2 - monitorização do bloqueio Neuromuscular.p65 - SAERJ
2 - monitorização do bloqueio Neuromuscular.p65 - SAERJ
2 - monitorização do bloqueio Neuromuscular.p65 - SAERJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
MONITORIZAÇÃO DO BLOQUEIO<br />
NEUROMUSCULAR<br />
INTRODUÇÃO<br />
Capítulo 2<br />
Maria Angela Tardelli *<br />
Tradicionalmente, o grau de <strong>bloqueio</strong> neuromuscular é avalia<strong>do</strong><br />
através de critérios clínicos tais como: tônus muscular, volume corrente,<br />
pressão inspiratória máxima, capacidade de abrir os olhos e<br />
elevar a cabeça. Geralmente, os valores pós-operatórios destes sinais<br />
não são compara<strong>do</strong>s com aqueles presentes no pré-operatório. Volume<br />
corrente normal, capacidade vital maior que 15ml/kg e força<br />
inspiratória negativa que exceda -25 cm de H 2 O são da<strong>do</strong>s mais objetivos<br />
para a avaliação da recuperação <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong>. Porém, estes valores<br />
podem estar altera<strong>do</strong>s muito mais pela ação central <strong>do</strong>s anestésicos<br />
<strong>do</strong> que pela ação <strong>do</strong> bloquea<strong>do</strong>r neuromuscular (BNM).<br />
Na sala de recuperação pós-anestésica a <strong>monitorização</strong> da jun-<br />
* Doutora em Medicina pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP<br />
Prof. Adjunta da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva Cirúrgica - UNIFESP<br />
35
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
ção neuromuscular (JNM), através de estimula<strong>do</strong>r de nervo periférico,<br />
mostra que a incidência de <strong>bloqueio</strong> residual é de 36% para os<br />
BNM de longa duração e 6% para os de duração intermediária 1 .<br />
Dessa forma, o méto<strong>do</strong> mais eficaz para avaliar a função<br />
neuromuscular é a medida da força de contração de um músculo periférico,<br />
como resposta à estimulação elétrica de seu nervo motor (resposta<br />
evocada). A resposta motora ao estímulo elétrico depende de<br />
vários fatores, tais como o esta<strong>do</strong> contrátil <strong>do</strong> músculo, o esta<strong>do</strong> funcional<br />
da JNM, o local da estimulação, as características <strong>do</strong> estímulo<br />
elétrico (duração, intensidade e forma da onda) e o padrão de<br />
estimulação (estímulo simples, tétano, seqüência de quatro estímulos,<br />
“<strong>do</strong>uble burst”, contagem pós-tetânica).<br />
A avaliação direta da transmissão neuromuscular envolve conhecimento<br />
básico sobre o posicionamento <strong>do</strong>s eletro<strong>do</strong>s, princípios<br />
da estimulação nervosa, os padrões de estimulação e o registro das<br />
respostas 2 .<br />
POSICIONAMENTO DOS ELETRODOS<br />
Os eletro<strong>do</strong>s estabelecem a conexão entre o estimula<strong>do</strong>r de nervo<br />
periférico e o paciente. A escolha <strong>do</strong> local de estimulação (colocação<br />
<strong>do</strong> eletro<strong>do</strong>) deve considerar o uso de um nervo motor próximo da<br />
superfície da pele, cuja ação seja em um músculo facilmente<br />
monitoriza<strong>do</strong>. O nervo ulnar e o músculo adutor <strong>do</strong> polegar constituem<br />
a unidade motora mais utilizada, já que a estimulação desse nervo<br />
causa movimentação <strong>do</strong> polegar (adução) por estimulação <strong>do</strong> nervo e<br />
não por estimulação direta <strong>do</strong> músculo. Na disponibilidade de acesso,<br />
outras unidades motoras têm si<strong>do</strong> utilizadas: nervo facial e músculo<br />
orbicular <strong>do</strong> olho, tibial posterior e flexor <strong>do</strong> hálux (Tabela 1).<br />
Antes de fixar os eletro<strong>do</strong>s, deve-se remover os pêlos <strong>do</strong> local de<br />
fixação e friccionar a pele com gaze e álcool para diminuir a resistência<br />
da pele à corrente. Os eletro<strong>do</strong>s pediátricos usa<strong>do</strong>s em<br />
eletrocardiografia permitem uma adaptação mais anatômica além de<br />
intensificarem a densidade de corrente na área subjacente, devi<strong>do</strong> sua<br />
menor superfície. Idealmente, o eletro<strong>do</strong> negativo (cáto<strong>do</strong>) deve ser<br />
coloca<strong>do</strong> sobre o nervo que se deseja estimular e é denomina<strong>do</strong> “eletro<strong>do</strong><br />
ativo”. O eletro<strong>do</strong> positivo (âno<strong>do</strong>) é denomina<strong>do</strong> “eletro<strong>do</strong> in-<br />
36
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
Tabela 1: Posicionamento <strong>do</strong> eletro<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong> à unidade<br />
motora escolhida para a <strong>monitorização</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>bloqueio</strong> neuromuscular<br />
LOCAL DO<br />
ELETRODO<br />
Punho: face medial,<br />
entre a artéria ulnar<br />
e o tendão <strong>do</strong> músculo<br />
flexor ulnar <strong>do</strong><br />
carpo<br />
Próximo ao lóbulo<br />
orelha<br />
Posterior ao maléolo<br />
medial da tíbia, posteriormente<br />
à artéria<br />
tibial<br />
Ulnar<br />
Facial<br />
NERVO RESPOSTA<br />
Tibial posterior<br />
diferente” e o mais habitual é que seja coloca<strong>do</strong> proximal ao eletro<strong>do</strong><br />
negativo a uma distância de 2 a 5 centímetros. A intensidade de resposta<br />
varia em função da colocação <strong>do</strong>s eletro<strong>do</strong>s. Por convenção, o<br />
cáto<strong>do</strong> é colori<strong>do</strong> de preto e o âno<strong>do</strong> de vermelho.<br />
No decorrer da utilização de um bloquea<strong>do</strong>r neuromuscular, o<br />
tempo para o desaparecimento ou reaparecimento de uma resposta<br />
evocada depende da unidade motora que está sen<strong>do</strong> monitorizada.<br />
Assim, se for realizada <strong>monitorização</strong> simultânea das três unidades<br />
motoras (facial, ulnar e tibial posterior), o que se observa é que o <strong>bloqueio</strong><br />
da contração muscular aparece primeiro na <strong>monitorização</strong> <strong>do</strong> nervo facial,<br />
a seguir na <strong>do</strong> ulnar e, por último, naquela <strong>do</strong> tibial posterior.<br />
PRINCÍPIOS DA ESTIMULAÇÃO NERVOSA<br />
É a corrente liberada pelo estimula<strong>do</strong>r que deflagra o potencial<br />
37<br />
Adução <strong>do</strong> polegar<br />
Contração músculo<br />
orbicular<br />
Flexão plantar <strong>do</strong><br />
hálux
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
de ação no nervo, e não a voltagem. A Lei de Ohm determina que a<br />
quantidade de corrente (I) que flui através de um corpo é igual à voltagem<br />
(V) dividida pela resistência elétrica (R), ou I = V/R. Qualquer<br />
mudança na resistência da pele necessita de uma alteração diretamente<br />
proporcional na voltagem aplicada para assegurar uma corrente<br />
constante a, assim, um nível constante de despolarização nervosa.<br />
Na prática clínica, a neuroestimulação é realizada por um<br />
estimula<strong>do</strong>r de nervo de 9-volts e de corrente ajustável.<br />
As características físicas <strong>do</strong> estímulo elétrico também influenciam<br />
o tipo de respostas motoras por ele evocadas. É importante destacar<br />
que a intensidade <strong>do</strong> estímulo depende da duração (largura <strong>do</strong><br />
pulso, em milisegun<strong>do</strong>s) e da amplitude da corrente (em miliamperes<br />
– mA) que alcança a fibra nervosa. O requisito mais importante para<br />
um estimula<strong>do</strong>r de nervo é sua habilidade em induzir igual intensidade<br />
de despolarização durante to<strong>do</strong> o tempo. Este objetivo é alcança<strong>do</strong><br />
quan<strong>do</strong> se utiliza uma intensidade de corrente capaz de ativar todas<br />
as fibras nervosas <strong>do</strong> nervo.<br />
Quan<strong>do</strong> a unidade nervo-músculo está íntegra e a transmissão<br />
neuromuscular está preservada, um estímulo elétrico no nervo motor<br />
resultará na contração das fibras musculares supridas por este nervo<br />
estimula<strong>do</strong>. Consideran<strong>do</strong> que cada fibra muscular só se contrai quan<strong>do</strong><br />
o estímulo alcança um limiar (lei <strong>do</strong> “tu<strong>do</strong> ou nada”), a força<br />
contrátil desenvolvida, no músculo, será o resulta<strong>do</strong> da soma da força<br />
de contração das várias fibras musculares que o compõem. Quanto<br />
maior o número de fibras nervosas estimuladas, maior o número de<br />
fibras musculares que se contraem e maior a força de contração muscular<br />
obtida. Assim, apenas quan<strong>do</strong> é aplica<strong>do</strong> um estímulo elétrico<br />
com uma corrente de intensidade “máxima” ou “supramáxima” é<br />
que todas as fibras nervosas são estimuladas e, conseqüentemente,<br />
todas as fibras musculares de um músculo se contraem. Ou seja, quan<strong>do</strong><br />
o nervo motor é estimula<strong>do</strong> com intensidade suficiente para que<br />
todas as fibras musculares supridas por ele se contraiam (corrente<br />
máxima), obter-se-á a máxima força de contração muscular. A partir<br />
desse ponto, aumentan<strong>do</strong>-se a intensidade da corrente (corrente<br />
supramáxima), a força contrátil desenvolvida não aumentará e esse<br />
estímulo é dito então, supramáximo. Na <strong>monitorização</strong> da JNM, a<br />
corrente supramáxima deverá ter uma intensidade 15 a 20% maior<br />
38
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
que aquela capaz de provocar uma resposta máxima para assegurar<br />
recrutamento de todas as fibras musculares independentemente das<br />
variações da resistência da pele 3 . Uma corrente supramáxima é geralmente<br />
2,5 a 3 vezes maior que a menor corrente capaz de induzir<br />
uma resposta evocada (corrente limiar) 4 .<br />
Com a administração de um bloquea<strong>do</strong>r neuromuscular (BNM),<br />
a resposta <strong>do</strong> músculo diminuirá em paralelo com o número de fibras<br />
bloqueadas. Assim, a medida da redução da força de contração <strong>do</strong><br />
músculo, a um estímulo supramáximo, reflete o grau de <strong>bloqueio</strong><br />
neuromuscular.<br />
Além da resistência da pele e da amplitude da corrente, a duração<br />
<strong>do</strong> estímulo (largura <strong>do</strong> pulso) também tem um importante papel<br />
em determinar a amplitude da resposta neuromuscular evocada. Essa<br />
resposta aumenta até que a largura <strong>do</strong> pulso atinja 0,15 a 0,2<br />
milisegun<strong>do</strong>s. Aumentos maiores na largura <strong>do</strong> pulso não determinam<br />
aumento na resposta evocada. Na prática, são utiliza<strong>do</strong>s pulsos com<br />
largura entre 0,1 e 0,3 milisegun<strong>do</strong>s. Aparelhos com largura de pulso<br />
até 0,1 milisegun<strong>do</strong>s podem deixar de recrutar todas as fibras <strong>do</strong> nervo.<br />
O estimula<strong>do</strong>r de nervo ideal deve possuir todas as seguintes<br />
características:<br />
1) duração <strong>do</strong> pulso menor que 0,5 milisegun<strong>do</strong>s (entre 0,1 e 0,3<br />
mseg), para evitar estimulação nervosa repetitiva;<br />
2) estímulo monofásico e retangular, porque o impulso bifásico<br />
pode desencadear potenciais de ação repetitivos;<br />
3) estímulo de corrente constante;<br />
4) saída de corrente ajustável para valores de 10 mA até 60-70<br />
mA;<br />
5) indicação de polaridade <strong>do</strong>s eletro<strong>do</strong>s;<br />
6) alarme na eventualidade de queda da corrente;<br />
7) termômetro para avaliar a temperatura <strong>do</strong> músculo<br />
monitoriza<strong>do</strong>;<br />
8) disponibilizar to<strong>do</strong>s os padrões de estimulação<br />
PADRÕES DE ESTIMULAÇÃO<br />
Em qualquer padrão de estimulação, os estímulos são realiza<strong>do</strong>s<br />
39
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
com corrente de intensidade supramáxima, com pulsos de ondas<br />
quadradas de duração até 0,3 milisegun<strong>do</strong>s. O que varia é apenas a<br />
freqüência <strong>do</strong> estímulo.<br />
A freqüência <strong>do</strong> estímulo é o número de pulsos administra<strong>do</strong>s<br />
por segun<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> medida em hertz (Hz). Uma freqüência de 1Hz<br />
significa um pulso a cada segun<strong>do</strong> e uma freqüência de 0,1 Hz, um<br />
pulso a cada 10 segun<strong>do</strong>s.<br />
Na <strong>monitorização</strong> da transmissão neuromuscular utilizam-se 5<br />
tipos de padrão de estimulação:<br />
1) Estímulo isola<strong>do</strong> (figura 1): É a forma mais simples de<br />
neuroestimulação. O nervo periférico é submeti<strong>do</strong> a um estímulo<br />
supramáximo, com freqüência de 0,1 a 1,0 Hz. Essa freqüência de<br />
estimulação resulta em uma contração isolada <strong>do</strong> músculo (T [twitch])<br />
0,2 mseg<br />
Estimulação Simples<br />
40<br />
Estímulo elétrico (1,0 Hz)<br />
Resposta muscular<br />
Figura .1 – Estimulação simples. Acima: onda quadrada <strong>do</strong> estímulo<br />
elétrico. Abaixo: Resposta da contração muscular ao estímulo elétrico.
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
a cada 10 ou 1 segun<strong>do</strong>, respectivamente. O grau de relaxamento é<br />
determina<strong>do</strong>, avalian<strong>do</strong>-se a medida da resposta obtida após a administração<br />
<strong>do</strong> BNM (T), comparativamente à medida da resposta obtida<br />
antes <strong>do</strong> BNM (T 0 = valor controle).<br />
A resposta à estimulação simples só começa diminuir quan<strong>do</strong>, pelo<br />
menos, 75-80% <strong>do</strong>s receptores são ocupa<strong>do</strong>s pelo BNM e desaparece<br />
completamente quan<strong>do</strong> 90-95% <strong>do</strong>s receptores são bloquea<strong>do</strong>s. Assim,<br />
a faixa de receptores bloquea<strong>do</strong>s que pode ser detectada pelo estímulo<br />
simples é muito estreita, o que limita sua utilização clínica.<br />
Não distingue o tipo de <strong>bloqueio</strong> neuromuscular (despolarizante<br />
ou adespolarizante), necessita de medidas de controle e é insensível<br />
na detecção de <strong>bloqueio</strong> residual. É utiliza<strong>do</strong> na determinação <strong>do</strong> valor<br />
da corrente supramáxima e <strong>do</strong>s tempos de início de ação (tempo<br />
para <strong>bloqueio</strong> máximo de T), de duração clínica (tempo para recuperação<br />
de T = 25%), de duração farmacológica ou total (tempo para<br />
recuperação de T = 95%) e <strong>do</strong> índice de recuperação 25-75% (tempo<br />
decorri<strong>do</strong> entre a recuperação de T= 25% e T= 75%) <strong>do</strong>s bloquea<strong>do</strong>res<br />
neuromusculares. Os tempos cita<strong>do</strong>s devem ser considera<strong>do</strong>s a partir<br />
<strong>do</strong> início da injeção <strong>do</strong> BNM 3 .<br />
Na prática, quan<strong>do</strong> é utilizada a seqüência de quatro estímulos<br />
(SQE), considera-se o valor da primeira resposta (T 1 ) igual ao <strong>do</strong> estímulo<br />
isola<strong>do</strong> (T).<br />
2) Seqüência de quatro estímulos (SQE) (figura 2): Esta é a tradução<br />
mais empregada para Train-of-four (TOF). A estimulação <strong>do</strong><br />
nervo é realizada através de quatro estímulos supramáximos com<br />
impulsos de ondas quadradas de 0,1 a 0,3 milisegun<strong>do</strong>s, com intervalo<br />
entre eles de 0,5 segun<strong>do</strong>, por um perío<strong>do</strong> de 2 segun<strong>do</strong>s, o que<br />
corresponde a uma freqüência de 2Hz (4 estímulos em 2 segun<strong>do</strong>s).<br />
Cada seqüência não deve ser repetida a intervalos menores que 10<br />
segun<strong>do</strong>s. Na presença de um <strong>bloqueio</strong> adespolarizante esse padrão<br />
de estimulação resulta em contrações musculares separadas que exibem<br />
um decréscimo progressivo na amplitude (fadiga). O grau de fadiga<br />
é proporcional à intensidade <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong> neuromuscular. Assim,<br />
o grau de relaxamento muscular determina a altura da resposta <strong>do</strong><br />
segun<strong>do</strong>, terceiro e quarto estímulos da SQE 5 . O <strong>bloqueio</strong> pode ser<br />
avalia<strong>do</strong> pelo número de respostas que aparecem à estimulação SQE<br />
41
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
0,2 mseg<br />
Resposta muscular<br />
2 segun<strong>do</strong>s<br />
Estímulo elétrico (2,0 Hz)<br />
Seqüência de quatro estímulos<br />
10 segun<strong>do</strong>s<br />
Figura .2 – Seqüência de quatro estímulos. Acima: onda quadrada <strong>do</strong> estímulo elétrico. Abaixo: Resposta da<br />
contração muscular ao estímulo elétrico; à esquerda: valor controle, à direita: após administração de BNM<br />
adespolarizante. T4 / T1 = Proporção da seqüência de quatro estímulos<br />
e através da relação entre a amplitude da quarta e da primeira resposta<br />
da seqüência (Proporção da seqüência de quatro estímulos =<br />
T 4 :T 1 ).<br />
Para propósitos clínicos, contan<strong>do</strong>-se o número de contrações<br />
musculares em resposta à SQE, pode-se estimar o grau de <strong>bloqueio</strong>.<br />
A presença de apenas uma contração muscular significa 90% de<br />
<strong>bloqueio</strong> na altura da contração (T 1 = 10% de seu valor controle),<br />
de duas, 80% de <strong>bloqueio</strong> e de três, 75% de <strong>bloqueio</strong>. Como ocorre<br />
com a estimulação isolada, a ausência de qualquer resposta (perda<br />
de T 1 ) significa <strong>bloqueio</strong> total. Uma ou duas respostas, em geral é<br />
indicativo de um grau adequa<strong>do</strong> de relaxamento cirúrgico (Tabela<br />
2). Durante um <strong>bloqueio</strong> despolarizante parcial, não ocorre fadiga,<br />
a altura da contração se reduz igualmente nas quatro<br />
respostas(T 4 :T 1 = 1). O aparecimento de fadiga na resposta da SQE,<br />
depois da injeção de succinilcolina, significa o desenvolvimento de<br />
<strong>bloqueio</strong> fase II.<br />
Durante a recuperação, valor de T 4 /T 1 > 0,7 sugere que o paciente<br />
não desenvolverá dificuldade respiratória significativa, entretanto,<br />
42<br />
T 1<br />
T 4
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
Tabela 2: Relação entre ocupação de receptores da placa motora<br />
e <strong>monitorização</strong> neuromuscular<br />
Receptores<br />
bloquea<strong>do</strong>s<br />
(%)<br />
100%<br />
95%<br />
90%<br />
80%<br />
75%<br />
Altura da contração<br />
em resposta ao<br />
estímulo isola<strong>do</strong><br />
(T1) (% normal)<br />
0%<br />
0%<br />
10%<br />
20%<br />
25%<br />
100%<br />
não é suficiente para prevenir aspiração <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> gástrico ou obstrução<br />
de vias aéreas. Valor de T 4 /T 1 ³ 0,8 é mais seguro porque geralmente<br />
representa que a capacidade de o paciente gerar volume corrente,<br />
fluxo inspiratório e expiratório e ventilação voluntária máxima<br />
é ³ 90% <strong>do</strong>s seus valores de controle 6 . A dificuldade de deglutição<br />
desaparece apenas com a relação T 4 /T 1 ³ 0,9 7 .<br />
A capacidade de manter a cabeça elevada durante 5 segun<strong>do</strong>s,<br />
geralmente está associada com T 4 /T 1 ³ 0,8. Em lactentes, a capacidade<br />
de elevar as duas pernas da mesa é comparável à capacidade de<br />
manter a cabeça elevada 8 .<br />
A seqüência de quatro estímulos tem como vantagem não necessitar<br />
de valores pré-<strong>bloqueio</strong> (controle), uma vez que utiliza a primeira<br />
resposta como ponto de referência. Diferencia o tipo de <strong>bloqueio</strong><br />
neuromuscular; é mais sensível que o estímulo isola<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong><br />
detectar <strong>bloqueio</strong> residual, não é <strong>do</strong>loroso e pode ser repetida a cada<br />
10 segun<strong>do</strong>s, possibilitan<strong>do</strong> que as rápidas alterações <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong><br />
neuromuscular sejam acompanhadas de perto.<br />
3) Estimulação tetânica (figura 3): To<strong>do</strong> estímulo com freqüência<br />
igual ou superior a 30 Hz resulta em contração mantida <strong>do</strong> músculo<br />
e é descrito como estímulo tetânico. Na prática, utilizam-se 50 ou<br />
43<br />
Número de<br />
respostas à SQE<br />
0<br />
0<br />
1<br />
2<br />
3<br />
T4/T1 > 0,7
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
Estímulo elétrico<br />
Resposta muscular<br />
Controle<br />
Estimulação Tetânica<br />
0,2 mseg<br />
20 mseg (50 Hz)<br />
100 Hz durante 5 segun<strong>do</strong>s. Dessa forma, a estimulação tetânica é<br />
uma estimulação simples levada ao extremo. Atualmente, a maioria<br />
<strong>do</strong>s autores acredita que deva ser utiliza<strong>do</strong> o tétano de 50 Hz com 5<br />
segun<strong>do</strong>s de duração já que a força de contração nesta freqüência é a<br />
mesma que aquela produzida por um esforço voluntário máximo <strong>do</strong><br />
paciente acorda<strong>do</strong>. O fenômeno de fadiga pode ser observa<strong>do</strong>, mesmo<br />
na ausência de BNM, quan<strong>do</strong> se utiliza neuroestimulação com<br />
freqüência igual ou superior a 100Hz. Para evitar-se que um <strong>bloqueio</strong><br />
seja superestima<strong>do</strong>, não se deve repetir a estimulação tetânica com<br />
intervalos menores que <strong>do</strong>is minutos.<br />
Como a contração muscular é um fenômeno de “tu<strong>do</strong> ou nada”,<br />
quan<strong>do</strong> a adução <strong>do</strong> polegar decai, significa que algumas fibras estão<br />
se contrain<strong>do</strong>, enquanto outras ainda estão bloqueadas, ou seja, quanto<br />
maior a resposta, menos fibras bloqueadas existem. Assim, o grau de<br />
decaimento da contração muscular (Fadiga) depende da extensão <strong>do</strong><br />
<strong>bloqueio</strong>, da freqüência e da duração da estimulação tetânica. Na presença<br />
de um <strong>bloqueio</strong> adespolarizante ou de um <strong>bloqueio</strong> fase II, a<br />
estimulação tetânica pode resultar em aumento subseqüente da res-<br />
44<br />
Fadiga<br />
Figura .3 – Estimulação tetânica. Acima: Estímulo elétrico. Abaixo:<br />
Resposta muscular antes e após administração de BNM adespolarizante<br />
Facilitação<br />
pós-tetânica
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
posta neuromuscular (a altura da contração aumenta). Esse efeito geralmente<br />
ocorre se o estímulo é aplica<strong>do</strong> 1 a 2 minutos após o tétano.<br />
A duração e a magnitude dessa potencialização pós-tetânica é função<br />
<strong>do</strong> grau de <strong>bloqueio</strong> neuromuscular. Assim, com a administração<br />
de estímulos simples isola<strong>do</strong>s após um estímulo tetânico, observa-se<br />
aumento da resposta contrátil (Potenciação pós-tetânica), que é justifica<strong>do</strong><br />
tanto por um aumento intrínseco da contração muscular como<br />
pela facilitação da transmissão neuromuscular. O aparecimento de fadiga<br />
e de potenciação pós-tetânica ocorre com BNM adespolarizante. Esse<br />
fenômeno não ocorre com o <strong>bloqueio</strong> despolarizante.<br />
Embora a estimulação tetânica diferencie o tipo de <strong>bloqueio</strong><br />
neuromuscular, só é recomendada em pacientes anestesia<strong>do</strong>s, por ser<br />
<strong>do</strong>lorosa.<br />
4) Contagem pós-tetânica (CPT) (figura 4): Esse padrão de<br />
<strong>monitorização</strong> baseia-se na potenciação pós-tetânica. Permite<br />
quantificar a profundidade <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong> quan<strong>do</strong> não há resposta ao<br />
estímulo isola<strong>do</strong> ou à SQE, ou seja, permite avaliar a profundidade <strong>do</strong><br />
<strong>bloqueio</strong> com mais de 95% <strong>do</strong>s receptores ocupa<strong>do</strong>s.<br />
3 seg<br />
E. Tetânica = 50Hz<br />
CPT = 0<br />
1seg (1 Hz)<br />
0,2 mseg<br />
Contagem Pós-Tetânica<br />
45<br />
Estímulo elétrico<br />
CPT = 2<br />
Resposta muscular<br />
Figura .4 – Contagem Pós-Tetânica (CPT) durante <strong>bloqueio</strong> neuromuscular profun<strong>do</strong>. Acima: Estímulo elétrico<br />
tetânico de 50Hz segui<strong>do</strong> por simples de 1 Hz. Abaixo, à esquerda : Ausência de resposta muscular ao tétano e<br />
ao estímulo simples e à direita, no <strong>bloqueio</strong> menos profun<strong>do</strong> não há resposta ao tétano ,<br />
mas a facilitação pósteânica<br />
está presente com 2 respostas ao estímulo simples.
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
Na vigência de um <strong>bloqueio</strong> neuromuscular intenso, não há resposta<br />
muscular. É possível, contu<strong>do</strong>, quantificar a intensidade deste<br />
<strong>bloqueio</strong> neuromuscular, observan<strong>do</strong>-se a resposta pós-tetânica a estímulos<br />
isola<strong>do</strong>s de 1 Hz, aplica<strong>do</strong>s após 3 segun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> término de<br />
uma estimulação tetânica de 50 Hz mantida por 5 segun<strong>do</strong>s. Se o<br />
<strong>bloqueio</strong> for muito intenso, não haverá resposta (contração muscular),<br />
seja à estimulação tetânica ou aos estímulos isola<strong>do</strong>s após o tétano<br />
(CPT=0). À medida que o <strong>bloqueio</strong> vai se dissipan<strong>do</strong>, antes que<br />
reapareça a primeira resposta na seqüência de quatro estímulos, aparecerá<br />
uma primeira resposta aos estímulos isola<strong>do</strong>s, após o tétano.<br />
Com o progredir <strong>do</strong> desaparecimento <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong>, aparecerão mais e<br />
mais respostas aos estímulos isola<strong>do</strong>s pós-tétano. A CPT é o número<br />
de respostas que surge com a aplicação de estímulos isola<strong>do</strong>s após a<br />
estimulação tetânica; quanto menor for este número, mais intenso é o<br />
<strong>bloqueio</strong>, sen<strong>do</strong> o inverso também verdadeiro. Assim, a potencialização<br />
pós-tetânica, que ocorre após a estimulação tetânica, permite que um<br />
estímulo simples produza uma resposta mesmo durante um <strong>bloqueio</strong><br />
adespolarizante profun<strong>do</strong> 9 .<br />
A CPT depende primariamente <strong>do</strong> grau de <strong>bloqueio</strong><br />
neuromuscular, da freqüência e duração da estimulação tetânica, <strong>do</strong><br />
Tabela 3: Contagem PósTetânica (CPT) e tempo aproxima<strong>do</strong> até<br />
recuperação da primeira resposta à Seqüência de Quatro<br />
Estímulos (SQE)<br />
N o de CPT<br />
Tempo (min) para recuperação da<br />
primeira resposta à SQE<br />
Atracúrio ou Pancurônio<br />
Vecurônio<br />
0 >9 >37<br />
1 9 37<br />
2 7 30<br />
4 4 20<br />
6 2 10<br />
8 0-2 5<br />
46
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
intervalo de tempo entre o término da estimulação tetânica e o primeiro<br />
estímulo pós-tetânico e da freqüência da estimulação isolada<br />
após o tétano.<br />
A relação entre o número de contagem pós-tetânica e o tempo<br />
para recuperação <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong> neuromuscular varia entre os BNM (Tabela<br />
3).<br />
A principal aplicação clínica da CPT é a avaliação <strong>do</strong> grau de<br />
<strong>bloqueio</strong> neuromuscular, quan<strong>do</strong> não há resposta à seqüência de quatro<br />
estímulos ou para assegurar um <strong>bloqueio</strong> neuromuscular profun<strong>do</strong><br />
que impossibilite qualquer movimento durante determina<strong>do</strong>s procedimentos.<br />
5) Estimulação “Double-Burst” (figura 5): É um méto<strong>do</strong> de<br />
estimulação nervosa que foi desenvolvi<strong>do</strong> com o intuito de avaliar<br />
<strong>bloqueio</strong> residual, com precisão, quan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> de avaliar a intensidade<br />
da contração muscular é subjetivo: visual ou tátil 10 .<br />
Estimulação “<strong>do</strong>uble-bust”<br />
0,2 mseg<br />
//<br />
20 mseg<br />
750 mseg<br />
EDB 3,3 EDB 3,3<br />
Controle<br />
47<br />
Estímulo elétrico<br />
Resposta muscular<br />
Figura .5 – Estimulação “”<strong>do</strong>uble burst”. Esquerda: ausência de fadiga. Direita: Fadiga em resposta ao BNMA
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
Com a estimulação “<strong>do</strong>uble-burst” (EDB) ou “estimulação com<br />
dupla salva”, a avaliação táctil ou visual da fadiga da resposta motora<br />
é muito superior à promovida pela seqüência de quatro estímulos. A<br />
chance de não detectar a presença de fadiga (confirmada por<br />
mecanomiografia) durante avaliação tátil de um <strong>bloqueio</strong> através de<br />
SQE é de 48% e através de EDB 3,3 é de 9% 11 .<br />
A EDB consiste em duas (<strong>do</strong>uble) rajadas (burst) de estimulação<br />
tetânica de 50 Hz, separadas entre si por 750 milisegun<strong>do</strong>s. Embora o<br />
número de impulsos em cada rajada possa variar, estu<strong>do</strong>s indicam<br />
que três impulsos em cada descarga de estímulos tetânicos (EDB 3,3 ) é<br />
o número mais adequa<strong>do</strong> para a utilização clínica.<br />
No músculo não paralisa<strong>do</strong>, a resposta ao EDB 3,3 aparece como<br />
duas contrações musculares de igual força. No músculo parcialmente<br />
paralisa<strong>do</strong> por BNM adespolarizante, a segunda resposta é mais fraca<br />
que a primeira.<br />
As medidas mecânicas mostram grande correlação entre a proporção<br />
da seqüência de quatro estímulos (T 4 /T 1 ) e a proporção da<br />
EDB 3,3 (D 2 /D 1 ).<br />
REGISTRO DA RESPOSTA EVOCADA<br />
MÉTODOS SUBJETIVOS: Avaliação visual ou tátil<br />
Na prática clínica, com os estimula<strong>do</strong>res mais simples, habitualmente<br />
a avaliação da contração muscular é realizada por méto<strong>do</strong> visual ou táctil.<br />
Quan<strong>do</strong> da utilização <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> visual, a observação deve ser realizada<br />
sob um ângulo de 90 o ao plano de movimento <strong>do</strong> polegar. Na <strong>monitorização</strong><br />
tátil, o polegar deve ser segura<strong>do</strong> em abdução total e as pontas <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r devem ser colocadas na falange distal <strong>do</strong> polegar, na direção<br />
<strong>do</strong> movimento. Contu<strong>do</strong>, mesmo em mãos experientes, pode ser difícil<br />
detectar fadiga, por esses méto<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> T 4 /T 1 > 0,5 12 .<br />
A utilização <strong>do</strong> DBS facilita a detecção de fadiga. Nas situações<br />
duvi<strong>do</strong>sas ou experimentais, é fundamental que seja realiza<strong>do</strong> o registro<br />
através de méto<strong>do</strong>s objetivos.<br />
MÉTODOS OBJETIVOS<br />
A <strong>monitorização</strong> <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong> neuromuscular pode ser realizada<br />
48
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
de mo<strong>do</strong> confiável, através de mecanomiografia, aceleromiografia e<br />
eletromiografia, que medem a resposta evocada mecânica, a aceleração<br />
e a resposta elétrica <strong>do</strong> músculo, respectivamente.<br />
Mecanomiografia. Esta técnica mede a contração isométrica de<br />
um músculo (geralmente o adutor <strong>do</strong> polegar) em resposta à<br />
estimulação <strong>do</strong> nervo ulnar. Essa contração muscular é codificada<br />
através de um transdutor de força em um sinal elétrico que é registra<strong>do</strong><br />
e quantifica<strong>do</strong>. A amplitude <strong>do</strong> sinal é proporcional à força da<br />
contração muscular. Nesse méto<strong>do</strong>, há necessidade de se aplicar uma<br />
pré-carga de 200 – 300 gramas, com a finalidade de que todas as fibras<br />
musculares fiquem tensas. A direção <strong>do</strong> movimento <strong>do</strong> de<strong>do</strong> deve<br />
estar perfeitamente alinhada com o transdutor para que as medidas<br />
sejam confiáveis. Esses cuida<strong>do</strong>s, nessa modalidade de <strong>monitorização</strong>,<br />
tornam sua utilização pouco prática na rotina clínica.<br />
Aceleromiografia. Utiliza um pequeno transdutor de aceleração<br />
(piezoelétrico) para medir a aceleração angular <strong>do</strong> de<strong>do</strong> em resposta à<br />
neuroestimulação. Este méto<strong>do</strong> baseia-se na lei de Newton, na qual a<br />
força é proporcional ao produto da massa pela aceleração (Força = massa<br />
x aceleração). Se a massa é constante (musculatura <strong>do</strong> polegar, por<br />
exemplo), a aceleração é diretamente proporcional à força. As respostas<br />
evocadas na aceleromiografia e na mecanomiografia são comparáveis<br />
com estímulos de corrente supramáxima 13 . Diferente da mecanomiografia,<br />
a aceleromiografia mede a força de contração isotônica, o que exclui a<br />
necessita de pré-carga no adutor <strong>do</strong> polegar. Quan<strong>do</strong> se utiliza a SQE,<br />
em muitas ocasiões, na ausência de <strong>bloqueio</strong>, pode-se observar a quarta<br />
resposta maior que a primeira. Isto é atribuível a alterações na direção de<br />
movimento <strong>do</strong> de<strong>do</strong> ou à impossibilidade <strong>do</strong> de<strong>do</strong> regressar à sua posição<br />
primitiva depois <strong>do</strong> primeiro estímulo 14 .<br />
Eletromiografia. Registra a atividade elétrica gerada pelo potencial<br />
de ação das fibras musculares. A amplitude <strong>do</strong> sinal é proporcional<br />
ao número de unidades motoras contraídas. Um eletro<strong>do</strong> é coloca<strong>do</strong><br />
sobre a porção média <strong>do</strong> músculo próximo à JNM e o outro sobre<br />
a inserção <strong>do</strong> tendão. Existe boa correlação entre as respostas<br />
evocadas geradas pelo eletromiógrafo e a força de contração <strong>do</strong> adutor<br />
49
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
<strong>do</strong> polegar, quan<strong>do</strong> é utilizada a eminência tenar 15 . A maioria <strong>do</strong>s<br />
monitores disponíveis para eletromiografia está programada para registrar<br />
apenas resposta ao estímulo simples e à SQE.<br />
INTERPRETAÇÃO DAS RESPOSTAS MUSCULARES AOS ESTÍMULOS ELÉTRICOS<br />
Uma das grandes dificuldades encontradas nos estu<strong>do</strong>s de BNM é<br />
a uniformização <strong>do</strong>s parâmetros medi<strong>do</strong>s, incluin<strong>do</strong> a terminologia <strong>do</strong>s<br />
mesmos. Em 1994, foi realizada uma Conferência de Consenso Internacional,<br />
em Copenhague, com o objetivo de estabelecer um guia aceitável<br />
como boa prática nos estu<strong>do</strong>s farmacodinâmicos com BNM 3 . As<br />
definições emitidas, a seguir, fazem parte das conclusões desse encontro.<br />
Os tempos são cronometra<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> início da injeção <strong>do</strong> BNM.<br />
A administração <strong>do</strong> BNM deve ser realizada em 5 segun<strong>do</strong>s 3 .<br />
Início de ação: é o tempo que decorre da injeção <strong>do</strong> BNM até a<br />
altura da contração <strong>do</strong> estímulo isola<strong>do</strong>, ou da primeira resposta ao<br />
TOF atingir o <strong>bloqueio</strong> máximo. Quan<strong>do</strong> o <strong>bloqueio</strong> é maior que 95%,<br />
considera-se como <strong>bloqueio</strong> máximo, a partir de 95% de depressão.<br />
Quan<strong>do</strong> o <strong>bloqueio</strong> for menor que 95%, o <strong>bloqueio</strong> máximo é a primeira<br />
de três respostas, com a mesma amplitude (figura 6).<br />
Duração clínica eficaz ou Duração 25 (Dur 25 ): tempo da injeção<br />
<strong>do</strong> BNM até recuperação de 25% da função neuromuscular (T 1 =<br />
25%) (figura 6).<br />
Altura da contração (%)<br />
100<br />
75<br />
50<br />
25<br />
0<br />
T 1 T 4<br />
BNM<br />
Início de ação<br />
Duração clínica<br />
Duração farmacológica<br />
Fig .6 - Monitorização com SQE: Instalação e Recuperação <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong> NM<br />
50<br />
25% - 75%<br />
T4 T<br />
= 0,7<br />
1<br />
Tempo<br />
T4 T<br />
= 0,9<br />
1
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
Identifica o momento no qual deve ser realizada a <strong>do</strong>se suplementar<br />
<strong>do</strong> BNM ou quan<strong>do</strong> é possível realizar facilmente a reversão <strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong>.<br />
Após uma <strong>do</strong>se de intubação (2.DE 95 ), a Dur 25 <strong>do</strong> mivacúrio é de 15-20<br />
minutos, para o atracúrio, vecurônio e rocurônio, é de 30-60 minutos e<br />
para o pancurônio, galamina e d-tubocurarina, é de 90-120 minutos.<br />
Índice de recuperação (IR 25-75 ): tempo para recuperação da altura<br />
de T 1 entre 25% e 75% (figura 6). Os valores <strong>do</strong> IR para o<br />
mivacúrio é de 5-10 minutos, para o atracúrio e vecurônio, é de 10-15<br />
minutos e para a d-tubocurarina, é de 25-50 minutos. Nos BNM os<br />
quais a redistribuição desempenha papel fundamental para a recuperação,<br />
o IR 25-75 pode estar aumenta<strong>do</strong> depois de grandes <strong>do</strong>ses, <strong>do</strong>ses<br />
seriadas ou administração contínua. Por exemplo, quan<strong>do</strong> o vecurônio<br />
é administra<strong>do</strong> em <strong>do</strong>se de 0,4 mg/kg, o IR prolonga linearmente.<br />
Este efeito pode ser mais proeminente se a <strong>do</strong>se aumentada for administrada<br />
em pacientes obesos. Quan<strong>do</strong> grandes <strong>do</strong>ses são administradas,<br />
um efeito acumulativo também tem si<strong>do</strong> descrito para o mivacúrio,<br />
mas, com estes BNM, o efeito é de pequena magnitude. A recuperação<br />
da altura da contração entre 25-75% guarda uma relação linear<br />
entre o logarítimo da concentração plasmática e o efeito. Após a recuperação<br />
de 75% da altura da contração, esta relação entre concentração<br />
plasmática e altura da contração não é mais linear; a altura da<br />
contração aproxima-se lentamente <strong>do</strong>s seus valores basais com a progressiva<br />
queda da concentração plasmática.<br />
Duração farmacológica ou total (Dur 95 ): tempo para T 1 recuperar<br />
95% da altura da contração inicial (figura 6). Este tempo, em geral,<br />
é aproximadamente duas vezes o da Dur 25 . Após uma <strong>do</strong>se de intubação<br />
(2 x DE 95 ), a Dur 95 é de aproximadamente 25 minutos, para o mivacúrio,<br />
70 minutos, para o atracúrio, 80 minutos, para o vecurônio e igual ou<br />
maior a 150 minutos, para os agentes de longa duração.<br />
Consideran<strong>do</strong> que a fadiga é a base para a avaliação da recuperação<br />
<strong>do</strong> <strong>bloqueio</strong> neuromuscular, T 4 geralmente torna-se detectável,<br />
quan<strong>do</strong> T 1 já recuperou 20-30% da altura da contração inicial (Dur 25 ).<br />
A recuperação subseqüente de T 4 tende a ser grosseiramente paralela<br />
à de T 1 , tanto que, quan<strong>do</strong> T 1 alcança 95-100% <strong>do</strong> valor inicial, T 4 é<br />
70% <strong>do</strong> valor inicial (T 4 /T 1 @ 0,7).<br />
51<br />
,
Bloquea<strong>do</strong>res <strong>Neuromuscular</strong>es - Bases Científicas e Uso Clínico em Anestesiologia<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
1 - Bevan DR, Smith CE, Donati F. Postoperative neuromuscular blockade: A<br />
comparison between atracurium, vecuronium and pancuronium.<br />
Anesthesiology 1988; 69:272-6.<br />
2 - Ali, H H; Miller, R D - Monitoring of neuromuscular function. Editor R D<br />
Miller, Churchill Livingstone, 1986; pp 871-885.<br />
3 - Viby-Mogensen J, Engbœk J, Eriksson L, Gramstad L, Jensen E, Koscielniak-<br />
Nielsen Z et al.: Good Clinical Research Pratice (GCRP) in<br />
pharmacodynamic studies of neuromuscular blocking agents. Acta<br />
Anaesthesiol Scand 1996; 40:59-74.<br />
4 - Kopman AF, Lawson D: Miliamperage requirementes for supramaximal<br />
stimulation of the ulnar nerve with surface eletrodes. Anesthesiology<br />
1984; 61:83-5.<br />
5 - AliHH, Utting JE, Gray TC: Stimulus frequency in the detection of<br />
neuromuscular block in humans. Br J Anaesth 1970; 42:967-78.<br />
6 - Eriksson LI. The effects of residual neuromuscular blockade and volatile<br />
anesthetics on the control of ventilation. Anesth Analg 1999; 89:243-51.<br />
7 - Eriksson LI, Sundman E, Olson R. Funcional assessment of the pharynx at<br />
rest and during swalloing in partially paralysed humans.<br />
Anesthesiology 1997; 87:1035-43.<br />
8 - Mason LJ, Betts EK. Leg lift and maximum inspiratory force: clinical signs of<br />
neuromuscular blockade reversal in neonates and infants.<br />
Anesthesiology, 1980; 52:441-2.<br />
9 - Viby-Mogensen J, Howardy-Hansen, Chraemmer-Jorgensen B et al:<br />
Postetanic count (PTC): A new method of evaluating an intense<br />
nondepolarizing neuromuscular blockade. Anesthesiology 1981; 55:458-<br />
61.<br />
10 - Engbaek J, Ostergaard D, Viby-Mogensen J: Double burst stimulation (DBS):<br />
A new pattern of nerve stimulation to identify residual neuromuscular<br />
transmission. Br J Anaesth 1989; 62:274-8.<br />
11 - Drenck NE, Ueda N, Olsen NV et al: Manual evaluation of residual<br />
curarization using <strong>do</strong>ublé burst stimulation: A comparison with trainof-four.<br />
Anesthesiology 1989; 70:578-81.<br />
12 - Viby-Mogensen J, Jensen NH, Engbaek J, Ording H, Skovgaard LT. Tatile<br />
and visual evaluation of the response of train of four nerve stimulation.<br />
Anesthesiology 1985; 63:440-3.<br />
13 - Viby-Mogensen J, Jensen E, Werner M, et al: Mensurement of acceleration:<br />
A new method of monitoring neuromuscular function. Acta Anaesthesiol<br />
Scand 1988; 32:45-8.<br />
14 - Silverman DG, Connelly NR, O’Connor TZ, Garcia RM, Brull SJ.:<br />
52
Monitorização <strong>do</strong> Bloqueio <strong>Neuromuscular</strong><br />
Accelerographic train of four fade at near-threshold currents.<br />
Anesthesiology 1992; 76:34-8.<br />
15 - Kopman AF: The relationship of evoked eletromyographic and mechanical<br />
responses following atracurium in humans. Anesthesiology 1985; 63:208-<br />
11.<br />
53