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ANTROPOLOGIA E DIREITOS HUMANOS - ABA

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idiotas éticos etc. 18 Seguramente os antropólogos não eram<br />

inocentes quanto a este deslize conceitual, da passagem<br />

do relativismo à tolerância, mas o fato é que a oposição ao<br />

imperialismo cultural era mais forte que quaisquer outras<br />

considerações. E para suportá-lo era preciso a eleição de<br />

outro valor moral tão impactante quanto a proposta de<br />

universalismo ético. Foi assim que a tolerância, herdeira do<br />

liberalismo anglo-saxão, ganhou força na antropologia.<br />

A máxima tolerante de Benedict tornou-se, portanto, a saída<br />

para a preservação da diversidade moral. E, ao contrário do<br />

que contra-argumentou Geertz, no famoso repúdio ao movimento<br />

anti-relativista, “...o medo de que nossa ênfase na<br />

diferença, na diversidade, na descontinuidade, incomensurabilidade,na<br />

unicidade, entre outros...poderia ao final nos<br />

conduzir a afirmar pouco mais do que as coisas em outros lugares<br />

são diferentes...” (1989, p. 19), o trabalho dos antropólogos<br />

restringiu-se sim à provocação moral da humanidade pela exibição<br />

contínua do possível etnográfico. Poucos são os<br />

etnógrafos, como por exemplo Hanny Lightfoot-Klein,<br />

engajados em movimentos sociais de direitos humanos e oponentes<br />

de alguma crença moral das sociedades de onde tenham<br />

feito trabalho de campo. 19 E uma quantidade menor ainda de<br />

antropólogos ofereceria seu conhecimento etnográfico como<br />

base para intervenção moral em sociedades moralmente distantes<br />

da sua de origem. 20 Regra geral, os antropólogos<br />

direcionaram seus esforços para a demonstração da diversidade,<br />

para a compreensão do impossível, e, nesse processo, assumiram<br />

a bandeira da tolerância como o melhor argumento<br />

disponível para a coexistência na diferença. Isso não significa,<br />

no entanto, que esta tenha sido uma tarefa insignificante, pois,<br />

como o próprio Geertz sugeriu, o desequilíbrio das certezas<br />

deve-se basicamente ao sucesso dos antropólogos de provocar<br />

as mentiras tranqüilizadoras dos filósofos do além.<br />

Mas a inquietação causada pelos impossíveis morais trazidos à<br />

tona pelos etnógrafos não vem sendo facilmente digerida. Rorty,<br />

em uma réplica apaixonada a Geertz, resume o temor relativista<br />

em um argumento que, por sua importância, transcrevo parcialmente<br />

aqui:<br />

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