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Nós nos adequamos ao planeta?

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<strong>Nós</strong> <strong>nos</strong> <strong>adequamos</strong> <strong>ao</strong> <strong>planeta</strong>?<br />

Sustentabilidade, Sistemas de Alimentação e Pegada Ecológica<br />

Sharon Ede*<br />

* Sharon Ede, membro do Urban Ecology Australia Board e funcionária do South Australia Department for Environment<br />

and Heritage, realizou pesquisa/estudo em maio/2001 na organização Redefining Progress (Califórnia), cujo Programa<br />

de Sustentabilidade é dirigido por Mathis Wackernagel, um dos criadores do conceito de Pegada Ecológica.<br />

Todos os seres huma<strong>nos</strong>, independente de seu<br />

estilo de vida, geram impactos na natureza, mas<br />

este fato não seria problemático se os <strong>nos</strong>sos<br />

impactos estivessem dentro dos limites da<br />

natureza, isto é dentro da capacidade<br />

regenerativa da biosfera. A preocupação com o<br />

uso de recursos foi previamente focada na<br />

depleção de recursos não renováveis finitos, tais<br />

como os combustíveis fósseis e minerais. No<br />

entanto, cada vez mais se reconhece que os<br />

recursos renováveis é que são os fatores<br />

limitantes não negociáveis para a sustentação da<br />

vida.<br />

Historicamente, os países têm sustentado seu<br />

crescimento econômico pela apropriação da<br />

biocapacidade (recursos, serviços ecológicos,<br />

escoadouros de dejetos) de outros locais através<br />

de seu poder de compra, com algum resíduos,<br />

como CO2 e CFCs, sendo liberados no “comuns”<br />

globais. No entanto, este modelo de dependência<br />

na “área fantasma” 1 , <strong>ao</strong> qual tanto o mundo<br />

desenvolvido como o em desenvolvimento se<br />

agarram, ignora uma realidade simples – nem<br />

todos podem ser importadores líquidos de<br />

biocapacidade.<br />

Uma vez que a capacidade biológica de suporte<br />

do <strong>planeta</strong> foi excedida, o “desenvolvimento”<br />

ocorre através da liquidação do capital de<br />

estoque natural do <strong>planeta</strong>, mudando do uso<br />

reprodutivo da base de recursos, que a deixa<br />

intacta, para o uso extrativo, que reduz o estoque<br />

total. Ao invés de valorizar os “lucros” da Terra, a<br />

humanidade começa a drenar o “capital” da Terra,<br />

e nós <strong>nos</strong> dirigimos para aquilo que é<br />

denominado “superexploração”.<br />

Superexploração ocorre quando a demanda<br />

humana excede o suprimento da natureza em<br />

escala local, nacional ou global 2 . O nível de<br />

superexploração é a quantidade de uso da<br />

capacidade biológica da natureza que excede a<br />

sua taxa de regeneração.<br />

1 Biocapacidade da qual um país depende, mas que não está<br />

fisicamente dentro de suas fronteiras<br />

2 Gráfico de superexploração de Phil Testemale (em Rees e<br />

Wackernagel, 1996)<br />

Sustentabilidade tem um significado específico –<br />

evitar a superexploração.<br />

A miríade de definições vagas atribuídas à<br />

sustentabilidade mantém a discussão vaga e<br />

torna difusa a pressão por ação.<br />

Termos “nebulosos” incluem “desenvolvimento<br />

sustentável” e a sua definição onipresente<br />

cunhada por Brundtland, ou seja, “satisfazer as<br />

necessidades do presente sem comprometer a<br />

capacidade das gerações futuras satisfazerem as<br />

suas necessidades” 3 .<br />

Para definir sustentabilidade, de maneira<br />

específica e mensurável, são necessários<br />

balanços biofísicos para que determinemos se<br />

estamos caminhando em direção à<br />

superexploração ou a evitando. Seria impensável<br />

gerir um negócio na ausência de livros de registro<br />

– um negócio que não documenta suas atividades<br />

e não mantém registros financeiros acurados<br />

corre o risco de ir à bancarrota – esta é<br />

precisamente a abordagem que temos em<br />

relação <strong>ao</strong> único <strong>planeta</strong> com capacidade para<br />

suportar a vida que conhecemos.<br />

3 esta definição é problemática – como saber quantas pessoas<br />

haverão nas gerações futuras e quais serão suas<br />

necessidades? Além disso, atualmente muitas sociedades não<br />

estão satisfazendo suas necessidades, mas suas vontades –<br />

as gerações futuras seriam capazes de satisfazer plenamente<br />

suas vontades assim como suas necessidades?


Para o monitoramento do uso da natureza pelos<br />

seres huma<strong>nos</strong> são necessárias ferramentas que<br />

permitam calcular o balanço dos recursos, a fim<br />

de responder àquela que pode ser a mais<br />

importante questão que já confrontou <strong>nos</strong>sas<br />

instituições políticas, sociais e econômicas: nós<br />

<strong>nos</strong> <strong>adequamos</strong> <strong>ao</strong> <strong>planeta</strong>?<br />

A pegada ecológica mede o uso da natureza<br />

pelos seres huma<strong>nos</strong> e agrega os <strong>nos</strong>sos<br />

impactos sobre a biosfera em um número, o<br />

espaço bioprodutivo ocupado exclusivamente por<br />

uma determinada atividade humana, expresso em<br />

hectares. A pegada ecológica inverte o conceito<br />

tradicional de capacidade de suporte, a<br />

população que uma dada região poderia suportar,<br />

e, <strong>ao</strong> contrário, procura determinar a carga<br />

ecológica – qual área total de terra é necessária,<br />

independente de onde a terra esteja localizada,<br />

para sustentar uma dada população, organização<br />

ou atividade.<br />

Pegadas ecológicas nacionais são calculadas<br />

através do uso de programas de computação<br />

complexos, que permitem calcular a pegada<br />

ecológica (demanda) per capita do país e<br />

compará-la com a biocapacidade (suprimento) do<br />

país e do <strong>planeta</strong>. Dados oficiais da Organização<br />

das Nações Unidas para Agricultura e<br />

Alimentação, do Painel Intergovernamental sobre<br />

Mudanças Climáticas e de uma série de outras<br />

fontes renomadas, como o Instituto de Recursos<br />

Mundiais, formam a base para os cálculos da<br />

pegada ecológica nacional.<br />

Os programas de computação registram a<br />

produção de um país, a importação, a exportação<br />

e o consumo aparente de aproximadamente 60<br />

categorias de mercadorias, em unidades<br />

biofísicas (ex.: toneladas) <strong>ao</strong> invés de unidades<br />

monetárias, e cada categoria inclui tanto os<br />

recursos primários (madeira bruta ou leite) como<br />

os produtos manufaturados deles derivados<br />

(papel ou queijo). Fatores de conversão são<br />

usados para calcular a eficiência da conversão de<br />

materiais brutos (ex.: leite) em produtos<br />

manufaturados (ex.: queijo). Fatores de<br />

conversão ajustados corrigem as eficiências reais<br />

de conversão a fim de levar em consideração<br />

produtos animais secundários, tais como couro e<br />

lã.<br />

A comparação direta com a área de terra real<br />

gera um problema de eqüidade, uma vez que os<br />

países têm acesso a diferentes tipos de terra,<br />

cuja qualidade é variada. Os valores obtidos são<br />

corrigidos para bioprodutividade, através da<br />

multiplicação da área real de terra (hectares) por<br />

um fator de equivalência a fim de produzir<br />

“unidades de área”.<br />

O fator de equivalência representa a<br />

produtividade de uma categoria de terra<br />

globalmente quando comparada com a “média”<br />

da terra globalmente, isto é, a terra arável é<br />

valorizada em relação <strong>ao</strong> espaço médio, uma vez<br />

que ela é biologicamente mais produtiva.<br />

Os valores de biocapacidade também são<br />

corrigidos usando-se um fator de produção, que<br />

ilustra quanto a terra de um país é mais ou me<strong>nos</strong><br />

produtiva em comparação com a mesma<br />

categoria no restante do mundo.<br />

A pegada ecológica acaba subestimando o<br />

impacto humano e superestimando a capacidade<br />

biológica disponível, devido à escolha de<br />

estimativas conservativas quando há dúvida, não<br />

levando em consideração algumas atividades<br />

para as quais os dados são insuficientes,<br />

assumindo que as produções agrícolas atuais são<br />

sustentáveis e excluindo atividades que,<br />

sistematicamente, erodem a capacidade<br />

regenerativa da natureza, como o uso de<br />

materiais para os quais a biosfera não tem<br />

capacidade de assimilação significativa, tais como<br />

o plutônio, as bifenilas policloradas (PCBs) e os<br />

clorofluocarbo<strong>nos</strong> (CFCs), e os processos que<br />

causam da<strong>nos</strong> irreversíveis à biosfera, como a<br />

extinção de espécies, a destruição de aqüíferos, o<br />

desmatamento e a desertificação.<br />

Mesmo com esta abordagem cuidadosa, uma<br />

pesquisa realizada pela Redefining Progress<br />

(Oakland) (www.progress.org), usando análise de<br />

pegada ecológica, revela que, em 1996, a pegada<br />

ecológica média por pessoa era 2,85 hectares.<br />

No entanto, globalmente existem somente 2,2<br />

hectares disponíveis por pessoa.<br />

Espaço biologicamente produtivo<br />

necessário para sustentar<br />

6 bilhões de pessoas<br />

vivendo em uma pegada<br />

ecológica de 2,85 hectares<br />

(1996)<br />

Espaço biologicamente produtivo<br />

no <strong>planeta</strong><br />

Número de <strong>planeta</strong>s<br />

necessários para sustentar 6<br />

bilhões de pessoas vivendo em<br />

uma pegada ecológica de 2,85<br />

hectares<br />

17,1 bilhões<br />

de hectares<br />

12,6 bilhões<br />

de hectares<br />

1,35<br />

A Redefining Progress calculou uma série<br />

temporal de pegada ecológica e biocapacidade<br />

global para o período 1961-1997. A série revela<br />

que em algum momento em meados dos a<strong>nos</strong> 70,<br />

a humanidade passou do uso reprodutivo da<br />

natureza para o extrativista. Em 1997, sua<br />

pegada ecológica excedeu, em mais de 30%, a<br />

capacidade de suporte global. Isto significa que


um <strong>planeta</strong> e mais um terço são atualmente<br />

necessários para sustentar a humanidade, o que<br />

significa que a natureza leva um ano e quatro<br />

meses para regenerar a capacidade bioprodutiva<br />

que nós usamos em um ano.<br />

A questão não é se nós podemos sustentar mais<br />

de 6 bilhões de pessoas no modelo ocidental<br />

industrial de desenvolvimento, mas como<br />

sustentar a população global projetada, em um<br />

padrão de vida adequado para todos, dentro da<br />

biocapacidade regenerativa de um <strong>planeta</strong>.<br />

Além disso, é vital que uma porcentagem da<br />

Terra seja mantida livre para garantir o espaço<br />

bioprodutivo das milhões de outras espécies que<br />

dividem o <strong>planeta</strong> com a humanidade, e que nós<br />

tipicamente excluímos dos espaços ocupados<br />

para usos huma<strong>nos</strong>. A metodologia da pegada<br />

ecológica utiliza o cálculo de Brundtland, de 1987,<br />

de 12% - uma estimativa considerada<br />

politicamente corajosa, mas ecologicamente<br />

inadequada, pois os biólogos conservacionistas<br />

consideram que o valor necessário está, mais<br />

provavelmente, entre 25 e 75%.<br />

A competição por biocapacidade ocorre não<br />

apenas entre espécies, mas entre comunidades.<br />

Sendo um indicador agregado, que esclarece as<br />

conexões entre as funções ecológicas e as<br />

pressões humanas sobre a natureza, a pegada<br />

ecológica pode revelar competição por espaço<br />

ecológico. Quando a pegada ecológica excede a<br />

capacidade biológica, os usos da natureza pelos<br />

seres huma<strong>nos</strong> tornam-se competitivos entre si.<br />

Aliviar uma pressão pode significar simplesmente<br />

mudar a carga para outro lugar, ou um impacto<br />

pode até exacerbar outro.<br />

Como a pegada ecológica é uma ferramenta de<br />

cálculo baseada em dados físicos, <strong>ao</strong> invés de<br />

monetários, pode <strong>nos</strong> fornecer informação crucial<br />

sobre o uso dos recursos e limites ecológicos que<br />

não está presente na análise econômica<br />

convencional.<br />

“... escassez de mercado e escassez ecológica são,<br />

cada vez mais, fenôme<strong>nos</strong> separados, o primeiro<br />

representa o suprimento imediato no mercado<br />

(expresso pelos preços de mercado), o último indica os<br />

estoques totais (expressos pelos cálculos biofísicos).<br />

Uma vez que o comércio global não relaciona a<br />

escassez de mercado com a escassez ecológica, a<br />

retroalimentação entre a capacidade ecológica e o<br />

consumo humano é rompida...”<br />

Mathis Wackernagel<br />

Como a demanda por<br />

biocapacidade cresce enquanto o<br />

suprimento diminui, o uso<br />

parcimonioso da natureza é<br />

imperativo tanto para os países<br />

com déficit ecológico, que são<br />

dependentes de capacidade de<br />

suporte importada, como para os<br />

credores ecológicos, que suprem<br />

os devedores com biocapacidade,<br />

freqüentemente através da<br />

liquidação do seu próprio capital<br />

natural.<br />

A Pegada Ecológica <strong>nos</strong> permite entender a<br />

sustentabilidade em uma forma mensurável e, <strong>ao</strong><br />

mesmo tempo, fundamentada na realidade<br />

ecológica.<br />

Cidades e “Pegadas Ecológicas<br />

Alimentares”<br />

As cidades têm um potencial enorme como<br />

pontos para alavancar mudanças – não apenas<br />

porque mais da metade da população humana<br />

vive em áreas urbanas em todo o mundo, mas<br />

também porque o desenvolvimento e a formação<br />

das cidades são, simplesmente, a fonte de<br />

impactos mais poderosa do <strong>planeta</strong>. A criação e a<br />

manutenção do ambiente construído gera<br />

quantidades massivas de extração e uso de<br />

recursos e é imperativo que nós entendamos a<br />

cidade como um ecossistema, conhecendo e<br />

levando em consideração o comportamento<br />

destes mega-organismos e seu impacto para<br />

além dos limites da cidade.<br />

Em meados dos a<strong>nos</strong> 90, Herbert Girardet (autor<br />

do Atlas Gaia das Cidades) fez uma estimativa da<br />

pegada ecológica de Londres 4 e observou que ela<br />

era 125 vezes maior que a área real de Londres 5 .<br />

<strong>Nós</strong> precisamos entender como e onde <strong>nos</strong>sas<br />

cidades estão apropriando e alterando outras<br />

áreas de terra para atender suas necessidades:<br />

“Estimativas feitas na época do “Earth Summit” (Rio,)<br />

em 1992, consideram que 75% dos recursos naturais<br />

que nós coletamos e mineramos da Terra são<br />

transportados por navios, caminhões e ferrovias para<br />

os 2,5% da superfície terrestre que são metropolita<strong>nos</strong>.<br />

4 pegada ecológica: http://www.oneword.org/guides/thecity/<br />

5 www.greenchannel.com/slt/substant.htm#footprint


No destino, 80% daqueles recursos são convertidos em<br />

resíduos”.<br />

ww.rua.org/1-1/11-12.pdf<br />

Jac Smit, “Agricultura Urbana e Biodiversidade<br />

Cidades e áreas urbanas, com seu imenso poder<br />

político e econômico, são fundamentais para os<br />

problemas ecológicos locais e globais, e devem<br />

se tornar fundamentais para as soluções. Como<br />

criaturas altamente urbanas, as pessoas<br />

precisam entender e responsabilizar-se pelos<br />

seus padrões de comportamento em relação à<br />

natureza, pela relação com suas regiões, pela<br />

forma como as demandas urbanas geram<br />

problemas ambientais e como esta dinâmica pode<br />

ser atrelada objetivando o desenvolvimento e<br />

restauração ecológicos.<br />

O conceito de pegada<br />

ecológica pode ser<br />

utilizado para <strong>nos</strong> ajudar<br />

a explorar maneiras de<br />

tornar <strong>nos</strong>sas cidades<br />

não apenas o mais<br />

ecologicamente benignas<br />

possível, mas também<br />

produtivas (ou “biogênicas’)<br />

em vez de<br />

“biocidas” (ou destrutivas)<br />

em forma e função.<br />

Carga Ecológica de Sistemas Alimentares<br />

Urba<strong>nos</strong><br />

Assentamentos huma<strong>nos</strong> são dependentes da<br />

agricultura para sua sobrevivência. No entanto,<br />

poucos habitantes da cidade já se defrontaram<br />

com os efeitos que suas vidas provocam além<br />

dos limites da cidade, tais como as<br />

conseqüências da agricultura em larga escala,<br />

necessária para alimentar hordas de habitantes<br />

urba<strong>nos</strong>, os impactos gerados pelo crescimento,<br />

e o acúmulo e transporte dos recursos requeridos<br />

para consumo na cidade.<br />

“...com o acesso <strong>ao</strong>s recursos globais, as populações<br />

urbanas de todos os lugares estão aparentemente<br />

imunes às conseqüências das práticas localmente<br />

insustentáveis de manejo de terra e de recursos...”<br />

William Rees e Mathis Warckernagel<br />

Os impactos ambientais resultantes da produção<br />

de alimentos – tais como salinidade em solos<br />

secos, demanda de água e carreamento dos<br />

pesticidas e fertilizantes necessários para os<br />

agronegócios centralizados, baseados em<br />

monoculturas produtivas – são<br />

predominantemente gerados pelas demandas dos<br />

mercados urba<strong>nos</strong>.<br />

Os sistemas de produção de alimento que são,<br />

em alguma extensão, dependentes de linhas<br />

externas de financiamento também são fortes<br />

contribuintes para as “milhas alimentares” 6 e<br />

emissões de gases de efeito estufa, resultantes<br />

do consumo do combustível fóssil necessário<br />

para o transporte e refrigeração.<br />

“Supostamente, a economia, particularmente o<br />

chamado racionalismo econômico, deveria estar<br />

baseada no uso eficiente dos recursos – que alocação<br />

mais inapropriada de recursos, e esforço humano,<br />

poderia haver que transportar por navio produtos<br />

agrícolas de baixo valor como morangos em volta de<br />

meio <strong>planeta</strong>?<br />

Michael Rowbotham, Agosto/2001, Conferência da<br />

Comunidade Econômica, Adelaide<br />

O surgimento do<br />

comércio global, e sua<br />

rede de linhas<br />

extensivas de financiamento,<br />

resultou em<br />

uma enorme expansão<br />

da pegada<br />

ecológica alimentar<br />

da humanidade, particularmente<br />

em<br />

termos de milhas<br />

alimentares.<br />

O transporte de alimento para as cidades, a partir<br />

de locais distantes, tem implicações no efeito<br />

estufa – quanto maior a distância a ser percorrida,<br />

maior a energia incorporada por <strong>nos</strong>so alimento.<br />

Este é um ponto significativo em relação <strong>ao</strong> custo<br />

do combustível e seu efeito sobre a<br />

disponibilidade e fornecimento do alimento,<br />

particularmente em face de eventuais crises de<br />

petróleo no futuro.<br />

Agricultura Urbana<br />

“...a agricultura e o consumo de alimentos são os<br />

maiores contribuintes para a carga ecológica da<br />

humanidade, apropriando mais que 60% da<br />

capacidade regenerativa do <strong>planeta</strong>...”<br />

Mathis Warckernagel e Diana Deumling<br />

Há um reconhecimento crescente que a<br />

agricultura urbana pode atender uma<br />

porcentagem das necessidades de alimento para<br />

os habitantes urba<strong>nos</strong> dentro das áreas urbanas.<br />

A produção urbana de alimento (incluindo<br />

permacultura 7 , jardins suspensos e jardins<br />

6 Nota do tradutor: milhas alimentares é um modo de medir a<br />

distância que um determinado alimento percorre antes de ser<br />

consumido por alguém. Quanto maior o número de milhas<br />

relacionadas <strong>ao</strong> alimento, me<strong>nos</strong> sustentável e me<strong>nos</strong><br />

ambientalmente desejável ele é.<br />

7 Nota do tradutor: (do inglês permanent agriculture)<br />

“planejamento e a manutenção conscientes de ecossistemas<br />

agriculturalmente produtivos, que tenham a diversidade,


comunitários) pode ser a ferramenta mais<br />

poderosa que nós temos para fechar os ciclos<br />

abertos de nutrientes, carbono e poluição, além<br />

de contribuir positivamente para a atividade<br />

econômica local e regional. A agricultura urbana<br />

poderia, ainda, auxiliar na desaceleração e na<br />

reversão da perda de biodiversidade:<br />

“Um acre de agricultura urbana, usando resíduo urbano<br />

como adubo, pode salvar cinco acres, ou mais, de terra<br />

agrícola rural marginal ou de floresta tropical... A<br />

agricultura urbana é uma ferramenta efetiva para<br />

desacelerar a perda de biodiversidade”<br />

http://www.ruaf.org/1-1/11-12.pdf<br />

Jac Smit, “Urban Agriculture & Biodiversity<br />

A incorporação da produção urbana de alimentos<br />

<strong>nos</strong> sistemas alimentares tem muitos benefícios<br />

potenciais – redução das emissões de gases de<br />

efeito estufa e de uma série de outros impactos<br />

ambientais, proteção da biodiversidade, estímulo<br />

para a economia local, benefícios nutricionais e<br />

para a saúde, redução das ilhas urbanas de calor,<br />

construção da idéia de comunidade através do<br />

trabalho conjunto das pessoas e maior segurança<br />

para vizinhança como um resultado de vigilância<br />

passiva.<br />

Um ponto talvez ainda mais importante é que a<br />

pegada ecológica pode ajudar a restabelecer a<br />

conexão psicológica da humanidade com a<br />

natureza por medir e dar visibilidade a impactos<br />

que têm permanecido grandemente invisíveis”.<br />

Produzido por Sharon Ede para o “Urban Ecology Australia’s<br />

10 th Birthday Celebration Bioregional Banquet, 21 de abril de<br />

2002<br />

Referências<br />

Wackernagel, Mathis & Rees, William (1996) Our Ecological<br />

Footprint – Reducing Human Impact on the Earth New Society<br />

Publishers, Gabriola Island, Canada.<br />

Wackernagel, Mathis (2000) “Importing Carrying Capacity:<br />

How Global Trade Enables Nations and the World to<br />

Accumulate and Ecological Debt” Contribution to Professor<br />

Kenneth Watt’s Encyclopaedia on Human Ecology,<br />

Transaction Publishers/Rutgers, New Jersey, US.<br />

Wackernagel, Mathis (2001) “Advancing Sustainable Resource<br />

Management: Using Ecological Footprint Analysis for Problem<br />

Formulation Policy Development and Communication” Draft<br />

Paper prepared for DGXI, European Commission Redefinig<br />

Progress, Oakland.<br />

Wackernagel, Mathis & Deumling, Diana (2001) “Eating up the<br />

Earth: How Sustainable Food Systems Reverse Humanity’s<br />

Assault on the Biosphere” Draft outline for a briefing paper for<br />

the philanthropic community on the ecological significance of<br />

sustainable food systems Redefining Progress, Oakland.<br />

Wackernagel, Mathis; Yount, David & Deumling, Diana (2000)<br />

“Acounting for the Future: A Handbook for National (and<br />

estabilidade e resistência dos ecossistemas naturais, e a<br />

integração harmoniosa das pessoas e a paisagem, provendo<br />

alimento, energia, abrigo e outras necessidades, materiais ou<br />

não, de forma sustentável”.<br />

(http://www.fgaia.org.br/lojinha/permacultura.html).<br />

Regional) Ecological Footprint Analysis” Draft Redefining<br />

Progress, Oakland.<br />

Texto traduzido por Ana Lúcia Brandimarte para a disciplina<br />

Ecologia Humana.

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