plantas nativas e exóticas na paisagem urbana da cidade do rio de ...

PLANTAS NATIVAS E EXÓTICAS NA PAISAGEM URBANA DA CIDADE
DO RIO DE JANEIRO, BRASIL
Adilson R. Santos 1 , Helena Godoy Bergallo 2 & Carlos Frederico D. Rocha 2 .
INTRODUÇÃO
As espécies invasoras ocorrem em todos grandes grupos taxonômicos. Talvez mais
de 10% das 300.000 plantas vasculares do mundo, têm o potencial de invadir
outros ecossistemas e afetar a biota nativa de forma direta ou indireta (Rejmánek
et al., 2000). As espécies invasoras podem transformar a estrutura e a composição
de ecossistemas por reprimir ou excluir espécies nativas, tanto diretamente por
competição por recursos, quanto indiretamente por mudanças no caminho dos
nutrientes que são ciclados através do sistema, muitas vezes aumentando a
erosão, o fogo e as enchentes (Mack & Occhipinti, 1999).
À época da colonização, diversas espécies de plantas ornamentais foram
introduzidas em distintas partes do mundo, com o intuito de tornar familiar a nova
paisagem para os colonizadores europeus. No Brasil, a gramínea africana Brachiaria
domina o estrato herbáceo em reservas do Cerrado, tornando um problema para a
sustentabilidade de espécies arbóreas nativas devido à competição com plântulas
(Pivello et al., 1999). Contudo, não somente plantas ornamentais e gramíneas, mas
as árvores também têm sido introduzidas para a silvicultura, para o controle de
erosão ou para o paisagismo. Com o passar do tempo e com a crescente
disseminação, o potencial de espécies lenhosas invasoras, como pinheiros,
eucaliptos e leguminosas tornou-se visível.
Na tradição paisagística brasileira que iniciou ao final do século XVIII, duas
principais influências européias – francesa e inglesa - confluíram no sentido de
fornecer o repertório de elementos na composição de nossos jardins e da
arborização urbana. Durante o período de Auguste Glaziou, paisagista de muitos
projetos de jardins públicos no Brasil, iniciou-se o processo mais intenso de plantio
urbano, com as influências acima apontadas. Porém, com Burle Marx esse quadro
se alterou, surgindo então uma arquitetura paisagística que poderia se considerar
de identidade brasileira, embora ainda fosse encontrada utilização maciça de
vegetação exótica e que dominam até hoje o paisagismo urbano brasileiro.
Recentemente, o município do Rio de Janeiro iniciou a utilização de espécies nativas
no tratamento paisagístico dos logradouros da cidade. Porém a abundância de
espécies exóticas e nativas na paisagem urbana do município do Rio de Janeiro não
é ainda conhecido. Nesse estudo, nós analisamos a composição e freqüência das
plantas nativas e exóticas no município do Rio de Janeiro.
METODOLOGIA
Analisamos a composição e freqüência das plantas nativas e exóticas, com base na
análise de freqüências em cada bairro (N=159) da cidade. Amostramos 10% das
ruas existentes (N=1701) na cidade do Rio de Janeiro. Em cada rua amostrada
foram realizados três transectos de 100 m de extensão, alternadamente. Em cada
1. Diretoria de Projetos da Fundação Parques e Jardins, Praça da República s.no., Campo de
Santana, 20211-350, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. E-mail: arsantos@rio.rj.gov.br
2. Departamento de Ecologia, IBRAG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São
Francisco Xavier 524, 200559-900, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. E-mail: bergallo@uerj.br,
cfdrocha@uerj.br

transecto registramos as espécies arbóreas e arbustivas presentes, bem como suas
respectivas abundãncias.
RESULTADOS
Como resultado deste levantamento, encontramos 3310 indivíduos arbóreos de 60
espécies, das quais 33,3 % eram nativas e 66,7% eram exóticas (Tabela 1). A
espécie dominante foi a exótica amendoeira (Terminalia catappa) com 30,1% de
indivíduos amostrados, seguida do oiti (Licania tomentosa) com 13,2%. Entre as
nativas, o ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa) e a sibipiruna (Caesalpinia
pelthoporoides) foram as dominantes com, respectivamente, 6,5% e 1,5% de todos
os indivíduos amostrados (Figura 1).
DISCUSSÃO
Os dados indicam que o paisagismo urbano do Rio de Janeiro é fortemente
dominado por plantas exóticas e, muitas delas são reconhecidamente invasoras em
outras áreas. O caso mais emblemático é o da jaqueira (Artocarpus heterophylla)
na Floresta da Tijuca, que está dominando a paisagem, inclusive das florestas
urbanas do município. Para evitar que outras espécies possam vir a se tornar
invasoras em áreas florestadas da cidade, é fundamental que sejam adotadas
políticas públicas não apenas de plantio, mas também, no longo prazo, de substituir
as espécies exóticas por nativas. Contudo, o provimento de mudas de espécies
nativas apenas para resolver o déficit de árvores da cidade, é muito além do que os
hortos municipais produzem. Adicionalmente, tem-se o agravante da perda de
variabilidade pela utilização de indivíduos provenientes de uma mesma matriz.
Assim, as sementes de uma determinada espécie, devem ser provenientes de
matrizes diferentes para se evitar os problemas decorrentes da perda de variação
genética. Tal perda de variação genética em árvores utilizadas no paisagismo do
município tem sido observada e, seus resultados são visíveis, por exemplo, no
sombreiro (Clitoria fairchildiana) e no ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa), espécies as
quais quase todos os indivíduos da cidade estão doentes.
As espécies utilizadas na paisagem urbana são fontes de propágulos para áreas
florestadas existentes no município. Por isso, a relevância de se proceder a uma
mudança do atual quadro de dominância das plantas exóticas para um modelo
essencialmente de espécies nativas no município Rio de Janeiro, é fundamental.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Fundação Parques e Jardins da Prefeitura do Município do Rio de
Janeiro pelo apoio logístico e ao CNPq pelo suporte através dos auxílios e bolsas de
produtividade em pesquisa (Processos nos. 462003/00-0 para HGB e 307653/2003-
0 e 477981/2003-8 para CFDR).
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Santana, 20211-350, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. E-mail: arsantos@rio.rj.gov.br
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REFERÊNCIAS
Mack, R.N. & Occhipinti, 1999. Assessing the extent, status and dynamism of plant
invasions: current and emerging approaches. In: H.A. Mooney and H.A. Hobbs
(eds). Invasive species in a changing world. Island Press, Washington D.C.
Pivello, V.R.; Shilda, C.N. & Meireles, S.T. 1999. Alien grasses in Brazilian
savannas: a threat to the biodiversity and conservation. Biodiversity and
Conservation, 8: 1281-1294.
Rejmánek, M.; Richardson, D.M.; Higgins, S.I.& Piccairn, M. 2000. Ecology of
invasive plants: State of the art. In: J.A. MacNeely; Great Reshuffling: Human
Dimensions of Invasive Alien Species, IUCN.
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Santana, 20211-350, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. E-mail: arsantos@rio.rj.gov.br
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Tabela 1 – Freqüência das espécies arbóreas e arbustivas encontradas na
arborização da cidade do Rio de Janeiro. Consideramos espécies nativas, apenas
aquelas com ocorrência na Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro.
Espécies Família Frequência Abreviatura
NATIVAS
Tabebuia impetiginosa Bignoniaceae 215 Timp
Caesalpinia peltophoroides Leguminosae 51 Cape
Tabebuia chrysotricha Bignoniaceae 48 Tach
Schinus terebinthifolia Anacardiaceae 40 Ster
Caesalpinia ferrea Leguminosae 34 Cafe
Tabebuia avellanedae Bignoniaceae 23 Tave
Lafoensia glyptocarpa Lythraceae 20 Lgli
Hybiscus pernambucensis Malvaceae 10 Hype
Syagrus romanzoffiana Palmae 9 Arom
Ptecolobium tortum Leguminosae 7 Ptor
Peltophorum dubium Leguminosae 6 Pdub
Tabebuia granulosa Bignoniaceae 6 Tgra
Chorisia speciosa Bombacaceae 5 Cspe
Caesalpinia echinata Leguminosae 4 Cech
Bauhinia forficata Leguminosae 4 Bfor
Eugenia uniflora Myrtaceae 4 Euun
Tabebuia roseo-alba Bignoniaceae 3 Tral
Ficus tomentela Moraceae 2 Ftom
Lecythis pisonis Lecythidaceae 2 Lepi
Erythrina velutina Leguminosae 1 Evel
EXÓTICAS
Terminalia catappa Combretaceae 996 Teca
Licania tomentosa Chrysobalanaceae 438 Ltom
Pachira aquatica Bombacaceae 250 Paqu
Senna siamea Leguminosae 232 Acsi
Delonix regia Leguminosae 159 Dreg
Bauhinia blackiana Leguminosae 139 Bbla
Ficus benjamina Moraceae 138 Fiben
Clitoria fairchildiana Leguminosae 44 Cfai
Albizia lebeck Leguminosae 42 Aleb
Hibiscus tiliaceus Malvaceae 41 Htil
Lingustrum japonico Oleaceae 38 Ljap
Ficus microcarpa Moraceae 34 Fmic
Casuarina equisetifolia Casuarinaceae 34 Caeq
Cassia grandis Leguminosa 28 Cgra
Mangifera indica Anacardiaceae 26 Mind
Tecoma stan Bignoniaceae 22 Tsta
Ficus lyrata Moraceae 16 Flyr
Triplares caracasana Polygonaceae 15 Tcar
Spatodea sp Bignoniaceae 15 Spat
Plumeria rubra Apocynaceae 12 Prub
Syzygium cumini Myrtaceae 11 Sycu
Leocaena leococephala Leguminosae 11 Lele
Ficus elastica Moraceae 9 Fela
Psidium guajava Myrtaceae 8 Pgua
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Diphis lutescens Palmae 7 Dlut
Senna javanica Leguminosae 6 Sjav
Tamarindus indica Leguminosae 6 Tain
Sterculea faetida Sterculeaceae 5 Sfae
Ficus uvipara Moraceae 5 Fiuv
Artocarpus heterophylla Moraceae 4 Arhe
Plumeria alba Apocynaceae 4 Palb
Morus sp Moraceae 4 Amor
Persea gratissima Lauraceae 4 Pgra
Tibouchina sp Melastomatacea 3 Tibo
Sheflera brassaia Araliaceae 3 Sbra
Camelia japonica Lilicaceae 2 Caja
Cassia mangium Leguminosae 2 Cama
Anadenanthera pavoniana Leguminosae 1 Apav
Ficus retusa Moraceae 1 Fire
Cassia fistula Leguminosae 1 Cafi
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A B U N D A N C IA
A B U N D A N C IA
1000
800
600
400
200
0
1000
800
600
400
200
0
T eca
Ltom
P aquA csi
D reg
B bla
F ben C fai
A le bH til
Ljap
C aeq
F m ic
C gra
M ind
T staF lyr
Tcar
S pat
P rub
S ycuLe le
F ela
P guaD lut
T im p
C ape
T ach
S ter
C afe
T ave
Lgli
H ype
A rom
T ainC javF iuv
S fae
P alb
A rhe
A m or
P graT ibo
S bra
C aja
C am a F ire
A pavC afi
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P tor
ESPÉCIES
Exóticas
Nativas
P dub
T gra
C spe
B for
E uun
C ech
T ral
F tom
Lepi
E vel
Figura 1 – Abundância de espécies nativas e exóticas no município
do Rio de Janeiro, RJ.