1. AS NOVAS RELAÇÕES CIDADE X CAMPO A ... - Instituto Qualific
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<strong>1.</strong> <strong>AS</strong> NOV<strong>AS</strong> <strong>RELAÇÕES</strong> <strong>CIDADE</strong> X <strong>CAMPO</strong><br />
A produção agrícola é obtida em condições muito<br />
heterogêneas no mundo. Das diversas formas de relação entre o<br />
homem e o meio geográfico, a vida rural, e mesmo a vida da<br />
população urbana que trabalha em atividades agrícolas, é a mais<br />
diversificada.<br />
Os países desenvolvidos e industrializados intensificaram<br />
a produção agrícola por meio da modernização das técnicas<br />
empregadas, utilizando cada vez menos mão-de-obra. Nos países<br />
subdesenvolvidos, foram principalmente as regiões agrícolas que<br />
abastecem o mercado externo que passaram por semelhante<br />
processo de modernização das técnicas de cultivo e colheita. Em<br />
contrapartida, houve o êxodo rural acelerado, que promoveu o<br />
drástico empobrecimento dos trabalhadores agrícolas,<br />
concentrados na periferia das grandes cidades. Por outro lado,<br />
todas as regiões em que se utilizam métodos tradicionais de<br />
produção – principalmente os países pobres do Sudeste Asiático e<br />
maioria dos países africanos – buscam ainda meios de associar um<br />
modo de vida rural extremamente rudimentar às incertezas<br />
biogeográficas e climáticas, na tentativa de evitar o flagelo da<br />
fome e as diversidades da emigração.<br />
O planeta apresenta países e regiões onde os progressos<br />
técnicos nos sistemas de transporte e comunicação estão<br />
plenamente materializados em redes ou sistemas de transportes de<br />
pessoas, mercadorias e informações que lhes permitem partir para<br />
uma política agrícola e industrial de especialização produtiva.<br />
Regiões ricas e modernizadas produzem maiores taxas de lucro.<br />
Buscam em outras regiões o que não produzem internamente. Essa<br />
realidade intensificou o comércio em escala mundial. Por outro<br />
lado, as regiões pobres e tecnicamente atrasadas se vêem<br />
obrigadas a consumir basicamente o que produzem e são muito<br />
mais sensíveis aos rigores impostos pelas condições naturais, nem<br />
sempre favoráveis à produção agrícola. A consequência imediata<br />
dessa situação é a fome.<br />
Nos países em que predomina o trabalho agrícola,<br />
utilizando mão-de-obra urbana e rural, o papel do Estado na<br />
regulamentação das relações de trabalho, do acesso à propriedade<br />
da terra e da política de produção, financiamento e subsídios<br />
agrícolas assume importância fundamental no combate à fome.<br />
As políticas modernas de reforma agrária visam à<br />
integração dos trabalhadores agrícolas e dos pequenos e médios<br />
proprietários nas modernas técnicas de produção, e não apenas<br />
distribuir terras aos camponeses e abandoná-los à concorrência<br />
com produtores rurais altamente capitalizados, sejam eles do<br />
próprio país ou do exterior. A reforma agrária não é mais<br />
sinônimo de apropriação ou estatização das propriedades rurais<br />
para distribuí-las aos camponeses. Mais que isso, principalmente<br />
em países subdesenvolvidos, trata-se de reformar a estrutura<br />
fundiária e as relações de trabalho, buscando o estabelecimento de<br />
prioridades na produção. Em primeiro plano, visa ao<br />
abastecimento do mercado interno de consumo. As outras metas<br />
são o abastecimento de matérias-primas às indústrias<br />
(alimentícias, têxteis, farmacêuticas, cosméticas, etc.), o aumento<br />
do ingresso de capital através das exportações e a criação de uma<br />
legislação que impeça a especulação sobre a propriedade da terra.<br />
Atualmente, observa-se a tendência à grande penetração<br />
do capita agroindustrial no campo, tanto nos setores voltados ao<br />
mercado externo quanto ao mercado interno. Assim, a produção<br />
agrícola tradicional tende a se especializar, não para concorrer<br />
com o mais forte, mas para produzir a matéria-prima utilizada pela<br />
agroindústria. Dependendo da ação do Estado como agente<br />
regulador, essa penetração pode levar à democratização<br />
econômica ou à deterioração das condições de vida da população<br />
local, seja ela rural ou urbana.<br />
Foi-se o tempo em que a economia rural comandava as<br />
atividades urbanas. Atualmente, o que se verifica, em escala<br />
planetária, é a subordinação do campo à cidade, uma dependência<br />
cada vez maior das atividades agrícolas às máquinas, insumos,<br />
agrotóxicos e tecnologia, fatores concebidos e produzidos nas<br />
cidades industriais.<br />
Vamos agora estudar os diversos sistemas que compõem o<br />
mosaico internacional de produção agrícola.<br />
<strong>1.</strong><strong>1.</strong> Os sistemas agrícolas<br />
Os sistemas agrícolas e a produção pecuária podem ser<br />
classificados como intensivos ou extensivos. Essa noção está<br />
ligada ao grau de capitalização e ao índice de produtividade,<br />
independentemente do tamanho da área cultivada ou de criação.<br />
As propriedades que, através da utilização de modernas técnicas<br />
de preparo do solo, cultivo e colheita, apresentam elevados índices<br />
de produtividade e conseguem explorar a terra por um longo<br />
período de tempo, praticam agricultura intensiva. Já as<br />
propriedades que se utilizam da agricultura tradicional – aplicação<br />
de técnicas rudimentares, apresentando baixo índice de exploração<br />
da terra e obtendo, assim, baixos índices de produtividade –<br />
praticam agricultura extensiva.<br />
Na pecuária, por exemplo, o rendimento é avaliado pelo<br />
número de cabeças por hectare. Quanto maior a densidade de<br />
cabeças, independentemente de o gado estar solto ou confinado,<br />
maior é a necessidade de ração, de pastos cultivados e de<br />
assistência veterinária. Com tudo isso, há um aumento da<br />
produtividade e do rendimento, que são características da pecuária<br />
extensiva. Quando o gado se alimenta apenas em pastos naturais, a<br />
pecuária é considerada extensiva e geralmente apresenta baixa<br />
produtividade.<br />
<strong>1.</strong>2. A agricultura itinerante de subsistência e a roça<br />
São sistemas agrícolas largamente aplicados em regiões<br />
onde a agricultura é descapitalizada. A produção é obtida em<br />
pequenas e médias propriedades ou parcelas de grandes latifúndios<br />
(nesse caso, parte da produção é entregue ao proprietário como<br />
forma de pagar o aluguel da terra), com utilização de mão-de-obra<br />
familiar e técnicas tradicionais e rudimentares. Por falta de<br />
assistência técnica e de recursos, não há preocupação com a<br />
conservação do solo, as sementes utilizadas são de qualidade<br />
inferior, não se investe em fertilizantes e, portanto, a rentabilidade,<br />
a produção e a produtividade são baixas. Após alguns anos de<br />
cultivo, há uma diminuição da fertilidade natural do solo,<br />
geralmente exposto à erosão. Ao perceber que o rendimento da<br />
terra está diminuindo, a família desmata uma área próxima e<br />
pratica a queimada para acelerar o plantio, dando início à<br />
degradação acelerada de uma nova área, que também será<br />
brevemente abandonada. Daí o nome de agricultura itinerante.<br />
Em regiões miseráveis do planeta, a agricultura de<br />
subsistência – itinerante e roça – está voltada às necessidades<br />
imediatas de consumo alimentar dos próprios agricultores. A<br />
produção destina-se à subsistência da família do agricultor, que se<br />
alimenta praticamente apenas daquilo que planta. Tal realidade<br />
ainda existe em boa parte dos países africanos, em regiões do Sul<br />
e Sudeste Asiático e na América Latina, mas o que prevalece hoje<br />
é uma agricultura de subsistência voltada ao comércio urbano.<br />
O agricultor e sua família cultivam produto que será<br />
vendido na cidade mais próxima, mas o dinheiro que recebem é<br />
suficiente apenas para garantir a subsistência deles. Não há<br />
excedente de capital que lhes permita buscar uma melhoria nas<br />
técnicas de cultivo e aumento de produtividade.
Esse tipo de agricultura é comum em áreas distantes dos<br />
grandes centros urbanos onde a terra é mais barata, em função das<br />
grandes dificuldades de comercialização da produção. Nesse<br />
sistema, predominam as pequenas propriedades, cultivadas em<br />
parceria. Há também os posseiros, agricultores que simplesmente<br />
ocupam terras devolutas.<br />
<strong>1.</strong>3. A agricultura de jardinagem<br />
Essa expressão se originou no Sul e Sudeste da Ásia, onde<br />
há uma enorme produção de arroz em planícies inundáveis, com<br />
utilização intensiva de mão-de-obra. Tal como a agricultura de<br />
subsistência, esse sistema é praticado em pequenas e médias<br />
propriedades cultivadas pelo dono da terra e sua família ou em<br />
parcelas de grandes propriedades. A diferença é que nelas se<br />
obtém alta produtividade, através do selecionamento de sementes,<br />
da utilização de fertilizantes, da aplicação de avanços<br />
biotecnológicos e de técnicas de preservação do solo que<br />
permitem a fixação da família na propriedade por tempo<br />
indeterminado. Não há a necessidade de ela se deslocar para outra<br />
área.<br />
Em países como as Filipinas, a Tailândia, a Indonésia, etc.,<br />
devido à elevada densidade demográfica, as famílias contam com<br />
áreas muitas vezes inferiores a um hectare e as condições de vida<br />
são bastante precárias.<br />
Em países que realizaram reforma agrária – Japão e<br />
Taiwan – e ao redor dos grandes centros urbanos de áreas<br />
tropicais, após a comercialização da produção e a realização de<br />
investimentos para a nova safra, há um excedente de capital que<br />
permite melhorar, a cada ano, as condições de trabalho e de<br />
qualidade de vida da família.<br />
Na China, desde que foram extintas as comunas populares,<br />
após a morte de Mao Tse-tung, em 1976, houve significativo<br />
aumento da produtividade. A produção é predominantemente<br />
obtida em propriedades muito pequenas e em condições de<br />
trabalho em geram ainda precárias. Devido ao excedente<br />
populacional, a modernização da produção agrícola foi substituída<br />
pela utilização de enormes contingentes de mão-de-obra. No<br />
entanto, em algumas províncias litorâneas está havendo um<br />
processo de modernização, impulsionado pela expansão de<br />
propriedades particulares e da capitalização proporcionada pela<br />
abertura econômica a partir de 1978. Sua produção voltada para<br />
abastecer o mercado interno.<br />
<strong>1.</strong>4. Empresas agrícolas<br />
São responsáveis pelo desenvolvimento do sistema<br />
agrícola dos países desenvolvidos, com destaque para os EUA e a<br />
União Européia. A produção é obtida em médias e grandes<br />
propriedades capitalizadas, onde se atingiu o máximo de<br />
desenvolvimento tecnológico. A produtividade é muito alta<br />
(sementes selecionadas, uso de fertilizantes, elevado grau de<br />
mecanização no preparo do solo, no plantio e na colheita,<br />
utilização de silos de armazenagem, acompanhamento das etapas<br />
de produção, etc.)<br />
Funciona como uma empresa e sua produção é voltada não<br />
só para o mercado interno como para o externo. Na região onde há<br />
este sistema agrícola, verifica-se grande concentração de terras; os<br />
produtores não conseguem acompanhar a elevação dos níveis de<br />
produtividade e acabam por vender suas propriedades.<br />
É o sistema agrícola predominante nos EUA, Canadá,<br />
Austrália, União Européia (com exceção da região mediterrânea) e<br />
porções da Argentina e do Brasil (regiões que cultivam soja e<br />
laranja, por exemplo).<br />
Nos EUA, as grandes propriedades se organizaram em<br />
cinturões (belts), em função das características do clima e do solo.<br />
O alto nível de capitalização exigiu uma especialização produtiva<br />
em grandes propriedades.<br />
<strong>1.</strong>5. A plantation<br />
É a grande propriedade monocultora, com produção de<br />
gêneros tropicais, voltada para a exportação. Forma de exploração<br />
típica de países subdesenvolvidos, a plantation foi um sistema<br />
agrícola amplamente utilizado durante a colonização européia na<br />
América (período de expansão do capitalismo mercantilista)<br />
através da utilização da mão-de-obra escrava. Expandiu-se,<br />
posteriormente, para a África e Sul e Sudeste da Ásia.<br />
Na atualidade, esse sistema ainda persiste no mundo<br />
desenvolvido (Brasil, Colômbia, América Central, Gana, Costa do<br />
Marfim, Índia, Malásia, etc.) utilizando além da mão-de-obra<br />
assalariada, trabalho semi-escravo ou escravo, que não envolve<br />
pagamento de salário. Trabalha-se em troca de moradia e<br />
alimentação.<br />
No Brasil, encontramos plantantion em áreas onde se<br />
cultivam café e cana-de-açúcar (dois dos principais produtos<br />
agrícolas de exportação).<br />
Ao lado das plantation sempre se instalam pequenas e<br />
médias propriedades policultoras, cuja produção alimentar<br />
abastece os centros urbanos próximos.<br />
<strong>1.</strong>6. Cinturão verde e bacias leiteiras<br />
Ao redor dos grandes centros urbanos pratica-se<br />
agricultura e pecuária intensivas para atender às necessidades de<br />
consumo da população local (hortifrutigranjeiros, produção de<br />
leite e laticínios com predomínio da mão-de-obra familiar). Após a<br />
comercialização, o excedente é aplicado na modernização das<br />
técnicas.<br />
2. A AGROPECUÁRIA EM PAÍSES DESENVOLVIDOS<br />
A agricultura e a pecuária são praticadas de forma<br />
intensiva com grande utilização de agrotóxicos, fertilizantes,<br />
técnicas aprimoradas de correção e conservação dos solos,<br />
desenvolvimento e aplicação da biotecnologia e elevados índices<br />
de mecanização agrícola. Em razão disso, é pequena a utilização<br />
de mão-de-obra no setor primário da economia.<br />
Nos países desenvolvidos, além dos elevados índices de<br />
produtividade obtém-se também um enorme volume de produção<br />
que abastece o mercado interno e é responsável por grande parcela<br />
do volume de produtos agropecuários que circulam no mercado<br />
mundial.
Uma quebra de safra de qualquer produto cultivado nos<br />
Estados Unidos ou na Europa tem reflexos imediatos no comércio<br />
mundial e na cotação dos produtos agrícolas. Apesar disso, a<br />
participação do setor primário na economia desses países é<br />
reduzida.<br />
A agricultura em cifras<br />
Países Participação da<br />
agricultura no<br />
produto nacional<br />
bruto – PNB (%)<br />
Etiópia<br />
Bangladesh<br />
Índia<br />
Bolívia<br />
Brasil<br />
Uruguai<br />
Cuba<br />
Portugal<br />
Canadá<br />
França<br />
Reino Unido<br />
EUA<br />
52,0<br />
31,0<br />
28,0<br />
16,0<br />
12,8<br />
9,0<br />
7,0<br />
4,0<br />
2,9<br />
2,3<br />
2,0<br />
1,7<br />
Participação da<br />
população<br />
economicamente<br />
ativa (%)<br />
86,0<br />
61,0<br />
61,0<br />
39,0<br />
27,4<br />
14,0<br />
18,0<br />
12,0<br />
4,1<br />
4,6<br />
2,0<br />
2,8<br />
L’état du monde 1998/Calendário atlante De Agostini 1999.<br />
3. A AGROPECUÁRIA EM PAÍSES<br />
SUBDESENVOLVIDOS<br />
Nos países subdesenvolvidos, é impossível estabelecer<br />
generalizações, já que os contrastes verificados entre os membros<br />
desse bloco – o Brasil e a Etiópia, p. ex., – repetem-se também no<br />
interior dos próprios países – entre o Sudeste e o Nordeste do<br />
Brasil – e mesmo no interior das regiões desses países, onde<br />
convivem, lado a lado, modernas agroindústrias e pequenas<br />
propriedades nas quais se pratica a agricultura de subsistência.<br />
Tanto nos países subdesenvolvidos cuja base da economia<br />
é rural, como nas regiões pobres dos países subdesenvolvidos que<br />
se industrializaram, há amplo predomínio da agricultura de<br />
subsistência, que ocupa os piores solos, e do sistema de<br />
plantation, em áreas de solos melhores.<br />
O setor primário constitui a base da economia nesses<br />
países. Como se pratica uma agricultura predominantemente<br />
extensiva, o percentual da população economicamente ativa que<br />
trabalha no setor primário é sempre superior a 25%, atingindo às<br />
vezes índices espantosos, como a Etiópia, onde 77% da população<br />
ativa é agrícola.<br />
É comum vigorar uma política agrícola que priorize a<br />
produção voltada ao abastecimento do mercado externo, mais<br />
lucrativo, em detrimento das necessidades internas de consumo, já<br />
que o poder aquisitivo da população é baixo. A consequência<br />
imediata é a ocorrência da fome avassaladora, que castiga enorme<br />
parcela da população.<br />
VOCÊ PRECISA SABER<br />
1) Caracterize a agricultura e a pecuária intensivas e extensivas.<br />
2) Caracterize a subordinação do campo à cidade industrial.<br />
4. A AGRICULTURA BR<strong>AS</strong>ILEIRA<br />
4.<strong>1.</strong> A dupla face da modernização agrícola<br />
Segundo dados do IBGE, de 1996, 24,5% da População<br />
Economicamente Ativa (PEA) brasileira trabalha no setor<br />
primário, mas a agropecuária é responsável por apenas 8% do<br />
nosso produto interno bruto (PIB). Levando em conta ainda que<br />
grande parte dos trabalhadores agrícolas mora na periferia das<br />
cidades e se desloca diariamente ao campo para trabalhar como<br />
bóias-frias em modernas agroindústrias, detentoras de grande<br />
parcela do PIB agropecuário, percebemos que, apesar da<br />
modernização verificada nas técnicas agrícolas em regiões onde a<br />
agroindústria se fortaleceu, ainda persistem o subemprego, a baixa<br />
produtividade e a pobreza no campo.<br />
Quando analisamos a modernização da agricultura, é<br />
comum pensarmos apenas na modernização das técnicas –<br />
substituição de trabalhadores por máquinas, uso intensivo de<br />
insumos e desenvolvimento da biotecnologia – esquecemos de<br />
observar quais são as consequências da modernização nas relações<br />
sociais de produção e na qualidade de vida da população.<br />
Cerca de 65% da força de trabalho agrícola é encontrada<br />
em pequenas e médias propriedades, que utilizam mão-de-obra<br />
familiar. Uma família que tenha uma propriedade rural próxima a<br />
um grande centro urbano e produza alimentos de forma intensiva<br />
para serem vendidos na cidade ou forneça matéria-prima para as<br />
indústrias alimentícias, têxteis, farmacêuticas, etc., terá uma<br />
rentabilidade muito maior do que uma família que tenha a<br />
propriedade em uma área de difícil acesso e pratique agricultura<br />
extensiva.<br />
No Brasil, verificou-se, até fins dos anos 80, um enorme<br />
crescimento da área cultivada com produtos agroindustriais de<br />
exportação (soja, laranja, café e cana-de-açúcar), em detrimento<br />
de cultivos voltados ao abastecimento interno (arroz, feijão,<br />
mandioca, p. ex.).<br />
Em algumas áreas do país, sobretudo no interior de São<br />
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, houve um<br />
grande fortalecimento da produção agroindustrial e da organização<br />
sindical que melhorou a vida da população, tanto rural quanto<br />
urbana. É fácil observar que os bóias-frias e operários urbanos da<br />
região de Ribeirão Preto(SP) ou Londrina (PR) vivem melhor que<br />
os do Norte ou Nordeste. Essa regiões não acompanham o ritmo<br />
de modernização e organização sindical do Centro-Sul por razões<br />
históricas, como o amplo predomínio de latifúndios e a falta de<br />
investimentos estatais em obras de infra-estrutura.<br />
A outra faceta da modernização das técnicas é a<br />
valorização e a concentração de terras, a plena subordinação da<br />
agropecuária ao capital industrial, além da intensificação do êxodo<br />
rural em condições precárias.<br />
Nessa situação, os pequenos agricultores se vêem<br />
obrigados a recorrer a empréstimos bancários para se capitalizar e<br />
ter condições de cultivar a terra dentro dos padrões exigidos. É<br />
comum depois de acumular dívidas por alguns anos seguidos,<br />
serem obrigados a vender seu pedaço de terra, que ficou<br />
penhorado no banco quando contraiu o empréstimo, para evitar a<br />
quitação da dívida através de leilão.<br />
4.2. Histórico<br />
De 1550 a 1822, todas as terras brasileiras pertenciam à<br />
Coroa portuguesa, que doava ou cedia seu direito de uso visando à<br />
ocupação e à exploração agrícola. Durante um longo período, a<br />
Coroa portuguesa controlou a possa da terra, através da criação<br />
das capitanias hereditárias e das sesmarias (exportação de<br />
produtos cultivados no sistema de plantations, ou seja, em grandes<br />
propriedades monocultoras, escravistas e com produção voltada<br />
para a exportação).<br />
Entre 1822 (ano da Independência) e 1850, vigorou no<br />
Brasil o sistema de Posse Livre em terras devolutas. Ao longo<br />
desse período, a terra não tinha valor de troca (compra e venda),<br />
possuía apenas valor de uso a quem quisesse cultivar e vender sua<br />
produção. Surgiram neste período médias e grandes propriedades,<br />
porém ainda vigorava a escravidão, a utilização da mão-de-obra<br />
servil, e os escravos negros era prisioneiros dos latifúndios, o que<br />
os impedia de ter acesso às terras devolutas do imenso território
asileiro. A entrada de imigrantes livres nesse período foi muito<br />
pequena e restrita às cidades.<br />
Em 1850, com o surgimento da área cultivada com o café<br />
e a Lei Eusébio de Queirós, esse quadro sofreu profundas<br />
mudanças. Dada a proibição do tráfico negreiro, a mão-de-obra<br />
que entrava no Brasil para trabalhar nas lavouras era constituída<br />
por imigrantes livres europeus, atraídos pelo governo brasileiro.<br />
Se esses imigrantes encontrassem um regime de posse em terras<br />
devolutas, cercariam um pedaço de terra para produzir alimentos<br />
de forma independente. Se a posse continuasse livre, eles se<br />
instalariam ao redor das cidades, em vez de trabalhar como<br />
assalariados semi-escravos nas lavouras de café.<br />
Com o claro intuito de fornecer mão-de-obra barata aos<br />
latifúndios, o governo impediu o acesso dos imigrantes à<br />
propriedade através da criação em 1850, da Lei de Terras, ou seja,<br />
todas as terras devolutas tornaram-se propriedade do Estado, que<br />
somente poderia vendê-las através de leilões, beneficiando quem<br />
tinha dinheiro, e não o imigrante. Assim, o dinheiro arrecadado<br />
nos leilões deveria ser usado no financiamento da viagem de<br />
novos imigrantes que se dispusessem a vir trabalhar no Brasil e<br />
obrigados a se dirigir às fazendas, praticamente, o único lugar<br />
onde se podia encontrar emprego. Nessa época, a posse da terra, e<br />
não de escravos, era considerada reserva de valor e símbolo de<br />
poder.<br />
Nesse período iniciou-se no Brasil a “escravidão por<br />
dívida”, que antigamente vitimava os imigrantes estrangeiros e<br />
atualmente vitima a população de baixa renda ou desempregada da<br />
periferia das grandes cidades, além dos próprios trabalhadores<br />
rurais. Os “gatos” (pessoas que contratam mão-de-obra para as<br />
fazendas) aliciam pessoas desempregadas para trabalhar nos<br />
latifúndios prometendo-lhes transporte, moradia, alimentação e<br />
salário. Ao entrar na fazenda, porém, os trabalhadores recrutados<br />
percebem que foram enganados, já que no dia em que deveriam<br />
receber o salário são informados de que todas as despesas com<br />
transporte, moradia e alimentação, serão cobradas e descontadas<br />
do salário, que nunca é suficiente para a quitação da dívida.<br />
Policiados por capangas fortemente armados, esses trabalhadores<br />
são proibidos de sair da fazenda enquanto não pagarem uma<br />
dívida impossível de ser quitada com seu salário.<br />
No início da década de 30, em consequência da crise<br />
econômica mundial (voltada para a exportação) que se iniciou<br />
com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, a<br />
economia brasileira (agroexportadora), entrou em crise. A região<br />
Sudeste (cafeicultura) enfrentou o maior colapso, assim como a<br />
região Nordeste (açúcar e cacau), e a região Sul (mercado interno).<br />
Outro desdobramento da crise foi um maior incentivo à<br />
policultura, voltada para o abastecimento interno, e uma<br />
significativa fragmentação das grandes propriedades, cujos donos<br />
venderam suas terras para se dedicar a atividades econômicas<br />
urbanas (indústria e comércio).<br />
Em 1964, o presidente João Goulart tentou desviar o papel<br />
do Estado brasileiro do setor produtivo (investimentos<br />
governamentais em energia, transportes, etc.) para o setor social<br />
(educação, saúde, habilitação, etc.); pretendia promover a reforma<br />
agrária e distribuir terras à população rural de baixa renda. Em<br />
oposição, houve intervenção militar e a implantação da ditadura.<br />
Ganhou incentivo o grande capital agrícola (sistema de<br />
plantation). A concentração de terras ao longo da ditadura militar<br />
(1964-1985) assumiu proporções assustadoras e o consequente<br />
êxodo rural em direção às grandes cidades deteriorou a qualidade<br />
de vida de imensas parcelas da população, tanto rural quanto<br />
urbana. A partir da década de 70, foi incentivada a ocupação<br />
territorial das regiões Centro-Oeste e Norte, através da expansão<br />
das fronteiras agrícolas, assentadas em enormes latifúndios<br />
pecuaristas ou monocultores.<br />
4.3. O estatuto da terra e a estrutura fundiária<br />
É um conjunto de leis criado em novembro de 1964 para<br />
possibilitar a realização de um censo agropecuário, que procurava<br />
estabelecer uma política de reforma agrária em áreas de conflito,<br />
com o intuito de abafar focos de pressão popular. Os imóveis<br />
rurais foram classificados por categorias e as pessoas classificadas<br />
por idade, sexo, etnia e renda.<br />
Para sanar alguns problemas geográficos, foi criada uma<br />
unidade de medida de imóveis rurais – o módulo rural<br />
(propriedade que deve proporcionar condições dignas de vida a<br />
uma família de quatro pessoas adultas, levando em consideração<br />
três fatores, que ao aumentar o rendimento da produção e facilitar<br />
a comercialização, diminuem a área do módulo:<br />
Localização da propriedade: imóvel rural localizado<br />
próximo a um grande centro urbano, proporciona<br />
rendimentos maiores que um imóvel mal localizado, e<br />
portanto, terá uma área menor.<br />
Fertilidade do solo e clima da região: quanto mais<br />
propícias as condições naturais da região, menor a área do<br />
módulo.<br />
Tipo de produto cultivado: em uma região do país onde se<br />
cultiva mandioca, e se utilizam técnicas primitivas, o<br />
módulo rural deve ser maior que em uma região que produz<br />
morango com emprego de tecnologia moderna.<br />
Depois de acertada a unidade de medida, foram criadas as<br />
categorias de móveis rurais:<br />
Minifúndio: responsáveis pelo abastecimento do mercado<br />
interno de consumo (produção obtida em pequenos volumes,<br />
inviabilizando economicamente a exportação);<br />
Latifúndio por dimensão: são as enormes propriedades<br />
agroindustriais, com produção quase sempre voltada à<br />
exportação;<br />
Latifúndio por exploração: tratam-se dos imóveis rurais<br />
improdutivos voltados à especulação imobiliária.<br />
Empresa rural: são as médias propriedades, geralmente com<br />
produção de matéria-prima para abastecer a agroindústria da<br />
laranja, da cana, etc.<br />
É comum os grandes proprietários, classificados na<br />
categoria de latifúndio por dimensão, parcelarem a propriedade da<br />
terra entre familiares para serem classificados como empresários<br />
rurais e, assim, pagarem imposto menor.<br />
No Brasil, ocorre a grande concentração de terras em mãos<br />
de alguns poucos proprietários, enquanto a maioria dos produtores<br />
rurais detém uma parcela muito pequena da área agrícola. Há<br />
ainda muitos trabalhadores rurais sem terra. 32% da área agrícola<br />
nacional é constituída por latifúndios por exploração, ou seja, de<br />
terra parada, improdutiva, voltada à especulação imobiliária.<br />
Quando o preço da terra é elevado, impede-se que muitas<br />
pessoas tenham acesso a ela, mesmo através de compra. A<br />
elevação especulativa do preço dos imóveis rurais perpetua o<br />
domínio dos latifúndios e diminui a oferta de alimentos no<br />
mercado interno.<br />
Reforma agrária – uma luta de todos<br />
O Brasil é o segundo país do mundo com maior índice de<br />
concentração de terras. Existem pouco mais de dois mil<br />
latifúndios que ocupam uma área de cinquenta e seis milhões de<br />
hectares, fato que corresponde a duas vezes e meia a área do<br />
território do Estado de S. Paulo.<br />
A concentração da propriedade da terra é um dos grandes<br />
problemas para o desenvolvimento social, político e econômico do<br />
nosso país.<br />
A realização da reforma agrária é urgente para<br />
solucionar os problemas de milhões de famílias de trabalhadores<br />
rurais, sem –terra, posseiros, bóias-frias, etc.<br />
Os trabalhadores organizados derrubam as cercas dos<br />
latifúndios, ocupando a terra. É uma forma de pressionar o<br />
governo a desapropriar as terras ocupadas e realizar os<br />
assentamentos para que as famílias possam trabalhar<br />
dignamente.
Nesta luta, milhares de trabalhadores são assassinados.<br />
Desde 1978 até 1994, foram realizados mais de mil<br />
assentamentos, onde vivem cerca de 140 mil famílias em uma área<br />
de sete milhões de hectares.<br />
Há muitas cercas ainda para serem derrubadas,<br />
principalmente a que impede a existência de uma política voltada<br />
para os interesses da agricultura familiar. (...)<br />
Fonte: INCRA, 1994.<br />
4.4. As relações de trabalho na zona rural<br />
Em nossa zona rural predominam as seguintes relações de<br />
trabalho:<br />
Trabalho familiar: pequenas e médias propriedades de<br />
agricultura de subsistência ou jardinagem. É encontrada no<br />
cinturão verde das grandes cidades e em algumas regiões<br />
agroindustriais, com destaque para a região da laranja (SP).<br />
Quando a agricultura é extensiva, os familiares procuram<br />
complementar a renda como trabalhadores temporários ou<br />
bóias-frias. Sempre são abandonados pelos poderes públicos<br />
e excluídos do acesso a financiamentos agrícolas; com isso,<br />
são obrigados a vender sua propriedade, instalando-se em<br />
submoradias na periferia das grandes cidades.<br />
Trabalho temporário: os bóias-frias são trabalhadores<br />
temporários e sem vínculos empregatícios, ou seja, recebem<br />
por dia segundo a produtividade. Não possuem carteira de<br />
trabalho registrada. Ex.: agroindústria da cana-de-açúcar,<br />
laranja, algodão, e café. Embora completamente ilegal, essa<br />
relação continua existindo em função da presença do “gato”,<br />
que faz a intermediação entre o fazendeiro e os trabalhadores.<br />
Quando há um sindicato mais organizado, os bóias-frias<br />
recebem refeição no local de trabalho, têm acesso a serviços<br />
de assistência médica e recebem salários maiores que aqueles<br />
de regiões onde o movimento sindical é desarticulado.<br />
Porém, seus filhos não têm acesso a um sistema educacional<br />
e também são fadados ao subemprego. Calcula-se que<br />
aproximadamente 30 a 40% da mão-de-obra agrícola viva<br />
nessas condições.<br />
Trabalho assalariado: representa apenas 10% da mão-deobra<br />
agrícola. Possuem registro em carteira, recebendo pelo<br />
menos um salário mínimo por mês. Trabalham em fazendas<br />
ou agroindústrias, tendo direito a férias, 13 o salário, FGTS,<br />
aposentadoria, etc.<br />
Posseiros e grileiros<br />
Posseiros são invasores de terras. Para invasão são escolhidas<br />
fazendas improdutivas, que se encaixem nos pré-requisitos<br />
constitucionais de realização da reforma agrária. Na maioria dos<br />
casos, as invasões causam sérios conflitos e mortes entre os<br />
lavradores, a polícia e os jagunços (capangas).<br />
Grileiros são invasores de terras que trabalham a mando de<br />
grandes fazendeiros e sempre conseguem através da corrupção,<br />
escrituras falsas de propriedades de terra. Geralmente agem em<br />
áreas de expansão das fronteiras agrícolas ocupadas inicialmente<br />
por posseiros, o que causa grandes conflitos e inúmeros<br />
assassinatos.<br />
Parceria e arrendamento: parceiros e arrendatários alugam<br />
a terra de alguém para cultivar alimentos ou criar gados. Se o<br />
aluguel for pago em dinheiro, a situação é de arrendamento.<br />
Se o aluguel for pago com parte da produção, combinada<br />
entre as partes, a situação é de parceria.<br />
Escravidão por dívida: aliciamento de mão-de-obra através<br />
de promessas mentirosas. Ao entrar na fazenda, o trabalhador<br />
é informado de que está endividado e, como seu salário<br />
nunca é suficiente para quitar a dívida, fica aprisionado sob a<br />
vigilância de jagunços fortemente armados.<br />
Exercicios:
Cidades: A Urbanização da Humanidade<br />
O último censo realizado em 2000 pelo IBGE (<strong>Instituto</strong><br />
Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que 81,2% dos<br />
brasileiros vivem na área urbana. Portanto, é muito provável que<br />
você more em uma cidade. Se esse não for o seu caso, no mínimo<br />
você deve ter uma idéia de como são as cidades. Hoje em dia, os<br />
meios de comunicação facilitam o acesso a esse conhecimento.<br />
As cidades não são iguais em todas as partes do mundo. Elas<br />
guardam em suas fisionomias a arquitetura, a história e até mesmo<br />
modo de ser de seus habitantes. Mas todas apresentam uma<br />
característica comum: desenvolvem atividades muito diferentes das<br />
que são praticadas no campo.<br />
O que é uma cidade?<br />
Segundo o geógrafo francês Pierre George, “é quase impossível<br />
definir o que é cidade”.<br />
A ONU considera uma cidade todo aglomerado com mais<br />
de 20 mil, habitantes. Porém, em alguns países, esse número é<br />
menor, como na França (2 mil hab.) e na Espanha (10 mil hab.). No<br />
Brasil, toda sede de município é considerada cidade,<br />
independentemente da população.<br />
O local onde a cidade foi construída é o sítio urbano, que pode<br />
ser uma planície, um planalto, um vale, uma área litorânea, entre<br />
outros locais. Se o aglomerado urbano surgir naturalmente de<br />
pequenos núcleos de povoamento, vai dar origem a uma cidade<br />
espontânea. É o caso da grande maioria das cidades do Brasil e do<br />
mundo, como São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York e Paris.<br />
Algumas vezes, porém, as cidades são planejadas, isto é, são<br />
construídas deliberadamente, seguindo projetos previamente<br />
concebidos. No Brasil, o exemplo mis conhecido é Brasília, embora<br />
Belo Horizonte, Goiânia, Teresina e Aracaju também sejam cidades<br />
planejadas. No exterior, podemos citar Washington, capital dos<br />
Estados Unidos, e Camberra, capital da Austrália.<br />
Hoje, as cidades costumam desenvolver várias atividades<br />
(comércio, bancos, escolas, mercado financeiros, etc.), mas<br />
algumas são conhecidas por uma característica principal: a função<br />
urbana.<br />
Existem cidades religiosas (Aparecida – São Paulo, Lourdes –<br />
França): industriais (Volta Redonda – Rio de Janeiro, São Bernardo<br />
do Campo – São Paulo); administrativas (Brasília e Camberra, já<br />
mencionadas anteriormente); militares (Resende – Rio de Janeiro,<br />
West Point – Estados Unidos); turistas (Porto Seguro – Bahia;<br />
Veneza – Itália).<br />
Alguns países são formados por uma única cidade e possuem<br />
100% de população urbana, como é o caso do Vaticano, de<br />
Cingapura e Mônaco, entre outros.<br />
Como desenvolvem as cidades<br />
As cidades, como fenômeno urbano, mudaram muito no<br />
decorre da historia. Na antiguidade, tinham função comercial,<br />
militar, política e religiosa.<br />
Na Antiguidade oriental (cerca de 4000 a.C. – 330 d.C),<br />
foram importantes, no continente asiático, as cidades da<br />
Mesopotâmia (Ashur, Nínive, Babilônia), da Fenícia (Biblos, Sidon<br />
e Tiron) e da Pérsia (Pasargada e Persepólis); e, no continente<br />
africano, as cidades de Tebas e Mênfis (no Egito). Na Antiguidade<br />
clássica (aproximadamente, século V a.C. – 476 d.C.), as cidades<br />
gregas (Atenas e Esparta) e Roma (centro de um grande império na<br />
época), localizadas no continente europeu, deixaram uma herança<br />
cultural riquíssima para a cultura ocidental contemporânea.<br />
Durante o feudalismo (do século V ao XV), as cidades<br />
tinham importância secundária, pois a exploração da propriedade<br />
rural determinava o seu caráter essencialmente agrário. No século<br />
XIV (Baixa Idade Média), a atividade comercial incentivou o<br />
ressurgimento da vida urbana (burgos), embora estivessem situadas<br />
em áreas pertencentes aos senhores feudais. Aos poucos, foram<br />
emancipadas (pacificamente ou por meio de lutas) e puderam<br />
administrar seu destino (milícia, impostos, organização judiciária).<br />
As cidades mais importantes dessa época foram: Florença, Genova,<br />
Veneza, Marselha, Colônia, Bruges, entre outras, todas no<br />
Continente europeu. Entre os séculos XV e XVII, no período de<br />
capitalismo comercial, a reorganização d economia atraiu o<br />
excedente de mão-de-obra do campo para as cidades, que já<br />
possuíam atividades próprias, como o artesanato e a manufatura.<br />
As cidades nos países desenvolvidos<br />
O processo de industrialização original, também chamado<br />
de Revolução Industrial, foi o grande responsável pelo inicio da<br />
urbanização nos países desenvolvidos e em escala mundial.<br />
O crescimento das cidades e a importância que elas<br />
passaram a ter na vida das sociedades praticamente se consolidam<br />
com o estabelecimento da indústria como a atividade<br />
essencialmente urbana. Houve um grande deslocamento de<br />
trabalhadores do campo para a cidade, o que fez aumentar a<br />
população urbana e surgir a classe operaria (proletariado urbano).<br />
Algumas cidades, como foi o caso de Londres, chegaram a<br />
1 milhão de habitantes, no final do século XIX. O processo de<br />
urbanização dos atuais países desenvolvidos iniciou-se, portanto,<br />
na Revolução Industrial e segue até os dias de hoje. Alguns fatores<br />
contribuíram para esse processo:<br />
A atração exercida pelas cidades (indústria, emprego,<br />
melhores salários, condições de saúde e educação);<br />
A mecanização agrícola, que expulsou trabalhadores<br />
das áreas rurais.<br />
O desenvolvimento das atividades industriais exigiu o<br />
aprimoramento e até mesmo a criação de atividades de apoio ou<br />
complementares ao setor secundário. Por isso, o setor terciário é<br />
estruturado com bancos, comércio e serviços cada vez mais<br />
sofisticados. Nos países desenvolvidos, a indústria e as atividades<br />
terciárias absorveram a mão-de-obra vindo do campo, tornando o<br />
processo de urbanização mais equilibrado e sem problemas da<br />
favelização e mendicância.<br />
A globalização, porém, mudou esse quadro, em<br />
conseqüência de uma reestruturação da economia, que levou ao<br />
desemprego (tecnológico e estrutural) e à colhida de imigrantes de<br />
países pobres.<br />
Apesar disso, essas cidades cresceram com um<br />
planejamento adequado, contando com um organizado sistema de<br />
transportes, além de saneamento básico, moradia, iluminação<br />
pública, pavimentação – condições que seus habitantes muitas<br />
vezes conseguiram por meio das lutas e reivindicações feitas ao<br />
longo de anos.<br />
Você pode verificar pela tabela 1 que os países<br />
desenvolvidos têm altas taxas de urbanização.
Percebe-se, também, que nesses países a população urbana<br />
já está estabilizada e cresce cada vez menos. Em nenhuma época<br />
ela atingirá 100%, pois isso ocorre apenas anos países formados<br />
por uma única idade, como vimos anteriormente.<br />
TABELA 1: POPULAÇÃO URBANA DE PAÍSES<br />
DESENVOLVIDOS<br />
PAÍSES % DA<br />
POPULAÇÃO<br />
TOTAL (2000)<br />
Reino Unido 89,4 2,48<br />
Japão 78,6 1,73<br />
EUA 77,0 1,11<br />
Canadá 77,0 1,11<br />
Austrália 84,7 1,02<br />
França 75,4 0,60<br />
Bélgica 97,3 0,22<br />
TAX<strong>AS</strong> DE<br />
CRESCIMENTO<br />
(%) (1995-2000)<br />
FONTES: 1 ONU (Organização das Nações Unidas). PNUD<br />
(Programa das Nações Unbidas para o Desenvolvimento), 200<strong>1.</strong> 2.<br />
HDR (Human Development Report), 200<strong>1.</strong><br />
As cidades nos países subdesenvolvidos<br />
É nos países subdesenvolvidos que as cidades têm crescido<br />
mais. A industrialização de alguns países e os inúmeros problemas<br />
enfrentados pela população rural (concentração de terra,<br />
desemprego e falta de política adequada) levaram ao grande e,<br />
sobretudo, rápido crescimento de sua população urbana.<br />
Segundo a ONU, em 2025, haverá 527 grandes cidades no<br />
mundo, e dois terços delas estarão em países subdesenvolvidos.<br />
Lagos, na Nigéria, e Dacca, capital de Bangladesh, são<br />
exemplos de cidades que têm crescido mais rápido que as do países<br />
desenvolvidos.<br />
A Índia possui três das maiores cidades do mundo –<br />
Mumbai, Calcutá e Délhi -, além de dezesseis cidades com mais de<br />
1 milhão de habitantes.<br />
Umas das principais características da urbanização dos<br />
países subdesenvolvidos é a aceleração do processo de<br />
urbanização, o que deve fazer a população urbana ultrapassar a<br />
população rural, chegando ao índice de 61%, por volta de 2006.<br />
Pela tabela abaixo, você pode verificar que o número de<br />
cidades com mais de 10 milhões de habitantes passou de uma, em<br />
1950, para dezenove, em 2000 – quinze delas estão em paises<br />
subdesenvolvidos.<br />
TABELA 2: POPULAÇÃO D<strong>AS</strong> <strong>CIDADE</strong>S COM 10<br />
MILHÕES DE HABITANTES OU MAIS<br />
Cidade<br />
<strong>1.</strong> Nova<br />
York<br />
Cidades<br />
<strong>1.</strong> Tóquio<br />
2. Cidade do<br />
México<br />
3. Munbai<br />
4. São Paulo<br />
5. Nova York<br />
6. Lagos<br />
7. Los Angeles<br />
8. Calcutá<br />
9. Xangai<br />
10. Buenos<br />
Aires<br />
1<strong>1.</strong> Dacca<br />
12. Karachi<br />
13. Délhi<br />
14. Jacarta<br />
15. Osaka<br />
16. Manila<br />
17. Pequim<br />
18. Rio de<br />
Janeiro<br />
19. Cairo<br />
1950 1975<br />
População<br />
(milhões de<br />
Hab.)<br />
Cidades<br />
12,3 <strong>1.</strong> Tóquio<br />
2. Nova York<br />
3. Xangai<br />
4. Cidade do<br />
México<br />
5. São Paulo<br />
2000 2015<br />
População<br />
(milhões<br />
de Hab.)<br />
26,4<br />
18,1<br />
18,1<br />
17,8<br />
16,6<br />
13,4<br />
13,1<br />
12,9<br />
12,9<br />
12,6<br />
12,3<br />
11,8<br />
11,7<br />
11,0<br />
11,0<br />
10,9<br />
10,8<br />
10,6<br />
10,6<br />
Cidades<br />
<strong>1.</strong> Tóquio<br />
2. Mumbai<br />
3. Lagos<br />
4.Dacca<br />
5. São Paulo<br />
6. Karachi<br />
7. Cidade do<br />
México<br />
8. Nova York<br />
9. Jacarta<br />
10. Calcutá<br />
1<strong>1.</strong>Délhi<br />
12. Manila<br />
13. Xangai<br />
14. Los Angeles<br />
15. Buenos Aires<br />
16. Cairo<br />
17. Istambul<br />
18. Pequim<br />
19. Rio de Janeiro<br />
20. Osaka<br />
2<strong>1.</strong> Tientsin<br />
22. Hyderabad<br />
23. Bagcoc<br />
População<br />
(milhões de<br />
Hab.)<br />
19,8<br />
15,9<br />
11,4<br />
11,2<br />
10,0<br />
População<br />
(milhões<br />
de Hab.)<br />
26,4<br />
26,1<br />
23,2<br />
21,1<br />
20,4<br />
19,2<br />
19,2<br />
17,4<br />
17,3<br />
17,3<br />
16,8<br />
14,8<br />
14,6<br />
14,1<br />
14,1<br />
13,8<br />
12,5<br />
12,3<br />
11,9<br />
11,0<br />
10,7<br />
10,5<br />
10,1<br />
Fonte: ONU. Economic and Social Development. Population<br />
Division – 2000. Projeção da Urbanização Mundial; revisão 1999.<br />
p. 8.
Como o processo de urbanização dos países subdesenvolvidos<br />
começou apenas após a Segunda Guerra Mundial e não foi<br />
uniforme, alguns industrializaram-se; outros permaneceram<br />
predominantemente agrários e com uma população rural bastante<br />
expressiva. Veja tabela 3.<br />
TABELA 3: PAÍSES COM GRANDE PORCENTAGEM DE<br />
POPULAÇÃO RURAL<br />
PAÍSES % DA<br />
POPULAÇÃO<br />
RURAL (2000)<br />
Laos 77,1 1,88<br />
Guiné-Bissau 76,7 1,69<br />
Índia 72,0 1,19<br />
Bangladesh 76,1 0,99<br />
Malauí 76,5 0,78<br />
Sri Lanka 76,0 0,60<br />
Tailândia 78,0 0,52<br />
Fonte: 1 PNUD, 200<strong>1.</strong> 2. HDR, 200<strong>1.</strong><br />
TAX<strong>AS</strong> DE<br />
CRESCIMENTO<br />
(%) (1995-2000)<br />
Apesar da elevada participação da população rural, chama a<br />
atenção a relativa rapidez com que a população urbana vem<br />
aumentando nesses países. Entretanto, a realidade das cidades dos<br />
países subdesenvolvidos é muito diferente da de suas irmãs<br />
desenvolvidas e bem tratadas. Apresentam inúmeros problemas,<br />
como trânsito caótico, péssimos e poucos meios de transportes<br />
públicos, mendicância e violência. Também possuem periferias<br />
malcuidadas (sem água encanada, pavimentação, luz e transporte),<br />
ocupadas pela camada mais pobre da população.<br />
O êxodo rural foi também a principal causa do grande<br />
crescimento das cidades dos países pobres, mas nessas os setores<br />
secundário e terciário não são suficientemente fortes para oferecer<br />
emprego para todos. O sonho de uma vida melhor na cidade é<br />
ilusão. A realidade é sobreviver como é possível. É grande a<br />
proporção das atividades informais (subemprego), como as de<br />
vendedores ambulantes, lavadores e guardadores de carros, etc. A<br />
falta de moradia ou seu elevado preço fazem surgir favelas,<br />
cortiços e moradores de rua. Al lado dessas habitações<br />
paupérrimas, erguem-se casas e prédios de alto luxo, como no<br />
bairro do Morumbi, em São Paulo, onde favelas misturam-se às<br />
mais luxuosas mansões da cidade. A favelização, portanto é outra<br />
marca dessas cidades, independentemente do nome que receber<br />
esse tipo de habitação com precárias condições de vida.<br />
O crescimento da população urbana no mundo<br />
Como já vimos, embora ainda não seja maioria no total da<br />
população mundial, a população urbana, além de não ser<br />
igualmente distribuídas nos países e nos continentes, tem<br />
apresentado altas taxas de crescimento em países<br />
subdesenvolvidos. Veja as tabelas 4 e 5.<br />
TABELA 4: TAXA ANUAL DE CRESCIMENTO DA<br />
POPULAÇÃO URBANA E RURAL – 2000–2030<br />
(PROJEÇÃO)<br />
REGIÕES<br />
POPULAÇÃO<br />
URBANA (%)<br />
Europa 0,2 -1,4<br />
POPULAÇÃO<br />
RURAL (%)<br />
Ásia 2,2 -0,1<br />
África 3,2 0,9<br />
América Anglo-<br />
Saxônica<br />
0,9 -0,6<br />
América Latina 1,5 0,2<br />
Oceania 1,2 0,5<br />
Fonte: ONU, Economic and Social Development. Population<br />
Division – 2000. Projeção da Urbanização Mundial; revisão 1999.<br />
p. 8.<br />
TABELA 5: ALT<strong>AS</strong> TAX<strong>AS</strong> DE CRSCIMENTO DA<br />
POPULAÇÃO URBANA – PAÍSES SELECIONADOS<br />
PÁISES<br />
% DE<br />
POPULAÇÃO<br />
URBANA (2000)<br />
Libéria 45,0 9,56<br />
Tanzânia 31,6 6,31<br />
Butão 7,0 6,16<br />
Burkina Fasso 17,9 5,74<br />
Niger 20,1 5,63<br />
Afeganistão 22,0 4,79<br />
Fonte: <strong>1.</strong> PNUD, 200<strong>1.</strong> 2. HDR, 200<strong>1.</strong><br />
Ricas ou pobres, as cidades preocupam o mundo<br />
TAXA DE<br />
CRESCIMENTO<br />
(%) (1995-2000)<br />
Tanto cidades de países desenvolvidos como de países<br />
subdesenvolvidos passam por problemas que exigem soluções<br />
urgentes, embora, nesses últimos eles sejam mais preocupantes.<br />
Trânsito complicado, poluição visual e auditiva, poluição<br />
do ar, do solo e das águas, violência, vida cara e difícil têm<br />
atormentado os habitantes das cidades grandes.<br />
A indústria, principal causa do crescimento das cidades e<br />
que foi fator de atração para milhares de pessoas, quer fugir das<br />
aglomerações gigantescas que ajudou a formar. Faltam empregos<br />
nas grandes cidades e no campo, que praticamente se<br />
“industrializou”, tornando-se um complemento da atividade<br />
industrial.<br />
As administrações urbanas em países pobres lutam contra a<br />
falta de recursos para realizar os melhoramentos necessários. As<br />
cidades crescem sem controle nem infra-estrutura, com loteamentos<br />
clandestinos, muitos deles em áreas consideradas de risco.<br />
Sem dúvida, a internacionalização da economia ou<br />
globalização tornou as grandes cidades centros que irradiam<br />
progressos tecnológicos, sedes dos mercados financeiros e das<br />
empresas transnacionais. Algumas delas administram e economia<br />
globalizada através de uma rede planejada e organizada. São as<br />
cidades globais, assunto do próximo capítulo.<br />
REDES URBAN<strong>AS</strong>.<br />
A HIRERQUIA D<strong>AS</strong> <strong>CIDADE</strong>S<br />
O Mundo mudou para as cidades<br />
Hoje, a população da Terra que mora nos grandes centros<br />
urbanos é a maior história. Há cinqüenta anos, duas em cada três<br />
pessoas no mundo viviam na área rural. Logo teremos mais gente
na cidade que no campo. O mundo está se tornando um planeta de<br />
multidões.<br />
(Texto Adaptado)<br />
(Revista Veja – 27/12/2000)<br />
O rápido processo de urbanização pelo qual o mundo<br />
passou desde a Revolução Industrial, e que se intensificou nas<br />
últimas décadas, foi transformando as cidades e criando uma série<br />
de desdobramentos de seu crescimento.<br />
Urbanização e Crescimento Urbano<br />
Quando a população das cidades cresce mais que a das<br />
zonas rurais, acontece o fenômeno que chamamos de urbanização.<br />
Um país é urbanizado quando sua população urbana<br />
ultrapassa a população rural. Mesmo onde a população rural<br />
ultrapassa a urbana, as cidades crescem naturalmente (crescimento<br />
vegetativo) ou por receber imigrantes. Esse aumento natural da<br />
população urbana é chamado crescimento urbano.<br />
Rede Urbana e Hierarquia Urbana<br />
As cidades de uma área ou região não vivem isoladas (a<br />
não ser em lugares muito afastados e pouco povoados). Elas<br />
estabelecem um sistema de relações que envolvem um fluxo de<br />
pessoas, de mercadorias, serviços e informações. A esse sistema<br />
chamamos de rede urbana.<br />
Para que exista rede urbana, a região ou o país precisam<br />
dispor de uma boa rede de transportes e de um intenso movimento<br />
de mercadorias e pessoas.<br />
A globalização, com o avanço da tecnologia, criou também<br />
redes urbanas virtuais, onde as informações circulam pelos<br />
modernos recursos da telemática (Internet, fax, telefonia fixa ou<br />
móvel).<br />
As cidades são classificadas pelo número de habitantes,<br />
pela variedade de serviços que oferecem e pelo papel que<br />
desempenham como centros polarizadores, seja no próprio país,<br />
seja em escala global.<br />
Em escala local ou regional, a área polarizada por uma<br />
cidade é sua área de influencia, que pode ser maior ou menor<br />
conforme seu poder de atração. De modo geral, uma cidade exerce<br />
influencia sobre outras menores e suas áreas rurais. Os centros<br />
locais estão na base da hierarquia urbana. A partir daí, temos,<br />
sucessivamente, com maior grau de importância, os centros<br />
regionais as metrópoles regionais e as metrópoles nacionais.<br />
As megacidades e as cidades globais<br />
A urbanização do final do século XX foi marcada por<br />
profundas diferenças entre o nível de vida dos habitantes das<br />
cidades de países ricos e de países pobres e pela existência de duas<br />
novas categorias na hierarquia urbana – as cidades globais e<br />
megacidades.<br />
A globalização ou internacionalização da economia<br />
agravou as desigualdades entre as cidades de países desenvolvidos<br />
e subdesenvolvidos. O relatório da ONU sobre o Habitat (encontro<br />
mundial sobre urbanização) revela que a renda média de uma<br />
família em países desenvolvidos é 38 vezes maior que a das<br />
cidades da África. A tecnologia também diferencia essas cidades –<br />
Tóquio tem mais telefones do que todo o continente africano.<br />
Existe uma polemica quanto à definição de cidades globais<br />
e megacidades. Para o urbanista Manuel Castells, não há cidades<br />
globais, penas megacidades: “Toda cidade é algo global, em<br />
proporções diferentes. E, ao mesmo tempo, muito local. A maioria<br />
das pessoas vive vidas locais. O que é global são as funções<br />
direcionais da cidade”. Pare ele, megacidades são aglomerações de<br />
10 milhões de habitantes, ou até mesmo, que polarizam a dinâmica<br />
tecnológica, social e cultural de seus países e estão ligadas entre si<br />
em escala global.<br />
A mais comum é fazer a distinção entre cidades globais e<br />
megacidades. Para alguns urbanistas, a noção de cidade global não<br />
envolve número de habitantes, mas leva em conta a economia, os<br />
serviços, a rede financeira, as telecomunicações, as empresas e os<br />
conhecimentos que não só ligam essas cidades à economia-mundo,<br />
como as tornam dirigentes dessa economia. A noção de poder<br />
econômico faz delas cidades globais. O número de cidades globais<br />
varia de 31 a 55. em todas as listas estão as cidades de Tóquio,<br />
Londres e Nova York; em alguns aparecem São Paulo, Cingapura e<br />
Cidade do México.<br />
O conceito de megacidade não envolve poder político nem<br />
econômico, mas o número de habitantes (10 milhões). Como a<br />
população dos países subdesenvolvidos cresce em escala mais<br />
rápida do que a dos países desenvolvidos, as maiores cidades do<br />
mundo, nos próximos anos, não serão cidades globais. É o caso de<br />
Lagos (Nigéria) Dacca (Bangladesh) e Karachi (Paquistão). Com<br />
mis de 10 milhões de habitantes, essas cidades são consideradas<br />
pela ONU megacidades, mas não têm importância nem o poder das<br />
cidades globais. Muito pelo contrário, a tendência dessas cidades é<br />
concentrar miséria, falta de infra-estrutura, péssimos serviços de<br />
saúde, educação e, principalmente, violência.<br />
Algumas cidades, como São Paulo, Tóquio e Nova York,<br />
são ao mesmo tempo cidades globais e megacidades. Com menos<br />
de 1 milhão de habitantes, Zurique, na Suíça, é uma cidade global,<br />
mas está longe de ser uma megacidade. Com o aumento das<br />
desigualdades entre cidades de países ricos e pobres a exclusão da<br />
maior parte da população aumenta nas cidades dos países<br />
subdesenvolvidos.<br />
Texto de Apoio:<br />
Habitat – Centro das Nações Unidas para Assentamento<br />
Humanos (CNUAH)<br />
Em 1976, a Conferencia das Nações Unidas sobre<br />
Assentamentos Humanos, realizada em Vancouver, Canadá<br />
(Habitat I), decidiu substituir o Comitê de Moradia, Construção e<br />
Planificação pela Comissão de Assentamentos Humanos, que, a<br />
partir de 1978, passou a se chamar Centro das Nações Unidas para<br />
Assentamentos Humanos (Habitat). Seu principal objetivo é<br />
coordenar, dentro da ONU, as medidas em relação à moradia. Sua<br />
sede fica em Nairóbi (Quênia), na África.<br />
Em 1996, a CNUAH realizou a Conferencia das Nações<br />
Unidas sobre Assentamentos Humanos, em Istambul (Turquia),<br />
conhecida como Habitat II. Essa conferencia aprovou um plano<br />
mundial e diretrizes para as políticas governamentais, visando<br />
melhorar as condições de vida nos centros urbanos e zonas rurais<br />
assegurar o “direito pleno e gradual á habitação”. Também foram<br />
aprovados projetos de cooperação técnica e países<br />
subdesenvolvidos, que incluem projetos urbanos e regionais, a<br />
construção de moradia e técnicas de abastecimento de água e<br />
saneamento básico.<br />
Em junho de 2001, os países participantes do Habitat II<br />
reuniram-se em Nova York, na Istambul + 5, par avaliar o<br />
andamento os projetos propostos em 1996.<br />
Conurbação, metrópoles e áreas metropolitanas
Como já falamos, a população das cidades pode aumentar<br />
(crescimento urbano) por vários fatores. Algumas delas crescem<br />
tanto que acabam por se unir com cidades vizinhas, sendo possível<br />
perceber onde começa uma cidade e termina a outra. A esse<br />
processo de fuso entre duas ou mais cidades vizinhas, chamamos<br />
conurbação. Em uma conurbação, destaca-se uma cidade que<br />
exerce sobre as outras – a metrópole. O conjunto formado pela<br />
metrópole e as cidades vizinhas é a área metropolitana.<br />
Áreas metropolitanas<br />
No Brasil, as áreas metropolitanas foram criadas por lei<br />
(1973-1974) e são definidas como um “conjunto de municípios<br />
contíguos e integrados socieconomicamente a uma cidade central,<br />
com serviços públicos de infra-estrutura comum”.<br />
Podemos citar como exemplo a área metropolitana de São<br />
Paulo – a Grande São Paulo, que reúne 39 municípios e ocupa<br />
8.051km 2 , onde vivem cerca de 18 milhões de habitantes (Censo<br />
2000).<br />
Nas áreas metropolitanas é comum o deslocamento de<br />
trabalhadores de municípios vizinhos (cidades-dormitório) para a<br />
cidade central. Esse movimento diário de trabalhadores é chamado<br />
migração pendular (vaivém).<br />
As metrópoles exercem uma grande influência nas áreas<br />
onde se localizam. Algumas cresceram tanto que passaram a ser<br />
chamadas de megacidades.<br />
Megalópoles<br />
Termo de origem grega (mega = grande + polis = cidade),<br />
ficou conhecido internacionalmente quando o geógrafo francês<br />
Jean Gottmann, em 1961, usou-o para denominar uma área<br />
superhubanizada, localizada na região Nordeste dos Estados<br />
Unidos, chamada Boswash (Bos é a inicial de Boston e wash, de<br />
Washington).<br />
Observe, abaixo, o mapa das megalópoles norteamericanas:<br />
Área assinalada com o número 1, que se estende desde<br />
Boston até Washington, é intensamente urbanizada. Aí ocorreu a<br />
conurbação de várias metrópoles (Nova York, Filadélfia,<br />
Baltimore), que realizam uma intensa troca de capitais, pessoas,<br />
informações e mercadorias. Entre as metrópoles, encontramos<br />
apenas pequenas áreas rurais, que são responsáveis pelo<br />
abastecimento de produtos hortifrutigranjeiros para as cidades.<br />
Com o celerado crescimento urbano mundial, o termo<br />
megalópole não está mais restrito a Boswash. No próprio território<br />
norte-americano existem duas outras megalópoles. A Chipitts (2)<br />
situa-se na região dos Grandes Lagos e estende-se de Chicago a<br />
Pittisburgh. Na Costa do Pacifico, entre as cidades de São<br />
Francisco e San Diego, incluindo a cidade de Los Angeles, está a<br />
megalópole denominada San-San.<br />
Na Ásia, a área urbanizada situada entre as ilhas de Honshu<br />
e Kiushu, no Japão, compreende as áreas metropolitanas de Tóquio,<br />
Nagoya, Osaka e outras. É a megalópole de Tokkaido.<br />
Na Europa, as megalópoles situam-se na região noroeste do<br />
continente. Destacam0se a Grande Londres, no Reino Unido; a<br />
Grande Paris, na França, e a megalópole Reno-Ruhr, na Alemanha,<br />
que compreende as cidades de Colônia, Bonn, Essen entre outras, e<br />
acompanha parte dos cursos desses dois importantes rios.<br />
No Brasil, o eixo São Paulo – Rio de Janeiro tornou-se a<br />
primeira megalópole do país.<br />
Refletindo sobre o conteúdo<br />
<strong>1.</strong> Diferencie urbanização de crescimento urbano.<br />
2. Procure em um dicionário pelos menos dois significados da<br />
palavra urbanização.<br />
3. Classifique as cidades da região onde você mora de acordo com<br />
a hierarquia urbana.<br />
4. Explique o papel dos transportes e das comunicações na<br />
formação de uma rede urbana.<br />
ESPAÇO URBANO BR<strong>AS</strong>ILEIRO<br />
Você já deve ter ouvido alguém mais velho dizer: “Aqui no<br />
lugar deste prédio havia uma arvores enorme!”, ou “Esta rua não<br />
era asfaltada!”, ou, ainda, “Naquele córrego, hoje canalizado,<br />
pesquei muitos peixes quando criança!”. São provas de que as<br />
cidades crescem, mudam, transformam-se através do tempo. Agora<br />
observe as imagens acima e conserve com seus colegas sobre os<br />
aspectos que mais lhe chamaram a atenção. O que mudou nessa<br />
paisagem carioca?<br />
Organização do espaço nas cidades brasileiras<br />
Diferentemente do espaço rural, onde as pessoas vivem de<br />
maneira esparsa, em propriedades rurais ou em pequenos vilarejos,<br />
trabalhando na agricultura, na pecuária ou nas atividades extrativas,<br />
o espaço urbano se caracteriza pela aglomeração de pessoas,<br />
atividades e edificações. Nas cidades desenvolvem-se,<br />
predominantemente, as atividades comerciais e de serviços e,<br />
muitas vezes, as atividades industriais.<br />
É no espaço urbano que se encontram as sedes dos poderes<br />
político (prefeitura câmara dos vereadores, etc) e empresarial<br />
(sedes de lojas, fabricas e bancos, entre outros). Por isso, a cidade<br />
comanda não somente as atividades que se desenvolvem em seu<br />
interior, como também aquelas que se desenvolvem no espaço<br />
rural.<br />
No Brasil, conforme determina a legislação federal, cidades<br />
são sedes de municípios, independentemente do número de<br />
habitantes que possam ter. Assim, podemos encontrar desde<br />
cidades com apenas algumas centenas de moradores, até cidades<br />
com milhões de habitantes.<br />
Toda cidade, seja ela pequena, média ou grande, passa por<br />
várias transformações ao longo de sua história. Essas<br />
transformações podem estar relacionadas à expansão de sua área<br />
urbana, com a criação de loteamentos e a formação de novos<br />
bairros; à demolição e à reconstituição de edificações; às mudanças<br />
no uso de determinadas áreas (antigos armazéns que deram lugar a<br />
fábricas, por exemplo); ou ainda com o crescimento ou a perda de<br />
população ao longo de sua história.<br />
Dessa forma, dizemos que o espaço urbano é dinâmico e<br />
mutável, pois está em constante transformação.
As cidades brasileiras e suas funções<br />
A cidade caracteriza-se como o espaço onde se<br />
desenvolvem as atividades do setor secundário, ou seja, da<br />
indústria, e as atividades do setor terciário, como o comércio (lojas,<br />
supermercados, feiras livres) e os serviços (bancos, universidades,<br />
instituições de pesquisa, hospitais, repartições pública, etc.).<br />
Muitas vezes, determinada atividade econômica<br />
sobressai em certo espaço urbano. Olinda, é exemplo de cidade<br />
onde o comércio e a prestação de serviços são predominantes, pois<br />
é preciso atender o grande número de turistas. Já outras cidades<br />
podem ter na indústria sua maior fonte de renda e de emprego.<br />
Assim dizemos que cada cidade tem uma função, ou seja, uma<br />
atividade que se destaca entre as demais.<br />
No Brasil, existem cidades com as mais variadas funções:<br />
Cidades turísticas: que dependem basicamente da<br />
atividade do turismo, como as cidades balneárias de<br />
Búzios (RJ), Porto Seguro (BA) e Balneário de<br />
Camboriú (SC); as cidades serranas de Campos do<br />
Jordão (SP), Gramado e Canela (RS), e as cidades<br />
históricas, como Olinda (PE) e Parti (RJ);<br />
Cidade industriais: que vivem basicamente das<br />
atividades da ind´surtia, como São Bernardo do Campo<br />
(SP), Camaçari (BA) e Timóteo (MG);<br />
Cidades portuárias: que crescem em torno das<br />
atividades do porto que abrigam em sua área urbana,<br />
como Rio Grande (RS), Santos (SP) e Tubarão (ES);<br />
Cidades comerciais e prestadoras de serviços: que têm<br />
.sua economia voltada para as atividades comerciais e de<br />
prestação de serviços, como Maringá (PR), Petrolina<br />
(PE) e Ribeirão Preto (SP).<br />
Por outro lado, existem grandes cidades que acumulam<br />
múltiplas funções, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo<br />
Horizonte, centros urbanos que se desenvolvem em torno da<br />
indústria, do comércio, da prestação de serviços e do turismo, entre<br />
outras atividades.<br />
A localização das atividades econômicas no espaço urbano<br />
Embora muitas cidades destaquem-se em determinadas<br />
funções, em todas elas o comércio, os serviços e, muitas vezes, a<br />
indústria, são atividades constantemente presentes.<br />
Cada uma dessas atividades econômicas ocupadas,<br />
preferencialmente, um determinado lugar no interior das cidades,<br />
sejam elas pequenas, médias ou grandes. Essa localização<br />
caracteriza paisagens diferentes nas cidades.<br />
O centro, por exemplo, é uma área que abriga,<br />
predominantemente, atividades terciárias como instituições<br />
financeiras (bancos, financiadoras), cartórios, repartições públicas,<br />
lojas, teatros, cinemas e restaurantes. O centro, em geral, é a parte<br />
da cidade que concentra a maior quantidade de construções, e por<br />
onde mais circulam pessoas e veículos.<br />
Existem também os centros secundários de comércio e<br />
serviços, que podem se localizar em determinados bairros de<br />
cidades de porte médio e grande. Esses centros podem reunir<br />
atividades variadas, como pequenas agências bancárias, clínicas<br />
médicas e dentárias e supermercados, com o objetivo de atender às<br />
necessidades da população dos bairros próximos.<br />
Já as atividades industriais podem estar instaladas nos mais<br />
diferentes lugares dentro de uma cidade. Existem fábricas em meio<br />
a bairros residenciais, junto ao porto ou ao terminal ferroviário.<br />
Muitas cidades, no entanto, têm reservado áreas específicas para a<br />
instalação de indústrias em suas áreas urbanas, os chamados<br />
distritos industriais, onde os terrenos são maiores e, em geral,<br />
dotados de infra-estrutura adequada. A maior parte desses distritos<br />
localiza-se na periferia dos centros urbanos, próximo às principais<br />
vias de acesso (rodovias e ferrovias), o que facilita a chagada das<br />
matérias-primas e a saída dos produtos.<br />
O espaço das moradias nas cidades brasileiras: desigualdades<br />
sociais<br />
Anteriormente, vimos que as pessoas são remuneradas de<br />
forma diferenciada pelo seu trabalho, e que na sociedade brasileira<br />
existem grandes desigualdades na distribuição da renda. Essas<br />
desigualdades revelam-se no fato de que, entre a população<br />
brasileira, há uma minoria que obtém altos rendimentos, uma<br />
parcela, também reduzida, com rendimentos médios, e uma grande<br />
maioria que vive com uma renda muito baixa.<br />
Tais desigualdades existentes em nossa sociedade refletemse<br />
de maneira explicita nos espaços de moradia das cidades<br />
brasileiras.
Os bairros onde reside a parcela da população com altos e<br />
médios rendimentos são providos de serviços urbanos como água<br />
encanada, coleta diário de lixo, iluminação pública, centros de<br />
atendimento à saúde e centros comerciais próximos. As residências<br />
são amplas e, devido a todas essas qualificações, os imóveis são<br />
mais valorizados que em outros bairros da cidade.<br />
Por outro lado, existem os bairros residenciais habitados<br />
pela população de baixa renda. Esse bairros, geralmente localizados<br />
no subúrbio, ou seja, em áreas bastante afastadas do centro,<br />
possuem um atendimento precário de serviços urbanos (água,<br />
esgoto, asfaltamento, transporte coletivo, etc). Em muitos casos,<br />
compõem-se de habitações populares padronizadas, chamadas<br />
conjuntos habitacionais. Existe também uma parcela da população<br />
vivendo em bairros antigos já deteriorados, próximos às áreas<br />
centrais das grandes cidades, ou mesmo em favelas e em<br />
assentamentos urbanos onde a infra-estrutura básica é ainda mais<br />
precária, por vezes inexistente.<br />
Texto de Apoio:<br />
Em um grande número de cidades brasileiras, uma parcela<br />
considerável da população de baixa renda vive em favelas. A falta<br />
de recursos para a habitação leva essa população a improvisar<br />
materiais na construção de seus abrigos, como relata o texto a<br />
seguir:<br />
[...] Os materiais com que se constroem os barracos –<br />
madeiras usadas, papelão, placas e cartazes de rua, chapas de zinco,<br />
pedaços de telhas de barro ou amianto, ferro velho de todo tipo,<br />
lambris imprestáveis, pedaços de lona, enfim, objetos os mais<br />
diversos, inúteis ou já utilizados pelo mundo urbano – são,<br />
geralmente, obtidos nos “lixões” das redondezas. Para o favelado,<br />
este lixo urbano constitui a matéria-prima com que confecciona e<br />
repara o barraco. Dele também nascem ou são recuperados moveis<br />
e utensílios os mais variados. Cadeiras, mesas e armários são aí<br />
coletados e reparados ou construídos através da montagem de<br />
múltiplos elementos. Calotas de carro transformam-se em pratos e<br />
panelas, solas de sapato servem, de dobradiça, latas são usadas<br />
como assento. Há, enfim, uma constante reutilização das sobras que<br />
já foram consumidas, decorrente de uma prática de sobrevivência<br />
na pobreza que revive e dá sentido a artefatos que a sociedade<br />
transformou em lixo. [...]<br />
Lucio Kawarick. “A espoliação urbana”. In: Julia Falivene<br />
Alves. Metrópoles: cidadania e qualidade de vida. São Paulo.<br />
Moderna, 1992.<br />
ATIVIDADES<br />
<strong>1.</strong> Junto com os demais colegas de sala, elabore uma lista<br />
apresentado alguns aspectos ou elementos que são<br />
encontrados no espaço rural e não são encontrados no espaço<br />
urbano, e vice-versa.<br />
2. Quais são os aspectos (construções, monumentos, ruas, cenas<br />
cotidianas, eventos, etc) que, na sua opinião, melhor<br />
simbolizam o espaço da sua cidade? Justifique sua resposta.<br />
3. Identifique as funções características das cidades nos relatos a<br />
seguir:<br />
a) “É interessante vermos os navios atracando, o vaivém<br />
das pessoas, o embarque e o desembarque das<br />
mercadorias. Ah!, tem também as traineiras com os<br />
pescadores retirando os peixes os camarões nas<br />
gamelas!”<br />
b) “Na temporada de verão muitas pessoas correm para cá.<br />
Fica sempre tudo lotado. Os restaurantes, os bares, os<br />
hotéis. Para que continue assim, temos que conservar<br />
nosso patrimônio.”<br />
4. Na cidade do município em que você vice, as atividades<br />
econômicas do setor terciário e secundário estão localizadas<br />
ns mesmas áreas? Explique como elas estão distribuídas.<br />
Analise o texto e pesquisa<br />
A letra da Música Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa,<br />
escrita em 1951, expressa diferentes aspectos de uma cidade. Leia<br />
com atenção, para depois responder as questões.<br />
Saudosa maloca<br />
Si o sinhô num tá lembrado<br />
Dá licença de conta<br />
Ali onde agora está<br />
Aquele edifício arto<br />
Era uma casa véia<br />
Um palacete assombrado<br />
Foi ali, seu moço<br />
Que eu, Matogrosso e o Joça<br />
Construímo a nossa maloca<br />
Mais um dia, nóis nem pode se alembrá<br />
Veio os home cãs ferramenta<br />
E o dono mando derruba<br />
Peguemo toda as nossas coisa<br />
E fômu pru meio da rua<br />
Aprecia a demolição<br />
Que trsiteza que nóis sentia<br />
Cada tauba que caía<br />
Doía no coração<br />
Matogrosso quis gritá<br />
Mas em cima eu falei<br />
„Os home tá ca razão<br />
nóis arranja outro lugá‟<br />
Só se conformemo<br />
Quando o Joça falou<br />
„Deus dá o frio conforme o cobertô‟<br />
E hoje nóis pega paia<br />
Nas grama do jardim<br />
E pra esquece<br />
Nóis cantemos assim:<br />
Saudosa maloca<br />
Maloca querida<br />
Din-din-donde<br />
Nóis passemo<br />
Os dia feliz<br />
De nossas vida.<br />
Adoniran Barbosa
1) Em qual trecho Adoniran relata um exemplo das<br />
transformações que ocorrem nas cidades?<br />
2) A letra da música fala das desigualdades sociais<br />
existentes nos centros urbanos? Explique.<br />
3) Embora escrita há bastante tempo, a letra da música<br />
continua atual. Justifique esta afirmação.<br />
4) Na sua avaliação, como vivem as pessoas que, como os<br />
personagens da musica, não possuem uma casa para<br />
morar? Converse com seus colegas sobre as dificuldades<br />
que existem na vida dessas pessoas. Quais seriam as<br />
possíveis soluções para esse problema em nosso país?<br />
5) Faça uma pesquisa sobre os valores dos imóveis e dos<br />
alugueis em pelo menos três bairros diferentes (no centro,<br />
na periferia, em áreas nobres) do espaço urbano de seu<br />
município. Informe-se sobre os valores n seção de<br />
classificados dos jornais, em imobiliárias ou diretamente<br />
com os proprietários. Relacione os preços ás<br />
características das moradias pesquisadas (quantidade de<br />
cômodos, de metros quadrados, etc) e do bairro onde se<br />
localizam (se é bem servido por transportes coletivos,<br />
estabelecimento comerciais, escolas, infra-estrutura).<br />
Depois, conclua: onde se localizam, as residências mais<br />
valorizadas, as medianamente valorizadas e as menos<br />
valorizadas? Quais se localizam em bairros mais bem<br />
servidos por infra-estrutura e pela prestação de serviços?<br />
Traga para a sala de aula o resultado de sua pesquisa e<br />
descubra o que os seus colegas pesquisaram e a que<br />
conclusões chegaram.<br />
A URBANIZAÇÃO BR<strong>AS</strong>ILEIRA<br />
As raízes da urbanização brasileira<br />
Os primeiros núcleos urbanos do país nasceram no século<br />
XVI, ao longo do litoral, funcionando como locais em que os<br />
produtos da colônia ficavam armazenados até o momento do<br />
embarque para Portugal. Além disso, esses locais também eram<br />
pontos de defesa do território e contavam com construções<br />
denominadas fortes pra se proteger contra a invasão de<br />
estrangeiros. Muitos povoados cresceram em torno desses fortes.<br />
Vimos anteriormente que o povoamento do território se<br />
intensificou com o desenvolvimento da economia açucareira e da<br />
pecuária, possibilitando dos primeiros povoados no litoral e no<br />
interior.<br />
No decorrer dos séculos XVII e XCIII, a descoberta de<br />
ouro e diamante em áreas dos atuais estados de Minas Gerais, Mato<br />
Grosso e Goiás provocou uma maior ocupação do interior do país,<br />
promovendo o surgimento de várias vilas. A atividade da<br />
mineração levou à formação de vários núcleos urbanos, como Vila<br />
Rica (atual Ouro Preto) Sabará, Mariana e Congonhas, em Minas<br />
Gerais; Cuiabá, Cárceres e Poconé, no Mato Grosso; e Vila Boa<br />
(atual Goiás Velho), no estado de Goiás.<br />
Já no século XIX, a expansão da cafeicultura nos estados<br />
do Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais<br />
favoreceu o surgimento de várias cidades na região.<br />
Muitos centros urbanos nasceram e cresceram ao longo das<br />
ferrovias construídas para escoar a produção até os portos.<br />
Até essa época, entretanto, o Brasil ainda era um país<br />
essencialmente agrário, pois a grande maioria da população<br />
concentrava-se no campo. Em 1872, a população urbana do país<br />
correspondia apenas 6% do total, e somente três cidades brasileiras<br />
contavam com mais de 100 mil habitantes: Rio de Janeiro (275<br />
mil), Salvador (129 mil) e Recife (116 mil).<br />
A industria e o processo de urbanização<br />
Anteriormente vimos que até o final do século XIX a<br />
parcela de brasileiros vivendo em cidades mostrava-se bastante<br />
reduzida.<br />
A urbanização ganhou impulso somente após a década de<br />
1930, quando se acelerou o processo de industrialização no Brasil.<br />
O desenvolvimento da atividade industrial passou a atrair milhares<br />
de trabalhadores do campo para as cidades, onde foram ocupar os<br />
postos de trabalho gerados pelas fábricas e pelo setor terciário.<br />
A parir das décadas de 1940 e 1950, quando começaram a<br />
ser instaladas as indústrias de base no país, como as siderúrgicas e<br />
petroquímicas, a industrialização tornou-se mais intensa, sobretudo<br />
na região Sudeste. Tal fato aumentou ainda mais a oferta de<br />
trabalho nas fábricas, atraindo um número cada vez maior de<br />
migrantes.<br />
Além da influencia da industrialização, a migração do<br />
campo pr as cidades também ocorreu devido à mecanização das<br />
lavouras e ao aumento da concentração fundiária, o que eliminou<br />
milhares de postos de trabalho na área rural.<br />
Esses fatores intensificaram o processo de urbanização no<br />
Brasil, levando a população urbana a crescer em um ritmo maior<br />
que o da população rural, tanto em decorrência da migração campo<br />
– cidade como pelo próprio crescimento natural da população<br />
urbana. Atualmente a maioria da população brasileira, cerca de<br />
80%, vive em cidades. Contudo, essa taxa varia bastante entre as<br />
regiões do país.<br />
Brasil: um país urbano, industrial e agrícola<br />
A industrialização do Brasil, juntamente com o processo de<br />
urbanização, acabou provocando muitas mudanças na sociedade<br />
brasileira. O Brasil deixou de ser um país de população<br />
predominantemente rural e com a economia baseada em atividades<br />
agrícolas. Hoje em dia, a maior parte da população brasileira reside<br />
em cidades, onde a maioria dos trabalhadores estão empregados nas<br />
industrias, no comercio ou nos serviços.<br />
Isso foi possível porque a industria transformou-se no setor<br />
mais importante da economia nacional, provocando também a<br />
expansão dos outros setores de atividades econômicas.<br />
Entretanto, isso não significa que todas as cidades<br />
brasileiras transformaram-se em grandes centros industriais, pois a<br />
maior parte das indústrias estão nas grandes aglomerações urbanas<br />
do Sudeste do País. Contudo, tanto o espaço urbano quanto<br />
extensas áreas do espaço rural brasileiro passaram a desenvolver<br />
atividades voltadas principalmente, atividade industrial. Tal fato<br />
criou uma forte interdependência entre o espaço urbano e o espaço<br />
rural. Atualmente, quase tudo o que se produz no campo é par<br />
suprir a demanda de matérias-primas para a indústria e de<br />
alimentos para a população urbana.<br />
Por outro lado, as atividades praticadas no campo<br />
dependem cada vez mais dos produtos industriais fabricados nas<br />
cidades, como tratores, colheitaderas, implementos agrícolas,<br />
fertilizantes, agrotóxicos, rações e vacinas, o que tem garantido<br />
uma maior produtividade das lavouras e das criações.<br />
Um outro aspecto da industrialização brasileira é que, com<br />
a intensificação das relações entre o campo e a cidade, houve a<br />
necessidade de se ampliar a rede de transportes no país. O<br />
transporte rodoviário foi priorizado pelo governo federal e, apesar<br />
de ser mais oneroso que o ferroviário ou o hidroviário, acabou<br />
possibilitando o deslocamento em massa de pessoas, matériasprimas<br />
e produtos industrializados entre as regiões brasileiras.<br />
Dessa forma, podemos dizer que processos como a<br />
industrialização e a urbanização provocaram uma verdadeira<br />
revolução na organização do espaço geográfico brasileiro durante o<br />
século XX.
O setor terciário nas cidades: a expansão do comércio e dos<br />
serviços.<br />
O processo de urbanização no Brasil tem se caracterizado<br />
tanto pelo aumento do número de cidades, como pelo grande<br />
incremento populacional nos maiores centros urbanos do país. Esse<br />
fato acarretou igualmente um acréscimo de consumidores, o que<br />
acabou estimulando a expansão do setor terciário nas cidades.<br />
As cidades, por menores que sejam, sempre concentram um<br />
certo número de esabelecimento comerciais, como lojas, farmácias,<br />
padarias, livrarias, lanchonetes e mercados. Esses estabelecimentos<br />
servem como rede de distribuição das mercadorias produzidas pelas<br />
industrias para os consumidores urbanos e também para aqueles<br />
que vivem nas áreas rurais próximas. Além de estabelecimentos<br />
comerciais, as cidades também reúnem atividades prestadoras de<br />
serviços, entre as quais se destacam os serviços bancários,<br />
hospitalares, escolares, de tratamento de água e esgoto, de<br />
fornecimento de energia, de telefonia, entre muitos outros.<br />
Desse modo, as cidades se apresentam como lugares de<br />
consumo de bens e de serviços. Quanto maior for um centro<br />
urbano, maior será sua capacidade de oferecer bens e serviços ao<br />
mercado consumidor local, regional ou até nacional, como no caso<br />
das grandes metrópoles.<br />
Texto de Apoio:<br />
Shopping centers, tempos de consumo<br />
Nas últimas décadas, uma nova forma de organização das<br />
atividades terciárias vem transformando o habito dos consumidores<br />
nos grandes centros urbanos brasileiros. São os shopping centers,<br />
grandes construções destinadas exclusivamente ao comércio e à<br />
prestação de serviços.<br />
Esses centros comerciais fazem de tudo para atrair os<br />
consumidores: oferecem vastos estacionamentos, com vagas para<br />
centenas de automóveis, o que facilita o afluxo de pessoas;<br />
apresenta, um ambiente agradável, com arquitetura arrojada,<br />
reunindo uma grande variedade de lojas, restaurantes, cinemas e até<br />
parques de diversões, além de empregarem varias tecnologias de<br />
venda, como propaganda intensiva e promoções. Tudo isso para<br />
levar o<br />
consumidor permanecer por mais tempo no local e, é claro,<br />
consumir mais do que esperava.<br />
A urbanização e a hierarquia das cidades brasileiras<br />
Uma outra característica marcante da urbanização em nosso<br />
país está na concentração de boa parte da população brasileira em<br />
grandes cidades, dando origem à formação de metrópoles.<br />
Metrópoles são cidades com alta densidade demográfica e<br />
que concentram variados tipos de industrias, de estabelecimentos<br />
comerciais, além de universidades, institutos de pesquisa, hospitais,<br />
bancos, sedes de órgãos públicos, jornais e emissoras de televisão,<br />
entre outros.<br />
Além das metrópoles, o Brasil possui, ainda, um grande<br />
número de cidades de pequeno, médio e grande porte, subordinadas<br />
umas às outras de acordo com a área em que exercem influencia,<br />
definido, assim uma hierarquia urbana.<br />
A hierarquia urbana brasileira está estrutura, basicamente,<br />
do modo mostrado a seguir:<br />
Metrópoles nacionais: representadas pelas cidades de São<br />
Paulo e Rio de Janeiro. Exercem influência sobre todo o<br />
território nacional, determinado importantes aspectos da vida<br />
cultural, cientifica, social e economia do país.<br />
Metrópoles regionais: correspondem às cidades que exercem<br />
influencia sobre o território dos estados onde estão localizadas<br />
e, muitas vezes, sobre extensas áreas de estados vizinhos.<br />
Capitais regionais: são cidades de grande e médio porte que<br />
exercem influência sobre os vasto número de municípios á sua<br />
volta. Apesar de não serem consideradas metrópoles, possuem<br />
um número razoável de industrias, de prestadores de serviços<br />
(hospitais, médicos, universidade, etc) e um setor comercial<br />
bem desenvolvido.<br />
Centros regionais: são cidades de porte médio que estão sob<br />
a influência de capitais regionais, mas que exercem influência<br />
sobre varias cidades menores em seu entorno.<br />
Centros locais: são o restante dos centros urbanos espalhados<br />
por todo o país, que exercem influência apenas sobre a área de<br />
seu município ou de alguns municípios vizinhos.<br />
As regiões metropolitanas<br />
À medida que as metrópoles brasileiras crescem, assim<br />
como algumas capitais regionais, a área urbana dessas cidades<br />
avança em direção aos municípios vizinhos. Muitas vezes, as<br />
cidades maiores acabam se unindo aquelas mais próximas surgindo<br />
assim grandes áreas urbanizadas, formadas por várias,<br />
denominadas regiões metropolitanas.<br />
Oficialmente são reconhecidas 23 regiões metropolitanas<br />
no país, conforme o IBGE (2000). Entre as mais importantes estão:<br />
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife,<br />
Salvador, Fortaleza, Curitiba e Belém. Juntas, essas aglomerações<br />
reúnem mais de 66 milhões de habitantes (aproximadamente 39%<br />
da população brasileira), em uma área de 169, mil km 2 (cerca de<br />
2% da superfície total do país).<br />
A megalópole brasileira<br />
Quando duas ou mais regiões metropolitanas crescem o<br />
bastante até se unirem, surge uma imensa área urbanizada<br />
denominada megalópole.<br />
No Brasil, já se verifica a formação de uma megalópole<br />
com a ligação entre a Grande São Paulo e Grande Rio de Janeiro,<br />
através da urbanização do vale do rio Paraíba do Sul (região onde<br />
se localizam cidades importantes como São José dos Campos,<br />
Taubaté e Guaratinguetá, no estado de São Paulo, além de Volta<br />
Redonda e Resende, no estado do Rio de Janeiro) Também fazem<br />
parte da megalópole brasileira a região metropolitana da Baixada<br />
Santista, formada pela cidade de Santos e municípios vizinhos, o<br />
município de Sorocaba e a área em torno dos municípios de<br />
Campinas e Jundiaí, todos localizados em São Paulo.<br />
Uma urbanização caótica: os problemas das cidades brasileiras<br />
Em seu livro A urbanização brasileira, o geógrafo Milton Santo<br />
escreve: “Com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades<br />
brasileiras exibem problemáticas parecidas. [...] Em todas elas<br />
problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do<br />
lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde, são genéricos e<br />
revelam enormes carências. Quanto maior a cidade, mais visíveis<br />
se tornam essas mazelas”.<br />
O desemprego e a violência<br />
Embora o processo de urbanização no Brasil tenha ampliado<br />
consideravelmente a oferta de emprego nas cidades, esse número<br />
de vagas não cresceu na mesma proporção que a população urbana.
No ano de 1999, por exemplo, cerca de 20% da população a<br />
economicamente ativa do país estava desempregada.<br />
Uma das principais conseqüências do desemprego é o grande<br />
do número de pessoas trabalhando como guardadores de carros,<br />
catadores de papel e sucata, engraxates, diaristas e vendedores<br />
ambulantes, atividades que fazem parte do setor informal da<br />
economia. Em geral, essas atividades são praticadas por<br />
trabalhadores desempregados e também por muitos que estão<br />
empregados, mas que, devido aos baixos salários, trabalham por<br />
conta própria para aumentar a renda mensal.<br />
O aumento do desemprego se deve, principalmente, às<br />
sucessivas crises econômicas pelas quais o Brasil tem passado e<br />
que provocaram o fechamento de milhares de postos de trabalho<br />
nos mais diversos setores de atividades.<br />
O aumento do desemprego se deve, principalmente, às<br />
sucessivas crises economicas pelas quais o Brasil tem passado e<br />
que provocaram o fechamento de milhares de postos de trabalho<br />
nos mais diversos setores de atividades.<br />
O aumento do desemprego, associado às grandes desigualdades<br />
sociais e à falta de um sistema eficiente da violência urbana no<br />
país, sobretudo nas maiores cidades brasileiras. Assaltos,<br />
seqüestros e assassinatos, além do tráfico de drogas e acidentes de<br />
trânsito, têm tornado o dia-a-dia nas grandes cidades cada vez mais<br />
tenso. Por isso, muitos moradores evitam sair de suas residências<br />
ou conversar com desconhecidos. Os espaços de lazer e liberdade<br />
estão se tornando cada vez mais reduzidos.<br />
Texto de Apoio<br />
Infância Perdida<br />
É crescente o número de crianças que entram para o mudo da<br />
criminalidade nos grandes centros urbanos. Elas deveriam<br />
freqüentar a escola, brincar com outras crianças ou, ainda,<br />
participar de atividades esportivas, mas são elevadas, devido à<br />
situação de miséria e violência em que vivem, a entrar em contato<br />
com as drogas e manusear armas de fogo. Além disso,<br />
freqüentemente participam de roubos de carros, assaltos à mão<br />
armada e disputas por pontos de trafico de entorpecentes, o que<br />
acaba levando esses menores a se envolver em confrontos com a<br />
polícia.<br />
Em grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro,<br />
cerca de quatro das morte violentas envolve jovens com menos de<br />
15 anos de idade.<br />
Essa é uma realidade presente não somente em cidades<br />
brasileiras, mas em vários centros urbanos do mundo.<br />
Os problemas de infra-estrutura urbana<br />
O crescimento de qualquer cidade exige obras de ampliação da<br />
infra-estrutura urbana: distribuindo de água, rede coletora de<br />
esgoto, fornecimento de energia elétrica e pavimentação de ruas,<br />
entre outras. No entanto, a ampliação dessa infra-estrutura nas<br />
cidades brasileiras geralmente não acompanha o crescimento<br />
urbano.<br />
Os bairros onde moram as famílias de baixa renda são os mais<br />
carentes, e às vezes sequer contam com escolas, postos de saúde e<br />
policiamento ou, quando esse serviços existem, são insuficientes<br />
para atender às necessidades da comunidade. Em geral, esses<br />
bairros localizam-se nas áreas mais periféricas das cidades, onde os<br />
terrenos são menos valorizados e, assim, mais acessíveis aos<br />
moradores de baixa renda.<br />
O lixo e a poluição atmosférica nas cidades<br />
As cidades brasileiras, sobretudo os maiores centros urbanos,<br />
enfrentam também graves problemas ambientais, principalmente<br />
com relação ao lixo e a poluição.<br />
O lixo urbano, por exemplo, vem se transformando em um<br />
problema crítico, já que muitas cidades não possuem um sistema de<br />
coleta eficiente. Os resíduos não são reaproveitados através do<br />
processo de reciclagem, e a deposição é feita de maneira<br />
inadequada nos chamados “lixões”. Esses depósitos a céu aberto<br />
contaminam o solo, o ar, os rios e as águas subterrâneas,<br />
favorecendo a proliferação de inúmeros animais transmissores de<br />
doenças. Desse modo, a saúde da população pode ser afetada de<br />
várias formas, como pela água contaminada, por exemplo.<br />
A população das grandes cidades também sofre com a poluição<br />
atmosférica, provocada principalmente pelos veículos automotores,<br />
pelas indústrias e pela queima de lixo. A poluição do ar pode<br />
causar graves doenças respiratórias nas pessoas.<br />
Como tornar a cidade um lugar melhor para viver<br />
Neste capítulo vimos que a grande maioria dos brasileiros<br />
vivem em cidades, muitos deles em metrópoles como São Paulo,<br />
Rio de Janeiro, Porto Alegre ou Salvador. Essa parcela de<br />
moradores urbanos tende a ser cada vez maior, pois é nas cidades<br />
que se encontram os bens e os serviços que atendem às<br />
necessidades de consumo da vida moderna. Além disso, apesar da<br />
crise econômica e do desemprego, as cidades oferecem diferentes<br />
possibilidades de trabalho, tanto na indústria, no comércio e nos<br />
serviços como no setor informal, fato que contribui para o<br />
incremento da população nos centros urbanos.<br />
Entretanto, a vida nas cidades brasileiras, principalmente nos<br />
grandes centros, tem se tornado cada vez mais difícil, uma vez que<br />
o poder público não consegue resolver os problemas que atingem o<br />
espaço urbano. Todavia, é possível amenizar e até mesmo<br />
modificar essa realidade, desde que a população se mobilize e<br />
exerça a sua cidadania. Muitos resultados positivos têm sido<br />
alcançados através da participação popular em organizações<br />
comunitárias, como as associações ambientalistas, os movimentos<br />
estudantis, de defesa dos diretos dos consumidores entre outros.<br />
Com a participação do cidadão no cotidiano da comunidade é<br />
possível melhorar o espaço das cidades.<br />
Textos de Apoio<br />
Ações de Cidadania<br />
Festa comemora criação de parque<br />
Estudantes e professores da escola Nossa Escolha, pais de<br />
alunos, moradores e ecologistas fizeram em Londrina um<br />
piquinique para comemorar a decisão do prefeito [...] de
transformar o aterro do Lago Igapó II em um parque ecológico.<br />
Esse grupo se mobilizou contra a proposta de doação da área, de<br />
aproximadamente 90 mil metros quadrados, para a iniciativa<br />
privada [...]. Depois de manifestações no próprio aterro, abaixoassinado,<br />
reuniões, cartas abertas, denúncia à Promotoria Especial<br />
de Defesa do Meio Ambiente, parecer técnico do <strong>Instituto</strong><br />
Ambiental do Paraná (IAP), o prefeito desistiu do projeto de<br />
doação e anunciou a transformação do aterro em parque ecológico.<br />
“A mobilização da sociedade foi eficiente, tanto que alcançou o<br />
objetivo, que era impedir mais um crime ecológico nesta que é a<br />
principal área de lazer da cidade e um importante ecossistema<br />
urbano”, destaca Mira Roxo, diretora da Nossa Escolha,<br />
acrescentando que agora a sociedade deve ficar atenta às<br />
intervenções a serem realizadas no aterro. “A luta contra a doação<br />
do aterro foi uma demonstração de que o exercício da cidadania<br />
influencia as decisões dos administradores”.<br />
Aureo Nogueira. In: Folha de Londrina, 9/11/1998.<br />
Projeto Axé, lição de cidadania<br />
Na língua africana iorubá, axé significa força mágica. Em<br />
Salvador, Bahia, o Projeto Axé conseguiu fazer [...] o que<br />
sucessivos governos não foram capazes: a um custo dez vezes<br />
inferior ao de projetos governamentais, ajuda meninos e meninas<br />
de rua a construírem projetos de vida, transformando-os de pivetes<br />
em cidadãos.<br />
A receita do Axé é simples: competência pedagógica,<br />
administração eficiente, respeito pelo menino, incentivo, formação<br />
e bons salários para os educadores. O processo pedagógico começa<br />
na rua, onde os meninos moram. [...]<br />
Duplas de educadores de rua se aproximam dos garotos,<br />
ganham sua confiança e vão aos poucos conseguindo atraí-lo para<br />
as atividades do projeto: alfabetização, oficina de serigrafia, fábrica<br />
de papel reciclado, es cola de circo e diversas atividades culturais.<br />
A reconstrução de auto-estima, a valorização de suas raízes<br />
culturais africanas e a possibilidade de se desenvolverem como<br />
seres humanos já tirou muitos meninos da rua, que voltaram para<br />
casa ou passaram a morarem pensões.<br />
A experiência do Axé prova que é possível educar os meninos<br />
de rua e transformá-los em cidadãos produtivos. Basta dar-lhes na<br />
prática o que a Constituição já lhes garante no papel: direito à<br />
educação, assistência médica, alimentação. Basta, enfim, tratá-los<br />
com o respeito que merecem.<br />
Gilberto Dimenstien. O cidadão de papel. São Paulo, Ática,<br />
1993.<br />
Questões de Compreensão<br />
<strong>1.</strong> Explique como a descoberta de riquezas minerais e o<br />
desenvolvimento da agricultura contribuíram para a formação<br />
de centros urbanos no Brasil.<br />
2. De que maneira a industrialização no Brasil contribuiu para a<br />
aceleração do processo de urbanização?<br />
3. Por que podemos dizer que o Brasil é um país urbano,<br />
industrial e agrícola?<br />
4. De acordo com as atividades das cidades descritas abaixo,<br />
identifique sua posição na hierarquia urbana brasileira.<br />
a) Habitantes de diversos municípios próximos a procuram<br />
para fazer compras nos finais de semana, para obter um<br />
atendimento médico-hospitalar especializado ou para que<br />
seus filhos possam freqüentar a universidade.<br />
b) É a sede de diversas empresas multinacionais, de bancos,<br />
de órgãos públicos estaduais e federais e das grandes<br />
redes de televisão do país. Possui dezenas de teatros e<br />
salas de cinema, além de grandes shoppings centers.<br />
c) Os moradores da zona rural a procuram para fazer as<br />
compras do mês ou para que os filhos freqüentem a<br />
escola de ensino médio.<br />
5. O que há em comum entre a formação das regiões<br />
metropolitanas e as megalópoles.<br />
6. Imagine que está sendo realizada uma pesquisa de<br />
opinião pública em sua escola. A pergunta principal é:<br />
“Você se senti inseguro e com medo responderia? Por<br />
quê? Converse sobre isso com seus colegas.