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tada. Por outro lado, neste aspecto das notas, vem à luz, pela primeira<br />
e única vez, a dimensão positiva e propositiva do pensamento de Mário<br />
de Andrade em relação ao que lhe parece mais problemático na obra de<br />
Alceu Amoroso Lima.<br />
Na nota 41, assoma sem peias e a plena voz não somente uma crítica,<br />
mas uma recusa e mesmo rejeição de aspectos da obra de Alceu que<br />
ferem profundamente a sensibilidade do leitor. A indignação e a quase<br />
revolta registradas na nota encontram franca confirmação na citada carta<br />
de Mário a Alceu, de 17/6/1943, que, a julgar pelo tom e pelo conteúdo<br />
das críticas, talvez não exagerássemos em ler como uma antecipação<br />
da própria nota, considerando ter sido escrita dois meses antes desta.<br />
De resto, redigida a menos de três anos da morte do escritor, essa nota<br />
guarda importante valor documental, senão testamental, para o estabelecimento<br />
de seu pensamento tardio.<br />
A nota 41 é, de certo modo, preparada pelas três notas precedentes.<br />
Nestas, sinais de exclamação, apostos à margem de trechos em destaque,<br />
fazem soar o alarme para aspectos problemáticos que, justamente na<br />
nota conclusiva, acabarão por ser explicitados e respondidos.<br />
Na nota 38, Mário apõe três exclamações à margem do trecho:<br />
E todo aquele que não se sentir totalmente ausente de tudo o que for<br />
apenas deste mundo não conhecerá jamais a doçura da verdadeira<br />
paz do espírito, nem o segredo das relações verdadeiras e salvadoras.<br />
A vida está na morte, a riqueza na pobreza, a vitória na derrota,<br />
a fecundidade dos frutos no apodrecimento das sementes.<br />
Na nota seguinte, uma exclamação chama a atenção para o trecho:<br />
Quando propomos, portanto, os contramitos contra os mitos que<br />
dominam os nossos tempos, não temos a mínima ilusão de poder<br />
conseguir, com eles, uma Idade Nova paradisíaca para o dia em<br />
que a Guerra terminar [...]. As civilizações serão eternamente uma<br />
vaga e remota imagem de um Reino que não é deste mundo.<br />
Na nota 40, o leitor exclama à margem do fragmento sublinhado:<br />
“[Contra o orgulho e a vaidade dos Mitos do nosso tempo, tenhamos a] coragem<br />
invencível e a paciência dos que vivem na Alegria perfeita da renúncia.”<br />
Na própria nota 41, em continuação lógica das sinalizações anteriores,<br />
é sublinhado o trecho: “Porque a herança do Pecado feriu de morte<br />
todas as almas, até a liquidação dos tempos.” Comentário do leitor:<br />
revista ieb n49 2009 mar/set p. x-xx