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1. AS NOVAS RELAÇÕES CIDADE X CAMPO A ... - Instituto Qualific

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asileiro. A entrada de imigrantes livres nesse período foi muito<br />

pequena e restrita às cidades.<br />

Em 1850, com o surgimento da área cultivada com o café<br />

e a Lei Eusébio de Queirós, esse quadro sofreu profundas<br />

mudanças. Dada a proibição do tráfico negreiro, a mão-de-obra<br />

que entrava no Brasil para trabalhar nas lavouras era constituída<br />

por imigrantes livres europeus, atraídos pelo governo brasileiro.<br />

Se esses imigrantes encontrassem um regime de posse em terras<br />

devolutas, cercariam um pedaço de terra para produzir alimentos<br />

de forma independente. Se a posse continuasse livre, eles se<br />

instalariam ao redor das cidades, em vez de trabalhar como<br />

assalariados semi-escravos nas lavouras de café.<br />

Com o claro intuito de fornecer mão-de-obra barata aos<br />

latifúndios, o governo impediu o acesso dos imigrantes à<br />

propriedade através da criação em 1850, da Lei de Terras, ou seja,<br />

todas as terras devolutas tornaram-se propriedade do Estado, que<br />

somente poderia vendê-las através de leilões, beneficiando quem<br />

tinha dinheiro, e não o imigrante. Assim, o dinheiro arrecadado<br />

nos leilões deveria ser usado no financiamento da viagem de<br />

novos imigrantes que se dispusessem a vir trabalhar no Brasil e<br />

obrigados a se dirigir às fazendas, praticamente, o único lugar<br />

onde se podia encontrar emprego. Nessa época, a posse da terra, e<br />

não de escravos, era considerada reserva de valor e símbolo de<br />

poder.<br />

Nesse período iniciou-se no Brasil a “escravidão por<br />

dívida”, que antigamente vitimava os imigrantes estrangeiros e<br />

atualmente vitima a população de baixa renda ou desempregada da<br />

periferia das grandes cidades, além dos próprios trabalhadores<br />

rurais. Os “gatos” (pessoas que contratam mão-de-obra para as<br />

fazendas) aliciam pessoas desempregadas para trabalhar nos<br />

latifúndios prometendo-lhes transporte, moradia, alimentação e<br />

salário. Ao entrar na fazenda, porém, os trabalhadores recrutados<br />

percebem que foram enganados, já que no dia em que deveriam<br />

receber o salário são informados de que todas as despesas com<br />

transporte, moradia e alimentação, serão cobradas e descontadas<br />

do salário, que nunca é suficiente para a quitação da dívida.<br />

Policiados por capangas fortemente armados, esses trabalhadores<br />

são proibidos de sair da fazenda enquanto não pagarem uma<br />

dívida impossível de ser quitada com seu salário.<br />

No início da década de 30, em consequência da crise<br />

econômica mundial (voltada para a exportação) que se iniciou<br />

com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, a<br />

economia brasileira (agroexportadora), entrou em crise. A região<br />

Sudeste (cafeicultura) enfrentou o maior colapso, assim como a<br />

região Nordeste (açúcar e cacau), e a região Sul (mercado interno).<br />

Outro desdobramento da crise foi um maior incentivo à<br />

policultura, voltada para o abastecimento interno, e uma<br />

significativa fragmentação das grandes propriedades, cujos donos<br />

venderam suas terras para se dedicar a atividades econômicas<br />

urbanas (indústria e comércio).<br />

Em 1964, o presidente João Goulart tentou desviar o papel<br />

do Estado brasileiro do setor produtivo (investimentos<br />

governamentais em energia, transportes, etc.) para o setor social<br />

(educação, saúde, habilitação, etc.); pretendia promover a reforma<br />

agrária e distribuir terras à população rural de baixa renda. Em<br />

oposição, houve intervenção militar e a implantação da ditadura.<br />

Ganhou incentivo o grande capital agrícola (sistema de<br />

plantation). A concentração de terras ao longo da ditadura militar<br />

(1964-1985) assumiu proporções assustadoras e o consequente<br />

êxodo rural em direção às grandes cidades deteriorou a qualidade<br />

de vida de imensas parcelas da população, tanto rural quanto<br />

urbana. A partir da década de 70, foi incentivada a ocupação<br />

territorial das regiões Centro-Oeste e Norte, através da expansão<br />

das fronteiras agrícolas, assentadas em enormes latifúndios<br />

pecuaristas ou monocultores.<br />

4.3. O estatuto da terra e a estrutura fundiária<br />

É um conjunto de leis criado em novembro de 1964 para<br />

possibilitar a realização de um censo agropecuário, que procurava<br />

estabelecer uma política de reforma agrária em áreas de conflito,<br />

com o intuito de abafar focos de pressão popular. Os imóveis<br />

rurais foram classificados por categorias e as pessoas classificadas<br />

por idade, sexo, etnia e renda.<br />

Para sanar alguns problemas geográficos, foi criada uma<br />

unidade de medida de imóveis rurais – o módulo rural<br />

(propriedade que deve proporcionar condições dignas de vida a<br />

uma família de quatro pessoas adultas, levando em consideração<br />

três fatores, que ao aumentar o rendimento da produção e facilitar<br />

a comercialização, diminuem a área do módulo:<br />

Localização da propriedade: imóvel rural localizado<br />

próximo a um grande centro urbano, proporciona<br />

rendimentos maiores que um imóvel mal localizado, e<br />

portanto, terá uma área menor.<br />

Fertilidade do solo e clima da região: quanto mais<br />

propícias as condições naturais da região, menor a área do<br />

módulo.<br />

Tipo de produto cultivado: em uma região do país onde se<br />

cultiva mandioca, e se utilizam técnicas primitivas, o<br />

módulo rural deve ser maior que em uma região que produz<br />

morango com emprego de tecnologia moderna.<br />

Depois de acertada a unidade de medida, foram criadas as<br />

categorias de móveis rurais:<br />

Minifúndio: responsáveis pelo abastecimento do mercado<br />

interno de consumo (produção obtida em pequenos volumes,<br />

inviabilizando economicamente a exportação);<br />

Latifúndio por dimensão: são as enormes propriedades<br />

agroindustriais, com produção quase sempre voltada à<br />

exportação;<br />

Latifúndio por exploração: tratam-se dos imóveis rurais<br />

improdutivos voltados à especulação imobiliária.<br />

Empresa rural: são as médias propriedades, geralmente com<br />

produção de matéria-prima para abastecer a agroindústria da<br />

laranja, da cana, etc.<br />

É comum os grandes proprietários, classificados na<br />

categoria de latifúndio por dimensão, parcelarem a propriedade da<br />

terra entre familiares para serem classificados como empresários<br />

rurais e, assim, pagarem imposto menor.<br />

No Brasil, ocorre a grande concentração de terras em mãos<br />

de alguns poucos proprietários, enquanto a maioria dos produtores<br />

rurais detém uma parcela muito pequena da área agrícola. Há<br />

ainda muitos trabalhadores rurais sem terra. 32% da área agrícola<br />

nacional é constituída por latifúndios por exploração, ou seja, de<br />

terra parada, improdutiva, voltada à especulação imobiliária.<br />

Quando o preço da terra é elevado, impede-se que muitas<br />

pessoas tenham acesso a ela, mesmo através de compra. A<br />

elevação especulativa do preço dos imóveis rurais perpetua o<br />

domínio dos latifúndios e diminui a oferta de alimentos no<br />

mercado interno.<br />

Reforma agrária – uma luta de todos<br />

O Brasil é o segundo país do mundo com maior índice de<br />

concentração de terras. Existem pouco mais de dois mil<br />

latifúndios que ocupam uma área de cinquenta e seis milhões de<br />

hectares, fato que corresponde a duas vezes e meia a área do<br />

território do Estado de S. Paulo.<br />

A concentração da propriedade da terra é um dos grandes<br />

problemas para o desenvolvimento social, político e econômico do<br />

nosso país.<br />

A realização da reforma agrária é urgente para<br />

solucionar os problemas de milhões de famílias de trabalhadores<br />

rurais, sem –terra, posseiros, bóias-frias, etc.<br />

Os trabalhadores organizados derrubam as cercas dos<br />

latifúndios, ocupando a terra. É uma forma de pressionar o<br />

governo a desapropriar as terras ocupadas e realizar os<br />

assentamentos para que as famílias possam trabalhar<br />

dignamente.

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