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Professor:<br />
Português<br />
Seguem abaixo os objetivos gerais e específicos<br />
contidos neste caderno.<br />
Objetivos de ensino/aprendizagem do bimestre:<br />
1. Comparar textos, identificando semelhanças<br />
e diferenças quanto ao conteúdo e à<br />
forma.<br />
2. Desenvolver estratégias de leitura.<br />
3. Motivar os alunos para o tema da unidade:<br />
lugares imaginários.<br />
4. Produzir e recriar textos com as características<br />
do gênero narrativo, bem como suas<br />
situações de produção e adaptação.<br />
5. Conhecer e consultar o dicionário de maneira<br />
rápida e eficiente.<br />
6. Desenvolver habilidade de leitura de texto<br />
não verbal (mapa e fotografia).<br />
7. Aprimorar a exposição oral, exercitando-a<br />
por meio da argumentação, da interação<br />
verbal e da leitura, com textos teatrais, em<br />
prosa e verso.<br />
8. Conceituar e reconhecer aspectos semânticos<br />
do artigo, do numeral e do pronome.<br />
9. Observar, conhecer e respeitar aspectos<br />
da pluralidade cultural da língua, relacionados<br />
à história e a países de língua portuguesa.<br />
Objetivos específicos de ensino/aprendizagem<br />
de cada capítulo:<br />
Capítulo 8: Terra de Oz<br />
1.<br />
2.<br />
Reconhecer aspectos semânticos discursivos<br />
relacionados à língua: artigos e sua<br />
classificação.<br />
Ler textos em linguagem verbal e não<br />
verbal: mapas e fotos.<br />
<strong>Apresentação</strong><br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
Desenvolver ao ler: síntese, tradução de<br />
símbolos, relações entre forma e conteúdo.<br />
Identificar os elementos do texto teatral (rubricas,<br />
ato, entonação).<br />
Reconhecer uma obra clássica e suas diversas<br />
formas de adaptação.<br />
Revisão de tópico: texto informativo.<br />
Capítulo 9: País das Maravilhas<br />
1. Reconhecer aspectos semânticos discursivos<br />
relacionados à língua: numerais e sua<br />
classificação.<br />
2. Desenvolver ao ler: síntese, tradução de<br />
símbolos, relações entre forma e conteúdo<br />
do texto poético.<br />
3. Revisão de tópicos: notícia e resenha.<br />
Capítulo 10: País dos Contrários<br />
1. Identificar o conflito narrativo, bem como as<br />
categorias: tempo/época e espaço/ambiente.<br />
2. Desenvolver ao ler: espacialidade e temporalidade,<br />
relações de causa e consequência,<br />
uso de comparações.<br />
3. Reconhecer elementos de variação linguística<br />
4. Entender a caracterização de personagens<br />
na prosa.<br />
5. Utilizar e reconhecer os aspectos semânticos<br />
dos pronomes.<br />
Organização do tempo<br />
Professor: Você terá, aproximadamente, sete semanas<br />
para desenvolver as atividades propostas neste<br />
caderno, o que corresponde a cerca de 45 aulas.<br />
Entenda como apresentação, neste bimestre, o<br />
tema do caderno: lugares imaginários.<br />
Considere o quadro a seguir ao planejar o<br />
bimestre.<br />
P1
P2<br />
Capítulos Quantidade de aulas<br />
<strong>Apresentação</strong> 1 aula<br />
Capítulo 8 10 aulas<br />
Capítulo 9 10 aulas<br />
Capítulo 10 12 aulas<br />
Redação 10 aulas<br />
Sistematização 2 aulas<br />
Sumário<br />
Total 45 aulas<br />
Capítulo 8 – Terra de Oz ______________ P3<br />
Capítulo 9 – País das Maravilhas ______ P15<br />
Capítulo 10 – País dos Contrários ______ P31<br />
Redação<br />
Capítulo 8 – Terra de Oz _____________ P53<br />
Capítulo 9 – País das Maravilhas ______ P54<br />
Capítulo 10 – País dos Contrários ______ P55
Capítulo<br />
Português 8<br />
Texto com conteúdo:<br />
Professor: Neste caderno, abordamos textos<br />
considerados clássicos da literatura universal. Para<br />
seu enriquecimento, sugerimos a leitura da obra de<br />
Ana Maria Machado: Como e por que ler os clássicos<br />
universais desde cedo, da editora Objetiva,<br />
constante no acervo do MEC/PNLL/Biblioteca do<br />
professor. Transcrevemos a seguir trechos da obra<br />
de Italo Calvino, Por que ler os clássicos, em que o<br />
renomado escritor exemplifica, com rara clareza, os<br />
motivos de se ler um clássico:<br />
POR QUE LER OS CLÁSSICOS<br />
“Comecemos com algumas propostas de definição.<br />
1.<br />
2.<br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
7.<br />
8.<br />
9.<br />
10.<br />
Os clássicos são aqueles livros dos quais,<br />
em geral, se ouve dizer: “Estou relendo…” e<br />
nunca ‘‘Estou lendo…”.<br />
Dizem-se clássicos aqueles livros que<br />
constituem uma riqueza para quem os tenha<br />
lido e amado; mas constituem uma riqueza<br />
não menor para quem se reserva a<br />
sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores<br />
condições para apreciá-los.<br />
Os clássicos são livros que exercem uma in-<br />
fluência particular quando se impõem como<br />
inesquecíveis e também quando se ocultam<br />
nas dobras da memória, mimetizando-se<br />
como inconsciente coletivo ou individual.[...]<br />
Toda releitura de um clássico é uma leitura<br />
de descoberta como a primeira.<br />
Toda primeira leitura de um clássico é na<br />
realidade uma releitura. [...]<br />
Um clássico é um livro que nunca terminou<br />
de dizer aquilo que tinha para dizer.<br />
Os clássicos são aqueles livros que che-<br />
gam a nós trazendo consigo as marcas das<br />
leituras que precederam a nossa e atrás de<br />
si os traços que deixaram na cultura ou nas<br />
culturas que atravessaram (ou mais simplesmente<br />
na linguagem ou nos costumes).<br />
Um clássico é uma obra que provoca inces-<br />
santemente uma nuvem de discursos críticos<br />
sobre si, mas continuamente a repele<br />
para longe.<br />
Os clássicos são livros que, quanto mais<br />
pensamos conhecer por ouvir dizer, quando<br />
são lidos de fato mais se revelam novos,<br />
inesperados, inéditos.<br />
Chama-se de clássico um livro que se con-<br />
figura como equivalente do universo, à semelhança<br />
dos antigos talismãs.<br />
Terra de Oz<br />
11. O “seu” clássico é aquele que não pode<br />
ser-lhe indiferente e que serve para definir<br />
a você próprio em relação a ele e talvez em<br />
contraste com ele.<br />
12. Um clássico é um livro que vem antes de outros<br />
clássicos; mas quem leu antes os outros<br />
e depois lê aquele reconhece logo o seu lugar<br />
na genealogia.<br />
13. É clássico aquilo que tende a relegar as<br />
atualidades à posição de barulho de fundo,<br />
mas ao mesmo tempo não pode prescindir<br />
desse barulho de fundo.<br />
14. É clássico aquilo que persiste como rumor<br />
mesmo onde predomina a atualidade mais<br />
incompatível.”<br />
<strong>Apresentação</strong><br />
Querido aluno, este caderno foi escrito para<br />
você que gosta de aprender, ler, ouvir e contar boas<br />
histórias; e para que você possa mostrar suas opiniões<br />
sobre o mundo à sua volta.<br />
Também foi escrito para que você, falando e escrevendo,<br />
crie e recrie textos, melhore sua interação<br />
com o que cerca e desvende os caminhos para<br />
os quadrinhos, as notícias de jornais, os contos, as<br />
fábulas, as poesias e muitos outros textos.<br />
Queremos convidá-lo a ler, a se divertir, a criticar,<br />
a escrever; enfim, a crescer melhor no mundo<br />
em que vive.<br />
Para começar<br />
Neste capítulo, conheceremos uma obra considerada<br />
clássica, adaptada para o cinema e para o<br />
teatro; e, em morfologia, estudaremos os artigos.<br />
Neste caderno, você lerá textos que chamamos<br />
de clássicos. Mas o que é um clássico?<br />
Uma obra é considerada clássica da literatura<br />
universal por ser uma obra famosa, que já foi<br />
adaptada para o cinema e para o teatro. Também<br />
é clássica por ter explorado um tema original, por<br />
construir personagens marcantes que se tornaram<br />
imortais e por servir de modelo para outros<br />
autores. Todos esses aspectos fazem com que<br />
seja uma referência para as novas gerações, e o<br />
leitor, ao fazer novas leituras dela, encontra novos<br />
significados.<br />
Quando uma obra é clássica, ela passa a ser<br />
não só comentada, mas lida e recomendada. É uma<br />
leitura que vale a pena! Acontece, inclusive, de o<br />
leitor se identificar com o herói, como a Dorothy (que<br />
P3
conheceremos a seguir). Depois, fica lembrando da<br />
personagem, sem tirá-la da cabeça. E a Dorothy<br />
acaba fazendo parte da sua vida, de suas lembranças,<br />
de seus pensamentos, de seus sonhos. Uma<br />
boa história marca de verdade a vida do leitor.<br />
A seguir, selecionamos alguns trechos do clássico:<br />
O mágico de Oz<br />
1. O ciclone<br />
Dorothy vivia numa casinha no coração das<br />
grandes pradarias do Kansas com tio Henry e<br />
tia Ema. Quatro paredes, um assoalho e um telhado<br />
formavam o único compartimento da casa.<br />
[…] Não havia sótão nem porão, a não ser um<br />
pequeno buraco, cavado no chão e apelidado<br />
de porão anticiclones, onde a família ficava bem<br />
protegida em caso de furacões violentos. Chegava-se<br />
até ele por uma escada que descia de<br />
um alçapão localizado no meio do quarto.<br />
Em volta da casa, estendia-se a imensa pradaria<br />
cor de cinza. Nenhuma árvore, nenhuma<br />
casa… […] Os raios de sol tinham feito daquelas<br />
terras uma grande massa cinzenta. Até mesmo<br />
a relva não era mais verde. O sol torrara as extremidades<br />
das suas hastes, tornando-a cinzenta<br />
como tudo o mais. […]<br />
Quando tia Ema chegara ali, era jovem e bonita.<br />
O sol e o vento transformaram-na, porém.<br />
Roubaram o brilho dos seus olhos, o rubor dos<br />
seus lábios e das maçãs do seu rosto. Agora era<br />
magra e descarnada, e não esboçava sequer um<br />
sorriso. Quando Dorothy, que era órfã, chegou à<br />
sua casa, deixou tia Ema muito espantada com<br />
seu riso constante.<br />
Tio Henry não ria nunca. Trabalhava de manhã<br />
até à noite. Era muito sério e circunspecto, e<br />
ignorava o que fosse a alegria.<br />
Era Totó quem fazia Dorothy rir e a preservava<br />
de tornar-se cinzenta como tudo o que a cercava.<br />
Totó não era cinzento; era um cãozinho preto, de<br />
pelo longo e sedoso, e pequeninos olhos negros<br />
a brilharem acima do focinho. Totó brincava o dia<br />
inteiro com Dorothy e ela lhe queria muito bem.<br />
P4<br />
Hoje, entretanto, não brincavam. Tio Henry,<br />
sentado na soleira da porta, olhava para o céu,<br />
ainda mais cinzento que nos outros dias. […]<br />
Fez-se ouvir, ao norte, um gemido longínquo<br />
de ventania. Tio Henry e Dorothy puderam ver o<br />
capim ondular-se antes da tempestade desabar.<br />
Do sul veio um assobio agudo e, ao se voltarem<br />
para aquele lado, viram ondas de capim vindas<br />
na direção da casa.<br />
— Vem aí um ciclone, Ema! — gritou tio Henry<br />
para a mulher, levantando-se. — Vou cuidar do<br />
gado.<br />
Tia Ema abandonou sua ocupação e veio até<br />
a porta. Um olhar foi o bastante para que constatasse<br />
o perigo próximo.<br />
— Depressa, Dorothy! — gritou. — Para o<br />
porão.<br />
Totó saltou dos braços da menina e escondeu-se<br />
debaixo da cama. Enquanto Dorothy tentava<br />
agarrar o cãozinho, tia Ema abriu o alçapão<br />
e desceu assustada para o porão.<br />
Finalmente, Dorothy conseguiu alcançar Totó,<br />
e pôs-se a seguir a tia. Estava no meio do quarto,<br />
quando um terrível uivo do vento se fez ouvir.<br />
A casa tremeu tanto que a menina perdeu o<br />
equilíbrio e caiu sentada no chão.<br />
Nesse momento, sucedeu algo de muito<br />
estranho.<br />
A casa rodopiou três vezes e ergueu-se lentamente<br />
nos ares. Dorothy sentiu-se como se<br />
estivesse num balão.<br />
Os ventos norte e sul fizeram da casa o centro<br />
do ciclone. A pressão exercida por todos<br />
os lados elevou-a até o alto do ciclone. E foi<br />
carregada por milhas e milhas como se fosse<br />
uma pluma.<br />
[…] Dorothy, no entanto, limitou-se a sentar e<br />
esperar pelo que aconteceria.<br />
Certa vez, Totó chegou muito perto do alçapão<br />
e caiu. A princípio, a menina julgou tê-lo perdido<br />
para sempre, mas logo notou que uma de<br />
suas orelhinhas se esticava por meio da abertura.<br />
A forte pressão do ciclone mantivera-o suspenso<br />
no ar. Ela engatinhou até o alçapão, agarrou<br />
o cachorrinho pela orelha e puxou-o para o quarto<br />
novamente, fechando a portinhola para evitar<br />
novos acidentes.<br />
Passaram-se muitas horas e, aos poucos,<br />
Dorothy começou a sentir-se sozinha. […] Inicialmente<br />
ela quisera saber o que seria feito<br />
dela quando a casa caísse, mas como as horas<br />
se passavam sem que nada de terrível acontecesse,<br />
ela deixou de se preocupar e resolveu<br />
esperar com calma e ver o que o futuro traria.<br />
Afinal, arrastou-se até a cama e deitou-se. Totó<br />
foi ter com ela e logo adormeceram.
2. O diálogo com os Comilões<br />
Dorothy foi despertada por um choque tão<br />
brusco que, não fora a maciez de sua cama, provavelmente<br />
teria se machucado.<br />
Uma vez acordada, Dorothy perguntou a si<br />
mesma o que havia acontecido. Sentou-se e notou<br />
que a casa estava imóvel e o sol entrava pela<br />
janela, iluminando o quarto. […]<br />
Um grito de deslumbramento escapou-lhe<br />
diante da paisagem maravilhosa.<br />
O ciclone pousara a casinha num lugar<br />
magnífico. Árvores majestosas, carregadas de<br />
frutos; flores suntuosas e pássaros de lindas<br />
plumagens, cantando aqui e ali, formavam um<br />
conjunto de estonteante beleza com a relva<br />
verdejante.<br />
Um pouco além corria um riacho de voz doce<br />
e suave, sussurrando para a menina que, durante<br />
tanto tempo, vivera nas planícies áridas e cinzentas<br />
do Kansas.<br />
Daí a pouco Dorothy notou que um grupo de<br />
pessoas estranhas, duma espécie que jamais<br />
vira, se dirigia para ela. Não eram altos quanto<br />
a gente grande que ela conhecia, nem eram pequenos<br />
demais. Na realidade eram mais ou menos<br />
da sua altura, se bem que parecessem muito<br />
mais velhos. […] Os homens se vestiam todos<br />
de azul […]. A mulher, entretanto, parecia muito<br />
mais velha. Seu rosto era enrugado e o cabelo<br />
grisalho. Vestia, por sua vez, uma espécie de<br />
túnica branca, repleta de estrelinhas reluzentes<br />
que brilhavam ao sol.<br />
Quando já estavam perto da menina, detiveram-se<br />
e cochicharam entre si, como se temessem<br />
chegar mais perto.<br />
— Eu quero voltar para junto dos meus tios.<br />
Será que vocês podem me ajudar a encontrar o<br />
caminho?<br />
[…] Balançaram a cabeça negativamente e<br />
um deles disse:<br />
— A leste, há um grande deserto que ninguém<br />
ousaria atravessar. A mesma coisa no sul.<br />
Ao norte fica minha terra, e além dela, o mesmo<br />
deserto. A oeste fica a terra dominada pela Fada<br />
Perversa; se você passasse por lá, certamente<br />
seria feita escrava.<br />
Dorothy começou a soluçar. […] Entretanto, a<br />
velhinha chegou até Dorothy, fez uma reverência<br />
e disse-lhe com uma voz doce: […]<br />
— A terra de Oz está apartada de toda a civilização.<br />
Portanto, aqui ainda há fadas e mágicos.<br />
O mais poderoso de todos é o Mágico de Oz, que<br />
vive na Cidade das Esmeraldas. É mais poderoso<br />
que todos os outros reunidos.[…]<br />
— Então é preciso que você vá à cidade das<br />
Esmeraldas. Talvez Oz lhe ajude.<br />
A fada beijou carinhosamente a testa da menina,<br />
deixando uma marca redonda e brilhante,<br />
como a menina constatou mais tarde.<br />
— A estrada que conduz à cidade das Esmeraldas<br />
é coberta de tijolos amarelos, de modo<br />
que você não pode enganar-se. Se chegar a ver<br />
Oz, não tenha medo dele. Conte-lhe toda a sua<br />
história e peça-lhe auxílio. Adeus, querida.<br />
BAUM, L. F. O mágico de Oz. Trad. Celso Luiz Amorim. Rio<br />
de Janeiro: Record, 2002. Col. Literatura em minha casa, v. 4.<br />
P5
Para continuar<br />
Conversa sobre o texto<br />
1. Antes de começar a responder às questões,<br />
releia o texto e anote as palavras que você não conhece.<br />
Procure em um dicionário e explique, com<br />
suas palavras, o significado delas.<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Segue lista de palavras que provavelmente<br />
os alunos anotarão.<br />
Circunspecto: reservado, prudente, atento.<br />
Pradaria: campo, onde predomina pastagem,<br />
grama.<br />
Pluma: pena.<br />
Mobília: móvel.<br />
Apartado: separado.<br />
Civilização: um tipo de cultura que se diz organizada<br />
de acordo com regras e princípios seguidos<br />
pela maioria das pessoas pertencentes a ela.<br />
Ciclone: tempestade de ventos muito violentos,<br />
P6<br />
OCEANO<br />
PACÍFICO<br />
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA<br />
ESTADOS<br />
UNIDOS<br />
MÉXICO<br />
Kansas<br />
Os tios vivem no campo, cuidam do gado, trabalham muito.<br />
que giram em turbilhão e se deslocam a grande velocidade.<br />
Uso informal: furacão, tufão, vento devastador.<br />
Relva: grama.<br />
Estonteante: maravilhoso.<br />
Suntuoso: grandioso.<br />
2. Ao lermos um texto, podemos observar que o<br />
ambiente (a descrição que o narrador faz de um cenário,<br />
de um espaço, colocando suas impressões)<br />
nos leva a imaginar também o estado de espírito das<br />
personagens que ali vivem. Como o narrador caracteriza<br />
a casa em que Dorothy vive com os tios? Como<br />
são os objetos?<br />
São enferrujados, velhos. A casa é pequena,<br />
empobrecida e cinza.<br />
3. Dorothy vive “nas grandes pradarias do Kansas”.<br />
Observe o mapa dos Estados Unidos e verifique<br />
onde fica esse estado americano. Depois responda:<br />
considerando o que o narrador nos contou, como vivem<br />
e em que trabalham os tios de Dorothy?<br />
CANADÁ<br />
OCEANO<br />
ATLÂNTICO<br />
0 290<br />
km
Sugestão didática:<br />
Professor: Caso seja de seu interesse, converse<br />
com os alunos sobre esse estado americano ou<br />
peça uma pesquisa interdisciplinar de Geografia:<br />
já no século XIX e até os dias de hoje, o Kansas é<br />
um estado agropecuário, caracteriza-se pela produção<br />
de trigo, criação de gado e grandes extensões<br />
de campos de girassóis, bem como a exploração<br />
de petróleo e minério. Os ciclones são uma<br />
constante em determinadas épocas do ano. Talvez<br />
seja interessante conversar com os alunos sobre<br />
os pontos cardeais e até mesmo sobre a origem<br />
do nome “Kansas”, provindo do povo originário<br />
do local (Kansa) cuja tradução aproximada seria:<br />
“povos do vento sul”. O autor, Baum, viveu muito<br />
tempo nesse estado e sua família possuía terras<br />
e plantações.<br />
4. Uma das técnicas para criar personagens<br />
é descrevê-las de forma que se pareçam com o<br />
espaço onde vivem. Tio Henry e Tia Ema ficaram<br />
parecidos com as pradarias? Explique com suas<br />
palavras.<br />
Sim, ambos parecem tristes e descarnados,<br />
sem brilho, cinzentos como a pradaria queimada<br />
pelo sol.<br />
5.<br />
Que cor predomina na descrição do espaço?<br />
Cinza<br />
6. Ao anunciar o ciclone, o narrador o faz por<br />
meio dos sons. Que sons eram esses?<br />
Assobios, gemidos e uivos.<br />
7. O que acontece com Dorothy e Totó durante<br />
o ciclone?<br />
São arremessados ao ar, ao olho do ciclone,<br />
junto com a casa.<br />
8. Após o ciclone, Dorothy acorda em um lugar<br />
diferente. Que diferença podemos notar na natureza<br />
descrita? É a mesma do Kansas? As cores e os<br />
sons mudaram?<br />
A paisagem é generosa e cheia de cores verdejantes.<br />
O som da água é suave.<br />
9. Quem poderá ajudar Dorothy a voltar para<br />
casa, segundo a fada? Por quê?<br />
O mágico de Oz, porque o consideram o mais<br />
poderoso de todos.<br />
Sugestão didática.<br />
Professor: É possível fazer um trabalho com o<br />
mapa da maravilhosa terra de Oz. Procure-o no<br />
livro Dicionário de lugares imaginários. São Paulo:<br />
Cia das Letras, p. 323, de Alberto Manguel e<br />
Gianni Guadalupi.<br />
Para continuar<br />
O texto no contexto<br />
Quando o ciclone levou Dorothy, a órfã, e seu<br />
cãozinho Totó, do Kansas até a Terra de Oz, ela temeu<br />
não ver nunca mais sua tia Ema e o tio Henry.<br />
Mas ela encontrou os Munchkins, os comilões,<br />
e eles lhe disseram para seguir a Estrada dos Tijolos<br />
Amarelos até a Cidade das Esmeraldas, onde<br />
o Grande Mágico de Oz lhe concederia qualquer<br />
desejo. No caminho, ela encontrou o Espantalho<br />
sem cérebro, o Lenhador de Lata sem coração e<br />
o Leão Covarde. Os quatro amigos partiram em<br />
busca de seus mais profundos desejos e, numa<br />
série de aventuras fantásticas, encontraram um<br />
campo de papoulas mortíferas, animais selvagens,<br />
macacos voadores, derrotaram a Feiticeira<br />
Má e rumaram ao encontro do Mágico de Oz.<br />
A seguir, você lerá o trecho final de O mágico de<br />
Oz, adaptado por Tatiana Belinky para o teatro:<br />
Cenários<br />
PRIMEIRO ATO: Floresta — cenário grande,<br />
árvores, arbustos etc.<br />
SEGUNDO E TERCEIRO ATOS: Pracinha<br />
na frente do Palácio de Esmeraldas, com a fachada<br />
do Palácio, grande portão com aldraba,<br />
janelinha no portão, de um lado do palco. E do<br />
outro, atrás do portão, a sala do trono (descrição<br />
no texto).<br />
TERCEIRO ATO<br />
Guarda (aparecendo na janelinha)<br />
O grande Oz mandou dizer que não pode<br />
recebê-los hoje. Voltem outro dia.<br />
Dorinha<br />
Nada disso! Promessa é dívida! Ele tem de<br />
nos receber imediatamente!<br />
Guarda<br />
Mas ele disse que não pode.<br />
Espantalho<br />
Tem de poder! Abra o portão!<br />
Guarda<br />
Não posso!<br />
P7
Leão<br />
Ah, não pode? Pois nós podemos! Nós vamos<br />
abrir esse portão com você ou sem você! Vamos,<br />
amigos, metamos o ombro nesse portão, todos<br />
juntos!<br />
(Os três metem o ombro no portão, que se<br />
abre facilmente. O guarda recua e eles passam.<br />
Na sala há também um biombo. Eles param<br />
admirados porque o trono está vazio. Quando<br />
estão na sala, percebem o movimento de alguém<br />
atrás do biombo.)<br />
Dorinha<br />
O trono está vazio!<br />
Espantalho<br />
Parece que ouvi um som estranho…<br />
Homem de Lata<br />
Eu também…<br />
[…]<br />
Dorinha<br />
Por que será que o Grande Mágico de Oz não<br />
se manifesta?<br />
[…]<br />
Leão<br />
Deixem isso comigo. Eu vou chamá-lo à minha<br />
moda. (Dá um rugido formidável e logo se<br />
ouve uma exclamação de susto vinda de trás do<br />
biombo e, em seguida, a voz do Mágico, mas já<br />
bem menos tonitruante e um pouco trêmula.)<br />
Oz (pouco convincente)<br />
Eu sou Oz, o Grande e Terrível! Quem são<br />
vocês e por que me procuram?<br />
Dorinha<br />
Onde é que o senhor está?<br />
Oz<br />
Estou aqui mesmo, mas sou invisível aos<br />
olhos de vocês.<br />
Espantalho<br />
E nós também somos invisíveis aos olhos do<br />
senhor?<br />
Oz<br />
Claro que não. Os meus olhos veem tudo.<br />
Espantalho<br />
Nesse caso, o senhor sabe muito bem quem<br />
nós somos!<br />
Leão<br />
E para que viemos!<br />
Oz<br />
Para que foi?<br />
Dorinha (enfezada)<br />
Para exigir o cumprimento das suas promessas,<br />
Mágico de Oz.<br />
Oz<br />
Promessas???? Que promessas?<br />
(Os quatro se entreolham indignados.)<br />
P8<br />
Dorinha<br />
O senhor prometeu ajudar-me a voltar para<br />
casa!<br />
Espantalho<br />
E a mim, o senhor prometeu um cérebro!<br />
Homem de Lata<br />
E a mim, um coração!<br />
Leão<br />
E a mim, prometeu dar coragem!<br />
Oz (gaguejando um pouco)<br />
Mas… eu… eu… exigi um serviço em troca<br />
disso tudo…<br />
Dorinha<br />
O serviço foi executado e o senhor sabe bem<br />
disso!<br />
Oz<br />
Quer dizer que… Quer dizer que a Feiticeira<br />
Má…<br />
Dorinha<br />
Está derretida e liquidada!<br />
Oz (grande suspiro de alívio)<br />
[…]<br />
Leão<br />
O senhor tem de cumprir as promessas senão…<br />
(Ruge terrivelmente. O homem de lata ergue<br />
o machado e todos fazem um movimento em<br />
direção ao biombo que imediatamente cai, deixando<br />
aparecer o Mágico de Oz: um velhinho<br />
inofensivo e muito amedrontado. Todos param.)<br />
Dorinha (após breve pausa de espanto)<br />
Quem é o senhor?<br />
Oz (trêmulo)<br />
Eu sou Oz, o Grande, o Terrível… (Todos dão<br />
um passo em direção a ele.) Mas não me batam,<br />
por favor! Farei tudo que vocês mandarem!<br />
(Todos se entreolham admirados.)<br />
Dorinha<br />
E eu pensava que Oz era uma grande cabeça<br />
sentada no trono!!!<br />
[…]<br />
Oz (brandamente)<br />
Estavam todos enganados… Eu estava… Eu<br />
estava fazendo de conta…<br />
Dorinha<br />
Então o senhor não é um Grande Mágico?<br />
Oz (olhando para os lados)<br />
Psst! Não fale alto, minha menina, senão alguém<br />
pode ouvi-la… Se alguém escutar, estarei<br />
perdido… Vocês pensam mesmo que eu sou feiticeiro?<br />
Dorinha<br />
E não é, então?
Oz<br />
Não… Eu sou um homem como outro qualquer…<br />
Dorinha<br />
Mas… e a cabeça do trono?<br />
Oz<br />
É uma máscara…<br />
Dorinha<br />
E a voz que saía da cabeça?<br />
Oz<br />
Eu faço a minha voz sair de qualquer lugar.<br />
(Um pouco orgulhoso) Eu sou ventríloquo…<br />
(Todos se entreolham.)<br />
Espantalho<br />
O senhor é muito mais que isso! O senhor é<br />
um “grandessíssimo” charlatão!<br />
[…]<br />
Oz<br />
Meus amigos, não se preocupem tanto com<br />
essas coisinhas… Pensem no destino terrível<br />
que me espera, se alguém descobrir a minha tapeação!<br />
[…]<br />
E tenho mesmo, tenho muita vergonha. Mas<br />
eu não poderia fazer outra coisa…<br />
[…] É que eu tinha tanto medo da Feiticeira Má,<br />
que o único modo de me defender contra ela e<br />
também contra a cidade das Esmeraldas inteira foi<br />
esse de fingir ser um feiticeiro muito poderoso…<br />
[…]<br />
Dorinha (indignada)<br />
O senhor é um homem mau!<br />
Oz<br />
Oh não… o que eu sou, é um péssimo feiticeiro…<br />
Espantalho (desanimado)<br />
Então, o senhor não pode me dar um cérebro?<br />
Oz<br />
Mas você não precisa de um cérebro! Você já<br />
é inteligente!<br />
Espantalho<br />
Como assim?<br />
Dorinha<br />
É verdade! Quem inventou o plano para liquidarmos<br />
a bruxa foi ele!<br />
(O espantalho ficou pensativo.)<br />
Homem de lata<br />
E eu? Vou ficar sem coração?<br />
Oz<br />
Para que você quer um coração? […] Isso<br />
você já tem.<br />
Homem de Lata<br />
Como assim?<br />
Dorinha<br />
É verdade! O homem de lata é a bondade em<br />
pessoa! […] Foi ele quem não me deixou servir<br />
de isca para a Feiticeira e se ofereceu em meu<br />
lugar! E se ele fez isso é porque gosta de mim!<br />
(Para o homem de lata) Não é?<br />
(O homem de lata fica pensativo e encabulado.)<br />
Leão<br />
E eu? Vou ficar para sempre medroso? Não<br />
ganho minha coragem?<br />
Oz<br />
Quem lhe disse que você não tem coragem?<br />
[…]<br />
Dorinha<br />
É verdade! O Leão é muito corajoso! Foi ele<br />
quem resolveu entrar no Palácio de qualquer<br />
maneira! Foi ele quem obrigou o Mágico a aparecer<br />
e se desmascarar!<br />
Oz<br />
Então? Estão vendo? O que falta não é coragem,<br />
é sim um pouco de confiança em si mesmo.<br />
(O Leão fica pensativo e depois contente.)<br />
[…]<br />
Oz<br />
Então… estão todos satisfeitos?<br />
Os três<br />
Estamos, estamos! Muito obrigado, Grande<br />
Oz! Agora podemos ser felizes! Adeus, adeus!<br />
Dorinha<br />
Adeus, meus amigos, felicidades!<br />
(Eles saem pulando e acenando. Dorinha<br />
acena também — Pausa. Dorinha enxuga uma<br />
lágrima.)<br />
Oz (Percebendo que ela está triste, quer<br />
alegrá-la.)<br />
Viu? Afinal foi fácil dar-lhes o que pediam…<br />
Dorinha (pensativa)<br />
Engraçado… Eles não precisavam daquilo<br />
que tanto procuravam… Eles só pensavam que<br />
não tinham inteligência, coração, coragem…<br />
Oz<br />
E todo o tempo eles o tinham dentro de si…<br />
Dorinha (lembrando-se)<br />
É, mas agora eu gostaria de voltar para<br />
casa…<br />
Acho que já posso, não é?<br />
Oz<br />
Bem, isso já é mais difícil…<br />
P9
Dorinha (aflita)<br />
Mas eu quero voltar para casa!<br />
Oz<br />
Vamos pensar em alguma coisa… Vamos<br />
pensar bem forte que você está voltando para<br />
casa…<br />
Dorinha<br />
E o senhor acha que isso dará certo?<br />
Oz<br />
Vamos tentar… Pense bem forte…<br />
(Dorinha fecha os olhos fazendo esforço<br />
para concentrar-se ao mesmo tempo que o<br />
Mágico — Começa a tocar uma música para<br />
escurecimento e a luz do palco vai diminuindo<br />
até ficar escuro por completo. Fecha-se o pano.<br />
O contrarregra recoloca a [cama] na frente da<br />
cortina — Dorinha senta e a luz vai acendendo-<br />
-se aos poucos, até a claridade natural. Dorinha<br />
dorme.)<br />
Tia (entrando)<br />
Dorinha? Ora, veja se isso é lugar de dormir!<br />
Dorinha, acorde!<br />
(desce o pano)<br />
P10<br />
BELINKy, Tatiana. O mágico de Oz. Adaptado de<br />
L. Baum. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 62-67.<br />
1. O texto que você acabou de ler foi adaptado<br />
para o teatro, ou seja, para o gênero dramático,<br />
e transformou-se em uma peça teatral. Para isso<br />
foram feitas algumas modificações na maneira de<br />
contar, já que o texto dessa forma é feito para ser<br />
encenado. Você sabe o que significa “ato”?<br />
Os atos são as partes da peça; essa, por<br />
exemplo, sabemos que tem três porque desce o<br />
pano no final do texto.<br />
2. Alguns trechos estão entre parênteses e as<br />
letras em itálico. Para que serve esse recurso chamado<br />
rubrica?<br />
Para marcar e orientar as cenas para os atores,<br />
para dizer como as falas devem ser representadas<br />
e o que estará no palco.<br />
3. Por que você acha que há muitas frases interrogativas,<br />
exclamativas e imperativas? Isso muda a<br />
maneira de ler o texto?<br />
Sim, isso muda porque a maneira de falar é a<br />
encenação mais forte e necessária para quem está<br />
no palco, por isso tantas pontuações.<br />
Professor: Chame a atenção para o fato de que,<br />
muitas vezes, as falas também rimam para que proporcionem<br />
um ritmo rápido ao texto teatral.<br />
4. Observe o sentido dessas duas palavras, segundo<br />
o Dicionário Houaiss eletrônico:<br />
Charlatão: 1. aquele que se apresenta nas praças<br />
ou nas feiras para vender drogas e elixires reputados<br />
milagrosos, seduzindo o público e iludindo-o<br />
com discursos e trejeitos espalhafatosos. 2. que ou<br />
aquele que se diz possuidor de remédios infalíveis<br />
(diz-se de curandeiro).<br />
Ventríloquo: pessoa capaz de falar movendo<br />
muito pouco os lábios, para dar a impressão de que<br />
a voz vem de outra pessoa ou de um boneco, e não<br />
do falante (ventriloquia).<br />
Agora, responda:<br />
a) Na sua opinião, o Mágico de Oz é um ventrílo-<br />
quo e/ou um charlatão?<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Os alunos podem considerar que o<br />
Mágico de Oz é um charlatão e um ventríloquo, já<br />
que, de certa maneira, o charlatão convence o seu<br />
público, nesse caso as pessoas da terra de Oz, e<br />
para isso ele usou uma habilidade — a do ventríloquo.<br />
b) As ações do Mágico de Oz ajudaram a melho-<br />
rar a vida do Leão, do Espantalho e do Homem de<br />
Lata? Por quê?<br />
As ações do mágico, de forma indireta, ajudaram<br />
os amigos de Dorohty e a ela também, pois fez<br />
com que descobrissem que o que mais desejam já<br />
estava dentro deles.<br />
5. Dorinha ou Dorothy, ao final da narrativa,<br />
volta para casa. Para ela, qual foi a solução que<br />
o mágico deu? Você acredita que ela tenha apenas<br />
dormido?<br />
Resposta pessoal. Possibilidade de resposta:<br />
O mágico sugere que ela se concentre e pense forte<br />
em seu desejo e dessa forma resolve também o<br />
problema da menina que era voltar para casa. Dormir<br />
é uma forma de sonhar, sonhar também é uma<br />
forma de aprender com aquilo que não aconteceu<br />
de fato. Talvez os lugares imaginados pela menina<br />
a ajudem a ser feliz no Kansas e a resolver seus<br />
problemas mais íntimos.<br />
6. Agora que você já releu o texto e percebeu as<br />
alterações que a forma teatral provoca nos textos,<br />
que tal fazer uma leitura dramatizada observando<br />
as orientações das rubricas? Reúna alguns colegas,<br />
e seu professor dividirá os papéis, fazendo a função<br />
de diretor teatral. Boa leitura!
Para continuar<br />
Conceito / conexão<br />
No bimestre anterior, vimos dois tópicos de morfologia:<br />
os substantivos e os adjetivos. Neste começaremos<br />
pelos artigos:<br />
Artigo é uma palavra usada antes de<br />
substantivos, geralmente para indicar, determinar<br />
o seu gênero (masculino/feminino) e<br />
também o seu número (singular/plural).<br />
Texto com conteúdo:<br />
Professor: Seguindo as gramáticas normativas,<br />
optamos por nomear artigo como palavra. Entretanto,<br />
lembramos que a definição de palavra numa<br />
dada língua deve passar por vários testes, tanto<br />
fonológicos, como morfológicos e sintáticos, desse<br />
modo não é tarefa fácil a conceituação de palavra<br />
em português. O artigo é considerado por Mattoso<br />
Câmara Júnior, fonologicamente, como uma partícula<br />
proclítica átona que se adjunge a um nome<br />
substantivo e, morfologicamente, como uma forma<br />
dependente, portanto não podemos considerá-lo<br />
como palavra per se. Por outro lado, a adjunção de<br />
um artigo a uma palavra é o processo formal básico<br />
para sua substantivação. Ex.: um cantar, o admirar,<br />
os três. Caso você se interesse por esse assunto,<br />
como leitura pessoal, indicamos:<br />
BASíLIO, M. Formação e classes de palavras no<br />
português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.<br />
CÂMARA JÚNIOR, J. Mattoso. Estrutura da Língua<br />
Portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970.<br />
ROSA, M. C. Introdução à Morfologia. São Paulo:<br />
Contexto, 2000.<br />
Observe os artigos destacados no exemplo:<br />
Os raios de sol tinham feito daquelas terras<br />
uma grande massa cinzenta. Até mesmo a relva<br />
não era mais verde. O sol torrara as extremidades<br />
das suas hastes, tornando-a cinzenta como<br />
tudo o mais.<br />
Você notou que é necessária uma concordância<br />
de gênero e número?<br />
Os raios de sol = masculino e plural<br />
Nesse caso, o artigo “os” concorda com a palavra<br />
“raios”.<br />
Uma grande massa cinzenta = feminino e<br />
singular<br />
Já nesse, o artigo “uma” concorda com “massa”.<br />
Agora você: com que palavra o artigo “o” concorda?<br />
E o artigo “as”?<br />
O sol torrara as extremidades das suas hastes.<br />
O artigo “o” concorda com sol (masculino/singular)<br />
e “as” concorda com “extremidades” (feminino/<br />
plural).<br />
Além da concordância, os artigos também exercem<br />
a função de determinar as palavras que estão<br />
acompanhando, por isso se dividem em definidos e<br />
indefinidos:<br />
o, a, os, as = artigos definidos<br />
um, uma, uns, umas = artigos indefinidos<br />
Se quisermos determinar, mostrar que algo nos<br />
é particular, mais preciso, mais definido, usamos: o,<br />
a, os, as. Por exemplo:<br />
Em volta da casa, estendia-se a imensa pradaria<br />
cor de cinza. Nenhuma árvore, nenhuma<br />
casa… Apenas a planície a roçar o céu em toda<br />
a parte.<br />
Os artigos “a” desse trecho mostram que “pradaria”,<br />
“planície”, “parte” são imagens bem conhecidas<br />
e definidas pelo narrador do texto.<br />
Observe outro exemplo:<br />
Um grito de deslumbramento escapou-lhe<br />
diante da paisagem maravilhosa.<br />
Por que o artigo indefinido “um” foi usado nesse<br />
caso? Porque o narrador se refere a um grito qualquer,<br />
sem exatidão, já que no texto é o primeiro de<br />
deslumbramento; portanto, o artigo indefinido é o<br />
mais indicado. Caso tivesse usado “o grito de deslumbramento<br />
escapou-lhe…”, teríamos a impressão<br />
de que Dorothy já tinha feito isso antes na narrativa,<br />
e isso ainda não ocorreu. Note que mudar de “um”<br />
para “o” altera o sentido do texto.<br />
Por isso, a questão mais importante não é a<br />
classificação, e sim o sentido que o artigo dá à<br />
palavra que ele acompanha.<br />
P11
Sequência Didática:<br />
Professor: O uso do artigo definido em detrimento<br />
do artigo indefinido é semanticamente ligado<br />
à informação nova (artigo indefinido) e à informação<br />
já dada no contexto de uso, ou conhecida<br />
pelo falante/interlocutor (artigo definido). Um ótimo<br />
exercício seria solicitar que os alunos gravassem<br />
alguns minutos de diálogo espontâneo entre dois<br />
colegas da classe e, logo depois, transcrevessem<br />
esse diálogo, anotando o uso dos artigos na fala.<br />
Você pode questionar a sala sobre o uso dos artigos<br />
definidos e indefinidos, que sempre seguem a<br />
regra semântica dada acima. Esse tipo de exercício<br />
é interessante porque, além de fazer o aluno pensar<br />
sobre sua própria língua, o faz entender, na prática,<br />
ambas as definições gramaticais dadas para os artigos<br />
em língua portuguesa.<br />
P12<br />
Releia um trecho da peça, sem os artigos:<br />
Dorinha (indignada)<br />
senhor é homem mau!<br />
Oz<br />
Oh não… o que eu sou, é péssimo feiticeiro…<br />
Retorne ao trecho e complete com os artigos.<br />
Provavelmente você completou com os mesmos<br />
artigos do texto. Por que isso ocorre?<br />
1.<br />
2.<br />
3.<br />
“o” senhor = o personagem já sabe, conhece,<br />
já se referiu ao mágico em seu discurso, portanto<br />
utiliza o artigo definido.<br />
“um” homem = semelhante a qualquer homem<br />
mau (indefinido).<br />
“um” feiticeiro = semelhante a qualquer feiticeiro<br />
ruim (indefinido).<br />
Professor: Note que os alunos podem omitir<br />
este último item, o que de fato poderia ocorrer sem<br />
prejuízo de sentido, já que a omissão do artigo indefinido<br />
continua mantendo, semanticamente, a indefinição<br />
do sintagma nominal “péssimo feiticeiro”.<br />
Tente você: circule os artigos do trecho e<br />
indique que palavra os acompanha:<br />
(Os três metem o ombro no portão, que se<br />
abre facilmente. O guarda recua e eles passam.<br />
Na sala há também um biombo. Eles param<br />
admirados porque o trono está vazio. Quando<br />
estão na sala, percebem o movimento de alguém<br />
atrás do biombo.)<br />
Circular: os – três / o – ombro / o – guarda / um –<br />
biombo / o – trono / o – movimento.<br />
Professor: Os casos de contração/combinação<br />
da preposição, numeral, pronome pessoal serão<br />
estudados em outros capítulos, mas nada impede<br />
que você indique aos alunos tais casos nos exercícios.<br />
Julgando pela semelhança de palavras, é<br />
possível que circulem: em + o = no /de + o = do.<br />
Note também nesse exemplo que a palavra “três”<br />
semanticamente torna-se substantivo e é acompanhada<br />
de “os”, portanto há omissão do substantivo<br />
“amigos”. Recorde-os para o caso do título de um<br />
dos textos do bimestre anterior “Os da minha rua” –<br />
o artigo “os” indica que eram os colegas da minha<br />
rua, o substantivo está implícito.<br />
Agora, responda: se trocássemos o artigo em<br />
destaque no trecho a seguir por “o”, o sentido seria<br />
o mesmo? Por quê?<br />
Daí a pouco Dorothy notou que um grupo de<br />
pessoas estranhas, duma espécie que jamais<br />
vira, se dirigia para ela.<br />
Não, porque indicaria um grupo de pessoas<br />
conhecidas, não seria mais indefinido: “o grupo de<br />
pessoas estranhas” daria a impressão de que Dorothy<br />
já os tinha visto antes.<br />
Professor: Caso haja possibilidade, retome os<br />
dois textos do capítulo e aponte situações em que<br />
ocorrem artigos definidos e indefinidos, mostrando<br />
aos alunos que a alteração pode acarretar mudança<br />
ou prejuízo de sentido.<br />
Para continuar<br />
Além do texto<br />
A seguir, você lerá a sinopse da adaptação de<br />
O mágico de Oz para o cinema, feita em 1939:
Sinopse: Dorothy Gale (Judy Garland) é<br />
uma garota de 11 anos, que vive na fazenda<br />
dos seus tios, Henry (Charley Grapewin) e<br />
Ema (Clara Blandick), em Kansas.<br />
Totó, o cãozinho de Dorothy, ataca a Srta.<br />
Gulch (Margaret Hamilton), que consegue uma<br />
ordem judicial para pôr o cachorro “para dormir”.<br />
Sentindo-se obrigados a cumprir a lei,<br />
Henry e Ema permitem que Gulch leve Totó<br />
na sua bicicleta, em uma cesta, para cumprir<br />
o que foi determinado. No meio do caminho, o<br />
cão escapa e volta para a fazenda. Dorothy<br />
foge com ele, temendo uma nova captura.<br />
Na estrada, durante a fuga, Dorothy conhece<br />
um adivinho falso, o professor Marvel<br />
(Frank Morgan), e ela fica fascinada pelos<br />
seus “dons”. Ao perceber que a garota havia<br />
fugido, Marvel a convence a voltar para casa.<br />
Quando Dorothy e Totó retornam, surge um<br />
tornado enorme que se move em direção à fazenda.<br />
Junto com os colonos Zeke (Bert Lahr),<br />
Hickory (Jack Haley) e Hunk (Ray Bolger),<br />
Ema e Henry vão para um abrigo, fechando as<br />
portas antes de verem Dorothy. Assim, ela não<br />
teve tempo de se proteger ao lado dos tios.<br />
Então, ela corre para dentro da casa e um<br />
pedaço de janela arrancado pelo vento bate na<br />
sua cabeça. Na sequência, descobre que a casa<br />
da fazenda foi arrancada do chão pelo ciclone e<br />
está se dirigindo para o centro do tornado.<br />
Pela janela, Dorothy vê, voando com a força<br />
do vento, os animais da fazenda, um homem remando<br />
um barco, uma mulher idosa tricotando<br />
calmamente em uma cadeira de balanço. Ela<br />
também vê, pedalando sua bicicleta, Gulch, que<br />
de repente se transforma em uma bruxa de chapéu<br />
pontudo, montada em uma vassoura.<br />
A casa gira até o solo fazendo um grande<br />
barulho. Com ansiedade pelo que está por vir,<br />
Dorothy abre a porta da casa e fica deslumbrada<br />
com a visão maravilhosa do lugar em que<br />
está. A partir disso, começa a viver inúmeras<br />
aventuras!<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 05 jan. de 2009. Texto adaptado.<br />
1. Que diferenças você notou entre a sinopse e o<br />
texto em prosa do início do capítulo?<br />
Há uma descrição mais detalhada das ações<br />
e do cenário antes do ciclone, outros personagens<br />
são citados.<br />
2. A sinopse é feita para apresentar e resumir algumas<br />
ideias sobre aquilo a que vamos assistir ou o<br />
que vamos ler. Essa sinopse que lemos anteriormente<br />
se concentra no início ou no fim da história? Por<br />
que você acha que isso ocorre?<br />
Conta o início da história, para provocar curiosidade<br />
e fazer com que queiramos assistir ao filme<br />
para ver o que acontece.<br />
3. Observe uma foto do filme. Por que é possível<br />
dizer que esse filme não é atual?<br />
Porque as cores são mais opacas, já que não<br />
havia a digitalização de imagens. A caracterização<br />
(maquiagem/figurino) também é bastante simples,<br />
considerando o que vemos no cinema nos<br />
dias de hoje.<br />
4. No início deste capítulo, explicamos o que é uma<br />
obra clássica. Há muitos fatores que tornam clássica<br />
uma obra, como: as personagens tornam-se marcantes;<br />
há inovações temáticas ou estilísticas; a obra,<br />
geralmente, recebe adaptações para cinema e teatro.<br />
Você conhece alguma outra adaptação de O mágico<br />
de Oz? Você considera esse texto um clássico? Discuta<br />
com seus colegas e anotem suas conclusões.<br />
Professor: É provável que citem alguma adaptação<br />
para animação, ou seja, desenho. Os alunos<br />
responderão se é um clássico ou não de acordo<br />
com suas próprias vivências: para alguns pode ser<br />
uma obra da qual gostem e já tenham tido contado;<br />
para outros, uma nova descoberta.<br />
P13<br />
MGM/THE PICTURE DESK/AFP
Para finalizar<br />
Professor: Preencha o quadro com os alunos.<br />
Este pode ser um momento de revisão. A resposta<br />
dos alunos pode auxiliar na autoavaliação: você<br />
considera que conseguiu realizar todas as atividades?<br />
Quanto você contribuiu para o conhecimento<br />
dos alunos?<br />
P14<br />
Conteúdos<br />
Clássicos<br />
Artigos<br />
Mapas<br />
Texto original<br />
Teatro<br />
Cinema<br />
O que aprendi<br />
no capítulo 8<br />
Para casa<br />
Leia o texto a seguir para responder às<br />
questões:<br />
Escultura em areia: arte do efêmero<br />
A 6 a Edição do Festival Internacional de<br />
Escultura em Areia — FIESA 2008 — teve<br />
como tema “Hollywood”. O festival ocorreu em<br />
Pera, no Algarve, de 22 de maio a 22 de setembro,<br />
das 10h às 24h, e de 23 de setembro a 22<br />
de outubro, das 10h às 22h.<br />
O Fiesa é o maior evento mundial de escultura<br />
em areia, único na península Ibérica. Na 6ª<br />
edição, os visitantes tiveram a chance de fazer<br />
uma viagem fabulosa por meio dos mais belos<br />
cenários de Hollywood. Em areia, os artistas representaram<br />
ficção, humor, fantasia e personagens<br />
conhecidas em todo o mundo, como Charlie<br />
Chaplin, Marilyn Monroe, King Kong, os Marretas<br />
e os dinossauros de Jurassik Park.<br />
Durante o dia, as esculturas puderam ser<br />
apreciadas em seus pormenores e, à noite,<br />
fez-se um ambiente fantástico e colorido, com<br />
projeções de vídeo e slides dessa edição e<br />
das anteriores.<br />
Para a preparação do evento, cinquenta e<br />
seis escultores de vários países, reconhecidos<br />
internacionalmente, tiveram um mês para dar<br />
forma a trinta mil toneladas de areia.<br />
Houve, também, um espaço interativo e lúdico,<br />
no qual os visitantes puderam ensaiar e<br />
mostrar as suas habilidades criativas no trabalho<br />
com essa forma de expressão artística.<br />
Disponível em: . Acesso<br />
em: 5 jan. 2009. Adaptado.<br />
1. O texto que você leu é informativo? Por quê?<br />
Sim, porque usa uma linguagem mais direta<br />
do que a literária e informa sobre um fato, dando os<br />
dados de quando, onde, como, quem.<br />
2. Anote a seguir as palavras cujo significado<br />
você não conhece. Depois, procure em um dicionário<br />
o sentido delas no texto.<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Na devolutiva da tarefa, provavelmente<br />
os alunos deverão citar: lúdica (brincadeira)<br />
e efêmero (passageiro).<br />
3. Qual é o assunto principal do texto?<br />
O texto apresenta um festival de esculturas na<br />
areia cujo tema central são as personagens famosas<br />
de filmes de Hollywood.<br />
4. Volte ao segundo parágrafo do texto e circule<br />
alguns artigos. Depois, usando uma seta, demonstre<br />
a que palavra eles se referem.<br />
o/Fiesa; o/evento; os/visitantes; os/artistas;<br />
a/chance; uma/viagem; o/mundo; os/Marretas; os/dinossauros.<br />
5. Releia o título do texto. Por que se pode dizer<br />
que a escultura em areia é uma arte efêmera?<br />
Efêmero significa passageiro, fugaz. Diferentemente<br />
de uma escultura em bronze, por exemplo,<br />
a escultura em areia será destruída pelo tempo,<br />
pelo vento. Ela dura bem menos do que as outras<br />
(em bronze, em gesso), é passageira.
Para começar<br />
Capítulo<br />
Português 9<br />
Neste capítulo, conheceremos uma obra<br />
clássica e o que é nonsense; em morfologia,<br />
estudaremos os numerais.<br />
Alice no País das Maravilhas<br />
O País das Maravilhas é um mundo onde as regras<br />
do tempo e do espaço estão de cabeça para<br />
baixo. Criado em 1865 por Lewis Carroll, é o cenário<br />
para as aventuras de Alice. Esse clássico da<br />
literatura segue os caminhos do nonsense.<br />
E o que é nonsense?<br />
Quando uma obra tem frases, situações ou ditos<br />
que parecem disparates, absurdos, fora de lógica,<br />
dizemos que é sem sentido. O nonsense funciona<br />
como um tipo de humor feito de jogos de palavras,<br />
trocadilhos e brincadeiras. Como Alice no País das<br />
Maravilhas foi escrito em inglês, muitas das frases<br />
e ditos foram adaptados pelos muitos tradutores<br />
para a língua portuguesa e para o leitor brasileiro,<br />
como você.<br />
O primeiro capítulo chama-se “Descendo pela<br />
toca do Coelho”. Leia-o a seguir:<br />
“Alice estava começando a se cansar de ficar<br />
sentada ao lado da irmã à beira do lago, sem<br />
nada para fazer. Uma ou duas vezes ela tinha<br />
espiado no livro que a irmã estava lendo, mas<br />
ele não tinha desenhos nem diálogos. “E para<br />
que serve um livro sem desenhos ou diálogos?”,<br />
se perguntou Alice.<br />
Então, ficou pensando consigo mesma (da<br />
melhor maneira possível, pois o dia quente a<br />
fazia sentir-se sonolenta e burra) se o prazer<br />
de fazer uma corrente de margaridas valeria o<br />
esforço de se levantar e colher as flores. De repente,<br />
um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa<br />
passou correndo por ela.<br />
País das Maravilhas<br />
Não havia nada de muito extraordinário nisso.<br />
Nem Alice achou assim tão estranho escutar o<br />
Coelho dizer para si mesmo: “Oh, meu Deus! Oh,<br />
meu Deus! Vou chegar atrasado!” (Quando ela<br />
pensou sobre isto, mais tarde, achou que deveria<br />
ter se espantado com a cena, mas naquela hora<br />
tudo lhe pareceu muito natural.) Mas, quando o<br />
Coelho tirou um relógio do bolso do colete, deu<br />
uma olhada nas horas e seguiu adiante, apressado,<br />
Alice deu um salto! Ela nunca tinha visto<br />
um Coelho com bolso no colete nem com um relógio<br />
para tirar do bolso.<br />
Muito curiosa, correu pelo campo atrás dele,<br />
e chegou bem a tempo de ver quando ele sumiu<br />
numa grande toca embaixo da cerca viva.<br />
No momento seguinte, lá entrou Alice atrás<br />
do Coelho, sem nem pensar como é que iria sair<br />
de lá depois.<br />
A toca era reta como um túnel, depois afundava<br />
de repente. Tão de repente, que Alice não<br />
teve tempo de pensar em parar e já começou a<br />
cair no que parecia ser um poço muito profundo.<br />
Ou o poço era muito fundo, ou ela estava<br />
caindo muito devagar, pois teve bastante tempo<br />
para olhar ao redor enquanto caía e para se perguntar<br />
o que iria acontecer a seguir.<br />
Primeiro, tentou olhar para baixo e descobrir<br />
aonde ia chegar, mas estava escuro demais para<br />
ver alguma coisa. Depois, olhou para as paredes<br />
do poço e notou que estavam cobertas de guarda-louças<br />
e prateleiras de livros. Aqui e ali viu<br />
mapas e desenhos pendurados em pregos. […]<br />
P15
Para baixo, para baixo, para baixo. A queda<br />
nunca ia chegar ao fim?<br />
— Gostaria de saber quantos quilômetros já<br />
caí a essa altura — disse em voz alta. — Devo<br />
estar chegando perto do centro da Terra. Deixe-<br />
-me ver: isso seria seis mil e quinhentos quilômetros<br />
para baixo, acho…<br />
(Sabem, Alice tinha aprendido muitas dessas<br />
coisas na escola e, mesmo não sendo uma hora<br />
muito boa para exibir os seus conhecimentos,<br />
já que não havia ninguém para escutar, ainda<br />
assim era muito bom praticar a lição.)<br />
— …sim, é mais ou menos essa distância…<br />
mas aí eu me pergunto: em que latitude ou longitude<br />
estou agora?<br />
(Alice não tinha a menor ideia do que era latitude,<br />
nem longitude, mas achava que eram palavras<br />
muito imponentes para dizer.)<br />
[…]<br />
Para baixo, para baixo, para baixo. Não havia<br />
nada mais para fazer, por isso Alice logo começou<br />
a falar de novo.<br />
— Acho que Dinah vai sentir a minha falta<br />
hoje à noite. (Dinah era a gata.) Espero que se<br />
lembrem do seu pires de leite na hora do chá.<br />
De repente, Alice começou a falar como se a<br />
gata estivesse ouvindo:<br />
— Minha querida Dinah! Gostaria que estivesse<br />
aqui comigo! Não há camundongos no ar,<br />
infelizmente, mas você poderia pegar um morcego.<br />
Morcegos são muito parecidos com camundongos,<br />
sabe? Mas será que gatos comem morcegos?<br />
Neste momento, Alice começou a ficar<br />
com sono, e continuou a falar consigo mesma,<br />
meio que sonhando:<br />
— Gatos comem morcegos? Gatos comem<br />
morcegos? — e às vezes: — Morcegos comem<br />
gatos? (Sabem, como ela não sabia a resposta<br />
para nenhuma das perguntas, tanto fazia a ordem<br />
que lhes dava.)<br />
Alice sentiu que estava cochilando e, mal começou<br />
a sonhar que caminhava de mãos dadas<br />
com Dinah […] quando, de repente: pam! pam!<br />
Caiu em cima de um monte de galhos e folhas<br />
secas, e a queda chegou ao fim.<br />
Alice não se machucou e levantou-se num segundo.<br />
Olhou para cima, mas estava tudo escuro<br />
no alto. À sua frente, havia outra longa passagem,<br />
e dava para ver o Coelho Branco atravessando-a,<br />
apressado. Não havia um minuto a perder. Alice<br />
disparou como o vento, bem a tempo de escutá-lo<br />
dizer, enquanto virava uma esquina:<br />
P16<br />
— Ai, as minhas orelhas e os meus bigodes,<br />
estou atrasado!<br />
Ela estava bem atrás dele antes de virar a<br />
esquina, mas depois já não havia nem sombra<br />
do Coelho. Viu-se numa sala comprida e baixa,<br />
iluminada por uma fileira de lâmpadas penduradas<br />
no teto.<br />
Havia portas em todo o redor, mas estavam<br />
trancadas. Depois que Alice percorreu a sala<br />
de um lado para o outro, tentando abrir cada<br />
uma das portas, caminhou tristemente para o<br />
meio dela, perguntando-se como é que iria sair<br />
dali.<br />
De repente, viu à sua frente uma mesinha de<br />
três pés, toda de vidro maciço. Não havia nada<br />
sobre a mesa, só uma chave de ouro. Primeiro,<br />
Alice achou que fosse de uma das portas do<br />
salão. Mas, ai!, ou as fechaduras eram grandes<br />
demais, ou a chave era pequena demais.<br />
O certo é que não abria nenhuma das portas.<br />
Depois, descobriu uma cortina baixa que não<br />
tinha notado antes e, atrás da cortina, uma portinha<br />
de menos de dois palmos de altura. Foi só<br />
experimentar a chave na fechadura […]!<br />
Alice abriu a porta e viu que ela dava para<br />
uma passagem, pouco maior que um buraco<br />
de rato. Ajoelhou-se e olhou lá para dentro…<br />
[…]<br />
Então ela resolveu voltar para junto da mesinha,<br />
meio na esperança de achar outra chave ou<br />
talvez um manual de instruções. […]<br />
Mas o que ela achou dessa vez foi uma<br />
garrafinha com uma etiqueta de papel amarrada<br />
no gargalo, e as palavras ‘BEBA-ME’, impressas<br />
com letras grandes e bem bonitas. […]<br />
Não tinha nenhum veneno escrito nessa garrafa,<br />
por isso Alice resolveu provar.<br />
— Que sensação meio esquisita! — disse Alice.<br />
— Devo estar me encolhendo…”<br />
CARROLL, L. Alice no País das Maravilhas. Trad.<br />
Rosaura Eichenberg. Porto Alegre: L &PM, p. 7-10.
Para continuar<br />
Conversa sobre o texto<br />
1. Procure em um dicionário o significado das seguintes<br />
palavras do texto:<br />
a) Imponente: que se impõe, que mostra autoridade.<br />
b) Latitude: distância angular norte e sul de um<br />
ponto ao equador terrestre, medida em graus.<br />
c) Longitude: distância em graus, minutos e<br />
segundos de um ponto ao meridiano inicial ou<br />
de referência.<br />
2. Quando a narrativa de Alice começa, ela está<br />
sentada ao lado da irmã e se faz uma pergunta:<br />
“para que serve um livro sem figuras ou diálogos?”.<br />
Qual a importância para você dos diálogos e das<br />
figuras em uma história?<br />
Re s p o s t a p e s s o a l<br />
Professor: Oriente os alunos dizendo que os<br />
diálogos dão movimento e ritmo à história, ajudam<br />
a caracterizar as personagens por meio do que<br />
falam, e as figuras podem ajudar a explicar certas<br />
coisas que não entendemos ou até a acrescentar<br />
dados junto daquilo que imaginamos enquanto lemos,<br />
portanto formam um texto à parte.<br />
3. No capítulo sobre a Terra de Oz, lemos que os<br />
parênteses tinham a função de explicar, indicar as<br />
cenas para os atores. E neste texto, para que foram<br />
usados os parênteses?<br />
Neste caso, essa marcação serve para mostrar<br />
o que Alice pensa por meio da voz do narrador.<br />
4. Você deve ter notado que, ao longo do trecho,<br />
muitas vezes o autor usou letras maiúsculas e palavras<br />
em itálico. Por que isso acontece nesse texto?<br />
Isso tem a mesma função no teatro?<br />
Pode ter a mesma função, como usar para entonação<br />
mais alta ou mais baixa da voz de quem<br />
lê, mas a provável justificativa para isso, já que este<br />
texto é impresso, é a de que tais recursos grafotipográficos<br />
estão respondendo àquilo que Alice pede<br />
logo no início: “figuras”, ou seja, é uma maneira<br />
também de desenhar o texto e ilustrá-lo, só que por<br />
meio das próprias letras.<br />
Professor: Ressalte que tais marcas textuais<br />
não eram muito comuns na época de Carroll, por<br />
isso funcionam também como uma espécie de “jeito”<br />
novo de contar por escrito.<br />
5.<br />
O que leva Alice a seguir o coelho branco?<br />
A curiosidade<br />
6. Antes do capítulo 1, Lewis Carroll deixou escrito<br />
um poema. Leia-o a seguir:<br />
Num dourado entardecer<br />
rio abaixo a deslizar,<br />
os dois remos nem pediam<br />
nossos braços a remar.<br />
Mãos pequeninas fingiam<br />
nosso passeio guiar.<br />
Três meninas bem cruéis<br />
em todo esse encantamento<br />
inventaram de ouvir<br />
um conto nesse momento.<br />
A Primeira exige história,<br />
bem mandona se revela.<br />
Gentil, espera a Segunda<br />
“que tenham absurdos nela”.<br />
E a Terceira interrompe<br />
toda hora, a tagarela.<br />
Mas quando se faz silêncio,<br />
elas seguem a fantasia<br />
de uma criança que sonha<br />
terras novas, de poesia,<br />
conversando com animais,<br />
crendo que isso ocorria.<br />
Mas quando a fonte secava<br />
e o narrador, cansado,<br />
tentava adiar um pouco,<br />
deixar a história de lado,<br />
“Outra vez…” — “Agora mesmo!”<br />
bem insistente era o brado.<br />
E assim foi nascendo o conto:<br />
um a um, bem devagar,<br />
muitos acontecimentos<br />
passaram a se encadear.<br />
Depois voltamos para casa,<br />
bem felizes a cantar.<br />
Alice! Tome esta história,<br />
alegria de um instante,<br />
feita de sonhos da infância<br />
em que a memória se encante,<br />
como grinaldas de flores<br />
colhidas em terra distante.<br />
CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Trad.<br />
Ana Maria Machado. São Paulo: Ática, 1997, p. 11-12.<br />
P17
7. O poema, como se fosse uma dedicatória, explica<br />
em que situação Carroll inventou essa narrativa.<br />
a) Que pessoas aparecem no poema?<br />
O narrador e três meninas, uma delas chamada<br />
Alice.<br />
b) Onde estavam quando a história era contada<br />
e o que faziam?<br />
Em um barco a remar sobre um rio.<br />
c) No poema há ritmo e rimas. O que nos faz<br />
lembrar o ritmo do poema? Observe com atenção a<br />
primeira estrofe.<br />
O movimento dos remos na água.<br />
d) Uma das meninas pede que “tenham absur-<br />
dos”, isso é o que chamamos nonsense. Que situações<br />
você percebeu no trecho do capítulo que<br />
podemos classificar como absurdas?<br />
Algumas delas: coelho que usa relógio, colete<br />
e fala; cair em um poço/buraco onde há móveis e<br />
potes de geleia; tomar um frasco que faz com que a<br />
menina diminua etc.<br />
Para continuar<br />
O texto no contexto<br />
A seguir, leremos outro trecho de Alice no País<br />
das Maravilhas, do capítulo IX — A história da Falsa<br />
Tartaruga:<br />
— Vamos continuar com o jogo — disse a<br />
Rainha para Alice.<br />
E esta, assustada demais para dizer uma palavra<br />
que fosse, seguiu-a lentamente de volta ao<br />
campo de croquet.<br />
Os outros convidados tinham aproveitado a<br />
ausência da Rainha para descansar na sombra.<br />
Mas desde que a avistaram apressaram-se a<br />
voltar ao jogo, tendo a Rainha simplesmente observado<br />
que um minuto de atraso lhes custaria<br />
a vida.<br />
Durante o tempo todo que jogaram, a Rainha<br />
não parou um minuto de discutir com os jogadores<br />
e gritar “Cortem a cabeça dele!” ou “Cortem<br />
a cabeça dela!”. Os que eram sentenciados ficavam<br />
sob a custódia dos soldados, que naturalmente<br />
tinham de deixar a sua posição de arcos.<br />
Assim, em cerca de meia hora mais ou menos,<br />
não havia mais arcos no campo, e todos os jogadores,<br />
exceto o Rei, a Rainha e Alice, estavam<br />
presos e sentenciados à morte.<br />
P18<br />
A Rainha abandonou então a partida, quase<br />
sem fôlego, e perguntou a Alice: — Você já viu a<br />
Falsa Tartaruga?<br />
— Não — respondeu Alice. — Nem sei o que<br />
é uma Falsa Tartaruga.<br />
[…] — Venha, então — disse a Rainha. — Ela<br />
lhe contará sua história.<br />
Enquanto se afastavam, Alice ouviu o Rei dizer<br />
em voz baixa ao grupo de condenados: —<br />
Estão todos perdoados. — “Ótimo, isso é uma<br />
boa coisa”, disse ela para si mesma, pois sentia-<br />
-se bastante infeliz com as numerosas condenações<br />
ordenadas pela Rainha.<br />
Em breve chegaram junto a um Grifo, deitado<br />
ao sol e dormindo um sono profundo. […] —<br />
Acorde, seu preguiçoso! — ordenou a Rainha<br />
— e leve essa jovem para ver a Falsa Tartaruga<br />
e ouvir sua história. Tenho de voltar e verificar<br />
algumas execuções que ordenei. — E a Rainha<br />
afastou-se, deixando Alice sozinha com o Grifo.<br />
Alice não gostou lá muito do aspecto dessa<br />
criatura. Mas pensou que, no fim de contas, seria<br />
tão perigoso estar com ele como na companhia<br />
da feroz Rainha. Portanto, esperou.<br />
O Grifo sentou-se e esfregou os olhos. Contemplou<br />
depois a Rainha até que ela sumisse de<br />
vista. Riu então à socapa.<br />
— É muito engraçado! — murmurou, meio<br />
para si mesmo e meio para Alice.<br />
— Qual é a graça? — perguntou Alice.<br />
— Ora, ela é que é engraçada — disse o<br />
Grifo. — Você sabe, isso tudo é fantasia dela:<br />
nunca executam ninguém. Vamos!<br />
[…] Não foram muito longe até avistarem a<br />
Falsa Tartaruga a certa distância. Ela estava<br />
sentada, triste e solitária, na saliência de uma<br />
pedra, e, ao se aproximarem, Alice pôde ouvila<br />
suspirar como se tivesse o coração partido.<br />
Apiedou-se profundamente. — Por que ela está<br />
tão triste? — perguntou ao Grifo, e este respondeu,<br />
quase com as mesmas palavras que dissera<br />
antes: — É tudo fantasia dela, você sabe: não<br />
tem motivo nenhum pra ficar triste. Vamos!<br />
Aproximaram-se da Falsa Tartaruga, que os<br />
contemplou com grandes olhos cheios de lágrimas,<br />
mas não disse nada.<br />
— Aqui esta jovem — disse o Grifo — quer<br />
conhecer a sua história, quer mesmo.<br />
— Eu lhe contarei — disse a Falsa Tartaruga,<br />
com uma voz profunda e cavernosa. — Sentem-<br />
-se, todos dois, e não digam uma só palavra até<br />
eu ter acabado.
Sentaram-se, pois, e ninguém disse uma palavra<br />
durante alguns minutos. Alice pensou: “Só<br />
quero ver como ela pode acabar, se não começa<br />
nunca”. Mas esperou pacientemente.<br />
— Outrora — começou enfim a Falsa Tartaruga,<br />
com um profundo suspiro — eu era uma<br />
verdadeira tartaruga.<br />
Essas palavras foram seguidas por um longo<br />
silêncio, rompido apenas por ocasional “Hjkrrh!”<br />
do Grifo e soluços constantes da Falsa Tartaruga.<br />
Alice estava a ponto de se levantar e dizer:<br />
“Obrigada, senhora, por uma história tão interessante!”,<br />
mas não podia deixar de pensar que com<br />
certeza havia mais alguma coisa a ser dita. Portanto,<br />
ficou sentada e não disse nada.<br />
— Quando éramos pequenos — continuou,<br />
por fim, a Falsa Tartaruga, mais serena, embora<br />
soluçando um pouco de vez em quando, — frequentávamos<br />
uma escola do mar. A professora<br />
era uma velha tartaruga… e nós a chamávamos<br />
de Torturuga…<br />
— Mas por que Torturuga, se ela era uma tartaruga?<br />
Perguntou Alice.<br />
— Nós a chamávamos de Torturuga porque<br />
aprender com ela era uma tortura — respondeu<br />
irritada a Falsa Tartaruga. — Na verdade você é<br />
bem obtusa, hein?<br />
— Devia ter vergonha de fazer uma pergunta<br />
tão boba — acrescentou o Grifo. E ambos ficaram<br />
calados, olhando para a pobre Alice, que<br />
teve vontade de enfiar-se chão adentro.<br />
— Bem, nós íamos para essa escola no mar,<br />
embora você não pareça acreditar…<br />
— Nunca disse nada disso! — interrompeu<br />
Alice.<br />
— Disse sim — insistiu a Falsa Tartaruga.<br />
— E cale a boca! — acrescentou o Grifo,<br />
antes que Alice pudesse dizer qualquer coisa.<br />
A Falsa Tartaruga continuou.<br />
— Tivemos a melhor educação possível… na<br />
verdade, íamos à escola diariamente…<br />
— Eu também ia ao externato diariamente —<br />
comentou Alice. — Não vejo por que se orgulhar<br />
tanto disso.<br />
— Com matérias suplementares? — perguntou,<br />
um pouco inquieta, a Falsa Tartaruga.<br />
— Sim — respondeu Alice —, aprendíamos<br />
francês e música.<br />
— E lavagem? — perguntou a Falsa Tartaruga.<br />
— Claro que não! — exclamou Alice indignada.<br />
— Ah, então a sua não era uma escola tão<br />
boa assim — disse a Falsa Tartaruga com grande<br />
alívio. — Mas na nossa, ao pé da conta eles<br />
punham: “Francês, música e lavagem — cursos<br />
suplementares”.<br />
— Mas não vejo por que vocês precisavam<br />
disso — comentou Alice — vivendo no fundo do<br />
mar.<br />
— Eu não tinha recursos pra pagar esses cursos<br />
extras — disse a Falsa Tartaruga com um<br />
suspiro. — Contentava-me com os cursos regulares.<br />
— E quais eram? — inquiriu Alice.<br />
— As Belas Tretas e o bom Estrilo, pra começar,<br />
é claro — replicou a Falsa Tartaruga — e depois<br />
os diferentes ramos da Aritmética: Ambição,<br />
Distração, Murchificação e Derrisão.<br />
— Nunca ouvi falar de “Murchificação” —<br />
arriscou-se Alice a dizer. — Que é isso?<br />
O Grifo ergueu as patas para o ar, manifestando<br />
surpresa.<br />
— O quê? Nunca ouviu falar de murchificação!<br />
Exclamou.<br />
— Você sabe o que é inchar, não sabe?<br />
— S-im… — respondeu Alice com hesitação. —<br />
Quer dizer… acho que é… encher alguma coisa.<br />
— Pois então — continuou o Grifo — se você<br />
não entende o que é murchificar, então é uma<br />
toleirona.<br />
Alice não teve coragem de perguntar mais<br />
nada sobre o assunto. Por isso, voltou-se para a<br />
Falsa Tartaruga e indagou:<br />
— Que mais se ensinava na escola?<br />
— Bem, tínhamos os Estudos Histéricos respondeu<br />
a Falsa Tartaruga, contando as matérias<br />
na pata — isto é, os fatos histéricos antigos e<br />
modernos, e também Marografia; e ainda Desgrenhar:<br />
o mestre-desgrenhista era um velho<br />
congro que vinha uma vez por semana e nos ensinava<br />
a desgrenhar e a espichar em taramela.<br />
— E como é isso? — perguntou Alice.<br />
— Bem, não posso demonstrar eu mesma —<br />
disse a Falsa Tartaruga. —Ando meio emperrada.<br />
E o Grifo nunca aprendeu isso.<br />
P19
— Não tive tempo — desculpou-se o Grifo. —<br />
Estudei com o mestre de Letras Clássicas. Era<br />
um caranguejo bem velho, ora se era.<br />
[…] — E quantas horas por dia duravam as<br />
aulas? — perguntou Alice, apressando-se em<br />
mudar de assunto.<br />
— Dez horas no primeiro dia, nove no segundo,<br />
e assim por diante — informou a Falsa Tartaruga.<br />
— Que horário engraçado! — exclamou Alice.<br />
— É por isso que se chamavam de cursos —<br />
explicou o Grifo.<br />
— Porque de dia para dia as aulas ficavam<br />
mais apressadas, pois curso quer dizer corrida,<br />
entende?<br />
A ideia era totalmente nova para Alice, e ela<br />
refletiu um pouco antes de fazer novo comentário.<br />
— Então o décimo primeiro dia tinha de ser<br />
sempre um feriado?<br />
— É claro que sim — respondeu a Falsa Tartaruga.<br />
— E no décimo segundo dia, como é que era? —<br />
continuou Alice com vivacidade.<br />
— Basta de falar de lições — interrompeu o<br />
Grifo em tom categórico. — Fale a ela agora alguma<br />
coisa de jogos.<br />
1. Antes de começar a responder às questões<br />
e descobrir mais sobre os jogos de Alice, releia o<br />
texto e anote as palavras que você não conhece.<br />
Depois, discuta com seus colegas e explique com<br />
suas palavras o significado:<br />
À socapa:<br />
Custódia:<br />
Contemplar:<br />
Inquirir:<br />
Taramela:<br />
Pantim:<br />
Saliência:<br />
Obtusa:<br />
Congro:<br />
P20<br />
Toleirão:<br />
Externato:<br />
Suplementar:<br />
Execução:<br />
Croquet:<br />
À socapa: de lado, escondido, sorrateiramente.<br />
Inquirir: perguntar, questionar.<br />
Custódia: sob guarda, preso ou protegido.<br />
Contemplar: olhar, observar, acompanhar.<br />
Taramela: língua, trava de porta.<br />
Toleirona: aquela que é lerda, tolo, pateta.<br />
Pantim: lamparina usada pelos indianos.<br />
Saliência: buracos entre uma pedra e outra.<br />
Obtuso: confuso, rude<br />
Congro: tipo de peixe, enguia.<br />
Externato: escola em que se fica o dia todo, contrário<br />
de internato.<br />
Suplementar: extra, a mais.<br />
Execução: condenação.<br />
Croquet: jogo de recreação em que se empurram<br />
bolas de madeira ou de plástico para que passem<br />
sob os arcos no chão. Jogo semelhante ao golfe.<br />
2.<br />
Observe este trecho:<br />
— S-im… — respondeu Alice com hesitação. —<br />
Quer dizer… acho que é… encher alguma coisa.<br />
O que você acha que significa “hesitação”?<br />
Como você chegou a essa conclusão?<br />
Professor: Espera-se que os alunos deduzam<br />
que significa “ficar em dúvida, titubear”, e que as<br />
marcas grafotipográficas tenham indicado isto: separação<br />
por hífen do advérbio “sim”, as reticências<br />
e o uso do verbo “achar”.
3. Além do croquet e do baralho há um outro tipo<br />
de jogo na narrativa: o jogo de palavras, ou melhor,<br />
o trocadilho, que é feito de sons semelhantes ou<br />
iguais, mas que possuem significados diferentes,<br />
resultando equívocos, atrapalhações, por vezes,<br />
engraçados. No capítulo IX, isso é bastante comum<br />
quando a Falsa Tartaruga e o Grifo explicam para<br />
Alice como eram as aulas na escola do mar. Um<br />
exemplo: a Falsa Tartaruga chama a sua professora<br />
de “tortoruga” e diz que suas aulas eram uma<br />
“tortura”, portanto ficou “tortoruga”: uma mistura de<br />
tartaruga com tortura.<br />
Você consegue identificar outros trocadilhos<br />
nesse trecho do capítulo? Anote-os a seguir e compare<br />
com os de seus colegas. Comece observando<br />
o nome das matérias da escola do mar.<br />
Belas Tretas e bom Estrilo = belas letras e bom<br />
estilo (de escrever); Murchificação = subtração; Ambição<br />
= adição (referente a quem só quer acumular<br />
coisas e bens); Distração = poderia ser associada<br />
a multiplicação; Derrisão = zombação, tirar sarro;<br />
Desgrenhar = desenhar; Gaguejo = solfejo (uma referência<br />
às aulas de música); Marografia = Geografia<br />
(porque estão no mar); Estudos Histéricos = História;<br />
espichar a taramela = ensinar a mostrar a língua, espichar<br />
a língua.<br />
Professor: Comente com os alunos sobre o fato<br />
de a obra ser uma tradução e, neste caso, muitas<br />
vezes o tradutor modifica muito para que os trocadilhos<br />
façam sentido; a cada adaptação e tradução de<br />
Alice podemos perceber soluções muito diferentes.<br />
Na tradução de Ana Maria Machado, pela editora<br />
Ática, por exemplo, há uma solução interessante: a<br />
tradução de “tortoruga” não existe, ela preferiu usar<br />
“Dona Jabotá”, ou seja, um “jabuti que mal chegava<br />
na escola já BOTAva os alunos” para estudar, isto<br />
é, uma mistura de JABUTI COM VERBO BOTAR (já<br />
que botam ovos) = Jabotá.<br />
4. O tempo também passa de maneira diferente<br />
no País das Maravilhas. Como era a sequência de<br />
aulas na escola do mar?<br />
A cada dia, o tempo das aulas diminuía mais<br />
até chegar ao feriado, de um em um, por isso chamava-se<br />
curso, pela maneira como corriam, assim<br />
como a água, já que era uma escola do mar, o curso<br />
da água.<br />
5. Releia este trecho: “Mas na nossa, ao pé da<br />
conta eles punham: “Francês, música e lavagem…”<br />
Nesse contexto, o que significa a expressão “ao pé<br />
da conta”?<br />
Indica que eles escreviam francês, música e<br />
lavagem um embaixo do outro, como se fosse uma<br />
conta de matemática, conta de armar.<br />
6. Você deve ter notado que a Rainha é bastante<br />
autoritária, mesmo que alguns, como o Grifo, não a<br />
levem a sério. A Falsa Tartaruga também fica muito<br />
brava quando é interrompida. Muitas vezes, ao escrever<br />
uma história, o autor acaba fazendo uma crítica<br />
ao tempo e ao lugar em que viveu. Uma crítica<br />
ocorre quando analisamos e observamos o mundo<br />
a nossa volta. Para fazer isso, às vezes é necessária<br />
uma dose de humor.<br />
Você acha que os trocadilhos com o nome das<br />
matérias na escola e o fato de a Rainha não ser<br />
levada a sério são críticas do autor ao seu tempo?<br />
Ou tudo isso é apenas “fantasia”, como diz o Grifo,<br />
coisas para brincar e imaginar?<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Caso os alunos tenham dúvidas, explique<br />
que o sistema monárquico e o sistema escolar<br />
da Inglaterra vitoriana eram bastante rígidos;<br />
de fato existiam execuções e a escola era bastante<br />
autoritária, assim como a Tartaruga, não permitindo<br />
a intervenção dos alunos. Eles podem tanto responder<br />
que são críticas ou apenas acharem que a<br />
narrativa é um jogo de imaginar, como toda boa história<br />
o é. Ambas as respostas estão corretas, isso<br />
dependerá da interpretação que os alunos fizerem.<br />
P21
Para continuar<br />
Conceito/conexão<br />
Numeral<br />
…pois sentia-se bastante infeliz com as numerosas<br />
condenações ordenadas pela Rainha…<br />
Como deve ter notado, Alice no País das Maravilhas<br />
é uma história cheia desses jogos, às vezes<br />
com palavras, às vezes com números.<br />
Você sabia que Lewis Carroll era um matemático<br />
e que lecionou em uma importante universidade<br />
inglesa? Além desse trabalho, ele era um apaixonado<br />
pela confecção de jogos e enigmas.<br />
Neste capítulo, estudaremos o numeral e sua<br />
função.<br />
O numeral é uma palavra que mostra a quantidade,<br />
a ordem, o múltiplo ou a fração.<br />
P22<br />
Por isso, recebem a seguinte classificação:<br />
Cardinal: o que exprime quantidade:<br />
… seis mil e quinhentos quilômetros…<br />
Para ler e escrever os numerais por extenso,<br />
observe que usamos a palavra “e” entre as centenas<br />
e entre as unidades:<br />
6.515 = seis mil quinhentos e quinze.<br />
Não é necessário usar vírgula entre eles.<br />
Ordinal: o que mostra ordem, sequência:<br />
Primeiro, Alice achou que fosse de uma das<br />
portas do salão…<br />
Eu estou no sexto ano do Ensino Fundamental.<br />
Multiplicativo: que mostra a multiplicação, ou<br />
seja, exprime um aumento proporcional. Popularmente,<br />
usa-se também a palavra “vez” para indicar<br />
a quantidade que se repete.<br />
Depois de comer o bolo, Alice notou que tinha<br />
o dobro de seu tamanho.<br />
Multiplicativos Fracionários<br />
duplo ou dobro meio ou metade<br />
triplo terço<br />
quádruplo quarto<br />
quíntuplo quinto<br />
sêxtuplo sexto<br />
séptuplo sétimo<br />
óctuplo oitavo<br />
nônuplo nono<br />
décuplo décimo<br />
undécuplo undécimo ou onze avos<br />
duodécuplo duodécimo ou doze avos<br />
cêntuplo centésimo<br />
Fracionário: são os números que exprimem diminuição<br />
proporcional, ou seja, uma divisão, uma<br />
fração:<br />
Alice percebeu que tinha um décimo de seu<br />
tamanho.<br />
Agora, tente você: circule os numerais no trecho<br />
a seguir e indique qual a sua classificação:<br />
Dez horas no primeiro dia, nove no segundo,<br />
e assim por diante — informou a Falsa Tartaruga.<br />
Circular: dez/nove/cardinal; primeiro/segundo/ordinal.<br />
Flexão dos numerais<br />
Os numerais cardinais um, dois e aqueles<br />
que terminam em –entos possuem formas femininas:<br />
A Falsa Tartaruga pediu silêncio em duas<br />
partes da história.<br />
O Rei perdoava pelo menos dois soldados<br />
após o jogo.<br />
Seriam seis mil e quinhentos quilômetros…<br />
Seriam seis mil e quinhentas milhas<br />
submarinas…<br />
As palavras milhão, bilhão, trilhão fazem<br />
plural assim:
Pensou um milhão de vezes antes de responder<br />
ao Coelho.<br />
Pensou milhões de vezes antes de responder<br />
ao Coelho.<br />
Observe a concordância do numeral fracionário<br />
“meio”:<br />
Era meio-dia e meia (12h30).<br />
Por que devemos usar “meia”? Porque estamos<br />
falando de “meia hora” e não “meio hora”.<br />
Os ordinais variam em gênero e número:<br />
A Primeira exige história,<br />
bem mandona se revela.<br />
Gentil, espera a Segunda<br />
“que tenham absurdos nela”.<br />
E a Terceira interrompe<br />
toda hora, a tagarela.<br />
Nesse caso, foi usado o feminino e o singular:<br />
primeira, segunda, terceira.<br />
Reescreva essa estrofe, colocando os numerais<br />
no masculino (gênero) e no plural (número). Você<br />
terá que fazer a concordância com os verbos e os<br />
adjetivos:<br />
Os Primeiros exigem história(s),<br />
Bem mandões se revelam.<br />
Gentis, esperam os Segundos<br />
“que tenham absurdos nela(s).”<br />
E os Terceiros interrompem<br />
Toda hora, os tagarelas.<br />
Algarismos<br />
Romanos Arábicos<br />
Professor: Aproveite para demonstrar como<br />
as palavras não têm função de forma isolada. Ao<br />
mudar os numerais, temos que mudar também os<br />
artigos, os verbos, os adjetivos, os substantivos e<br />
todas as formas que forem necessárias para a concordância.<br />
Escreva na lousa a estrofe e modifique<br />
os termos com os alunos, mostrando-lhes as alterações.<br />
Mostre que, no caso das palavras “história” e<br />
“nela”, a variação para o plural é opcional.<br />
A palavra “zero” e “ambos” também são numerais,<br />
e “ambos” pode variar para o feminino “ambas”.<br />
Leia este trecho do cap. VI:<br />
— Naquela direção — disse o Gato, apontando<br />
com a pata direita — mora um Chapeleiro. E<br />
naquela — acrescentou, levantando a outra pata<br />
— mora a Lebre de Março. Visite qualquer um<br />
dos dois: ambos são loucos.<br />
— Mas, eu não quero me encontrar com gente<br />
louca — comentou Alice.<br />
— Ah, você não tem como evitar isso — replicou<br />
o Gato. Todos aqui somos loucos.<br />
Agora, responda: o numeral “ambos” é usado<br />
para indicar qual quantidade?<br />
Para substituir o numeral “dois”.<br />
Quando usamos as palavras, dizemos numerais.<br />
Quando usamos os símbolos matemáticos,<br />
dizemos “algarismos”. Os algarismos arábicos são<br />
os mais usados em nossa cultura (1, 2, 3…). Além<br />
disso, fazemos uso dos algarismos romanos.<br />
Cardinais Ordinais<br />
I 1 um primeiro<br />
II 2 dois segundo<br />
III 3 três terceiro<br />
IV 4 quatro quarto<br />
V 5 cinco quinto<br />
VI 6 seis sexto<br />
VII 7 sete sétimo<br />
VIII 8 oito oitavo<br />
IX 9 nove nono<br />
P23
P24<br />
Algarismos<br />
Romanos Arábicos<br />
Cardinais Ordinais<br />
X 10 dez décimo<br />
XI 11 onze undécimo ou décimo primeiro<br />
XII 12 doze duodécimo ou décimo segundo<br />
XIII 13 treze décimo terceiro<br />
XIV 14 quatorze décimo quarto<br />
XV 15 quinze décimo quinto<br />
XVI 16 dezesseis décimo sexto<br />
XVII 17 dezessete décimo sétimo<br />
XVIII 18 dezoito décimo oitavo<br />
XIX 19 dezenove décimo nono<br />
XX 20 vinte vigésimo<br />
XXI 21 vinte e um vigésimo primeiro<br />
XXX 30 trinta trigésimo<br />
XL 40 quarenta quadrigésimo<br />
L 50 cinquenta quinquagésimo<br />
LX 60 sessenta sexagésimo<br />
LXX 70 setenta septuagésimo<br />
LXXX 80 oitenta octogésimo<br />
XC 90 noventa nonagésimo<br />
C 100 cem centésimo<br />
CC 200 duzentos ducentésimo<br />
CCC 300 trezentos trecentésimo<br />
CD 400 quatrocentos quadringentésimo<br />
D 500 quinhentos quingentésimo<br />
DC 600 seiscentos seiscentésimo ou sexcentésimo<br />
DCC 700 setecentos septingentésimo<br />
DCCC 800 oitocentos octingentésimo<br />
CM 900 novecentos noningentésimo ou nongentésimo<br />
M 1.000 mil milésimo<br />
X 10.000 dez mil dez milésimos<br />
C 100.000 cem mil cem milésimos<br />
M 1.000.000 um milhão milionésimo<br />
M<br />
1.000.000.000 um bilhão bilionésimo
Observe a tabela e pense em como funciona a<br />
regra para a formação do algarismo romano. Depois,<br />
complete a lacuna com esse tipo de algarismo.<br />
Alice no País das Maravilhas foi escrita por<br />
Carroll no século .<br />
Espera-se que os alunos convertam 1865<br />
para século XIX.<br />
No capítulo anterior, você aprendeu sobre os artigos<br />
indefinidos: um, uma; mas note que também<br />
temos o numeral um/uma:<br />
… um minuto de atraso lhes custaria a vida.<br />
Neste caso, a palavra “um” foi usada como numeral,<br />
porque indicou uma medida de tempo (minuto).<br />
É diferente quando fazemos uso do artigo<br />
indefinido. Observe:<br />
… Mas, quando o Coelho tirou um relógio do<br />
bolso do colete…<br />
No exemplo anterior, foi usado um artigo indefinido,<br />
porque o sentido é de qualquer relógio.<br />
Agora, faça você: a palavra “uma”, nos trechos a seguir,<br />
é um numeral ou um artigo indefinido? Por quê?<br />
— Sentem-se, todos dois, e não digam uma<br />
só palavra até eu ter acabado.<br />
Numeral, porque a tartaruga pede no sentido<br />
de quantidade, para não dizer absolutamente<br />
nada, e não uma palavra qualquer.<br />
A Rainha de Copas fez umas tortas<br />
Certo dia de verão;<br />
O Valete de Copas roubou as tortas<br />
Sem hesitação.<br />
Antiga cantiga infantil<br />
O artigo indefinido “umas” refere-se ao<br />
substantivo “tortas”, porque não houve a intenção<br />
de especificar a quantidade exata.<br />
Os numerais no nosso cotidiano<br />
Um numeral muitas vezes vem acompanhado de<br />
indicadores de medida de tempo, espaço, peso, temperatura:<br />
segundos, metros, gramas, graus Celsius<br />
etc.<br />
…e, atrás da cortina, uma portinha de menos<br />
de dois palmos de altura.<br />
Algumas medidas têm uma forma popular, como<br />
o exemplo anterior “palmos”. Veja o que o dicionário<br />
diz sobre ela:<br />
Palmo: metrologia. Medida de comprimento que<br />
corresponde a oito polegadas (‘medida’) ou 22 cm,<br />
baseada no comprimento médio de um palmo.<br />
Outras formas são chamadas de numeral coletivo,<br />
porque indicam um conjunto: novena, dezena,<br />
década, dúzia, centena, grosa, lustro, milhar,<br />
milheiro, par.<br />
Quando vamos à feira, pedimos 12 bananas ou<br />
uma dúzia de bananas? Você se recorda de outra<br />
forma de contar e medir usada no Brasil?<br />
Geralmente, uma dúzia de bananas, depende<br />
muito da região do Brasil. É comum usar a garrafa<br />
de 1 litro como medida para grãos também em<br />
muitos lugares. Outra medida comum no Brasil é<br />
meia dúzia para o número “6”. Interessante notar<br />
que algumas vezes o número 6 é substituído por<br />
“meia”, principalmente quando ditamos um número<br />
de telefone para alguém.<br />
Agora, faça uma pesquisa em dicionários e em<br />
enciclopédias para responder à seguinte questão:<br />
Se estivéssemos em um país como a Inglaterra,<br />
poderíamos usar “quilômetros” para indicar distância?<br />
E “graus Celsius” para indicar temperatura, no<br />
termômetro? Poderíamos dizer “quilos”? Seríamos<br />
entendidos? Anote suas conclusões.<br />
Escala Fahrenheit: escala de temperatura usada<br />
em países de língua inglesa e baseada em dois<br />
pontos fixos: o de fusão da água, ao qual se atribui<br />
o valor 32, e o de ebulição da água, ao qual se atribui<br />
o valor 212 (a unidade correspondente é o grau<br />
Fahrenheit); uma libra é equivalente a 0,4535923<br />
quilogramas ou cerca de 453 gramas; e uma milha<br />
terrestre = 1.609 m ou 1 km 609 m.<br />
P25
Sugestão didática:<br />
Professor: Explique aos alunos que, nos dicionários,<br />
geralmente, há tabelas de numerais cardinais,<br />
ordinais, fracionários, multiplicativos, caso tenham<br />
dúvidas na ortografia.<br />
Existem também as tabelas de conversão de pesos<br />
e medidas (o Minidicionário Houaiss é um dos<br />
que trazem uma tabela completa; algumas agendas<br />
também trazem tais tabelas, bem como alguns<br />
modelos de celulares).<br />
Caso seja de seu interesse e eles tenham aulas<br />
de língua estrangeira, converse com o professor<br />
dessa disciplina para organizarem uma atividade<br />
juntos, mostrando as diferentes convenções. É uma<br />
maneira de motivá-los a entender as diferenças culturais<br />
de cada país.<br />
Outra maneira mais rápida de indicar as medidas,<br />
e assim observar o uso de algarismos e numerais,<br />
é pedir que olhem as etiquetas de roupas<br />
e a sola de tênis e chinelos, já que muitos trazem<br />
as referências de outros países para onde são exportados/importados<br />
junto às numerações usadas<br />
no Brasil.<br />
Ainda sobre medidas, você pode preparar uma<br />
atividade com o professor de Geografia, usando<br />
como mote o fato de Alice não saber o que é Latitude/Longitude<br />
no capítulo I e no trecho do capítulo<br />
VI. citado no tópico “conceito/conexão”.<br />
Você pode também desenvolver um projeto<br />
interdisciplinar, com duração para o bimestre,<br />
junto à Matemática, pedindo a leitura de algumas<br />
obras que são parte do acervo do MEC enviado<br />
às escolas públicas. Verifique na biblioteca de<br />
sua escola:<br />
— Alice no País dos Números, editora Ática.<br />
(com pouca dificuldade, indicada para quinto e sexto<br />
ano).<br />
— Alice no País dos Enigmas (2000), de<br />
Raymond Smullyan, editora Jorge Zahar (com<br />
a necessidade de se selecionar alguns dos<br />
enigmas de acordo com o grau de conhecimento<br />
dos alunos).<br />
O site da revista Superinteressante também oferece<br />
várias reportagens com alguns jogos. Veja um<br />
deles a seguir.<br />
Para usar a cabeça<br />
Exercite o raciocínio com um passatempo mental<br />
que parece uma corrida com obstáculos.<br />
Por Luiz Dal Monte, arquiteto e designer de jogos<br />
e brinquedos.<br />
O inglês Charles Lutwidge Dodgson (1832-<br />
1898) ficou famoso como escritor e fotógrafo. Suas<br />
fotos fizeram história e, com o pseudônimo Lewis<br />
P26<br />
Carroll, ele assinou clássicos como Alice no País<br />
das Maravilhas e Alice através do espelho. Mas<br />
Dodgson também foi diácono e professor de Matemática.<br />
Fascinado por jogos, quebra-cabeças e<br />
matemática recreativa, criou, durante as longas<br />
noites de insônia que o acompanharam por toda<br />
a vida, problemas que frequentam as coletâneas<br />
sobre o assunto.<br />
O jogo que ensinaremos a seguir é um exemplo<br />
da sua inventividade. Conhecido como arithmetical<br />
croquet (croqué aritmético), destina-se a dois participantes<br />
e não requer absolutamente nenhum equipamento,<br />
transcorrendo integralmente na cabeça<br />
dos competidores. Papel e lápis, de qualquer forma,<br />
podem ajudar a prever as jogadas.<br />
No croqué, que é a base da invenção de<br />
Dodgson, os jogadores impulsionam bolas de<br />
madeira com um taco em forma de marreta,<br />
fazendo-as passar por baixo de pequenos arcos,<br />
de acordo com um trajeto preestabelecido. No<br />
croqué aritmético, esse trajeto é representado<br />
por uma série de números de 1 a 100, e os arcos,<br />
pelos múltiplos de 10.<br />
O primeiro jogador diz um número menor ou<br />
igual a 8, e o segundo faz o mesmo. Então o primeiro<br />
fala outro número, necessariamente maior<br />
que aquele proposto por ele mesmo antes, mas<br />
não distante mais que oito unidades dele. Depois,<br />
joga novamente o segundo e, sempre com essas<br />
condições, ambos vão se alternando, até que alguém<br />
alcance exatamente 100, vencendo a partida.<br />
Quanto aos arcos, há duas maneiras de ultrapassá-los.<br />
Uma delas implica partir de um número<br />
anterior a ele para outro posterior e à mesma distância.<br />
Por exemplo, para passar pelo arco 30, seria<br />
possível ir do 27 para o 33, pois 30 – 27 = 33 – 30 =<br />
3. Se um jogador não conseguir passar adequadamente<br />
por um arco, deve recuar na próxima jogada<br />
para um número anterior a ele, de forma a poder<br />
fazer uma segunda e última tentativa. Deixar duas<br />
vezes de passar corretamente por um arco é fatal:<br />
perde-se a partida no ato — o que também vale<br />
para o arco 100.<br />
A outra forma de ultrapassar um arco é dirigir-<br />
-se diretamente a ele e, na jogada seguinte, sair<br />
para um ponto equidistante ao que se deixara antes.<br />
Um exemplo ajuda a entender: você pode ir do<br />
46 para o 50 e depois para o 54. Quem está exatamente<br />
num arco só pode sair dele obedecendo a<br />
essa condição.<br />
Agora, a regra fundamental: qualquer distância<br />
que um jogador escolha impede o oponente de<br />
optar, no seu turno seguinte, por outra idêntica ou<br />
igual à diferença entre ela e 9. Assim, se um joga-
dor avançou 3 unidades, seu adversário não pode<br />
avançar 3 nem 6 na sua próxima jogada. Porém,<br />
quando o jogador para exatamente num arco, ou<br />
quando está saindo de um número entre 90 e 100,<br />
nenhuma restrição é feita à próxima jogada do<br />
oponente, exceto no caso de ele estar no mesmo<br />
número.<br />
Finalmente, quando alguém parar num arco, seu<br />
adversário pode impedir que ele saia dali, utilizando<br />
a mesma distância que ele precisaria para isso, ou<br />
sua diferença para 9. Inclusive, é permitido alternar<br />
o uso desses dois números, mas não usar um deles<br />
duas vezes seguidas. Desse modo, se um tiver ido<br />
de 57 para 60, o outro pode mantê-lo ali enquanto<br />
puder, usando as distâncias 3, 6, 3,6 etc.<br />
Para continuar<br />
Além do texto<br />
Leia a seguir um texto da revista Superinteressante,<br />
na seção: Livros — Imperdível.<br />
Alice vai longe<br />
Em uma tarde quente no interior da Inglaterra,<br />
uma garotinha resolve seguir um coelho esbaforido<br />
que não para de olhar para seu relógio. A toca<br />
do coelho é a passagem secreta de Lewis Carroll,<br />
o matemático inglês Charles Lutwidge Dodgson<br />
(1832-1898), para as aventuras de Alice no País<br />
das Maravilhas e Alice através do espelho. As<br />
duas histórias estão em Alice—edição comentada,<br />
em que as peripécias da menina são esmiuçadas<br />
pelo matemático e jornalista americano<br />
Martin Gardner. A edição traz o capítulo inédito<br />
“O Marimbondo de Peruca”, suprimido de Através<br />
do espelho, e mantém as ilustrações originais<br />
de John Tenniel (1820-1914). Além de bem escritos,<br />
os livros são repletos de charadas, enigmas<br />
e trocadilhos. A menina começa a questionar a<br />
própria lógica e a pensar de acordo com as estranhas<br />
criaturas que encontra no caminho. Se na<br />
infância ler Alice é muito bom, depois de crescido<br />
é ainda melhor.<br />
Veja estas curiosidades:<br />
• Fotografia era um dos hobbies de Carroll,<br />
um dos primeiros entusiastas dessa arte.<br />
Uma das meninas que retratou foi Alice<br />
Liddell, a inspiração para seu livro.<br />
•<br />
•<br />
Alice Liddell e suas duas irmãs pediram,<br />
durante um passeio de barco pelo rio<br />
Tâmisa, Inglaterra, que Carroll lhes contasse<br />
uma história. Ele inventou quase<br />
toda a narrativa […].<br />
Salvador Dalí, o pintor surrealista espa-<br />
nhol (1904-1989), ilustrou uma edição do<br />
livro em 1969. Não é para menos: a história<br />
está cheia de elementos surreais,<br />
como o relógio do chapeleiro louco, que<br />
marca os meses, mas não as horas.<br />
• A cultura pop até hoje faz referência às<br />
histórias de Carroll. Um exemplo é Neo,<br />
o herói do filme Matrix, que, assim como<br />
Alice, precisa seguir um coelho e escolher<br />
a pílula que vai tomar.<br />
Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2009. Adaptado.<br />
1. Observe o sentido das palavras a seguir e depois<br />
releia o texto para responder às questões.<br />
Entusiasta: alguém que é empolgado, entusiasmado.<br />
Esbaforido: cansado.<br />
Peripécia: aventura.<br />
Esmiuçado: detalhado.<br />
Suprimido: retirado.<br />
Hobby: atividade que se pratica em momentos de<br />
lazer.<br />
Surrealista: aquele que segue o movimento artístico<br />
Surrealismo, que procura tratar do absurdo que<br />
existe no pensamento e nos sonhos.<br />
Lógica: uma maneira de pensar diante daquilo<br />
que é verdadeiro ou não.<br />
Cultura pop: aquilo que fica conhecido pelos<br />
meios de comunicação de massa, como, por exemplo,<br />
rádio, televisão e cinema, principalmente.<br />
2. Qual é o assunto da reportagem da revista Superinteressante?<br />
Mais uma edição do livro de Lewis Carroll.<br />
3. Segundo a reportagem, qual a diferença dessa<br />
edição para outras já publicadas?<br />
Essa edição apresenta um capítulo a mais que<br />
havia sido retirado das outras.<br />
P27
4. Além da literatura, o texto faz referência a outras<br />
três formas de arte. Quais são elas?<br />
P28<br />
Fotografia, pintura e cinema.<br />
5. Em algum momento da reportagem aparece a<br />
opinião de quem a escreveu sobre o livro? Grife o<br />
trecho no texto.<br />
Sim.<br />
Grifar: “Se na infância ler Alice no País das Maravilhas<br />
é muito bom, depois de crescido é ainda<br />
melhor”.<br />
6. Assim como O mágico de Oz, podemos considerar<br />
Alice no País das Maravilhas um clássico da<br />
literatura? O que você pensa, considerando o que<br />
aprendeu neste capítulo?<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Mostre aos alunos que os clássicos<br />
passam muitas vezes pela cultura de massa por<br />
meio do cinema, desenho animado e, no Brasil,<br />
muitas vezes até em novelas. O filme citado pela<br />
reportagem (Matrix) é um bom exemplo de como a<br />
mídia absorve muito desses clássicos.<br />
Para finalizar<br />
Professor: Preencha o quadro com os alunos.<br />
Este pode ser um momento de revisão. A resposta<br />
dos alunos pode auxiliar na autoavaliação: você<br />
considera que conseguiu realizar todas as atividades?<br />
Quanto você contribuiu para o conhecimento<br />
dos alunos?<br />
Nonsense<br />
Conteúdos<br />
Obra clássica<br />
Elementos<br />
grafotipográficos do texto<br />
Numeral<br />
Resenha de livro<br />
Notícia<br />
O que aprendi<br />
no capítulo 9<br />
Para casa<br />
Leia a resenha do livro Alice no país da<br />
mentira, de Pedro Bandeira, para responder às<br />
questões a seguir.<br />
Livro: Alice no País da Mentira<br />
Autor: Pedro Bandeira<br />
Coleção: Vaga-lume Júnior<br />
Preço sugerido: R$ 23,90<br />
Ficha técnica<br />
ISBN: 8508100310<br />
Formato: 17x24<br />
Edição: 1<br />
Ano da edição: 2005<br />
Página: 88<br />
Catálogo<br />
Juvenis<br />
Assunto: Relativização de<br />
conceitos, solidariedade,<br />
amizade.<br />
Nível: Ensino Fundamental<br />
Série: 3 a e 4 a , 5 a e 6 a<br />
Tema: Ética e cidadania,<br />
pluralidade cultural.<br />
Como o próprio nome indica, esse livro de<br />
Pedro Bandeira está relacionado aos clássicos<br />
do escritor inglês Lewis Carrol, Alice no País<br />
das Maravilhas e Alice através do espelho.<br />
Em Alice no País da Mentira, Pedro Bandeira<br />
cria situações nas quais a protagonista visita os<br />
países da Mentira e da Verdade, locais diferentes<br />
da realidade a que está acostumada.
Sua fantasia inicia-se depois que ela foi caluniada<br />
por Lucas, seu melhor amigo. Muito magoada,<br />
Alice se isola no sótão da casa da avó.<br />
Nesse local, ela acha um espelho que reflete<br />
dois espaços: o lugar onde estava e outro sótão,<br />
chamado de Sótão do Espelho.<br />
Alice não consegue conter sua curiosidade.<br />
Então atravessa a face mole do espelho e<br />
começa a explorar o novo local, que está todo<br />
empoeirado. Por conta da poeira, ela espirra. O<br />
espirro serve de passaporte para sua viagem ao<br />
País da Mentira, onde é guiada pelo governador<br />
de toda as mentiras, o Barão Mimi. Durante<br />
esse passeio, ela percebe que falar uma mentira<br />
nem sempre é um mal quando, por exemplo, ela<br />
é “proferida para não ofender outras pessoas”.<br />
Além disso, a garota vai conhecendo a natureza<br />
de diferentes tipos de mentira, como a monstruosa<br />
Mentira Cabeluda.<br />
Por meio do espelho, Alice dirige-se ao País<br />
da Verdade, onde é guiada pelo Sábio Didi, tratamento<br />
informal para Diógenes de Sínope, filósofo<br />
grego nascido em 413 a.C. Nesse país, ela<br />
aprende que as verdades podem ser relativas.<br />
Portanto, não existem apenas boas verdades:<br />
“há verdades horrendas, como a deleção”.<br />
Nos dois países, em diferentes situações, a<br />
garota começa a descobrir o quanto há de relativo<br />
nas verdades e mentiras ditas “absolutas”.<br />
Alice sempre ouve este alerta: “Aprenda a escolher!<br />
Você tem de descobrir a diferença!”.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 5 jan. 2009. Adaptado.<br />
1. No primeiro quadro, temos a sugestão de preço<br />
da editora para a venda do livro. Supondo que<br />
tivesse que preencher um cheque para comprá-lo,<br />
como você escreveria, por extenso, o valor?<br />
Vinte e três reais e noventa centavos.<br />
2. Na ficha técnica do livro, há uma sigla. ISBN.<br />
Leia o que ela significa:<br />
International Standard Book Number, mais conhecido<br />
pela sua sigla ISBN, é o Número Padrão<br />
Internacional de Livro, um sistema identificador<br />
único para livros e publicações não periódicas. O<br />
objetivo do sistema é identificar numericamente<br />
um livro segundo seu título, autor, país (ou código<br />
de idioma) e a editora. Desse modo, é possivel<br />
individualizar edições diferentes.<br />
Depois de realizada a identificação, ela só se<br />
aplica àquela obra e edição, não se repetindo<br />
em outra. Utilizado também para identificar software,<br />
seu sistema numérico é convertido em<br />
código de barras. Esse procedimento elimina<br />
barreiras linguísticas e facilita a sua circulação<br />
e comercialização.<br />
A versatilidade desse sistema de registro<br />
facilita a interconexão de arquivos e a recuperação<br />
e transmissão de dados em sistemas<br />
automatizados, razão pela qual é adotado internacionalmente.<br />
a) Ainda na ficha técnica, o que significa 17x24?<br />
17 centímetros de largura e 24 centímetros de<br />
comprimento.<br />
b)<br />
Quando esse livro começou a ser vendido?<br />
Em 2005.<br />
c) A maioria dos dados, da ficha e do catálogo,<br />
estão em números cardinais. Quais não estão?<br />
Aqueles que estão abreviados e que se referem<br />
às séries (quarta, quinta…), o mesmo que ano:<br />
quarto, quinto. Portanto, são numerais ordinais.<br />
d) Na resenha sobre o texto, aparece “413 a.C.”.<br />
O que significa a.C.?<br />
Antes do nascimento de Cristo.<br />
e) No catálogo, nos itens “Tema” e “Assunto”,<br />
temos a indicação de que o livro fala sobre “ética”<br />
e “relativização de conceitos”. Após ler a resenha<br />
do livro, como você explicaria o sentido dessas<br />
palavras?<br />
No trecho, pode-se dizer que a narrativa começa<br />
por uma questão ética: o colega de escola<br />
a discriminou. Depois, a resenha vai contando<br />
como o livro trabalha os conceitos/as ideias que<br />
fazemos da “verdade” e da “mentira” e como isso<br />
é relativo (ou seja, relativização, depende do contex<br />
to, da situação).<br />
P29
Anotações<br />
P30
Para começar<br />
Capítulo<br />
Português 10<br />
Neste capítulo, estudaremos o conflito na<br />
narrativa e, em morfologia, os pronomes pessoais,<br />
possessivos, demonstrativos, indefinidos e<br />
interrogativos.<br />
A narrativa, que leremos a seguir, é parte da<br />
obra Estranhões & bizarrocos (Estórias para adormecer<br />
anjos), do escritor angolano José Eduardo<br />
Agualusa:<br />
Quero que conheçam este gato. Chama-se<br />
Felini e, acreditem, não se parece com nenhum<br />
outro. Falo-vos de um gato, digamos assim, muito<br />
ambicioso. Felini era ainda adolescente, mal<br />
se viam os bigodes, quando se apaixonou. Coisa<br />
séria. Muito séria. Deixou de comer, deixou<br />
de lamber o pelo, e passou a andar pelos telhados<br />
como um vagabundo — sujo, magro, desgrenhado<br />
—, gemendo tristemente o seu amor.<br />
A mãe ficou preocupada:<br />
— Meu filho — perguntou-lhe —, quem é<br />
essa gata?<br />
Gata? Felini olhou-a desesperado. Não, não<br />
era uma gata. Era uma vaca! Graciosa, a vaca,<br />
pastava os seus dias, isto é, passava os seus<br />
dias, no terreiro em frente à aldeia, com as outras<br />
vacas. A mãe de Felini riu-se, pasmada, e<br />
foi contar às amigas: o seu filho — o pobrezinho! —,<br />
estava apaixonado por uma vaca. A novidade<br />
espalhou-se pela vizinhança. Os gatos grandes<br />
davam-lhe palmadas nas costas: “tens mais boca<br />
que barriga”, diziam. Os colegas troçavam dele.<br />
O pior não era isso. O pior, para Felini, aquilo<br />
que realmente o incomodava, era a indiferença<br />
de Graciosa.<br />
País dos Contrários<br />
Felini sentava-se à noite em frente do estábulo<br />
onde dormia Graciosa e compunha canções<br />
para a lua, canções tristíssimas, que falavam<br />
dos olhos mansos do seu amor, e do seu pelo<br />
macio, e do seu caminhar pelo pasto úmido ao<br />
amanhecer. Graciosa nem olhava para ele. A<br />
mãe de Felini, cada vez mais preocupada com<br />
tamanha persistência, foi procurá-lo:<br />
— Meu filho — explicou-lhe —, como queres<br />
que uma vaca se interesse por ti? As vacas gostam<br />
de animais grandes, como elas, de bois. Os<br />
gatos gostam de gatas.<br />
Era esse o problema? Então — decidiu<br />
Felini —, então seria um boi. A partir desse dia<br />
começou a pastar, como as vacas, e com tal<br />
apetite que cresceu, e cresceu, e cresceu, até<br />
alcançar o tamanho de um boi. Só nessa altura<br />
voltou a procurar Graciosa. A vaquinha, porém,<br />
olhou-o com susto:<br />
— Meu Deus, um gato boi!<br />
O grito dela atraiu os outros animais. Todos o<br />
olhavam com horror. Os gatos já não o aceitavam —<br />
ele deixara de ser um gato. As vacas fugiam ao<br />
vê-lo. Felini, tristíssimo, decidiu então partir para<br />
outro país. O mundo era imenso. Em algum lado<br />
encontraria quem o aceitasse sem estranheza.<br />
Andou durante muitos dias. Atravessou desertos.<br />
Perdeu-se no labirinto de florestas intermináveis.<br />
Escalou montanhas geladas, respirou o<br />
ar perigoso dos pântanos, viu o sol levantar-se<br />
sobre paisagens de assombro. Ao fim de muitos<br />
meses, encontrou um rio cujas águas corriam<br />
pela montanha acima, e não a descer, em direção<br />
ao mar, como estamos acostumados a ver.<br />
Perguntou a um pássaro em que lugar estava.<br />
P31
— Se cruzares o rio — disse-lhe o pássaro<br />
— entras, no País dos Contrários. Ali tudo se<br />
passa ao contrário: os ponteiros dos relógios<br />
giram para a esquerda, os animais nascem velhos<br />
e morrem bebês e toda a gente fala do fim<br />
para o princípio. É um tanto complicado, mas<br />
depois habituas-te.<br />
Disse isso e despediu-se. Mal chegou ao outro<br />
lado do rio, voltou-se e começou a voar de<br />
costas. Felini encolheu os ombros. Se um pássaro<br />
podia viver num país assim, ele também podia.<br />
Atravessou o rio a nado. Estava a descansar<br />
na areia quando um elefante, tão pequeno quanto<br />
uma formiga, se aproximou dele:<br />
— Chamas te que é como — disse — olá!<br />
— Chamo-me Felini — respondeu Felini. —<br />
E tu? Nunca tinha visto um elefante tão pequeno.<br />
O elefante olhou para ele admirado:<br />
— Estrangeiro um como falas mas Contrários<br />
dos País do habitante um pareces — disse.<br />
— Direito falas não por que?<br />
Felini abanou a cabeça. Que diabo de língua<br />
era aquela? Depois compreendeu e começou a<br />
rir. O elefante estava a falar ao contrário: “Por<br />
que não falas direito?” — tinha dito — “Pareces<br />
um habitante do País dos Contrários mas falas<br />
como um estrangeiro”. O gato contou-lhe as<br />
suas aventuras, até cruzar o rio, esforçando-se<br />
por se fazer entender na estranha língua do país.<br />
Disse-lhe que tinha decidido conhecer o mundo<br />
porque na terra onde nascera o olhavam como<br />
se fosse um monstro.<br />
— Tu como são gatos os todos aqui — tranquilizou-o<br />
o elefante — não aqui.<br />
Nesse mesmo dia Felini encontrou vários<br />
gatos iguais a ele. Em pouco tempo fez novas<br />
amizades e, decorridas algumas semanas, já se<br />
sentia tão à vontade naquele lugar como na sua<br />
própria aldeia. Podia ter sido inteiramente feliz,<br />
mas teve pouca sorte, coitado, voltou a apaixonar-se<br />
— por uma vaca!<br />
Uma vaquinha tão pequena que não lhe chegava<br />
aos calcanhares.<br />
P32<br />
AGUALUSA, José Eduardo. Estranhões &<br />
bizarrocos. Porto: D. Quixote, 2000, p. 38-44.<br />
Para continuar<br />
Conversa sobre o texto<br />
1. Antes de começar a responder às questões, releia<br />
o texto e anote as palavras que você não conhece.<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Oriente os alunos sobre o fato de<br />
esse texto ser escrito em outra variante da língua<br />
portuguesa — de autoria de um escritor angolano<br />
—, portanto é natural o uso da segunda pessoa do<br />
discurso, de provérbios e palavras diferentes das<br />
nossas, tais como: aldeia = lugar onde se mora, pequena<br />
cidade; sítio: = lugar; troçar = tirar sarro; a<br />
construção “toda a gente” = as pessoas ou todos.<br />
2. Nos primeiros parágrafos do texto, o narrador<br />
da história dirige-se a nós, leitores. É possível dizer,<br />
neste momento, que o texto terá um tom de humor?<br />
Se sim, explique.<br />
Sim, porque o narrador cria um ambiente em<br />
que o gato parece o estereótipo do apaixonado que<br />
vai se sair mal. Logo de início, utiliza as seguintes<br />
palavras para descrevê-lo: ambicioso, desgrenhado,<br />
triste, compõe canções.<br />
3. Já estudamos, no capítulo anterior, que o trocadilho<br />
pode provocar humor. Você identificou algum<br />
trecho em que isso ocorre? Transcreva-o a<br />
seguir.<br />
“pastava os seus dias”, trocadilho de: “passava<br />
os seus dias”<br />
4. Felini é um gato quase adolescente e passa<br />
por um conflito inicial na narrativa. Que conflito é<br />
esse?<br />
Apaixona-se por uma vaca.<br />
5. Muitas vezes, o nome de uma personagem<br />
a identifica e mostra suas características. Os<br />
nomes “Felini” e “Graciosa” confirmam isso? Ou<br />
não? Explique.<br />
Sim, porque Felini lembra o adjetivo felino (de<br />
gato) e Graciosa mostra como ela pastava e também<br />
é um nome comumente dado a vacas, assim<br />
como Mimosa, por exemplo; ambos os nomes reiteram<br />
suas formas animais.
6.<br />
a) Para resolver seu conflito, Felini acaba provo-<br />
cando outro conflito? Qual?<br />
Sim, pois começa a pastar e assim fica gigantesco,<br />
passando, dessa maneira a ser excluído tanto<br />
do grupo dos gatos como das vacas, já que é<br />
grande demais para um gato e, para uma vaca, é<br />
um gato grande.<br />
b) O que os gatos grandes queriam dizer com o<br />
provérbio: “tens mais boca que barriga”?<br />
Felini come mais do que a barriga pode suportar,<br />
ou seja, Felini quer algo (a vaca) maior do que<br />
ele (um gato).<br />
c) Qual seria o provérbio com o sentido parecido,<br />
usado por nós no Brasil?<br />
No Brasil, o provérbio seria: “tem o olho maior<br />
que a barriga”.<br />
d) Que adjetivo usado no primeiro parágrafo po-<br />
deria substituir tal provérbio?<br />
Ambicioso, de ambição.<br />
7. Que atitude Felini toma a partir do momento<br />
em que é excluído por gatos e vacas?<br />
Decide procurar um lugar, uma terra em que<br />
as pessoas o aceitem como ele é agora: um gato<br />
grande.<br />
8. Após andar muito, Felini encontra um pássaro<br />
a quem pergunta onde está. Que descrição o pássaro<br />
faz do País dos Contrários?<br />
No País dos Contrários, o tempo funciona ao<br />
contrário: bebês morrem e velhos ficam jovens, os<br />
ponteiros do relógio andam para a esquerda.<br />
9. Nesse país, Felini é um estrangeiro e encontra<br />
um elefante. Como é o elefante e a língua daquele<br />
lugar?<br />
Ele é pequeno, e as palavras que falam são<br />
todas embaralhadas.<br />
10.<br />
Faça o que se pede.<br />
a) Selecione as falas do elefante e de Felini, colo-<br />
cando-as em uma ordem compreensível para nós.<br />
Olá, como é que te chamas?<br />
Falas como um estrangeiro, mas pareces um<br />
habitante do País dos Contrários.<br />
Por que não falas direito?<br />
Aqui não, aqui todos os gatos são como tu.<br />
b) Que pontuação foi usada quando o narrador<br />
“traduziu” o que o elefante dizia?<br />
Além do travessão, acrescentou aspas para mostrar<br />
que estava citando ou traduzindo a fala do elefante.<br />
11. Embora Felini estivesse feliz no novo país, o<br />
que voltou a acontecer? Em que novo conflito se<br />
envolveu?<br />
Apaixonou-se novamente por uma vaca, que<br />
agora era pequena e ele, um gato grande.<br />
12. Você deve ter notado que as personagens,<br />
assim como nas fábulas, são animais. No entanto,<br />
o comportamento no País dos Contrários, e fora<br />
dele, é bastante humano.<br />
a) O que podemos concluir sobre as aventuras<br />
de Felini? De fato, é o lugar, o espaço onde estamos<br />
que importa? Discuta com seus colegas e anote<br />
suas conclusões.<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Oriente os alunos sobre a relatividade<br />
de conceitos expostos por meio da alegoria<br />
das dimensões/tamanho das personagens. Saliente<br />
que, de fato, o mais importante são as ações e<br />
atitudes que temos, como nos vemos e como aceitamos<br />
os outros ao nosso redor, inclusive com suas<br />
diferenças. O lugar onde estamos não resolve tais<br />
conflitos, afinal, a questão não é ser igual: conviver<br />
com a diferença é o tema desse texto.<br />
b) Por que esse texto foi incluído em um livro<br />
chamado Estranhões & bizarrocos? O que isso significa<br />
para você? Isso se parece com o nonsense?<br />
O livro provavelmente inclui outras histórias<br />
em que as personagens são “muito estranhas” =<br />
estranhões e “um pouco bizarras (extravagante,<br />
esquisito)” = bizarrocos. Sim, a relatividade das<br />
dimensões lembra muito o que são as cenas do<br />
nonsense em Alice no País das Maravilhas. O País<br />
dos Contrários faz lembrar tanto Oz como o País<br />
das Maravilhas, já que na cena inicial, em ambas<br />
as narrativas, os animais falam, além do que Alice<br />
cresce, assim como Felini.<br />
Para continuar<br />
O texto no contexto<br />
As viagens de Gulliver é uma obra clássica e,<br />
assim como Alice no País das Maravilhas e O mágico<br />
de Oz, já passou por muitas adaptações e<br />
traduções. O autor irlandês Jonathan Swift (1667-<br />
1745) procurou tratar das realidades e injustiças de<br />
sua época a seu modo, usando fantasia, aventura<br />
e humor.<br />
P33
Primeira parte<br />
P34<br />
Viagem a Lilliput<br />
1. Após a tempestade, um reino em miniatura<br />
O grito desesperado do marinheiro soou<br />
quase ao mesmo tempo que o barulho do<br />
choque do majestoso veleiro Antílope, no<br />
qual viajávamos, com as pedras. Foi uma<br />
confusão. […]<br />
Estava quase paralisado pelo medo […] quando<br />
fui cuspido para fora do navio. [...] Senti meu<br />
corpo envolto na água gelada do mar. […] Minha<br />
preocupação passou a ser só uma: manter-me<br />
vivo. [...]<br />
Lutei com as ondas durante horas a fio. Foi<br />
assim que, ao esticar uma das pernas, toquei<br />
em alguma coisa que parecia o fundo. […]<br />
Pude então ficar de pé, com a água batendo<br />
no meu queixo. Com o resto das forças, caminhei<br />
em direção à praia, onde, exausto, deixei<br />
o corpo cair sobre a areia fofa. Olhando o céu,<br />
ainda com estrelas, a primeira imagem que me<br />
apareceu foi a de minha mulher, Mary, e das<br />
crianças.<br />
Mary havia discordado totalmente desta minha<br />
viagem: não adiantou, […] eu embarcara<br />
como médico no Antílope, deixando o porto de<br />
Bristol, Inglaterra, no dia 4 de maio de 1699.<br />
Assim, pensando neles e em grandes aventuras,<br />
adormeci profundamente, longe de imaginar<br />
que estava sendo observado por alguns<br />
olhinhos escondidos na relva.<br />
[...] Ao acordar, senti o sol nos olhos. Tentei<br />
mover a cabeça e não consegui: meus cabelos<br />
estavam presos ao chão. Tentei me levantar e<br />
não pude: meu corpo estava como que colado<br />
na areia. Meu Deus! O que estaria acontecendo?<br />
Para piorar a situação, senti algo subindo<br />
pela minha perna esquerda. Pensei que fosse<br />
algum siri ou caranguejo. Mas aquela coisinha<br />
logo alcançou meu peito… Baixei bem os olhos,<br />
como se fosse examinar a ponta de meu nariz,<br />
e vi uma criaturinha humana de menos de um<br />
palmo de altura observando-me com o mesmo<br />
olhar de espanto com que eu a encarava.<br />
Percebi então que dezenas de outros homenzinhos<br />
como aquele corriam pelo meu corpo. Assustado,<br />
dei um tremendo berro. Foi como um<br />
terremoto para eles. Apavorados, começaram a<br />
atirar-se ao chão. […]<br />
Um deles, mais corajoso, gritou:<br />
— Hekinah degul!<br />
Todos começaram a repetir a mesma coisa,<br />
cada vez mais alto. Só pensei em sair dali.<br />
Concentrei minhas forças no braço esquerdo e<br />
consegui libertá-lo. Todo o meu corpo estava<br />
amarrado por centenas de linhas a ganchos espetados<br />
no chão. Antes que pudesse soltar as<br />
outras amarras com a mão esquerda, ouvi um<br />
segundo grito uníssono:<br />
— Tolgo phonac!<br />
Era uma ordem de ataque, porque senti centenas<br />
de pequenas flechadas em minha mão<br />
esquerda e no rosto. [...] Já irritado, tentei livrar-<br />
-me delas, mexendo o corpo o quanto podia. Mas<br />
recebi uma chuva maior de flechadas e resolvi<br />
aquietar-me para pensar melhor no que fazer.<br />
Enquanto isso, eles construíram rapidamente<br />
um minipalanque de meio metro de altura do<br />
meu lado esquerdo, próximo à minha cabeça.<br />
Alguns deles subiram até lá, e aquele que parecia<br />
o chefão do grupo deu um novo grito: então<br />
cinquenta homenzinhos cortaram os fios que<br />
prendiam minha cabeça, e eu virei em direção<br />
ao palanque.<br />
Neste momento, o tal chefe proferiu um longo<br />
discurso, do qual não entendi coisa alguma. Pela<br />
entonação, imaginei que fazia ameaças. Quando<br />
terminou, ficaram todos em silêncio, olhando<br />
para mim, como se eu tivesse entendido tudo e<br />
devesse responder. Fiz uma cara de bons amigos,<br />
de quem não quer briga e, com a mão esquerda,<br />
tentei mostrar que estava com fome.
O chefe entendeu imediatamente [...]. Já haviam<br />
mandado preparar a comida: a uma ordem<br />
sua, mais de cem homenzinhos começaram a<br />
subir por uma escada, encostada em meu corpo,<br />
para trazer os alimentos até minha boca. Eram<br />
pernis e lombos assados de carneiro, menores<br />
do que asas de passarinho, que eu comia com<br />
pãezinhos do tamanho da unha do meu dedo mínimo.<br />
[…] Colocaram em minha mão esquerda<br />
tonéis de vinho, cada um equivalendo a um copo<br />
dos nossos. [...]<br />
Percebi que ficaram surpresos com a quantidade<br />
que eu comia e a velocidade com que o<br />
fazia, mas notei que estavam completamente à<br />
vontade ao me alimentar. Passeavam pelo meu<br />
corpo com desenvoltura e eu bem que me senti<br />
tentado a pegar uns trinta ou quarenta e atirálos<br />
todos ao chão. Porém, logo me lembrei das<br />
flechadas… Além disso, de alguma maneira,<br />
eu tinha firmado um acordo de paz e não podia<br />
atacar um povo que me dava comida em abundância<br />
e com tanta boa vontade.<br />
O homenzinho das credenciais iniciou então<br />
novo discurso, só que desta vez acompanhado<br />
de muita mímica. Falava várias vezes a<br />
palavra Lilliput, que mais tarde eu soube ser<br />
o nome do país, e apontava em certa direção:<br />
era a capital, para onde o rei havia decidido<br />
que eu seria levado. Fiz gestos indicando que<br />
eu queria ser desamarrado, mas a autoridade<br />
presente foi firme e sacudiu a cabeça negativamente.<br />
Fiquei zangado e tentei soltar-me<br />
outra vez. Fui atingido então por milhares de<br />
flechas […]. Pedi desculpas pelo incidente e<br />
demonstrei que concordava com as condições<br />
impostas.<br />
— Pelom selan! — ordenou Sua Excelência.<br />
Os homenzinhos que estavam no chão começaram<br />
a cuidar de mim, passando um unguento<br />
para aliviar a dor das flechadas. Ao<br />
mesmo tempo foram soltando, aos poucos, as<br />
amarras que me prendiam o lado esquerdo do<br />
corpo, o que me permitiu, com alívio, mudar de<br />
posição. Eu nada podia fazer, mesmo livre pela<br />
metade, pois estava com muito sono. […]<br />
2. Fortemente armado, o Homem-Montanha<br />
chega à cidade<br />
Fiquei sabendo de tudo depois, uma vez que,<br />
durante toda a operação, dormia a sono alto, graças<br />
ao sonífero que os médicos do reino haviam<br />
posto no vinho.<br />
[…]<br />
Mais ou menos ao meio-dia seguinte, chegamos<br />
a uns 200 metros dos portões da cidade.<br />
O rei e toda a sua corte vieram ao nosso encontro,<br />
mas seus ministros não permitiram que o monarca<br />
corresse o risco de subir em cima de mim.<br />
Calculo que mais de cem mil habitantes da<br />
capital e arredores vieram visitar-me. E acredito<br />
que uns dez mil, não todos de uma vez, é claro,<br />
devem ter subido em mim com a ajuda de escadas,<br />
apesar da precaução dos guardas. Porém,<br />
logo foi baixado um decreto proibindo essa prática,<br />
sob pena de morte. […]<br />
Estava cansado de ficar deitado, já que havia<br />
sido forçado a manter-me nessa posição durante<br />
toda a viagem. Resolvi levantar-me. Foi um acontecimento:<br />
o barulho que causei e o espanto daquela<br />
gente ao me ver em pé não é coisa que se consiga<br />
contar. Só quem estivesse lá poderia acreditar…<br />
3. Uma cidadezinha de presépio<br />
Desde que eu chegara a Lilliput, era a primeira<br />
vez que ficava em pé. [...] Do alto, a visão geral<br />
era emocionante: os campos estendiam-se, divididos<br />
em partes como canteiros de flores; as árvores<br />
mais altas teriam pouco menos que minha<br />
altura; as vacas, carneiros e cavalos pareciam<br />
brinquedos animados.<br />
Quanto à capital do reino, ficava à minha esquerda<br />
e fazia-me lembrar uma cidadezinha de<br />
presépio. […]<br />
Foi nesse dia que o rei decidiu deixar a torre,<br />
que até agora fora seu posto de observação,<br />
para examinar-me mais de perto. […] Andando<br />
em volta de mim, o monarca estava muito admirado.<br />
Percebi, contudo, que sempre se mantinha<br />
onde as correntes não me deixariam alcançá-lo.<br />
Começou então a falar, mas não entendi<br />
uma palavra do que dizia. Tentei expressar-me<br />
em diversas línguas: inglês, holandês, francês,<br />
português, espanhol, italiano. Foi inútil.<br />
Após umas duas horas, a corte retirou-se. Permaneceu<br />
apenas uma guarda especial, a fim de<br />
proteger-me da multidão que estava impaciente<br />
para aproximar-se. Não podendo fazê-lo, alguns<br />
tiveram o desplante de começar a atirar flechas.<br />
E quase acertaram o meu olho esquerdo. Então o<br />
comandante da guarda mandou que agarrassem<br />
seis dos mais impertinentes e os empurrassem<br />
com as pontas das lanças até onde eu pudesse<br />
pegá-los. Coloquei cinco no bolso do meu casaco<br />
e fingi que ia comer o sexto vivo. O homem<br />
gritava desesperadamente. Porém, logo soltei o<br />
P35
prisioneiro, pondo-o no chão, e ele correu para<br />
bem longe. Fiz exatamente a mesma coisa com<br />
os outros cinco, tirando um a um do bolso, […] todos<br />
que assistiam à cena se emocionaram com<br />
esse ato de clemência. Mais tarde esse fato iria<br />
interceder a meu favor na corte: para eles, era<br />
uma demonstração de bondade da minha parte<br />
não ter devorado seus conterrâneos.<br />
A notícia de minha existência logo se espalhou<br />
por todo o reino. Então, as pessoas ricas,<br />
ociosas, ou simplesmente curiosas resolveram<br />
vir ver-me. As cidades ficaram quase vazias, as<br />
lavouras, negligenciadas, e os negócios, abandonados.<br />
Diante disso, o rei proclamou que todos<br />
os que já haviam me visto deviam voltar para<br />
seus lares e que ninguém mais poderia chegar<br />
perto de minha casa, a não ser com licença da<br />
corte. Foi nessa época que alguns secretários<br />
do governo enriqueceram rapidamente, arranjando<br />
licenças especiais.<br />
Quem me contou tudo isso, tempos depois,<br />
foi um dos homenzinhos, que se tornou meu amigo.<br />
Como ocupava um alto cargo — era ministro<br />
— estava a par dos segredos da corte. Disse-<br />
-me também que o soberano se reunia frequentemente<br />
com seus ministros para tentar decidir<br />
qual seria o meu destino. […]<br />
10. Um eterno enigma<br />
Foi difícil convencer o rei a permitir minha<br />
partida. […] Minha fuga seria um eterno enigma<br />
para o soberano e para o povo de Lilliput.<br />
Na tarde do terceiro dia, em mar alto, quando<br />
já quase se esgotavam minhas provisões e minha<br />
esperança, avistei, vindo em minha direção,<br />
o mastro alto de um grande navio onde tremulava<br />
a bandeira da Inglaterra.<br />
P36<br />
SWIFT, J. As viagens de Gulliver. Trad. Claudia Lopes.<br />
8. ed. São Paulo: Scipione. Série Reencontro, 1993.<br />
1. Explique o sentido das palavras a seguir, de<br />
acordo com o contexto da narrativa que você leu.<br />
Burburinho:<br />
Interceder:<br />
Clemência:<br />
Conterrâneo:<br />
Negligenciado:<br />
Ocioso:<br />
Decreto:<br />
Unguento:<br />
Uníssono:<br />
Burburinho: barulho de vozes.<br />
Interceder: intervir, intrometer-se, resolver<br />
para alguém.<br />
Clemência: perdão.<br />
Conterrâneo: pessoa que nasce no mesmo lugar<br />
de outra.<br />
Negligenciado: largado.<br />
Ocioso: sem fazer nada.<br />
Decreto: parte de uma lei.<br />
Unguento: pasta usada como remédio; pomada.<br />
Uníssono: todos falando ao mesmo tempo, em<br />
uma só voz.<br />
2. Em outros textos que lemos durante este bimestre,<br />
o narrador das aventuras é sempre em terceira<br />
pessoa, ou seja, encontra-se fora dos acontecimentos.<br />
Nesse, a narração ocorre em primeira pessoa: o<br />
próprio Gulliver conta a história. Transcreva um trecho<br />
do texto que comprove essa afirmação.<br />
“eu embarcara”.<br />
3. Para que Gulliver embarca no veleiro: por trabalho<br />
e/ou aventura? E sua esposa, o que pensava<br />
disso? O que você pensa dessa decisão?<br />
Por aventura, embora também estivesse a trabalho,<br />
unindo o útil ao agradável.
Professor: Explique aos alunos que, em meados<br />
do século XVII até o XIX, Inglaterra e França tornaram-se<br />
países tão importantes na navegação quanto<br />
Portugal e Espanha séculos antes. Ingleses e franceses<br />
se lançavam em aventuras em alto-mar, buscando<br />
lugares remotos e ainda desconhecidos e riquezas.<br />
Esse fato deu origem a centenas de obras em<br />
que os personagens são náufragos, como é o caso<br />
de Robinson Crusoé.<br />
4. Após o naufrágio, Gulliver acordou em Lilliput,<br />
uma terra de pequeninos. Que armas possuíam tais<br />
pessoas e como fizeram para prendê-lo?<br />
Possuíam flechas e lanças, amarraram o corpo<br />
todo de Gulliver ao chão utilizando ganchos e linhas.<br />
5. A diferença é algo que percebemos sempre que<br />
saímos de nosso lugar ou que temos algo em nossa<br />
aparência ou atitude que nos faz ser notados pelos<br />
outros. Isso não é ruim, aprendemos com as diferenças.<br />
Felini tornou-se um gato do tamanho de um boi.<br />
Alice era considerada “obtusa” pela Tartaruga.<br />
a) Para mostrar como viam Gulliver, que nome os<br />
liliputianos deram a ele?<br />
Podemos inferir pelo título do capítulo que o<br />
nome dado a Gulliver era Homem-Montanha.<br />
b) De que país vinha Gulliver? Qual era sua na-<br />
cionalidade?<br />
Da Inglaterra. Deduzimos isso quando ele<br />
avista a bandeira inglesa na fuga e quando, antes,<br />
avisa de que porto está saindo em viagem: Bristol.<br />
Portanto, Gulliver era inglês.<br />
6. Tanto Gulliver como os liliputianos pareciam<br />
assustados com suas diferenças de tamanho. Mesmo<br />
que o tamanho seja diferente, a organização social<br />
de Lilliput era bem parecida com a da Inglaterra.<br />
Qual era a forma de governo? Havia exército?<br />
A monarquia, com rei e corte, assim como havia<br />
também os ministros. Sim, pois os soldados do<br />
exército é que mantinham Gulliver vigiado.<br />
7. Além do tamanho, outra diferença era a língua.<br />
Os liliputianos falavam uma língua desconhecida.<br />
Retorne ao texto e sugira uma possível tradução<br />
para as três frases, de acordo com o contexto.<br />
Sugestão: 1. “O Homem-Montanha acordou”.<br />
2. “Atirem as flechas”. 3. “Cuidem dos ferimentos”.<br />
8. Você se recorda que a Rainha de Copas em<br />
Alice no País das Maravilhas mandava matar todo<br />
mundo. Você percebeu algo de semelhante em Lilliput?<br />
Comente.<br />
Sim, há pena de morte decretada pelo rei para<br />
quem se aproximar de Gulliver; assim como na história<br />
de Alice, os monarcas mandam e desmandam.<br />
Professor: Retome a questão do texto como crítica<br />
social à época (ou a hoje, como preferir, observe<br />
a biografia de Swift nas notas), pergunte a eles se a<br />
pena de morte não seria algo demasiado forte para<br />
este tipo de transgressão: querer ver o estrangeiro<br />
gigante. Relacione tal questão a temas atuais.<br />
9. Em determinado momento, a presença de<br />
Gulliver tumultua a vida no reino, porque as pessoas<br />
começam a vir de longe para vê-lo e com isso<br />
param de trabalhar. O rei baixa um decreto dizendo<br />
que só quem tiver uma “licença especial” poderá<br />
ver Gulliver. Quem se aproveita de tal situação?<br />
Que nome damos a essa situação e atitude?<br />
Os secretários do governo, do reino, que enriquecem<br />
vendendo as licenças. Chamamos de burocracia<br />
e corrupção.<br />
10. O número de dez episódios e o fato de o narrador<br />
dizer várias vezes que “depois ficou sabendo”<br />
nos levam a imaginar que Gulliver permaneceu em<br />
Lilliput por algum tempo?<br />
Sim.<br />
Professor: Caso os alunos tenham curiosidade,<br />
conte a eles que a estada de Gulliver foi de dois<br />
meses, segundo deduzimos por meio da segunda<br />
parte da narrativa de Swift.<br />
11. Em determinado momento da narrativa, as<br />
pessoas tentam agredir Gulliver. Por que você<br />
acha que elas agiram assim? É o mesmo motivo<br />
pelo qual Felini passou a ser um monstro para<br />
gatos e vacas?<br />
As pessoas tendem a reagir agressivamente<br />
diante do desconhecido ou também podem assumir<br />
uma postura de exclusão, como foi o caso de Felini.<br />
12. E você já se sentiu como um estrangeiro em<br />
algum lugar? Por que motivos? Discuta com seus<br />
colegas e anote suas conclusões.<br />
Resposta pessoal<br />
Professor: Discuta com a classe sobre viagens<br />
que fizeram, pessoas que têm sotaque diferente ou<br />
até mesmo estrangeiros que eles tenham conhecido<br />
em nosso país e cuja língua não entenderam. Aproveite<br />
para levantar questões sobre as diferenças físicas<br />
que a puberdade começa a provocar quando<br />
estão em meio ao sexto ano (11 anos). Como se<br />
sentem crescendo e ficando com o corpo diferente?<br />
Como Alice? Lembre-se de que a “conversa sobre<br />
o texto” é um momento importante para relacionar<br />
as atividades com as vivências cotidianas de cada<br />
um, assim compartilhadas.<br />
P37
Para continuar<br />
Conceito/conexão<br />
Pronomes<br />
Neste capítulo, estudaremos pronomes. Para<br />
começar, compare os exemplos a seguir:<br />
Uma vaquinha tão pequena que não chegava<br />
aos calcanhares de Felini.<br />
Ela era tão pequena que não lhe chegava<br />
aos calcanhares.<br />
Note que, na segunda frase, a palavra “ela” se refere<br />
a “uma vaquinha” e substitui essa palavra, porque,<br />
pelo contexto, conseguiríamos saber de quem/que se<br />
fala. A palavra “lhe” substitui “Felini”.<br />
Felini já se sentia tão à vontade naquele lugar<br />
como na sua própria aldeia.<br />
Ele estava tão à vontade como se estivesse<br />
na sua própria aldeia.<br />
Nesse outro exemplo, “ele” substitui novamente<br />
“Felini”. Observe que a palavra “sua” apenas acompanha<br />
o substantivo “aldeia”, não a substitui.<br />
Palavras que substituem ou acompanham,<br />
principalmente substantivos, são chamadas de<br />
pronomes.<br />
Quando um pronome substitui uma palavra,<br />
chamamos de pronome substantivo, como os do<br />
primeiro exemplo.<br />
No entanto, há também os pronomes adjetivos,<br />
que acompanham outra palavra, como “sua”<br />
acompanha a palavra “aldeia”.<br />
Os pronomes têm uma função muito importante<br />
na construção de um texto. São eles que fazem as<br />
ligações e as substituições, promovendo a “coesão”,<br />
ou seja, dando sentido para aquilo que está sendo<br />
dito ou escrito. Leia esta sequência:<br />
O grito dela atraiu os outros animais. Todos<br />
o olhavam com horror. Os gatos já não o aceitavam<br />
— ele deixara de ser um gato. As vacas<br />
fugiam ao vê-lo.<br />
As palavras destacadas são pronomes e têm<br />
como função, além de acompanhar, evitar a repetição<br />
de termos dos quais já se falou na narrativa,<br />
isto é, os pronomes estão fazendo as ligações que<br />
chamamos de “coesão”.<br />
Veja: a quem se refere o termo “dela”? Refere-se<br />
ao grito de quem? Da vaca. O substantivo “vaca” foi<br />
P38<br />
substituído pelo pronome “ela”. Já o pronome “outros”<br />
acompanha o substantivo “animais”.<br />
E os pronomes “o” e “ele”, nesse contexto, referem-se<br />
a qual personagem?<br />
Ao gato Felini.<br />
Classificação dos pronomes<br />
Há vários tipos de pronomes: os pessoais, os<br />
demonstrativos, os possessivos, os interrogativos,<br />
os indefinidos e os relativos.<br />
Pronome pessoal<br />
Para mostrar as pessoas do discurso, ou seja,<br />
as três pessoas que participam das situações de<br />
comunicação, usamos os pronomes pessoais, divididos<br />
em retos e oblíquos:<br />
Primeira<br />
pessoa do<br />
singular<br />
Segunda<br />
pessoa do<br />
singular<br />
Terceira<br />
pessoa do<br />
singular<br />
Primeira<br />
pessoa do<br />
plural<br />
Segunda<br />
pessoa do<br />
plural<br />
Terceira<br />
pessoa do<br />
plural<br />
Retos Oblíquos<br />
eu<br />
me, mim,<br />
comigo<br />
tu te, ti, contigo<br />
ele/ela<br />
o, a, lhe, se,<br />
si, consigo<br />
nós nos, conosco<br />
vós vos, convosco<br />
eles/elas<br />
os, as, lhes,<br />
se, si, consigo<br />
Quando nos comunicamos, temos três pessoas<br />
do discurso envolvidas:<br />
• aquele que fala: primeira pessoa do singular<br />
ou plural;<br />
• com quem se fala: segunda pessoa do singular<br />
ou plural;<br />
• de quem/que se fala: terceira pessoa do singular<br />
ou plural.<br />
O narrador de País dos Contrários começou o<br />
texto assim:
Quero que conheçam este gato. Chama-se<br />
Felini e, acreditem, não se parece com nenhum<br />
outro. Falo-vos de um gato…<br />
Observe que o pronome “eu” (primeira pessoa<br />
do singular) diz respeito a quem conta, ou seja, o<br />
narrador/locutor que se dirige a nós seus ouvintes/<br />
leitores.<br />
Você observou que o pronome “eu” não foi escrito?<br />
Então, como sabemos qual é a pessoa do<br />
discurso, nesse caso?<br />
Porque observamos os verbos: “quero” e “falo”<br />
(eu falo, tu falas, ele fala, nós falamos, vós falais,<br />
ele falam).<br />
Em: “falo-vos”, o pronome “vos” (segunda pessoa<br />
do plural) refere-se a quem ouve/lê a narrativa.<br />
Se falarmos de uma terceira pessoa do discurso<br />
(ele), podemos usar o pronome oblíquo “se” junto<br />
de alguns verbos: “chama-se” ou “não se parece”,<br />
como vimos no exemplo.<br />
Às vezes, os pronomes oblíquos o, a, os, as podem<br />
assumir um jeito modificado (lo, la, los, las)<br />
quando estão perto do verbo. Isso ocorre após as<br />
formas verbais terminadas em -r, -s ou -z. Veja:<br />
As vacas fugiam ao vê-lo. (ver)<br />
A mãe foi procurá-lo. (procurar)<br />
Também pode acontecer com as formas verbais<br />
terminadas em sons nasais, tais como: -am, -em,<br />
-õe… Nesse caso, usamos no, na, nos, nas:<br />
Em sua aldeia, incomodavam-no.<br />
Agora tente você: leia os trechos, grife os pronomes<br />
pessoais e depois anote se são pronomes<br />
retos ou oblíquos.<br />
Felini olhou-a desesperado.<br />
A vaquinha, porém, olhou-o com um susto.<br />
… lá encontraria quem o aceitasse sem estranheza…<br />
… mas depois habituas-te.<br />
Chamo-me Felini.<br />
E tu?<br />
Meu filho, perguntou-lhe — Quem é essa<br />
gata?<br />
Grifar: a (oblíquo), o (oblíquo), o (oblíquo), te<br />
(oblíquo), me (oblíquo), tu (reto), lhe (oblíquo).<br />
Professor: Faça a ressalva sobre os pronomes<br />
retos implícitos: eu (chamo), ele (encontraria), tu<br />
(habituas), ela (perguntou).<br />
Também ressalte que “o” e “a”, em alguns casos<br />
acima, não são artigos e sim pronomes. Anote na<br />
lousa: “A vaquinha, porém, olhou-o com um susto”.<br />
e demonstre que “a” é um artigo que acompanha o<br />
substantivo “vaquinha”, assim como “um” acompanha<br />
“susto”; já “o” substitui “Felini”, por isso é pronome.<br />
Faça isso sempre que na frase ocorrer um artigo,<br />
ensinando à classe como distingui-lo do pronome.<br />
Mais dois exercícios: agora circule os artigos,<br />
grife os pronomes pessoais oblíquos e preencha o<br />
espaço com um pronome reto.<br />
Os gatos grandes davam-lhe palmadas nas<br />
costas: “ tens mais boca que barriga”.<br />
Os colegas troçavam dele.<br />
Circular: “os” acompanhando o substantivo “gatos”;<br />
“os” acompanhando o substantivo “colegas”.<br />
Professor: Destaque o uso da combinação em<br />
+ as = nas, assim como a combinação da preposição<br />
+ pronome reto = dele.<br />
Grifar: “lhe”, pronome oblíquo referindo-se a<br />
Felini.<br />
Preencher com tu (tens), pronome reto que estava<br />
de forma implícita.<br />
Como queres que uma vaca grande<br />
se interesse por ti? Era esse o problema? […] A partir<br />
desse dia, começou a pastar…<br />
Preencher com “tu” (queres) e “ele” (começou),<br />
pronomes retos.<br />
Grifar: “se”, oblíquo (usado no texto pela mãe do<br />
gato) que se refere ao Felini; “ti”, oblíquo de segunda<br />
pessoa, que também se refere ao Felini.<br />
Circular o artigo “o” antes da palavra “problema”.<br />
Professor: Novamente faça a ressalva sobre a<br />
palavra “a” nesse trecho: não é nem pronome, nem<br />
artigo, mas uma preposição: “a partir”, “a pastar”.<br />
Demonstre que a preposição não está acompanhando,<br />
substituindo ou definindo, mas fazendo<br />
uma junção de sentido com o verbo.<br />
Recomendamos que volte aos textos deste capítulo<br />
e mostre outras situações em que haja pronomes<br />
com função de substantivo e adjetivo. Não<br />
P39
trataremos, durante o sexto ano, das regras de uso<br />
de acordo com a posição do pronome oblíquo (próclise,<br />
mesóclise, ênclise) por entendermos que é<br />
prioritário para o aluno dessa série inferir sobre as<br />
substituições e adotá-las na sua escrita cotidiana,<br />
escrevendo um texto de maneira coesa. Caso haja<br />
possibilidade, faça como situação complementar,<br />
consultando uma gramática.<br />
Entre os pronomes pessoais também temos as<br />
formas de tratamento, usadas para determinadas<br />
situações sociais.<br />
As mais comuns são “você” e “senhor”, que devemos<br />
utilizar de acordo com a situação de comunicação<br />
na qual nos envolvemos.<br />
P40<br />
Título<br />
Presidente<br />
da República,<br />
governador,<br />
ministro de<br />
Estado, chefe<br />
da casa civil,<br />
senador,<br />
deputado,<br />
secretário de<br />
Estado, prefeito<br />
Diretor (de estatal,<br />
autarquia etc.)<br />
Formas de tratamento de autoridades<br />
Cabeçalho de<br />
correspondência<br />
Excelentíssimo<br />
Senhor<br />
Civis<br />
Por exemplo, se estamos conversando com alguém<br />
de nossa idade, podemos usar “você”; mas<br />
se estamos falando com alguém mais velho ou que<br />
tem algum grau de autoridade, como nossos pais<br />
ou até mesmo alguém com quem não temos intimidade,<br />
devemos usar a forma “senhor”, por uma<br />
questão de respeito.<br />
Observe como você usa essas palavras em seu<br />
cotidiano: você descobrirá que até o nosso tom de<br />
voz muda, dependendo do interlocutor, ou seja,<br />
daquele com quem estamos falando.<br />
A seguir, observe a tabela do Minidicionário<br />
Houaiss, nela temos outras formas menos comuns<br />
de tratamento; porém, elas são utilizadas em situações<br />
públicas em que precisamos escrever ou falar<br />
com um interlocutor.<br />
Abreviatura<br />
Forma de<br />
referência<br />
Abreviatura<br />
Ex. mo Sr. Vossa Excelência V. Ex. a<br />
Senhor Diretor Sr. Vossa Senhoria V.S.<br />
Vereador Senhor Vereador Sr. Vossa Excelência V. Ex. a<br />
Cônsul Ilustríssimo<br />
Senhor Cônsul<br />
Reitor Magnífico Senhor<br />
Cônsul<br />
Título<br />
Desembargador,<br />
promotor, curador<br />
Juiz<br />
Cabeçalho de<br />
correspondência<br />
Il. mo Sr. Vossa Excelência V. Ex. a<br />
Il. mo Sr.<br />
Judiciárias<br />
Abreviatura<br />
Vossa<br />
Magnificência<br />
Forma de<br />
referência<br />
V. Mag. a<br />
Abreviatura<br />
Excelentíssimo Senhor Ex. mo Sr. Vossa Excelência V. Ex. a<br />
Excelentíssimo<br />
Senhor Juiz<br />
Ex. mo Sr. Meritíssimo MM.
Título<br />
Oficiais generais ou<br />
comandantes (até<br />
coronel ou capitão<br />
de mar e guerra)<br />
Demais patentes<br />
Título<br />
Formas de tratamento de autoridades<br />
Cabeçalho de<br />
correspondência<br />
Excelentíssimo<br />
Senhor (patente)<br />
Ilustríssimo Senhor<br />
(patente)<br />
Cabeçalho de<br />
correspondência<br />
Militares<br />
Abreviatura<br />
Ex. mo Sr.<br />
(patente)<br />
Forma de<br />
referência<br />
Abreviatura<br />
Vossa Excelência V. Ex. a<br />
Il. mo Sr. (patente) Vossa Senhoria V. S.<br />
Eclesiásticas<br />
Abreviatura<br />
Forma de<br />
referência<br />
Abreviatura<br />
Papa Santíssimo Papa S. S. Sua Santidade S. S.<br />
Cardeal Eminentíssimo Sr. Em. mo Sr.<br />
Arcebispo, bispo Reverendíssimo Senhor Rev. mo Sr.<br />
Abade, cônego,<br />
monsenhor,<br />
sacerdote,<br />
superior de ordem<br />
religiosa e demais<br />
autoridades<br />
Título<br />
Reverendíssimo Senhor Rev. mo Sr.<br />
Cabeçalho de<br />
correspondência<br />
Monárquicas<br />
Abreviatura<br />
Vossa Eminência<br />
Reverendíssíma<br />
Vossa Excelência<br />
Reverendíssima<br />
Vossa<br />
Reverendíssima<br />
Forma de<br />
referência<br />
V. Em. Rev. ma<br />
V. Ex. Rev. ma<br />
V. Rev. ma<br />
Abreviatura<br />
Rei, rainha Sua Majestde (Real) S.M.(R.) Vossa Majestade V.M.<br />
Imperador,<br />
imperatriz<br />
Príncipe, princesa<br />
Título<br />
Sua Majestade Imperial S.M.I. Vossa Majestade V.M.<br />
Sua Alteza<br />
(Cristianíssima,<br />
Fidelíssima, Imperial,<br />
Real ou Sereníssima)<br />
Cabeçalho de<br />
correspondência<br />
S.A. (S.A.C.,<br />
S.A.F., S.A.I.,<br />
S.A.R., S.A.S.)<br />
Formas de tratamento de autoridades<br />
Diversas<br />
Abreviatura<br />
Vossa Alteza V.A.<br />
Forma de<br />
referência<br />
Abreviatura<br />
Dom Digníssimo Dom Dig. D. Vossa Senhoria V.S.<br />
Doutor Senhor Doutor Sr. Dr. Doutor Dr.<br />
Professor Senhor Professor Sr. Prof. Professor Prof.<br />
Comendador Senhor Comendador Sr. Com. Comendador Com.<br />
P41
Agora retome a tabela para saber qual forma de<br />
tratamento usar no cabeçalho de uma carta, caso<br />
tivesse que escrever para:<br />
• a Rainha de Copas, anunciando a chegada<br />
de Alice ao País das Maravilhas:<br />
Majestade<br />
• o gato Felini, como se fosse a vaquinha<br />
Graciosa:<br />
tu<br />
Professor: Sugerimos “tu” porque o texto em<br />
questão está escrito na variedade do português<br />
angolano. Assim, alguns alunos podem responder<br />
“você” já que utilizam a variante do português<br />
brasileiro.<br />
• a esposa de Gulliver, dizendo que seu barco<br />
naufragou:<br />
senhora<br />
• o vereador de seu bairro, fazendo uma reclamação<br />
sobre o asfalto esburacado:<br />
Senhor Vereador<br />
Os pronomes no cotidiano<br />
Você notou que no texto do gato Felini, o pronome<br />
tu é bastante usado?<br />
Isso ocorre porque, em alguns países de língua<br />
portuguesa, essa é a forma mais comum de uso: a<br />
segunda pessoa (tu), assim como em alguns estados<br />
brasileiros.<br />
O falante da língua deve utilizar os pronomes<br />
“tu” e “você” de acordo com sua variante linguística,<br />
como já vimos no primeiro bimestre. As duas<br />
formas são válidas. O importante é que se faça a<br />
concordância adequadamente:<br />
P42<br />
Eu me chamo Felini. E você?<br />
Chamo-me Felini. E tu?<br />
E na sua região, qual é o uso mais comum: tu ou<br />
você? Discuta com seus colegas. Anote exemplos<br />
de frases usadas em seu cotidiano que tenham esses<br />
pronomes.<br />
Resposta pessoal<br />
Pronome possessivo<br />
Os pronomes possessivos indicam as relações<br />
de posse entre as pessoas do discurso:<br />
Pronomes<br />
retos<br />
Pronomes possessivos<br />
Eu meu, minha, meus, minhas<br />
Tu teu, tua, teus, tuas<br />
Ele seu, sua, seus, suas<br />
Nós nosso, nossa, nossos, nossas<br />
Vós vosso, vossa, vossos, vossas<br />
Eles seu, sua, seus, suas<br />
Observe o exemplo:<br />
O gato contou-lhe as suas aventuras.<br />
O pronome destacado é um possessivo de<br />
terceira pessoa do plural, porque refere-se ao<br />
substantivo “aventuras”, por isso está no plural e<br />
no feminino. Nesse caso, concorda com a coisa<br />
possuída.<br />
— Meu filho, — perguntou-lhe, — Quem é<br />
essa gata?<br />
Nesse exemplo, temos a primeira pessoa do<br />
discurso (meu) para indicar posse; “filho” é a coisa<br />
possuída, mas o uso aqui é determinado pelo<br />
valor afetivo que damos a essa forma, como em:<br />
“Meu Deus!”<br />
Agora você: circule o pronome possessivo e indique<br />
o possuidor e a coisa possuída.<br />
Felini passou a andar pelos telhados, gemendo<br />
tristemente o seu amor.<br />
Circular: seu (terceira pessoa do discurso),<br />
possuidor = Felini, possuído: amor.<br />
Nas tabelas com as formas de tratamento, também<br />
temos o uso dos pronomes possessivos, como<br />
forma de referência. Leia esta fala:<br />
— Vossa Alteza, o embaixador do Brasil deseja<br />
uma reunião para discutirem os pormenores<br />
do acordo.<br />
O pronome “vossa” acompanha a forma de tratamento<br />
“Alteza” usada para príncipes e princesas,<br />
porque se fala diretamente com ele, por isso, segunda<br />
pessoa do discurso.<br />
Note que a pessoa do discurso muda conforme<br />
a situação: se falarmos sobre o príncipe, então teremos<br />
o uso da terceira pessoa:<br />
Sua Alteza concordou com a reunião.
Para continuar<br />
Além do texto<br />
Peter Pan<br />
Morava em Londres, capital da Inglaterra,<br />
uma família chamada Darling. Lá as famílias<br />
também são conhecidas pelos sobrenomes. O<br />
sr. e a sra. Darling tinham três filhos: Wendy, a<br />
menina, era a mais velha; no meio vinha o João;<br />
Miguel era o caçula.<br />
As crianças tinham um quarto de dormir muito<br />
bonito, à maneira inglesa, com figuras engraçadas<br />
e bichinhos de feltro arrumados em todos<br />
os cantos. […]<br />
Havia no quarto agora uma luz, mil vezes<br />
mais brilhante, revoando velozmente por todos<br />
os cantos, entrando e saindo por todas as gavetas<br />
antes que alguém pudesse dizer ui.<br />
Um segundo depois a janela se abria e Peter<br />
Pan entrava. […]<br />
— Sininho, Sininho, onde você está?<br />
Ela estava no momento dentro de uma jarra,<br />
adorando, pois era a primeira vez que entrava<br />
em uma.<br />
— Ora, Sininho, saia logo aí de dentro e me<br />
diga se achou minha sombra.<br />
Sininho havia dito que a sombra estava na<br />
caixa grande, pretendendo dizer que estava no<br />
gavetão do armário. Peter Pan pulou lá dentro e<br />
começou a jogar as coisas todas para fora. […]<br />
Achou logo a sombra e, de pura alegria, nem<br />
percebeu que fechou a gaveta, prendendo Sininho<br />
lá dentro.<br />
Ficou foi muito desapontado quando viu que<br />
a sombra não se colou a ele imediatamente. E<br />
a sombra estava também um pouco amassada.<br />
Tentou colá-la com o sabonete do banheiro,<br />
mas não deu certo. Todo desconsolado, Peter<br />
Pan sentou-se no chão e começou a soluçar.<br />
Os soluços acordaram Wendy, que se sentou<br />
na cama […], achando tudo muito divertido, perguntou:<br />
— Por que está chorando, menino?<br />
Peter Pan levantou-se, com inesperada educação,<br />
e fez para ela uma reverência. Da cama,<br />
muito satisfeita com o gentil cumprimento, Wendy<br />
também inclinou a cabeça.<br />
— Qual é o seu nome? — perguntou ele.<br />
— Wendy Linda Angela Darling — ela respondeu<br />
com certo orgulho. — E o seu?<br />
— Peter Pan.<br />
— Peter Pan de quê?<br />
— Peter Pan de nada — respondeu ele, meio<br />
aborrecido, pois pela primeira vez percebeu que<br />
seu nome era muito pequeno.<br />
— Me desculpe.<br />
— Deixe isso pra lá.<br />
— Onde você mora?<br />
— Dobrando a primeira rua à direita, siga em<br />
frente até o nascer do dia.<br />
— Que endereço mais gozado!<br />
— Não tem nada de gozado. Eu não acho.<br />
[…]<br />
— É esse o endereço que os outros escrevem<br />
nas cartas?<br />
— Que cartas?! — Peter Pan replicou, com<br />
desprezo.<br />
— Nunca recebeu uma carta?<br />
— Nunca.<br />
— Mas sua mãe não recebe cartas?<br />
— Que mãe?!<br />
— Você não tem mãe?<br />
— Nem pai. […] Estava chorando porque<br />
não consigo colar a minha sombra no meu corpo.<br />
Aliás, eu não estava chorando coisa nenhuma!<br />
— Uai, ela descolou? — perguntou Wendy.<br />
— Descolou, olha aí?<br />
— Que horror! — exclamou sem poder disfarçar<br />
o riso. […] Os homens não entendem<br />
nada dessas coisas, uf! É preciso costurar a<br />
sombra.<br />
— Que coisa é essa?<br />
— Como você é ignorante!<br />
— Não sou ingnorante coisa nenhuma!<br />
— É capaz de doer um pouquinho — avisou.<br />
— Pode doer, eu não choro — Em pouco<br />
tempo sua sombra já estava arranjadinha, embora<br />
um pouquinho amarrotada. […]<br />
P43
Então, ele falou com jeito irresistível:<br />
— Wendy, qualquer menina vale mais do<br />
que vinte meninos.<br />
[…]<br />
— Quantos anos você tem, Peter?<br />
— Não sei. Só sei que sou muito jovem.<br />
De fato ele não sabia nada a esse respeito.<br />
— Wendy, fugi de casa no dia em que nasci.<br />
— No dia em que nasceu! […] Conte pra<br />
mim!<br />
— Foi porque — Peter Pan começou a falar<br />
baixinho — ouvi mamãe e papai conversando<br />
sobre mim, quando eu fosse grande. Eu não<br />
queria ficar grande de jeito nenhum! Queria ficar<br />
sempre criança para brincar o tempo todo.<br />
Foi por isso que fugi para o parque da cidade e<br />
vivi lá muito tempo na companhia das fadas.<br />
Wendy ficou até meio tonta ao ouvir isso. […]<br />
E desandou a fazer uma cascata de perguntas.<br />
Mas todas as perguntas se resumiam nisso:<br />
como são as fadas?<br />
— Quando a primeira criança do mundo deu<br />
uma risada, surgiu a primeira fada.<br />
— Ah, quer dizer que deve existir uma fada<br />
para cada criança que existe no mundo?<br />
— Devia, mas não existe.<br />
— Como assim?<br />
— Muito simples. Há muitas crianças que<br />
não acreditam nas fadas. Quando um garoto<br />
ou uma garota diz: “Eu não acredito em fada”,<br />
morre uma fada. Entendeu? Wendy, aposto que<br />
prendi Sininho lá dentro.<br />
Abriu a gaveta e Sininho saiu voando, furiosa,<br />
dizendo coisas.<br />
Sentados ambos na poltrona, os dois continuaram<br />
a conversar.<br />
— Mas onde você passa a maior parte do<br />
tempo?<br />
— Com os meninos perdidos.<br />
— Meninos perdidos?<br />
— Meninos que caem dos carrinhos quando<br />
as babás estão olhando para outro lado. Se<br />
não são reclamados em sete dias, são enviados<br />
para a Terra do Nunca. Sou o chefe lá.<br />
— Deve ser um estouro!<br />
— É, é mesmo. Só tem uma coisa: lá não<br />
temos companheiras, só companheiros.<br />
— Não há garotas?<br />
— Nem uma! Garota é sempre esperta demais<br />
para cair do carrinho.<br />
Wendy ficou cheia de si ao ouvir isso […].<br />
— Sabe? Eu não sei histórias. Os meninos<br />
perdidos não sabem histórias.<br />
P44<br />
— Que coisa horrível!<br />
— Você sabe por que as andorinhas fazem<br />
os ninhos perto das janelas das casas? É para<br />
ouvir histórias. Sua mãe outro dia estava contando<br />
uma história tão bonita.<br />
— Qual?<br />
— Aquela do príncipe que não encontrou a<br />
moça que usava sapatinho de vidro.<br />
— Ora, Peter Pan, Cinderela! E ele acabou<br />
achando Cinderela e foram felizes para sempre.<br />
Peter Pan ficou tão alegre que se levantou e<br />
correu para a janela.<br />
— Aonde você vai? — gritou-lhe Wendy.<br />
— Vou contar para os outros meninos.<br />
Peter agarrou a garota e começou a arrastá-<br />
-la para a janela.<br />
— Solte-me! — ela ordenou, com voz zangada.<br />
— Wendy, venha comigo contar histórias<br />
para os outros.<br />
— Infelizmente, não posso: e mamãe?! Além<br />
disso, não sei voar.<br />
— Mas eu ensino!<br />
— Oba!<br />
— Wendy, escute aqui: em vez de dormir feito<br />
boba nesta cama, você devia estar comigo<br />
voando nas costas dos ventos.<br />
— Oba!<br />
— E as sereias, Wendy?!<br />
— Sereias? Com caudas?<br />
— Caudas enormes.<br />
— Ah, se eu visse uma sereia!<br />
O papo de Peter Pan estava colando bem.<br />
— Wendy, nós todos obedeceríamos a<br />
você.<br />
— É mesmo?<br />
— E podia costurar nossas roupas e fazer<br />
bolsos para nós. Nós não temos bolsos.<br />
Como resistir?<br />
— É uma coisa louca! Peter, você pode também<br />
ensinar João e Miguel a voar?<br />
Parecia facílimo voar. Os garotos tentaram<br />
fazer o mesmo, primeiro do chão, depois das<br />
camas. Mas foram para baixo e não para cima.<br />
— Como é que é, Peter Pan? — perguntou<br />
João, esfregando o joelho.<br />
— Simples: primeiro você pensa tudo o que<br />
há de melhor para pensar, são esses pensamentos<br />
que fazem a gente voar.<br />
Ninguém sabia voar um palmo. Estaria Peter<br />
Pan zombando deles? Acho que sim. Pois só<br />
voaram depois que Peter soprou um pouco do<br />
pó das asas de Sininho sobre eles. […]
O sr. e a sra. Darling estavam exatamente<br />
cruzando a rua, de olhos fixos na janela do<br />
quarto das crianças, quando viram três figurinhas<br />
por meio da cortina, três figurinhas em<br />
roupas de dormir.<br />
— Três não! Quatro!<br />
Trêmulos, abriram a porta da rua. Correram<br />
para a escada. Não chegaram a tempo.<br />
BARRIE, James M. Peter Pan. 13. ed. Trad. de Paulo<br />
Mendes Campos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001, p. 7-25.<br />
1. Em que espaço se passa o encontro de Wendy<br />
e Peter Pan?<br />
Passa-se no quarto de dormir dela e de seus<br />
irmãos, em Londres, na Inglaterra.<br />
2. Por qual motivo Peter Pan vai ao quarto de<br />
Wendy?<br />
Porque perdeu sua sombra que está dentro de<br />
uma gaveta no quarto das crianças.<br />
3. Peter Pan está acompanhado de sua fada Sininho.<br />
Que características ela possui?<br />
Muita luz, fala, voa e é mal-humorada.<br />
4. De acordo com Peter, ele mora: “Dobrando a<br />
primeira rua à direita, siga em frente até o nascer do<br />
dia”; isso demonstra que ele vem de outras “terras”.<br />
a) Por que você acha que esse lugar recebeu o<br />
nome de “Terra do Nunca”? É um lugar indefinido,<br />
quanto ao tempo ou ao espaço?<br />
A palavra “nunca” se refere ao tempo. Na Terra<br />
do Nunca, as crianças não crescem e sua localização<br />
também demonstra que o espaço também é indefinido.<br />
b) Que ação de Wendy mostra que ela entende<br />
essa diferença?<br />
Peter tenta colar a sombra com sabonete, o<br />
que mostra que ele não sabe para que serve um<br />
sabonete. Wendy, por sua vez, costura a sombra, o<br />
que é algo estranho também. Em nenhum momento,<br />
Wendy se surpreende pelo fato de Peter ter se<br />
descolado de sua sombra.<br />
5. Por que Peter Pan fugiu de casa logo que nasceu?<br />
Para onde ele foi?<br />
Porque ouviu os pais conversarem sobre seu<br />
destino, não gostou disso e foi viver com as fadas<br />
n o p a r q u e.<br />
Professor: Comente o fato de que as famílias,<br />
na época em que a obra foi escrita, tinham o costume<br />
de decidir e fazer planos sobre o destino de<br />
seus filhos, tais como profissão, com quem se casariam,<br />
no que trabalhariam; ressalte que em alguns<br />
momentos a obra faz uma crítica a isso.<br />
Para continuar<br />
Conceito/conexão<br />
Pronomes<br />
Neste momento, aprenderemos um pouco mais<br />
sobre outros tipos de pronomes: os demonstrativos,<br />
os indefinidos e os interrogativos.<br />
Pronomes demonstrativos<br />
Os pronomes demonstrativos são aqueles<br />
que mostram o lugar, a posição ou a identificação<br />
dos seres. Esse jeito de localizar pode<br />
acontecer no espaço, no tempo ou no próprio<br />
texto, fazendo a ligação com as pessoas do discurso.<br />
Suas formas variáveis, ou seja, aquelas que<br />
possuem plural e feminino são: este (primeira<br />
pessoa), esse (segunda pessoa), aquele (terceira<br />
pessoa).<br />
Há também as formas invariáveis, isto é, não fazem<br />
nem plural nem feminino: isto, isso, aquilo.<br />
Os pronomes demonstrativos também podem<br />
se unir a outras palavras, formando, por exemplo:<br />
em + essa = nessa, de + esta = desta, de + aquela<br />
= daquela, a + aquela = àquela.<br />
Os homens não entendem nada dessas<br />
coisas, uf. É preciso costurar a sombra.<br />
Observe os exemplos, quanto ao espaço:<br />
• Wendy, costure esta sombra em mim! (O pronome<br />
esta indica que a sombra está perto da<br />
pessoa que fala — Peter Pan.)<br />
• Wendy, costure essa sombra em mim! (O<br />
pronome essa indica que a sombra está perto<br />
da pessoa com quem se fala — Wendy.)<br />
P45
P46<br />
• Wendy, costure em mim aquela sombra que<br />
deixei no gavetão!!! (O pronome aquela diz<br />
que a sombra está afastada da pessoa que<br />
fala — Peter Pan — e da pessoa com quem<br />
se fala — Wendy.)<br />
Quanto ao tempo, veja alguns exemplos:<br />
• Durante esta noite, Peter Pan procura sua sombra<br />
no quarto das crianças. (O pronome esta<br />
sugere tempo presente, a ação ainda transcorre<br />
no “agora”.)<br />
• Desses tempos, se recordara com saudades do<br />
amigo Peter Pan. (O pronome esses — mais a<br />
palavra de — sugere que a ação ocorreu no<br />
passado da pessoa que fala — Wendy.)<br />
• Naquela noite, Peter Pan procurava sua sombra<br />
no gavetão. (O pronome naquela [em + aquela]<br />
indica que a ação de Peter ocorria em um tempo<br />
afastado, vago, distante do presente.)<br />
Texto com conteúdo:<br />
Professor: Pronomes demonstrativos expressam<br />
referência a uma oposição de espaço, dividido<br />
linguisticamente nos dois campos polares do<br />
eixo falante-ouvinte e num terceiro campo à parte<br />
desse eixo. Transposta a indicação geral no espaço<br />
(dêitica) para indicação particular no próprio<br />
contexto linguístico (anafórica), tem-se o campo<br />
do que vai ser dito no contexto, o do que já foi<br />
dito, e um terceiro campo abrangendo outros contextos.<br />
Há, assim, em português, três espécies de<br />
demonstrativos: (1) este: indicação no âmbito do<br />
falante (uso dêitico) ou no do que vai ser dito no<br />
contexto (uso anafórico); (2) esse: indicação no<br />
âmbito do ouvinte (uso dêitico) ou no que já foi dito<br />
no contexto (uso anafórico); (3) aquele: indicação<br />
de um âmbito exterior ao falante e ouvinte (uso dêitico)<br />
ou exterior ao contexto em que o pronome<br />
se acha (uso anafórico). No uso anafórico, porém,<br />
a estilística interfere frequentemente nessa distribuição<br />
puramente gramatical das formas, dandose<br />
a substituição de esse por este e o emprego<br />
de aquele para uma indicação dentro do contexto,<br />
distanciada do ponto atual da enunciação […].<br />
No português do Brasil, principalmente na fala, há<br />
uma redução dos demonstrativos em dois tipos<br />
apenas, este e esse, gramaticalmente equivalentes,<br />
e estilisticamente diversos como mais enfático<br />
e menos enfático, de um lado, e, de outro lado,<br />
aquele, na base da distinção entre o campo do falante<br />
e tudo o mais.<br />
Adaptado de CÂMARA JR. Mattoso. Dicionário de<br />
filologia e gramática referente à língua portuguesa.<br />
Rio de Janeiro: J. Ozon, 1970, p. 133-134.<br />
No próprio texto, os pronomes podem anunciar<br />
ou resgatar coisas que foram ou serão ditas:<br />
Peter Pan fez apenas isto: colocou um botão<br />
na mão dela.<br />
Mas todas as perguntas se resumiam nisto:<br />
como são as fadas?<br />
De fato, ele não sabia nada a esse respeito.<br />
Nas duas primeiras frases, o demonstrativo<br />
anuncia algo que será dito e explicado; enquanto<br />
na terceira frase, o demonstrativo resgata algo que<br />
já foi dito no próprio texto.<br />
Algumas formas também podem funcionar como<br />
explicação:<br />
Wendy chegou a dizer que daria um beijo nele,<br />
isto é, se ele quisesse.<br />
Os pronomes demonstrativos muitas vezes<br />
substituem gestos físicos e são acompanhados de<br />
uma entonação especial quando falamos, revelando<br />
nossas intenções, sentimentos ou ideias. Observe<br />
os substantivos da caixa e diga que valor afetivo<br />
têm as expressões em destaque:<br />
admiração – indignação – irrelevância<br />
pena – confiança – raiva – medo<br />
surpresa – desagrado – repulsa – consolo<br />
— Deixe isso pra lá. consolo,<br />
irrelevância<br />
— Que coisa é essa? repulsa,<br />
surpresa<br />
— Isso não, isso não! medo,<br />
indignação<br />
— Aquilo sim é que era comida boa! admiração<br />
— Mais esta agora! surpresa,<br />
desagrado<br />
— Isso não se diz pra uma pessoa! pena,<br />
indignação<br />
— Aquele menino me paga! raiva<br />
Pronomes indefinidos<br />
Os pronomes indefinidos são aqueles que<br />
se referem à terceira pessoa do discurso, de maneira<br />
imprecisa, vaga.<br />
Alguns funcionam como substantivos:<br />
algo – alguém – nada – ninguém – outrem<br />
… preferiam fingir que nada estava acontecendo…<br />
Ninguém sabia voar um palmo…
Outros funcionam como adjetivos:<br />
certo – cada<br />
… ela respondeu com certo orgulho… (O pronome<br />
“certo” funciona como adjetivo para o substantivo<br />
“orgulho”)<br />
… deve existir uma fada para cada criança que<br />
existe no mundo… (O pronome “cada” funciona<br />
como adjetivo para o substantivo “criança”)<br />
Mas, na maioria das vezes, os pronomes indefinidos<br />
podem ser tanto substantivos quanto<br />
adjetivos:<br />
algum – bastante – demais – mais – menos<br />
nenhum – outro – pouco – qualquer – qual<br />
que – quanto – tal – tanto – todo – vários<br />
Observe os exemplos com os indefinidos em<br />
destaque:<br />
Eu não queria ficar grande de jeito nenhum.<br />
Queria ficar sempre criança para brincar o tempo<br />
todo.<br />
Havia no quarto agora, uma outra luz…<br />
E depois do sonho, alguma coisa sempre ficava…<br />
Observe também que alguns possuem plural<br />
ou não, ou apenas a forma masculina sem a forma<br />
feminina. O pronome “qualquer” é o que tem uma<br />
regra diferente para o plural — que é feito no meio<br />
da palavra:<br />
Wendy, qualquer menina vale mais do que<br />
vinte meninos.<br />
Wendy, quaisquer meninas valem mais do<br />
que milhões de meninos.<br />
Nos trechos a seguir, circule os pronomes que<br />
você identificar como indefinidos:<br />
Mas ninguém conhecia nenhum Ministério<br />
dos Sonhos…<br />
Reuni todos aqui porque algo precisa ser feito.<br />
… Entrando e saindo por todas as gavetas antes<br />
que alguém pudesse dizer ui…<br />
Algo vai mal na Terra do Nunca, cavalheiros…<br />
Esse negócio não está nada bom!<br />
Não estava nada espantada de ver uma pessoa<br />
chorando no chão do quarto…<br />
Tinha uma certa inclinação para escrever poesia…<br />
Na ordem, circular:<br />
ninguém, nenhum, todos, algo, todas, alguém,<br />
algo, certa<br />
Pronomes interrogativos<br />
Os pronomes interrogativos referem-se<br />
à terceira pessoa do discurso de forma vaga,<br />
imprecisa, assim como os pronomes indefinidos.<br />
Estão presentes nas frases usadas para<br />
formular perguntas diretas ou indiretas.<br />
São eles:<br />
que – quem – qual – quanto<br />
Observe os exemplos:<br />
Que cartas?<br />
Por que não havia meninas por lá?<br />
Quem foi James Barrie?<br />
Qual é o seu nome?<br />
Texto com conteúdo:<br />
Professor: Note que, sobre o exemplo: “Onde<br />
você está?”, Matoso Câmara diz que pertencem<br />
ainda ao quadro dos interrogativos portugueses as<br />
partículas: onde (para lugar), como (para modo) e<br />
quando (para tempo) que secundariamente, em outros<br />
contextos, pertencem à classe dos advérbios,<br />
fazendo parte do grupo de pronomes que só têm a<br />
função de advérbio.<br />
Assim como os pronomes demonstrativos, algumas<br />
vezes os pronomes interrogativos podem<br />
assumir uma forma exclamativa e interrogativa ao<br />
mesmo tempo, revelando um valor afetivo:<br />
— Ah, quantas histórias eu poderia contar<br />
para os meninos perdidos!<br />
Observe que, nesse caso, temos uma pergunta<br />
que é entonada, pela voz da menina Wendy, como<br />
se fosse uma exclamação, indicando admiração<br />
pelo que poderia ser contado.<br />
Agora tente você: observe a frase, indique o pronome<br />
interrogativo e depois diga se no seu uso há<br />
um valor afetivo.<br />
— Que coisa horrível! Pronome interrogativo<br />
= que, valor = pena.<br />
— Coitado, que aborrecimento… idem à resposta<br />
anterior.<br />
P47
Professor: Os pronomes relativos serão retomados<br />
em capítulos do oitavo e nono anos, por julgarmos<br />
ser mais importante para o sexto ano interiorizar os<br />
conceitos em relação aos outros tipos de pronomes,<br />
aqui apresentados. Caso haja possibilidade, você poderá<br />
apresentá-los, sempre indicando no texto as relações<br />
estabelecidas, já que a forma “que” tanto é um<br />
pronome interrogativo, quanto pode ser um pronome<br />
relativo e, muito comumente, poderá apresentar-se<br />
como uma conjunção em nossa língua.<br />
Para finalizar<br />
Professor: Preencha o quadro com os alunos.<br />
Este pode ser um momento de revisão. A resposta dos<br />
alunos pode auxiliar na autoavaliação: você considera<br />
que conseguiu realizar todas as atividades? Quanto<br />
você contribuiu para o conhecimento dos alunos?<br />
Conflito<br />
Provérbio<br />
Pronomes<br />
Adaptação<br />
P48<br />
Conteúdos<br />
Espaço/ambiente<br />
Época/tempo<br />
Variação linguística<br />
Para casa<br />
O que aprendi<br />
no capítulo 10<br />
Leia o texto a seguir, antes de responder às<br />
questões:<br />
Depois de algum tempo, quando viram que<br />
eu não pedia mais carne, apareceu diante de<br />
meus olhos um membro que dava impressão<br />
de ser de alto nível, pela pose majestosa.<br />
Sua Excelência subiu pela parte mais fina da<br />
minha perna direita e caminhou até junto de<br />
meu rosto, acompanhado por uma comitiva de<br />
doze pequeninos; pegou nas credenciais quase<br />
dez minutos, sem dar sinais de cólera, mas<br />
com uma espécie de firme disposição; apontava<br />
seguidamente para um lugar que eu depois<br />
fiquei sabendo que era a Capital e que ficava a<br />
cerca de novecentos metros de distância; era<br />
para lá que Sua Majestade e seu Conselho tinham<br />
decidido que eu devia ser levado. Respondi<br />
com poucas palavras, que não serviram<br />
de nada, e com a mão solta apontei para a que<br />
ainda estava presa (mas por cima da cabeça de<br />
Sua Excelência e com muito cuidado para não<br />
machucá-lo), depois apontei para minha cabeça,<br />
em seguida para meu corpo, indicando que<br />
queria ser solto. Parece que ele me entendeu<br />
bem, pois sacudiu a cabeça em negação e ergueu<br />
as mãos num gesto que significava que eu<br />
devia ser carregado, como todo prisioneiro. No<br />
entanto, fez outros sinais para me comunicar<br />
que eu receberia carne e vinho suficientes, que<br />
teria bom tratamento. Mais uma vez fui tentado<br />
a rebentar as cordas que me prendiam, porém<br />
quando comecei a fazer força para isso senti as<br />
picadas das flechas no rosto e nas mãos, que<br />
aliás já estavam bem machucadas e com alguns<br />
dardos ainda espetados nelas. Ao observar que<br />
o número de meus inimigos aumentara, tratei<br />
de fazê-los entender que podiam dar-me o destino<br />
que bem quisessem.<br />
SWIFT, J. Viagens de Gulliver. Trad. Therezinha<br />
Monteiro Deutsch. Porto Alegre: L & PM, 2005, p. 8.<br />
1. Que tipos de numerais estão grifados ao longo<br />
do excerto?<br />
Numerais cardinais<br />
2. A quem se referem os pronomes destacados<br />
dentro dos retângulos?<br />
Cargo elevado = excelência e ao rei = Majestade<br />
3. Explique a quem se referem os pronomes pessoais<br />
oblíquos em negrito no trecho.<br />
-lo = o homem de cargo elevado<br />
me = ao próprio Gulliver, que narra<br />
-los = inimigos, soldados<br />
4. Esse trecho é de uma outra versão traduzida e<br />
adaptada das Viagens de Gulliver. O que você percebeu<br />
na linguagem: é mais formal do que aquela<br />
que lemos em “O texto no contexto”? Como você<br />
descobriu isso?<br />
Sim, a linguagem é mais formal, porque narra<br />
com mais detalhes e o vocabulário empregado<br />
escolhe palavras (verbos, substantivos, adjetivos)<br />
menos comuns no cotidiano. Por exemplo, nessa<br />
versão foi usada a expressão “alto nível, Excelência”,<br />
na outra foi usado “chefe”.
Professor: Comente com os alunos que essas<br />
alterações ocorrem porque todo texto tem um<br />
público-alvo, mesmo o literário, bem como características<br />
da época em que foi escrito, no caso do<br />
de Swift já é um texto com vários séculos, o que<br />
obrigatoriamente provoca mudanças na adaptação<br />
ou tradução, pontuando, assim, as questões de variação<br />
linguística.<br />
Assinale com X<br />
O que aprendi neste caderno<br />
do terceiro bimestre<br />
8 o Clássicos, artigos, mapa,<br />
original, teatro, cinema.<br />
9 o Nonsense, notícia,<br />
numeral, trocadilho, resenha.<br />
10 o Conflito, pronomes, espaço/<br />
ambiente, época/tempo.<br />
Anotações do professor:<br />
Artistas citados:<br />
Italo Calvino nasceu em Santiago de Las Vegas,<br />
Cuba, em 1923, tendo ido logo a seguir para a<br />
Itália. Participou da resistência ao fascismo durante<br />
a guerra e foi membro do Partido Comunista até<br />
1956. Em 1946, instalou-se em Turim, onde se doutorou<br />
com uma tese sobre Joseph Conrad. Publicou<br />
sua primeira obra, Il sentiero dei nidi di ragno, em<br />
1947. Com O visconde partido ao meio, lançado em<br />
1952, o autor abandonou o neorrealismo dos primeiros<br />
livros e começou a explorar a fábula e o fantástico,<br />
elementos que marcariam profundamente a<br />
sua obra. Nos anos 1960 e 1970, aprofundou suas<br />
experiências formais em livros como As cidades<br />
invisíveis e Se um viajante numa noite de inverno.<br />
Considerado um dos maiores escritores europeus<br />
deste século, morreu em 1985.<br />
James Matthew Barrie, nascido na Escócia,<br />
em 1860, e falecido em Londres, em 1937,<br />
é o criador de Peter Pan, personagem que vem<br />
povoando os sonhos das crianças de muitas gerações.<br />
Escrito inicialmente como um romance<br />
para adultos, depois como um livro de arte<br />
e como uma peça de teatro, Peter Pan e Wendy<br />
só tomariam a forma de livro para crianças<br />
em 1911. Em 1929, Barrie doou os direitos autorais<br />
de Peter Pan para o Hospital infantil de<br />
Great Ormond Street, em Londres.<br />
Jonathan Swift nasceu em Dublin, na Irlanda,<br />
em 1667. Órfão de pai, que falecera pouco antes<br />
de seu nascimento, Swift viveu da caridade de um<br />
tio por vários anos. Aos 21 anos, mudou-se para<br />
a Inglaterra em busca de melhor sorte. Lá, trabalhou<br />
como secretário do escritor William Temple,<br />
doutorou-se em Teologia e foi ordenado ministro<br />
da Igreja Anglicana, na Irlanda. Em 1713, tornou-<br />
-se decano da Catedral de São Patrício. Humanista<br />
e contrário à tirania e à injustiça, Swift foi muito<br />
influenciado pela tristeza e pela miséria em que viviam<br />
os irlandeses, sob o domínio dos ingleses, e<br />
se tornou um intrépido defensor do povo oprimido.<br />
Por meio da sátira cruel de seus escritos, pretendeu<br />
despertar a consciência das pessoas omissas<br />
e indiferentes. Swift foi ao mesmo tempo popular<br />
e perseguido por autoridades britânicas. No início<br />
da década de 1740, foram identificados os primeiros<br />
sinais de senilidade mental, e, em 1742, foi<br />
declarado legalmente incapaz. Morreu em outubro<br />
de 1745.<br />
José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do<br />
Huambo, em Angola, a 13 de dezembro de 1960.<br />
Estudou Agronomia e Silvicultura em Lisboa. É jornalista.<br />
Viveu em Lisboa, Luanda, Rio de Janeiro<br />
e Berlim. É autor dos livros A conjura (romance,<br />
1988), Prêmio Revelação Sonangol, A Feira dos<br />
assombrados (contos, 1992), Estação das chuvas<br />
(romance, 1996), Nação crioula (romance, 1998),<br />
Grande Prêmio de Literatura RTP, Fronteiras perdidas<br />
(contos, 1999), Grande Prêmio de Conto da<br />
APE, A substância do amor e Outras crônicas (crônica,<br />
2000), Estranhões e bizarrocos, com Henrique<br />
Cayatte, (infantil, 2000), Prêmio Nacional de Ilustração<br />
e Grande Prêmio de Literatura para Crianças<br />
da Fundação Calouste Gulbenkian, Um estranho<br />
em Goa (romance, 2000), O ano que zumbi tomou<br />
o rio (romance, 2002), O homem que parecia um<br />
domingo (contos, 2002), Catálogo de sombras<br />
(contos, 2003), O vendedor de passados (romance,<br />
2004) e As mulheres de meu pai (romance, Língua<br />
Geral, 2007) entre outros.<br />
P49
Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge<br />
Dodgson, (Cheshire, 27 de janeiro de 1832 —<br />
Guildford, 14 de janeiro de 1898). Seu nome está<br />
inscrito na história da literatura mundial por ser o<br />
autor de Alice no País das Maravilhas. Filho de um<br />
pastor anglicano, Lewis Carroll tinha dez irmãos e<br />
cresceu num ambiente onde aprendeu a contar histórias<br />
e cuidar e distrair crianças. Apaixonado por<br />
matemática e fotografia, foi nomeado professor de<br />
matemática em Oxford, em 1861. Como fotógrafo<br />
amador, fotografava invariavelmente meninas entre<br />
8 e 12 anos de idade. Sua obra-prima é fruto de<br />
uma história que narrou a Alice Liddle (então com 4<br />
anos), amiga de suas irmãs. Seu primeiro livro, no<br />
entanto, é A syllabus of plane algebraical geometry,<br />
um tratado de matemática escrito em 1860. Por<br />
sugestão do escritor Henry Kingsley, o livro foi publicado<br />
em 1865 sem ser especificado se era para<br />
adultos ou crianças. Foi um sucesso fulminante.<br />
Religioso, professor, pesquisador sério, Lewis Carroll<br />
escreveu vários livros, entre poemas, ensaios<br />
científicos, textos técnicos e de ficção juvenil. Car- Car-<br />
rol era apaixonado por vários tipos de jogos, tanto<br />
que inventou um grande número de enigmas, jogos<br />
matemáticos e de lógica; gostava de teatro e era<br />
frequentador de ópera.<br />
P50<br />
Lyman Frank Baum, americano, nasceu no estado<br />
de Nova york, em 1856. O mágico de Oz, seu<br />
maior sucesso, escrito quando estava com 44 anos,<br />
atingiu 90 mil cópias produzidas; em 1901 foi encenado<br />
em Chicago. Baum faleceu em 1919 e sua<br />
obra alcançou projeção mundial quando foi adaptada<br />
para o cinema em 1939.<br />
Tatiana Belinky, escritora premiada, nasceu na<br />
Rússia, em 1919. Veio para o Brasil com dez anos<br />
de idade. Aqui estudou, casou-se, teve filhos, netos<br />
e bisnetos. Dedicou-se ao teatro infantil, em companhia<br />
de seu marido, Júlio Gouveia, escrevendo<br />
diversas peças e adaptações de livros apresentados<br />
em teatros de São Paulo. Trabalhou também<br />
nas TVs Tupi, Bandeirantes e Cultura, escrevendo<br />
e adaptando textos de literatura infantojuvenil para<br />
teleteatro e seriados. O mais conhecido deles foi a<br />
primeira adaptação para a televisão de O sítio do<br />
Pica-Pau Amarelo.
Anotações<br />
P51
Anotações<br />
P52
Redação<br />
Capítulo<br />
Redação 1<br />
Leia, a seguir, uma das páginas de um livro<br />
chamado A vida tem dessas coisas, mano, escrito<br />
em forma de diário:<br />
8<br />
A Terra do Ó, onde cada um faz o que quer e<br />
ninguém fica enchendo a paciência.<br />
O Mico é um pentelho, mas, no fundo, no fundo,<br />
gosto dele. Esqueço as coisas que aprontou<br />
comigo. Uma vez, sem nenhum motivo, acertou<br />
minha cabeça com um cinzeiro de vidro. Tenho<br />
até hoje a marca no supercílio, onde levei três<br />
pontos… Outra vez, ficou com raiva de mim e<br />
rasgou quase toda minha coleção de gibis do<br />
Homem Aranha. É bem verdade que também<br />
apronto umas com ele. A gente se detesta, mas<br />
a gente se ama. Acho que é por isso que o Mico<br />
não desgruda de mim, não larga do meu pé:<br />
“Edu, conta uma ‘toia’…”.<br />
Das histórias que eu conto para o Mico, a de<br />
que ele mais gosta é a da “Terra do Ó”. Como<br />
ele gosta tanto e fica maluco quando eu torno a<br />
contar e esqueço os detalhes, resolvi escrevê-la<br />
aqui no diário. Assim, quando ele pedir para contar<br />
de novo, não tenho de ouvi-lo berrar:<br />
— Não é assim! Você tá contando errado!<br />
É só ler o que escrevi e acabaram-se os problemas.<br />
Então, aqui vai a história da “Terra do Ó”:<br />
“Era uma vez a Terra do Ó, um lugar muito,<br />
muito bonito. Para chegar lá, as crianças tinham<br />
que deitar, fazer figa com uma das mãos, segurar<br />
o nariz com a outra, fechar os olhos e gritar<br />
três vezes:<br />
— Quero ir pra Terra do Ó, quero ir pra Terra<br />
do Ó, quero ir pra Terra do Ó.”<br />
GOMES, Álvaro Cardoso. A vida tem dessas<br />
coisas, mano. São Paulo: FTD, 2004, p. 9.<br />
Mico, o irmão mais novo do narrador, constantemente<br />
pede que o irmão adolescente conte histórias<br />
para que ele durma. Em uma delas, eles inventaram<br />
a “Terra do Ó”.<br />
Nesta proposta de redação, você deverá continuar<br />
a história que o irmão está começando a contar.<br />
Note que o espaço para onde as personagens<br />
irão se transportar é imaginário. Assim como no final<br />
de O mágico de Oz, para o teatro, eles pensam forte<br />
e fazem “figa” para seguir para esta terra distante.<br />
Terra de Oz<br />
Ao terminar seu rascunho e antes de passar a<br />
limpo, verifique se você:<br />
1.<br />
2.<br />
descreveu os lugares, os espaços;<br />
mostrou as características das personagens;<br />
3. indicou as falas das personagens com travessões<br />
ou aspas;<br />
4.<br />
pontuou e acentuou corretamente;<br />
5. dividiu os parágrafos para que a sequência<br />
seja clara para quem lê o seu texto;<br />
6. solucionou, no fim da narrativa, um problema<br />
anteriormente criado.<br />
Se quiser, ilustre seu texto, fazendo um mapa<br />
inventado da Terra do Ó.<br />
Professor: Nas produções textuais dos alunos,<br />
é comum encontrarmos repetição desnecessária de<br />
palavras. Como este bimestre trouxe o estudo dos<br />
pronomes, convém retornar o uso dessa classe gramatical<br />
como forma de substituir termos já expressos<br />
no texto. Desse modo, pode-se ensinar gramática<br />
como meio de aprimoramento linguístico. Se for<br />
possível, selecione trechos repetitivos de algumas<br />
redações. Depois, peça para que os alunos reescrevam<br />
esses excertos, fazendo uso de pronomes.<br />
Essa metodologia pode não só reforçar os conceitos<br />
estudados no bimestre, como também mostrar o uso<br />
dos pronomes em situações reais de produção.<br />
P53
Redação 1<br />
P54<br />
Redação<br />
Capítulo<br />
Como você pôde ler neste bimestre, as obras<br />
clássicas resistem ao tempo e influenciam a criação<br />
de outros textos. Alice no País das Maravilhas<br />
e Alice através do espelho são livros de Lewis<br />
Carroll que inspiraram (e ainda inspiram) diversos<br />
artistas a produzirem sua arte.<br />
Por isso, podemos ver elementos da obra de<br />
Carroll em vários outros textos, produzidos em diferentes<br />
linguagens. Veja alguns exemplos:<br />
• Alice no País dos Enigmas (Incríveis problemas<br />
lógicos no País das Maravilhas), de<br />
Raymond Smullyan, livro publicado pela editora<br />
Jorge Zahar, em 2000.<br />
• Alice no País da Mentira,<br />
de Pedro Bandeira,<br />
editora Ática, 2006.<br />
• Alice no País da Poesia,<br />
de Elias José, editora<br />
Petrópolis, 2009.<br />
• Uma cena do filme Matrix (1999), com o ator<br />
Keanu Reeves, na qual o protagonista Neo,<br />
tal como Alice, segue um coelho para escolher<br />
a pílula que vai tomar.<br />
Você também pode criar sua versão da história.<br />
Sua tarefa é, então, escrever uma narrativa,<br />
na qual apareçam Alice e alguns personagens de<br />
Lewis Carroll. Em que país ocorrerá a sua história?<br />
As personagens viverão quais aventuras? Qual<br />
será o nonsense criado? E os trocadilhos com a<br />
linguagem? Depois do texto pronto, leia-o para<br />
seus colegas.<br />
9<br />
País das Maravilhas
Redação<br />
Capítulo<br />
10<br />
País dos Contrários<br />
Redação 1<br />
No capítulo 10 de Língua Portuguesa, você conheceu alguns trechos da história de Peter Pan. Em<br />
vários momentos, durante a história completa, há pequenas letras de músicas que são cantadas pelos<br />
piratas, pelos meninos perdidos e também por Wendy quando por lá esteve. Peter Pan encantava com sua<br />
flauta e, em um episódio na Lagoa das Sereias, Peter Pan ficou…<br />
… sozinho. Começou a ouvir então o canto das sereias na festa do luar. E disso não há quem não<br />
tenha medo. Daí a pouco seriam centenas e centenas de sereias cantando para a lua. Era demais. Em<br />
dois tempos, Peter estava em pé sobre o rochedo com aquele sorriso no rosto e um tambor dentro dele<br />
batendo assim:<br />
Morrer é também uma aventura, mas enorme demais.<br />
BARRIE, J. M., p. 66-69.<br />
Agora é sua vez, continue a canção que Peter Pan imagina por mais algumas linhas até que ela tome<br />
a forma de uma letra de música. O assunto dela deverá seguir o mote (a ideia) da primeira frase, cujas palavras<br />
importantes são “morrer”, “aventura”, “enorme demais”. Como poderia ser essa aventura? Por que o<br />
medo do canto das sereias? Será que Peter Pan usará também sua música para não morrer? Como você<br />
imagina que ele tenha se livrado das sereias? Componha várias linhas em que você responda a essas<br />
perguntas e também imagine o que aconteceu. Se quiser, faça em dupla com um colega, depois verifique<br />
a sua ficha de avaliação:<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Escrevi em forma de versos?<br />
Precisei usar um refrão?<br />
Escrevi as ideias, o assunto de maneira clara?<br />
Fiz rimas ou dei ritmo à letra da música?<br />
Corrigi os erros ortográficos?<br />
Professor: Oriente os alunos explicando que pode ou não haver rimas, como também poderá ou<br />
não haver refrão, pois tais itens não são obrigatórios. O que deve de fato sobressair nessa produção<br />
é o ritmo imposto por linhas não muito longas e o desenvolvimento da ideia de aventura na Lagoa<br />
das Sereias.<br />
P55
P56