O peso da palavra As palavras têm peso, têm ou não têm?! Há diferença entre dizer sim ou não como há diferença entre a manhã e tar<strong>de</strong>, o frio ou o calor. Bem sabemos que nem sempre as palavras dizem tudo… umas vezes não conseguem outras vezes não queremos que digam! Desta feita, na nossa OLHARES, temos uma palavra <strong>de</strong> peso: ARRISCAR. Diz a sabedoria popular que quem não arrisca não petisca e em abono da verda<strong>de</strong> assim é. No entanto, é igualmente certo que o seguro morreu <strong>de</strong> velho … e assim sendo ficamos no meio da ponte sem saber se avançar se recuar! Por quantas situações <strong>de</strong>stas já passámos na vida? Quando se têm quatro, cinco, <strong>de</strong>z ou quinze anos, arriscar, correr riscos, <strong>de</strong>safiar limites é o máximo! E que bom! Ao lado estão outros que viveram outros riscos e que ajudam a suportar as quedas e as <strong>de</strong>silusões! O risco que não quer dizer propriamente, inconsciência, dá sabor à vida! Leva-nos longe, muito longe… Os portugueses <strong>de</strong> 1500 viveram riscos imensos e <strong>de</strong>ram novos mundos ao mundo! Só que o mundo mudou tanto… e hoje correm-se outros riscos! Arriscam os inúmeros homens e mulheres da África pobre que em pequenos botes suicidas se lançam no mar em busca do sonho, Arriscam o número crescente <strong>de</strong> jovens portugueses que, apesar da sua qualificação académica e profissional, se lançam na aventura <strong>de</strong> procurar fora da pátria outras condições para <strong>de</strong>senvolverem as suas competências. Arrisca quem per<strong>de</strong> um emprego como arrisca quem esten<strong>de</strong> a mão e escon<strong>de</strong> a cara. Arriscam os muitos homens e mulheres <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> que multiplicam pães para matar a fome a tantos outros que <strong>de</strong>la sofrem. Arrisca a criança quando <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ousar juntar as primeiras letras e sílabas. Arrisca o professor quando <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> dar mais um voto <strong>de</strong> confiança a um aluno. Arriscam os pais na educação dos filhos. Arrisca quem faz um risco numa folha em branco. Arrisca Deus na humanida<strong>de</strong>! Por estes dias vivemos a alegria da nossa festa maior: Páscoa do Senhor Jesus. Etimologicamente a palavra quer dizer passagem e cada travessia é sempre um risco. A Ressurreição é a festa da PONTE que Deus constrói entre Ele e a Humanida<strong>de</strong>. Há que fazer essa travessia, arriscar passar a PONTE para LANÇAR NOVAS PONTES. A ressurreição não é um acto, um momento ou um facto do passado! A ressurreição é um <strong>de</strong>safio a arriscar viver como ressuscitados ou <strong>de</strong>vo dizer como homens novos?! Neste TEMPO DE VIDA NOVA, e apesar <strong>de</strong> todas as dificulda<strong>de</strong>s que, como povo e nação vivemos, façamos como nos disse o Pe. Gailhac, arrisquemos uma “simplicida<strong>de</strong> que embeleze a nossa vida”. Arrisquemos a opção pela qualida<strong>de</strong>, pelo empenho, pelo esforço! Arrisquemos o trabalho pelo bem comum! Arrisquemos os gestos solidários e <strong>de</strong> atenção aos irmãos! Arrisquemos a esperança! Arrisquemos um vida interior e <strong>de</strong> relação com Deus! Arrisquemos uma confiança <strong>de</strong> coração que nos há-<strong>de</strong> levar longe… muito longe! Luís Pedro <strong>de</strong> Sousa, Coord. ... Esses múltiplos Olhares Nos nossos dias, a aventura e o sentido do <strong>de</strong>sconhecido é, e <strong>de</strong>ve ser, uma constante nas nossas vidas e na educação das nossas crianças. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação a situações novas, a acção perante o imprevisto, o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão individual constituem saberes tão importantes quanto alguns conhecimentos <strong>de</strong> diversas matérias. Correr o risco.... arriscar... partir. Os “ses”, que nos atormentam algumas vezes antes <strong>de</strong> tomar a <strong>de</strong>cisão, fazem-nos pon<strong>de</strong>rar, mas, muitas vezes, consi<strong>de</strong>ramos que vale a pena correr o risco. Nos dias que correm os riscos são imensos e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m diversa. Uns pelo lado mais negativo do ponto <strong>de</strong> vista dos valores, tais como: a insegurança, a não informação, a falta <strong>de</strong> formação, a ausência <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, as dificulda<strong>de</strong>s económico-financeiras, e outros do ponto <strong>de</strong> vista mais positivo, como a honestida<strong>de</strong>, a verda<strong>de</strong>, o bom <strong>de</strong>sempenho, a integrida<strong>de</strong>, a solidarieda<strong>de</strong>. Quantos <strong>de</strong> nós não somos conhecedores <strong>de</strong> situações reais <strong>de</strong> injustiças e riscos permanentes por que passam pessoas que teimam viver a vida através <strong>de</strong>ste último conjunto <strong>de</strong> valores? Na actualida<strong>de</strong>, e perante a socieda<strong>de</strong> em que vivemos, com a crise político-financeira actual, há critérios que parecem ter uma importância maior do que aqueles que são essenciais para uma vida transparente e coerente. Quem assenta a sua vida em valores morais <strong>de</strong> elevada exigência corre sérios riscos <strong>de</strong> viver mal. Mas vive bem....com a sua consciência. Por vezes, sobrevive-se com a consciência, outras vezes nem isso! É contra este risco que temos que nos rebelar, e ousadamente viver e fazer viver com base nos valores mais simples e cristalinos da vida. Este sentido do risco é a ousadia <strong>de</strong> lançar pontes a situações extremas, ou que po<strong>de</strong>m não ser extremas, mas são reais e muito próximas <strong>de</strong> nós. É o risco <strong>de</strong> acolher dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> ajudar alguém com <strong>de</strong>terminadas características, <strong>de</strong> criar condições para conseguir ir mais longe no futuro, é ter alguma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visão e agir em conformida<strong>de</strong>, é solidarizar-se <strong>de</strong> forma activa com situações concretas e próximas dos que vivem e trabalham connosco. Neste número da Olhares vemos o acordo ortográfico como um <strong>de</strong>safio e, <strong>de</strong> certa forma, um risco para a língua <strong>de</strong> Camões, conhecemos questões diversas relacionadas com a ecologia e com o ambiente, nomeadamente a vivência do Dia do Ambiente no nosso colégio, apresentamos os participantes nos Jogos Matemáticos e no V Festival da Canção das Obras do IRSCM em Portugal, on<strong>de</strong> a ponte do intercâmbio cultural é evi<strong>de</strong>nte. Um <strong>de</strong>safio mais uma vez conseguido. Muitas activida<strong>de</strong>s, muitos <strong>de</strong>safios, alguns riscos controlados. Esta ousadia <strong>de</strong> arriscar, em muito se aproxima do actual tempo litúrgico: a quaresma e o tempo pascal. A conversão que nos chama a viver <strong>de</strong> forma coerente e clara, o arriscar na morte para se conseguir a Luz, a Liberda<strong>de</strong>, a Paz. Que seja a ponte, a outra margem, o outro, a imagem da vonta<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> promover e proporcionar experiências positivas e melhor bem estar. Com votos <strong>de</strong> Santa Páscoa, Margarida Marrucho Mota Amador, Directora Pedagógica 4 | OLHARES | REVISTA DO CSCM | JAN-MAR 2011 OLHARES | REVISTA DO CSCM | JAN-MAR 2011 | 5