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Tema: Consumo Tema: Consumo - Editora Saraiva

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116<br />

<strong>Tema</strong>:<br />

<strong>Consumo</strong><br />

DE LHO NA IMAGEM<br />

116<br />

Mitos, de Andy Warhol.<br />

Português: Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães


Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães<br />

1. Andy Warhol (1930-87) foi um artista americano que ficou conhecido pelo uso especial que fazia<br />

da serigrafia, uma técnica que consiste em repetir várias vezes uma ou mais imagens. Muitas de<br />

suas obras são painéis criados a partir de fotografias de pessoas conhecidas, como, por exemplo,<br />

a atriz Marilyn Monroe e o cantor Elvis Presley.<br />

Observe a imagem reproduzida: quais dessas pessoas ou personagens você reconhece?<br />

Da esquerda para a direita: Superman, Papai Noel, uma marionete (provavelmente de um seriado americano), Greta Garbo (cinema), Mickey, Tio Sam (figura que representa os EUA), Billie Holliday<br />

(música), Drácula, uma bruxa (possivelmente do filme O mágico de Oz) e o autorretrato de Andy Warhol.<br />

2. O quadro se intitula Mitos, porque reúne alguns ídolos, isto é, artistas e personagens amados por<br />

muita gente.<br />

a) De que cultura fazem parte esses ídolos? Da cultura norte-americana, embora sejam conhecidos no mundo inteiro.<br />

b) Quais são os meios de comunicação que difundem esses mitos no mundo inteiro?<br />

O cinema, a tevê, o rádio, o disco e o livro.<br />

3. A tela é formada por cem fotografias: dez na vertical e dez na horizontal. A justaposição de fotos<br />

forma tiras, que podem ser vistas tanto vertical quanto horizontal e transversalmente.<br />

Sim. (Professor, chame a atenção dos alunos para a construção geométrica do quadro: as sequências transversais são idênticas às sequências horizontais.)<br />

Professor: ainda há alguns aspectos curiosos que, se achar que valem a pena, podem ser comentados: 1) Olhando as tiras na vertical, notamos que há uma alternância entre rostos<br />

“sérios” e rostos “sorridentes”, o que pode ser interpretado como a capacidade que esses ídolos têm de fazer o público chorar e rir. 2) Todo o quadro apresenta certo dualismo: o<br />

positivo e o negativo, o preto e o branco, o riso e o sério, etc. 3) O quadro retrata os mitos fabricados pelos meios de comunicação, ou seja, os heróis modernos, que se transformam<br />

em objetos de consumo.<br />

Tio Sam<br />

O cinema e os<br />

quadrinhos.<br />

a) Que artes visuais estão relacionadas com tiras ou sequências de imagens repetidas?<br />

b) Destaque do painel ao menos uma personagem relacionada a cada uma dessas artes visuais.<br />

cinema: Superman, Mickey, Greta Garbo, Drácula, bruxa; quadrinhos: Superman, Mickey<br />

c) Você já viu o negativo de um filme? Já notou que, nele, aquilo que é branco fica preto, e viceversa?<br />

Indique uma das tiras verticais que sugerem a foto e o seu negativo, ao mesmo tempo.<br />

Quase todas: a do Superman, a do Papai Noel e a do Drácula, por exemplo.<br />

d) Olhe o quadro na transversal, partindo do ângulo esquerdo inferior até chegar ao ângulo oposto.<br />

Em seguida, olhe qualquer sequência horizontal, da esquerda para a direita. São iguais?<br />

4. Algumas das personagens da tela pertencem ao mundo do cinema. O cinema apresenta certos<br />

gêneros, como o drama, o suspense, a comédia, o desenho e a aventura. Greta Garbo, por exemplo,<br />

fez dramas. Identifique ao menos uma personagem de cada um dos outros gêneros citados.<br />

Desenho: Superman e Mickey; suspense: Drácula; aventura: Superman; comédia: o fantoche (tevê) e talvez a bruxa.<br />

5. Andy Warhol criava suas obras a partir de objetos de grande consumo social: produtos enlatados,<br />

embalagens de produtos de limpeza, histórias em quadrinhos, etc. Por esse motivo, suas obras<br />

são vistas como uma crítica à sociedade de consumo, isto é, uma sociedade em que o maior<br />

prazer é consumir bens como carros, televisão, certos tipos de alimentos, etc.<br />

a) Grande parte das pessoas e personagens fotografadas pertencem ao cinema e à música. Você<br />

Sim, porque acabam sendo consumidas como qualquer<br />

acha que essas artes podem virar objetos de consumo? Por quê? outro produto: há propagandas estimulando o consumo,<br />

há lucros, pessoas enriquecem, etc.<br />

b) Papai Noel representa o Natal. Ele também pode estar relacionado ao consumo? Por quê?<br />

Sim, porque as festas natalinas estão associadas a compras: é o mês de dezembro o período de maior consumo do ano.<br />

6. Se você olhar a tela da esquerda para a direita, depois da direita para a esquerda,<br />

e depois pelas transversais (partindo dos ângulos), notará que no quinto<br />

quadrinho sempre figuram ou o Tio Sam ou o Mickey. Saiba quem são eles:<br />

• Tio Sam é conhecido desde 1917, quando, durante a Primeira Guerra, o<br />

governo norte-americano fez uma campanha de alistamento militar. Ele<br />

representa, portanto, os Estados Unidos.<br />

• Mickey, personagem de Walt Disney, é o representante da “indústria da<br />

diversão”, do cinema.<br />

Levando em conta essas informações, identifique as afirmações corretas:<br />

X a) Tio Sam e Mickey representam os principais heróis ou mitos da cultura<br />

norte-americana.<br />

X b) O quadro de Warhol sugere que, nos Estados Unidos, toda a cultura acaba se transformando<br />

em produto de consumo e tudo se vende: espírito natalino, ratos, bruxas e a própria arte.<br />

X c) Mickey e Tio Sam, centralizando o quadro, sugerem uma crítica do autor à indústria cultural<br />

norte-americana, que ultrapassa as fronteiras dos Estados Unidos e atinge o mundo inteiro.<br />

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118<br />

<strong>Tema</strong>:<br />

<strong>Consumo</strong><br />

ESTUDO DO TEXTO<br />

O estranho procedimento de dona Dolores<br />

Começou na mesa do almoço. A família estava comendo — pai, mãe, filho e filha — e de repente<br />

a mãe olhou para o lado, sorriu e disse:<br />

— Para a minha família, só serve o melhor. Por isso eu sirvo arroz Rizobon. Rende mais e é mais<br />

gostoso.<br />

O pai virou-se rapidamente na cadeira para ver com quem a mulher estava falando. Não havia<br />

ninguém.<br />

— O que é isso, Dolores?<br />

— Tá doida, mãe?<br />

Mas dona Dolores parecia não ouvir. Continuava sorrindo. Dali a pouco levantou-se da mesa e<br />

dirigiu-se para a cozinha. Pai e filhos se entreolharam.<br />

— Acho que a mamãe pirou de vez.<br />

— Brincadeira dela...<br />

A mãe voltou da cozinha carregando uma bandeja com cinco taças de gelatina.<br />

— Adivinhem o que tem de sobremesa?<br />

Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães


Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães<br />

Ninguém respondeu. Estavam constrangidos por aquele tom jovial de dona Dolores, que nunca<br />

fora assim.<br />

— Acertaram! — exclamou dona Dolores, colocando a bandeja sobre a mesa. — Gelatina Quero<br />

Mais, uma festa em sua boca. Agora com os novos sabores framboesa e manga.<br />

O pai e os filhos começaram a comer a gelatina, um pouco assustados. Sentada à mesa, dona<br />

Dolores olhou de novo para o lado e disse:<br />

— Bote esta alegria na sua mesa todos os dias. Gelatina Quero Mais. Dá gosto comer!<br />

Mais tarde o marido de dona Dolores entrou na cozinha e a encontrou segurando uma lata de<br />

óleo à altura do rosto e falando para uma parede.<br />

— A saúde da minha família em primeiro lugar. Por isto, aqui em casa só uso o puro óleo Paladar.<br />

— Dolores...<br />

Sem olhar para o marido, dona Dolores o indicou com a cabeça.<br />

— Eles vão gostar.<br />

O marido achou melhor não dizer nada. Talvez fosse caso de chamar<br />

um médico. Abriu a geladeira, atrás de uma cerveja. Sentiu que<br />

dona Dolores se colocava atrás dele. Ela continuava falando para a<br />

parede.<br />

— Todos encontram tudo o que querem na nossa<br />

Gelatec Espacial, agora com prateleiras superdimensionadas,<br />

gavetas em Vidro-Glass e muito, mas muito<br />

mais espaço. Nova Gelatec Espacial, a cabe-tudo.<br />

— Pare com isso, Dolores.<br />

Mas dona Dolores não ouvia.<br />

Pai e filhos fizeram uma reunião secreta, aproveitando<br />

que dona Dolores estava na frente da casa, mostrando<br />

para uma plateia invisível as vantagens de uma<br />

nova tinta de paredes.<br />

— Ela está nervosa, é isso.<br />

— Claro. É uma fase. Passa logo.<br />

— É melhor nem chamar a atenção dela.<br />

— Isso. É nervos.<br />

Mas dona Dolores não parecia nervosa. Ao contrário, andava muito calma. Não parava de sorrir<br />

para o seu público imaginário. E não podia passar por um membro da família sem virar-se para o lado<br />

e fazer um comentário afetuoso:<br />

— Todos andam muito mais alegres desde que eu comecei a usar Limpol nos ralos.<br />

Ou:<br />

— Meu marido também passou a usar desodorante Silvester. E agora todos aqui em casa respiram<br />

aliviados.<br />

Apesar do seu ar ausente, dona Dolores não deixava de conversar com o marido e com os filhos.<br />

— Vocês sabiam que o laxante Vida Mansa agora tem dois ingredientes recém-desenvolvidos<br />

pela ciência que o tornam duas vezes mais eficiente?<br />

— O quê?<br />

— Sim, os fabricantes de Vida Mansa não descansam para que você possa descansar.<br />

— Dolores...<br />

Mas dona Dolores estava outra vez virada para o lado, e sorrindo:<br />

— Como esposa e mãe, eu sei que minha obrigação é manter a regularidade da família. Vida<br />

Mansa, uma mãozinha da ciência à Natureza. Experimente!<br />

Naquela noite o filho levou um susto. Estava escovando os dentes quando a mãe entrou de surpresa<br />

no banheiro, pegou a sua pasta de dentes e começou a falar para o espelho.<br />

119


— Ele tinha horror de escovar os dentes até que eu segui o conselho do dentista, que disse a<br />

palavra mágica: Zaz. Agora escovar os dentes é um prazer, não é, Jorginho?<br />

— Mãe, eu...<br />

— Diga você também a palavra mágica. Zaz! O único com HXO.<br />

O marido de dona Dolores acompanhava, apreensivo, da cama, o comportamento da mulher.<br />

Ela estava sentada na frente do toucador e falando para uma câmara que só ela via, enquanto passava<br />

creme no rosto.<br />

— Marcel de Paris não é apenas um creme hidratante. Ele devolve à sua pele o frescor que o<br />

tempo levou, e que parecia perdido para sempre. Recupere o tempo perdido com Marcel de Paris.<br />

Dona Dolores caminhou, languidamente, para a câmara, deixando cair seu robe de chambre no<br />

caminho. Enfiou-se entre os lençóis e beijou o marido na boca. Depois, apoiando-se num cotovelo,<br />

dirigiu-se outra vez para a câmara.<br />

câmara: recinto fechado, o quarto; máquina de filmar.<br />

languidamente: de modo sensual, vagaroso.<br />

procedimento: comportamento, modo de agir e se portar.<br />

robe de chambre: roupão, penhoar.<br />

Procure no dicionário outras palavras que você desconheça.<br />

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO<br />

120<br />

— Ele não sabe, mas estes lençóis são<br />

da nova linha Passional da Santex. Bons<br />

lençóis para maus pensamentos. Passional<br />

da Santex. Agora, tudo pode acontecer...<br />

[...]<br />

(Luis Fernando Verissimo. O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática,<br />

1994. p. 48-50.)<br />

1. O “problema” de dona Dolores se manifesta à mesa, quando a família está almoçando. Todos<br />

ficam chocados com os sorrisos, com o tom de voz de dona Dolores e com as frases ditas por ela.<br />

a) O que há de estranho no procedimento de dona Dolores?<br />

b) A que tipo de linguagem se assemelham as frases de dona Dolores? Assemelham-se à linguagem publicitária.<br />

c) Que meios de comunicação veiculam mensagens desse tipo? A tevê e o rádio, principalmente.<br />

d) Os sorrisos e o tom de voz apresentados nas falas de dona Dolores também são comuns nesse<br />

tipo de mensagem? Por quê? Que ideia pretendem veicular?<br />

Ela usa somente frases de anúncios publicitários, gesticula e sorri<br />

como se estivesse se dirigindo a um público.<br />

Sim, são comuns; pretendem passar a ideia de que o produto<br />

anunciado torna os consumidores mais alegres.<br />

2. Releia todas as falas de dona Dolores:<br />

a) Quais são os produtos que ela “anuncia” e a que membro da família cada um deles se<br />

destina? O arroz, a gelatina, o óleo, a geladeira, o desinfetante e o laxante são para toda a família; o desodorante é para o marido; o creme dental é para o filho (e supostamente<br />

para toda a família); o creme Marcel de Paris, para ela; e os lençóis, para o casal.<br />

b) Desses produtos, quantos se destinam exclusivamente a ela mesma? Apenas um: o hidratante.<br />

c) Pelo número de produtos destinados a ela própria, a que conclusão se chega: ela se preocupa<br />

mais consigo mesma ou com a família? Justifique.<br />

Mais com a família; o único produto destinado exclusivamente à mulher é o creme<br />

hidratante.<br />

3. Segundo Nelly de Carvalho, especialista em linguagem publicitária, a mulher é vista pela publicidade<br />

como compradora. Veja o que a pesquisadora afirma:<br />

“[a mulher] desempenha a função de protetora/provedora das necessidades da família e da<br />

casa, constituindo a própria imagem da domesticidade (de domus, ‘casa’). Isso não significa, porém,<br />

arcar com o ônus material do lar, ou seja, pagar as despesas, mas com o trabalho de sair de casa,<br />

escolher e comprar, ela é a compradora oficial.”<br />

(Publicidade — A linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 1996. p. 23-4.)<br />

Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães


Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães<br />

De acordo com o texto: b) Porque, como diz Nelly de Carvalho, são elas que fazem as compras.<br />

a) Dona Dolores desempenha, socialmente, alguma atividade profissional? Não, é uma dona de casa.<br />

b) Se mulheres como dona Dolores não arcam com o ônus material do lar, isto é, com as despesas,<br />

então por que muitas campanhas publicitárias têm as donas de casa como alvo?<br />

c) Retire do texto ao menos duas frases que comprovem que dona Dolores é a protetora/provedora<br />

de toda a família.<br />

A saúde da minha família em primeiro lugar. / Todos andam muito mais alegres desde que eu comecei a usar Limpol nos ralos. / Como<br />

esposa e mãe, eu sei que minha obrigação é manter a regularidade da família.<br />

4. A linguagem pode ser compreendida como expressão da identidade do ser humano, ou seja, ela<br />

é o meio que utilizamos para expressar o que somos. Com base nessa informação, responda:<br />

Significa que ela perdeu a própria identidade, tornando-se uma espécie de robô que só reproduz as mensagens que ouve.<br />

a) Levando-se em conta que dona Dolores é uma pessoa com pensamentos e desejos próprios, o<br />

que significa o fato de ela perder a própria linguagem e substituí-la pela linguagem publicitária?<br />

b) Pode-se dizer que o texto critica a influência dos meios de comunicação sobre o comporta-<br />

mento das pessoas? Por quê?<br />

5. Observe as palavras destacadas nestas frases:<br />

“— Bote esta alegria na sua mesa todos os dias.”<br />

“— Todos encontram tudo o que querem [...]”<br />

“E agora todos aqui em casa respiram aliviados.”<br />

“[...] para que você possa descansar.”<br />

“Agora escovar os dentes é um prazer [...]”<br />

Sim; de forma bem-humorada, o texto sugere que as pessoas são manipuladas pelos meios de comunicação, a ponto de<br />

perderem a própria identidade, isto é, suas opiniões e seus gostos pessoais.<br />

a) Segundo os anúncios publicitários, como passa a ser a vida quando consumimos os produtos<br />

anunciados? Maravilhosa, feliz, sem problemas.<br />

b) Qual é, então, nos anúncios publicitários, a relação existente entre “felicidade familiar” e consumo?<br />

De acordo com os anúncios publicitários, quando se consome, alcança-se a felicidade.<br />

6. Como conclusão, indique qual ou quais das afirmativas a seguir resumem as ideias principais do texto:<br />

a) Dona Dolores é uma dona de casa feliz, pois consegue desempenhar bem seu papel de organizadora<br />

do lar.<br />

X b) O humor do texto provém, em grande parte, da alteração de contextos. As frases ditas por<br />

dona Dolores passam a ser engraçadas porque estão fora de seu contexto habitual — o contexto<br />

publicitário dos meios de comunicação.<br />

X c) De forma bem-humorada, o autor faz uma crítica aos valores da sociedade de consumo, em<br />

especial à forma como a publicidade e os meios de comunicação criam falsas ilusões nas pessoas.<br />

d) O objetivo central do texto é fazer uma crítica ao papel de dona de casa desempenhado pela<br />

mulher, que acaba se anulando como pessoa em benefício da família.<br />

A LINGUAGEM DO TEXTO<br />

1. Observe estas falas dos filhos de dona Dolores:<br />

“— Tá doida, mãe?”<br />

“— Acho que a mamãe pirou de vez.”<br />

a) Nessas frases, há algumas palavras que demonstram certo grau de intimidade entre os filhos<br />

e a mãe. Quais são elas? tá doida, pirou<br />

b) Qual dessas palavras:<br />

• é uma gíria? pirou • expressa informalidade na linguagem? tá<br />

121


122<br />

c) Reescreva a frase que contém a gíria, substituindo essa palavra por um termo de sentido equivalente,<br />

a fim de que ela fique de acordo com a norma-padrão da língua.<br />

Acho que a mamãe enlouqueceu de vez.<br />

2. Observe agora estas falas de dona Dolores:<br />

“— Bote esta alegria na sua mesa todos os dias.”<br />

“— Vocês sabiam que o laxante Vida Mansa agora tem dois ingredientes [...]”<br />

a) Que palavra da 1ª frase foge à norma-padrão formal da língua? Bote.<br />

b) Reescreva a 1ª frase, substituindo essa palavra por outra da norma-padrão formal.<br />

c) Que expressão da 2ª frase cria maior intimidade entre o anunciante e o ouvinte/espectador?<br />

Vocês sabiam...<br />

d) Na sua opinião, com que finalidade os anúncios publicitários às vezes fazem uso de gírias ou<br />

de palavras e expressões próprias de variedades linguísticas diferentes da norma-padrão?<br />

Para aproximar-se do consumidor, ganhar a confiança dele e, dessa forma, vender o produto mais facilmente.<br />

3. Releia este trecho do texto e observe as palavras destacadas:<br />

“Para a minha família, só serve o melhor. Por isso<br />

eu sirvo arroz Rizobon. Rende mais e é mais gostoso.”<br />

a) Qual é o grau do adjetivo melhor? superlativo absoluto sintético<br />

b) Que tipo de advérbio é a palavra mais nas duas situações?<br />

advérbio de intensidade<br />

c) Por que nos textos publicitários a presença desse tipo de<br />

grau e desse tipo de advérbio é constante?<br />

Porque o anunciante pretende sempre demonstrar as vantagens de seu produto e, para fazer isso, ele utiliza os<br />

recursos que a língua oferece: o grau superlativo (melhor, superior, mais barato e econômico, etc.) e o advérbio<br />

de intensidade mais.<br />

LEITURA EXPRESSIVA DO TEXTO<br />

Desprezando a fala do narrador, três alunos leem somente as falas das personagens: um faz<br />

o papel de dona Dolores; outro, do marido; e o outro, dos filhos. A leitura das falas do marido e<br />

dos filhos deve sugerir espanto, surpresa. A de dona Dolores deve buscar o “tom jovial e alegre”,<br />

próprio dos comerciais.<br />

Trocando ideias<br />

Ponha/Coloque/<br />

Acrescente…<br />

1. Você alguma vez já se sentiu influenciado por uma propaganda, a ponto de consumir o produto<br />

anunciado? Se sim, conte como foi.<br />

2. Os anúncios publicitários reproduzidos por dona Dolores passam a ideia de que alcançamos a<br />

felicidade quando consumimos. Você concorda com essa visão? Por quê?<br />

3. Todas as pessoas ligam a tevê ou o rádio porque querem se informar ou se divertir, mas acabam<br />

também vendo ou ouvindo anúncios publicitários.<br />

a) Você acredita que os anúncios publicitários podem confundir as pessoas quanto aos reais<br />

valores humanos, a ponto de levá-las a crer que ser feliz é o mesmo que consumir?<br />

b) O que podemos fazer para não sermos manipulados pelos anúncios publicitários?<br />

Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães


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<strong>Tema</strong>:<br />

<strong>Consumo</strong><br />

ESTUDO DO TEXTO<br />

Essas mães maravilhosas e suas máquinas infantis<br />

Flávia logo percebeu que as outras moradoras do prédio, mães dos amiguinhos do seu filho,<br />

Paulinho, seis anos, olhavam-na com um ar de superioridade. Não era para menos. Afinal o garoto<br />

até aquela idade — imaginem — se limitava a brincar e ir à escola. Andava em total descompasso<br />

com os outros meninos, que já desenvolveram múltiplas e variadas atividades desde a mais tenra<br />

idade. O recorde, por sinal, pertencia ao garoto Peter, filho de uma brasileira e um canadense, nascido<br />

em Nova Iorque. Peter tão logo veio ao mundo entrou para um curso de amamentação (“Como<br />

tirar o leite da mãe em 10 lições”). A mãe descobriu numa revista uma pesquisa feita por médicos da<br />

Califórnia informando sobre a melhor técnica de mamar (chamada técnica de Lindstorm, um psicanalista,<br />

autor da pesquisa, que para realizar seu trabalho mamou até os 40 anos). A maneira da criança<br />

mamar, afirmam os doutores, vai determinar suas neuroses na idade adulta.<br />

Uma tarde, Flávia percebeu duas mães cochichando sobre seu filho: que se pode esperar de um<br />

menino que aos seis anos só brinca e vai à escola? Flávia começou a se sentir a última das mães. Pegou<br />

o marido pelo braço dizendo que os dois precisavam ter uma conversa com o filho.<br />

— O que você gostaria de fazer, Paulinho? — perguntou o pai dando uma de liberal que não<br />

costuma impor suas vontades.<br />

— Brincar…<br />

O pai fez uma expressão grave.<br />

— Você não acha que já passou da idade, filho? A vida não é uma eterna brincadeira. Você precisa<br />

começar a pensar no futuro. Pensar em coisas mais sérias, desenvolver outras atividades. Você<br />

não gostaria de praticar algum esporte?<br />

— Compra um time de botão pra mim.<br />

— Botão não é esporte, filho.<br />

— Arco e flecha!<br />

Os pais se entreolharam. Nenhum dos meninos do prédio fazia curso de arco e flecha. Paulinho<br />

seria o primeiro. Os vizinhos certamente iriam julgá-lo uma criança anormal. Flávia deu um calção<br />

de presente ao garoto e perguntou por que ele não fazia natação.<br />

— Tenho medo.<br />

Se tinha medo, então era para a natação mesmo que ele iria entrar. Os medos devem ser eliminados<br />

na infância. Paulinho ainda quis argumentar. Sugeriu alpinismo. Foi a vez de os pais tremerem.<br />

Mas o medo dos pais é outra história. Paulinho entrou para a natação. Não deu muitas<br />

alegrias aos pais. Nas competições chegava sempre em último, e as mães dos coleguinhas<br />

continuavam olhando Flávia com uma expressão superior. As mães,<br />

vocês sabem, disputam entre elas um torneio surdo nas costas dos filhos.<br />

Flávia passou a desconfiar de que seu filho era um ser inferior. Resolveu<br />

imitar as outras mães, e além da natação colocou Paulinho na ginástica olímpica,<br />

cursinho de artes, inglês, judô, francês, terapeuta, logopedista.<br />

Botou até aparelho nos dentes do filho. Os amiguinhos<br />

da rua chamavam Paulinho para brincar depois do colégio.<br />

123


— Não posso, tenho aula de hipismo.<br />

— Depois do hipismo?<br />

— Vou pro caratê.<br />

— E depois do caratê?<br />

— Faço sapateado.<br />

— Quando poderemos brincar?<br />

— Não sei. Tenho que ver na agenda.<br />

Paulinho andava com uma agenda Pombo debaixo do braço. À noitinha chegava em casa mais<br />

cansado do que o pai em dia de plantão. Nunca mais brincou. Tinha todos os brinquedos da moda,<br />

mas só para mostrar aos amiguinhos do prédio. Paulinho dava um duro dos diabos. “Mas no futuro<br />

ele saberá nos agradecer”, dizia o pai. O garoto estava sendo preparado para ser um super-homem. E<br />

foi ficando adulto antes do tempo, como uma fruta que amadurece de véspera. Um dia Flávia flagrou<br />

o filho com uma gravata à volta do pescoço tentando dar um laço. Quando fez sete anos disse ao pai<br />

que a partir daquele dia queria receber a mesada em dólar. Aos oito abriu o berreiro porque seus pais<br />

não lhe deram um cartão de crédito de presente. Com oito anos, entre uma aula de xadrez e de sânscrito,<br />

Paulinho saiu de casa muito compenetrado. Os amiguinhos da rua perguntaram aonde ele ia:<br />

— Vou ao banco.<br />

Caminhou um quarteirão até o banco, sentou-se diante do gerente, pediu sugestões sobre aplicações<br />

e pagou a conta de luz como um homenzinho. A façanha do garoto correu o prédio. A vizinhança<br />

começou a achá-lo um gênio. As mães dos amiguinhos deixaram de olhar Flávia com superioridade.<br />

Os pais, enfim, puderam sentir-se orgulhosos. “Estamos educando o menino no caminho certo”,<br />

declarou o pai batendo no peito. Na festa de 11 anos, que mais parecia um coquetel do corpo diplomático,<br />

um tio perguntou a Paulinho o que ele queria ser quando crescesse.<br />

— Criança!<br />

Paulinho cresceu. Cresceu fazendo cursos e mais cursos. Abandonou a infância, entrou na adolescência,<br />

tornou-se um jovem alto, forte, espadaúdo. Virou Paulão. Entrou para a faculdade, formouse<br />

em Economia. Os pais tinham sonhos de vê-lo na Presidência do Banco Central. Casou com uma<br />

jornalista. Paulão respirou aliviado por sair debaixo das asas da mãe, que até às vésperas do casamento<br />

espadaúdo: que tem ombros largos.<br />

façanha: ato heroico.<br />

flagrar: pegar em flagrante, surpreender.<br />

grave: severo, sério.<br />

logopedista: especialista que corrige defeitos da fala.<br />

mestrado: curso feito após a conclusão do curso universitário.<br />

neurose: perturbação mental.<br />

sânscrito: antiga língua da Índia.<br />

surdo: silencioso.<br />

tenro: recente, novo.<br />

Procure no dicionário outras palavras que você desconheça.<br />

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO<br />

124<br />

Espera-se que o aluno perceba que o desejo de brincar, aos 6 anos, é perfeitamente normal.<br />

queria colocá-lo num curso de preparação<br />

matrimonial. Na lua de mel,<br />

avisou à mulher que iria passar os<br />

dias em casa dedicando-se à sua tese<br />

de mestrado. A mulher ia e vinha do<br />

emprego e Paulão trancado no seu<br />

gabinete de estudos. Uma tarde, o<br />

marido esqueceu de passar a chave<br />

na porta. A mulher chegou, abriu e<br />

deu de cara com Paulão sentado no<br />

tapete brincando com um trenzinho.<br />

(Carlos Eduardo Novaes. A cadeira do dentista e outras<br />

crônicas. São Paulo: Ática, 1994. p. 15-7.)<br />

1. A vida de Paulinho se altera profundamente quando seus pais resolvem que ele deve fazer cursos.<br />

a) Como os pais justificam essa decisão? Alegam que Paulinho precisa pensar no futuro.<br />

b) Qual é o verdadeiro desejo de Paulinho? O de apenas brincar.<br />

c) Considerando a idade do garoto, você acha esse desejo normal ou anormal? Justifique.<br />

Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães


Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães<br />

2. Há diferenças entre o pai e a mãe de Paulinho quanto ao modo de lidar com o filho: um é mais<br />

liberal, e o outro, mais ansioso e autoritário. Dos dois:<br />

a) Qual é mais liberal? Por quê? O pai é mais liberal, porque inicialmente ele tenta o diálogo com o filho.<br />

b) Qual é mais ansioso e autoritário? Por quê?<br />

A mãe, porque, pressionada pela competição entre as mães, é ela quem toma a iniciativa de dizer ao marido que ambos deviam conversar com o filho.<br />

3. Você já sabe que a ironia é um recurso de expressão que provoca uma quebra de expectativa,<br />

fazendo com que a frase ganhe um sentido contrário àquilo que se disse.<br />

a) Por que o título do texto é irônico? É irônico porque chama as mães de maravilhosas; o esperado seria chamá-las de terríveis.<br />

b) Identifique no 1º parágrafo um trecho em que tal recurso também tenha sido empregado.<br />

O trecho “Não era para menos. Afinal o garoto até aquela idade — imaginem — se limitava a brincar e ir à escola”, e a referência ao curso de amamentação.<br />

4. Leia estas frases:<br />

• “as outras moradoras do prédio […] olhavam-na com um ar<br />

de superioridade.”<br />

• “Flávia começou a se sentir a última das mães.”<br />

• “Os vizinhos certamente iriam julgá-lo uma criança anormal.”<br />

• “Resolveu imitar as outras mães, e além da natação colocou<br />

Paulinho na ginástica olímpica, cursinho de artes […]”<br />

• “Tinha todos os brinquedos da moda, mas só para mostrar aos<br />

amiguinhos do prédio.”<br />

Com base nessas frases, responda:<br />

a) Como a mãe de Paulinho se sente diante de outras mães, cujos filhos se destacam em diferentes<br />

cursos? Sente-se inferiorizada.<br />

b) Quais são, então, as razões verdadeiras que motivam os pais de Paulinho a tomarem a decisão<br />

de colocá-lo em diversos cursos? A competição entre as mães, a pressão social.<br />

c) Qual das frases abaixo confirma sua resposta anterior?<br />

• “Pegou o marido pelo braço dizendo que os dois precisavam ter uma conversa com o filho.”<br />

X • “As mães, vocês sabem, disputam entre elas um torneio surdo nas costas dos filhos.”<br />

• “‘Mas no futuro ele saberá nos agradecer’, dizia o pai.”<br />

5. Segundo o texto, dos 6 aos 8 anos, Paulinho fez diversos cursos, até que finalmente encontrou<br />

sua vocação e começou a se destacar entre os demais garotos do prédio.<br />

a) Em que tipo de atividade o garoto começou a se destacar? cações).<br />

Sim, porque quando adulto ele se<br />

b) Essa “vocação” precoce está relacionada à sua futura profissão? Justifique. tornou economista.<br />

c) Quais as consequências dessas intensas atividades no desenvolvimento do garoto? Justifique<br />

sua resposta com uma frase do texto.<br />

Ele perde a infância e amadurece precocemente. “E foi ficando adulto antes do tempo, como uma fruta que<br />

amadurece de véspera.”<br />

6. Na festa de 11 anos de Paulinho, quando perguntam ao garoto o que queria ser quando crescesse,<br />

ele responde: “Criança!”. O garoto cresce, vira Paulão e se casa.<br />

a) Considerando a relação que os pais tiveram com o filho durante seu crescimento, o que sig-<br />

nifica o casamento para Paulão? Significa a libertação do domínio dos pais, principalmente do domínio da mãe.<br />

b) Pelo desfecho da história, Paulão realiza o desejo que teve aos 11 anos?<br />

Em atividades relacionadas a negócios (economia, dinheiro, apli-<br />

Sim, ao afastar-se da mãe, ele conseguiu<br />

finalmente ser criança de novo.<br />

c) Segundo o texto, “Paulinho dava um duro dos diabos” nos seus cursos. “‘Mas no futuro ele<br />

sa be rá nos agradecer’, dizia o pai.” Na sua opinião, Paulão, ao ficar adulto, torna-se agradecido<br />

Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que o preço pago por Paulinho foi alto: perdeu a infância e, após casar, tenta recuperá-la. Por isso talvez não tenha<br />

aos pais? valido a pena tanto esforço.<br />

125


7. Das afirmativas seguintes sobre o texto, uma é incorreta. Qual é ela? Por quê?<br />

a) O texto põe em discussão determinado modelo de educação, que não respeita<br />

as fases naturais do desenvolvimento da criança.<br />

b) A educação é vista pelos pais de Paulinho como simples objeto de consumo,<br />

em que o mais importante não é a criança, mas o jogo social.<br />

X c) O texto deseja mostrar os sacrifícios a que alguém tem de se submeter<br />

desde a infância para vencer na vida.<br />

d) O texto demonstra que o consumismo não se limita a objetos — carros,<br />

detergentes, geladeiras, etc. —, mas se estende também a comportamentos,<br />

criando modismo, e chega até a educação.<br />

e) O texto critica a competição social, que se reflete também na educação<br />

126<br />

dos filhos.<br />

A LINGUAGEM DO TEXTO<br />

1. Leia:<br />

“Paulinho cresceu. Cresceu fazendo cursos e mais cursos.”<br />

a) Que sentido tem a repetição “cursos e mais cursos” na frase? Equivale a dizer “muitos cursos”.<br />

b) Reescreva a frase, evitando a repetição e mantendo seu sentido original. Cresceu fazendo diversos/muitos cursos.<br />

2. Observe esta frase:<br />

Ao contrário do que afirma o item c, a intenção do texto é criticar o comportamento competitivo dos pais e defender a<br />

ideia de que ser simplesmente criança é saudável para a vida do futuro adulto.<br />

“Foi a vez de os pais tremerem.”<br />

Note que a preposição de não se contraiu com o artigo os. Segundo a norma-padrão da língua,<br />

a contração da preposição com artigos ou com pronomes não deve ser feita quando o termo<br />

seguinte à preposição (no caso, os pais) for o sujeito do verbo no infinitivo. Veja outros casos:<br />

Chegou a hora de a classe escolher seu representante.<br />

sujeito infinitivo<br />

Agora é a vez de este garoto jogar.<br />

sujeito infinitivo<br />

Das frases seguintes, algumas não estão de acordo com a norma-padrão da língua, porque não a<br />

seguem quanto ao emprego da contração. Identifique-as e reescreva-as, adequando-as à normapadrão.<br />

a) No dia de o presidente tomar posse, teve um mal súbito.<br />

X b) Fique quieto! É a vez dela falar. … de ela falar.<br />

X c) Este é o momento do cidadão provar que tem direito. … de o cidadão provar…<br />

d) Bem no instante de o avião decolar, ouviu-se um barulho estranho.<br />

3. O narrador do texto manifesta-se explicitamente em algumas situações, quase sempre para<br />

ironizar ou comentar o que está sendo narrado. Esse tipo de narrador, chamado narrador<br />

intruso, sai de sua posição distanciada e interfere diretamente na narrativa. Identifique nos<br />

Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães


Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães<br />

fragmentos abaixo vestígios da presença<br />

de narrador intruso.<br />

Não era para menos / imaginem<br />

a) “Flávia logo percebeu que as outras<br />

moradoras do prédio, mães dos amiguinhos<br />

do seu filho, Paulinho, seis<br />

anos, olhavam-na com um ar de superioridade.<br />

Não era para menos. Afinal<br />

o garoto até aquela idade — imaginem<br />

— se limitava a brincar e ir à escola.”<br />

b) “Se tinha medo, então era para a<br />

natação mesmo que ele iria entrar.<br />

Os medos devem ser eliminados na<br />

infância. Paulinho ainda quis argumentar.<br />

Sugeriu alpinismo. Foi a vez<br />

de os pais tremerem. Mas o medo dos<br />

pais é outra história. […] Nas competições<br />

chegava sempre em último, e<br />

as mães dos coleguinhas continuavam<br />

olhando Flávia com uma expressão<br />

superior. As mães, vocês sabem, disputam<br />

entre elas um torneio surdo<br />

nas costas dos filhos.”<br />

Mas o medo dos pais é outra história / As mães, vocês sabem, disputam entre elas um torneio surdo nas costas dos filhos.<br />

LEITURA EXPRESSIVA DO TEXTO<br />

Dois alunos leem o diálogo entre Paulinho e o pai, do parágrafo que começa em “— O que você<br />

gostaria de fazer, Paulinho?” até “— Arco e flecha!”. Desprezando a fala do narrador, um aluno faz o<br />

papel do pai, que fala com o filho com paciência, alterando a voz para mostrar que é um pai compreensivo<br />

e carinhoso. O outro aluno faz o papel de Paulinho, lendo de forma a mostrar espontaneidade.<br />

Trocando ideias<br />

1. O texto lido satiriza a “supereducação” que alguns pais dão aos filhos, esquecendo que eles são<br />

crianças.<br />

a) Você conhece alguém que esteja tendo ou tenha tido uma infância igual à de Paulinho? Se sim,<br />

comente com os colegas.<br />

b) Na sua opinião, como conciliar os estudos sem que se percam as fases naturais do desenvolvimento<br />

humano, como a infância e a adolescência?<br />

2. O texto faz uma crítica à competição social e aos efeitos dela sobre a educação infantil. Como<br />

você agiria se estivesse no lugar da mãe de Paulinho?<br />

3. Vimos no texto um tipo diferente de consumismo, o consumo desenfreado de cursos e de certos<br />

tipos de comportamento social. Que outros exemplos de modismo ou comportamentos relacio-<br />

nados ao consumo você conhece?<br />

O mestre dos intrusos<br />

Machado de Assis, escritor do século XIX, foi o<br />

primeiro autor nacional a explorar sistematicamente a<br />

técnica do narrador intruso. Em sua obra Memórias póstumas<br />

de Brás Cubas, por exemplo, o narrador comenta<br />

o próprio livro e brinca com a ansiedade do leitor em<br />

conhecer logo o desenlace da história. Veja:<br />

“Começo a arrepender-me<br />

deste livro. Não<br />

que ele me canse; eu não<br />

tenho que fazer; […] Tu<br />

tens pressa de envelhecer,<br />

e o livro anda devagar; tu<br />

amas a narração direta e<br />

nutrida, o estilo regular<br />

e fluente; e este livro e<br />

o meu estilo são como<br />

ébrios, guinam à direita e<br />

à esquerda”.<br />

Machado de Assis,<br />

retratado por Ademar Veneziano.<br />

Professor: As respostas são pessoais; contudo, na resposta à questão 3, entre outras possibilidades, o aluno poderá citar as diferentes tribos urbanas e toda a indústria de consumo voltada<br />

para elas, relativa a discos e shows, roupas e penteados, revistas, bares, lojas, danceterias, etc.<br />

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