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Plano de recuperação para a área degradada pelo

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23º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

III-188 - PLANO DE RECUPERAÇÃO PARA A ÁREA DEGRADADA PELO<br />

LIXÃO DE GOIANÉSIA (GO)<br />

Eraldo Henriques <strong>de</strong> Carvalho (1)<br />

Engenheiro Civil. Doutor em Engenharia Civil na <strong>área</strong> <strong>de</strong> Hidráulica e Saneamento pela Escola <strong>de</strong> Engenharia<br />

<strong>de</strong> São Carlos da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (EESC/USP). Professor adjunto da Escola <strong>de</strong> Engenharia Civil<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (EEC/UFG), na <strong>área</strong> <strong>de</strong> Hidráulica e Saneamento, e coor<strong>de</strong>nador do curso<br />

<strong>de</strong> especialização em Tratamento e Disposição Final <strong>de</strong> Resíduos Sólido e Líquido da EEC/UFG.<br />

Simone Costa Pfeiffer<br />

Engenheira Geóloga. Doutora em Engenharia Civil na Área <strong>de</strong> Hidráulica e Saneamento pela Escola <strong>de</strong><br />

Engenharia <strong>de</strong> São Carlos - Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (EESC/USP). Professora do curso <strong>de</strong> especialização<br />

em Tratamento e Disposição Final <strong>de</strong> Resíduos Sólido e Líquido da Escola <strong>de</strong> Engenharia Civil da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (EEC/UFG). Consultora na Área <strong>de</strong> Resíduos Sólidos.<br />

En<strong>de</strong>reço (1) : Escola <strong>de</strong> Engenharia Civil /UFG. Praça Universitária, s/n – Setor Universitário - Goiânia - GO -<br />

CEP: 74.605-220 - Brasil - Tel: (62) 209-6093 - e-mail: carvalho@eec.ufg.br<br />

RESUMO<br />

O presente estudo apresenta o diagnóstico da situação encontrada na <strong>área</strong> do lixão do município <strong>de</strong> Goianésia<br />

(GO), bem como as proposições <strong>para</strong> a realização <strong>de</strong> ações referente à <strong>recuperação</strong> ambiental da <strong>área</strong>. Para a<br />

avaliação preliminar da <strong>área</strong> em estudo foram coletados dados existentes e realizada inspeção <strong>de</strong><br />

reconhecimento da <strong>área</strong>. Para a quantificação do passivo ambiental existente, foi feita uma estimativa do<br />

volume <strong>de</strong> lixo espalhado na <strong>área</strong> através <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas orientadas <strong>pelo</strong> Sistema <strong>de</strong><br />

Posicionamento Global – GPS e <strong>de</strong> estimativa da altura média <strong>de</strong> lixo. A estimativa do volume <strong>de</strong> lixo<br />

aterrado foi baseada nas dimensões da trincheira e das valas escavadas. Para a <strong>de</strong>terminação da direção do<br />

fluxo subterrâneo foram utilizados resultados <strong>de</strong> sondagens já executadas. Os impactos ambientais resultantes<br />

da disposição ina<strong>de</strong>quada dos resíduos foram levantados através <strong>de</strong> visitas ao local e entrevistas com<br />

funcionários que trabalham nos serviços <strong>de</strong> limpeza pública. De acordo com o levantamento realizado,<br />

existem no local cerca <strong>de</strong> 9.390 t <strong>de</strong> resíduos sólidos dispostos ina<strong>de</strong>quadamente. Vários impactos ambientais,<br />

como <strong>de</strong>gradação da <strong>área</strong> <strong>de</strong>stinada à reserva legal, presença <strong>de</strong> catadores e queima <strong>de</strong> resíduos, foram<br />

registrados. Assim, <strong>para</strong> a <strong>recuperação</strong> do local, foram propostas algumas ações como a remoção e disposição<br />

a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sses resíduos, principalmente os perigosos; instalação <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> drenagem<br />

superficial; ligação <strong>de</strong> um dreno <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> percolado, já existente, ao sistema <strong>de</strong> tratamento do Aterro<br />

sanitário; e instalação <strong>de</strong> drenos <strong>de</strong> gás na massa <strong>de</strong> lixo que não será removida.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Recuperação, lixão, <strong>área</strong> <strong>de</strong>gradada.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Nos últimos anos, os resíduos sólidos urbanos gerados no município <strong>de</strong> Goianésia (GO) foram dispostos <strong>de</strong><br />

forma ina<strong>de</strong>quada em um Aterro Controlado que, a cerca <strong>de</strong> três anos, transformou-se em lixão. Com a<br />

construção do Aterro Sanitário da cida<strong>de</strong>, iniciou-se um estudo visando o diagnóstico da situação existente na<br />

<strong>área</strong> do lixão e a proposição <strong>de</strong> ações referentes à <strong>recuperação</strong> ambiental da <strong>área</strong> a fim <strong>de</strong> minimizar os<br />

impactos provocados por tal ativida<strong>de</strong> ao longo dos últimos anos.<br />

Embora o lançamento <strong>de</strong> resíduos sólidos em lixões seja uma forma ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> disposição final, ainda é<br />

utilizada por gran<strong>de</strong> parte dos municípios brasileiros, já que os mesmos não contam com recursos financeiros<br />

e equipamentos a<strong>de</strong>quados <strong>para</strong> que possam dar disposição sanitária aos resíduos sólidos coletados e terminam<br />

por optar pela solução mais simples.<br />

Este comportamento gera sérios problemas <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> doenças, principalmente entre as camadas mais<br />

carentes da população. Além disso, compromete o meio ambiente já que a velocida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação e assimilação <strong>pelo</strong> ambiente é muitas vezes inferior à velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> resíduos. Portanto,<br />

a disposição final sanitária <strong>de</strong> resíduos sólidos urbanos se coloca na administração pública como uma questão<br />

<strong>de</strong> alta priorida<strong>de</strong> e importância.<br />

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MATERIAIS E MÉTODOS<br />

A avaliação preliminar da <strong>área</strong> consistiu na coleta dos dados existentes e na realização da inspeção <strong>de</strong><br />

reconhecimento da <strong>área</strong>. A Ficha Cadastral, proposta pela Companhia <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Saneamento<br />

Ambiental (CETESB, 2001), foi a ferramenta utilizada como guia <strong>para</strong> a obtenção <strong>de</strong>ssas informações.<br />

A coleta <strong>de</strong> dados existentes foi realizada através do levantamento histórico e do estudo sobre o meio físico.<br />

As fontes e os tipos <strong>de</strong> informações utilizados nessa fase encontram-se apresentados na Tabela 1.<br />

Tabela 1. Fontes e tipos <strong>de</strong> informações utilizados <strong>para</strong> o diagnóstico inicial da <strong>área</strong><br />

Fontes <strong>de</strong> informação Tipos <strong>de</strong> informações Documentos consultados<br />

Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Goianésia História operacional e ambiental da <strong>Plano</strong> diretor urbanístico e<br />

<strong>área</strong>, “layout” da <strong>área</strong><br />

ambiental do Município, Proposta<br />

<strong>para</strong> elaboração do <strong>Plano</strong> <strong>de</strong><br />

Gerenciamento Integrado <strong>de</strong><br />

Resíduos Sólidos Urbanos, Plantas<br />

da <strong>área</strong><br />

Empresas prestadoras <strong>de</strong> serviços Descrição geológica e<br />

Relatórios <strong>de</strong> sondagens<br />

especializados<br />

hidrogeológica da <strong>área</strong><br />

Órgão <strong>de</strong> controle ambiental Dados sobre a <strong>área</strong> Projeto <strong>de</strong> Aterro Controlado <strong>de</strong><br />

(Agência Ambiental <strong>de</strong> Goiás)<br />

resíduos sólidos urbanos<br />

A inspeção <strong>de</strong> reconhecimento foi realizada através <strong>de</strong> vistoria <strong>de</strong>talhada na <strong>área</strong> e <strong>de</strong> entrevistas com pessoas<br />

que se encontravam no local.<br />

A estimativa do volume <strong>de</strong> lixo espalhado na <strong>área</strong> foi realizada através <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas<br />

orientadas <strong>pelo</strong> Sistema <strong>de</strong> Posicionamento Global – GPS e <strong>de</strong> estimativa da altura média <strong>de</strong> lixo, observandose<br />

as cotas naturais do terreno.<br />

Para a estimativa do volume <strong>de</strong> lixo aterrado, foram consi<strong>de</strong>radas as dimensões da trincheira e das valas<br />

escavadas. Para a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>ssas dimensões foram consultados o Projeto do Aterro Controlado; a planta<br />

com a localização <strong>de</strong>sses pontos, elaborada em AutoCad; e os apontadores da prefeitura.<br />

A massa <strong>de</strong> resíduos não compactados foi estimada utilizando-se o peso específico do lixo solto <strong>de</strong>terminado<br />

em campo (250 kg/m 3 ). Para a <strong>de</strong>terminação da massa <strong>de</strong> resíduos compactados, consi<strong>de</strong>rou-se que os mesmos<br />

foram fracamente compactados, <strong>de</strong> forma que o peso específico utilizado foi <strong>de</strong> 600 kg/m 3 .<br />

Para a <strong>de</strong>terminação da direção do fluxo subterrâneo foram utilizados os resultados das sondagens realizadas<br />

na <strong>área</strong>.<br />

Quanto aos impactos ambientais resultantes da disposição ina<strong>de</strong>quada dos resíduos, os mesmos foram<br />

levantados através <strong>de</strong> visitas ao local e entrevistas com funcionários que trabalham nos serviços <strong>de</strong> limpeza<br />

pública.<br />

No caso específico da água subterrânea, foram avaliados o potencial <strong>de</strong> contaminação do lençol freático<br />

(utilizando-se os parâmetros tempo <strong>de</strong> operação do lixão, nível do lençol freático e permeabilida<strong>de</strong> do solo) e<br />

a sua qualida<strong>de</strong>.<br />

A verificação da qualida<strong>de</strong> da água foi feita através <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> amostra <strong>para</strong> análise, no único ponto existente<br />

na <strong>área</strong> até o momento, no caso, a cisterna localizada ao lado do prédio da administração. Os parâmetros<br />

avaliados foram os seguintes: pH, óleos e graxas, <strong>de</strong>manda química <strong>de</strong> oxigênio, nitratos, fósforo total,<br />

alumínio, arsênio, bário, ferro total, magnésio, cádmio, cobre, cromo total e chumbo.<br />

RESULTADOS OBTIDOS<br />

A <strong>área</strong> do lixão localiza-se na zona rural do município <strong>de</strong> Goianésia e dista cerca <strong>de</strong> 7 km da se<strong>de</strong> municipal.<br />

O local possui <strong>área</strong> total <strong>de</strong> 25,5594 hectares, incluindo a reserva ambiental.<br />

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Inicialmente, esta <strong>área</strong> foi <strong>de</strong>stinada à implantação <strong>de</strong> um Aterro Controlado que, no entanto, não foi<br />

finalizado e nem operado como tal. A única trincheira executada, implantada no final do ano <strong>de</strong> 1999, conta<br />

apenas com uma impermeabilização <strong>de</strong> base com argila e um sistema <strong>de</strong> drenagem <strong>de</strong> percolado e recebeu os<br />

resíduos coletados no ano <strong>de</strong> 2000, dispostos sem compactação.<br />

Observa-se, ainda, que, apesar da mencionada trincheira possuir o dreno <strong>de</strong> percolado, o mesmo não está<br />

conectado a nenhum sistema <strong>de</strong> tratamento, embora exista na <strong>área</strong> uma escavação inicialmente <strong>de</strong>stinada à<br />

construção <strong>de</strong> uma lagoa anaeróbia que, entretanto, não foi finalizada e não conta com qualquer tipo <strong>de</strong><br />

impermeabilização e/ou sistema <strong>de</strong> proteção.<br />

A partir <strong>de</strong> 2001, os resíduos sólidos passaram a ser, apenas, <strong>de</strong>scarregados no local, ou seja, dispostos a céu<br />

aberto. Em agosto <strong>de</strong> 2002 foi aberta uma “vala” <strong>para</strong> o aterramento do lixo que se encontrava espalhado, com<br />

posterior fechamento através <strong>de</strong> recobrimento com solo local. No entanto, após esse período, o lixo foi<br />

novamente disposto a céu aberto.<br />

De acordo com levantamento realizado, não existia no local balança nem qualquer tipo <strong>de</strong> controle dos<br />

resíduos que entravam. Assim, o passivo existente na <strong>área</strong> engloba os seguintes tipos <strong>de</strong> resíduos,<br />

classificados segundo sua origem: urbanos (resi<strong>de</strong>nciais, comerciais, <strong>de</strong> varrição, e <strong>de</strong> feiras livres); industrial<br />

(baterias automotivas); <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Observa-se que a escavação <strong>de</strong>stinada a construção da Vala Séptica, que não possui impermeabilização,<br />

recebeu apenas baterias automotivas, resíduos estes classificados como altamente perigosos, por conter<br />

elevadas concentrações <strong>de</strong> chumbo.<br />

Foram relatadas, também, ocorrências <strong>de</strong> saques no local, com a subtração <strong>de</strong> materiais e equipamentos já<br />

instalados e <strong>de</strong>preciação do patrimônio.<br />

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DA ÁREA<br />

O relevo local apresenta-se suave, com <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>s variando entre 3%, na porção superior da <strong>área</strong>, e 1% na<br />

parte mais baixa.<br />

De acordo com sondagens realizadas, o solo é constituído basicamente por argilas vermelhas, silte amarelo e<br />

silte rosa. Em alguns horizontes, verifica-se a associação <strong>de</strong>stes com pedregulho. O coeficiente <strong>de</strong><br />

permeabilida<strong>de</strong> encontrado situa-se entre 10 -3 e 10 -5 , o que caracteriza uma permeabilida<strong>de</strong> média.<br />

O lençol freático foi encontrado em profundida<strong>de</strong>s que variaram <strong>de</strong> 6 a 11 m. Observa-se que estas medições<br />

foram realizadas no final do período chuvoso (março), época em que o lençol freático encontra-se mais<br />

elevado.<br />

QUANTIFICAÇÃO DO PASSIVO AMBIENTAL<br />

Para a quantificação do passivo existente na <strong>área</strong>, foi feita uma estimativa do volume <strong>de</strong> lixo disposto<br />

ina<strong>de</strong>quadamente na <strong>área</strong>.<br />

Segundo o levantamento realizado, existem no local as seguintes formas <strong>de</strong> disposição ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong><br />

resíduos: trincheira controlada contendo resíduos sólidos urbanos, valas contendo resíduos sólidos urbanos,<br />

vala contendo baterias automotivas e espalhamento superficial <strong>de</strong> resíduos sólidos urbanos.<br />

Com base nas dimensões das escavações mencionadas, foram <strong>de</strong>terminados os seguintes volumes <strong>de</strong> resíduos<br />

sólidos urbanos aterrados: trincheira controlada (A): 19.923 m 3 ; valas contendo resíduos sólidos urbanos (B e<br />

C): 4.210 m 3 e 1.260 m 3 , respectivamente. Assim, o volume total estimado <strong>de</strong> lixo aterrado é <strong>de</strong> 25.393 m 3 .<br />

No caso dos resíduos lançados a céu aberto, levantamentos <strong>de</strong> campo indicaram a existência <strong>de</strong> um volume <strong>de</strong><br />

10.328 m 3 .<br />

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DIREÇÃO DO FLUXO SUBTERRÂNEO<br />

Para a <strong>de</strong>terminação da direção do fluxo local foram utilizados os seguintes parâmetros: situação geográfica<br />

dos pontos <strong>de</strong> sondagem; distância entre os pontos <strong>de</strong> sondagem; nível da água em cada ponto <strong>de</strong> sondagem.<br />

De acordo com os estudos realizados, a direção preferencial do fluxo ocorre <strong>de</strong> nor<strong>de</strong>ste <strong>para</strong> sudoeste (Figura<br />

1).<br />

Para avaliar a contaminação do lençol freático, a <strong>de</strong>terminação da direção do fluxo subterrâneo é <strong>de</strong><br />

fundamental importância. O potencial <strong>de</strong> riscos <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong> contaminação <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado alto se a<br />

direção do fluxo da água subterrânea apontar na direção <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> exploração da água.<br />

Embora a contaminação do lençol freático seja um impacto comumente observado em lixões, a amostra <strong>de</strong><br />

água analisada apresentou-se potável segundo os padrões estabelecidos <strong>pelo</strong> Ministério da Saú<strong>de</strong>. Entretanto,<br />

a contaminação da água subterrânea local não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scartada, pois faz-se necessária a avaliação em<br />

outros pontos da <strong>área</strong> a fim <strong>de</strong> garantir maior segurança com relação à <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> uma eventual pluma <strong>de</strong><br />

contaminação.<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se a direção obtida <strong>para</strong> o fluxo subterrâneo na <strong>área</strong> e o fato <strong>de</strong> que <strong>de</strong>posições antigas são<br />

fontes <strong>de</strong> poluição pontuais, atribui-se tal constatação ao fato do ponto amostrado não interceptar a pluma <strong>de</strong><br />

contaminação já que o mesmo encontra-se localizado a esquerda da <strong>área</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição.<br />

Para uma avaliação simplificada <strong>de</strong> um possível comprometimento do lençol freático local foram<br />

consi<strong>de</strong>randos os seguintes parâmetros:<br />

• Tempo <strong>de</strong> operação do lixão: 4 anos;<br />

• Permeabilida<strong>de</strong> (média) do solo local: 10 -4 cm/s.<br />

De acordo com os parâmetros apresentados, observa-se que o percolado <strong>de</strong>sloca-se com uma velocida<strong>de</strong><br />

média <strong>de</strong> 31,5 m/ano; ou seja, o lençol freático, encontrado nas sondagens realizadas a uma profundida<strong>de</strong><br />

máxima <strong>de</strong> 11 m, provavelmente já foi atingido.<br />

O cálculo apresentado acima é teórico, uma vez que a composição litológica do subsolo apresenta-se variada,<br />

com diferentes texturas e permeabilida<strong>de</strong>s. Entretanto, <strong>de</strong>monstra, <strong>de</strong> forma simplificada, a gran<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong><br />

que o percolado po<strong>de</strong> atingir, em condições i<strong>de</strong>ais.<br />

IMPACTOS AMBIENTAIS IDENTIFICADOS<br />

O local <strong>de</strong>stinado à reserva local encontra-se em avançado estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, sem a preservação da mata<br />

nativa. Neste local, também foram dispostos ina<strong>de</strong>quadamente os resíduos sólidos gerados <strong>pelo</strong> município.<br />

A presença <strong>de</strong> catadores na <strong>área</strong> tem sido uma constante. Embora estas pessoas obtenham sua renda da catação<br />

e venda a sucateiros <strong>de</strong> componentes recicláveis presentes no lixo, elas encontram-se, também, expostas à<br />

ação <strong>de</strong> objetos cortantes e às conseqüências da ingestão <strong>de</strong> alimentos <strong>de</strong>teriorados. A co-disposição<br />

inadvertida <strong>de</strong> resíduos sólidos domiciliares com resíduos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e industriais agrava<br />

sobremaneira os problemas mencionados.<br />

A falta <strong>de</strong> recobrimento dos resíduos propicia a combustão espontânea do metano, fato este responsável pelas<br />

diversas ocorrências <strong>de</strong> focos <strong>de</strong> queimadas observadas na massa <strong>de</strong> resíduos ao longo dos últimos quatro<br />

anos.<br />

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Figura 1. Localização dos pontos <strong>de</strong> disposição ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> resíduos sólidos e direção do fluxo<br />

subterrânea na <strong>área</strong> do lixão.<br />

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RECUPERAÇÃO AMBIENTAL<br />

Para a <strong>recuperação</strong> da <strong>área</strong> <strong>de</strong>stinada à reserva legal, é fundamental que a revegetação da <strong>área</strong> <strong>de</strong>stinada à<br />

reserva legal seja efetuada, já que a mesma apresenta importantes efeitos no equilíbrio ambiental,<br />

particularmente na proteção do solo e da água, além <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a legislação vigente e trazer dos benefícios à<br />

paisagismo e à fauna. Para a revegetação <strong>de</strong>vem ser usandas mudas <strong>de</strong> diferentes espécies nativas, encontradas<br />

em matas vizinhas.<br />

Para os resíduos sólidos perigosos existentes no local, caracterizados por baterias automotivas expostas ao sol<br />

e à chuva, recomenda-se a retirada imediata dos mesmos. Após o esvaziamento da vala, o solo <strong>de</strong>ve ser<br />

submetido a análise <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminação do grau <strong>de</strong> contaminação por chumbo. As amostras <strong>de</strong>verão ser<br />

retiradas a diferentes profundida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> modo que seja possível i<strong>de</strong>ntificar a espessura <strong>de</strong> solo comprometida,<br />

conforme metodologia recomendada <strong>pelo</strong>s órgãos ambientais competentes. De posse dos resultados das<br />

análises, o solo que se encontrar contaminado <strong>de</strong>verá ser removido e encaminhado <strong>para</strong> tratamento ou<br />

disposição final a<strong>de</strong>quado e a vala totalmente preenchida com solo limpo.<br />

Quanto à <strong>recuperação</strong> da <strong>área</strong> <strong>de</strong> disposição <strong>de</strong> resíduos sólidos urbanos, consi<strong>de</strong>rando-se que os métodos<br />

atualmente existentes <strong>para</strong> a <strong>recuperação</strong> ambiental <strong>de</strong> um terreno envolvem elevados custos e alta tecnologia,<br />

foram <strong>de</strong>finidas ações <strong>de</strong> rea<strong>de</strong>quação, observando-se os investimentos necessários e suas atuações sobre os<br />

impactos mais significativos.<br />

Assim, <strong>para</strong> a <strong>recuperação</strong> dos locais que não contam com qualquer tipo <strong>de</strong> proteção já instalada (locais <strong>de</strong><br />

disposição <strong>de</strong> resíduos a céu aberto e valas contendo resíduos urbanos), são propostas as seguintes operações:<br />

(a) remoção da massa total <strong>de</strong> resíduos; (b) disposição dos mesmos em local <strong>de</strong>vidamente protegido (Aterro<br />

Sanitário); (c) <strong>recuperação</strong> da <strong>área</strong> escavada com solo natural da região.<br />

Observa-se que, do volume estimado <strong>de</strong> resíduos que <strong>de</strong>vem ser removidos, uma parcela, constituída<br />

principalmente por matéria orgânica, provavelmente já se encontra <strong>de</strong>gradada, o que diminuiria o volume a ser<br />

removido e disposto nas trincheiras do Aterro Sanitário e, conseqüentemente, o custo final com tais<br />

procedimentos. Além disso, o fato <strong>de</strong> ter havido queima dos resíduos, principalmente dos lançados a céu<br />

aberto, também contribui <strong>para</strong> a diminuição do volume <strong>de</strong> resíduos e dos custos envolvidos.<br />

Observa-se, ainda, que, se durante a operação <strong>de</strong> remoção dos resíduos dispostos nas valas, for confirmado<br />

que os mesmos se encontram em adiantado estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, é possível a utilização <strong>de</strong>sses como material<br />

<strong>de</strong> cobertura <strong>para</strong> as células do aterro sanitário. Este procedimento implicaria em uma redução dos custos já<br />

que os resíduos estariam substituindo solo e, conseqüentemente, ocupariam um volume menor na trincheira.<br />

No caso da <strong>área</strong> em que se encontra a trincheira controlada, que já conta com algum tipo <strong>de</strong> proteção,<br />

consi<strong>de</strong>ra-se que os mesmos po<strong>de</strong>m ser mantidos no local <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as medidas propostas <strong>de</strong> minimização dos<br />

impactos ambientais sejam atendidas.<br />

Observa-se que na mesma <strong>área</strong> do lixão já foi construído o Aterro Sanitário e, por isso, muitos dos<br />

procedimentos exigidos já foram atendidos.<br />

Desta forma, <strong>de</strong>verão ser adotadas, ainda, as seguintes medidas complementares, específicas <strong>para</strong> a trincheira<br />

controlada:<br />

• Instalação imediata <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> drenagem superficial periférico, específico <strong>para</strong> a coleta das águas<br />

pluviais;<br />

• Ligação do dreno <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> percolado, já existente, ao sistema <strong>de</strong> tratamento do Aterro sanitário;<br />

• Instalação <strong>de</strong> drenos <strong>de</strong> gás perfurados na massa <strong>de</strong> lixo;<br />

• Reconformação do material <strong>de</strong> cobertura <strong>para</strong> permitir o escoamento das águas pluviais que precipitam<br />

sobre esta trincheira.<br />

CONCLUSÕES<br />

Tendo em vista as características dos resíduos e das escavações que os contém e consi<strong>de</strong>rando-se as<br />

implicações ambientais e técnico-financeiras envolvidas, conclui-se que os resíduos perigosos presentes na<br />

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<strong>área</strong>, caracterizados por baterias automotivas, <strong>de</strong>vem ser imediatamente removidos e encaminhados <strong>para</strong> uma<br />

disposição a<strong>de</strong>quada.<br />

No caso dos resíduos presentes na trincheira controlada, os mesmos po<strong>de</strong>m ser mantidos on<strong>de</strong> estão, já que<br />

esta já possui alguns elementos <strong>de</strong> proteção, como impermeabilização <strong>de</strong> base e dreno <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> percolados.<br />

Neste caso, a adoção das medidas complementares propostas é obrigatória.<br />

No caso das valas contendo resíduos sólidos urbanos, que não possuem qualquer tipo <strong>de</strong> proteção, é<br />

necessário que os resíduos sejam removidos e encaminhados <strong>para</strong> as trincheiras do Aterro Sanitário. Neste<br />

caso, se durante a remoção dos resíduos for constatado que os mesmos se encontram em adiantado estado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação e, por conseguinte, apresentam características a<strong>de</strong>quadas <strong>para</strong> material <strong>de</strong> recobrimento,<br />

recomenda-se que estes sejam utilizados como material <strong>de</strong> cobertura diária nas trincheiras do Aterro Sanitário.<br />

Os resíduos que se encontram espalhados sobre a <strong>área</strong> também <strong>de</strong>vem ser removidos e encaminhados <strong>para</strong> o<br />

Aterro Sanitário. Neste caso, como se trata <strong>de</strong> um resíduo ainda não <strong>de</strong>gradado, a utilização como dos mesmos<br />

como material <strong>de</strong> cobertura não é possível.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. CETESB. Manual <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> <strong>área</strong>s contaminadas. CETESB/GTZ. 2. ed. São Paulo. 389 p.<br />

(2001).<br />

2. ORTH, M. H. A.. Rea<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> lixões. In: Seminário Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos e Limpeza<br />

Urbana. São Paulo. (2003).<br />

3. SCHIANETZ, B.. Passivos Ambientais: levantamento histórico, avaliação da periculosida<strong>de</strong>, ações <strong>de</strong><br />

<strong>recuperação</strong>. Curitiba: SENAI. 200p. (1999).<br />

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