A hipérbole e os telescópios - Ufrgs.br
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A <strong>hipérbole</strong> e <strong>os</strong><<strong>br</strong> />
telescópi<strong>os</strong><<strong>br</strong> />
114<<strong>br</strong> />
Adaptado do artigo de<<strong>br</strong> />
Geraldo Ávila<<strong>br</strong> />
O artigo anterior trouxe uma interessante<<strong>br</strong> />
propriedade focal da parábola, que é utilizada<<strong>br</strong> />
na construção de refletores e antenas<<strong>br</strong> />
parabólicas. Seria natural que o leitor<<strong>br</strong> />
perguntasse: e a <strong>hipérbole</strong>? Tem ela propriedade<<strong>br</strong> />
parecida? Sim, tem, e é uma propriedade<<strong>br</strong> />
importante na tecnologia d<strong>os</strong> telescópi<strong>os</strong>, como<<strong>br</strong> />
explicarem<strong>os</strong> neste artigo.<<strong>br</strong> />
O que é uma <strong>hipérbole</strong><<strong>br</strong> />
As chamadas seções cônicas − elipse,<<strong>br</strong> />
<strong>hipérbole</strong> e parábola − são as curvas que se<<strong>br</strong> />
obtêm como intersecção de um cilindro ou cone<<strong>br</strong> />
circular reto com um plano. Outra maneira<<strong>br</strong> />
equivalente de definir essas curvas é a geométrica<<strong>br</strong> />
e se faz em term<strong>os</strong> da chamada propriedade<<strong>br</strong> />
focal. Supondo que estam<strong>os</strong> trabalhando em um<<strong>br</strong> />
plano, a <strong>hipérbole</strong>, por exemplo, pode ser<<strong>br</strong> />
definida geométricamente:<<strong>br</strong> />
Dado um número p<strong>os</strong>itivo d e dois pont<strong>os</strong> F<<strong>br</strong> />
e F’, chama-se <strong>hipérbole</strong> ao lugar geométrico<<strong>br</strong> />
d<strong>os</strong> pont<strong>os</strong> cuja diferença das distâncias a F<<strong>br</strong> />
e F’ é sempre igual a d.
Assim, P, P’, P”, ... são pont<strong>os</strong> da <strong>hipérbole</strong>, visto que<<strong>br</strong> />
PF − PF’ = P’F − P’F’ = P”F − P”F’ = ... = d.<<strong>br</strong> />
Do mesmo modo, Q, Q’, Q”, ..., satisfazendo as condições,<<strong>br</strong> />
QF’ − QF = Q’F’ − Q’F = Q”F’ − Q”F = ... = d<<strong>br</strong> />
também pertencem à <strong>hipérbole</strong>, a qual, portanto, p<strong>os</strong>sui dois ram<strong>os</strong><<strong>br</strong> />
distint<strong>os</strong>.<<strong>br</strong> />
Os pont<strong>os</strong> F e F’ são chamad<strong>os</strong> foc<strong>os</strong> da <strong>hipérbole</strong>.<<strong>br</strong> />
Reflexão da luz<<strong>br</strong> />
Vam<strong>os</strong> imaginar um espelho refletor construído com o formato de um<<strong>br</strong> />
ramo de <strong>hipérbole</strong>, estando a parte refletora do “lado de fora” da <strong>hipérbole</strong>,<<strong>br</strong> />
isto é, na sua parte côncava.<<strong>br</strong> />
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Suponham<strong>os</strong> que um raio de luz proveniente de um ponto A incida no<<strong>br</strong> />
espelho em P, como ilustra a figura, de forma que a reta AP passe pelo<<strong>br</strong> />
foco F´. Então é p<strong>os</strong>sível m<strong>os</strong>trar, de forma análoga ao feito para a<<strong>br</strong> />
parábola no artigo anterior a este, que o raio refletido passará pelo outro<<strong>br</strong> />
foco F. O leitor interessado pode encontrar a demonstração dessa<<strong>br</strong> />
propriedade, por exemplo, no número 34 da RPM. Vam<strong>os</strong> ver uma de<<strong>br</strong> />
suas aplicações na construção de telescópi<strong>os</strong>.<<strong>br</strong> />
Telescópi<strong>os</strong> refletores<<strong>br</strong> />
Galileu Galilei (1564-1642) foi o primeiro cientista a construir um<<strong>br</strong> />
telescópio para observação astronômica. Isso se deu em 1609 e resultou<<strong>br</strong> />
em notáveis descobertas: Galileu viu montanhas e acidentes geográfic<strong>os</strong><<strong>br</strong> />
na superfície lunar, observou que Vênus passa por<<strong>br</strong> />
fases como a Lua, notou que Saturno tem um formato<<strong>br</strong> />
alongado (devido a seus anéis), e que Júpiter p<strong>os</strong>sui<<strong>br</strong> />
satélites girando a sua volta. Em pouco tempo Galileu<<strong>br</strong> />
revolucionou a Astronomia.<<strong>br</strong> />
Os primeir<strong>os</strong> telescópi<strong>os</strong>, inclusive o de Galileu,<<strong>br</strong> />
foram construíd<strong>os</strong> com lentes e funcionavam com base<<strong>br</strong> />
na refração da luz. São <strong>os</strong> chamad<strong>os</strong> telescópi<strong>os</strong><<strong>br</strong> />
refratores.<<strong>br</strong> />
Acontece que as lentes têm vári<strong>os</strong> inconvenientes,<<strong>br</strong> />
como as deformações das imagens que elas produzem,<<strong>br</strong> />
fenômeno que pode ser facilmente observado com<<strong>br</strong> />
Galileu Galilei<<strong>br</strong> />
qualquer lente de grau de ócul<strong>os</strong> comuns; basta olhar<<strong>br</strong> />
através da lente e movê-la transversalmente para um<<strong>br</strong> />
lado e para o outro, ou em círcul<strong>os</strong>, para notar essas deformações.<<strong>br</strong> />
Além disso, a lente também atua como um prisma, decompondo a luz<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>anca em várias cores, produzindo outro tipo de efeito indesejável nas<<strong>br</strong> />
observações, as chamadas aberrações cromáticas.<<strong>br</strong> />
Esses inconvenientes d<strong>os</strong> telescópi<strong>os</strong> refratores não existem n<strong>os</strong><<strong>br</strong> />
telescópi<strong>os</strong> refletores. O telescópio refletor nada mais é do que um espelho<<strong>br</strong> />
parabólico no fundo de um tubo, como ilustra a Figura 1. Os rai<strong>os</strong><<strong>br</strong> />
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provenientes de um corpo celeste distante (estrela, galáxia, planeta, etc.)<<strong>br</strong> />
formam um feixe praticamente paralelo, que se reflete no espelho e vai<<strong>br</strong> />
formar a imagem do objeto no foco F.<<strong>br</strong> />
O problema agora é que, para observar essa imagem, o observador<<strong>br</strong> />
teria de estar com seu olho p<strong>os</strong>icionado no foco da parábola, mas isso é<<strong>br</strong> />
imp<strong>os</strong>sível na prática.<<strong>br</strong> />
Isaac Newton (1642-1727) resolveu esse problema em seu telescópio<<strong>br</strong> />
refletor, colocando um espelho plano E entre o espelho parabólico e o<<strong>br</strong> />
foco F (Figura 1). Com isso, <strong>os</strong> rai<strong>os</strong> que iriam formar a imagem em F<<strong>br</strong> />
são novamente refletid<strong>os</strong> e vão formar essa imagem num ponto fora do<<strong>br</strong> />
tubo do telescópio, onde se p<strong>os</strong>iciona o observador.<<strong>br</strong> />
Figura 1<<strong>br</strong> />
Figura 2<<strong>br</strong> />
Em 1672 o astrônomo francês Cassegrain propôs a utilização de um<<strong>br</strong> />
espelho hiperbólico E, como ilustra a Figura 2, em lugar do espelho<<strong>br</strong> />
plano de Newton. Um d<strong>os</strong> foc<strong>os</strong> da <strong>hipérbole</strong> coincide com o foco F da<<strong>br</strong> />
parábola.<<strong>br</strong> />
Agora <strong>os</strong> rai<strong>os</strong> que iriam formar a imagem no foco F são refletid<strong>os</strong><<strong>br</strong> />
pelo espelho E e formarão essa imagem no outro foco da <strong>hipérbole</strong>.<<strong>br</strong> />
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Para compreender a vantagem desse espelho hiperbólico de Cassegrain<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o espelho plano de Newton, devem<strong>os</strong> observar que o espelho plano<<strong>br</strong> />
não pode ficar muito próximo do foco F, sob pena de o ponto da<<strong>br</strong> />
Figura 1 ficar dentro do telescópio; em conseqüência, o espelho plano<<strong>br</strong> />
precisa ser de razoável tamanho, o que resulta num bloqueio significativo<<strong>br</strong> />
da luz incidente no espelho parabólico que forma a parte principal do<<strong>br</strong> />
telescópio.<<strong>br</strong> />
O espelho de Cassegrain, pelo contrário, pode ser construído mais<<strong>br</strong> />
próximo ou mais afastado do foco F, mantendo-se fixa a distância FF’<<strong>br</strong> />
entre <strong>os</strong> foc<strong>os</strong> da <strong>hipérbole</strong>; em conseqüência, o tamanho desse espelho<<strong>br</strong> />
pode ser maior ou menor. A distância entre <strong>os</strong> foc<strong>os</strong> F e F’ também<<strong>br</strong> />
pode ser alterada para mais ou para men<strong>os</strong>, sem mudar a p<strong>os</strong>ição do foco<<strong>br</strong> />
F. A combinação desses fatores permite grande flexibilidade na montagem<<strong>br</strong> />
do refletor hiperbólico E, adequando-a, assim, às exigências das<<strong>br</strong> />
observações.<<strong>br</strong> />
Essas montagens de Cassegrain somente começaram a ser utilizadas<<strong>br</strong> />
n<strong>os</strong> telescópi<strong>os</strong> cerca de um século após terem sido prop<strong>os</strong>tas. Desde<<strong>br</strong> />
então passaram a ser largamente usadas, e hoje em dia estão presentes<<strong>br</strong> />
não apenas n<strong>os</strong> telescópi<strong>os</strong> ótic<strong>os</strong>, mas também n<strong>os</strong> radiotelescópi<strong>os</strong>.<<strong>br</strong> />
O fam<strong>os</strong>o telescópio ótico do observatório de Monte Palomar, que<<strong>br</strong> />
fica 80 km a nordeste de San Diego, na Califórnia, utiliza várias montagens<<strong>br</strong> />
do tipo de Cassegrain.<<strong>br</strong> />
As PARÁBOLAS falam...<<strong>br</strong> />
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