A rica vida de João Falcão - Academia de Letras da Bahia

Ao propor o seu nome para integrar nosso sodalício,
acentuei ser ele o maior memorialista vivo do país. Refletindo, mais
a fundo, avancei para o entendimento de que João Falcão se afirma
perante a posteridade como um dos maiores memorialistas
brasileiros de todos os tempos. Sua fidelidade ao propósito de
transpor para o papel apenas as experiências que protagonizou ou
testemunhou não comportou exceção por mínima que fosse. Tudo,
absolutamente tudo sobre o que João Falcão escreveu foi por ele
intensamente vivenciado.
Surpreendentemente, este personagem que parece saído
das páginas de Ponson de Terrail começa a carreira de escritor já
quase septuagenário, apesar de haver madrugado para as letras, na
tenrura dos dezesseis anos, à frente do Jornal Unidade, órgão do
grêmio Pedro Calmon, no Ginásio da Bahia, ao lado de jovens do
calibre de João Agripino da Costa Dória, Gerardo de Souza Alves e
Luis Menezes Monteiro da Costa. A fundação da revista Seiva, em
1938, com a parceria de Virgildal Sena, Emo Duarte, Eduardo
Guimarães e o então foragido Armênio Guedes, porque já
identificado pela ditadura do Estado Novo como comunista, foi um
passo de rara ambição intelectual e audácia política, uma vez que
Vargas, atropelando a Constituição de 1934, fechara o Congresso e
dissolvera os partidos políticos, enquanto mandava para a cadeia os
críticos do seu governo fascista, inclusive parlamentares.
Entre os deputados federais detidos, encontrava-se nosso
confrade e brasileiro muito ilustre, Otávio Mangabeira que foi
forçado a exilar-se nos Estados Unidos, de onde encetou rica
correspondência epistolar, tornada pública, recentemente, pelas
mãos de Consuelo Novais Sampaio. A Bahia e esta Academia
esperam que nossa principal praça esportiva, a reconstruída Arena
Fonte Nova, continue a ostentar o nome deste notável Varão de
Plutarco.
João Falcão, ao fundar Seiva, cursava o primeiro ano de
Direito, na Faculdade dirigida pelo seu conterrâneo de Feira de
Santana, o octogenário Felinto Bastos, professor de Direito romano,
membro fundador da cadeira 21 desta Academia. Na Escola de
Direito, pontificavam nomes como Aloísio de Carvalho Filho,
Aliomar Baleeiro, Aloísio Henrique de Barros Porto, Augusto
Alexandre Machado, Castro Rebelo, Demétrio Tourinho, Heitor
Praguer, Jayme Junqueira Aires, João Américo Garcez Fróes, Muniz