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o lamento da imperatriz - Revista de História e Estudos Culturais

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Fênix – <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>História</strong> e <strong>Estudos</strong> <strong>Culturais</strong><br />

Julho/ Agosto/ Setembro <strong>de</strong> 2007 Vol. 4 Ano IV nº 3<br />

ISSN: 1807-6971<br />

Disponível em: www.revistafenix.pro.br<br />

Tentação quase irresistível é buscar um enredo lógico, porém em Pina Bausch<br />

é busca infrutífera. Descobrir <strong>de</strong>nominadores comuns, filiações, ecos <strong>de</strong> uma obra a<br />

outra, isso sim, é possível. Do ponto <strong>de</strong> vista temático, suas composições permitem uma<br />

recorrência na idéia <strong>de</strong> viagem, uma leitura on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> assinalar o retorno a tempos e<br />

espaços passados e a mistura <strong>de</strong> cronotopos, que estabelece a sensação <strong>de</strong> trânsito.<br />

Apresenta também aproximações <strong>de</strong> outro gênero: o humor, meio estranho,<br />

autocorrosivo, reflexivo.<br />

To<strong>da</strong>s as rupturas, as vetorizações seccionantes, que atravessam o filme não<br />

são oposições, mas complementos. O filme permite fazer estes cortes para construir seus<br />

próprios <strong>de</strong>slocamentos e novas conexões. Há um humor singular que empresta colorido<br />

ao texto fílmico. Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> são jogos entre personagens que produzem o humor na<br />

medi<strong>da</strong> em que são lidos como complementos. Por exemplo: a cena do pas-<strong>de</strong>-<strong>de</strong>ux,<br />

estilo <strong>da</strong>nça <strong>de</strong> salão entre os dois rapazes. A situação em si não oferece novi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas<br />

ela está conti<strong>da</strong> na forma como acontece essa <strong>da</strong>nça: o rapaz moreno coloca sua perna<br />

direita em torno <strong>da</strong> cintura do outro, que a sustenta com sua mão. Com o outro braço o<br />

rapaz moreno enlaça o pescoço do partner, e os dois saem <strong>da</strong>nçando, o rapaz moreno<br />

aos pulinhos, como um saci, numa perna só. A imagem é engraça<strong>da</strong>, mas se nos<br />

reportarmos às cenas anteriores do rapaz moreno, on<strong>de</strong> ele sofreu terríveis pressões para<br />

apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> modo ‘correto’ <strong>de</strong> <strong>da</strong>nçar e falar, esta cena produz mais que um sorriso. É<br />

possível se perceber uma resignificação <strong>da</strong> cena e do personagem, não apenas para<br />

provocar graça, mas porque assinala um traço distinto na movimentação corporal dos<br />

atores-bailarinos, que rompe com o estereótipo <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça <strong>de</strong> salão, no caso, <strong>da</strong>nçar em<br />

uma perna só.<br />

As imagens bauschianas trazem em si fortes conotações justamente por causar<br />

espanto ao romperem com o comum, o esperado. Nesse sentido, ao aparecerem em<br />

contextos cotidianos, produzem um estranhamento próximo do brechtiano, que leva à<br />

reflexão crítica, usando os limites do humor. Um bom exemplo é a cena <strong>da</strong> mulher<br />

senta<strong>da</strong> numa poltrona no meio <strong>de</strong> um cruzamento, no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Enquanto a<br />

mulher fuma tranqüilamente seu cigarro, os carros cruzam sem parar. A surpresa faz<br />

sorrir, mas segundos <strong>de</strong>pois é possível reflexões complementares, sobre o absurdo <strong>da</strong><br />

solidão humana. Nenhum carro ou ônibus pára, e as pessoas que passam sequer olham<br />

para a mulher. Apenas um pe<strong>de</strong>stre passa e vira-se para olhar <strong>de</strong> novo, rapi<strong>da</strong>mente, e<br />

segue em frente. Outra cena, também <strong>de</strong>ntro do mesmo aspecto é a do homem que faz a<br />

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