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Mulheres, homens e usos do tempo - Instituto Nacional de Estatística

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O estu<strong>do</strong> Living with Science: Time for Care and Career Progression – A Gen<strong>de</strong>red Balance? (Perista,<br />

op.cit.) suporta a centralida<strong>de</strong> <strong>do</strong> género na investigação sobre os <strong>usos</strong> <strong>do</strong> <strong>tempo</strong> bem como o seu<br />

impacto na construção <strong>de</strong> estratégias no quotidiano e ao longo <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vida, em termos da<br />

combinação <strong>de</strong> trabalho pago e <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> cuidar, entre <strong>homens</strong> e mulheres cientistas.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> reforçam a convicção <strong>de</strong> que uma questão crucial a ter em conta em<br />

relação ao trabalho pago das mulheres e à sua progressão na carreira, nomeadamente em áreas<br />

científicas, se refere ao impacto <strong>do</strong> <strong>tempo</strong> que estas afectam à família e ao trabalho não pago. A<br />

análise <strong>do</strong>s <strong>usos</strong> <strong>do</strong> <strong>tempo</strong> nas vidas <strong>de</strong>stes e <strong>de</strong>stas cientistas com processos <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong><br />

internacional revela que profissionais altamente qualifica<strong>do</strong>s/as em carreiras científicas se <strong>de</strong>frontam<br />

com <strong>de</strong>safios específicos, em termos <strong>de</strong> <strong>tempo</strong> mas também <strong>de</strong> espaço, em termos da articulação<br />

entre trabalho e vida pessoal e familiar (muito embora a natureza ‘gen<strong>de</strong>rizada’ <strong>de</strong> tais <strong>de</strong>safios não<br />

seja específica <strong>de</strong>ste grupo particular).<br />

Um <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>safios, tal como i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> no estu<strong>do</strong>, refere-se ao eleva<strong>do</strong> valor e significa<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong><br />

por estes/as cientistas ao seu trabalho <strong>de</strong> pesquisa. Um trabalho no qual ‘flexibilida<strong>de</strong>’, horários <strong>de</strong><br />

trabalho irregulares, <strong>tempo</strong>s <strong>de</strong> trabalho muito longos e em horários ‘anti-sociais’, são traços<br />

recorrentes. Trabalhar arduamente e durante longas horas é reconheci<strong>do</strong> (e aceite tanto por <strong>homens</strong><br />

como por mulheres) como um requisito <strong>de</strong> progressão na carreira em investigação científica.<br />

Estu<strong>do</strong>s anteriores sobre a natureza e organização da ciência numa perspectiva <strong>de</strong> género (<strong>de</strong> que<br />

são exemplo Ackers, 2007 ou Comissão Europeia, 2008) têm i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> características específicas<br />

das carreiras científicas que obstaculizam uma maior participação feminina. Particular ênfase tem<br />

si<strong>do</strong> dada aos tipos <strong>de</strong> horários e padrões <strong>de</strong> trabalho que caracterizam este sector <strong>de</strong> emprego.<br />

Esta pesquisa (Perista, op.cit.) confirma que os <strong>tempo</strong>s <strong>de</strong> trabalho em ciência são geralmente<br />

muito longos e imprevisíveis (frequentemente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s pelo ritmo das experiências laboratoriais),<br />

sen<strong>do</strong> frequente o trabalho à noite ou aos fins-<strong>de</strong>-semana, muitas vezes a partir <strong>de</strong> casa. A capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trabalhar nestes horários prolonga<strong>do</strong>s e anti-sociais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em larga medida <strong>de</strong> circunstâncias<br />

pessoais e familiares e <strong>do</strong> género, com mães (e, em menor escala, pais) a referir um <strong>de</strong>clínio<br />

significativo <strong>do</strong> volume <strong>de</strong> ‘trabalho extraordinário’ que são capazes <strong>de</strong> assumir após o nascimento<br />

<strong>de</strong> filhos/as.<br />

Importa salientar, por outro la<strong>do</strong>, que o que está em causa não é só a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar muito<br />

<strong>tempo</strong> ao seu trabalho mas, sim, que estas horas <strong>de</strong> trabalho durante os fins-<strong>de</strong>-semana e pela<br />

noite fora são essencialmente <strong>de</strong>dicadas a activida<strong>de</strong>s que assumem uma importância crucial em<br />

termos <strong>de</strong> progressão na carreira, tais como preparação <strong>de</strong> publicações, <strong>de</strong> candidaturas a fontes<br />

<strong>de</strong> financiamento, <strong>de</strong> comunicações a conferências e seminários. Estas são normalmente tarefas<br />

às quais mulheres e <strong>homens</strong> cientistas não conseguem <strong>de</strong>dicar <strong>tempo</strong> suficiente durante o seu<br />

perío<strong>do</strong> ‘normal’ <strong>de</strong> trabalho. Assim sen<strong>do</strong>, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assumir ou não este trabalho ‘fora <strong>de</strong><br />

horas’ terá um impacto significativo, e diferente em função <strong>do</strong> género, na progressão profissional.<br />

Uma outra característica associada ao trabalho <strong>de</strong> investigação, e i<strong>de</strong>ntificada como uma vantagem<br />

<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> trabalho pelos e pelas cientistas, é a sua flexibilida<strong>de</strong>. Em particular, dimensões mais<br />

teóricas <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> pesquisa ten<strong>de</strong>m a promover maior flexibilida<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> horários e<br />

local <strong>de</strong> trabalho. Estas formas <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>senvolvidas fora <strong>do</strong> local habitual <strong>de</strong> trabalho, geralmente<br />

em casa, <strong>de</strong>vem ser cuida<strong>do</strong>samente consi<strong>de</strong>radas. Por um la<strong>do</strong>, estas constituem claramente<br />

uma importante dimensão <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> para cientistas com filhos/as, permitin<strong>do</strong>-lhes conciliar<br />

mais facilmente as necessida<strong>de</strong>s da vida familiar com as pressões induzidas pela investigação<br />

científica (por exemplo, sain<strong>do</strong> <strong>do</strong> laboratório a <strong>tempo</strong> <strong>de</strong> ir buscar as crianças à escola, dar-lhes<br />

banho, jantar, estar um pouco com elas, e retomar o trabalho, em casa, <strong>de</strong>pois das crianças estarem<br />

<strong>de</strong>itadas). Por outro la<strong>do</strong>, estas formas <strong>de</strong> trabalho têm lugar na área ‘informal’ das vidas privadas <strong>de</strong><br />

cada pessoa; são também geralmente não remuneradas e envolvem a aceitação implícita <strong>de</strong> um<br />

<strong>tempo</strong> <strong>de</strong> trabalho extremamente longo e não regula<strong>do</strong>.<br />

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<strong>Mulheres</strong>, <strong>homens</strong> e <strong>usos</strong> <strong>do</strong> <strong>tempo</strong> – quinze anos após a Plataforma <strong>de</strong> Acção <strong>de</strong> Pequim, on<strong>de</strong><br />

estamos, em Portugal?

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