Kaio Felipe As representações de dilemas Morais e
Kaio Felipe As representações de dilemas Morais e
Kaio Felipe As representações de dilemas Morais e
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Evangelion começou a gradualmente abordar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
forma auto-referencial. Não há qualquer evolução <strong>de</strong> uma<br />
história a partir dali.” (TSURIBE, 1999)<br />
A análise do perfil psicológico dos três pilotos po<strong>de</strong> elucidar se há ou não<br />
um processo <strong>de</strong> amadurecimento. Antes <strong>de</strong> tudo, adotarei uma distinção<br />
proposta por Charles Duan (2001) <strong>de</strong> duas formas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do ―eu‖ [self]: a<br />
―real‖ (inerentemente presente no ―eu‖, sua natureza) e a ―construída‖ (produzida<br />
a partir <strong>de</strong> observações e interpretações humanas ―não-naturais‖ <strong>de</strong> uma<br />
pessoa, feitas tanto por ela mesma quanto pelos outros) Trocando em miúdos, a<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> real é criada pela pessoa real, on<strong>de</strong> não há falta <strong>de</strong> auto-<br />
entendimento do ―eu‖; já a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> construída é feita a partir <strong>de</strong><br />
<strong>representações</strong> simbólicas <strong>de</strong>ssa pessoa.<br />
Tal distinção é utilizada pelo autor para afirmar que o tema <strong>de</strong> Evangelion é<br />
o estudo dos fatores que levam os personagens a escolherem viver por meio do<br />
―eu‖ construído ao invés do ―eu‖ real, e as maneiras pelas quais eles finalmente<br />
se libertam <strong>de</strong>sses fatores restritivos. Tal estudo seria feito pela exploração <strong>de</strong><br />
como se dá a auto-<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>sses fatores pelos personagens, no intuito <strong>de</strong><br />
que a própria audiência/público da série possa <strong>de</strong>scobrir os mesmos fatores em<br />
si mesmos e se libertar <strong>de</strong> maneiras semelhantes.<br />
O primeiro ―caso‖ que analisarei é Shinji Ikari, que encarna <strong>de</strong> forma trágica<br />
- e não épica, heróica - o fardo <strong>de</strong> pilotar o EVA, algo que só o faz sofrer. Ele é<br />
um herói relutante, e afirma constantemente que não pilota a Unida<strong>de</strong> 01 por um<br />
senso <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver cívico ou por amor à humanida<strong>de</strong>, mas porque é tão fraco que<br />
<strong>de</strong>ixa os outros tomarem as <strong>de</strong>cisões por ele. O filho <strong>de</strong> Gendo Ikari possui forte<br />
auto-menosprezo, ou seja, age como se fosse indiferente a tudo, incapaz <strong>de</strong><br />
reação. Porém, ao mesmo tempo Shinji teme que, sem o EVA, ele não é nada.<br />
Por trás da aparência fraca e medrosa, no fundo ele luta para ter a aprovação<br />
das pessoas, especialmente <strong>de</strong> seu pai. Segundo o próprio Yoshiyuki<br />
Sadamoto, no início Shinji busca esse reconhecimento pilotando o EVA-01, ―mas<br />
acaba se questionando sobre seu papel na NERV e o valor da sua própria vida.‖<br />
(SADAMOTO, 2001, v. 2, p. 89)