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Significados medievais da maçã: fruto proibido, fonte do ... - Mirabilia

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<strong>Mirabilia</strong> 01<br />

117<br />

Dec 2001/ISSN 1676-5818<br />

A propósito <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Outro Mun<strong>do</strong> representa<strong>da</strong> pela Insula<br />

Pomorum, é interessante observar que a passagem <strong>do</strong> tempo não é percebi<strong>da</strong><br />

pelos humanos que para lá vão, como pode ser visto nos relatos sobre Bran,<br />

Guingamor e Santo Amaro. Ao passo que na concepção cristã, o tempo <strong>do</strong>s<br />

castigos, passa<strong>do</strong> no purgatório ou no inferno, é o triplo <strong>do</strong> tempo terrestre<br />

(LE GOFF, 1993). Por isso, ressalto que mesmo para os <strong>medievais</strong> (e para<br />

nós também) o tempo <strong>do</strong>s prazeres é fugaz e o <strong>do</strong>s tormentos muito longo.<br />

Conclusão<br />

Como demonstrei, no perío<strong>do</strong> medieval a <strong>maçã</strong> possui um senti<strong>do</strong><br />

multifaceta<strong>do</strong>. Fruto <strong>proibi<strong>do</strong></strong>, levou os homens ao sofrimento e ao<br />

conhecimento, que segun<strong>do</strong> Santo Agostinho, deveria ser obti<strong>do</strong> através <strong>do</strong><br />

amor. Para os homens <strong>da</strong> Igreja, a sapientia era uma prerrogativa deles, na<br />

medi<strong>da</strong> em que, por estarem afasta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ato sexual, eram mais puros e<br />

totalmente volta<strong>do</strong>s a Deus. Vistos como os intérpretes <strong>da</strong> palavra sagra<strong>da</strong> e<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, os oratores consideravam que sua proximi<strong>da</strong>de com o mun<strong>do</strong><br />

divino os autorizava a controlar o resto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, procuran<strong>do</strong> assim<br />

estabelecer normas que garantissem aos vivos a futura entra<strong>da</strong> no paraíso.<br />

Porém, os relatos <strong>medievais</strong> apresentavam outros tipos de paraíso e outras<br />

vias, como as segui<strong>da</strong>s por Bran, Guingamor ou pelo poeta <strong>da</strong> Cocanha.<br />

A <strong>maçã</strong> também possui um significa<strong>do</strong> curioso com relação à figura feminina.<br />

De um la<strong>do</strong> representa o mal e o peca<strong>do</strong>, através <strong>da</strong> ingestão <strong>do</strong> <strong>fruto</strong><br />

<strong>proibi<strong>do</strong></strong> por Eva, que levou os medievos ao desprezo e à desconfiança com<br />

relação aos seres deste sexo. As mulheres eram usualmente vistas como<br />

mentirosas, tenta<strong>da</strong>s ao adultério e inclina<strong>da</strong>s à luxúria e ao demônio. A<br />

salva<strong>do</strong>ra dessas mulheres seria Maria, a virgem escolhi<strong>da</strong> pelo Cria<strong>do</strong>r para<br />

gerar um homem perfeito, Jesus, o filho de Deus, que sacrificou-se para<br />

redimir os peca<strong>do</strong>s <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Próxima ao modelo de Maria estava<br />

Valides, capaz de, através de sua pureza, indicar a um eleito de Deus, Santo<br />

Amaro, o caminho <strong>do</strong> paraíso terreal.<br />

Uma outra imagem feminina era a <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s, mulheres que habitavam a Insula<br />

Pomorum, e que competiam no plano simbólico com a Igreja com relação ao<br />

<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, pois, segun<strong>do</strong> as narrativas, possuíam a sabe<strong>do</strong>ria, o <strong>do</strong>m<br />

<strong>da</strong> cura e <strong>da</strong> imortali<strong>da</strong>de.<br />

O senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>maçã</strong> como representante <strong>da</strong> Ilha Paradisíaca levou muitos a<br />

sonharem com a terra <strong>da</strong> abundância, <strong>da</strong> imortali<strong>da</strong>de e felici<strong>da</strong>de, que poderia<br />

ser encontra<strong>da</strong> num mun<strong>do</strong> paralelo em algum lugar misterioso: uma ilha no<br />

meio <strong>do</strong> oceano, um lugar na floresta. Para o clero, no entanto, só depois <strong>da</strong>

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