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Projeto Gangorra: Fala Jovem! Pois o direito também é nosso

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ISSN-2175-6554<br />

V Conferência Brasileira de Mídia Cidadã<br />

UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009<br />

<strong>Projeto</strong> <strong>Gangorra</strong>: <strong>Fala</strong> <strong>Jovem</strong>! <strong>Pois</strong> o <strong>direito</strong> <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> <strong>é</strong> <strong>nosso</strong><br />

Referência:<br />

HORST, Schevla Joanne; ANDRÉ, Crislaine;<br />

CAMPIOLO, Francielli; YOSHIHARA, Suellen;<br />

PEREIRA, Ariane Carla. <strong>Projeto</strong> <strong>Gangorra</strong>: <strong>Fala</strong><br />

<strong>Jovem</strong>! <strong>Pois</strong> o <strong>direito</strong> <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> <strong>é</strong> <strong>nosso</strong>. In: Mídia<br />

Cidadã 2009 – V Conferência Brasileira de<br />

Mídia Cidadã, 2009. Guarapuava. Anais.<br />

Guarapuava, 2009. p. 792-800.<br />

RESUMO<br />

Scheyla Joanne HORST 1<br />

Crislaine ANDRÉ 2<br />

Francielli CAMPIOLO 3<br />

Suellen YOSHIHARA 4<br />

Ariane Carla PEREIRA 5<br />

Universidade Estadual do Centro-Oeste, PR<br />

Adolescentes em conflito com a lei, participantes do <strong>Projeto</strong> Formando Cidadão, o qual<br />

<strong>é</strong> mantido pela Fundação do Bem Estar do Menor do município de Guarapuava,<br />

discutem sobre cidadania, participação juvenil e comunicação social. Recebem <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong><br />

o embasamento para a produção de vídeos documentários. Eles mesmos dão o nome a<br />

este projeto, “<strong>Gangorra</strong>: <strong>Fala</strong> <strong>Jovem</strong>! <strong>Pois</strong> o <strong>direito</strong> <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> <strong>é</strong> <strong>nosso</strong>”. O título foi<br />

escolhido por trazer a ideia de existir uma possibilidade de equilíbrio entre a expressão<br />

da mídia e dos cidadãos, tal como o brinquedo proporciona. Assim, utilizando como<br />

base a Educomunicação, esta proposta buscou promover o acesso de meninas e meninos<br />

aos meios de comunicação com o objetivo de dar voz a quem antes tinha a opinião<br />

esquecida. A proposta considera crianças e adolescentes cidadãos e atores sociais,<br />

capazes de transformarem realidades sociais atrav<strong>é</strong>s da reflexão e produção de<br />

conhecimento. O projeto foi uma iniciativa de estudantes de Jornalismo da Unicentro<br />

(Guarapuava-PR) e aconteceu entre abril e junho de 2009.<br />

Palavras-chave: Documentário; cidadania; educomunicação; participação juvenil.<br />

1 Estudante de Comunicação Social – Jornalismo, scheylahorst@hotmail.com<br />

2 Estudante de Comunicação Social – Jornalismo, crislaineandre@hotmail.com<br />

3 Estudante de Comunicação Social – Jornalismo, francampiolo@hotmail.com<br />

4 Estudante de Comunicação Social – Jornalismo, lilasdeoutono@hotmail.com<br />

5 Professora Orientadora, ariane_carla@uol.com.br<br />

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V Conferência Brasileira de Mídia Cidadã<br />

UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009<br />

A proposta central do <strong>Projeto</strong> “<strong>Gangorra</strong>: <strong>Fala</strong> jovem! <strong>Pois</strong> o <strong>direito</strong> <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> <strong>é</strong> <strong>nosso</strong>”,<br />

foi trabalhar com a Educomunicação de linha latino-americana, utilizando-se do<br />

conceito de protagonismo juvenil e da produção de vídeodocumentário, por<br />

adolescentes e jovens que cumprem medidas sócio-educativas de prestação de serviço à<br />

comunidade, em Guarapuava. Estes jovens, por sua vez, integram outro projeto,<br />

chamado Formando Cidadão, mantido pela Fubem (Fundação de Bem-Estar do Menor).<br />

Cerca de doze jovens fizeram parte desta iniciativa. Meninos e meninas que ali estavam<br />

por terem cometido algum ato infracional.<br />

Durante o desenvolvimento do projeto foram, primeiramente, realizadas oficinas sobre<br />

Infância, Adolescência e Mídia, Cidadania e Documentário. Com roteiro em mãos, os<br />

jovens puderam partir para a efetiva produção. Cerca de quatro dias foram destinados às<br />

filmagens. Entre depoimentos e opiniões de outras pessoas, os jovens organizaram três<br />

vídeos documentários que, posteriormente, foram editados, ficaram prontos para a<br />

exibição e, quiçá, promoção da cidadania dos que os produziram, e, <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong>, a<br />

conscientização de quem possa assisti-los.<br />

As modificações na sociedade ocorridas nos últimos anos, influenciadas <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> pelo<br />

desenvolvimento tecnológico, são inegáveis e devem ser observadas como<br />

influenciadoras das relações sociais.<br />

A experiência do tempo e do espaço se transformou, a confiança na<br />

associação entre juízos científicos e morais ruiu, a est<strong>é</strong>tica triunfou<br />

sobre a <strong>é</strong>tica como foco primário de preocupação intelectual e social, as<br />

imagens dominaram as narrativas, a efemeridade e a fragmentação<br />

assumiram precedência sobre verdades eternas e sobre a política<br />

unificada e as explicações deixaram o âmbito dos fundamentos<br />

materiais e político-econômicos e passaram para a consideração de<br />

práticas políticas e culturais autônomas. (HARVEY, 2008, p. 293).<br />

Nesse turbilhão de emoções vivenciados na pós-modernidade, as grandes empresas de<br />

comunicação social produzem notícias feitas da mesma forma para todos. A então<br />

denominada massa <strong>é</strong> tratada, com prepotência, como um mero objeto, como se os<br />

receptores não dessem sentido ao que recebem. As diferenças de cultura são<br />

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desprezadas. O que importa <strong>é</strong> seduzir, animar, prender a atenção. Assuntos importantes<br />

são trocados por entretenimento. Debates pertinentes acabam escondidos, colocados em<br />

horários inadequados, substituídos por novelas ou reality shows. Segundo Marshall<br />

Berman (1986), os sistemas de comunicação de massa são dinâmicos em seu<br />

desenvolvimento e embrulham, no mesmo pacote, os mais variados indivíduos da<br />

sociedade. Estes estão à beira de um abismo: tudo <strong>é</strong> absurdo, mas nada <strong>é</strong> chocante,<br />

porque todos se acostumam a tudo.<br />

Esta questão se relaciona com o fenômeno da hiper-realidade, na qual aquilo que <strong>é</strong><br />

simulacro recebe mais importância que a própria realidade, isto porque na “vida das<br />

sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como<br />

uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo que era vivido diretamente tornou-se uma<br />

representação”. (DEBORD, 1997, p. 13).<br />

Em meio a todas essas questões, <strong>é</strong> natural encontrar <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> cursos de Comunicação<br />

Social de escolas públicas que têm se voltado cada vez mais para a lógica de mercado.<br />

Por isso, embora timidamente, a proposta deste projeto experimental pretendeu ir à<br />

contramão do considerado usual na área, embora tenhamos a noção de que uma das<br />

tendências do momento esteja em iniciativas de vi<strong>é</strong>s social, que, muitas vezes,<br />

escondem outros interesses. Mesmo assim, a ideia foi utilizar o conhecimento adquirido<br />

por nós numa iniciativa que buscou auxiliar no processo de reflexão sobre o que a mídia<br />

oferece aos cidadãos. Ideia que surgiu ao percebermos como a mídia pode agir de modo<br />

negativo <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> à parcela infanto-juvenil, como por exemplo, ao estimular o consumo<br />

desmedido. Ora, como chegam os slogans publicitários às crianças e jovens que não têm<br />

condições para comprar os bens cada vez mais “indispensáveis”? Considerar o “produto<br />

final” algo que surgiu instantaneamente <strong>é</strong> outra característica da pós-modernidade.<br />

No hemisf<strong>é</strong>rio sul, onde vivem os perdedores, a violência <strong>é</strong> raramente<br />

considerada resultado da injustiça. É freqüentemente mostrada como<br />

fruto da má conduta de seres de terceira categoria que moram no que<br />

chamam de terceiro mundo, condenados à violência porque <strong>é</strong> da sua<br />

natureza. (GALEANO, 2006, p.152).<br />

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A seguir vamos discorrer sobre as bases empregadas para a realização do projeto, antes<br />

de comentar sobre como se deu o processo de produção.<br />

A Educomunicação<br />

A Educomunicação pode ser considerada uma nova tendência de intervenção social<br />

baseada em ações que envolvem a inter-relação entre Educação e Comunicação. Esse<br />

campo engloba questões sobre a utilização dos meios de comunicação em escolas, sobre<br />

o papel educativo da mídia, sobre a educação para a recepção das mensagens<br />

transmitidas e, <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong>, sobre a produção de conteúdo midiático por cidadãos comuns<br />

que, habitualmente, encontram-se apenas como receptores de tudo o que a mídia<br />

reproduz. Sendo assim, a Educomunicação <strong>é</strong> tratada tanto no âmbito do ensino formal<br />

(inserida em instituições de ensino) quanto no informal, que <strong>é</strong> voltada para a produção<br />

midiática pela sociedade civil e, portanto, voltada para o exercício da cidadania.<br />

Este novo campo de diálogo e integração se materializa em algumas<br />

áreas de intervenção social, tais como: a) área da educação para a<br />

comunicação [...]; b) a área de mediação tecnológica na educação [...];<br />

c) a área de gestão da comunicação no espaço educativo, voltada para o<br />

planejamento, execução e realização dos processos e procedimentos que<br />

se articulam no âmbito da comunicação/cultura/educação [...]; d) a área<br />

de reflexão epistemológica sobre a inter-relação comunicação/educação<br />

como fenômeno cultural emergente[...]. Defendemos que cada uma<br />

dessas áreas e seu conjunto sejam pensados e promovidos a partir da<br />

Educomunicação. (SOARES, D., 2000, p.23).<br />

O neologismo Educomunicação não se trata apenas da junção entre Educação e<br />

Comunicação, mas <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> do termo ação. A metodologia encontra na ação não o<br />

“interesse em respostas supostamente definitivas para os problemas que diuturnamente<br />

se nos apresentam, mas pelo aguçamento das contradições”. (SOARES, D., s/d).<br />

Os modelos tradicionais de ensino focam na transmissão de informações e valores<br />

estabelecidos por adultos. A Educomunicação vem contrapor essa questão, cria<br />

ecossistemas comunicativos – expressão inicialmente usada por Jesús Martín-Barbero -,<br />

os quais permitem que todos os envolvidos no processo de aprendizado tenham voz,<br />

interajam entre si e com o meio (o que inclui a superação do uso instrumental dos<br />

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media). Trata a Comunicação como fator responsável, <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong>, pela educação de<br />

crianças e adolescentes justamente porque, na atualidade, há uma gama de informações<br />

transmitidas de diversas formas e julga necessária não só uma seleção como um<br />

entendimento dessas informações. Então, ela busca promover criticidade ao receptor e a<br />

apropriação criativa dos meios. Assim, educar para a mídia implica preparar<br />

instrumental e culturalmente os indivíduos para a incorporação das inovações das<br />

tecnologias para a educação, desenvolver m<strong>é</strong>todos de leitura crítica a fim de preparar a<br />

mente para uma recepção não alienante.<br />

A proposta escolhida para ser o cerne deste trabalho <strong>é</strong> a Educomunicação atuando como<br />

alavanca da cidadania, a partir do desenvolvimento de ideias que carreguem o potencial<br />

de capacitar a expressão das pessoas. Para tanto, há que se democratizar a mídia, a fim<br />

de que sejam ampliadas as possibilidades de formação e informação da sociedade.<br />

Os sujeitos necessitam de estímulo para passarem a ocupar o papel de protagonista nos<br />

processos comunicativos, dessa forma <strong>é</strong> provável que haja um aumento da auto-estima<br />

dos envolvidos, <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> produtores de conhecimento. Ser protagonista não quer dizer<br />

desempenhar um papel individualizado, onde há competição por merecimento de um<br />

lugar disputado: o principal perante os outros. O termo deve significar um processo de<br />

conquista da autonomia. Ou seja, possibilitar que o indivíduo se torne capaz de interagir<br />

no coletivo com as mesmas condições.<br />

Atrav<strong>é</strong>s de produções midiáticas como o vídeo documentário, há a representação do<br />

cotidiano em que são estabelecidas ligações entre os assuntos retratados e o mundo dos<br />

espectadores. Por ter esse caráter de representar a realidade dos locais retratados, ele se<br />

caracteriza como um instrumento para a construção da cidadania, ainda mais quando os<br />

próprios indivíduos desenvolvem uma participação ativa na produção. Tamb<strong>é</strong>m, por<br />

meio dele, pode-se mobilizar pessoas do meio em que vivem e construir novos<br />

conceitos e interpretações do mundo, proporcionando, assim, uma leitura da sociedade<br />

que vise a transformação.<br />

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Produção de conhecimento por crianças e adolescentes<br />

A pesquisadora Natália Fernandes Soares (2002) pondera sobre a necessidade de se ter<br />

uma cultura de respeito pelas crianças e adolescentes cidadãos: de respeito pelas suas<br />

vulnerabilidades, mas, <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong>, e muito mais, de respeito pelas suas competências.<br />

Conceder <strong>direito</strong>s de participação às meninas e meninos vem a ser algo legítimo, por<strong>é</strong>m<br />

negado. Muito se fala em <strong>direito</strong>s de provisão e de proteção, garantidos na legislação;<br />

contudo, o fato <strong>é</strong> que a sociedade tem amputado os <strong>direito</strong>s sociais, que dão voz e vez<br />

em decisões que dizem respeito à vida dos adolescentes e das crianças. A partir de uma<br />

visão adultocêntrica, muitos consideram que quem tem baixa faixa etária <strong>é</strong> incapaz de<br />

produzir conhecimento, mas só de reproduzir mensagens, como se a infância e a<br />

juventude não fossem nada al<strong>é</strong>m de uma passagem para o mundo adulto.<br />

No projeto “<strong>Gangorra</strong>: <strong>Fala</strong> <strong>Jovem</strong>! <strong>Pois</strong> o <strong>direito</strong> <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> <strong>é</strong> <strong>nosso</strong>”, procuramos<br />

enfocar esta temática: o incentivo à produção de vídeos documentários por pessoas entre<br />

14 e 18 anos. Partiu deles a iniciativa de decidir tema, enfoque e encaminhamento das<br />

produções, e at<strong>é</strong> o título que foi dado ao projeto. Segundo eles, <strong>Gangorra</strong> 6 vem<br />

representar que, com o acesso deles aos meios de comunicação, <strong>é</strong> possível um equilíbrio<br />

de oportunidades, assim como o brinquedo propicia. A participação infanto-juvenil luta<br />

contra ciclos de exclusão.<br />

Desde a d<strong>é</strong>cada de 90, vários pesquisadores têm empenhado seus trabalhos na temática<br />

da participação infanto-juvenil. A denominada Sociologia da Infância tem levantado um<br />

discurso emancipador, segundo o qual as crianças e adolescentes são considerados<br />

atores sociais, protagonistas de suas vidas e competentes para fazerem escolhas<br />

acertadas (SOARES, N. 2002). Este campo tem ocupado um espaço significativo em<br />

âmbito internacional, trazendo consigo um desafio de teoria e metodologia,<br />

incentivando, assim, uma nova abordagem teórica, bem como novas formas de trabalho.<br />

São poucas e isoladas as propostas que visam possibilitar às classes sociais infanto-<br />

6 Brinquedo para diversão, no qual uma tábua <strong>é</strong> apoiada num espigão, sobre o qual oscila na horizontal,<br />

sendo que as pessoas montam nas extremidades da tábua e sobem e descem alternadamente.<br />

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juvenis o acesso aos meios t<strong>é</strong>cnicos que possibilitam a transmissão de mensagens<br />

simbólicas. Prova disso <strong>é</strong> a constatação de que os próprios programas e suplementos<br />

destinados a esse público, em muitos casos, não contam com a participação de crianças<br />

e adolescentes na produção do conteúdo, revelando uma sociedade ainda despreparada<br />

para a abordagem dessa temática. Portanto, <strong>é</strong> indispensável que os setores da sociedade<br />

trabalhem no sentido de elevar a questão a um debate amplo.<br />

No Brasil, cada dia mais instituições governamentais ou não têm se debruçado sobre a<br />

proposta de pautar a sociedade quanto à necessidade da participação infanto-juvenil em<br />

vários setores, sobretudo nos meios de comunicação social.<br />

Documentário<br />

O documentário, ao contrário do filme de ficção, não tem como função principal o<br />

entretenimento. Ele <strong>é</strong> uma narrativa atrav<strong>é</strong>s de imagens-câmera e vem com o objetivo<br />

de mostrar asserções sobre ideias, mundos diferentes, “[...] são uma forma de auto-<br />

expressão... jornalismo... São ferramentas que, de certa forma, compensam o<br />

descompasso entre culturas ou expõem as realidades um tanto severas de um mundo<br />

volátil”. (BERNARD, 2008, p.1). Quando mostrado na tela, o documentário comove<br />

quem assiste assim como uma ficção. Segundo Fernão Pessoa Ramos (2008, p.22), “[...]<br />

a natureza das imagens-câmera, e principalmente, a dimensão da tomada atrav<strong>é</strong>s da<br />

qual, imagens são constituídas determinam a singularidade da narrativa documentária<br />

em meio a outros enunciados assertivos, escritos ou falados”. Os adolescentes, atrav<strong>é</strong>s<br />

do “<strong>Gangorra</strong>: <strong>Fala</strong> <strong>Jovem</strong>! <strong>Pois</strong> o <strong>direito</strong> <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> <strong>é</strong> <strong>nosso</strong>” tiveram a oportunidade de<br />

mostrar suas visões de mundo.<br />

Pr<strong>é</strong>-produção, produção e pós-produção<br />

Planejamos efetuar o projeto de acordo com um calendário pr<strong>é</strong>-estabelecido com a<br />

equipe do <strong>Projeto</strong> Formando Cidadão, utilizando os momentos para encontros que<br />

proporcionariam os subsídios básicos para que os adolescentes tivessem as noções sobre<br />

o campo de pesquisa no qual nossa proposta se encontra, o motivo da sua necessidade e<br />

como utilizar os meios t<strong>é</strong>cnicos existentes para expor suas ideias de maneira a alcançar<br />

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outras pessoas. Para tal, primeiramente, seriam ministradas as oficinas e após o t<strong>é</strong>rmino<br />

desta etapa de preparação seria destinado o tempo necessário para a produção, edição e<br />

finalização dos documentários que viessem a existir.<br />

O grupo de adolescentes que esteve presente nas oficinas foi dividido em três grupos,<br />

escolhidos por eles mesmos, conforme afinidade. Cada um ficou com a m<strong>é</strong>dia de três<br />

integrantes. Aos poucos eles compreenderam como funcionaria o processo de produção,<br />

e foram se soltando, ficando mais livres para direcionar o documentário que estavam<br />

produzindo. E assim nasceram os três vídeos: Pensando nos erros do passado; A<br />

conscientização do infrator e Vila São Luís.<br />

Considerações<br />

Ao fim, fica a sensação de que iniciativas como essa podem obter bons resultados,<br />

embora não atinjam, de fato, a questão central que ocasiona o problema. Não<br />

acreditamos que este projeto seja o suficiente para intervir definitivamente nas vidas dos<br />

adolescentes. O ideal seria uma educação crítica dos meios de comunicação, bem como<br />

o acesso à produção de conteúdos simbólicos desde a base: algo inerente à educação<br />

formal, com durabilidade e sequencia.<br />

Todavia, acreditamos que o público-alvo para qual o <strong>Projeto</strong> “<strong>Gangorra</strong>: <strong>Fala</strong> <strong>Jovem</strong>!<br />

<strong>Pois</strong> o <strong>direito</strong> <strong>tamb<strong>é</strong>m</strong> <strong>é</strong> <strong>nosso</strong>” foi proposto não teria outra chance de passar por uma<br />

experiência semelhante, ora, muitos já abandonaram a escola e os que continuam<br />

estudando dificilmente terão uma atividade do gênero dentro da grade curricular. Como<br />

o objetivo principal da nossa ação era o de comprovar que, quando os adolescentes são<br />

incentivados a refletir e recebem os conhecimentos básicos sobre meios t<strong>é</strong>cnicos, como<br />

exemplo a câmera de vídeo, podem expressar suas ideias e alcançar outras pessoas,<br />

tornando-se assim, agentes de transformação social; acreditamos que conseguimos<br />

alcançá-lo.<br />

Para encerrar este texto, deixamos o depoimento de um dos adolescentes sobre a<br />

experiência: “Bom, primeiro eu gostei porque as etapas foram legais e bem colocadas.<br />

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Produzir um videodocumentário foi bem legal, ajudou em minha educação pessoal. E as<br />

acadêmicas são simpáticas. Com os vídeos produzidos <strong>é</strong> possível influenciar outros<br />

adolescentes para não entrarem na vida do crime, e mostrar que todos são capazes. Ao<br />

fim, estamos todos de parab<strong>é</strong>ns”.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BERMAN, Marshal. Tudo o que <strong>é</strong> sólido desmancha no ar: a aventura da<br />

modernidade . São Paulo: Cia das Letras, 1986.<br />

BERNARD, Sheila C. Documentário: T<strong>é</strong>cnicas para uma produção de alto impacto .<br />

2 ed. Editora Campus, 2008.<br />

BORTOLIERO, Simone. Mario Kaplún: a recepção como cidadania na Am<strong>é</strong>rica Latina.<br />

Revista Comunicação & Sociedade . São Bernardo do Campo, Metodista. Ano 25,<br />

1996, p.187)<br />

DEBORD, Guy. A sociedade do Espetáculo . Tradução de Estela dos Santos Abreu.<br />

Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.<br />

GALEANO, Eduardo. Rumo à uma sociedade da incomunicação? in MORAES, D.<br />

Sociedade Midiatizada . Rio de Janeiro: Mauad, 2006.<br />

HARVEY, David. A condição da pós-modernidade . 17 ed. São Paulo: Edições Loyola,<br />

2008.<br />

GAIA, Rossana V. A escola como espaço de reflexão midiática forjando cidadãos<br />

críticos. In Educomídia, Alavanca da Cidadania: legado utópico de Mario<br />

Kaplún /org. Jos<strong>é</strong> Marques de Melo et al. São Bernardo do Campo: Cátedra UNESCO:<br />

Universidade Metodista de São Paulo, 2006.<br />

RAMOS, Fernando P. Mas afinal... O que <strong>é</strong> mesmo documentário? 1 ed. Editora<br />

SENAC, 2008.<br />

SCHAUN, Angela. Educomunicação: reflexões e princípios / Angela Schaun. Rio de<br />

Janeiro: Mauad, 2002.<br />

SOARES, Donizete. Educomunicação – O que <strong>é</strong> isto? Disponível em:<br />

. Acesso em: maio, 2009.<br />

SOARES, Natália Fernandes. Os <strong>direito</strong>s das crianças nas encruzilhadas da proteção<br />

e da participação. Trabalho apresentado no I Encontro Nacional sobre Maus tratos,<br />

negligência e risco na infância e na adolescência, Fórum da Maia, 2002.<br />

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