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<strong>Ziraldo</strong><br />
O SEGREDO DE<br />
(com <strong>de</strong>senhos especiais <strong>de</strong><br />
Célio César)<br />
http://groups.google.com/group/digitalsource
Era uma vez uma letra que era muito interessante<br />
e que se chamava Úrsula. Parece nome <strong>de</strong> estrela<br />
(ou será constelação?) parece nome <strong>de</strong> santa ou <strong>de</strong><br />
atriz... mas não é, não. E o nome <strong>de</strong> uma letra da<br />
raça chamada U.
Essa nossa letra Úrsula tinha uma enorme<br />
qualida<strong>de</strong>: era muito inteligente. E todos<br />
se perguntavam "Por que será, minha<br />
gente, que essa letrinha danada é assim<br />
tão sabidinha?"<br />
E fácil <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir. Dêem uma olhada<br />
na Úrsula e reparem só que os UU se<br />
abrem para o infinito — ou será pro<br />
Universal? — são abertos para o alto como<br />
se olhassem pra cima. Úrsula tem um belo<br />
astral!
Mas<br />
antes não era assim.<br />
Nossa Úrsula vivia<br />
com seu bumbum para cima,<br />
com ginástica e ansieda<strong>de</strong><br />
procurando aqui na Terra<br />
a tal da felicida<strong>de</strong>.
Ela era como um ímã que queria sugar<br />
tudo que houvesse aqui na Terra.
E vivia fuxicando num inquieto lufa-lufa,<br />
focinhando aqui e ali como um porco que procura<br />
no fundo da terra, a trufa, Como um Geiger,<br />
contador, em busca do radioativo urânio <strong>de</strong> fazer<br />
BUM!<br />
E, procura que procura,<br />
a Úrsula não achava nada pois quem procura não
acha se não sabe o que procura.
Mas um dia, ela conheceu no livro por on<strong>de</strong><br />
andava um amigo diferente que vinha lá do<br />
Oriente e muito se parecia com essa figura<br />
esguia que está aí no <strong>de</strong>senho. Ele viu Úrsula<br />
brigando para ganhar mais e mais numa<br />
batalha sem fim e contou-lhe, com ternura,<br />
uma história que era assim:<br />
"Era uma vez uma mão<br />
que o tempo todo vivia<br />
com a palma para baixo<br />
apertada sobre o chão<br />
como alguém que escon<strong>de</strong>sse<br />
sob a mão assim pousada
um dinheiro ou a semente<br />
<strong>de</strong> uma árvore da fortuna;<br />
ou como quem pren<strong>de</strong> um pássaro<br />
que não quer <strong>de</strong>ixar voar.<br />
Ela queria guardar<br />
tudo, tudo pra ela mesma!<br />
E outra mão existia<br />
com a palma para cima<br />
como o gesto <strong>de</strong> quem dá<br />
e quem liberta. E que rima<br />
com doação ou oferta.<br />
E por estar <strong>de</strong>ste jeito<br />
o seu dono era chamado<br />
<strong>de</strong> o Gran<strong>de</strong> Mão Aberta.<br />
Um homem que dava tudo,<br />
generoso, companheiro...<br />
E por estar <strong>de</strong>ste jeito<br />
— com a mão voltada pra cima —<br />
tudo do céu lhe caía<br />
o mel puro das abelhas<br />
os raios <strong>de</strong> ouro do sol<br />
a boa chuva <strong>de</strong> outono
tão boa pra plantação.<br />
Pois, quem tem a mão aberta<br />
para o mundo, mais lhe caem<br />
coisas na mão do que saem.<br />
Recebe mais, muito mais<br />
aquele que dá — não tira —<br />
com a naturalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> quem sorri ou respira".
Úrsula o ouviu com cuidado<br />
com respeito e atenção.<br />
E quando num gesto seu<br />
preparou-se pra falar,<br />
parou- Porque viu que o amigo<br />
queria continuar.<br />
E ele continuou:<br />
"Quem lhe conta essa história<br />
— ou: quem esc<strong>rev</strong>e esses versos —<br />
não quer dizer-lhe: "E assim,<br />
amigo, vá por aqui!"<br />
Por favor, não é conselho; é só um cantar<br />
<strong>de</strong> amigo<br />
— uma letra sem canção —<br />
uma história que me agrada,<br />
me agrada muito contar.<br />
E só isto, nada mais. Até b<strong>rev</strong>e, boa sorte<br />
muita luz e muita paz!"
E Úrsula ficou pensando na historinha que ouviu<br />
olhou-se assim no espelho reparou-se e <strong>de</strong>scobriu<br />
que a curva <strong>de</strong> suas formas era maior do que a<br />
curva da palma que tem a mão.
Ela era um vaso, uma urna, um cântaro, um<br />
continente; era um copo emborcado e vazio sobre<br />
a mesa.<br />
Por que ser tão infeliz se podia ser contente?
Aí, <strong>de</strong>u uma cambalhota abrindo-se para o espaço.<br />
E mudou a sua vida:<br />
"Vejam só como é que eu faço, viro tudo, viro a<br />
mesa, abandono tudo aquilo que me pareceu<br />
riqueza; vou <strong>de</strong>ixar minha alma aberta vou<br />
<strong>de</strong>ixar a luz entrar"
E como sua curva fosse a mesma <strong>de</strong> um<br />
sorriso ela saiu pelo mundo<br />
— pela prosa e poesia,<br />
pelos versos, pelos livros —<br />
transformada em alegria.<br />
E hoje Úrsula dorme com sua janela aberta para<br />
o alto, para o Céu. E cada manhã <strong>de</strong>sperta<br />
— <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mergulhar pelas<br />
noites <strong>de</strong> todos os sonhos —<br />
com o colo cheio <strong>de</strong> estrelas.
http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros<br />
http://groups.google.com/group/digitalsource<br />
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1 Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source com a intenção <strong>de</strong><br />
facilitar o acesso ao conhecimento a quem não po<strong>de</strong> pagar e também proporcionar aos Deficientes<br />
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