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o lamento da imperatriz - Revista de História e Estudos Culturais

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Fênix – <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>História</strong> e <strong>Estudos</strong> <strong>Culturais</strong><br />

Julho/ Agosto/ Setembro <strong>de</strong> 2007 Vol. 4 Ano IV nº 3<br />

ISSN: 1807-6971<br />

Disponível em: www.revistafenix.pro.br<br />

a montagem invisível arbitra<strong>da</strong> como forma <strong>de</strong> flui<strong>de</strong>z e sustentação <strong>de</strong> enredo e<br />

verossimilhança. Não há o menor fragmento <strong>da</strong> função teleológica, programadora <strong>de</strong><br />

expectativas morais e <strong>de</strong> finais elegíacos e melodramáticos.<br />

Numa outra chave oposta, o filme trabalha a seco a passagem do tempo<br />

fílmico, mobilizando instrumentos que obrigam ao espectador uma atitu<strong>de</strong> diferencia<strong>da</strong><br />

diante <strong>da</strong> ‘<strong>de</strong>sorganização’ <strong>da</strong>s imagens que transbor<strong>da</strong>m em aparente caos. A formação<br />

<strong>de</strong> pensamento é dificulta<strong>da</strong> pelo aspecto disjuntivo <strong>da</strong> construção sintagmática, a<br />

composição geral é trunca<strong>da</strong> ora por uma imagem que <strong>de</strong>mora a <strong>da</strong>r lugar a outra, ora<br />

por outra que substitui – justapõe-se precocemente à anterior. As informações aparecem<br />

em estado lacônico, como se lhes faltasse a parte principal encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> sentido; é<br />

oferecido um mínimo, um fragmento <strong>da</strong>quilo que está oculto em algum outro lugar, em<br />

campos diferentes com os quais o cinema vai buscar suas correspondências; mais ain<strong>da</strong>:<br />

o que sobra se afina bem ao flagrante impulso <strong>de</strong> uma alegoria. E é com essa estratégia<br />

<strong>de</strong> minimização <strong>da</strong>s aparências que vemos no filme <strong>de</strong> Bausch a semelhança<br />

homológica com certos procedimentos <strong>da</strong>s pinturas alegóricas. “A pintura alegórica<br />

omite o sentido próprio do objeto, recobre-o <strong>de</strong> sentido figurado e o põe para<br />

<strong>de</strong>cifração”, 12 Bausch nos obriga a ter as informações a tiracolo durante a exibição do<br />

filme, porque com elas ele irá formar suas parataxes alegóricas, diante <strong>da</strong>s quais só nos<br />

resta a <strong>de</strong>cifração poética <strong>de</strong> um objeto que está sempre fora do lugar.<br />

Se O Lamento <strong>da</strong> Imperatriz processa politicamente algum registro <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão <strong>da</strong> cultura pós-mo<strong>de</strong>rna, ele participa na composição e na<br />

afirmação <strong>da</strong>quilo que é imprevisível, uma conduta que chama a atenção do espectador<br />

para a transitorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s imagens, para a transmigração que Pina Bausch consegue<br />

efetivar entre as linguagens <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça, do teatro e do cinema, sem renúncias.<br />

O Lamento <strong>da</strong> Imperatriz é um filme que mobiliza, sem economia, os recursos<br />

<strong>da</strong> metalinguagem e do distanciamento para dialogar com o próprio corpo no cinema, e<br />

semear vestígios <strong>de</strong> uma arte que pensa por imagens e discute o próprio ofício com suas<br />

ferramentas usuais: o humor, o <strong>de</strong>boche, a ironia, o kitsch. O que é praticamente<br />

indubitável, é que esta é mais uma obra que intriga e afasta mais espectadores do que<br />

arrebata e arrebanha. Entre outros motivos, porque alegoriza a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Wuppertal,<br />

12 OLIVEIRA, Val<strong>de</strong>vino Soares <strong>de</strong>. Poesia e Pintura: um diálogo em três dimensões. São Paulo:<br />

Unesp, 1999, p. 154.<br />

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