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reformador maio 2008 - a.qxp - Portal do Espírito

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eforma<strong>do</strong>r <strong>maio</strong> <strong>2008</strong> - a.<strong>qxp</strong> 3/6/<strong>2008</strong> 14:49 Page 14<br />

Carta à<br />

minha Mãe<br />

Hoje, mamãe, eu não te escrevo daquele gabinete<br />

cheio de livros sábios, onde o teu filho,<br />

pobre e enfermo, via passar os espectros <strong>do</strong>s<br />

enigmas humanos, junto da lâmpada que, aos poucos,<br />

lhe devorava os olhos, no silêncio da noite.<br />

A mão que me serve de porta-caneta é a mão cansada<br />

de um homem paupérrimo, que trabalhou o dia<br />

inteiro buscan<strong>do</strong> o pão amargo e cotidiano <strong>do</strong>s que<br />

lutam e sofrem. A minha secretária é uma tripeça tosca<br />

à guisa de mesa e as paredes que me rodeiam são<br />

nuas e tristes, como aquelas da nossa casa desconfortável<br />

em Pedra <strong>do</strong> Sal. O telha<strong>do</strong> sem forro deixa<br />

passar a ventania lamentosa da noite e desse remanso<br />

humilde, onde a pobreza se esconde exausta e desalentada,<br />

eu te escrevo sem insônias e sem fadigas,<br />

para contar-te que ainda estou viven<strong>do</strong> para amar e<br />

querer a mais nobre das mães.<br />

Quereria voltar ao mun<strong>do</strong> que deixei, para ser<br />

novamente teu filho, desejan<strong>do</strong> fazer-me um menino,<br />

aprenden<strong>do</strong> a rezar com o teu espírito santifica<strong>do</strong><br />

nos sofrimentos.<br />

A saudade <strong>do</strong> teu afeto leva-me constantemente a<br />

essa Parnaíba das nossas recordações, cujas ruas arenosas,<br />

saturadas <strong>do</strong> vento salitroso <strong>do</strong> mar, sensibilizam<br />

a minha personalidade e, dentro <strong>do</strong> crepúsculo<br />

estrela<strong>do</strong> da tua velhice cheia de crença e de esperança,<br />

vou contigo, em espírito, nos retrospectos prodigiosos<br />

da imaginação, aos nossos tempos distantes.<br />

Vejo-te com os teus vesti<strong>do</strong>s modestos, em nossa<br />

casa de Miritiba, suportan<strong>do</strong> com serenidade e devotamento<br />

os caprichos alegres de meu pai. Depois,<br />

faço a recapitulação <strong>do</strong>s teus dias de viuvez <strong>do</strong>lorosa,<br />

14 172 Reforma<strong>do</strong>r • Maio <strong>2008</strong><br />

Presença de Chico Xavier<br />

junto da máquina de costura e <strong>do</strong> teu “terço” de orações,<br />

sacrifican<strong>do</strong> a mocidade e a saúde pelos filhos,<br />

choran<strong>do</strong> com eles a orfandade que o destino lhes<br />

reservara, e, junto da figura gorda e risonha da Mi<strong>do</strong>ca,<br />

ajoelho-me aos teus pés e repito:<br />

– “Meu Senhor Jesus Cristo, se eu não tiver de ter<br />

uma boa sorte, levai-me deste mun<strong>do</strong>, dan<strong>do</strong>-me<br />

uma boa morte”.<br />

Muitas vezes o destino te fez crer que partirias antes<br />

daqueles que havias nutri<strong>do</strong> com o beijo das tuas carícias,<br />

demandan<strong>do</strong> os mun<strong>do</strong>s ermos e frios da Morte.<br />

Mas, partimos e tu ficaste. Ficaste no cadinho <strong>do</strong>loroso<br />

da saudade, prolongan<strong>do</strong> a esperança numa vida<br />

melhor no seio imenso da Eternidade. E o culto <strong>do</strong>s filhos<br />

é o consolo suave <strong>do</strong> teu coração. Acarician<strong>do</strong> os<br />

teus netos, guardas com o mesmo desvelo o meu<br />

cajueiro, que aí ficou como um símbolo planta<strong>do</strong> no<br />

coração da terra parnaibana, e, carinhosamente, colhes<br />

das suas castanhas e das suas folhas fartas e verdes,<br />

para que as almas boas conservem uma lembrança <strong>do</strong><br />

teu filho, arrebata<strong>do</strong> no turbilhão da Dor e da Morte.<br />

Ao Mirocles, mamãe, que providenciou quanto ao<br />

destino desse irmão que aí deixei, enfeita<strong>do</strong> de flores<br />

e passarinhos, estuante de seiva, na carne moça da terra,<br />

pedi velasse pelos teus dias de insulamento e velhice,<br />

substituin<strong>do</strong>-me junto <strong>do</strong> teu coração. To<strong>do</strong>s os<br />

nossos te estendem as suas mãos bon<strong>do</strong>sas e amigas e<br />

é assombrada que, hoje, ouves a minha voz, através<br />

das mensagens que tenho escrito para quantos me<br />

possam compreender. Sensibilizam-me as tuas lágrimas,<br />

quan<strong>do</strong> passas os olhos cansa<strong>do</strong>s sobre as minhas<br />

páginas póstumas e procuro dissipar as dúvidas

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