Apresentação - Planej

Então, ele falou com jeito irresistível:
— Wendy, qualquer menina vale mais do
que vinte meninos.
[…]
— Quantos anos você tem, Peter?
— Não sei. Só sei que sou muito jovem.
De fato ele não sabia nada a esse respeito.
— Wendy, fugi de casa no dia em que nasci.
— No dia em que nasceu! […] Conte pra
mim!
— Foi porque — Peter Pan começou a falar
baixinho — ouvi mamãe e papai conversando
sobre mim, quando eu fosse grande. Eu não
queria ficar grande de jeito nenhum! Queria ficar
sempre criança para brincar o tempo todo.
Foi por isso que fugi para o parque da cidade e
vivi lá muito tempo na companhia das fadas.
Wendy ficou até meio tonta ao ouvir isso. […]
E desandou a fazer uma cascata de perguntas.
Mas todas as perguntas se resumiam nisso:
como são as fadas?
— Quando a primeira criança do mundo deu
uma risada, surgiu a primeira fada.
— Ah, quer dizer que deve existir uma fada
para cada criança que existe no mundo?
— Devia, mas não existe.
— Como assim?
— Muito simples. Há muitas crianças que
não acreditam nas fadas. Quando um garoto
ou uma garota diz: “Eu não acredito em fada”,
morre uma fada. Entendeu? Wendy, aposto que
prendi Sininho lá dentro.
Abriu a gaveta e Sininho saiu voando, furiosa,
dizendo coisas.
Sentados ambos na poltrona, os dois continuaram
a conversar.
— Mas onde você passa a maior parte do
tempo?
— Com os meninos perdidos.
— Meninos perdidos?
— Meninos que caem dos carrinhos quando
as babás estão olhando para outro lado. Se
não são reclamados em sete dias, são enviados
para a Terra do Nunca. Sou o chefe lá.
— Deve ser um estouro!
— É, é mesmo. Só tem uma coisa: lá não
temos companheiras, só companheiros.
— Não há garotas?
— Nem uma! Garota é sempre esperta demais
para cair do carrinho.
Wendy ficou cheia de si ao ouvir isso […].
— Sabe? Eu não sei histórias. Os meninos
perdidos não sabem histórias.
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— Que coisa horrível!
— Você sabe por que as andorinhas fazem
os ninhos perto das janelas das casas? É para
ouvir histórias. Sua mãe outro dia estava contando
uma história tão bonita.
— Qual?
— Aquela do príncipe que não encontrou a
moça que usava sapatinho de vidro.
— Ora, Peter Pan, Cinderela! E ele acabou
achando Cinderela e foram felizes para sempre.
Peter Pan ficou tão alegre que se levantou e
correu para a janela.
— Aonde você vai? — gritou-lhe Wendy.
— Vou contar para os outros meninos.
Peter agarrou a garota e começou a arrastá-
-la para a janela.
— Solte-me! — ela ordenou, com voz zangada.
— Wendy, venha comigo contar histórias
para os outros.
— Infelizmente, não posso: e mamãe?! Além
disso, não sei voar.
— Mas eu ensino!
— Oba!
— Wendy, escute aqui: em vez de dormir feito
boba nesta cama, você devia estar comigo
voando nas costas dos ventos.
— Oba!
— E as sereias, Wendy?!
— Sereias? Com caudas?
— Caudas enormes.
— Ah, se eu visse uma sereia!
O papo de Peter Pan estava colando bem.
— Wendy, nós todos obedeceríamos a
você.
— É mesmo?
— E podia costurar nossas roupas e fazer
bolsos para nós. Nós não temos bolsos.
Como resistir?
— É uma coisa louca! Peter, você pode também
ensinar João e Miguel a voar?
Parecia facílimo voar. Os garotos tentaram
fazer o mesmo, primeiro do chão, depois das
camas. Mas foram para baixo e não para cima.
— Como é que é, Peter Pan? — perguntou
João, esfregando o joelho.
— Simples: primeiro você pensa tudo o que
há de melhor para pensar, são esses pensamentos
que fazem a gente voar.
Ninguém sabia voar um palmo. Estaria Peter
Pan zombando deles? Acho que sim. Pois só
voaram depois que Peter soprou um pouco do
pó das asas de Sininho sobre eles. […]