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Significados medievais da maçã: fruto proibido, fonte do ... - Mirabilia

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<strong>Mirabilia</strong> 01<br />

113<br />

Dec 2001/ISSN 1676-5818<br />

associa<strong>da</strong> às ativi<strong>da</strong>des agrícolas, estampa<strong>da</strong> nos meses de abril (po<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

vinha), setembro (colheita) e outubro (preparação <strong>do</strong> vinho).<br />

Entre as populações de origem céltica, a <strong>maçã</strong> representa o conhecimento, a<br />

revelação e a magia. Existem vários relatos referentes às viagens célticas ao<br />

Além, os imrama, nos quais um herói é atraí<strong>do</strong> por uma fa<strong>da</strong>, que lhe entrega<br />

um ramo de <strong>maçã</strong> e o convi<strong>da</strong> para ir para o Outro Mun<strong>do</strong>, como em A<br />

Viagem de Bran, Filho de Febal. Num outro imrama, A Viagem de Maelduin, que<br />

trata <strong>da</strong> busca <strong>do</strong> herói pelos assassinos de seu pai, ele passa por uma ilha<br />

onde encontra uma macieira e dela corta um ramo com três <strong>maçã</strong>s. Estes<br />

<strong>fruto</strong>s são capazes de saciar a sua fome e a de seus companheiros por quarenta<br />

dias sem ingestão de qualquer outro alimento (MARKALE, 1979: 246).<br />

Numa outra narrativa céltica, Condle, filho de Conn, herói <strong>da</strong>s cem batalhas<br />

também é alimenta<strong>do</strong> por <strong>maçã</strong>s que nunca diminuem sua quanti<strong>da</strong>de<br />

(CHEVALIER & GHEERBRANT, 1995: 573). Na mitologia desses povos, a<br />

<strong>maçã</strong> está liga<strong>da</strong> a um espaço específico: a Ilha <strong>do</strong>s Bem-Aventura<strong>do</strong>s, local de<br />

abundância e imortali<strong>da</strong>de. Os gregos já imaginavam essas ilhas com um clima<br />

ameno e aprazível, cerca<strong>da</strong>s por árvores frutíferas e <strong>fonte</strong>s para onde os heróis<br />

eleitos se dirigiam sem sofrer a morte (LURKER, 1997: 337).<br />

Mais tarde, Isi<strong>do</strong>ro de Sevilha deu maiores descrições destas regiões,<br />

ressalvan<strong>do</strong>, no entanto, que não correspondiam ao paraíso terrestre, o qual,<br />

de acor<strong>do</strong> com a concepção cristã, localizava-se em algum lugar <strong>da</strong> terra no<br />

Oriente, sen<strong>do</strong> inacessível aos humanos. Na Baixa I<strong>da</strong>de Média, o conceito de<br />

Ilha Afortuna<strong>da</strong> de Isi<strong>do</strong>ro fundiu-se com a noção <strong>da</strong> Ilha Céltica de Avalon<br />

(DELUMEAU, 1994: 123).<br />

Tal como a árvore, a ilha tem o significa<strong>do</strong> de centro e sua forma circular<br />

representa a perfeição. Sua localização isola<strong>da</strong> e de difícil acesso garante que<br />

só os escolhi<strong>do</strong>s podem alcançá-la após uma viagem iniciática, na qual passam<br />

por outras ilhas e enfrentam perigos até chegar ao seu destino. Existe uma<br />

analogia entre a Terra <strong>da</strong>s Fa<strong>da</strong>s, os reinos utópicos, como o País <strong>da</strong> Cocanha e o<br />

Éden bíblico. To<strong>do</strong>s estes locais são caracteriza<strong>do</strong>s pela abundância,<br />

fertili<strong>da</strong>de e inexistência <strong>do</strong> trabalho humano. Veremos mais tarde algumas<br />

diferenças na passagem <strong>do</strong>s eleitos por estes locais. Avalon, a Ilha <strong>da</strong>s Maçãs<br />

(Insula Pomorum) era, de acor<strong>do</strong> com as descrições <strong>da</strong> Vita Merlini de Geoffroy<br />

de Monmouth (século XII) uma ilha tão abun<strong>da</strong>nte que ao invés de grama o<br />

chão era coberto por <strong>fruto</strong>s:<br />

La isla de los Frutos, que llaman Afortuna<strong>da</strong>, bien puesto tiene el nombre, que<br />

de to<strong>do</strong> produce por sí sola. Pues no ha menester esta isla de labriegos que<br />

aren sus campos: no hay allí ningún cultivo, to<strong>do</strong> lo <strong>da</strong> espontáneamente la<br />

naturaleza. (...) De to<strong>do</strong> <strong>da</strong> su suelo en extrema abun<strong>da</strong>ncia, <strong>fruto</strong>s en lugar de<br />

grama. (GEOFFREY DE MONMOUTH, 1994: 32)

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