Significados medievais da maçã: fruto proibido, fonte do ... - Mirabilia
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<strong>Mirabilia</strong> 01<br />
107<br />
Dec 2001/ISSN 1676-5818<br />
No quadro acima, aparece a tradicional visão <strong>da</strong> <strong>maçã</strong> como símbolo <strong>do</strong><br />
peca<strong>do</strong> original. Lucas Cranach, o Velho (1472-1553) nasci<strong>do</strong> em Kronach, sul<br />
<strong>da</strong> Alemanha, a<strong>do</strong>tou a mesma profissão <strong>do</strong> pai e foi um <strong>do</strong>s expoentes <strong>do</strong><br />
renascimento alemão. Pintor <strong>da</strong> corte <strong>da</strong> Saxônia até 1550 e prefeito de<br />
Wittenberg em 1537, fez várias pinturas de Adão e Eva no Éden, <strong>da</strong> criação<br />
de Eva à Que<strong>da</strong> e expulsão.<br />
Seus quadros <strong>da</strong>vam grande importância à paisagem, que deixa de ser uma<br />
imagem fixa (SCHNEIDER, 1997). Cranach foi influencia<strong>do</strong> por Dürer<br />
(1471-1528), que pretendia chegar ao conhecimento <strong>da</strong>s normas que regem a<br />
beleza <strong>do</strong> corpo humano e investigar as leis <strong>da</strong> perspectiva (LOPERA, 1995:<br />
49). Cranach dedicou-se além disso ao retrato e é considera<strong>do</strong> um pintor <strong>da</strong><br />
reforma protestante por haver feito reproduções pictóricas de seus líderes,<br />
como Lutero e o duque Henrique <strong>da</strong> Saxônia. Também produziu várias cenas<br />
religiosas que ilustram a primeira edição <strong>do</strong> Novo Testamento, traduzi<strong>do</strong> por<br />
Lutero em 1522. Assim como Dürer, Cranach valorizou o nu, através de cenas<br />
mitológicas e religiosas com traços sensuais. Sua representação <strong>do</strong> primeiro<br />
casal humano segue a visão cristã medieval a respeito <strong>do</strong> peca<strong>do</strong> original.<br />
Na imagem, Eva está próxima <strong>da</strong> serpente, o que a liga ao mal. A atitude de<br />
Eva é delica<strong>da</strong>mente dissimula<strong>da</strong>, pois ela oferece uma <strong>maçã</strong> a Adão e oculta<br />
atrás de si outra <strong>maçã</strong>. O ato de esconder sugere ao especta<strong>do</strong>r uma intenção<br />
claramente maliciosa por parte de Eva. Quanto a Adão, o fato de olhar para a<br />
mulher e não para o <strong>fruto</strong> mostra que ele o aceita por estar seduzi<strong>do</strong>: a<br />
postura de seu corpo, suas mãos seguran<strong>do</strong> a <strong>maçã</strong>, mas principalmente seus<br />
olhos expressam o feitiço feminino agin<strong>do</strong> sobre o homem. Eva é a culpa<strong>da</strong><br />
pelo peca<strong>do</strong>.<br />
Os animais estão na cena como coadjuvantes à espreita. A serpente, símbolo<br />
cristão maléfico por excelência, é a porta<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> língua que levou Eva a<br />
desobedecer o Cria<strong>do</strong>r. Por entre os arbustos, aparecem ain<strong>da</strong> um cervo e um<br />
leão. A presença destes <strong>do</strong>is animais na cena representa a harmonia presente<br />
no Éden, que possibilitava o convívio pacífico entre um pre<strong>da</strong><strong>do</strong>r – o leão e<br />
sua presa – o cervo.<br />
O cervo que se encontra próximo de Adão tem uma analogia com a árvore <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>. Sua galha<strong>da</strong> é um símbolo de renovação cíclica, pois renova-se a ca<strong>da</strong><br />
ano. Ele é um porta<strong>do</strong>r <strong>da</strong> luz, inimigo <strong>da</strong> serpente e representa Cristo (Cristo<br />
por sua vez é o segun<strong>do</strong> Adão, que vem ao mun<strong>do</strong> redimir as faltas <strong>do</strong><br />
primeiro).<br />
O leão simboliza a encarnação <strong>do</strong> poder. É o animal mais representa<strong>do</strong> na<br />
heráldica por estar associa<strong>do</strong> ao valor e à força. No século V d.C., o<br />
historia<strong>do</strong>r latino Macrobius sugeriu que a imagem <strong>do</strong> leão denotava o