inimigos aumentara, tratei<br />

de fazê-los entender que podiam dar-me o destino<br />

que bem quisessem.<br />

SWIFT, J. Viagens de Gulliver. Trad. Therezinha<br />

Monteiro Deutsch. Porto Alegre: L & PM, 2005, p. 8.<br />

1. Que tipos de numerais estão grifados ao longo<br />

do excerto?<br />

Numerais cardinais<br />

2. A quem se referem os pronomes destacados<br />

dentro dos retângulos?<br />

Cargo elevado = excelência e ao rei = Majestade<br />

3. Explique a quem se referem os pronomes pessoais<br />

oblíquos em negrito no trecho.<br />

-lo = o homem de cargo elevado<br />

me = ao próprio Gulliver, que narra<br />

-los = inimigos, soldados<br />

4. Esse trecho é de uma outra versão traduzida e<br />

adaptada das Viagens de Gulliver. O que você percebeu<br />

na linguagem: é mais formal do que aquela<br />

que lemos em “O texto no contexto”? Como você<br />

descobriu isso?<br />

Sim, a linguagem é mais formal, porque narra<br />

com mais detalhes e o vocabulário empregado<br />

escolhe palavras (verbos, substantivos, adjetivos)<br />

menos comuns no cotidiano. Por exemplo, nessa<br />

versão foi usada a expressão “alto nível, Excelência”,<br />

na outra foi usado “chefe”.


Professor: Comente com os alunos que essas<br />

alterações ocorrem porque todo texto tem um<br />

público-alvo, mesmo o literário, bem como características<br />

da época em que foi escrito, no caso do<br />

de Swift já é um texto com vários séculos, o que<br />

obrigatoriamente provoca mudanças na adaptação<br />

ou tradução, pontuando, assim, as questões de variação<br />

linguística.<br />

Assinale com X<br />

O que aprendi neste caderno<br />

do terceiro bimestre<br />

8 o Clássicos, artigos, mapa,<br />

original, teatro, cinema.<br />

9 o Nonsense, notícia,<br />

numeral, trocadilho, resenha.<br />

10 o Conflito, pronomes, espaço/<br />

ambiente, época/tempo.<br />

Anotações do professor:<br />

Artistas citados:<br />

Italo Calvino nasceu em Santiago de Las Vegas,<br />

Cuba, em 1923, tendo ido logo a seguir para a<br />

Itália. Participou da resistência ao fascismo durante<br />

a guerra e foi membro do Partido Comunista até<br />

1956. Em 1946, instalou-se em Turim, onde se doutorou<br />

com uma tese sobre Joseph Conrad. Publicou<br />

sua primeira obra, Il sentiero dei nidi di ragno, em<br />

1947. Com O visconde partido ao meio, lançado em<br />

1952, o autor abandonou o neorrealismo dos primeiros<br />

livros e começou a explorar a fábula e o fantástico,<br />

elementos que marcariam profundamente a<br />

sua obra. Nos anos 1960 e 1970, aprofundou suas<br />

experiências formais em livros como As cidades<br />

invisíveis e Se um viajante numa noite de inverno.<br />

Considerado um dos maiores escritores europeus<br />

deste século, morreu em 1985.<br />

James Matthew Barrie, nascido na Escócia,<br />

em 1860, e falecido em Londres, em 1937,<br />

é o criador de Peter Pan, personagem que vem<br />

povoando os sonhos das crianças de muitas gerações.<br />

Escrito inicialmente como um romance<br />

para adultos, depois como um livro de arte<br />

e como uma peça de teatro, Peter Pan e Wendy<br />

só tomariam a forma de livro para crianças<br />

em 1911. Em 1929, Barrie doou os direitos autorais<br />

de Peter Pan para o Hospital infantil de<br />

Great Ormond Street, em Londres.<br />

Jonathan Swift nasceu em Dublin, na Irlanda,<br />

em 1667. Órfão de pai, que falecera pouco antes<br />

de seu nascimento, Swift viveu da caridade de um<br />

tio por vários anos. Aos 21 anos, mudou-se para<br />

a Inglaterra em busca de melhor sorte. Lá, trabalhou<br />

como secretário do escritor William Temple,<br />

doutorou-se em Teologia e foi ordenado ministro<br />

da Igreja Anglicana, na Irlanda. Em 1713, tornou-<br />

-se decano da Catedral de São Patrício. Humanista<br />

e contrário à tirania e à injustiça, Swift foi muito<br />

influenciado pela tristeza e pela miséria em que viviam<br />

os irlandeses, sob o domínio dos ingleses, e<br />

se tornou um intrépido defensor do povo oprimido.<br />

Por meio da sátira cruel de seus escritos, pretendeu<br />

despertar a consciência das pessoas omissas<br />

e indiferentes. Swift foi ao mesmo tempo popular<br />

e perseguido por autoridades britânicas. No início<br />

da década de 1740, foram identificados os primeiros<br />

sinais de senilidade mental, e, em 1742, foi<br />

declarado legalmente incapaz. Morreu em outubro<br />

de 1745.<br />

José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do<br />

Huambo, em Angola, a 13 de dezembro de 1960.<br />

Estudou Agronomia e Silvicultura em Lisboa. É jornalista.<br />

Viveu em Lisboa, Luanda, Rio de Janeiro<br />

e Berlim. É autor dos livros A conjura (romance,<br />

1988), Prêmio Revelação Sonangol, A Feira dos<br />

assombrados (contos, 1992), Estação das chuvas<br />

(romance, 1996), Nação crioula (romance, 1998),<br />

Grande Prêmio de Literatura RTP, Fronteiras perdidas<br />

(contos, 1999), Grande Prêmio de Conto da<br />

APE, A substância do amor e Outras crônicas (crônica,<br />

2000), Estranhões e bizarrocos, com Henrique<br />

Cayatte, (infantil, 2000), Prêmio Nacional de Ilustração<br />

e Grande Prêmio de Literatura para Crianças<br />

da Fundação Calouste Gulbenkian, Um estranho<br />

em Goa (romance, 2000), O ano que zumbi tomou<br />

o rio (romance, 2002), O homem que parecia um<br />

domingo (contos, 2002), Catálogo de sombras<br />

(contos, 2003), O vendedor de passados (romance,<br />

2004) e As mulheres de meu pai (romance, Língua<br />

Geral, 2007) entre outros.<br />

P49


Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge<br />

Dodgson, (Cheshire, 27 de janeiro de 1832 —<br />

Guildford, 14 de janeiro de 1898). Seu nome está<br />

inscrito na história da literatura mundial por ser o<br />

autor de Alice no País das Maravilhas. Filho de um<br />

pastor anglicano, Lewis Carroll tinha dez irmãos e<br />

cresceu num ambiente onde aprendeu a contar histórias<br />

e cuidar e distrair crianças. Apaixonado por<br />

matemática e fotografia, foi nomeado professor de<br />

matemática em Oxford, em 1861. Como fotógrafo<br />

amador, fotografava invariavelmente meninas entre<br />

8 e 12 anos de idade. Sua obra-prima é fruto de<br />

uma história que narrou a Alice Liddle (então com 4<br />

anos), amiga de suas irmãs. Seu primeiro livro, no<br />

entanto, é A syllabus of plane algebraical geometry,<br />

um tratado de matemática escrito em 1860. Por<br />

sugestão do escritor Henry Kingsley, o livro foi publicado<br />

em 1865 sem ser especificado se era para<br />

adultos ou crianças. Foi um sucesso fulminante.<br />

Religioso, professor, pesquisador sério, Lewis Carroll<br />

escreveu vários livros, entre poemas, ensaios<br />

científicos, textos técnicos e de ficção juvenil. Car- Car-<br />

rol era apaixonado por vários tipos de jogos, tanto<br />

que inventou um grande número de enigmas, jogos<br />

matemáticos e de lógica; gostava de teatro e era<br />

frequentador de ópera.<br />

P50<br />

Lyman Frank Baum, americano, nasceu no estado<br />

de Nova york, em 1856. O mágico de Oz, seu<br />

maior sucesso, escrito quando estava com 44 anos,<br />

atingiu 90 mil cópias produzidas; em 1901 foi encenado<br />

em Chicago. Baum faleceu em 1919 e sua<br />

obra alcançou projeção mundial quando foi adaptada<br />

para o cinema em 1939.<br />

Tatiana Belinky, escritora premiada, nasceu na<br />

Rússia, em 1919. Veio para o Brasil com dez anos<br />

de idade. Aqui estudou, casou-se, teve filhos, netos<br />

e bisnetos. Dedicou-se ao teatro infantil, em companhia<br />

de seu marido, Júlio Gouveia, escrevendo<br />

diversas peças e adaptações de livros apresentados<br />

em teatros de São Paulo. Trabalhou também<br />

nas TVs Tupi, Bandeirantes e Cultura, escrevendo<br />

e adaptando textos de literatura infantojuvenil para<br />

teleteatro e seriados. O mais conhecido deles foi a<br />

primeira adaptação para a televisão de O sítio do<br />

Pica-Pau Amarelo.


Anotações<br />

P51


Anotações<br />

P52


Redação<br />

Capítulo<br />

Redação 1<br />

Leia, a seguir, uma das páginas de um livro<br />

chamado A vida tem dessas coisas, mano, escrito<br />

em forma de diário:<br />

8<br />

A Terra do Ó, onde cada um faz o que quer e<br />

ninguém fica enchendo a paciência.<br />

O Mico é um pentelho, mas, no fundo, no fundo,<br />

gosto dele. Esqueço as coisas que aprontou<br />

comigo. Uma vez, sem nenhum motivo, acertou<br />

minha cabeça com um cinzeiro de vidro. Tenho<br />

até hoje a marca no supercílio, onde levei três<br />

pontos… Outra vez, ficou com raiva de mim e<br />

rasgou quase toda minha coleção de gibis do<br />

Homem Aranha. É bem verdade que também<br />

apronto umas com ele. A gente se detesta, mas<br />

a gente se ama. Acho que é por isso que o Mico<br />

não desgruda de mim, não larga do meu pé:<br />

“Edu, conta uma ‘toia’…”.<br />

Das histórias que eu conto para o Mico, a de<br />

que ele mais gosta é a da “Terra do Ó”. Como<br />

ele gosta tanto e fica maluco quando eu torno a<br />

contar e esqueço os detalhes, resolvi escrevê-la<br />

aqui no diário. Assim, quando ele pedir para contar<br />

de novo, não tenho de ouvi-lo berrar:<br />

— Não é assim! Você tá contando errado!<br />

É só ler o que escrevi e acabaram-se os problemas.<br />

Então, aqui vai a história da “Terra do Ó”:<br />

“Era uma vez a Terra do Ó, um lugar muito,<br />

muito bonito. Para chegar lá, as crianças tinham<br />

que deitar, fazer figa com uma das mãos, segurar<br />

o nariz com a outra, fechar os olhos e gritar<br />

três vezes:<br />

— Quero ir pra Terra do Ó, quero ir pra Terra<br />

do Ó, quero ir pra Terra do Ó.”<br />

GOMES, Álvaro Cardoso. A vida tem dessas<br />

coisas, mano. São Paulo: FTD, 2004, p. 9.<br />

Mico, o irmão mais novo do narrador, constantemente<br />

pede que o irmão adolescente conte histórias<br />

para que ele durma. Em uma delas, eles inventaram<br />

a “Terra do Ó”.<br />

Nesta proposta de redação, você deverá continuar<br />

a história que o irmão está começando a contar.<br />

Note que o espaço para onde as personagens<br />

irão se transportar é imaginário. Assim como no final<br />

de O mágico de Oz, para o teatro, eles pensam forte<br />

e fazem “figa” para seguir para esta terra distante.<br />

Terra de Oz<br />

Ao terminar seu rascunho e antes de passar a<br />

limpo, verifique se você:<br />

1.<br />

2.<br />

descreveu os lugares, os espaços;<br />

mostrou as características das personagens;<br />

3. indicou as falas das personagens com travessões<br />

ou aspas;<br />

4.<br />

pontuou e acentuou corretamente;<br />

5. dividiu os parágrafos para que a sequência<br />

seja clara para quem lê o seu texto;<br />

6. solucionou, no fim da narrativa, um problema<br />

anteriormente criado.<br />

Se quiser, ilustre seu texto, fazendo um mapa<br />

inventado da Terra do Ó.<br />

Professor: Nas produções textuais dos alunos,<br />

é comum encontrarmos repetição desnecessária de<br />

palavras. Como este bimestre trouxe o estudo dos<br />

pronomes, convém retornar o uso dessa classe gramatical<br />

como forma de substituir termos já expressos<br />

no texto. Desse modo, pode-se ensinar gramática<br />

como meio de aprimoramento linguístico. Se for<br />

possível, selecione trechos repetitivos de algumas<br />

redações. Depois, peça para que os alunos reescrevam<br />

esses excertos, fazendo uso de pronomes.<br />

Essa metodologia pode não só reforçar os conceitos<br />

estudados no bimestre, como também mostrar o uso<br />

dos pronomes em situações reais de produção.<br />

P53


Redação 1<br />

P54<br />

Redação<br />

Capítulo<br />

Como você pôde ler neste bimestre, as obras<br />

clássicas resistem ao tempo e influenciam a criação<br />

de outros textos. Alice no País das Maravilhas<br />

e Alice através do espelho são livros de Lewis<br />

Carroll que inspiraram (e ainda inspiram) diversos<br />

artistas a produzirem sua arte.<br />

Por isso, podemos ver elementos da obra de<br />

Carroll em vários outros textos, produzidos em diferentes<br />

linguagens. Veja alguns exemplos:<br />

• Alice no País dos Enigmas (Incríveis problemas<br />

lógicos no País das Maravilhas), de<br />

Raymond Smullyan, livro publicado pela editora<br />

Jorge Zahar, em 2000.<br />

• Alice no País da Mentira,<br />

de Pedro Bandeira,<br />

editora Ática, 2006.<br />

• Alice no País da Poesia,<br />

de Elias José, editora<br />

Petrópolis, 2009.<br />

• Uma cena do filme Matrix (1999), com o ator<br />

Keanu Reeves, na qual o protagonista Neo,<br />

tal como Alice, segue um coelho para escolher<br />

a pílula que vai tomar.<br />

Você também pode criar sua versão da história.<br />

Sua tarefa é, então, escrever uma narrativa,<br />

na qual apareçam Alice e alguns personagens de<br />

Lewis Carroll. Em que país ocorrerá a sua história?<br />

As personagens viverão quais aventuras? Qual<br />

será o nonsense criado? E os trocadilhos com a<br />

linguagem? Depois do texto pronto, leia-o para<br />

seus colegas.<br />

9<br />

País das Maravilhas


Redação<br />

Capítulo<br />

10<br />

País dos Contrários<br />

Redação 1<br />

No capítulo 10 de Língua Portuguesa, você conheceu alguns trechos da história de Peter Pan. Em<br />

vários momentos, durante a história completa, há pequenas letras de músicas que são cantadas pelos<br />

piratas, pelos meninos perdidos e também por Wendy quando por lá esteve. Peter Pan encantava com sua<br />

flauta e, em um episódio na Lagoa das Sereias, Peter Pan ficou…<br />

… sozinho. Começou a ouvir então o canto das sereias na festa do luar. E disso não há quem não<br />

tenha medo. Daí a pouco seriam centenas e centenas de sereias cantando para a lua. Era demais. Em<br />

dois tempos, Peter estava em pé sobre o rochedo com aquele sorriso no rosto e um tambor dentro dele<br />

batendo assim:<br />

Morrer é também uma aventura, mas enorme demais.<br />

BARRIE, J. M., p. 66-69.<br />

Agora é sua vez, continue a canção que Peter Pan imagina por mais algumas linhas até que ela tome<br />

a forma de uma letra de música. O assunto dela deverá seguir o mote (a ideia) da primeira frase, cujas palavras<br />

importantes são “morrer”, “aventura”, “enorme demais”. Como poderia ser essa aventura? Por que o<br />

medo do canto das sereias? Será que Peter Pan usará também sua música para não morrer? Como você<br />

imagina que ele tenha se livrado das sereias? Componha várias linhas em que você responda a essas<br />

perguntas e também imagine o que aconteceu. Se quiser, faça em dupla com um colega, depois verifique<br />

a sua ficha de avaliação:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Escrevi em forma de versos?<br />

Precisei usar um refrão?<br />

Escrevi as ideias, o assunto de maneira clara?<br />

Fiz rimas ou dei ritmo à letra da música?<br />

Corrigi os erros ortográficos?<br />

Professor: Oriente os alunos explicando que pode ou não haver rimas, como também poderá ou<br />

não haver refrão, pois tais itens não são obrigatórios. O que deve de fato sobressair nessa produção<br />

é o ritmo imposto por linhas não muito longas e o desenvolvimento da ideia de aventura na Lagoa<br />

das Sereias.<br />

P55


P56

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