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52<br />

Nesse sentido, sem deixar de confessar-se católico, o pensamento<br />

de Mário de Andrade aspira ser, a um só tempo, mais cristão e mais pluralista,<br />

face ao modelo de cristandade herdado da Europa.<br />

Crítica do idealismo<br />

Em certa medida, este núcleo conceptivo já se acha entranhado no<br />

anterior. Com efeito, a julgar pelas notas, a primazia conferida por Mitos<br />

à cristandade ocidental — em particular à Idade Média — como modelo<br />

trans-histórico de civilização cristã se apoia em um pensamento generalizador<br />

que recusa o enfrentamento acurado dos fatos para confirmar<br />

ideias e ideais já supostos. Referindo-se à parte da obra consagrada aos<br />

“contramitos”, o leitor assim o registra, na nota 26:<br />

De resto, o mal demagógico infelizmente revestido de Cristianismo,<br />

ou simplesmente de Filosofia, de toda a pregação idealista desta parte,<br />

é que o A. não enxerga o homem, mas sonha com o Homo. E o que<br />

é mais idílico, mas apenas idílico, um Homo dotado de historicidade,<br />

um sonho do Homo pré-renascente, pré-rafaelista, ao mesmo tempo<br />

que esquece toda a história do homem anterior a Cristo e posterior à<br />

Civilização Cristã. Nunca o A. abusou tanto da verdade e da filosofia<br />

pra criar um sonho não apenas improvável: absolutamente vão.<br />

Assim, ao idealizar a cristandade medieval, o autor de Mitos incorreria,<br />

segundo seu crítico, em um duplo equívoco: o de ignorar os limites<br />

históricos da própria cristandade e o de desconsiderar as possibilidades<br />

humanizadoras das demais civilizações “anteriores a Cristo e posteriores<br />

à Civilização Cristã”, entre as quais estaria a própria civilização<br />

brasileira, ainda em gérmen, para cuja consolidação histórica Mário de<br />

Andrade dedicou sua vida e sua obra, trabalhando, sobretudo, em campo<br />

cultural e estético.<br />

Noutro momento, essa atitude generalizadora é reconhecida por<br />

Mário como traço definidor da personalidade intelectual de Alceu, a contrastar<br />

com a sua própria:<br />

[...] eu como todos os sutis decadentes tendo necessariamente a<br />

distinguir, a ser um analítico, e você como todos os ditadores, condutores<br />

etc. tende necessariamente a englobar e a ser sintético.<br />

Eu vejo na síntese, não uma imbecilidade, mas certamente uma<br />

primaridade que sob o ponto-de-vista da realidade é falso. Você vê<br />

revista ieb n49 2009 mar/set p. x-xx

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