A rica vida de João Falcão - Academia de Letras da Bahia

De quantas missões foram a João Falcão confiadas pelo
Partido Comunista, certamente a de guardar e proteger o grande
líder Prestes, em 1947, foi a mais rocambolesca, responsabilidade
que cumpriu, acumulando as funções de caseiro, segurança e chofer
do legendário Cavaleiro da Esperança, quando se viu compelido a
adiar por algumas semanas o casamento já marcado com a eleita do
seu coração, a menina Hyldeth, da melhor sociedade soteropolitana.
Imagine-se o constrangimento da noiva e da família, a quem João,
por motivos de segurança, estava impedido de explicar as razões de
adiamento tão inopinado quanto inconveniente. Do casamento com
Hyldeth, que lhe daria régua e compasso, nasceriam os filhos Maria
Adenil, Maria Luiza, João, Maria Célia, Antonio, o Ferreirinha,
precocemente falecido, em 1971, Maria Helena e Wilson. Vinte e um
netos e onze bisnetos, somados aos cônjuges dessa magnífica prole,
perfazem numeroso clã de que João muito e legitimamente se
orgulhava.
Como deputado federal, entre 1955 e 58, João Falcão volta a
conviver, na Câmara, com os deputados e membros desta
Academia, as personalidades tutelares de Luis Viana Filho, Nestor
Duarte e Otávio Mangabeira que lhe cedem o titulo do Jornal da
Bahia, a famosa chama que iluminou nossa terra, em momentos tão
difíceis. Já desligado do Partido Comunista, João fundou o JB, em
parceria com alguns amigos diletos, entre os quais avulta o nome de
Zittelman José Santos de Oliva, leal e talentoso companheiro de
todas as horas, cuja competência gerencial e proverbial vocação
diplomática foram uma constante na repartição das dores e alegrias
ao longo da gloriosa jornada.
O JB inovou a linguagem da imprensa baiana.
Nunca é demais exaltar a dignidade com que João deixou o
Partidão. Sua longamente amadurecida apostasia jamais desbordou
para o habitual expediente de enxovalhar o seu passado político,
conquanto o magoasse o reconhecimento da impossibilidade de vir
a ser aceito como um puro-sangue ideológico, uma vez que
indelevelmente maculado pela sua irremissível origem em família
abastada.
João serviu ao governo Luís Viana Filho como presidente do
Desembanco, para onde levou a experiência adquirida na gestão do
Banco Baiano da Produção, de que foi o principal fundador,
acionista e dirigente.