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A mulher gulosa<br />
Era uma vez um homem que tinha casado com uma<br />
mulher muito gulosa, ou, como diziam lá na terra <strong>de</strong>les,<br />
muito lambareira. Ela era tão fingida que até fingia, para o<br />
marido, que nunca nunca tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> comer. O<br />
marido olhava para ela e, para dizer a verda<strong>de</strong>, não a via lá<br />
muito magrinha nem fraquinha…<br />
Um dia ele saiu <strong>de</strong> casa, dizendo-lhe que chegava<br />
só muito tar<strong>de</strong> e nem valia a pena ela fazer o jantarinho<br />
<strong>de</strong>le. Mas não foi longe: correu a escon<strong>de</strong>r-se no forno que<br />
havia do lado <strong>de</strong> fora, e on<strong>de</strong> havia uma janelinha que<br />
dava para um canto da cozinha da sua casa.<br />
E o que é que ele havia <strong>de</strong> ver?!<br />
Mal se viu sozinha, a mulher foi arranjar só para ela,<br />
um almoço <strong>de</strong> gulodices, que eram formigos <strong>de</strong> pão<br />
esfarelado com mel e ovos. Para quem não souber, os<br />
formigos são bolinhas <strong>de</strong> pão que se fazem do miolo do<br />
pão e que, quando se juntam a umas colheres <strong>de</strong> mel e a<br />
ovos muito bem batidos, são uma <strong>de</strong>lícia… Algum tempo<br />
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<strong>de</strong>pois, fez um pratalhão <strong>de</strong> migas muito bem temperadas<br />
que comeu num instantinho e até lambeu os <strong>de</strong>dos<br />
Ao fim da tar<strong>de</strong>, ainda não era bem a hora do lusco-<br />
fusco (ou do pôr-do-sol), foi buscar à arca dois<br />
franguinhos, tornou a acen<strong>de</strong>r o lume e fez os dois<br />
franguinhos ensopados para a ceia.<br />
Depois repimpou-se, muito bem repimpada, à mesa<br />
gran<strong>de</strong> da cozinha e comeu tudo, tudo, até <strong>de</strong>ixar os<br />
ossinhos dos franguinhos a luzir no prato vazio!<br />
O marido, escondido lá no forno <strong>de</strong> fora, viu isto<br />
tudo, e também viu como ela arrumou muito bem a cozinha<br />
e se sentou num gran<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>irão, a dormitar.<br />
Quando lhe pareceu horas <strong>de</strong> entrar em casa, lá<br />
saiu do seu escon<strong>de</strong>rijo e fingiu que chegava a casa, vindo<br />
<strong>de</strong> muito longe.<br />
Todo o santo dia tinha estado a chover, sem parar<br />
nem um bocadinho, e quando o homem entrou em casa, a<br />
mulher reparou que ele vinha enxuto como as palhas!<br />
Muito admirada, disse-lhe:<br />
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