CaSoS CLÍNiCoS HOSPITAL DA LUZ
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<strong>CaSoS</strong> <strong>CLÍNiCoS</strong> <strong>HOSPITAL</strong> <strong>DA</strong> <strong>LUZ</strong><br />
diSCuSSão<br />
O hipertiroidismo é uma situação frequente,<br />
afectando cerca de 2% das mulheres e 0,2%<br />
dos homens. A causa mais comum na faixa<br />
etária da doente do caso descrito é a doença<br />
de Graves, de etiologia autoimune. 3<br />
A terapêutica de primeira linha passa pela<br />
utilização de antitiroideus de síntese (como<br />
o propiltiouracilo ou o metibasol), isolados<br />
ou em associação com levotiroxina (“terapêutica<br />
mista”). 4 A tiroidectomia, que durante<br />
muitos anos foi a única opção terapêutica,<br />
reserva-se actualmente para um leque<br />
de situações muito limitado que inclui bócio<br />
de grandes dimensões, doença resistente<br />
à terapêutica com antitiroideus ou com<br />
Iodo-131, exoftalmia importante que contra-indique<br />
a utilização de Iodo-131, imi-<br />
nência de crise tireotóxica. 1<br />
No caso em análise foi considerado que exis-<br />
tia resistência à terapêutica com antitiroideus.<br />
De facto, apesar da terapêutica, sete<br />
dias após a alta do primeiro internamento<br />
assistiu-se ao agravamento clínico e laboratorial.<br />
Também a contaminação iodada<br />
que ocorreu constitui um factor que reduz<br />
a eficácia dos antitiroideus de síntese. 4<br />
Existia também um risco considerável de<br />
ocorrer uma crise tireotóxica, para a qual<br />
contribuíam a resistência aos antiroideus e<br />
o estado de extrema ansiedade vivenciado<br />
pela paciente. 5 A crise tireotóxica é uma<br />
situação grave, com uma mortalidade elevada.<br />
5<br />
A terapêutica com Iodo-131, preferível<br />
numa primeira abordagem (com função<br />
tiroideia pouco alterada), encontrava-se<br />
totalmente contra-indicada em plena crise.<br />
Por um lado, seria pouco eficaz devido à<br />
contaminação iodada; por outro, pode-<br />
ria agravar ainda mais o estado de hipertiroidismo<br />
(por destruição de parênquima<br />
tiroideu e libertação para a circulação de<br />
grandes quantidades de hormona tiroideia),<br />
com consequências catastróficas.<br />
A utilização de iodo inorgânico, tal como o<br />
soluto de Lugol ou o ácido iopanóico, é fundamental<br />
para a preparação pré-cirúrgica<br />
no contexto de doença de Graves. Inibe a<br />
formação e libertação de hormona tiroideia;<br />
também, ao concentrar-se no parênquima<br />
tiroideu, contribui para reduzir a vascularização<br />
da glândula e, como resultado, diminui<br />
o volume da hemorragia intra-operatória.<br />
1 No entanto, esta preparação não se<br />
deve arrastar no tempo dado que se verifica<br />
uma diminuição da eficácia terapêutica, com<br />
agravamento consequente de hipertiroidismo,<br />
sem controlo possível com antitiroideus<br />
(devido à resistência a estes compostos<br />
condicionada pela contaminação iodada). 1<br />
Por esta razão, ao iniciar terapêutica com<br />
qualquer formulação de iodo inorgânico<br />
é fundamental a programação prévia de<br />
tiroidectomia para uma data próxima. 1<br />
A utilização de ácido iopanóico tem várias<br />
vantagens em relação ao soluto de Lugol.<br />
Na sua composição o iodo encontra-se em<br />
maior quantidade, o que lhe confere maior<br />
potência, além do papel periférico, através<br />
da inibição da conversão de T4 em T3 (o<br />
que atenua a actividade tecidular da hormona<br />
tiroideia). No entanto, o ácido iopanóico<br />
raramente é utilizado pois é difícil de encontrar<br />
no mercado. Apenas está comercializado<br />
com a indicação de agente de contraste<br />
em colecistografias, um exame caído em desuso.<br />
Por esta razão, opta-se geralmente pela<br />
utilização de soluto de Lugol.