Atualmente, a indústria de Celulose e Papel no Brasil encontra-se ...
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CRISE DE ABASTECIMENTO E MUDANÇAS TECNOLÓGICAS NA PRODUÇÃO<br />
RESUMO<br />
DE PAPEL ONDULADO<br />
1<br />
Maria Sylvia M. Saes 1<br />
Raquel Nadal 2<br />
Christian Luiz da Silva 3<br />
A <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> papelão ondulado vive cri<strong>se</strong> <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> recursos<br />
<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> fornecimento da principal matéria-prima: a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong><br />
fibra longa. Esta celulo<strong>se</strong> é feita a partir do pinus, que tem problemas<br />
sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos pelo baixo investimento em <strong>no</strong>vas florestas, que vêm<br />
per<strong>de</strong>ndo mercado para celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra curta, que é produzida a partir do<br />
Eucalipto. O Eucalipto brasileiro tem vantagem comparativa pelo me<strong>no</strong>r tempo <strong>de</strong><br />
maturação e abundância da árvore <strong>se</strong> comparada com o pinus. Devido a essa<br />
conjuntura ob<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong> que o esforço em estudos tec<strong>no</strong>lógicos da <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> <strong>Papel</strong><br />
Ondulado visa substituir uma porcentagem da fibra longa por papéis reciclados e<br />
mesmo por celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra curta para fabricação do papel ondulado. Es<strong>se</strong> artigo<br />
teve como objetivo avaliar as mudanças tec<strong>no</strong>lógicas ocorridas <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong><br />
fabricação <strong>de</strong> embalagens, especialmente papelão ondulado, em termos da matéria-<br />
prima básica utilizada. A metodologia adotada foi a realização <strong>de</strong> uma pesquisa<br />
exploratória sobre o tema envolvendo entrevistas <strong>se</strong>mi-estruturadas com<br />
repre<strong>se</strong>ntantes da ativida<strong>de</strong> industrial <strong>de</strong> celulo<strong>se</strong> fibra longa e <strong>de</strong> papelão ondulado<br />
com vistas a discutir as mudanças tec<strong>no</strong>lógicas ocorridas e reflexos na dinâmica<br />
<strong>se</strong>torial. A discussão, em caráter preliminar, confirma a tendência <strong>de</strong> busca contínua<br />
<strong>de</strong> <strong>no</strong>va tec<strong>no</strong>logia para substituição <strong>de</strong> recursos escassos (pinus). O esforço<br />
conjunto das empresas na busca <strong>de</strong> ações tec<strong>no</strong>lógicas e as estratégias<br />
cooperativas por meio <strong>de</strong> suas associações <strong>de</strong> clas<strong>se</strong> consi<strong>de</strong>ram a questão<br />
1<br />
Eco<strong>no</strong>mista e doutora em eco<strong>no</strong>mia pela USP, professora do curso <strong>de</strong> administração da FEA/ USP.<br />
E-mail: E-mail: ssaes@usp.br<br />
2<br />
Graduanda da USP<br />
3<br />
Eco<strong>no</strong>mista, doutor em engenharia <strong>de</strong> produção pela UFSC e pós-doutor em Administração pela<br />
USP; coor<strong>de</strong>nador do mestrado em organizações e <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento pela UNIFAE. E-mail:<br />
christians@fae.edu
tec<strong>no</strong>lógica não como um diferencial competitivo entre as empresas mas como <strong>de</strong><br />
sobrevivência da própria <strong>indústria</strong> nacional.<br />
Palavras-chave: tec<strong>no</strong>logia; papelão ondulado; abertura <strong>de</strong> mercado; florestas;<br />
sustentabilida<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>reira<br />
INTRODUÇÃO<br />
A <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> papel <strong>se</strong> confun<strong>de</strong> com a reciclagem <strong>de</strong> matéria-prima. Somente a<br />
partir da década <strong>de</strong> 1970, incrementou-<strong>se</strong> significativamente o uso <strong>de</strong> matéria-prima<br />
virgem (floresta) para fabricação <strong>de</strong> celulo<strong>se</strong> e papel. A década <strong>de</strong> 1990 coloca<br />
<strong>no</strong>vamente em discussão o tipo <strong>de</strong> matéria-prima utilizada em razão da cri<strong>se</strong> <strong>de</strong><br />
abastecimento <strong>de</strong> matéria-prima virgem. Com déficit florestal na década <strong>de</strong> 1990,<br />
oriundo do aumento da <strong>de</strong>manda maior que a oferta, fez com que <strong>se</strong> buscas<strong>se</strong><br />
<strong>no</strong>vamente alternativas <strong>de</strong> recursos. A busca <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong>manda <strong>no</strong>vas<br />
tec<strong>no</strong>logias e i<strong>no</strong>vações <strong>de</strong> produto, processo ou organizacional. Estas <strong>no</strong>vas<br />
tec<strong>no</strong>logias colocam em questão o problema relativo a matéria-prima. A <strong>indústria</strong> <strong>de</strong><br />
papelão ondulado enfrenta atualmente uma cri<strong>se</strong> <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> recursos<br />
<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> fornecimento da principal matéria-prima: a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong><br />
fibra longa. Esta celulo<strong>se</strong> é fabricada <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> a partir da ma<strong>de</strong>ira do pinus, cuja<br />
floresta tem apre<strong>se</strong>ntado problemas <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos pelo baixo<br />
investimento em <strong>no</strong>vas florestas e pela substituição <strong>de</strong>ssas pelas Florestas <strong>de</strong><br />
Eucalipto, que dão origem a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra curta.<br />
Ob<strong>se</strong>rvada a relativa escas<strong>se</strong>z da celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra longa, avanços tec<strong>no</strong>lógicos que<br />
visam substituir uma porcentagem <strong>de</strong>ssas fibras por papéis reciclados e mesmo por<br />
celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra curta têm sido verificados na <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> <strong>Papel</strong> Ondulado.<br />
O objetivo <strong>de</strong>ste artigo busca avaliar as mudanças tec<strong>no</strong>lógicas ocorridas <strong>no</strong> sistema<br />
<strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong> embalagens, especialmente papelão ondulado, em termos da<br />
matéria-prima básica utilizada.<br />
A metodologia adotada ba<strong>se</strong>ia-<strong>se</strong> em pesquisa exploratória sobre o tema<br />
envolvendo entrevistas <strong>se</strong>mi-estruturadas com repre<strong>se</strong>ntantes da ativida<strong>de</strong> industrial<br />
<strong>de</strong> celulo<strong>se</strong> fibra longa e <strong>de</strong> papelão ondulado com vistas a discutir às mudanças<br />
tec<strong>no</strong>lógicas ocorridas e reflexos na dinâmica <strong>se</strong>torial. Fez-<strong>se</strong> um estudo <strong>de</strong><br />
2
correlação das variáveis tec<strong>no</strong>lógicas a partir <strong>de</strong> dados históricos obtidos nas<br />
associações <strong>de</strong> clas<strong>se</strong> (ABTCP e Bracelpa).<br />
O artigo está dividido em 3 partes. A primeira busca apre<strong>se</strong>ntar a Indústria <strong>de</strong> <strong>Papel</strong><br />
Ondulado <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e as restrições do crescimento <strong>de</strong>s<strong>se</strong> mercado <strong>de</strong>vido ao<br />
fornecimento <strong>de</strong> pinus. Na <strong>se</strong>gunda, as relações <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda e oferta do produto, o<br />
estreitamento das margens da <strong>indústria</strong> e finalmente, a substituição da celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong><br />
fibra longa por outras fibras me<strong>no</strong>s custosas. A opção tec<strong>no</strong>lógica e uso <strong>de</strong> fillers<br />
também <strong>se</strong>rão discutidos. Na terceira parte uma análi<strong>se</strong> das tendências do mercado<br />
e as perspectivas da produção <strong>se</strong>rão exploradas. Por fim, algumas consi<strong>de</strong>rações<br />
finais <strong>se</strong>rão apre<strong>se</strong>ntadas tendo em vista o posicionamento da produção brasileira e<br />
o mercado internacional.<br />
1 O SISTEMA AGROINDUSTRIAL DE PAPEL ONDULADO<br />
A <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> papel ondulado é composta <strong>de</strong> <strong>se</strong>gmentos que apre<strong>se</strong>ntam<br />
complexas relações verticais e horizontais entre si. 4 A complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-<strong>se</strong><br />
principalmente à estrutura bastante diversa dos fornecedores <strong>de</strong> sua matéria-prima,<br />
que po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r caracterizada por um mix <strong>de</strong> insumo <strong>no</strong>bre e reciclado. A parte <strong>no</strong>bre é<br />
a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra longa que advém da floresta <strong>de</strong> pinus. Outra parte do insumo<br />
utilizado na <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> papel ondulado é o papel reciclado, cada vez mais pre<strong>se</strong>nte<br />
na composição do papel ondulado.<br />
Existe um numero reduzido <strong>de</strong> empresas <strong>no</strong> <strong>se</strong>tor que integram <strong>no</strong> <strong>se</strong>u processo<br />
produtivo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a floresta até as caixas <strong>de</strong> papelão. Este fato é <strong>de</strong>corrente da<br />
pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s barreiras à entrada que são causadas pela especificida<strong>de</strong> do<br />
ativo “floresta”, além da alta escala com que essas <strong>indústria</strong>s operam, levando à<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s investimentos iniciais. São elas: Klabin, Rigesa e Orsa e<br />
Trombini. Somente essas quatro empresas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> produzem a folha <strong>de</strong> papel para<br />
a fabricação do <strong>Papel</strong>ão Ondulado (Kraft) uma vez são as únicas que possuem o<br />
ativo “floresta”.<br />
Já o fornecimento <strong>de</strong> reciclado contrasta fortemente com a estrutura hierárquica<br />
acima <strong>de</strong>scrita. O reciclado é adquirido <strong>de</strong> aparistas, os quais têm uma estrutura<br />
4 A análi<strong>se</strong> das relações verticais e horizontais é <strong>de</strong><strong>no</strong>minada <strong>de</strong> Sistema – re<strong>de</strong>. Conceito <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvido pelo<br />
Programa <strong>de</strong> Estudos dos Negócios dos Sistemas Agroindustriais – PENSA.<br />
3
horizontal informal muito bem estruturada. A estrutura <strong>se</strong> inicia <strong>no</strong>s acordos<br />
informais entre funcionários <strong>de</strong> limpeza <strong>de</strong> residências e/ou <strong>de</strong> escritórios com os<br />
catadores <strong>de</strong> papel, passa por <strong>de</strong> pequenas empresas na sua maioria informais<br />
chamadas <strong>de</strong> “sucateiras” que adquirem o produto e o encaminham para os<br />
aparistas, os quais têm o contato com as empresas <strong>de</strong> papel ondulado. (Figura 1)<br />
Reciclagem<br />
Ma<strong>de</strong>ira<br />
Aparas <strong>de</strong> <strong>Papel</strong><br />
Industrialização<br />
<strong>Papel</strong> Kraft<br />
Industrialização<br />
<strong>Papel</strong> Reciclado<br />
2o. Processamento<br />
<strong>Papel</strong>ão Ondulado<br />
Chapa<br />
<strong>Papel</strong>ão<br />
Cartonagens<br />
Embalagem<br />
<strong>Papel</strong>ão<br />
Outras Embalagens<br />
Multipack<br />
Tetra Pack<br />
Kraftliner Branco<br />
..<br />
.<br />
<strong>Papel</strong> Kraft<br />
Mercado<br />
Inter<strong>no</strong> e Exter<strong>no</strong><br />
Ind. Alimentícia<br />
Ind. Química<br />
e Derivados<br />
Ind. Mat. Elétrico<br />
Comunicação<br />
Ind. Fumo<br />
Fruticultura<br />
Floricultura<br />
Demais<br />
<strong>Papel</strong> Reciclado<br />
Mercado<br />
Inter<strong>no</strong> e<br />
Exter<strong>no</strong><br />
FIGURA 1 – ESQUEMA SIMPLIFICADO DAS GRANDES FIRMAS DE PAPEL<br />
ONDULADO<br />
Ainda, além das gran<strong>de</strong>s empresas integradas verticalmente, existem também as<br />
médias e pequenas empresas que adquirem das quatro gran<strong>de</strong>s o Kraft que<br />
juntamente com o reciclado fabricam o ondulado. A ondula<strong>de</strong>ira é o principal<br />
equipamento da fábrica: ondula a folha <strong>de</strong> papel e cola-a com duas outras folhas<br />
planas. Segundo a ABPO (2005), em 2003, 78 empresas do <strong>se</strong>tor possuíam<br />
ondula<strong>de</strong>iras. Vale ob<strong>se</strong>rvar que estas empresas, além <strong>de</strong> compradoras do Kraft das<br />
empresas integradas po<strong>de</strong>m também <strong>se</strong> tornar suas concorrentes em <strong>de</strong>terminados<br />
mercado.<br />
4
Finalmente, também participam <strong>de</strong>ssa <strong>indústria</strong> as empresas <strong>de</strong> cartonagens que<br />
são empresas que adquirem chapas <strong>de</strong> papel ondulado para fabricação <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong><br />
papelão. A entrada nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>gmento é facilitada pelo baixo investimento, quando<br />
comparado as <strong>de</strong>mais empresas fabricantes <strong>de</strong> embalagem e elas geralmente <strong>se</strong><br />
especializam em <strong>se</strong>gmentos <strong>de</strong> mercados <strong>de</strong> peque<strong>no</strong> porte que, na maioria das<br />
vezes, não são interessantes para as empresas gran<strong>de</strong> porte, as quais costumam<br />
trabalhar com gran<strong>de</strong>s escalas. Por isso, as cartonagens dificilmente <strong>se</strong>rão<br />
concorrentes das gran<strong>de</strong>s, mas po<strong>de</strong>m <strong>se</strong>r das médias empresas <strong>de</strong> papelão<br />
ondulado.<br />
Dadas as características acima, a <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> papel ondulado po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r consi<strong>de</strong>rada<br />
como um oligopólio com franja competitiva. Ao lado das <strong>se</strong>is maiores Klabin, Rigesa,<br />
Trombini, Orsa, N. Sra. da Penha e Ibéria, as quais <strong>de</strong>tém aproximadamente 60% do<br />
mercado, convivem inúmeras empresas <strong>de</strong> médio e peque<strong>no</strong> porte. A tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong><br />
produção é <strong>de</strong> domínio público e há pouca diferenciação do produto que, aliado às<br />
baixas barreiras à entrada e à existência <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> ociosa, resultam em uma<br />
competição muito intensa. (Tabela 1). O IHH <strong>de</strong>ssa <strong>indústria</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> em 2003 é <strong>de</strong><br />
952, o que indica pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> concentração mo<strong>de</strong>rada nes<strong>se</strong> mercado. Ainda, <strong>se</strong><br />
calculado o CR4, po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> perceber as quatro maiores empresas do <strong>se</strong>tor dominam<br />
mais que a meta<strong>de</strong> do mercado <strong>de</strong> <strong>Papel</strong>ão Ondulado <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
TABELA 1 - EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DE MERCADO DAS PRINCIPAIS<br />
CONCORRENTES<br />
2000 2001 2002 2003<br />
Klabin 26,0% 25,0% 23,0% 22,0%<br />
Orsa 8,4% 9,4% 10,4% 11,7%<br />
Rigesa 10,0% 10,3% 10,6% 10,5%<br />
Trombini 6,4% 6,5% 6,9% 7,0%<br />
N. Sra da<br />
Penha 5,2% 5,1% 5,0% 4,9%<br />
Ibéria 4,5% 4,8% 4,0% 3,8%<br />
5
Ainda, po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> afirmar que essa <strong>indústria</strong> tem sofrido progressos constantes, os<br />
quais po<strong>de</strong>m <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvados na melhoria da qualida<strong>de</strong> da matéria-prima e <strong>no</strong>s<br />
avanços da tec<strong>no</strong>logia dos equipamentos, dos processos <strong>de</strong> produção e das<br />
técnicas <strong>de</strong> impressão da embalagem <strong>de</strong> papelão ondulado. O rápido crescimento<br />
da informática, por exemplo, tem revolucionado essa <strong>indústria</strong> permitindo produções<br />
contínuas agilizando, <strong>de</strong>ssa maneira, o trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento das<br />
embalagens. Es<strong>se</strong> progresso tec<strong>no</strong>lógico é o gran<strong>de</strong> responsável pelo intenso<br />
crescimento na produção e na produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa <strong>indústria</strong>. A produção apre<strong>se</strong>nta<br />
uma taxa <strong>de</strong> crescimento anual <strong>de</strong> 3,8% ao a<strong>no</strong> (Gráfico 1).<br />
2,5<br />
2,0<br />
1,5<br />
1,0<br />
0,5<br />
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004<br />
GRÁFICO 1 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE PAPEL ONDULADO (EM MILHÕES<br />
DE TONELADAS)<br />
É relevante mencionar também que a evolução tec<strong>no</strong>lógica nessa <strong>indústria</strong><br />
proporcio<strong>no</strong>u um aumento das taxas <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> por ondula<strong>de</strong>ira (gráfico 2).<br />
Vale <strong>de</strong>stacar que a queda ocorrida em 2003 foi resultado do mau <strong>de</strong><strong>se</strong>mpenho <strong>de</strong><br />
todo o <strong>se</strong>tor e não <strong>de</strong> um retrocesso tec<strong>no</strong>lógico.<br />
20000,00<br />
18000,00<br />
16000,00<br />
14000,00<br />
12000,00<br />
10000,00<br />
8000,00<br />
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003<br />
Produtivida<strong>de</strong> por Ondula<strong>de</strong>ira<br />
6
GRÁFICO 2 - EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE POR ONDULADEIRA<br />
Entretanto, esta <strong>indústria</strong> tem restrições <strong>no</strong> que diz respeito ao crescimento do <strong>se</strong>u<br />
mercado ob<strong>se</strong>rvado o crescente déficit <strong>de</strong> pinus, do qual é extraída a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong><br />
fibra longa que constitui uma das principais materiais primas do papel ondulado.<br />
A silvicultura intensiva <strong>de</strong> pinus é um dos principais itens do <strong>se</strong>tor florestal brasileiro<br />
responsável pela geração <strong>de</strong> uma receita anual <strong>de</strong> aproximadamente US$ 6,1<br />
bilhões. A formação <strong>de</strong>s<strong>se</strong> patrimônio florestal foi estimulada pela lei dos incentivos<br />
fiscais para o reflorestamento que vigorou por 20 a<strong>no</strong>s, entre as décadas <strong>de</strong> 1960 e<br />
1980. Com o térmi<strong>no</strong> <strong>de</strong>s<strong>se</strong> incentivo, ocorrido em 1987, houve um acentuado<br />
<strong>de</strong>créscimo na taxa <strong>de</strong> plantios florestais. Apesar disso, a industrialização <strong>de</strong> pinus<br />
<strong>se</strong>guiu gerando produtos manufaturados como chapas <strong>de</strong> vários tipos, móveis, que<br />
<strong>se</strong> tornaram importantes itens <strong>de</strong> exportação. Entretanto, a ba<strong>se</strong> florestal <strong>de</strong> pinus<br />
não cresceu na mesma proporção da <strong>de</strong>manda do mercado, criando <strong>de</strong>fasagens<br />
crescentes. De acordo com a Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> Silvicultura (SBS), a <strong>de</strong>manda<br />
por ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Pinus que foi <strong>de</strong> 40 milhões <strong>de</strong> metros cúbicos em 2002, <strong>de</strong>ve<br />
aumentar para 80 milhões <strong>de</strong> metros cúbicos em 2020, gerando um déficit estimado<br />
em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 34 milhões <strong>de</strong> metros cúbicos.<br />
O déficit crescente do fornecimento <strong>de</strong>ssa ma<strong>de</strong>ira tem gerado cri<strong>se</strong>s <strong>de</strong><br />
abastecimento nas <strong>indústria</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>la, como é o caso da <strong>indústria</strong> <strong>de</strong><br />
papelão ondulado. Em prol <strong>de</strong> solucionar este problema, cada vez mais a referida<br />
<strong>indústria</strong> tem buscado substituir a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra longa por outros tipos <strong>de</strong><br />
materiais fibrosos como aparas e celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> Eucalipto (Figura 2) Estes apre<strong>se</strong>ntam<br />
um me<strong>no</strong>r custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>, em função da maior disponibilida<strong>de</strong> e, além disso,<br />
o <strong>Brasil</strong> apre<strong>se</strong>nta uma vantagem comparativa <strong>no</strong> que diz respeito especificamente a<br />
celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> eucalipto 5 .<br />
Fibra<br />
Fibra Curta<br />
PA<br />
<strong>Papel</strong><br />
Filler<br />
Jorna Revist <strong>Papel</strong>ã Papéi<br />
s<br />
Cartolin Tissu<br />
5<br />
Abundância <strong>de</strong> matéria-prima (gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> florestas e áreas <strong>de</strong> reflorestamento) e reduzido ciclo <strong>de</strong><br />
maturação do eucalipto facilitado pelo tipo <strong>de</strong> solo e condições climáticas, além da <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> um parque<br />
industrial <strong>de</strong> alta tec<strong>no</strong>logia.<br />
7
FIGURA 2 – MUDANÇA DA COMPOSIÇÃO DA MATÉRIA PRIMA PARA REDUZIR<br />
CUSTOS<br />
A vantagem comparativa brasileira na produção <strong>de</strong> eucalipto é um dos motivos pelos<br />
quais a plantação <strong>de</strong> florestas <strong>de</strong> Pinus têm perdido espaço para as Florestas <strong>de</strong><br />
Eucalipto (Gráfico 3), o que gera também uma crescente perda <strong>de</strong> mercado da<br />
celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra longa comparativamente a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra curta. Se analisadas<br />
estatísticas 6 <strong>de</strong> a<strong>no</strong>s anteriores po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> concluir que cada vez é maior a<br />
porcentagem <strong>de</strong> mercado ocupada pela celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra curta (Gráfico 4). Leite<br />
(2003) apontou como principais vantagens comparativas do <strong>Brasil</strong> os <strong>se</strong>guintes<br />
pontos: solos e clima favoráveis; disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terras ociosas; disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
mão-<strong>de</strong>-obra; conhecimento científico e tec<strong>no</strong>lógico; produtivida<strong>de</strong>; capacida<strong>de</strong><br />
organizacional da iniciativa privada; experiências bem sucedidas com fomento;<br />
mercado; agregação <strong>de</strong> valor (cluster). Estes pontos foram discutidos por Silva<br />
(2002) e, apesar <strong>de</strong> positivos, não são suficientes para manter a capacida<strong>de</strong><br />
competitiva da <strong>indústria</strong> nacional. A falta <strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong> longo prazo e o baixo<br />
investimento florestal são fatores fundamentais <strong>no</strong> incremento da dificulda<strong>de</strong><br />
competitiva da <strong>indústria</strong> brasileira a partir <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 1990.<br />
6 De acordo com dados preliminares da Bracelpa referentes à 2004, foram produzidas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong>ve mil e<br />
quatrocentas toneladas <strong>de</strong> celulo<strong>se</strong>. Deste total, a produção <strong>de</strong> celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra curta repre<strong>se</strong>nta 79%, a <strong>de</strong> fibra<br />
longa 16% e os 5% restantes são relativos às pastas <strong>de</strong> alto rendimento.<br />
8
100%<br />
80%<br />
60%<br />
40%<br />
20%<br />
0%<br />
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002<br />
Eucaliptos Pinus<br />
GRÁFICO 3 – EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA DE PINUS VS. EUCALIPTO NO<br />
BRASIL<br />
100%<br />
80%<br />
60%<br />
40%<br />
20%<br />
0%<br />
1950<br />
1954<br />
1958<br />
1962<br />
1966<br />
1970<br />
1974<br />
1978<br />
1982<br />
1986<br />
Fibra Longa Fibra Curta<br />
1990<br />
1994<br />
1998<br />
2002<br />
GRÁFICO 4 – EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE CELULOSE DE EUCALIPTO VS.<br />
PINUS NO BRASIL<br />
9
Além da vantagem comparativa do <strong>Brasil</strong> em relação aos <strong>de</strong>mais paí<strong>se</strong>s na<br />
produção <strong>de</strong> Eucalipto, o tempo <strong>de</strong> maturação <strong>de</strong>ste varia <strong>de</strong> 6 a 7 a<strong>no</strong>s enquanto o<br />
pinus leva <strong>de</strong> 11 a 12 a<strong>no</strong>s em média para crescer. Isto torna o custo da celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong><br />
fibra curta, feita <strong>de</strong> eucalipto, me<strong>no</strong>r do que a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra longa, <strong>de</strong> pinus.<br />
Ainda, como ob<strong>se</strong>rvado anteriormente a escas<strong>se</strong>z <strong>de</strong> pinus é outro responsável pelo<br />
aumento dos preços da fibra longa. Fica claro, pelo exposto acima, que a utilização<br />
da fibra curta tem um me<strong>no</strong>r custo para os produtores (Gráfico 5).<br />
700<br />
650<br />
600<br />
550<br />
500<br />
450<br />
29/06/04<br />
13/07/04<br />
27/07/04<br />
10-Aug-04<br />
24-Aug-04<br />
07-Sep-04<br />
21-Sep-04<br />
05-Oct-04<br />
19-Oct-04<br />
02/11/04<br />
16/11/04<br />
30/11/04<br />
14-Dec-04<br />
28-Dec-04<br />
11/01/05<br />
25/01/05<br />
08-Feb-05<br />
Fibra Longa (USD / t) Fibra Curta (USD / t)<br />
GRÁFICO 5 – EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DE CELULOSE DE EUCALIPTO VS.<br />
FIBRA LONGA<br />
Também, a escas<strong>se</strong>z <strong>de</strong> florestas leva à tendência <strong>de</strong> <strong>se</strong> utilizar maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
papel reciclado, me<strong>no</strong>s custoso por não <strong>se</strong> tratar <strong>de</strong> um ativo especifico (Gráfico 6).<br />
A estrutura <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> aparas para as Indústrias <strong>de</strong> <strong>Papel</strong>ão ondulado,<br />
embora bem estruturada, gera um problema <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do<br />
papel reciclado. Como não existe um trabalho anterior <strong>de</strong> <strong>se</strong>paração do material, as<br />
aparas são freqüentemente encaminhadas com outros materiais que <strong>de</strong>squalificam e<br />
comprometem o processo <strong>de</strong> produção e a qualida<strong>de</strong> do produto final. Essa forma<br />
consolidada <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> aparas tem sido apontada como um dos gran<strong>de</strong>s<br />
problemas que restringem a capacida<strong>de</strong> competitiva da <strong>indústria</strong>.<br />
10
2800000<br />
2300000<br />
1800000<br />
1300000<br />
800000<br />
300000<br />
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001<br />
Consumo <strong>de</strong> APARAS (tons) Consumo PO - MERCADO INTERNO ( tons)<br />
"Spread" (Aparas - PO)<br />
GRÁFICO 6 – EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE PO VS. APARAS<br />
Outro problema com que <strong>se</strong> <strong>de</strong>fronta essa <strong>indústria</strong> é a concorrência pela matéria-<br />
prima com as empresas moveleiras. Um fato interessante é o crescimento do MDF<br />
<strong>no</strong> mercado nacional. Em 1997 a produção <strong>de</strong> MDF foi <strong>de</strong> 30 mil m 3 , enquanto em<br />
2000 foi <strong>de</strong> 381 m 3 . Já a produção <strong>de</strong> aglomerado em 1994 era <strong>de</strong> 758 mil m 3 , ante<br />
1764 mil m 3 em 2000.<br />
Ob<strong>se</strong>rvado o contexto <strong>de</strong> preços acima e ainda a previsão <strong>de</strong> consumo crescente <strong>de</strong><br />
pinus, não só pela <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> papel, mas também pela <strong>de</strong> móveis, tem gerado<br />
esforços tec<strong>no</strong>lógicos constantes visando substituir uma porcentagem <strong>de</strong>sta fibra<br />
longa por papéis reciclados e mesmo por celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra curta para fabricação do<br />
papel ondulado, <strong>se</strong>m que este perca qualida<strong>de</strong>. (Gráfico 7, 8).<br />
19,00%<br />
14,00%<br />
9,00%<br />
4,00%<br />
-1,00%<br />
1994<br />
1995<br />
1996<br />
1997<br />
1998<br />
1999<br />
2000<br />
Porcentagem Mil Tons<br />
2001<br />
2002<br />
2003<br />
3000<br />
2800<br />
2600<br />
2400<br />
2200<br />
2000<br />
1800<br />
1600<br />
11
GRÁFICO 7 – EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE PAPÉIS PARA EMBALAGENS VS.<br />
VARIAÇÃO DO CONSUMO DE APARAS NO BRASIL<br />
GRÁFICO 8 – EVOLUÇÃO MENSAL DO CONSUMO DE APARAS VS. OUTRAS<br />
FIBRAS<br />
2 TECNOLOGIAS DE FIBRA LONGA E APARAS: TENDÊNCIAS DE MERCADO<br />
Conforme Fon<strong>se</strong>ca e Zeidan (2002, p. 2) “a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> papel é, na<br />
realida<strong>de</strong>, complementar à produção <strong>de</strong> matérias-primas fibrosas virgens, que<br />
constitui o principal insumo <strong>de</strong> todo processo <strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong> papel. A reciclagem<br />
dos papéis <strong>se</strong>ria tecnicamente impossível após quatro a cinco ciclos <strong>se</strong>m a entrada<br />
constante <strong>de</strong> matérias-primas fibrosas virgens <strong>no</strong> processo”. Esta ativida<strong>de</strong><br />
repre<strong>se</strong>ntou, em 2000, 33% do total da produção brasileira <strong>de</strong> papel do país. Apesar<br />
da vantagem comparativa brasileira, obtida pelo me<strong>no</strong>r tempo <strong>de</strong> maturação <strong>de</strong> uma<br />
árvore 7 , o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> da floresta é diversificado, conforme discutido na <strong>se</strong>ção anterior, o<br />
que <strong>de</strong>manda alternativas para <strong>indústria</strong> <strong>de</strong> papel.<br />
A reciclagem <strong>de</strong> papel surge da necessida<strong>de</strong> da matéria-prima em contra-partida<br />
com o crescente <strong>de</strong>smatamento. Segundo M da FAO (2003), o <strong>de</strong>smatamento<br />
mundial na década <strong>de</strong> 1990 foi <strong>de</strong> 14,6 milhões (estimativa do <strong>de</strong>smatamento anual).<br />
Consi<strong>de</strong>rando que foram plantados 5,2 milhões (plantio ou replantio anual), o déficit<br />
foi <strong>de</strong> 9,4 milhões ha/a<strong>no</strong> (<strong>de</strong>ficit anual), <strong>se</strong>ndo que a América Latina repre<strong>se</strong>ntou<br />
7 O eucalipto, por exemplo, que compõe a ba<strong>se</strong> florestal das empresas brasileiras, po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r cortado em <strong>se</strong>te a<strong>no</strong>s,<br />
enquanto <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte da Europa os pinheiros não levam me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 30 a 40 a<strong>no</strong>s para estarem prontos. Mesmo o<br />
eucalipto da Península Ibérica e do Chile, com uma maturação <strong>de</strong> 11 a 12 a<strong>no</strong>s, não <strong>se</strong> obtém as mesmas<br />
vantagens do <strong>Brasil</strong>.<br />
12
45,6% <strong>de</strong>ste déficit. No <strong>Brasil</strong>, as plantações <strong>de</strong> Pinus e Eucalyptus repre<strong>se</strong>ntam 4,8<br />
milhões há, com um plantio anual <strong>de</strong> 200 mil hectares, ou <strong>se</strong>ja, um valor bem me<strong>no</strong>r<br />
que o consumo. O déficit <strong>de</strong> pinus em 2001 já estava em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 5000 m 3 , e a<br />
perspectiva é <strong>de</strong> alcançar o déficit <strong>de</strong> aproximadamente 27000 m 3 em 2020 (LEITE,<br />
2003). Conforme Pires (2003) “Na medida em que <strong>se</strong> ampliava a fabricação <strong>de</strong> papel<br />
<strong>no</strong> país, a partir <strong>de</strong> matérias-primas virgens, estimulando um maior consumo,<br />
paralelamente <strong>se</strong> ampliava a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reciclagem, con<strong>se</strong>quência da maior<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> papéis recicláveis”. Pires continua explicitando uma relação<br />
complementar entre o material reciclado (como aparas) e matéria-prima virgem<br />
(pinus – celulo<strong>se</strong> fibra longa): “A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> papel é, em realida<strong>de</strong>,<br />
complementar à produção <strong>de</strong> matérias-primas fibrosas virgens, que constitui a porta<br />
<strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> todo o processo. O aproveitamento dos papéis <strong>de</strong>scartados <strong>se</strong>ria<br />
tecnicamente impossível após quatro ou cinco ciclos, <strong>se</strong>m a entrada constante <strong>de</strong><br />
matérias-primas fibrosas virgens <strong>no</strong> processo”. Ou <strong>se</strong>ja, o crescente uso <strong>de</strong> material<br />
reciclável é necessário, contudo <strong>se</strong>rve para diminuir a pressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda sobre a<br />
matéria-prima virgem, que continua <strong>se</strong>ndo necessária em me<strong>no</strong>r escala. Os papéis<br />
recicláveis são oriundos principalmente <strong>de</strong> convertedores, que são as aparas. Em<br />
2002, em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 60% dos papéis recicláveis eram aparas <strong>de</strong> papelões ondulados,<br />
o que <strong>de</strong>monstra a importância relativa das aparas para este mercado <strong>de</strong> ondulados<br />
(BRACELPA, 2005).<br />
Além da importância dos reciclados, é válido ressaltar que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aparas é<br />
remunerada. O preço da aparas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tipo da matéria-prima. Segundo<br />
Godinez (2003), a partir <strong>de</strong> dados da Bracelpa, a aparas <strong>de</strong> ondulados custava R$<br />
412/ ton em julho <strong>de</strong> 2003 enquanto a Branca Tipo I, mais próxima da matéria-prima<br />
virgem, custava R$ 1126/ ton. Esta diferença mostra, também, a distância entre<br />
aparas e matéria-prima virgem.<br />
Po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> perceber pelo gráfico 9 que existe aparente relação <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>: o<br />
aumento <strong>de</strong> preços da aparas causa um aumento do preço da celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra<br />
longa e vice-versa. Quando há ausência <strong>de</strong> aparas <strong>no</strong> mercado, aumenta o <strong>se</strong>u<br />
preço, o que causa um aumento da procura por fibra longa e respectivamente <strong>se</strong>u<br />
aumento <strong>de</strong> preço e não o contrario.<br />
13
420,00<br />
370,00<br />
320,00<br />
270,00<br />
220,00<br />
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004<br />
PREÇO APARAS PREÇO CELULOSE FIBRA LONGA (R$)<br />
3200,00<br />
2800,00<br />
2400,00<br />
2000,00<br />
1600,00<br />
1200,00<br />
GRÁFICO 9 – EVOLUÇÃO ANUAL DO PREÇO DE APARAS E CELULOSE FIBRA<br />
LONGA<br />
O quadro 10 mostra que o aumento da quantida<strong>de</strong> produzida <strong>de</strong> PO, po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r<br />
verificado pela evolução da produção <strong>de</strong> aparas e celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra longa, que o uso<br />
<strong>de</strong> aparas aumentou mais que proporcionalmente do que o uso <strong>de</strong> celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra<br />
longa.<br />
3500000<br />
3000000<br />
2500000<br />
2000000<br />
1500000<br />
1000000<br />
500000<br />
1990<br />
1991<br />
1992<br />
1993<br />
1994<br />
1995<br />
1996<br />
1997<br />
1998<br />
1999<br />
2000<br />
2001<br />
2002<br />
2003<br />
2004<br />
QTDE APARAS QTDE CELULOSE FIBRA LONGA QTDE <strong>de</strong> PO<br />
GRÁFICO 10 – EVOLUÇÃO ANUAL DA QUANTIDADE DE APARAS E CELULOSE<br />
FIBRA LONGA<br />
Calculando as elasticida<strong>de</strong>s cruzadas <strong>de</strong> preço <strong>de</strong> aparas e quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fibra<br />
longa, po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> perceber que o valor é em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 0,40 (ver apêndice 1), ou <strong>se</strong>ja,<br />
isso <strong>de</strong><strong>no</strong>ta que as aparas e a celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra longa são bens substitutos. A<br />
14
tendência <strong>de</strong> redução dos recursos oriundos <strong>de</strong> fibra longa indica o aumento do uso<br />
do substituto (aparas).<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O objetivo <strong>de</strong>ste artigo foi avaliar as mudanças tec<strong>no</strong>lógicas a partir da matéria-<br />
prima utilizada. A partir das pesquisas em dados <strong>se</strong>cundários, comprovadas pelo<br />
mo<strong>de</strong>lo eco<strong>no</strong>métrico e pela entrevista realizada com importante fabricante <strong>de</strong><br />
papelão ondulado, po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> verificar o uso crescente <strong>de</strong> aparas como matérias-<br />
primas pelo estrangulamento <strong>de</strong> fornecimento da matéria-prima para produção <strong>de</strong><br />
papel e papelão. A tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> aparas não é somente industrial, mas<br />
também organizacional. Além <strong>de</strong> necessitar <strong>de</strong> máquinas para otimizar as aparas, há<br />
todo um complexo sistemas <strong>de</strong> coleta do material reciclado para <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento<br />
das aparas. Es<strong>se</strong> ponto é, em realida<strong>de</strong>, um dos gargalos para incremento do uso<br />
das aparas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, cujo uso do reciclável ainda é me<strong>no</strong>r do que a existente em<br />
paí<strong>se</strong>s europeus. O incremento da reciclagem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores que tornem o<br />
fluxo do material reciclável mais fluente, o que está acontecendo à medida que<br />
aumenta o déficit <strong>de</strong> matéria-prima virgem. Contudo, salienta-<strong>se</strong> que a substituição<br />
das aparas por matéria-prima virgem não é completa, já que <strong>se</strong> necessita o uso da<br />
última como mistura <strong>no</strong> processo produto. Entretanto, <strong>se</strong>guramente diminui a<br />
pressão do déficit <strong>de</strong> matéria-prima.<br />
Neste <strong>se</strong>ntido, a mudança tec<strong>no</strong>lógica, tanto organizacional quanto produtiva, em<br />
razão das limitações dos recursos produtivos, torna-<strong>se</strong> uma alteração do padrão<br />
competitivo <strong>de</strong>ste mercado (FERRAZ et alli, 1997; COUTINHO e FERRAZ, 1995) e<br />
coloca os produtores em busca <strong>de</strong> incremento <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> produtiva.<br />
Sugere-<strong>se</strong> como continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste trabalho um estudo comparativo da capacida<strong>de</strong><br />
competitiva das empresas que <strong>de</strong>tém o ativo “florestal” e que, portanto, ainda<br />
utilizam a tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> matéria-prima virgem, comparando com as empresas que<br />
utilizam apenas aparas.<br />
15
REFERÊNCIAS<br />
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http://www.abpo.org.br/entrada.htm. Acesso em: Maio 2005.<br />
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<strong>Papel</strong> & <strong>Celulo<strong>se</strong></strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: perspectivas <strong>de</strong> integração (EU e ALCA). Estudo da<br />
Competitivida<strong>de</strong> por ca<strong>de</strong>ias Integradas:-Um Esforço <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Criação<br />
<strong>de</strong> Estratégias Compartilhadas-Convênio MDIC/FECAMP/NEIT-IE-UNICAMP<br />
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16
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em Ciência Florestal), Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa.<br />
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Questão Florestal e o De<strong>se</strong>nvolvimento”. Rio <strong>de</strong> Janeiro: BNDES, 2003.<br />
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dinâmica <strong>se</strong>letiva na eco<strong>no</strong>mia capitalista. São Paulo : Hucitec, 1999.<br />
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imprimir e escrever sob a ótica da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor. Florianópolis, 2002. Te<strong>se</strong><br />
(Doutorado em Engenharia <strong>de</strong> Produção) – Setor Ciências Exatas, Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />
APENDICE 1 – CÁLCULO ELASTICIDADES CRUZADAS<br />
Depen<strong>de</strong>nt Variable: LPA<br />
Method: Least Squares<br />
Date: 05/31/05 Time: 14:06<br />
17
Sample(adjusted): 1997 2004<br />
Inclu<strong>de</strong>d ob<strong>se</strong>rvations: 8 after adjusting endpoints<br />
Convergence achieved after 4 iterations<br />
Variable Coefficie<br />
nt<br />
Std. Error t-Statistic Prob.<br />
LQCL 0.416691 0.081802 5.093892 0.0022<br />
AR(1) 0.813124 0.252092 3.225501 0.0180<br />
R-squared 0.665188 Mean <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<br />
5.26974<br />
var<br />
5<br />
Adjusted R- 0.609385 S.D. <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt 0.46057<br />
squared<br />
var<br />
4<br />
S.E. of regression 0.287855 Akaike info 0.55959<br />
criterion<br />
8<br />
Sum squared 0.497163 Schwarz criterion 0.57945<br />
resid<br />
9<br />
Log likelihood - F-statistic 11.9204<br />
0.238394<br />
8<br />
Durbin-Watson 2.136954 Prob(F-statistic) 0.01359<br />
stat<br />
0<br />
Inverted AR Roots .81<br />
Preço das Aparas = 0.416691 Qt<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Celulo<strong>se</strong></strong> <strong>de</strong> fibra longa<br />
Aumento do preço <strong>de</strong> celulo<strong>se</strong> <strong>de</strong> fibra longa ⇨Aumenta Qt<strong>de</strong> <strong>de</strong> aparas<br />
Depen<strong>de</strong>nt Variable: LPCL<br />
Method: Least Squares<br />
Date: 05/31/05 Time: 14:08<br />
Sample(adjusted): 1997 2004<br />
Inclu<strong>de</strong>d ob<strong>se</strong>rvations: 8 after adjusting endpoints<br />
Convergence achieved after 4 iterations<br />
18
Variable Coefficie<br />
nt<br />
Std. Error t-Statistic Prob.<br />
LQA 0.499091 0.030927 16.13747 0.0000<br />
AR(1) 0.771071 0.208999 3.689349 0.0102<br />
R-squared 0.799591 Mean <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<br />
6.99182<br />
var<br />
6<br />
Adjusted R- 0.766190 S.D. <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt 0.38558<br />
squared<br />
var<br />
4<br />
S.E. of regression 0.186445 Akaike info<br />
-<br />
criterion<br />
0.30904<br />
0<br />
Sum squared 0.208571 Schwarz criterion -<br />
resid<br />
0.28918<br />
0<br />
Log likelihood 3.236161 F-statistic 23.9387<br />
8<br />
Durbin-Watson 2.143077 Prob(F-statistic) 0.00273<br />
stat<br />
1<br />
Inverted AR Roots .77<br />
Preço <strong>de</strong> <strong>Celulo<strong>se</strong></strong> <strong>de</strong> fibra longa = 0.499091 Qt<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aparas<br />
19