Vol.2 - Uroepm - Urologia da Escola Paulista de Medicina
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sinopse <strong>de</strong><br />
UROLOGIA<br />
Disciplina <strong>de</strong> <strong>Urologia</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Escola</strong> <strong>Paulista</strong> <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong> - Unifesp<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Editores<br />
Editor Associado<br />
Conselho Editorial<br />
Uma publicação do<br />
Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
Miguel Srougi<br />
João Manzano<br />
Agnaldo Pereira Ce<strong>de</strong>nho<br />
Américo Sakai<br />
Antonio Macedo Jr.<br />
Archime<strong>de</strong>s Nardozza Jr.<br />
Arcilio <strong>de</strong> Jesus Roque<br />
Cássio Andreoni<br />
Cláudio Ambrogini<br />
Cláudio J. R. Almei<strong>da</strong><br />
Cláudio Kater<br />
Edson Gurfinkel<br />
Endric Hasegawa<br />
Fábio Kater<br />
Fernando G. Almei<strong>da</strong><br />
Gilmar Oliveira Garrone<br />
Hudson <strong>de</strong> Lima<br />
José Osmar Medina Pestana<br />
Rua Henrique Martins, 493 - 04504-000 - São Paulo - SP<br />
Tel.: (011) 3884-9911 - Fax: (011) 3884-9993<br />
E-mail: editora@moreirajr.com.br - Web site: http://www.moreirajr.com.br<br />
Instruções aos Colaboradores<br />
Serão bem-vin<strong>da</strong>s quaisquer colaborações, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que obe<strong>de</strong>çam aos mol<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s<br />
matérias expostas na revista.<br />
O conteúdo <strong>de</strong>ve ser primariamente <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m terapêutica ou diagnóstica. Naturalmente,<br />
serão acolhi<strong>da</strong>s com entusiasmo to<strong>da</strong>s as modificações no sentido <strong>de</strong> tornar a<br />
informação mais assimilável e atrativa.<br />
......................................<br />
João Manzano<br />
Jorge Had<strong>da</strong>d<br />
Luciano Nesralah<br />
Mauricio Hachul<br />
Miriam Dambrós<br />
Nelson Gatás<br />
Nestor Schor<br />
Renato Fraietta<br />
Riberto Liguori<br />
Roberto Araújo Segretto<br />
Rogério Simonetti<br />
Ronaldo Maia<br />
Sérgio Ricardo Araújo<br />
Suzan Goldman<br />
Ubirajara Barroso<br />
Diretor Presi<strong>de</strong>nte: Américo Moreira Jr.<br />
Gerente Comercial: M. Rachel Bellusci<br />
Representante em Presi<strong>de</strong>nte<br />
Pru<strong>de</strong>nte: Tatchia Puertas Garcia<br />
Tel.: (18)231-4858<br />
Editor <strong>de</strong> Arte: Victor F. Marcílio<br />
Revisão: Sônia Garcia<br />
33
34<br />
Índice<br />
35<br />
36<br />
39<br />
44<br />
48<br />
52<br />
55<br />
57<br />
58<br />
................................................................................................................................<br />
EDITORIAL<br />
Avanços no tratamento do câncer <strong>de</strong> próstata: temos muito que<br />
apren<strong>de</strong>r nessa longa caminha<strong>da</strong><br />
Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
REVISÃO<br />
Prevenção <strong>de</strong> fenômenos tromboembólicos em cirurgia urológica<br />
Eugênio Vicari Neto, Paulo Marcos Longuini Mazili, Fabrizio Magaldi Messeti, João<br />
Manzano, Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
REVISÃO<br />
Esclerose múltipla e alterações miccionais<br />
Nelson S. S. Batezini, Fernando G. Almei<strong>da</strong>, Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
REVISÃO<br />
Agenesia vaginal congênita: princípios e tratamento<br />
Jesus Aparecido Souza Pires, Tiago Elias Rosito, Antonio Macedo Jr., Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
REVISÃO<br />
A<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco<br />
Rodrigo K. Krebs, Daniel Suslik Zylbersztejn, João Manzano, Cássio Andreoni,<br />
Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
REVISÃO<br />
Anestesia intracorpo esponjosa em procedimentos urológicos<br />
penianos e uretrais<br />
Daniel Damião Gomes Seabra, Eliney Ferreira Faria, Marcelo Bianco, Roberto<br />
Machado, Rodrigo Quarteiro1 , Rogério Teodósio<br />
REVISÃO<br />
Imunoterapia no câncer <strong>de</strong> próstata<br />
João Manzano<br />
Desafio <strong>de</strong> Imagem<br />
Teste <strong>de</strong> Educação Continua<strong>da</strong><br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
EDITORIAL<br />
O<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Avanços no tratamento do câncer <strong>de</strong><br />
próstata: temos muito que apren<strong>de</strong>r<br />
nessa longa caminha<strong>da</strong><br />
Os tumores <strong>de</strong> mama e próstata são muito semelhantes em vários aspectos. Ambos<br />
apresentam a mesma incidência, 50.000 novos casos anualmente no Brasil, e ambos<br />
são hormônio-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Embora também se assemelhem em vários outros itens,<br />
o câncer <strong>de</strong> mama é mais estu<strong>da</strong>do que o <strong>de</strong> próstata, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pesquisa básica até os<br />
ensaios clínicos, e, para isso, recebe maiores verbas públicas e do setor privado.<br />
Por que essa diferença <strong>de</strong> tratamento para tumores tão freqüentes e <strong>de</strong> mesma importância<br />
para a saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> população?<br />
Existe um fato muito importante que certamente contribui para o fenômeno <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />
o <strong>de</strong>sinteresse do urologista pelos ensaios clínicos. Essa constatação é<br />
mundial e explica por que, até hoje, não temos um estudo controlado para comparar<br />
prostatectomia radical com radioterapia. As tentativas que surgiram foram aborta<strong>da</strong>s<br />
por falta <strong>de</strong> pacientes.<br />
O urologista, ao contrário do oncologista, não tem a iniciativa <strong>de</strong> incentivar seu<br />
paciente a participar do recrutamento <strong>de</strong> doentes para os ensaios clínicos.<br />
No câncer <strong>de</strong> mama a quimioterapia nas fases iniciais <strong>da</strong> doença é prática comum e<br />
se baseou em estudos que começaram nos anos 70. Dessa forma, as mulheres são<br />
encaminha<strong>da</strong>s ao oncologista mais cedo. O protocolo <strong>de</strong> tratamento do câncer <strong>de</strong><br />
mama tem muito mais evidências científicas que o <strong>de</strong> próstata, o qual não apresenta<br />
marcadores genéticos ou imunohistoquímicos <strong>de</strong> risco que permitam estratificar melhor<br />
a terapia.<br />
O tratamento <strong>da</strong> doença metastática no câncer <strong>de</strong> próstata ain<strong>da</strong> obe<strong>de</strong>ce o princípio<br />
<strong>da</strong> castração cirúrgica ou farmacológica iniciado há cerca <strong>de</strong> 60 anos.<br />
Precisamos mu<strong>da</strong>r nossa mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> e atitu<strong>de</strong> em relação ao câncer <strong>de</strong> próstata e<br />
isso implica em lutar por mais investimentos na pesquisa básica e incentivar o paciente<br />
a participar <strong>de</strong> novos ensaios clínicos.<br />
Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
35
36<br />
R E V I S Ã O<br />
Introdução<br />
Prevenção <strong>de</strong> fenômenos tromboembólicos<br />
em cirurgia urológica<br />
Eugênio Vicari Neto, Paulo Marcos Longuini Mazili, Fabrizio Magaldi Messeti,<br />
João Manzano, Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
O tromboembolismo venoso (TEV), incluindo a trombose<br />
venosa profun<strong>da</strong> (TVP) e o tromboembolismo pulmonar<br />
(TEP) são complicações comuns <strong>de</strong> procedimentos<br />
cirúrgicos, nota<strong>da</strong>mente os oncológicos, e <strong>de</strong> longa<br />
duração. O risco <strong>de</strong> TEV em pacientes cirúrgicos é <strong>de</strong>terminado<br />
pela combinação <strong>de</strong> fatores predisponentes individuais<br />
e o tipo <strong>de</strong> cirurgia pretendi<strong>da</strong> (Figura 1). Os principais<br />
fatores <strong>de</strong> risco enumerados na literatura são:<br />
DPOC, obesi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ICC, insuficiência venosa periférica,<br />
doença neoplásica, imobilização por longo prazo, gestação<br />
e reposição hormonal.<br />
A TVP po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s doenças mais<br />
negligencia<strong>da</strong>s <strong>da</strong> prática clínica atual. Seu diagnóstico é<br />
obtido através <strong>da</strong> estratificação <strong>de</strong> risco, suspeição clínica<br />
e utilização <strong>de</strong> exames complementares (ultrasonografia<br />
doppler ou flebografia). Classicamente, manifesta-se<br />
através <strong>de</strong> dor e e<strong>de</strong>ma em membros inferiores.<br />
Tais sintomas são subjetivos, <strong>de</strong> difícil avaliação e<br />
confirmação, <strong>de</strong> maneira que inúmeros casos não são diagnosticados.<br />
A maioria dos pacientes acometidos por TVP<br />
apresenta uma evolução subclínica. Ao mesmo tempo, a<br />
terapêutica a ser emprega<strong>da</strong> não é isenta <strong>de</strong> risco, apresentando,<br />
quando mal-indica<strong>da</strong>, complicações tão graves<br />
quanto a doença <strong>de</strong> base. Infelizmente, a maior parte dos<br />
casos é diagnostica<strong>da</strong> após a manifestação <strong>de</strong> tromboembolismo<br />
pulmonar (TEP).<br />
Os pacientes cirúrgicos não apresentam fatores <strong>de</strong> risco<br />
mais elevados para TVP e TEP, quando comparados aos<br />
internados por razões eminentemente clínicas. De maneira<br />
geral, pacientes cirúrgicos são submetidos à profilaxia<br />
a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> mais freqüentemente. Tal taxa <strong>de</strong> prevenção é<br />
ain<strong>da</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> abaixo <strong>da</strong> <strong>de</strong>sejável, oscilando em 60%<br />
dos casos indicados.<br />
Disciplina <strong>de</strong> <strong>Urologia</strong> <strong>da</strong> Unifesp-EPM.<br />
As cirurgias urológicas, <strong>de</strong> maneira geral, são consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong> risco elevado para eventos tromboembólicos.<br />
Inúmeros fatores colaboram para tal estigma, incluindo<br />
associação freqüente com neoplasia, longos períodos do<br />
paciente em posição <strong>de</strong> litotomia, insuficiência renal concomitante<br />
e manipulação <strong>da</strong> região pélvica.<br />
Profilaxia<br />
Na prevenção <strong>da</strong> trombose venosa profun<strong>da</strong> e do<br />
embolismo pulmonar existe uma ampla varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> procedimentos<br />
que po<strong>de</strong>m ser utilizados. São classificados<br />
como mecânicos (meia elástica, <strong>de</strong>ambulação precoce, compressão<br />
pneumática intermitente, fisioterapia motora) ou<br />
farmacológicos (heparina não fraciona<strong>da</strong>, heparina <strong>de</strong> baixo<br />
peso molecular, anticoagulante oral). A compressão<br />
pneumática intermitente po<strong>de</strong> ser instala<strong>da</strong> no pré-operatório<br />
e manti<strong>da</strong> por 48 a 72 horas após a intervenção.<br />
A profilaxia com métodos mecânicos e farmacológicos<br />
é segura e efetiva na maioria <strong>da</strong>s cirurgias e <strong>de</strong>ve ser<br />
implementa<strong>da</strong> rotineiramente (Figura 1). Para cirurgias<br />
urológicas <strong>de</strong> baixo risco a única medi<strong>da</strong> adota<strong>da</strong> é a<br />
<strong>de</strong>ambulação precoce no pós-operatório. Com relação a<br />
procedimentos laparoscópicos, apesar <strong>da</strong> diminuição do<br />
retorno venoso, não há evidências do aumento do risco<br />
<strong>de</strong> TEV quando comparados a procedimentos convencionais.<br />
Porém, no que diz respeito a procedimentos laparoscópicos<br />
do retroperitônio superior (rins/adrenais/<br />
ureteres), ao menos um estudo recente comprova aumento<br />
<strong>da</strong> incidência <strong>de</strong> complicações hemorrágicas quando<br />
<strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> heparina <strong>de</strong> baixo peso molecular. Neste<br />
grupo específico <strong>de</strong> pacientes, a utilização <strong>de</strong> compressão<br />
pneumática intermitente apresenta taxas equivalentes<br />
<strong>de</strong> profilaxia <strong>de</strong> TEV, sem as referi<strong>da</strong>s complicações<br />
hemorrágicas.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
Tratamento<br />
O tratamento <strong>da</strong> TVP no ambiente hospitalar (Figura 2)<br />
envolve anticoagulação plena, inicialmente através <strong>da</strong> utilização<br />
<strong>da</strong> heparina não fraciona<strong>da</strong> ou <strong>de</strong> baixo peso molecular.<br />
Associa-se anticoagulante oral (antivitamina K) com o tratamento<br />
esten<strong>de</strong>ndo-se por três a seis meses. Procura-se manter<br />
o RNI na faixa 2-3 durante o período, objetivando diminuir<br />
os riscos <strong>de</strong> fenômenos tromboembólicos associados,<br />
nota<strong>da</strong>mente tromboembolismo pulmonar.<br />
Conclusão<br />
Os fenômenos tromboembólicos constituem <strong>de</strong>safio<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Vicari Neto, E. et al.<br />
Figura 1 - Prevenção <strong>da</strong> trombose venosa profun<strong>da</strong> (doentes cirúrgicos). Fonte: Grupo <strong>de</strong> Elaboração <strong>de</strong> Diretrizes em Trombose Venosa Profun<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Angiologia e Cirurgia Vascular.<br />
na prática cirúrgica diária. Seu diagnóstico é complexo,<br />
muitas vezes <strong>de</strong>man<strong>da</strong>ndo a avaliação do especialista.<br />
Contribuem <strong>de</strong>cisivamente no aumento <strong>da</strong> morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> perioperatórias. Deve-se avaliar a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente<br />
os fatores <strong>de</strong> risco inerentes a ca<strong>da</strong> caso, procurando-se<br />
estabelecer profilaxia a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.<br />
As cirurgias urológicas são consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> risco para<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> trombose venosa profun<strong>da</strong>, <strong>de</strong>vendo<br />
o urologista estabelecer medi<strong>da</strong>s profiláticas <strong>de</strong><br />
rotina. No caso específico <strong>de</strong> procedimentos vi<strong>de</strong>olaparoscópicos<br />
do retroperitônio superior é recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> a<br />
utilização <strong>de</strong> profilaxia mecânica, <strong>de</strong>vido ao maior risco<br />
<strong>de</strong> eventos hemorrágicos associados ao uso <strong>da</strong> heparina.<br />
37
38<br />
Prevenção <strong>de</strong> fenômenos tromboembólicos em cirurgia urológica<br />
Figura 2 - Tratamento hospitalar <strong>da</strong> trombose venosa profun<strong>da</strong>. Fonte: Grupo <strong>de</strong> Elaboração <strong>de</strong> Diretrizes em Trombose Venosa Profun<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Angiologia e Cirurgia Vascular.<br />
Bibliografia e leitura recomen<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
1. Agnelli G, Caprini JA. The prophylaxis of venous thrombosis in patients<br />
with cancer un<strong>de</strong>rgoing major abdominal surgery: emerging<br />
options. J Surg Oncol. 2007 Sep 1; 96(3):265-72. Review.<br />
2. Castro AA. Trombose venosa profun<strong>da</strong>. In Pitta GBB, Castro AA,<br />
Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado.<br />
Ecmal & Lava; 2003.<br />
3. Clayman RV, McDougall EM, Eichel L. Basics of Laparoscopic Surgery.<br />
In Campbell-Walsh Urology - 9th edition. Saun<strong>de</strong>rs-Elsevier,<br />
2007.<br />
4. Cohen AT, Tapson VF, Bergmann JF, Goldhaber SZ, Kakkar AK,<br />
Deslan<strong>de</strong>s B, Huang W, Zayaruzny M, Emery L, An<strong>de</strong>rson FA Jr.;<br />
ENDORSE Investigators. Venous thromboembolism risk and prophylaxis<br />
in the acute hospital care setting (ENDORSE study): a multinational<br />
cross-sectional study. Lancet. 2008 Feb 2; 371(9610):387-<br />
94.<br />
5. Nakamura K, Kasraeian A, Yacoub S, Pendleton J, Anai S, Rosser<br />
CJ. The use of enoxaparin to prevent venous thromboembolism in<br />
patients un<strong>de</strong>rgoing radical retropubic prostatectomy: feasibility and<br />
utility. Int Braz J Urol. 2007 May-Jun; 33(3):347-52; discussion 352-<br />
4.<br />
6. Montgomery JS, Wolf JS Jr. Venous thrombosis prophylaxis for urological<br />
laparoscopy: fractionated heparin versus sequential compression<br />
<strong>de</strong>vices. J Urol. 2005 May; 173(5):1623-6.<br />
7. Secin FP, Jiborn T, Bjartell AS, Fournier G, Salomon L, Abbou CC,<br />
Haber GP, Gill IS, Crocitto LE, Nelson RA, Cansino Alcai<strong>de</strong> JR,<br />
Martínez-Piñeiro L, Cohen MS, Tuerk I, Schulman C, Gianduzzo T,<br />
E<strong>de</strong>n C, Baumgartner R, Smith JA, Entezari K, van Velthoven R,<br />
Janetschek G, Serio AM, Vickers AJ, Touijer K, Guillonneau B. Multiinstitutional<br />
study of symptomatic <strong>de</strong>ep venous thrombosis and pulmonary<br />
embolism in prostate cancer patients un<strong>de</strong>rgoing laparoscopic<br />
or robot-assisted laparoscopic radical prostatectomy. Eur Urol. 2008<br />
Jan; 53(1):134-45. Epub 2007 Jun 11.<br />
8. Zufferey P. Antithrombotic drugs in urological surgery. Treatment<br />
interfering with haemostasis in urology? Ann Urol (Paris). 2006 Nov;<br />
40 Suppl 3:S64-7.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
R E V I S Ã O<br />
Introdução<br />
Esclerose múltipla e alterações miccionais<br />
A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica do<br />
sistema nervoso central, adquiri<strong>da</strong>, <strong>de</strong> origem inflamatória,<br />
provavelmente auto-imune. Doença neuro<strong>de</strong>gerativa<br />
<strong>da</strong> substância branca em que há <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> mielina por<br />
auto-anticorpos, diminuindo assim o impulso nervoso.<br />
Acomete principalmente adultos jovens, na faixa etária<br />
entre 20 e 40 anos, sendo rara antes dos 10 e após os 60<br />
anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mais comum em mulheres (2 para 1), em<br />
indivíduos <strong>de</strong> cor branca, em áreas <strong>de</strong> clima temperado,<br />
tendo alta prevalência na Grã-Bretanha, Canadá e norte<br />
dos Estados Unidos (1 em 1.000 norte-americanos acometidos).<br />
Fatores genéticos, dietéticos e ambientais estão<br />
relacionados com esta estatística. Há associação com<br />
antígeno HLA-DR2. Não tem herança direta, porém afeta<br />
indivíduos geneticamente suscetíves. A principal característica<br />
<strong>da</strong> esclerose múltipla é sua imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
não ocorrendo curso semelhante em todos os pacientes e<br />
ca<strong>da</strong> portador sofre alterações ao longo do tempo.<br />
A esclerose múltipla po<strong>de</strong> virtualmente produzir qualquer<br />
tipo <strong>de</strong> sintoma neurológico, sendo mais freqüentes<br />
as manifestações <strong>de</strong>vido a lesões do quiasma óptico, dos<br />
nervos ópticos, do tronco cerebral, do cerebelo e <strong>da</strong> medula,<br />
principalmente dos feixes corticoespinhais e dos<br />
cordões posteriores. Na sintomatologia são freqüentes as<br />
exacerbações e remissões, geralmente os sinais e sintomas<br />
apresentados pelo paciente indicam a existência <strong>de</strong><br />
mais <strong>de</strong> uma lesão. As manifestações clínicas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
<strong>da</strong>s diversas áreas do sistema nervoso em que se localizam<br />
essas lesões.<br />
O diagnóstico é basicamente clínico, com base nos<br />
sintomas apresentados, tempo <strong>de</strong> aparecimento e presença<br />
<strong>de</strong> sinais ao exame físico. O exame do líquor com<br />
eletroforese <strong>da</strong>s proteínas com IgG eleva<strong>da</strong> e ban<strong>da</strong>s<br />
oligoclonais, po<strong>de</strong> ser útil ao diagnóstico, bem com a ressonância<br />
nuclear magnética do cérebro e medula espinhal<br />
po<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar placas na substância branca, mais<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Nelson S. S. Batezini, Fernando G. Almei<strong>da</strong>, Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
Setor <strong>de</strong> Disfunções Miccionais e <strong>Urologia</strong> Feminina. Disciplina <strong>de</strong> <strong>Urologia</strong> <strong>da</strong> Unifesp-EPM.<br />
comumente periventricular, sendo pretas em T1 e brancas<br />
em T2 e em múltiplos locais na medula espinal.<br />
A esclerose múltipla apresenta basicamente três formas<br />
<strong>de</strong> apresentação, a forma surto-remissão ou remitenterecorrente<br />
em que os sintomas agudos se repetem com<br />
intervalo <strong>de</strong> meses ou anos e <strong>de</strong>saparecem sem <strong>de</strong>ixar<br />
seqüelas ou <strong>de</strong>ixam seqüelas pequenas. A forma progressiva<br />
secundária, semelhante à fase remitente, porém em<br />
ca<strong>da</strong> agudização há piora <strong>da</strong> doença, <strong>de</strong>ixa seqüelas importantes<br />
e, por fim, a forma progressiva primária, em que<br />
a doença não ocorre em surtos agudos nem recorre, há uma<br />
progressão contínua que vai agravando-se com os anos.<br />
Não há como impedir a progressão <strong>da</strong> doença. O que<br />
se po<strong>de</strong> fazer é acelerar a recuperação durante a fase agu<strong>da</strong><br />
inicial. Usa-se para este fim corticosterói<strong>de</strong>s e betainterferon,<br />
reduzindo a freqüência <strong>da</strong>s exacerbações. Estudos<br />
recentes mostram benefício <strong>da</strong> ciclofosfami<strong>da</strong> e <strong>da</strong><br />
azatioprina em retar<strong>da</strong>r a evolução crônica.<br />
Disfunções miccionais na esclerose múltipla<br />
As disfunções miccionais durante o curso <strong>da</strong> esclerose<br />
múltipla são freqüentes, necessitando <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos durante<br />
sua evolução. Embora sua freqüência seja amplamente<br />
reconheci<strong>da</strong>, morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao aparelho urinário é tradicionalmente<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> baixa. Mesmo antes do diagnóstico,<br />
as manifestações urinárias po<strong>de</strong>m ser aparentes e são,<br />
habitualmente, relega<strong>da</strong>s para um segundo plano, quando<br />
predominam as outras manifestações neurológicas,<br />
porventura mais graves. Esses pacientes compreen<strong>de</strong>m ±<br />
6%, sendo que as primeiras manifestações <strong>da</strong> doença são<br />
miccionais, muitas vezes taxa<strong>da</strong>s como secundárias a cistites<br />
ou hiperplasia prostática, sem inferir seu real diagnóstico.<br />
Em torno <strong>de</strong> 90% dos pacientes com EM vão apresentar<br />
queixas do trato urinário em algum ponto <strong>da</strong> doença,<br />
sendo que 70% terão hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> pela<br />
avaliação urodinâmica. Dos sintomas urinários, a queixa<br />
39
40<br />
Esclerose múltipla e alterações miccionais<br />
mais freqüente é a urgência, que chega a atingir 83% dos<br />
pacientes, produzindo incontinência em 75%. Das disfunções<br />
miccionais, a dissinergia <strong>de</strong>trusor esfincteriana é<br />
a mais comum, atingindo em torno <strong>de</strong> 50% dos doentes.<br />
Esses pacientes terão sintomas que po<strong>de</strong>m afetar o<br />
seu estilo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, como incontinência urinária, urgência<br />
e freqüência, po<strong>de</strong>ndo sofrer algumas privações do convívio<br />
social. Eles também po<strong>de</strong>m sofrer <strong>de</strong> sintomas<br />
<strong>de</strong>bilitantes do trato urinário, tais como infecções do trato<br />
urinário freqüentes ou recorrentes e também, por vezes,<br />
<strong>da</strong>nos ao trato urinário superior. A maioria <strong>de</strong>sses<br />
pacientes se apresenta nos anos mais produtivos <strong>de</strong> sua<br />
vi<strong>da</strong>, tornando assim a esclerose múltipla e suas implicações<br />
miccionais ain<strong>da</strong> mais <strong>de</strong>vastadora.<br />
As alterações miccionais associa<strong>da</strong>s à EM variam<br />
amplamente. Po<strong>de</strong>m apresentar-se num espectro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>trusora e retenção urinária até hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>trusora, incontinência, sintomas irritativos e<br />
dissinergia. Esses sintomas não possuem um padrão <strong>de</strong><br />
surgimento na história natural <strong>da</strong> doença, aparecendo, em<br />
média, seis anos após o início <strong>da</strong> doença. Alterações<br />
<strong>de</strong>trusoras esfincterianas afetam um em ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>z pacientes<br />
no início <strong>da</strong>s manifestações <strong>da</strong> EM, sendo que esses<br />
pacientes cursam com pior prognóstico. Meta<strong>de</strong> dos doentes<br />
tem modificações dos seus padrões urodinâmicos<br />
durante intervalo <strong>de</strong> 42 a 45 meses. As variações urodinâmicas<br />
com o tempo obrigam a uma repetição regular<br />
<strong>de</strong>stes estudos. Globalmente, <strong>de</strong>ntre os pacientes com<br />
queixas urinárias, 55% alteram o padrão urodinâmico durante<br />
o curso <strong>de</strong> sua doença.<br />
A baixa especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sintomas clínicos <strong>da</strong> disfunção<br />
miccional na EM e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> fatores cistométricos <strong>de</strong> pior prognóstico para <strong>de</strong>terioração<br />
do trato urinário superior corroboram para o uso do<br />
estudo urodinâmico nesses pacientes.<br />
O predomínio <strong>da</strong> síndrome <strong>da</strong> bexiga hiperativa é relatado<br />
com uma prevalência <strong>de</strong> 30% a 90%, sendo que os<br />
sintomas obstrutivos afetam <strong>de</strong> 30% a 70% dos pacientes<br />
com 25% <strong>de</strong> retenção urinária crônica. Sintomas irritativos<br />
e obstrutivos coexistem em 59% dos homens e 51%<br />
<strong>da</strong>s mulheres.<br />
A hiper-reflexia comumente manifesta-se por urgência,<br />
freqüência e sintomas irritativos generalizados. Freqüentemente<br />
é associado a dissinergia <strong>de</strong>trusor esfincteriana,<br />
caracteriza<strong>da</strong> por contração simultânea do <strong>de</strong>trusor<br />
e do esfíncter uretral. Essa dissinergia po<strong>de</strong> levar a sérios<br />
problemas.<br />
As alterações miccionais associa<strong>da</strong>s à<br />
EM variam amplamente. Po<strong>de</strong>m apresentar-se<br />
num espectro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>trusora e retenção<br />
urinária até hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>trusora,<br />
incontinência, sintomas irritativos e<br />
dissinergia. Esses sintomas não possuem<br />
um padrão <strong>de</strong> surgimento na<br />
história natural <strong>da</strong> doença, aparecendo,<br />
em média, seis anos após o início<br />
<strong>da</strong> doença. Alterações <strong>de</strong>trusoras esfincterianas<br />
afetam um em ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>z<br />
pacientes no início <strong>da</strong>s manifestações<br />
<strong>da</strong> EM, sendo que esses pacientes<br />
cursam com pior prognóstico.<br />
Alterações miccionais<br />
Hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>trusora é a anormali<strong>da</strong><strong>de</strong> urodinâmica<br />
mais comum, estando presente em 50% a 90% dos<br />
casos, segui<strong>da</strong> <strong>de</strong> hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong> em torno <strong>de</strong> 25% dos<br />
pacientes e diminuição <strong>da</strong> complacência em 10% <strong>de</strong>sses.<br />
Dos pacientes sintomáticos, 34% não possuem alterações<br />
urodinâmicas.<br />
A dissinergia vesicoesfincteriana é a disfunção miccional<br />
mais característica <strong>da</strong> EM. A causa <strong>de</strong>ssa é <strong>de</strong>corrente<br />
<strong>da</strong> per<strong>da</strong> do controle do centro cerebral <strong>da</strong> micção<br />
ou <strong>de</strong>vido à interrupção direta do reflexo espinobulbar.<br />
Atinge aproxima<strong>da</strong>mente 50% dos pacientes. A presença<br />
<strong>de</strong> dissinergia parece correlacionar-se com a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> doença e po<strong>de</strong> ser até um indicador urodinâmico <strong>de</strong><br />
doença progressiva. A duração <strong>da</strong> EM influencia na evolução<br />
<strong>da</strong> apresentação urodinâmica apenas nas DDE, a<br />
prevalência aumenta com o tempo, provavelmente <strong>de</strong>vido<br />
à baixa taxa <strong>de</strong> regressão após seu surgimento.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
Chegou-se a encontrar hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>trusora em<br />
78% dos pacientes com associação com hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
durante a micção em 63%. Este aparente paradoxo significa<br />
que existem contrações involuntárias do <strong>de</strong>trusor<br />
durante o enchimento, mas o rendimento muscular durante<br />
a micção é baixo. Nem sempre o jato fraco e o resíduo<br />
resultam <strong>de</strong> DDS ou do mau relaxamento miccional<br />
<strong>da</strong> uretra, mas sim <strong>de</strong> hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>de</strong>trusor.<br />
Mesmo nos pacientes com hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, as contrações<br />
não são manti<strong>da</strong>s e o esvaziamento vesical é ineficaz em<br />
até meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>les. Nestas bexigas hipocontráteis parece<br />
haver maior número <strong>de</strong> lesões <strong>da</strong> medula dorsal.<br />
Apesar <strong>da</strong> hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>trusora, <strong>da</strong>s dissinergias e<br />
<strong>da</strong>s complicações urológicas infecciosas, o envolvimento<br />
renal é <strong>de</strong> baixa importância clínica.<br />
Alterações do trato urinário inferior<br />
Infecção do trato urinário é <strong>de</strong>scrita em 30% dos pacientes<br />
com EM. Análogo a outras populações neurogênicas,<br />
especialmente aqueles com lesão raquimedular,<br />
son<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>mora, altas pressões <strong>de</strong>trusoras e a existência<br />
<strong>de</strong> resíduo pós-miccional maior que 300 ml po<strong>de</strong>m<br />
ser consi<strong>de</strong>rados fatores contribuintes para recorrências<br />
<strong>de</strong>ssas ITUs. Dano morfológico ao trato urinário inferior<br />
é relatado em uma média <strong>de</strong> 30%, incluindo pseudovertículos<br />
vesicais, trabeculação e espessamento parietal.<br />
Alterações trato urinário superior<br />
As manifestações altas são raras, mas 16% dos doentes<br />
apresentam hidronefrose, pielonefrite e refluxo vesicoureteral.<br />
As crises <strong>de</strong> pielonefrite se associam a um<br />
volume residual superior a 30%. Litíase tem uma incidência<br />
em torno <strong>de</strong> 2% a 11% e, muito raramente, há<br />
evolução para insuficiência renal crônica.<br />
Correlação com exames <strong>de</strong> imagem<br />
Não há correlação entre os achados <strong>da</strong> ressonância<br />
magnética e dos urodinâmicos e entre estes e as queixas,<br />
sendo que a avaliação urodinâmica é insubstituível no<br />
planejamento terapêutico <strong>de</strong>sses doentes.<br />
Verificou-se que as queixas urológicas se correlacionam<br />
apenas com as imagens medulares. A correlação clínico-radiológica<br />
cerebral é fraca, particularmente nas formas<br />
primárias progressivas.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Por razões pouco explica<strong>da</strong>s, as lesões pirami<strong>da</strong>is parecem<br />
correlacionar-se com a hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>trusora e<br />
as cerebelares com a hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>de</strong>trusor.<br />
Correlação com alterações urodinâmicas<br />
Correlações entre estado neurológico e cistometria têm<br />
sido relata<strong>da</strong>s. A correlação entre hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>trusora<br />
e a severi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s <strong>de</strong>ficiências sensitivas-motoras ou lesão<br />
pirami<strong>da</strong>l parece provável. A correlação entre DDS e<br />
lesão pirami<strong>da</strong>l ou o grau <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência tem sido sugeri<strong>da</strong>.<br />
Não há correlação entre hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong> e status<br />
neuronal. Correlação entre certas lesões e achados cistométricos<br />
é controverso, mas a presença <strong>de</strong> lesões encefálicas<br />
e supra-sacrais predispõe a DDS e lesões do tronco<br />
cerebral a hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Mortali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Batezini, N.S.S. et al.<br />
Mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> na EM geralmente é subestima<strong>da</strong>. Poucos<br />
estudos correlacionaram mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> nessa doença<br />
com causas urológicas, geralmente <strong>de</strong>monstrando algum<br />
<strong>da</strong>no após 40 anos <strong>da</strong> doença. No entanto, a sobrevi<strong>da</strong><br />
parece ser menor naqueles em que o surgimento <strong>de</strong> alterações<br />
vesicoesficterianas se dá nos primeiros <strong>de</strong>z anos<br />
<strong>da</strong> doença.<br />
Contudo, a duração <strong>da</strong>s alterações miccionais na EM<br />
e sua variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> com o passar do tempo <strong>de</strong>sempenham<br />
um impacto negativo na morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses pacientes, necessitando<br />
<strong>de</strong> um manejo contínuo e correto.<br />
Fatores <strong>de</strong> risco para <strong>de</strong>terioração do trato<br />
urinário superior<br />
Talvez o principal fator <strong>de</strong> risco para lesões do trato<br />
urinário superior seja o passar dos anos.<br />
O risco <strong>de</strong> lesão parece ser maior entre o sexto e o<br />
oitavo ano <strong>de</strong> surgimento <strong>da</strong>s alterações miccionais. Os<br />
homens, <strong>de</strong>vido a pressões <strong>de</strong>trusoras maiores e maior<br />
amplitu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s contrações involuntárias, estão sob mais<br />
risco <strong>de</strong> lesão, embora não se tenha conseguido provar<br />
pior prognóstico relacionado ao gênero. Risco <strong>de</strong> pielonefrite<br />
é maior nos pacientes com refluxo vesicouretral.<br />
Estão sob maior risco <strong>de</strong> lesões os pacientes com CNI <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> e menor risco aqueles com hipocontratili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Dissinergia <strong>de</strong>trusor esfincteriana indiretamente<br />
influencia nessas complicações, na medi<strong>da</strong> em que é<br />
41
42<br />
Esclerose múltipla e alterações miccionais<br />
correlaciona<strong>da</strong> com a severi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s lesões neurológicas,<br />
as quais, por si só, alteram o prognóstico.<br />
Cateterismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mora é reconhecido como fator <strong>de</strong><br />
risco para <strong>de</strong>terioração do trato urinário superior, <strong>de</strong>vido<br />
à predisposição a infecções. Além disso, alguns pacientes<br />
fazem uso <strong>de</strong> drogas imunossupressoras para tratamento<br />
<strong>da</strong> EM, tendo maior risco <strong>de</strong> malignização.<br />
Resumi<strong>da</strong>mente, fatores <strong>de</strong> risco comprovados para<br />
lesões incluem duração <strong>da</strong> EM maior que 15 anos, cateterismo<br />
crônico, gran<strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s contrações não<br />
inibi<strong>da</strong>s e gran<strong>de</strong>s pressões <strong>de</strong>trusoras. Fatores <strong>de</strong> risco<br />
prováveis incluem sexo masculino, i<strong>da</strong><strong>de</strong> maior <strong>de</strong> 50 anos<br />
e dissinergia <strong>de</strong>trusor esfincteriana.<br />
Avaliação<br />
Os pacientes com esclerose múltipla e alterações<br />
miccionais <strong>de</strong>vem ser avaliados segundo seus sintomas e<br />
quanto a lesões do trato urinário superior. Naqueles assintomáticos<br />
e sem lesões se preconiza uma consulta anual<br />
com um generalista, sendo avaliados quanto a sintomas e<br />
<strong>de</strong>vendo ser solicitado um exame ultra-sonográfico <strong>da</strong>s<br />
vias urinárias com medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> resíduo pós-miccional.<br />
Qualquer alteração ou surgimento <strong>de</strong> sintomas <strong>de</strong>ve ser<br />
referenciado a um especialista.<br />
Os pacientes sintomáticos ou com alguma alteração<br />
<strong>de</strong>vem ser acompanhados por especialista, avaliando-os<br />
com um diário miccional <strong>de</strong> três dias, exame ultra-sonográfico<br />
do trato urinário, urina tipo I e cultura, clearance<br />
<strong>da</strong> creatinina e estudo urodinâmico, com periodici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
anual ou mais precoce conforme alterações nos sintomas<br />
ou lesões.<br />
Tratamento<br />
Devido à gran<strong>de</strong> variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sintomas associa<strong>da</strong><br />
à EM, <strong>de</strong> sua imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e alterações durante o seu<br />
curso, ca<strong>da</strong> paciente <strong>de</strong>ve ter um tratamento específico,<br />
mas todos com os mesmos objetivos <strong>de</strong> promover continência<br />
socialmente aceitável, diminuição <strong>da</strong> amplitu<strong>de</strong> e<br />
freqüência <strong>da</strong>s contrações involuntárias e prevenção <strong>de</strong><br />
<strong>da</strong>nos irreversíveis ao trato urinário.<br />
O uso <strong>de</strong> cateteres <strong>de</strong> <strong>de</strong>mora ou cistostomia <strong>de</strong>ve ser<br />
tratamento <strong>de</strong> exceção e, <strong>de</strong>vido ao aumento do risco <strong>de</strong><br />
maligni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ser associa<strong>da</strong> na avaliação uma cistoscopia<br />
periódica, especialmente naqueles que fizeram ou<br />
fazem uso <strong>de</strong> imunossupressores.<br />
Os pacientes com esclerose múltipla<br />
e alterações miccionais <strong>de</strong>vem ser<br />
avaliados segundo seus sintomas e<br />
quanto a lesões do trato urinário superior.<br />
Naqueles assintomáticos e sem<br />
lesões se preconiza uma consulta anual<br />
com um generalista, sendo avaliados<br />
quanto a sintomas e <strong>de</strong>vendo ser<br />
solicitado um exame ultra-sonográfico<br />
<strong>da</strong>s vias urinárias com medi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
resíduo pós-miccional. Qualquer alteração<br />
ou surgimento <strong>de</strong> sintomas <strong>de</strong>ve<br />
ser referenciado a um especialista.<br />
Os anticolinérgicos são a pedra fun<strong>da</strong>mental do tratamento,<br />
<strong>de</strong>vido à maior prevalência <strong>de</strong> hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong> nos<br />
pacientes com EM. Essas medicações induzem a<br />
<strong>de</strong>sestimulação colinérgica do <strong>de</strong>trusor. As drogas disponíveis<br />
<strong>de</strong> primeira linha <strong>de</strong> tratamento são oxibutinina e<br />
tolterodina. A ação <strong>da</strong> oxibutinina baseia-se em suas ações<br />
anticolinérgica, anestésica local, antiepasmódica e<br />
bloqueadora dos canais <strong>de</strong> cálcio. É recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> a dose<br />
<strong>de</strong> 2,5 a 5 mg, duas a três vezes ao dia. Há também a<br />
forma <strong>de</strong> liberação lenta, sendo administra<strong>da</strong> uma vez ao<br />
dia, com menores efeitos colaterais. Tolterodina é uma<br />
medicação similar, mais recente, com menos paraefeitos,<br />
usa<strong>da</strong> na dose <strong>de</strong> 1 a 2 mg, duas vezes ao dia. Propantelina<br />
é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> droga <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> linha na dosagem <strong>de</strong> 7,5<br />
a 30 mg, três ou quatro vezes ao dia. Hioscinamina, outra<br />
droga <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> linha, com efeito anticolinérgico e<br />
antiespasmódico, usa<strong>da</strong> na dose <strong>de</strong> 0,125 a 0,375 mg,<br />
sublingual, a ca<strong>da</strong> quatro horas. Paraefeitos relacionados<br />
aos anticolinérgicos são boca seca, visão turva, taquicardia,<br />
sonolência e constipação, geralmente bem tolerados.<br />
Os anticolinérgicos não aumentam o tempo entre a sensação<br />
e a micção propriamente dita, eles também po<strong>de</strong>m<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
aumentar o resíduo pós-miccional e diminuir a contratili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>trusora, <strong>de</strong>vendo, portanto, ser utilizados conjuntamente<br />
com micções programa<strong>da</strong>s ou cateterismo intermitente.<br />
Outros agentes para tratamento são os anti<strong>de</strong>pressivos,<br />
principalmente a imipramina, um inibidor <strong>da</strong> recaptação<br />
<strong>de</strong> serotonina. Essas drogas têm ação anticolinérgica<br />
central e periférica e se mostram como facilitadores<br />
do enchimento vesical. Eles diminuem a contratili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>trusora e aumentam a pressão <strong>de</strong> saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> bexiga, <strong>de</strong>vendo<br />
ser cui<strong>da</strong>dosamente prescritos naqueles com evidências<br />
<strong>de</strong> obstrução infravesical anatômica ou funcional.<br />
Cateterismo intermitente geralmente é utilizado como<br />
complemento <strong>de</strong> tratamento, já que ele aju<strong>da</strong> mas não é a<br />
causa <strong>da</strong> diminuição <strong>da</strong> freqüência e amplitu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s contrações<br />
involuntárias. Ele diminui o problema <strong>de</strong> resíduo<br />
pós-miccional, diminuindo o risco <strong>de</strong> infecção, promovendo<br />
também continência. Utilizado geralmente quatro<br />
a seis vezes ao dia, promovendo esvaziamento periódico<br />
e diminuição do resíduo pós-miccional. Em comparação<br />
com son<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>mora, diminui o risco <strong>de</strong> malignização<br />
e formação <strong>de</strong> cálculos intravesicais. Geralmente é o tratamento<br />
<strong>de</strong> primeira linha, associado aos anticolinérgicos,<br />
nos pacientes com dissinergia <strong>de</strong>trusor esfincteriana.<br />
Injeção <strong>de</strong> toxina botulínica tipo A na musculatura<br />
<strong>de</strong>trusora se tem mostrado com gran<strong>de</strong> potencial na abor<strong>da</strong>gem<br />
do tratamento <strong>da</strong> hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Diminui ou até<br />
acaba com as contrações involuntárias, também aumentando<br />
discretamente a complacência. Não há protocolo<br />
estabelecido, usa-se 200 a 300 u <strong>de</strong> Botox ® ou 500 a 1.000<br />
u <strong>de</strong> Dysport © , injeta<strong>da</strong>s em 20 a 40 pontos <strong>da</strong> musculatura<br />
<strong>de</strong>trusora, preservando o trígono vesical. Como efeitos<br />
colaterais po<strong>de</strong>mos citar hematúria, dor e retenção<br />
urinária, por isso todos os pacientes <strong>de</strong>vem ser informa-<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
dos <strong>de</strong> um provável uso <strong>de</strong> cateterismo intermitente, transitório<br />
ou <strong>de</strong>finitivo. Seu efeito dura <strong>de</strong> seis a nove meses,<br />
po<strong>de</strong>ndo ser repetido após esse período. Na dissinergia<br />
<strong>de</strong>trusor esfincteriana po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>da</strong> a dose <strong>de</strong> 100 a<br />
200 u <strong>de</strong> Botox ® ou 500 u <strong>de</strong> Dysport © injeta<strong>da</strong> no esfíncter<br />
via transuretral ou perineal.<br />
Devido a variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentações, períodos <strong>de</strong><br />
remissão e recidivas, associa<strong>da</strong> diversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mecanismos<br />
<strong>da</strong>s disfunções na esclerose múltipla, a terapia<br />
<strong>de</strong>finitiva (esfincterotomias e <strong>de</strong>rivações) <strong>de</strong>ve ser encara<strong>da</strong><br />
com cutela e como condutas <strong>de</strong> exceção em casos <strong>de</strong><br />
doença avança<strong>da</strong> e na falha <strong>de</strong> todos os outros tratamentos.<br />
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43
44<br />
R E V I S Ã O<br />
Introdução<br />
O hímen imperfurado e atresia vaginal são conhecidos<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo <strong>da</strong> Grécia e Roma, sendo que a primeira<br />
referência sobre estas patologias na Grécia foi atribuí<strong>da</strong> a<br />
Hipócrates (? 460 - ? 370 BC) e, em Roma, a mais completa<br />
<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> atresia vaginal foi primeiramente relata<strong>da</strong><br />
por Celsus (primeiro século AD-<strong>da</strong>ta não conheci<strong>da</strong>). Engel<br />
(1781) <strong>de</strong>screveu um dos mais exatos relatos <strong>de</strong> ausência<br />
<strong>de</strong> vagina e útero, contando o resultado <strong>de</strong> uma autópsia <strong>de</strong><br />
mulher jovem que morreu repentinamente (2) .<br />
Ausência vaginal congênita é uma <strong>de</strong>formi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
origem embrionária que resulta <strong>da</strong> agenesia do tubo mesonéfrico<br />
(aplasia mullerina), com sua incidência relata<strong>da</strong><br />
em torno <strong>de</strong> 1 para 5000 nascidos vivos (6) . A principal<br />
afecção que envolve esta patologia se <strong>de</strong>nomina síndrome<br />
Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser, cujos pacientes se<br />
apresentam cromossomicamente como 46 XX. Em 1838,<br />
Rokitansky <strong>de</strong>screveu 19 casos <strong>de</strong> autópsias em adultos<br />
com agenesia útero-vaginal, incluindo três em que se notou<br />
agenesia renal. Em 1829, Mayer <strong>de</strong>screveu duplicações<br />
parciais e completas <strong>da</strong> vagina em quatro natimortos<br />
com várias anomalias, incluindo fen<strong>da</strong> labial e <strong>de</strong>feitos<br />
em membros, cardíacos e urológicos. Em 1910, Küster<br />
<strong>de</strong>screveu vários casos com anatomia genital similar e<br />
observou que anomalias renais e esqueléticas são comuns.<br />
Hauser e Schreiner enfatizaram a importância <strong>de</strong> se distinguir<br />
esta síndrome em relação ao testículo feminilizante,<br />
tendo em vista que ambos são relacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
vaginal (1) .<br />
Etiologia<br />
Embriologia<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento normal do ducto mulleriano em<br />
embrião fêmea, na ausência <strong>de</strong> testosterona e <strong>da</strong> substância<br />
inibitória mullerina (MIS) permite a diferenciação e<br />
Agenesia vaginal congênita:<br />
princípios e tratamento<br />
Jesus Aparecido Souza Pires, Tiago Elias Rosito, Antonio Macedo Jr., Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
Grupo <strong>de</strong> Uropediatria - Disciplina <strong>de</strong> <strong>Urologia</strong> <strong>da</strong> Unifesp-EPM.<br />
<strong>de</strong>senvolvimento dos dutos mullerianos e regressão dos<br />
dutos wollfianos. Os dutos mullerianos são i<strong>de</strong>ntificados<br />
em torno <strong>de</strong> seis semanas em ambos os sexos (masculinos<br />
e femininos). Ao redor <strong>de</strong> nove semanas ele se alonga e<br />
atinge o seio urogenital, formando o canal útero-vaginal.<br />
Os dois dutos mullerianos crescem em sentido craniano<br />
em direção ao fundo uterino, no qual acontece a fusão e o<br />
crescimento é completado em torno <strong>de</strong> 15 e 26 semanas.<br />
Teorias do <strong>de</strong>senvolvimento vaginal<br />
O mecanismo específico que leva a falha do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
vaginal ain<strong>da</strong> não foi eluci<strong>da</strong>do, sendo que<br />
múltiplos eventos po<strong>de</strong>m promover ou interferir no processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento normal. Há evidências <strong>de</strong> que<br />
fatores <strong>de</strong> regulação como sinais autócrino e parácrino e<br />
alterações na matriz orgânica po<strong>de</strong>m estar envolvidos.<br />
Existem duas diferentes teorias organogênicas que sugerem<br />
diferentes explicações para agenesia vaginal, uma<br />
dualística e outra uma teoria unitária. De acordo com a<br />
dualística ou clássica (Koff, 1933), somente parte inferior<br />
<strong>da</strong> vagina é <strong>de</strong> origem ectodérmica, <strong>de</strong>rivando do seio<br />
urogenital e a parte remanescente é <strong>de</strong> origem mulleriana<br />
(mesodérmica). Pela teoria unitária, sugeri<strong>da</strong> por Meyer,<br />
em 1934, e Bulmer, em 1957, e resumi<strong>da</strong> por Hoang-<br />
Ngoc Minh e outros, em 1984, a vagina <strong>de</strong>riva através <strong>de</strong><br />
uma placa vaginal (proliferação do seio urogenital) e conseqüentemente<br />
é <strong>de</strong> origem ectodérmica. O papel do duto<br />
mulleriano no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> vagina é indireto, com<br />
interposição <strong>de</strong> um indutor <strong>de</strong> tecido mesenquimal que<br />
po<strong>de</strong>ria estimular a proliferação craniana <strong>da</strong> placa vaginal.<br />
De acordo com esta teoria, a aplasia vaginal po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> um <strong>de</strong>feito no indutor <strong>de</strong> tecido mesenquimal e<br />
po<strong>de</strong>ria estar associado ou não com um útero funcional (3) .<br />
Transmissão genética<br />
O modo <strong>de</strong> transmissão genética não tem sido bem<br />
documento e tem sido refutado pela discordância na ocor-<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
ência <strong>de</strong> atresia vaginal em três pares <strong>de</strong> gêmeos monozigóticos.<br />
Pacientes com síndrome Mayer-Rokitansky-<br />
Kuster-Hauser (RMKH) e atresia vaginal são fenoticamente<br />
e genoticamente normais, além do “status” hormonal<br />
feminino com tipo cromossômico 46 XX. Contudo,<br />
uma associação familiar sugere uma transmissão autossômica<br />
dominante <strong>de</strong> um gene mutante <strong>de</strong> parente<br />
masculino (5) .<br />
Classificação<br />
Em 1998, a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Americana <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong> Reprodutiva<br />
classificou os tipos <strong>de</strong> anomalias mulleriana e nesta<br />
classificação atresia vaginal ficou com a classe I, que<br />
se refere à hipoplasia e aplasia do útero (4) . A classificação<br />
proposta por Tarry e col., em 1986, que incorpora a classificação<br />
<strong>de</strong> Monie & Sigurdson e a <strong>de</strong> Muller, avalia o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento mulleriano <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> lado através do exame<br />
médico, ultra-som ou laparoscopia e po<strong>de</strong> mostrar<br />
implicações prognósticas em relação à fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> e menstruação.<br />
O grau <strong>de</strong> classificação varia <strong>de</strong> 0 a 4, acompanhado<br />
<strong>da</strong> letra M que se refere ao <strong>de</strong>feito mulleriano, <strong>de</strong>sta<br />
forma 0 se relaciona a <strong>de</strong>feito septal; 1 a anomalia vaginal;<br />
2 a anomalia vaginal e uterina; 3 a anomalia mulleriana<br />
total, que inclui trompas; e 4 existe uma associação<br />
entre anomalia mulleriana e agenesia ovariana (1) .<br />
Quadro clínico<br />
Um dos principais quadros clínicos <strong>da</strong> agenesia vaginal<br />
é a amenorréia primária. Sendo a agenesia vaginal a<br />
segun<strong>da</strong> causa mais comum <strong>de</strong> amenorréia primária em<br />
centros terciários. Contudo, a síndrome RMKH, que, além<br />
do quadro infertili<strong>da</strong><strong>de</strong> e dispauremia, também apresenta<br />
outros quadros clínicos, como dor e massa abdominal,<br />
sepses e distúrbios respiratórios (13) .<br />
A mais comum apresentação <strong>de</strong> atresia vaginal é uma<br />
associação com ausência uterina, mas também ocorre com<br />
anomalia renal, como agenesia renal, rins ectópicos, rins<br />
em ferradura e ectopia cruza<strong>da</strong>, em torno <strong>de</strong> 40% dos<br />
casos e também anomalias do esqueleto são encontra<strong>da</strong>s<br />
em torno <strong>de</strong> 10% a 12% e, entre elas, <strong>de</strong>staca-se a síndrome<br />
Klipel-Feil (<strong>de</strong>senvolvimento aberrante dos somitos<br />
cervicotorácicos) que se manifesta como fusão <strong>da</strong>s vértebras<br />
ou outras variantes e anomalias <strong>de</strong> costelas e membros<br />
e também po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>s, além <strong>de</strong> anormali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
auditivas em torno <strong>de</strong> 4% a 5% (7) .<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
O principal diagnóstico diferencial <strong>de</strong>sta patologia é<br />
a síndrome testículo feminilizante (resistência androgênica)<br />
que tem uma incidência <strong>de</strong> 1 para 20.000 nascidos<br />
vivos, é cromossomicamente XY.<br />
Diagnóstico<br />
Além <strong>da</strong> história clínica e do exame físico, em que se<br />
observa alteração do aspecto vaginal como leves alterações<br />
<strong>de</strong> implantação e “coto curto”, no exame retal apresenta<br />
remanescente <strong>de</strong> tecido fibroso em nível <strong>da</strong> topografia<br />
uterina.<br />
Normalmente se realizam, na avaliação, exames complementares,<br />
como ultra-sonografia renal e pélvica, e em<br />
alguns casos em que a ultra-sonografia não foi eluci<strong>da</strong>tiva<br />
se complementa com ressonância nuclear magnética e/ou<br />
laparoscopia, <strong>da</strong>ndo-se preferência para o primeiro, em<br />
virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser menos invasivo. A avaliação genética e<br />
hormonal também é realiza<strong>da</strong> rotineiramente (7,15) .<br />
Tratamento<br />
Pires, J.A.S. et al.<br />
Normalmente se realizam, na avaliação,<br />
exames complementares, como<br />
ultra-sonografia renal e pélvica, e em<br />
alguns casos em que a ultra-sonografia<br />
não foi eluci<strong>da</strong>tiva se complementa<br />
com ressonância nuclear magnética<br />
e/ou laparoscopia, <strong>da</strong>ndo-se<br />
preferência para o primeiro, em virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ser menos invasivo. A avaliação<br />
genética e hormonal também é realiza<strong>da</strong><br />
rotineiramente.<br />
No século XIX ocorreram gran<strong>de</strong>s avanços no reconhecimento<br />
e tratamento <strong>da</strong> ausência e obstrução vagi-<br />
45
46<br />
Agenesia vaginal congênita: princípios e tratamentos<br />
nal, impulsionado principalmente por cirurgiões como<br />
Dorsey, Dupuytren, Warren e Heppner, sendo que este<br />
último, que tinha um especial interesse por problemas<br />
genitais femininos, utilizou uma incisão em forma <strong>de</strong><br />
“H” na região do septo reto vaginal e forrou a cavi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
neoforma<strong>da</strong> com “flaps” do lábio maior e coxa, prevenindo<br />
o seu fechamento. Segundo relatos dos próprios<br />
cirurgiões, uma <strong>da</strong>s maiores dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> época era<br />
manter a nova cavi<strong>da</strong><strong>de</strong> aberta mesmo com utilização<br />
<strong>de</strong> “mol<strong>de</strong>s” (2) .<br />
Em 1938, Frank propôs uma técnica simples não cirúrgica<br />
<strong>de</strong> realização <strong>de</strong> uma “neovagina” que seria a aplicação<br />
<strong>de</strong> pressão no septo entre a vagina e o reto com um<br />
tubo <strong>de</strong> vidro (2) . No mesmo princípio estaria o procedimento<br />
<strong>de</strong> Wharton-Sheares-George, que utiliza os dutos<br />
mullerianos como orientação e com auxílio <strong>de</strong> um dilatador<br />
Hegar. Outro procedimento que utiliza um plástico<br />
na forma <strong>de</strong> oliva para criar o espaço vaginal, <strong>de</strong>nominado<br />
<strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> Vecchietti’s, mas este procedimento utiliza<br />
o auxílio <strong>da</strong> laparotomia ou na forma modifica<strong>da</strong>, a<br />
laparoscopia (7,24) .<br />
Na transição do século XIX para o XX, o norte-americano<br />
Robert Abbe, <strong>de</strong> Nova York, foi o pioneiro a utilizar<br />
o enxerto <strong>de</strong> pele para a reconstrução, sendo hoje<br />
um dos principais métodos utilizados para reconstrução<br />
vaginal, principalmente após McIndoe, em 1938, relatar<br />
sua experiência com a técnica popularizando-o e<br />
enfatizando suas vantagens <strong>de</strong> facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> realização,<br />
baixa morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> e excelentes resultados finais. Atualmente<br />
uma <strong>da</strong>s técnicas para reconstrução vaginal mais<br />
utiliza<strong>da</strong>, principalmente pelos ginecologistas, ain<strong>da</strong><br />
permanece a técnica <strong>de</strong> McIndoe (2,8) , que sofreu algumas<br />
modificações, como mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> incisão, tecido que<br />
recobre a cavi<strong>da</strong><strong>de</strong> vaginal (tecido <strong>de</strong> pele total x parcial,<br />
membrana amniótica) (11) , local para retirar o enxerto<br />
(coxa, abdome inferior e outros) (12) , mas os princípios<br />
permanecem os mesmos.<br />
No início do século XX, Sneguiff, Baldwin e Schubert<br />
relataram sucessos <strong>de</strong> reconstrução vaginal com utilização<br />
<strong>de</strong> um segmento <strong>de</strong> intestino, mas <strong>de</strong>vido à complexi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> do procedimento este foi pouco utilizado<br />
(2) . Baldwin (10) foi o primeiro a <strong>de</strong>screver uma vaginoplastia<br />
basea<strong>da</strong> em segmento intestinal que, além do<br />
aspecto <strong>de</strong> morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> e complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do procedimento,<br />
o mesmo apresentava um alto índice <strong>de</strong> estenose, principalmente<br />
com utilização <strong>de</strong> íleo, mas com evolução <strong>da</strong><br />
técnica cirurgia e maior utilização <strong>de</strong> intestino grosso,<br />
A tentativa <strong>de</strong> reconstrução vaginal<br />
vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos antigos, procurando<br />
melhorar o <strong>de</strong>sconforto social<br />
e ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> causa<strong>da</strong> nas mulheres e<br />
solucionar as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que esta<br />
população tem para exercer sua sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e buscar formas <strong>de</strong> manter<br />
a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> reprodutiva. Des<strong>de</strong> então,<br />
várias técnicas <strong>de</strong> reconstrução<br />
vaginal são <strong>de</strong>scritas na literatura para<br />
correção <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos ou ausência <strong>da</strong><br />
vagina, tanto <strong>de</strong> etiologia congênita<br />
como adquiri<strong>da</strong>, baseando-se em princípios<br />
cirúrgicos e não cirúrgicos.<br />
principalmente sigmói<strong>de</strong>, houve uma melhora dos resultados<br />
e uma diminuição <strong>da</strong> morbi<strong>da</strong><strong>de</strong>, como <strong>de</strong>monstrado<br />
por Khen-Dunlop et al. (15) , num estudo francês, que<br />
avaliaram 23 pacientes com agenesia vaginal e realizaram<br />
vaginoplastia com segmento sigmói<strong>de</strong> no período <strong>de</strong><br />
15 anos. Kapoor et al. (16) , em estudo com 14 pacientes,<br />
relataram, também, uma diminuição do índice <strong>de</strong> estenose<br />
e referem que a neovagina com segmento intestinal se<br />
apresenta lubrifica<strong>da</strong> e diminuição <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s,<br />
sendo este procedimento o preterido pelos urologistas<br />
pediátricos.<br />
Apesar dos procedimentos anteriores para reconstrução<br />
vaginal relatarem um resultado satisfatório, todos utilizaram<br />
mol<strong>de</strong> para criação e manutenção do espaço <strong>da</strong><br />
neovagina, o que causa <strong>de</strong>sconforto, ain<strong>da</strong> tendo o risco<br />
<strong>de</strong> estenose e fechamento <strong>de</strong>sta cavi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Outras técnicas<br />
que se baseiam em rotação <strong>de</strong> retalhos foram <strong>de</strong>scritas,<br />
na tentativa <strong>de</strong> eliminar a utilização do mol<strong>de</strong> e melhorar<br />
o aspecto e a sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do tecido, em virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> manter a irrigação sangüínea e também uma feri<strong>da</strong><br />
operatória com uma cicatriz aceitável, sem o <strong>de</strong>sconforto<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
e secreção <strong>de</strong> muco <strong>de</strong>sagradável que ocorre nas neovaginas<br />
feitas com intestino. Dessa forma, Wee and Joseph<br />
(Cingapura) (17) <strong>de</strong>monstraram uma nova técnica <strong>de</strong> reconstrução<br />
vaginal que se baseava na utilização <strong>de</strong> “Flaps”<br />
neurovascular pu<strong>de</strong>ndo-coxa em três casos, sendo um caso<br />
<strong>de</strong> exanteração pélvica total e dois casos <strong>de</strong> atresia vaginal<br />
com bons resultados. Outras técnicas com este princípio<br />
foram <strong>de</strong>scritas, como a experiência <strong>de</strong> Woods et al. (18)<br />
que utilizou uma forma modifica<strong>da</strong> do “Flap” <strong>de</strong> Cingapura<br />
e também Giraldo et al. (20) que relataram retalho <strong>da</strong><br />
mesma região para reconstrução vaginal no tratamento<br />
<strong>da</strong> síndrome Mayer-Rokitansky em seus pacientes. Além<br />
do mais, existem outros procedimentos em que o sítio <strong>da</strong><br />
retira<strong>da</strong> do retalho é a pare<strong>de</strong> abdominal como o método<br />
<strong>de</strong> Chen et al. (21) , que utiliza um “Flap” pediculado subcutâneo<br />
<strong>da</strong> pare<strong>de</strong> abdominal inferior e os retalhos miocutâneos<br />
do reto abdominal e grácil que geralmente <strong>de</strong>ixa<br />
uma região cicatricial extensa (22,23) ; estes procedimentos<br />
que utilizam retalho cutâneo, apesar <strong>de</strong> parecer uma<br />
boa alternativa, ain<strong>da</strong> necessitam <strong>de</strong> maiores estudos.<br />
Conclusão<br />
Dessa forma, a tentativa <strong>de</strong> reconstrução vaginal vem<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos antigos, procurando melhorar o <strong>de</strong>sconforto<br />
social e ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> causa<strong>da</strong> nas mulheres e solucionar<br />
as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que esta população tem para exercer<br />
sua sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e buscar formas <strong>de</strong> manter a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
reprodutiva. Des<strong>de</strong> então, várias técnicas <strong>de</strong> reconstrução<br />
vaginal são <strong>de</strong>scritas na literatura para correção <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>feitos ou ausência <strong>da</strong> vagina, tanto <strong>de</strong> etiologia congênita<br />
como adquiri<strong>da</strong>, baseando-se em princípios cirúrgicos<br />
e não cirúrgicos. Apesar dos vários tipos <strong>de</strong> tratamentos<br />
apresentados, nenhum <strong>de</strong>les configura como consenso<br />
no tratamento <strong>de</strong>sta patologia.<br />
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47
48<br />
R E V I S Ã O<br />
Introdução<br />
O úraco é um canal que me<strong>de</strong> <strong>de</strong> 5 a 10 cm e comunica<br />
o alantói<strong>de</strong> (estrutura liga<strong>da</strong> a parte posterior do intestino<br />
do embrião, auxiliando na formação <strong>da</strong> placenta através<br />
<strong>de</strong> seus vasos) a bexiga fetal primitiva. É formado<br />
por três cama<strong>da</strong>s: o lúmen, composto <strong>de</strong> epitélio transicional<br />
ou cubói<strong>de</strong>; a cama<strong>da</strong> submucosa; e a cama<strong>da</strong> externa<br />
muscular lisa. Durante o quarto e o quinto mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
fetal a bexiga <strong>de</strong>sce para a pelve, enquanto<br />
o lúmen do úraco é progressivamente obliterado até a<br />
formação <strong>de</strong> um cordão fibromuscular, unindo o domo<br />
<strong>da</strong> bexiga ao umbigo. Este cordão fibromuscular passa a<br />
ser conhecido como o ligamento umbilical mediano (1) .<br />
Apesar do fechamento do úraco ocorrer até o terceiro trimestre<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento fetal, autópsias em adultos<br />
mostram cerca <strong>de</strong> 30% <strong>de</strong> presença <strong>de</strong> um lúmen microscópico.<br />
Esta falha <strong>da</strong> obliteração proporciona uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> anomalias, compreen<strong>de</strong>ndo úraco patente, cisto<br />
<strong>de</strong> úraco, divertículo úraco-vesical e a formação <strong>de</strong><br />
neoplasias benignas e malignas (2) .<br />
O carcinoma <strong>de</strong> úraco é uma doença extremamente<br />
rara e na maioria <strong>da</strong>s vezes se apresenta como uma doença<br />
letal. Ocorre geralmente na junção remanescente do<br />
úraco com o domo vesical e, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> sua mucosa<br />
composta por células transicionais, a maioria dos carcinomas<br />
do úraco são a<strong>de</strong>nocarcinomas (3) . Isso se <strong>de</strong>ve à<br />
provável metaplasia <strong>de</strong>ste epitélio transicional, com subseqüente<br />
malignização do mesmo (2) .<br />
A estimativa <strong>de</strong> incidência anual <strong>de</strong>ste tumor na população<br />
em geral é <strong>de</strong> 1 a 5 milhões <strong>de</strong> indivíduos, representando<br />
apenas 0,01% <strong>de</strong> todos os tumores malignos em<br />
adultos (2) .<br />
O tumor maligno <strong>de</strong> úraco compreen<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 0,17%<br />
a 0,34% <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as neoplasias <strong>de</strong> bexiga, representando<br />
<strong>de</strong> 20% a 39% dos a<strong>de</strong>nocarcinomas vesicais (4) . Por sua<br />
vez, a incidência estima<strong>da</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinoma primário<br />
A<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco<br />
Rodrigo K. Krebs, Daniel Suslik Zylbersztejn, João Manzano,<br />
Cássio Andreoni, Val<strong>de</strong>mar Ortiz<br />
Grupo <strong>de</strong> Uro-oncologia. Disciplina <strong>de</strong> <strong>Urologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Escola</strong> <strong>Paulista</strong> <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong> – Unifesp-EPM.<br />
está em torno <strong>de</strong> 0,5% a 2% <strong>de</strong> todos os tumores malignos<br />
<strong>de</strong> bexiga. A gran<strong>de</strong> maioria dos a<strong>de</strong>nocarcinomas <strong>de</strong><br />
úraco é do tipo mucinoso, sendo também encontrado tipos<br />
histológicos ain<strong>da</strong> menos comuns, como carcinoma<br />
<strong>de</strong> células transicionais, carcinoma <strong>de</strong> células escamosas,<br />
carcinoma <strong>de</strong> pequenas células e sarcomas (5,6) .<br />
Embora existam poucos estudos com casuísticas sobre<br />
carcinoma <strong>de</strong> úraco, observa-se que os homens são<br />
comprometidos duas vezes mais que as mulheres, afetando<br />
indivíduos com i<strong>da</strong><strong>de</strong> média <strong>de</strong> 56 anos (5) . Em cerca<br />
<strong>de</strong> 33% dos casos os indivíduos afetados com carcinoma<br />
<strong>de</strong> úraco têm menos <strong>de</strong> 55 anos (1) .<br />
Na literatura são i<strong>de</strong>ntificados três tipos <strong>de</strong> sistemas<br />
<strong>de</strong> estadiamento do tumor <strong>de</strong> úraco: Sheldon, Henly e<br />
Ontário. Dentre estas, <strong>de</strong>stacam-se as duas primeiras, sendo<br />
a <strong>de</strong> Henly mais simplifica<strong>da</strong> e, posteriormente, modifica<strong>da</strong><br />
pela clínica Mayo (7) (Tabela 1).<br />
Fatores <strong>de</strong> risco<br />
Os fatores <strong>de</strong> risco para o <strong>de</strong>senvolvimento do a<strong>de</strong>nocarcinoma<br />
<strong>de</strong> úraco são pouco <strong>de</strong>finidos e não está claro<br />
se carcinogênios na bexiga exercem alguma ação como<br />
no carcinoma urotelial (8) . Entretanto, mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão<br />
logística mostram que dois fatores têm impacto no<br />
risco: i<strong>da</strong><strong>de</strong> superior a 55 anos (risco três vezes maior) e<br />
hematúria (risco <strong>de</strong> 17 vezes) (1) .<br />
Quadro clínico<br />
Os sintomas clínicos apresentados são hematúria, sintomas<br />
“irritativos” (disúria, urgência e freqüência<br />
miccional) e dor suprapúbica. Pelo fato do tumor estar<br />
localizado numa região relativamente silenciosa, os pacientes<br />
vão apresentar sintomas num curso tardio <strong>da</strong> doença.<br />
Dentre os sintomas, a hematúria é a mais freqüente,<br />
presente em até 80% dos casos (1,9) . Observou-se que nos<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
Tabela 1 - Classificações <strong>de</strong> Shelton e Henly<br />
Classificação <strong>de</strong> Sheldon<br />
Estadio Definição<br />
Estádio I Câncer <strong>de</strong> úraco confinado a mucosa<br />
Estádio II Câncer <strong>de</strong> úraco com invasão confina<strong>da</strong> ao úraco<br />
Estádio IIIA Câncer <strong>de</strong> úraco local com extensão até a bexiga<br />
Estádio III B Câncer <strong>de</strong> úraco local com extensão até pare<strong>de</strong> abdominal<br />
Estádio IIIC Câncer <strong>de</strong> úraco local com extensão até o peritônio<br />
Estádio IIID Câncer <strong>de</strong> úraco local com extensão para outros órgãos, exceto bexiga<br />
Estádio IVA Metástases para linfonodos<br />
Estádio IVB<br />
Sheldon et al., 1984.<br />
Metástases para outros órgãos<br />
Classificação <strong>de</strong> Henly (modificado pela Clínica Mayo)<br />
Estádio Definição<br />
Estádio I Câncer <strong>de</strong> úraco confinado ao úraco e à bexiga<br />
Estádio II Câncer <strong>de</strong> úraco além <strong>da</strong> pare<strong>de</strong> muscular do úraco e <strong>da</strong> bexiga<br />
Estádio III Câncer <strong>de</strong> úraco local com extensão para linfonodos<br />
Estádio IV<br />
A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Ashley<br />
Câncer <strong>de</strong> úraco local com extensão para outros órgãos e linfonodos não regionais<br />
(1) .<br />
pacientes que apresentam hematúria o risco para maligni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
aumenta em 17 vezes (1) . Embora 90% dos a<strong>de</strong>nocarcinomas<br />
<strong>de</strong> úraco são produtores <strong>de</strong> mucina, a mucosúria<br />
está presente em somente 9% dos casos. Porém,<br />
quando presente, é altamente sugestiva <strong>da</strong> presença <strong>de</strong><br />
doença provin<strong>da</strong> do úraco (9) . Alguns casos po<strong>de</strong>m apresentar<br />
massa suprapúbica palpável e secreção mucinosa<br />
ou hemática pelo umbigo, evi<strong>de</strong>nciando a patência do<br />
úraco. Na Tabela 2 estão ilustrados os sintomas e sua freqüência.<br />
Diagnóstico<br />
O exame inicialmente solicitado é o ultra-som. Os<br />
achados ultra-sonográficos mostram espessamento <strong>da</strong><br />
pare<strong>de</strong> anterior <strong>da</strong> bexiga, muitas vezes com contato com<br />
a pare<strong>de</strong> anterior do abdome. Após um achado com esta<br />
característica no ultra-som, está indicado prosseguir a avaliação<br />
através <strong>de</strong> tomografia computadoriza<strong>da</strong>. Num estudo<br />
com 25 pacientes com a<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco, os<br />
achados tomográficos foram massa mista (sólido-cística)<br />
em 84% e completamente sóli<strong>da</strong> em 16%. Em outro trabalho<br />
foi observado que 25% dos tumores tinham componentes<br />
císticos (1) . Em 72% dos casos havia presença <strong>de</strong><br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Tabela 2 - Relação dos sintomas mais freqüentes em<br />
pacientes com a<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco<br />
Sintomas Freqüência<br />
Hematúria 80%<br />
Dor suprapúbica 70%<br />
Sintomas “irritativos” 40-50%<br />
Mucosúria 9%<br />
calcificações, variando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> puntiformes até extensas<br />
áreas calcifica<strong>da</strong>s (2) . A invasão <strong>da</strong> pare<strong>de</strong> vesical foi possível<br />
ser <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong> em 52% dos casos, apesar <strong>de</strong> 92% dos<br />
pacientes terem comprometimento <strong>da</strong> pare<strong>de</strong> vesical. A<br />
Figura 1 ilustra achados do a<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco na<br />
tomografia computadoriza<strong>da</strong>. Na ressonância magnética<br />
o achado principal é <strong>de</strong> hipersinal em T2 junto a cúpula<br />
vesical. A intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do hipersinal é proporcional a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mucina no interior do tumor (10) .<br />
Tratamento<br />
Krebs, R.K. et al.<br />
Cirurgia<br />
O principal tratamento do a<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco é<br />
49
Figura 1 - Tomografia computadoriza<strong>da</strong> <strong>de</strong> abdome com contraste<br />
endovenoso, mostrando o tumor na pare<strong>de</strong> vesical anterior com continui<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
para a pare<strong>de</strong> abdominal.<br />
Figura 2 - Peça cirúrgica <strong>de</strong> ressecção parcial <strong>de</strong> bexiga com o tumor<br />
(na extremi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>), úraco, aponeurose posterior, peritônio<br />
e cicatriz umbilical (extremi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> direita).<br />
a remoção cirúrgica. Baseado nos resultados <strong>de</strong> séries<br />
retrospectivas, a cistectomia parcial é freqüentemente<br />
usa<strong>da</strong> como técnica <strong>de</strong> eleição, pois, comparativamente,<br />
os resultados a longo prazo não diferem entre cistectomia<br />
radical e parcial (9,11) . A cirurgia <strong>de</strong>ve englobar a ressecção<br />
ampla <strong>da</strong> cúpula vesical com ressecção em bloco do úraco,<br />
incluindo o umbigo, fáscia posterior do músculo reto abdominal,<br />
peritônio adjacente e a gordura perivesical, esten<strong>de</strong>ndo-se<br />
até porção lateral <strong>da</strong> pelve (7) . A Figura 2<br />
mostra a peça cirúrgica, sendo evi<strong>de</strong>nciado o umbigo, o<br />
úraco e a cúpula <strong>de</strong> bexiga. A linfa<strong>de</strong>nectomia permanece<br />
controversa e, quando realiza<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ve envolver as ca<strong>de</strong>ias<br />
linfono<strong>da</strong>is ilíaca comum, ilíaca externa, obturatória<br />
e hipogástrica (7) . A presença <strong>de</strong> metástases em linfonodos<br />
é <strong>de</strong> 16% (7) .<br />
As taxas <strong>de</strong> cura com cistectomia parcial extensa chegam<br />
a 70% nos tumores clinicamente localizados e a 80%<br />
50<br />
A<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco<br />
Tabela 3 - Sobrevi<strong>da</strong> livre <strong>de</strong> doença após cirurgia –<br />
séries <strong>de</strong> literatura<br />
Autor Nº <strong>de</strong> Vivos Seguimento<br />
pacientes (anos)<br />
Sheldon, 1984 5 3 (60%) 5<br />
Henly, 1993 34 15 (43%) 5<br />
Radtke, 2003 35 16 (46%) 5<br />
Ashley, 2006 60 29 (49%) 5<br />
Herr, 2007 50 35 (70%) 5<br />
A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Herr (7) .<br />
Tabela 4 - Localização <strong>da</strong>s metástases conforme momento<br />
diagnóstico<br />
Metástases no diagnóstico<br />
Fígado 46%<br />
Pulmão 31%<br />
Ossos 31%<br />
Carcinomatose peritoneal 15%<br />
Linfonodo<br />
A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Ashley<br />
7%<br />
(1) .<br />
Metástases no seguimento<br />
Osso 37%<br />
Bexiga 34%<br />
Pulmão 28%<br />
Linfonodo 18%<br />
Pare<strong>de</strong> abdominal<br />
A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Ashley<br />
15%<br />
(1) .<br />
nos casos em que o tumor está confinado à peça cirúrgica<br />
(7) . Pacientes com doença confina<strong>da</strong> a bexiga, úraco e<br />
gordura periuracal têm sobrevi<strong>da</strong>, em cinco anos, <strong>de</strong> 88%,<br />
ao passo que nos casos em que existe invasão <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
peritoneal não há sobrevi<strong>da</strong> em cinco anos (7) . Na Tabela<br />
3 são apresentados os resultados oncológicos após cirurgia.<br />
Cistectomia parcial vi<strong>de</strong>olaparoscópica<br />
Existem na literatura vários relatos <strong>de</strong> casos com utilização<br />
<strong>da</strong> técnica laparoscópica (4,12-14) . Apesar <strong>de</strong> sua completa<br />
reprodutibili<strong>da</strong><strong>de</strong> como na técnica aberta, os estudos<br />
são recentes e não há seguimento dos pacientes a longo<br />
prazo que mostre resultados oncológicos iguais ou melhores<br />
que a cirurgia convencional.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
Recorrência e metástases<br />
Os principais fatores que predizem a sobrevi<strong>da</strong> são o<br />
grau do tumor e a margem cirúrgica. Resultados <strong>de</strong> séries<br />
retrospectivas mostram que nos pacientes em que não<br />
havia sido realiza<strong>da</strong> a exérese do úraco e do umbigo, a<br />
sobrevi<strong>da</strong> foi menor (1,7) . A recidiva local costuma ocorrer<br />
em média cerca <strong>de</strong> cinco meses após a cirurgia (1) . Numa<br />
série <strong>de</strong> 53 pacientes com a<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco não<br />
mestastático, 8 (15%) tiveram recorrência local. Destes,<br />
seis foram submetidos a nova cirurgia e dois a radioterapia.<br />
Quatro pacientes permaneceram livres <strong>de</strong> doença por<br />
14,8 anos, sendo todos do grupo <strong>de</strong> cirurgia (1) .<br />
Entre 16% e 32% dos pacientes já apresentam metástases<br />
no momento do diagnóstico (1,7) . Os locais mais freqüentes <strong>da</strong>s<br />
metástases são fígado, pulmão e ossos. A Tabela 4 mostra a<br />
freqüência <strong>de</strong> metástases antes e após o diagnóstico.<br />
As metástases ocorrem em 59% dos casos em algum<br />
ponto <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> doença. A maioria dos pacientes<br />
(92%) morre em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong>s complicações causa<strong>da</strong>s<br />
por estas metástases. O tempo entre a <strong>de</strong>scoberta <strong>da</strong><br />
metástase e óbito varia <strong>de</strong> acordo com o estádio clínico,<br />
mas é, em média, <strong>de</strong> 12 meses (1) .<br />
Tratamento adjuvante<br />
Quimioterapia<br />
A quimioterapia tem sido reserva<strong>da</strong> para os casos <strong>de</strong><br />
doença metastática ou recidiva local. Embora não existam<br />
regimes <strong>de</strong> quimioterapia <strong>de</strong>finidos para o a<strong>de</strong>nocarcinoma<br />
<strong>de</strong> úraco, alguns tumores respon<strong>de</strong>m a regimes<br />
com cisplatina (3) . Outros regimes também foram <strong>de</strong>scritos<br />
e incluem doxorrubicina, ciclofosfami<strong>da</strong>, 5-fluoracil<br />
e paclitaxel, mas não houve diferença na sobrevi<strong>da</strong> entre<br />
grupos que receberam quimioterapia e grupos que não<br />
receberam (1) . Num estudo com 39 pacientes, dois permaneceram<br />
vivos por 4,2 e 7,1 anos, recebendo regimes com<br />
gencitabina e cisplatina no primeiro e cisplatina, metotrexato,<br />
vinblastina e doxorrubicina no segundo (1) .<br />
Radioterapia<br />
Alguns relatos <strong>de</strong> caso referem utilização <strong>da</strong> radioterapia<br />
geralmente combina<strong>da</strong> com cirurgia e quimioterapia<br />
em pacientes com recidiva local sem, entretanto, apresentar<br />
resultados <strong>de</strong> benefício <strong>de</strong> seu uso (1) . Não existem<br />
evidências <strong>de</strong> benefício clínico do uso <strong>de</strong> radioterapia<br />
como tratamento primário do a<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco (1) .<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Conclusão<br />
Embora o a<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> úraco seja uma doença<br />
rara e sua apresentação clínica diversa, o urologista <strong>de</strong>ve<br />
sempre estar atento a pacientes que apresentem dor<br />
suprapúbica e espessamento <strong>da</strong> cúpula vesical em exames<br />
<strong>de</strong> imagem. Até o momento, a cirurgia constitui o<br />
único tratamento que po<strong>de</strong> oferecer cura ao paciente. Para<br />
o sucesso <strong>da</strong> cirurgia, princípios fun<strong>da</strong>mentais como<br />
exérese <strong>de</strong> todo o trajeto do úraco, cicatriz umbilical e<br />
margens vesicais negativas <strong>de</strong>vem ser alcançados. Até o<br />
momento, tratamentos adjuvantes como quimioterapia e<br />
radioterapia não têm atingido bons resultados.<br />
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51
52<br />
R E V I S Ã O<br />
Introdução<br />
Tradicionalmente, há mais <strong>de</strong> cinco déca<strong>da</strong>s o método<br />
anestésico local mais utilizado para a uretra peniana<br />
é o bloqueio com gel <strong>de</strong> lidocaína 2% (1) . Esta técnica permite,<br />
inclusive, realizar cirurgias endoscópicas, como a<br />
uretrotomia interna (2) . Em 2002, Ye e Rong-Gui publicaram<br />
uma nova anestesia para as uretrotomias internas:<br />
a técnica intracorpo esponjosa. Após a aplicação <strong>de</strong><br />
3 ml <strong>de</strong> lidocaína 1% na glan<strong>de</strong>, a anestesia <strong>da</strong> uretra<br />
peniana era obti<strong>da</strong>. Tal técnica se mostrou eficaz e segura,<br />
possibilitando a realização <strong>de</strong> cirurgias em hospitaldia,<br />
o que minimizou custo e permitiu a alta do paciente<br />
no mesmo dia (3) . O mesmo grupo chinês publicou outros<br />
dois relatos, inclusive tentando esten<strong>de</strong>r o uso <strong>de</strong>sta técnica<br />
anestésica inovadora para outras cirurgias urológicas<br />
(4,5) . O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é mostrar a nossa experiência<br />
com esta anestesia, procurando <strong>de</strong>monstrar os<br />
limites <strong>da</strong> anestesia, a sua segurança e os outros casos em<br />
que o seu emprego foi possível.<br />
Métodos<br />
Anestesia intracorpo esponjosa em<br />
procedimentos urológicos penianos e uretrais<br />
Daniel Damião Gomes Seabra 1 , Eliney Ferreira Faria 1 , Marcelo Bianco 1 ,<br />
Roberto Machado 1 , Rodrigo Quarteiro 1 , Rogério Teodósio 2<br />
1. Médico urologista. 2. Enfermeiro <strong>da</strong> Uro-oncologia. Serviço <strong>de</strong> Uro-oncologia do Hospital <strong>de</strong><br />
Câncer <strong>de</strong> Barretos Fun<strong>da</strong>ção Pio XII - Barretos - SP.<br />
Entre novembro <strong>de</strong> 2002 e outubro <strong>de</strong> 2007 foi realizado<br />
estudo prospectivo, utilizando a técnica anestésica<br />
intracorpo esponjosa em todos os pacientes que necessitaram<br />
uretrotomia interna ambulatorial e outras cirurgias<br />
com envolvimento <strong>da</strong> glan<strong>de</strong> ou <strong>da</strong> uretra peniana. Após<br />
consentimento informado, injetava-se 3 ml <strong>de</strong> lidocaína<br />
1% na glan<strong>de</strong>, num ângulo <strong>de</strong> 45º e aguar<strong>da</strong>ndo-se cinco<br />
minutos para a realização do procedimento. Especial atenção<br />
foi <strong>da</strong><strong>da</strong> a envetuais complicações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cardiorrespiratória<br />
com a disponibilização <strong>de</strong> material <strong>de</strong> emergência<br />
médica e monitorização. Ao fim do procedimento<br />
a avaliação <strong>da</strong> dor era feita com uso <strong>de</strong> escala visual e<br />
questionário para avaliar se a anestesia havia sido obti<strong>da</strong><br />
e se o paciente aceitaria o método novamente, caso necessário.<br />
Procurou-se, ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong>finir os limites <strong>da</strong> dor, tanto<br />
na glan<strong>de</strong> (limite distal) como na uretra (limite proximal).<br />
Resultados<br />
Num total <strong>de</strong> 353 pacientes nos quais a técnica foi<br />
utiliza<strong>da</strong>, 45 foram submetidos à cauterização <strong>de</strong><br />
condiloma peniano glan<strong>da</strong>r, 31 pacientes portadores <strong>de</strong><br />
estenose <strong>da</strong> uretra peniana submetidos à uretrotomia interna,<br />
28 meatotomias uretrais e 5 ressecções <strong>de</strong> neoplasias<br />
malignas. Outros 244 pacientes submetidos à cistoscopia<br />
receberam a técnica como método complementar à anestesia<br />
tópica tradicional com lidocaína gel 2% intra-uretral.<br />
Anestesia glando-uretral foi obti<strong>da</strong> em todos os pacientes.<br />
Deste total, cinco se recusaram a repetir a técnica<br />
caso necessário. Em sete foram necessárias injeções adicionais<br />
<strong>de</strong> 1 ml próximo ao freio peniano, o que <strong>de</strong>fine<br />
esta região como o limite distal do alcance <strong>da</strong> anestesia.<br />
Todos pacientes submetidos à cistoscopia relataram dor<br />
quando o aparelho atingia a uretra posterior e o colo<br />
vesical, <strong>de</strong>finindo esta região como os limites proximais<br />
<strong>de</strong> alcance <strong>da</strong> anestesia com a lidocaína. Não houve complicações<br />
ou efeitos colaterais e todos os pacientes receberam<br />
alta uma hora após o procedimento.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
Discussão<br />
A urologia, como as <strong>de</strong>mais especiali<strong>da</strong><strong>de</strong>s médicas,<br />
tem a preocupação constante <strong>de</strong> reduzir os custos do tratamento<br />
<strong>de</strong> seus pacientes, mantendo a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do atendimento<br />
(6) . Esta é uma estratégia que vem <strong>de</strong>senvolvendo-se<br />
nas últimas déca<strong>da</strong>s (7) . Com o aumento progressivo<br />
dos gastos hospitalares, inclusive com restrições às<br />
internações e ao uso <strong>da</strong>s salas cirúrgicas, assim como a<br />
elevação do custo <strong>de</strong> pessoal, qualquer estratégia que<br />
melhore a relação custo-benefício é sempre bem-vin<strong>da</strong>.<br />
O uso <strong>de</strong> procedimentos e cirurgias ambulatoriais minimamente<br />
invasivas, o aprimoramento <strong>da</strong>s drogas e técnicas<br />
anestésicas locais e a evolução <strong>da</strong> endoscopia urológica<br />
têm contribuído muito nesse sentido (8,9) .<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento e posterior uso <strong>da</strong> sedoanalgesia<br />
nas cirurgias urológicas <strong>de</strong> menor porte, tanto endoscópicas<br />
quanto abertas, foi um dos marcos na tentativa <strong>de</strong><br />
se melhorar a relação custo-benefício. Ela permitia manter<br />
a eficácia anestésica ao mesmo tempo em que a alta<br />
era precoce, havia enorme redução <strong>de</strong> custos e aceitação<br />
por até 93% dos pacientes. Mas ain<strong>da</strong> era necessária a<br />
presença do anestesista e a técnica não tinha segurança<br />
confirma<strong>da</strong> em crianças e pacientes com comorbi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
importantes, <strong>de</strong>vido ao risco anestésico elevado nestes<br />
grupos (9) .<br />
Tradicionalmente há mais <strong>de</strong> cinco déca<strong>da</strong>s se emprega<br />
a lidocaína na forma gel, por via uretral, para a<br />
anestesia <strong>de</strong> cistoscopias e dilatações uretrais (1) . A<strong>de</strong>mais,<br />
há pouco mais <strong>de</strong> duas déca<strong>da</strong>s esta mesma técnica tem<br />
sido emprega<strong>da</strong> para uretrotomias endoscópicas (2) . Intrigante<br />
é, porém, o questionamento que existe sobre a fórmula<br />
química <strong>da</strong> lidocaína utiliza<strong>da</strong>, por via uretral, ser a<br />
responsável pelo incômodo durante a instilação, já que<br />
quando comparado ao uso do gel aquoso, sem a droga<br />
anestésica, este último proporcionou <strong>de</strong>sconforto significativamente<br />
menor (10) . Uma alternativa para minimizar tal<br />
incômodo po<strong>de</strong> ser a instilação uretral do gel <strong>de</strong> lidocaína<br />
2% resfriado a 4°C (11) .<br />
Há cinco anos Ye e Rong-Gui publicaram uma técnica<br />
<strong>de</strong> anestesia local inédita (3) . Batizaram-na <strong>de</strong> “intracorpus<br />
spongiosum anesthesia”, ou seja, a aplicação <strong>de</strong><br />
anestesia no corpo esponjoso, mais precisamente através<br />
<strong>da</strong> injeção lenta, em ângulo <strong>de</strong> 45°, <strong>de</strong> 3 ml <strong>de</strong> lidocaína<br />
1% na glan<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes pacientes. Isto na tentativa <strong>de</strong><br />
anestesiar a glan<strong>de</strong> e a uretra <strong>de</strong> homens que seriam submetidos<br />
à uretrotomia anterior por estenose uretral. Ape-<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Seabra, D.D.G. et al.<br />
sar <strong>de</strong> ser uma série pequena, <strong>de</strong> 23 pacientes, 95,7% não<br />
tiveram dor ou <strong>de</strong>sconforto, caracterizando o sucesso<br />
<strong>de</strong>ste método inovador. Calcularam, também, a duração<br />
do tempo anestésico em 90 minutos. Cerca <strong>de</strong> dois meses<br />
<strong>de</strong>pois <strong>da</strong> publicação <strong>de</strong>ste relato original iniciamos nossa<br />
experiência, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início se mostrou muito<br />
satisfatória.<br />
A uretra anterior humana e a glan<strong>de</strong> são um único<br />
órgão, formado por um tubo central epitelizado e, próximo<br />
à membrana basal, por cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> tecido conectivo<br />
que contém os sinusói<strong>de</strong>s vasculares do corpo esponjoso,<br />
além <strong>de</strong> fibras musculares lisas (12) . Esta anatomia intrínseca<br />
po<strong>de</strong> explicar o porquê <strong>de</strong> se aplicar a lidocaína e a<br />
mesma se difundir por to<strong>da</strong> a glan<strong>de</strong> e corpo esponjoso,<br />
anestesiando, concomitantemente, a uretra anterior. Os<br />
princípios <strong>de</strong>sta difusão provavelmente se assemelham<br />
aos do tradicional bloqueio <strong>de</strong> Bier para anestesia regional<br />
intravenosa muito usa<strong>da</strong> em cirurgias ortopédicas, mas<br />
sem os inconvenientes do uso do torniquete e <strong>de</strong> volumes<br />
elevados <strong>de</strong> anestésico (13) .<br />
Ye e Rong-Gui continuaram a empregar a técnica, proporcionando<br />
a extensão não só para uretrotomias internas,<br />
como também para outros procedimentos, além <strong>de</strong><br />
verificar qual o tempo para se obter a anestesia e qual o<br />
impacto do emprego <strong>de</strong> uma injeção no pênis (4,5) . Utilizaram<br />
uma escala visual para averiguar a experiência subjetiva<br />
<strong>da</strong> dor nestes homens. Verificaram que a anestesia<br />
era obti<strong>da</strong> imediatamente após a aplicação <strong>da</strong> injeção,<br />
provavelmente por difusão <strong>da</strong> lidocaína no corpo esponjoso,<br />
antes que a mesma atingisse a circulação sangüínea.<br />
O ato <strong>da</strong> injeção glan<strong>da</strong>r causou dor instantânea<br />
menor em 88% dos homens e dor mo<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> nos <strong>de</strong>mais.<br />
Quando questionados, estes últimos referiram que a dor<br />
proporciona<strong>da</strong> pela injeção era tolerável e que, inclusive,<br />
po<strong>de</strong>ria ser ignora<strong>da</strong>. Nestes relatos, concluíram que era<br />
possível submeter os pacientes a cirurgias menos dispendiosas,<br />
minimamente invasivas, ambulatoriais, com anestesia<br />
local pouco dolorosa, que permitia alta precoce, logo<br />
após o procedimento. Ressaltaram que eles antes <strong>de</strong>veriam<br />
ser internados e submetidos à anestesia regional, com<br />
no mínimo um dia <strong>de</strong> internação (4,5) .<br />
Eventuais questionamentos po<strong>de</strong>riam surgir com o<br />
emprego <strong>de</strong> uma droga anestésica em um tecido ricamente<br />
vascularizado como o corpo esponjoso, principalmente<br />
em relação à segurança e toxici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas a farmacocinética<br />
<strong>da</strong> lidocaína é conheci<strong>da</strong> há vários anos e a droga é<br />
emprega<strong>da</strong> por via endovenosa inclusive no tratamento<br />
53
54<br />
Anestesia intracorpo esponjosa em procedimentos urológicos penianos e uretrais<br />
<strong>de</strong> arritmias cardíacas e do infarto do miocárdio (14-16) .<br />
Houve tentativas anteriores <strong>de</strong> se utilizar anestesia<br />
tópica para meatotomias uretrais. Uma <strong>de</strong>las através do<br />
uso <strong>de</strong> um creme com a associação <strong>de</strong> lidocaína e prilocaína<br />
(EMLA ® ). Após a aplicação local do creme por uma<br />
hora, a pequena cirurgia foi realiza<strong>da</strong> com sucesso, sem<br />
dor, em 95% dos pacientes. Pontos contrários ao uso <strong>de</strong>ste<br />
creme são a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se usar pouco anestésico,<br />
do mesmo po<strong>de</strong>r se espalhar, per<strong>de</strong>ndo o contato com o<br />
local a ser operado, <strong>da</strong> absorção errática e variável <strong>de</strong><br />
indivíduo para indivíduo e dos riscos <strong>de</strong> se usá-la intrauretral,<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong> à possível toxici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> prilocaína (17) .<br />
Nosso trabalho é importante porque proporcionou<br />
contribuições ao entendimento e uso <strong>de</strong>sta técnica anestésica<br />
inovadora. Conseguimos <strong>de</strong>finir os limites proximais<br />
(uretra membranosa) e distais (frênulo peniano) <strong>de</strong><br />
alcance <strong>da</strong> lidocaína ao se difundir pelo corpo esponjoso.<br />
Verificamos que é possível usá-la em procedimentos mais<br />
simples, como as cistoscopias <strong>de</strong> diagnóstico ou controle,<br />
minimizando a dor e o <strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> quando se utiliza<br />
apenas a lidocaína gel 2% como droga anestésica intrauretral.<br />
A utilização <strong>da</strong> técnica intracorpo esponjosa também<br />
fez com que <strong>de</strong>ixássemos <strong>de</strong> utilizar a se<strong>da</strong>ção venosa<br />
nos pacientes, o que sabi<strong>da</strong>mente gerava risco maior<br />
<strong>de</strong> comorbi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, especialmente as respiratórias.<br />
Intencionamos aprimorar a técnica, visando diminuir<br />
e mesmo acabar com a dor <strong>da</strong> injeção. Para este propósito,<br />
talvez a associação prévia do creme <strong>de</strong> lidocaínaprilocaína<br />
no exato local em que se <strong>da</strong>rá a injeção ou o<br />
uso <strong>de</strong> agulhas <strong>de</strong> injeção mais finas, como as usa<strong>da</strong>s pelos<br />
<strong>de</strong>ntistas, possam auxiliar-nos nesse sentido.<br />
Conclusões<br />
A técnica intracorpo esponjosa se mostrou factível,<br />
eficaz e segura quando a intenção foi anestesiar a glan<strong>de</strong><br />
ou a uretra anterior. Próximo ao freio foi necessária a injeção<br />
adicional <strong>de</strong> anestésico e o limite proximal estabelecido<br />
foi a uretra membranosa. Não ocorreram efeitos<br />
colaterais importantes e a aceitação por parte dos pacien-<br />
tes foi enorme. Houve diminuição <strong>de</strong> custos, pois os pacientes<br />
não necessitaram internação e receberam alta uma<br />
hora após o procedimento.<br />
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Pt 2):857-8; discussion 858-9.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
R E V I S Ã O<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Imunoterapia no câncer <strong>de</strong> próstata<br />
O tratamento sistêmico para câncer <strong>de</strong> próstata atualmente<br />
consiste em terapia anti-hormonal e agentes<br />
citostáticos. A <strong>de</strong>privação androgênica, apesar <strong>de</strong> ser um<br />
tratamento efetivo para doença recorrente, possui uma<br />
duração limita<strong>da</strong>, pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tumor hormônio-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
No manejo dos pacientes hormôniorefratários,<br />
a quimioterapia é a principal alternativa, porém,<br />
ain<strong>da</strong> até o momento, com poucos benefícios na<br />
sobrevi<strong>da</strong> <strong>de</strong>sses pacientes.<br />
Des<strong>de</strong> 2006 novos estudos com vacinas antitumorais<br />
têm sido <strong>de</strong>senvolvidos, buscando estratégias adicionais<br />
<strong>de</strong> tratamento para prevenir a progressão dos tumores localizados<br />
para avançados, além <strong>de</strong> melhorar a sobrevi<strong>da</strong><br />
dos tumores metastáticos.<br />
Imunoterapia-alvo contra o câncer tem como objetivo<br />
atingir os mecanismos <strong>de</strong> resposta imune celular e humoral<br />
para específico reconhecimento e eliminação <strong>de</strong> células<br />
tumorais. O braço mais promissor <strong>da</strong> imunoterapia<br />
específica representa a vacinação, buscando estimular<br />
resposta <strong>da</strong>s células T antitumorais com a administração<br />
<strong>de</strong> anticorpos.<br />
A imunoterapia basea<strong>da</strong> nas células T surgiu <strong>da</strong> observação<br />
<strong>de</strong> que células T citotóxicas CD8 + têm alta capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> reconhecer e <strong>de</strong>struir células tumorais que<br />
expõem peptí<strong>de</strong>os <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> antígenos tumor-associados<br />
no complexo HLA classe I.<br />
Baseado no papel crucial <strong>de</strong>ssas células T na eliminação<br />
<strong>de</strong> células tumorais, atenções têm se voltado para a<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> proteínas associa<strong>da</strong>s ao tumor que po<strong>de</strong>m<br />
funcionar como alvos. O câncer <strong>de</strong> próstata po<strong>de</strong> ser<br />
consi<strong>de</strong>rado como um alvo atrativo para as terapias basea<strong>da</strong>s<br />
em anticorpos, pelo fato <strong>de</strong> não ser um órgão vital,<br />
po<strong>de</strong>ndo esten<strong>de</strong>r o espectro <strong>da</strong>s moléculas-alvo para o<br />
tecido prostático como um todo e não especificamente<br />
para o tumor. Um número gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteínas tem sido<br />
estu<strong>da</strong>do como possíveis antígenos-alvo na próstata e são<br />
listados na Figura 1, muitos <strong>de</strong>les já <strong>de</strong>monstraram ser<br />
efetivos em mo<strong>de</strong>los animais.<br />
João Manzano<br />
Grupo <strong>de</strong> Uro-oncologia. Disciplina <strong>de</strong> <strong>Urologia</strong> <strong>da</strong> Unifesp-EPM.<br />
• PSA<br />
• Prostatic-specific membrane antigen<br />
(PSMA)<br />
• Prostatic acid phophatase (PAP)<br />
• Prostate stem cell antigen (PSCA)<br />
• Prostein<br />
• Transient receptor potencial-p8<br />
(Trp-p8)<br />
• Six-transmembrane epithelial antigen of<br />
prostate (STEAP)<br />
• Parathyroid hormone-related protein<br />
(PTH-rp)<br />
• Human telomerase reverse transcriptase<br />
(hTERT)<br />
• Survinin<br />
Figura 1<br />
Estudos clínicos fase 1/2 estão sendo realizados na<br />
tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, toxici<strong>da</strong><strong>de</strong> e resposta<br />
clínica <strong>de</strong>ssas terapias <strong>de</strong> anticorpos contra-alvos<br />
moleculares, muitos com respostas promissoras e geralmente<br />
com poucos efeitos colaterais.<br />
Conclusão<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> tratamento<br />
mais efetivo para o câncer <strong>de</strong> próstata avançado é necessário,<br />
o qual po<strong>de</strong>rá ser obtido com maior sucesso pela<br />
combinação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> vacinação associado a rádio,<br />
hormônio e quimioterapia, melhorando a sobrevi<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>sses pacientes. Mais estudos clínicos são necessários<br />
para <strong>de</strong>finir quais pacientes se beneficiariam e seriam elegíveis<br />
a esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento ou <strong>da</strong> associação<br />
com outras terapias.<br />
55
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Imunoterapia no câncer <strong>de</strong> próstata<br />
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solid tumors. Cell Mol Immunol 2005; 2:81-91.<br />
Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Científicas <strong>da</strong> Disciplina <strong>de</strong><br />
<strong>Urologia</strong> <strong>da</strong> Unifesp-EPM<br />
• Reunião Geral - quintas-feiras <strong>da</strong>s 7:30h às 9:00h<br />
• Reunião do Grupo <strong>de</strong> Litíase e Endourologia - segun<strong>da</strong>s-feiras <strong>da</strong>s 7:00h às 8:00h<br />
• Reunião do Grupo <strong>de</strong> <strong>Urologia</strong> Feminina - terças-feiras <strong>da</strong>s 7:00h às 8:00h<br />
• Reunião do Grupo <strong>de</strong> Oncologia - quartas-feiras <strong>da</strong>s 7:00h às 8:00h<br />
• Reunião do Grupo <strong>de</strong> Urogeriatria - quartas-feiras <strong>da</strong>s 8:00h às 9:00h<br />
• Reunião do Grupo <strong>de</strong> Reprodução Humana - quintas-feiras <strong>da</strong>s 11:30h às 12:30h<br />
• Reunião do Grupo <strong>de</strong> Uropediatria - sextas-feiras <strong>da</strong>s 7:00h às 8:00h<br />
• Reunião com Resi<strong>de</strong>ntes - “Journal Club” - 1º sábado <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> mês - <strong>da</strong>s 9:00h às 12:00h<br />
• Reunião do Grupo <strong>de</strong> Enfermagem - quartas-feiras <strong>da</strong>s 12:00h às 14:00h<br />
Maiores informações: (011) 5576-4086 e 5576-4062 (Mariana ou Suzi)<br />
A Disciplina <strong>de</strong> <strong>Urologia</strong> <strong>da</strong> Unifesp-EPM possui uma home-page na Internet <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong><br />
UROEPM<br />
com várias seções e que po<strong>de</strong> ser acessa<strong>da</strong> no seguinte en<strong>de</strong>reço:<br />
www.uroepm.com.br<br />
Nosso e-mail: urologia@urologia.epm.br<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
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SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Desafio <strong>de</strong> Imagem<br />
......................................................<br />
Dr. João Manzano<br />
Qual o seu diagnóstico?<br />
Resposta na página 59.<br />
57
58<br />
Respostas comenta<strong>da</strong>s na página 60.<br />
................................................................................................................<br />
Teste <strong>de</strong> Educação Continua<strong>da</strong><br />
...............................................................<br />
Dr. João Manzano<br />
1. Em relação ao preparo <strong>de</strong> cólon nas cirurgias urológicas com uso <strong>de</strong> segmentos<br />
intestinais, assinale a alternativa erra<strong>da</strong>:<br />
a) Não reduz efetivamente o risco <strong>de</strong> infecção pós-operatória.<br />
b) Po<strong>de</strong> causar complicações como <strong>de</strong>sidratação, disfunção gastrointestinal e<br />
<strong>de</strong>terioração do estado nutricional e maior permanência hospitalar.<br />
c) Deve ser realizado em to<strong>da</strong>s as cirurgias com uso <strong>de</strong> segmentos intestinais.<br />
d) Nas cirurgias com uso <strong>de</strong> segmentos colônicos seu uso é necessário.<br />
e) Aumenta a incidência <strong>de</strong> íleo prolongado, <strong>de</strong>mora a reintrodução <strong>da</strong> dieta e<br />
prolonga a internação hospitalar.<br />
2. Com relação a litíase em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, assinale a<br />
alternativa erra<strong>da</strong>:<br />
a) Obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> é fator <strong>de</strong> risco in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para litíase do trato urinário.<br />
b) Aumento <strong>da</strong> resistência periférica à insulina e hiperinsulinemia levam a diminuição<br />
do pH urinário e formação <strong>de</strong> cálculos <strong>de</strong> ácido úrico.<br />
c) Apresentam níveis mais elevados <strong>de</strong> oxalato na urina.<br />
d) A insuficiência renal por hiperoxalúria é comum.<br />
e) As técnicas mais mo<strong>de</strong>rnas apresentam menores níveis <strong>de</strong> oxalato do que as<br />
<strong>de</strong>rivações jejunoileais.<br />
3. Qual a alternativa erra<strong>da</strong> em relação aos tumores <strong>de</strong> testículo:<br />
a) Os tumores germinativos correspon<strong>de</strong>m a 95% dos casos dos tumores do testículo.<br />
b) Aproxima<strong>da</strong>mente 55% dos tumores germinativos são não seminomatosos.<br />
c) É o tumor sólido mais comum do adulto jovem do sexo masculino.<br />
d) Os tumores não seminomatosos são altamente radiossensíveis.<br />
e) Os índices <strong>de</strong> cura ultrapassam 95% com tratamento multimo<strong>da</strong>l.<br />
4. Assinale a alternativa erra<strong>da</strong>:<br />
a) As drogas quimioterápicas são citotóxicas para os testículos, eliminando ou<br />
reduzindo as células germinativas.<br />
b) 20% a 50% dos pacientes retomam a espermatogênese dois a três anos após o<br />
término do tratamento quimioterápico.<br />
c) A radiação direta no testículo é dose-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sendo que doses maiores <strong>de</strong> 0,15Gy<br />
causam azoospermia reversível.<br />
d) Em torno <strong>de</strong> 18% dos pacientes são azoospérmicos antes <strong>de</strong> qualquer tratamento<br />
para tumores do testículo.<br />
e) Aproxima<strong>da</strong>mente 98% dos pacientes submetidos a RT periaórtica ficam azoospérmicos.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008
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SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008<br />
Resposta do Desafio <strong>de</strong> Imagem<br />
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Hérnia inguino-escrotal com<br />
conteúdo vesical<br />
59
60<br />
..................................................................................................................<br />
Respostas do Teste <strong>de</strong> Educação Continua<strong>da</strong><br />
.......................................................................<br />
1. Resposta C<br />
O preparo <strong>de</strong> cólon inicialmente era tido como fun<strong>da</strong>mental em cirurgias com uso <strong>de</strong> segmentos<br />
intestinais, pois se acreditava que uma redução <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bactérias no trato intestinal<br />
levaria a redução <strong>da</strong>s infecções pós-operatórias, fato que não foi comprovado por inúmeros<br />
estudos. Atualmente sabe-se que o preparo <strong>de</strong> cólon não reduz o risco <strong>de</strong> complicações, aumenta<br />
o período <strong>de</strong> internação, principalmente <strong>de</strong>vido íleo prolongado, <strong>de</strong>mora na reintrodução<br />
<strong>da</strong> dieta, causa <strong>de</strong>sidratação, <strong>de</strong>terioração do estado nutricional e maior chance <strong>de</strong> <strong>de</strong>iscência<br />
<strong>de</strong> feri<strong>da</strong> operatória.<br />
2. Resposta D<br />
A obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> já é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> por si só como fator <strong>de</strong> risco para formação <strong>de</strong> cálculos urinários,<br />
principalmente pelo aumento <strong>da</strong> resistência periférica à insulina e hiperinsulinemia, levando a<br />
diminuição do pH urinário e a formação <strong>de</strong> cálculos <strong>de</strong> ácido úrico. As cirurgias bariátricas,<br />
por mecanismos ain<strong>da</strong> pouco conhecidos, levam à hiperoxalúria e conseqüentemente à formação<br />
<strong>de</strong> cálculos. As cirurgias mais antigas, como o “bypass” jejunoileal apresentam maiores<br />
níveis <strong>de</strong> oxalato na urina do que as cirurgias mais mo<strong>de</strong>rnas. A hiperoxalúria po<strong>de</strong> atingir<br />
níveis elevados que levam ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> insuficiência renal, porém esse fato, felizmente,<br />
é raro.<br />
3. Resposta D<br />
Os tumores do testículo representam 1% a 2% <strong>de</strong> todos os tumores do sexo masculino, é o<br />
tumor sólido mais comum do adulto jovem entre 15 e 45 anos. Aproxima<strong>da</strong>mente 95% <strong>de</strong>les<br />
são tumores germinativos, sendo 55% não seminomatosos e 45% seminomas. Os tumores não<br />
seminomatosos são radiorresistentes, os seminomas são altamente radiossensíveis e ambos<br />
são sensíveis a quimioterapia, sendo que o tratamento multimo<strong>da</strong>l com cirurgia, rádio e quimioterapia<br />
leva a índices <strong>de</strong> cura superiores a 95%.<br />
4. Resposta E<br />
Aproxima<strong>da</strong>mente 70% dos pacientes submetidos à radioterapia periaórtica ficam<br />
azoospérmicos e outros 20% a 30% ficam oligospérmicos. As drogas quimioterápicas são<br />
citotóxicas para os testículos, eliminando ou reduzindo as células germinativas, sendo que<br />
cerca <strong>de</strong> 20% a 50% dos pacientes retomam a espermatogênese dois a três anos após o término<br />
do tratamento quimioterápico. A maioria dos pacientes com tumor <strong>de</strong> testículo tem oligospermia,<br />
18% <strong>de</strong>les são azoospérmicos e 57% têm concentração abaixo <strong>de</strong> 10 milhões/ml.<br />
SINOPSE DE UROLOGIA - ANO 12 - Nº 2 - 2008