6 1. BIOGRAFIA Maysa Figueira Monjardim, de tradicional ... - Fmu
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<strong>1.</strong> <strong>BIOGRAFIA</strong><br />
<strong>Maysa</strong> <strong>Figueira</strong> <strong>Monjardim</strong>, <strong>de</strong> <strong>tradicional</strong> família <strong>de</strong> classe média alta, era<br />
filha <strong>de</strong> Alcebía<strong>de</strong>s Guaraná <strong>Monjardim</strong> (Monja), boêmio, que quando jovem jogou futebol<br />
amador, formado em direito tendo exercido cargo <strong>de</strong> <strong>de</strong>putado no Espírito Santo. Monja<br />
pertencia a uma família <strong>tradicional</strong> italiana on<strong>de</strong> seus antepassados seguiram a carreira<br />
militar e política. Casou-se com Inah <strong>Figueira</strong>, bela moça <strong>de</strong> olhos claros, que havia sido<br />
coroada Miss Vitória, Inah, também pertencia a uma <strong>tradicional</strong> família do Espírito Santo,<br />
era mestiça <strong>de</strong> lusitanos com brasileiros.<br />
<strong>Maysa</strong> nasceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro, no dia 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1936, às 11:50 horas,<br />
na casa <strong>de</strong> seu avô paterno que era médico e ex-senador e fez o parto. O nome <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> é<br />
uma mescla dos dois primeiros nomes <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> amiga <strong>de</strong> Dona Inah, Maria Luysa.<br />
Seu pai, o popular Monja, tinha muitos amigo no meio mundo artístico do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e São Paulo. Costumava promover noitadas homéricas, em sua casa, regadas a<br />
uísque e muita musica, com presenças quase obrigatórias <strong>de</strong> artistas como Silvio Caldas e<br />
Elizeth Cardoso. Monja era um hedonista em um clã que se orgulhava da ascendência<br />
histórica e nobre. <strong>Maysa</strong> admirava a total ausência <strong>de</strong> convencionalismo com que fora<br />
criada.<br />
A fama <strong>de</strong> Monja era <strong>de</strong> ser um sujeito amigo do samba e da noite. Seu<br />
sogro não gostou muito do seu cartaz <strong>de</strong> mulherengo e bom <strong>de</strong> copo, quando o viu<br />
interessado em sua filha Inah, uma jovem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> beleza. Monja e Inah fugiram para o<br />
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Rio <strong>de</strong> Janeiro on<strong>de</strong> o casamento foi realizado, longe dos olhos e da censura da família da<br />
noiva, que se viu obrigada a aceitar as circunstâncias, <strong>de</strong>pois do fato consumado e<br />
conformou-se em ter como genro um boêmio feito Monja.<br />
Segundo <strong>Maysa</strong> seus pais tinham vida <strong>de</strong> cigano, pois mudavam <strong>de</strong> casa com<br />
muita freqüência. O casal que morava em Vitória, mudou-se para Bauru por motivos<br />
políticos e após algum tempo conseguiu transferência para a capital Paulista, porém Monja<br />
e Inah continuaram trocando <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reço, viviam encaixotando e <strong>de</strong>sencaixotando as coisas<br />
para mudança. Oscilavam entre morar em uma bela casa e morar em uma casa mais simples<br />
<strong>de</strong>vido às perdas <strong>de</strong> dinheiro <strong>de</strong> Monja em jogatinas. Aos 6 anos, <strong>Maysa</strong> ganhou um irmão<br />
Alcebía<strong>de</strong>s (Cibidinho).<br />
<strong>Maysa</strong> não gostava <strong>de</strong> ver suas fotos <strong>de</strong> bebê, ela dizia: “Eu era uma criança<br />
<strong>de</strong> cabeça gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong> olhos enormes e corpo pequetitinho. Um monstro.” Contradizendo as<br />
fotos.<br />
Chegada a hora <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> ir para a escola seus pais a matricularam no<br />
Colégio Assunção e em seguida no regime <strong>de</strong> internato do Sacre Coeur <strong>de</strong> Marie. Ambas as<br />
escolas eram dirigidas por freiras francesas on<strong>de</strong> imperava uma rígida disciplina religiosa e<br />
moral. Durante as folgas do colégio, gostava <strong>de</strong> jogar futebol com os moleques do bairro.<br />
Nunca foi boa aluna e com a chegada da adolescência o problema se agravou, com queixas,<br />
notas ruins, assim os pais a trocaram <strong>de</strong> escola matriculando-a no Externato Ofélia Fonseca,<br />
no bairro do Pacaembu. <strong>Maysa</strong> foi reprovada no 2 o ano ginasial, porém não ficou<br />
amargurada. No ano seguinte, cursando novamente o 2 o ano ginasial e conseqüentemente<br />
mais velha que as outras meninas, tornou-se uma lí<strong>de</strong>r natural do grupo, chamando a<br />
atenção por seu modo <strong>de</strong> vestir e agir. Segundo um <strong>de</strong> seus primos, aos 14 anos <strong>Maysa</strong> já<br />
teria tido vários namorados. Nessa época <strong>Maysa</strong> começou a ter seus primeiros<br />
<strong>de</strong>sentendimentos com a balança, <strong>de</strong> acordo com seus exames médicos escolares, neles<br />
apareciam a tendência a ganhar peso da noite para o dia.<br />
<strong>Maysa</strong> começou a escrever seus diários. Seu quarto era bagunçado, ela era<br />
muito carente e nutria paixão pelo cinema. Adorava se trancar no banheiro e cantar. Aos 12<br />
anos ela compôs a música “A<strong>de</strong>us”, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma discussão com os pais:<br />
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A<strong>de</strong>us palavra tão corriqueira<br />
Que diz-se a semana inteira<br />
A alguém que se conhece<br />
A<strong>de</strong>us logo mais eu telefono<br />
Eu agora estou com sono<br />
Vou dormir pois amanhece<br />
A<strong>de</strong>us uma amiga diz à outra<br />
Vou trocar a minha roupa<br />
Logo mais eu vou voltar<br />
Mas quando<br />
Este a<strong>de</strong>us tem outro gosto<br />
Que só nos causa <strong>de</strong>sgosto<br />
Este a<strong>de</strong>us você não dá.<br />
Certo dia, aos 15 anos, <strong>Maysa</strong> não vestiu o uniforme comportado da escola,<br />
saia plissada azul-marinho, camisa branca e gravatinha bordada com bolinhas azuis e<br />
vermelhas e sapatos pretos. Vestiu-se com uma blusa <strong>de</strong> seda cor da pele e com uma saia<br />
preta, acima dos joelhos e aberta nas laterais, on<strong>de</strong> apenas um broche <strong>de</strong> cada lado impedia<br />
que suas coxas ficassem totalmente à mostra, e calçou sandálias <strong>de</strong> saltos altíssimos.<br />
Maquiou-se, entrou no ônibus e se sentou no último banco, abriu a bolsa e tirou um cigarro,<br />
ao chegar na escola foi barrada. A diretora <strong>de</strong>u-lhe uma advertência na ca<strong>de</strong>rneta e disse-<br />
lhe que só entraria no dia seguinte com a ca<strong>de</strong>rneta assinada pelos pais. <strong>Maysa</strong> passou três<br />
dias sem ir a aula, pois não encontrava com os pais para assinarem a ca<strong>de</strong>rneta, <strong>de</strong>vido a<br />
vida boêmia do pai, que era acompanhada pela mãe, <strong>Maysa</strong> quase não os encontrava,<br />
quando ela saia para a escola os pais ainda se encontravam dormindo e ao chegar da escola<br />
eles nunca estavam.<br />
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<strong>Maysa</strong> estudou piano clássico durante 8 anos. Nessa época era comum as<br />
meninas <strong>de</strong> famílias tradicionais estudarem piano, porém nunca teve interesse pelo mesmo,<br />
gostava mesmo era <strong>de</strong> violão, que para as meninas era um instrumento mal visto pela<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
Certa vez, ao voltar para casa, <strong>Maysa</strong> encostou o nariz no vidro do ônibus<br />
ficou admirando uma mansão na Avenida Paulista e disse para as amigas que um dia iria<br />
morar naquela casa, a mansão dos Matarazzo. Os Matarazzo eram as pessoas mais ricas do<br />
país naquela época (1951).<br />
Desenhos <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong><br />
Andrea Matarazzo, o homem mais rico do país, foi amigo <strong>de</strong> Monja e<br />
freqüentava a casa dos <strong>Monjardim</strong> para noitadas habituais <strong>de</strong> baralho e uísque. <strong>Maysa</strong> e<br />
André, filho <strong>de</strong> Andrea, se conheceram em Poços <strong>de</strong> Caldas. <strong>Maysa</strong> posava para uma foto<br />
em uma charrete, com vestido curto e trancinhas, quando André se aproximou e <strong>de</strong>u-lhe um<br />
beliscão em suas bochechas. Ela tinha 5 anos e ele 22 anos. <strong>Maysa</strong> cresceu vendo André<br />
sentado na sala <strong>de</strong> sua casa. Os pais <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> não viram com bons olhos o interesse <strong>de</strong><br />
André por <strong>Maysa</strong>, e mandaram-na para a casa da tia em Vitória. Mas <strong>de</strong> nada adiantou, pois<br />
<strong>Maysa</strong> recebia ligações <strong>de</strong> André. <strong>Maysa</strong> já estava caidinha por André. Com a segunda<br />
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eprovação consecutiva do 2 o ano ginasial no Ofélia Fonseca, os pais tentaram transferi-la<br />
para o <strong>tradicional</strong> Colégio Mackenzie, porém o colégio a recusou <strong>de</strong>vido ao seu histórico<br />
escolar. Diante disso <strong>Maysa</strong> <strong>de</strong>sistiu dos estudos não concluindo o ginásio.<br />
André convenceu os pais <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> <strong>de</strong> seu real interesse por ela, era sério e<br />
que seria para casar. A diferença <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> entre eles era <strong>de</strong> 18 anos. Mesmo namorando<br />
André, <strong>Maysa</strong> não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> paquerar outros rapazes, o que provocava brigas entre os dois<br />
e <strong>Maysa</strong> acusava André <strong>de</strong> ser egoísta, em seu diário. Mas ao ficar longe <strong>de</strong> André, durante<br />
uma viagem <strong>de</strong>le a Europa, <strong>Maysa</strong> percebe que sente sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong>le. Quando André volta,<br />
<strong>Maysa</strong> faz com que André tome uma <strong>de</strong>cisão quanto ao rumo do namoro que já dura um<br />
ano e meio. Assim, em 24 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1955 eles se casam na Catedral da Sé, <strong>Maysa</strong> tinha<br />
apenas 17 anos. Eles passaram a lua-<strong>de</strong>-mel na Europa e ao voltarem <strong>Maysa</strong> reclama das<br />
obrigações <strong>de</strong> mulher casada. Eles vão morar na Mansão dos Matarazzo, na Avenida<br />
Paulista, como <strong>Maysa</strong> havia sonhado anos atrás. Como a vida com a família <strong>de</strong> André não<br />
é nem <strong>de</strong> longe a vida que ela esperava, <strong>Maysa</strong> se sente entediada. Ela escreve em seu<br />
diário o numero <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> roupas, bolsas e sapatos que adquire. Ela fica <strong>de</strong>primida<br />
<strong>de</strong>vido ao ócio. <strong>Maysa</strong> engravida e no meio da gestação já está pesando cerca <strong>de</strong> noventa<br />
quilos. Em 19 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1956 nascia seu único filho Jayme que atualmente é conhecido<br />
por ser diretor <strong>de</strong> cinema e televisão. Devido a complicações no parto, <strong>Maysa</strong> não po<strong>de</strong>ria<br />
mais engravidar.<br />
Em 1956, ainda durante o período <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z, <strong>Maysa</strong> é convidada por Corte-Real<br />
para gravar um disco para a gravadora RGE. André não concorda com a idéia, porém<br />
acabou ce<strong>de</strong>ndo para ver sua mulher sorrir novamente, mas fez algumas exigências <strong>de</strong> que<br />
ela não po<strong>de</strong>r se apresentar como uma cantora profissional e fez com que a renda do disco<br />
fosse doada para o Hospital do Câncer. Outra exigência seria que na capa do LP não fosse<br />
estampada a foto <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. Ela espera o bebê nascer para gravar o disco. O lançamento <strong>de</strong><br />
“Convite para ouvir <strong>Maysa</strong>” aconteceu no dia 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1956, seu filho Jayme<br />
tinha então 6 meses.<br />
Em 1957, começaram os <strong>de</strong>sentendimentos entre <strong>Maysa</strong> e André, pois <strong>Maysa</strong> estava<br />
certa <strong>de</strong> que queria se tornar uma cantora profissional, porém André não concordava com a<br />
opinião da mulher, dizendo que o nome dos Matarazzo seria manchado. <strong>Maysa</strong> argumentou<br />
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com André dizendo que <strong>de</strong> nada adiantara então ter gravado o disco para a arrecadação <strong>de</strong><br />
fundos para o hospital do Câncer já que o trabalho não receberia um níquel se quer, pois<br />
ninguém sabia da existência do mesmo, assim André concordou com a divulgação das<br />
músicas <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> nas rádios, porém iria com ela para o Rio <strong>de</strong> Janeiro para a apresentação<br />
nas rádios. <strong>Maysa</strong> começou a cantar na Radio Mayrink (Rio <strong>de</strong> Janeiro) e <strong>de</strong>pois na Rádio<br />
Record em São Paulo. Durante a apresentação da Radio Mayrink <strong>Maysa</strong> viu parte da platéia<br />
indo embora e acreditou que aquilo era uma suposta armação feita pela família do marido,<br />
<strong>de</strong>pois da apresentação <strong>Maysa</strong> disse a André que nada mais seguraria sua carreira nem<br />
mesmo o imenso amor que sentia por ele.<br />
<strong>Maysa</strong> recebeu uma proposta para apresentar um programa semanal <strong>de</strong> televisão no<br />
canal Record, on<strong>de</strong> receberia 100 mil cruzeiros mensais. A estréia do programa foi ao ar no<br />
dia 13 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1957, dia 13 porque foi uma exigência feita por <strong>Maysa</strong> por consi<strong>de</strong>rar<br />
seu número <strong>de</strong> sorte e também para neutralizar a obsessão que o dono da emissora tinha<br />
pelo número 7, pois o canal 7 fora inaugurado no dia 27 <strong>de</strong> setembro e todas as placas dos<br />
carros da emissora terminava obrigatoriamente em 7. Assim surgiram propostas para <strong>Maysa</strong><br />
como entrevistas e shows. André per<strong>de</strong>u o controle da situação e <strong>de</strong>u um ultimato a esposa,<br />
ou ela optava pelo casamento ou pelos microfones e a resposta veio em forma da canção<br />
“Ouça”:<br />
Ouça, vá viver<br />
a sua vida com outro bem,<br />
hoje eu já cansei<br />
<strong>de</strong> prá você não ser naõ ser ninguém.<br />
O passado não foi o bastante prá lhe convencer<br />
que o futuro seria<br />
bem gran<strong>de</strong> ´só eu e você.<br />
Quando a lembrança com você for morar<br />
e bem baixinho <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong><br />
você chorar, vai lembrar que um dia existiu um alguém<br />
que só carinho pediu e você fez questão <strong>de</strong> não dar,<br />
fez questão <strong>de</strong> negar.<br />
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O casamento com André ainda duraria alguns meses, porém ficava cada vez mais<br />
difícil escon<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>savenças que aconteciam em público, com direito a xingamentos e<br />
pratos voando.<br />
<strong>Maysa</strong> gravou “Ouça” em LP e logo se tornou um hino nacional. <strong>Maysa</strong> recebera a<br />
proposta <strong>de</strong> uma televisão do Rio <strong>de</strong> Janeiro para apresentar outro programa <strong>de</strong> televisão, a<br />
TV Rio, canal 13, número <strong>de</strong> sorte <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. Mesmo com o casamento por um fio, <strong>Maysa</strong><br />
aceitou a proposta e reservou um dinheiro do próprio bolso para pagar as <strong>de</strong>spesas, datam<br />
<strong>de</strong>ssa época o envolvimento <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> com a bebida, antes <strong>de</strong> enfrentar os microfones<br />
sempre tomava uma ou duas doses <strong>de</strong> uísque.<br />
Na infância <strong>Maysa</strong> tinha o hábito <strong>de</strong> beber os restinhos <strong>de</strong> licores que ficavam nas<br />
taças <strong>de</strong>pois que as visitas dos pais iam embora.<br />
Em uma <strong>de</strong> suas primeiras viagens a cida<strong>de</strong> carioca <strong>Maysa</strong> pediu que o pai, Monja,<br />
levasse um recado a André, disse que nunca mais voltaria a São Paulo. Assim os jornais<br />
aproveitaram a notícia e caíram em cima dos pais <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> e da própria <strong>Maysa</strong> que acabou<br />
<strong>de</strong>smentindo a separação e até suspen<strong>de</strong>ndo o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>squite, <strong>Maysa</strong> chegou a<br />
<strong>de</strong>clarar que tinham feito as pazes, porém na tar<strong>de</strong> do mesmo dia <strong>de</strong>smentiu tudo que falara<br />
<strong>de</strong> manhã, disse que André e ela realmente iriam se separar.<br />
Nesse período (1957), <strong>Maysa</strong> passou a ser muito criticada pela mídia pelo seu jeito<br />
<strong>de</strong> se vestir, pelas canções que cantava, pela entrevista que não queria dar. Seu jeito <strong>de</strong> ser<br />
era criticado, nada podia fazer que seu nome já estava estampado nas manchetes dos<br />
jornais, pois no Brasil dos anos 50 a socieda<strong>de</strong> não aceitava que uma mulher <strong>de</strong>squitada<br />
cuidasse da própria vida.<br />
Ela continuou com seus programas nas emissoras <strong>de</strong> televisão.<br />
<strong>Maysa</strong> ficara com a guarda <strong>de</strong> seu filho, Jayme, que na época estava com 1 ano e 3<br />
meses. Seu filho ficou sob os cuidados dos avos maternos, em São Paulo, enquanto ela<br />
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trabalhava entre o Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo para apresentar seus programas semanais e<br />
fazer alguns shows em boates.<br />
A casa on<strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> fora morar <strong>de</strong> aluguel era simples, três quartos, sala com poucos<br />
móveis, um quarto on<strong>de</strong> dormia, outro on<strong>de</strong> trabalhava e o outro com o berço <strong>de</strong> Jayme e<br />
armário para roupas.<br />
Separada <strong>de</strong> André, <strong>Maysa</strong> tentou buscar a felicida<strong>de</strong>, porém enfrentou seguidas<br />
crises <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, o que levou <strong>Maysa</strong> a comer e a beber <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sregrada, trocava o<br />
dia pela noite. Diante das câmeras chegara a cambalear durante as apresentações <strong>de</strong> seus<br />
programas, as pequenas doses que a cantora tomava antes das apresentações foram<br />
substituídas por litros <strong>de</strong> uísque e vodca, “...quando era preciso cumprir alguns<br />
compromissos, bastava aliviar a tensão com alguns drinques” dizia a cantora.<br />
Renovou o contrato com a RGE agora como cantora profissional, pois antes seu<br />
contrato estava como cantora amadora <strong>de</strong>vido às exigências <strong>de</strong> seu ex-marido. Teve até que<br />
tirar carteira profissional, pois na época se exigia a carteira, mesmo para fins artísticos.<br />
Tem início uma sucessão <strong>de</strong> escândalos, <strong>Maysa</strong> não compareceu aos shows<br />
agendados nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Salvador, Aracaju e Fortaleza, o empresário não ficou não só na<br />
ameaça <strong>de</strong> processá-la. Arrastou <strong>Maysa</strong> aos tribunais, exigindo pagamento <strong>de</strong> uma<br />
in<strong>de</strong>nização calculada em meio milhão <strong>de</strong> cruzeiros, porém o caso foi arquivado. <strong>Maysa</strong><br />
disse que o empresário não pagou o adiantamento como estipulado no contrato por isso ela<br />
não compareceu aos shows. Numa viagem <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso a Três Rios, no interior do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, ela protagoniza um outro escândalo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uns tragos, <strong>Maysa</strong> passou o dia<br />
<strong>de</strong>sfilando num conversível com um vestido roxo e <strong>de</strong>cotado e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>cidiu tomar banho<br />
completamente nua, no rio Paraíba do Sul, escandalizando a pequena cida<strong>de</strong>.<br />
Logo após o carnaval <strong>de</strong> 1958, <strong>Maysa</strong> lançou o disco “Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> N o<br />
2”, esse LP incluía a música “Meu mundo Caiu” <strong>de</strong> autoria da própria cantora.<br />
Meu mundo caiu<br />
E me fez ficar assim<br />
Você conseguiu<br />
E agora diz que tem pena<br />
<strong>de</strong> mim<br />
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Não sei se explico bem<br />
Eu nada<br />
pedi<br />
Nem a você nem a ninguém<br />
Não fui eu que caí<br />
Sei que você me enten<strong>de</strong>u<br />
Sei também que não vai se importar<br />
Se o meu mundo caiu<br />
Eu que aprenda a levantar<br />
Nessa época <strong>Maysa</strong> teve um rápido romance com o produtor <strong>de</strong> programa Carlos<br />
Alberto Loffler. Durante os shows em boates, <strong>Maysa</strong> parava <strong>de</strong> cantar caso ouvisse alguém<br />
conversando nas mesas, chegou a atirar o microfone e os sapatos na cabeça <strong>de</strong> um<br />
conversador mais renitente. <strong>Maysa</strong> também perdia a paciência com os fotógrafos e<br />
repórteres e muitas vezes as respostas aos questionamentos <strong>de</strong>les eram secas.<br />
A gravadora planejou um 3º LP para a cantora, para ser lançado ainda no 2º<br />
semestre <strong>de</strong> 1958. O LP foi imposto pela gravadora, essa foi a <strong>de</strong>sculpa que <strong>Maysa</strong> <strong>de</strong>u aos<br />
jornalistas, pois esse LP não estava tão bom quanto os outros.<br />
Em 1958, <strong>Maysa</strong> com 22 anos, era uma das jovens mais bem pagas da música<br />
brasileira, esse ano ren<strong>de</strong>ria a cantora 10 milhões <strong>de</strong> cruzeiros (1,5 milhões <strong>de</strong> reais),<br />
incluindo cachês, contratos com rádio e televisão, comerciais, direitos autorais.<br />
Em uma terça-feira, 11 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1958, os vizinhos foram acordados por um<br />
grito <strong>de</strong> mulher no meio da noite (<strong>Maysa</strong>). Nos dias seguintes, a notícia estava no rádio e<br />
nos jornais “<strong>Maysa</strong> tentara se matar cortando o pulso esquerdo com gilete.”, a imprensa não<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> explorar a coincidência <strong>de</strong> que no dia anterior o compositor Assis Valente (autor<br />
<strong>de</strong> músicas cantados por Carmem Miranda), cometera suicídio ingerindo uma mistura fatal<br />
<strong>de</strong> guaraná com formicida.<br />
Alguns dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber alta do hospital, <strong>Maysa</strong> negou a tentativa <strong>de</strong> suicídio,<br />
dizendo que se cortara com o vidro da janela, porém os prontuários do Hospital Miguel<br />
Couto não diriam a mesma coisa. <strong>Maysa</strong> já havia tentado o suicídio anteriormente. Foram<br />
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duas tentativas <strong>de</strong> suicídio, a primeira, aconteceu alguns dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> colocar o namorado<br />
para fora <strong>de</strong> casa aos pontapés, um playboy chamado Marco Túlio Galvão Bueno, e a<br />
segunda tentativa, po<strong>de</strong> ter se dado pelo triângulo amoroso entre <strong>Maysa</strong>, Cesar Thedin e<br />
Elizeth Cardoso <strong>de</strong>ixando <strong>Maysa</strong> mortificada, momentos antes <strong>de</strong> se apresentar no Club 36.<br />
<strong>Maysa</strong>, com um pouco mais <strong>de</strong> 1 ano <strong>de</strong> carreira, atingira o topo do sucesso. Foi<br />
cantora revelação <strong>de</strong> 1957 e nessa mesma época estrelava dois programas só seus, no Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro – Tv Rio e em São Paulo – Tv Record. A cada semestre, a conta bancária<br />
engordava cerca <strong>de</strong> meio milhão <strong>de</strong> cruzeiros só em direitos autorais. Em janeiro <strong>de</strong> 1958,<br />
fez a primeira viagem Internacional ao Uruguai, para se apresentar como cantora. E nesse<br />
mesmo ano participou cantando em quatro filmes: Matemática Zero, Amor Dez <strong>de</strong> Carlos<br />
Hugo Christensen; O cantor e o milionário <strong>de</strong> José Carlos Burle; O Batedor <strong>de</strong> Carteiras <strong>de</strong><br />
Aloísio Ti<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carvalho e Camelô da Rua Larga <strong>de</strong> Hélio Barroso e Eurípi<strong>de</strong>s Ramos. No<br />
filme, O Batedor <strong>de</strong> Carteiras, chegou no meio da madrugada quase <strong>de</strong> manhã para gravar e<br />
o diretor havia combinado com ela no final da tar<strong>de</strong>. <strong>Maysa</strong> pediu para o contra-regra<br />
comprar um litro <strong>de</strong> vodca para ela.<br />
No final <strong>de</strong>sse ano, o jornal Última Hora estampou na primeira página “<strong>Maysa</strong><br />
ferida: jogou seu carro contra o caminhão”. Era madrugada, por volta das 3h30, <strong>Maysa</strong><br />
esborrachou seu carro na traseira do caminhão que estava estacionado sem nenhuma<br />
sinalização junto ao meio-fio da Avenida Atlântica, a principal via <strong>de</strong> Copacabana. Horas<br />
antes <strong>de</strong> ocorrer o aci<strong>de</strong>nte, <strong>Maysa</strong> havia saído dos estúdios da Tv Rio, on<strong>de</strong> apresentava o<br />
programa semanal na emissora, passara em casa e saíra sozinha, <strong>de</strong>pois da meia–noite,<br />
quando um homem que ninguém sabia dizer quem era, insistiu para que o porteiro o<br />
<strong>de</strong>ixasse entrar no prédio, i<strong>de</strong>ntificando-se como sendo marido <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. Depois disso<br />
<strong>Maysa</strong> saiu cambaleando. Com o aci<strong>de</strong>nte, <strong>Maysa</strong>, precisou <strong>de</strong> uma sutura <strong>de</strong> oito pontos<br />
no queixo. No ano <strong>de</strong> 1958, não teve um único dia que a cantora não fosse notícia <strong>de</strong> jornal,<br />
seja em colunas <strong>de</strong> fofoca, ou em manchetes sobre seu comportamento.<br />
O aci<strong>de</strong>nte com o carro <strong>de</strong>ixou <strong>Maysa</strong> com uma cicatriz um pouco abaixo do<br />
queixo, a maior <strong>de</strong> todas as cicatrizes, do lado esquerdo. Depois <strong>de</strong> um mês <strong>de</strong> repouso em<br />
sua casa, <strong>Maysa</strong> percebeu que não adiantava se escon<strong>de</strong>r. Depois <strong>de</strong> muitos boatos dizendo<br />
que a carreira da cantora havia acabado, <strong>Maysa</strong> respon<strong>de</strong>u que nem <strong>de</strong> longe cogitou em<br />
encerrar a carreira.<br />
15
No início <strong>de</strong> março, <strong>Maysa</strong>, estava na boate Oásis com alguns amigos e com o pai,<br />
quando uma briga começou na mesa ao lado, com muitos socos, <strong>de</strong>nte e braços quebrados.<br />
No dia seguinte os jornais noticiaram que <strong>Maysa</strong> havia começado a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, ao espatifar<br />
uma garrafa na cabeça <strong>de</strong> um moço que teria lhe en<strong>de</strong>reçado uma piada <strong>de</strong> mau gosto e que<br />
seu pai se meteu no barulho, assim <strong>Maysa</strong> e o pai foram encaminhados para a <strong>de</strong>legacia<br />
noticiou a Tribuna da Imprensa.<br />
<strong>Maysa</strong> participou do programa Preto no Branco que era famoso tanto pelas<br />
incomodas perguntas, quanto pela iluminação que nada escondia.<br />
O jornal Última Hora trouxe um pretenso perfil psicológico sobre a cantora assinada<br />
por um tal Dr. T, um “notável psiquiatra”, que escreveu um texto que fazia um arremedo<br />
da teoria freudiana, para concluir que <strong>Maysa</strong> era um caso clínico.<br />
Segundo o Dr. T, “analisou”, <strong>Maysa</strong> era uma mulher contra o mundo, tomando por<br />
base a forma como ela se apresentava diante das câmeras <strong>de</strong> televisão, a gravida<strong>de</strong> da voz e<br />
o tipo <strong>de</strong> canção preferido por <strong>Maysa</strong> apontam um traço melancólico marcante, <strong>de</strong> sua<br />
personalida<strong>de</strong>. A parte nasal, com o abrir e fechar das narinas em inspiração profunda,<br />
revela idêntico sintoma. A expressão dos lábios, com o movimento para baixo, exibe<br />
comissuras reveladoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdém. O “psiquiatra” sugeria que a tristeza <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> era<br />
patológica e que a moça estava necessitando, imediatamente, <strong>de</strong> tratamento profissional<br />
a<strong>de</strong>quado. Resumindo, era uma criatura perturbada.<br />
Após uma semana <strong>Maysa</strong> acabou por dar crédito ao diagnóstico do Dr. T, por estar<br />
bêbada, <strong>Maysa</strong> fez com que o vôo que iria <strong>de</strong> São Paulo ao Rio <strong>de</strong> Janeiro atrasasse,<br />
causando um tumulto no avião. A aeromoça pediu para que ela se retirasse da aeronave, por<br />
or<strong>de</strong>m do piloto, <strong>Maysa</strong> ficou furiosa e esbravejou, se negando a sair do avião e causando<br />
brigas verbais com os <strong>de</strong>mais tripulantes. Á sugestão <strong>de</strong> um dos passageiros para chamar a<br />
polícia, a cantora respon<strong>de</strong>u que estava sendo discriminada por uma cambada <strong>de</strong> paulista<br />
que estavam a mando dos Matarazzo.<br />
Apesar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> divulgar dois LPs, <strong>Maysa</strong> pediu licença <strong>de</strong> seus trabalhos<br />
para <strong>de</strong>scansar e assim passar alguns meses fora do Brasil. <strong>Maysa</strong> forneceu diferentes<br />
versões sobre a viagem. Em uma versão dizia que fechara um contrato milionário para fazer<br />
apresentações em Lisboa, Londres, Roma e Paris. Depois informou que <strong>de</strong>sistira da turnê e<br />
que faria apenas uma temporada <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso na Europa. No início <strong>de</strong> 1959 foi lançado<br />
16
“Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> n° 4”.esse LP incluía duas canções dos compositores Tom<br />
Jobim e Vinicius <strong>de</strong> Moraes.<br />
Durante a estadia em Portugal, <strong>Maysa</strong> foi reconhecida por um empresário português<br />
que a convidou para fazer uma temporada no famoso Casino Estoril. <strong>Maysa</strong> em uma<br />
entrevista disse que nem no Brasil havia um público tão carinhoso quanto o <strong>de</strong> Portugal.<br />
Em Paris, <strong>Maysa</strong> se in<strong>de</strong>ntificou com o espírito dos jovens que com ar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sencanto, vestindo jeans surrados e os in<strong>de</strong>fectíveis suéteres pretos <strong>de</strong> gola role,<br />
perambulavam pelos bares e cafés <strong>de</strong> Paris, porém <strong>Maysa</strong> foi mais radical e perambulou a<br />
esmo e chegou a dormir em bancos <strong>de</strong> praças e parques da cida<strong>de</strong>, foi conhecer <strong>de</strong> perto o<br />
submundo dos vagabundos e boêmios das ruas <strong>de</strong> Paris e brindava com eles dizendo “A vós<br />
que compreen<strong>de</strong>is o absurdo da vida”. Foi em Paris que <strong>Maysa</strong> cantou pela primeira vez<br />
“Ne me quitte pas” <strong>de</strong> Jacques Brel. Na volta <strong>de</strong> sua viagem <strong>Maysa</strong> queria publicar um<br />
livro <strong>de</strong> poemas chamado “Comigos <strong>de</strong> mim”.<br />
Após 4 meses <strong>Maysa</strong> voltou para o Brasil e estava irreconhecível - 10 quilos mais<br />
gordas, pesando cerca <strong>de</strong> 90 quilos, seus <strong>de</strong>ntes estavam estragados e estava com uma par<br />
<strong>de</strong> olheiras horríveis. Durante essa viagem, um fotógrafo brasileiro localizou <strong>Maysa</strong> e fez<br />
uma entrevista para a revista O Cruzeiro. Nessa matéria surgiu que <strong>Maysa</strong> tentara o suicídio<br />
por 28 vezes, fato não comprovado e que uma <strong>de</strong>ssas vezes teria sido no Rio Sena. E que<br />
seu <strong>de</strong>sejo era fazer uma turnê acompanhada <strong>de</strong> Charles Chaplin ou <strong>de</strong> um vira-lata,<br />
justificando o Chaplin por ser a sua outra meta<strong>de</strong> e que não cruzou seu caminho e o vira-<br />
lata porque tem estofo, vasculha latas <strong>de</strong> lixo, não é proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ninguém. Durante a<br />
entrevista <strong>Maysa</strong> disse “Esta revolta íntima contra tudo, esta insatisfação, esta fuga <strong>de</strong> mim<br />
e, ao mesmo tempo, esta eterna procura <strong>de</strong> meu eu é que me torna infelicíssima.” (sic)<br />
Enquanto esteve fora do país, André Matarazzo, seu ex-marido, casou-se com uma<br />
estrangeira, Miss Israel <strong>de</strong> 1954, Vivi Matarazzo. <strong>Maysa</strong> disse que André se atrasou e que<br />
ela já tinha um novo amor, o lusitano e jornalista Vitor da Cunha Rego, porém o romance<br />
como todos os outros não foi longe.<br />
Na noite <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1959, morreu uma gran<strong>de</strong> amiga <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>, Dolores<br />
Duran, que sofreu um ataque cardíaco durante o sono, aos 29 anos. <strong>Maysa</strong> sofreu um<br />
gran<strong>de</strong> baque com este acontecimento. <strong>Maysa</strong> sumiu <strong>de</strong> circulação, sua última aparição foi<br />
no baile <strong>de</strong> Carnaval Municipal <strong>de</strong> 1960, estava <strong>de</strong> maiô e quando a foto foi publicada<br />
17
<strong>Maysa</strong> viu que seu corpo estava <strong>de</strong>formado e chorou dias seguidos e dizendo que ela<br />
própria não mais se reconhecia. Em Paris, confessou ao jornalista <strong>de</strong> “O Cruzeiro”, que<br />
uma vez tentara suicídio <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se ver no espelho do banheiro e se <strong>de</strong>parar com uma<br />
mulher em ruínas.<br />
Um jornalista da Radiolândia <strong>de</strong>scobriu que <strong>Maysa</strong> fora internada no Hospital<br />
Nossa Senhora do Carmo, com uma crise <strong>de</strong> pressão baixa, provocada pela ingestão<br />
combinada <strong>de</strong> uísque e um punhado <strong>de</strong> comprimidos para dormir. Quando recobrou a<br />
consciência, <strong>Maysa</strong> pediu aos médicos para ficar no hospital e aproveitou para fazer uma<br />
cirurgia no abdome para se livrar das gorduras extras e realizar plástica no rosto para se<br />
livrar das cicatrizes. Os médicos concordaram. Além das cirurgias, <strong>Maysa</strong> foi alvo <strong>de</strong> um<br />
tratamento psicoterápico à base <strong>de</strong> anti<strong>de</strong>pressivos e uma rigorosa <strong>de</strong>sintoxicação alcoólica,<br />
além <strong>de</strong> ser submetida à sonoterapia, indução artificial do sono por longo período mediante<br />
o uso <strong>de</strong> drogas, técnica que era indicada para casos <strong>de</strong> psicoses agudas, <strong>de</strong>pressões<br />
melancólicas, agitações ansiosas e síndromes psicossomáticas com risco <strong>de</strong> suicídio.<br />
A cantora saiu do hospital mais magra e mais bonita. Disse que o motivo <strong>de</strong> sua<br />
internação era o cansaço e quando um dos repórteres lhe indagou sobre álcool prometeu<br />
parar <strong>de</strong> beber, que dali por diante seria apenas leite. Parecia estar diferente, mais feliz e<br />
tinha uma surpresa, uma vez por semana daria plantão noturno no hospital como enfermeira<br />
voluntária, assim <strong>Maysa</strong> voltou a morar em São Paulo. O médico orientou que <strong>Maysa</strong><br />
reduzisse sua carga <strong>de</strong> trabalho, porém ela não seguiu as orientações, estando com a sua<br />
agenda atribulada: às segundas apresentava o programa na TV Tupi (RJ); às terças<br />
apresentava seu programa na TV Itacolomi (MG); às quartas fazia seus programas na TV<br />
Record, às quintas daria plantão no hospital e às sextas se apresentava na Radio Mayrink<br />
(RJ).<br />
nova.<br />
Em junho <strong>de</strong> 1960, lançou outro LP “Voltei”, era um LP <strong>de</strong> transição para a bossa<br />
<strong>Maysa</strong> foi contratada pelo jornal Diário da Noite (jornal Carioca) para escrever<br />
uma coluna diária chamada “<strong>Maysa</strong> faz o diário da Noite”, porém <strong>Maysa</strong> nunca escreveu<br />
uma única linha, quem redigia o texto era o jornalista Raul Giudicelli, que recebeu carta<br />
branca para escrever sobre o assunto que bem enten<strong>de</strong>sse, ele nada recebia por isso. No<br />
18
meio do ano <strong>Maysa</strong> avisou que “escreveria a coluna” do Japão <strong>de</strong>vido a um convite que<br />
recebera da Empresa Real Aerovias para um vôo inaugural entre Rio <strong>de</strong> Janeiro e Tóquio.<br />
A cantora fez uma aparição na televisão japonesa, on<strong>de</strong> acabou se irritando com o<br />
apresentador que avisou que todos estavam ansiosos para ouvi-la cantar e para saber se o<br />
Carnaval era a maravilha que era mostrada no filme Orfeu Negro. <strong>Maysa</strong> respon<strong>de</strong>u que o<br />
tipo <strong>de</strong> música que ela cantava nada tinha a ver com o samba do filme. Durante a<br />
apresentação <strong>Maysa</strong> segurava um cigarro entre os <strong>de</strong>dos. Apesar da irritação, <strong>Maysa</strong><br />
agra<strong>de</strong>ceu e ficou lisonjeada por ser a primeira cantora brasileira a cantar no Japão.<br />
Nos EUA, fizera contato com empresários norte-americanos e trouxe <strong>de</strong> lá, contrato<br />
assinado com a agência e produtora Associated Booking Corporation, a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> televisão<br />
ABC, para se apresentar durante 3 anos. Os assessores sopraram aos ouvidos <strong>de</strong> alguns<br />
repórteres que <strong>Maysa</strong>, embolsaria cerca <strong>de</strong> 5 mil dólares – equivalente a 1 milhão <strong>de</strong><br />
cruzeiros por semana. <strong>Maysa</strong> trouxe na volta <strong>de</strong>ssa viagem um yorkshire, chamado<br />
Talismã, escondido da frasqueira, dizia que ele lhe <strong>de</strong>ra muita sorte e que fora comprado<br />
por 50 mil cruzeiros, diferentemente do que disse meses atrás sobre o vira-lata.<br />
Um dos cacoetes mais lembrados pelos amigos que conviveram com ela, era que ela<br />
enrolava e <strong>de</strong>senrolava, <strong>de</strong> forma compulsiva, a fitinha dourada da embalagem do cigarro,<br />
com o <strong>de</strong>do indicador e médio. Era um sinal <strong>de</strong> que já estava tensa ou que já havia bebido.<br />
<strong>Maysa</strong> protagonizou um vexame no aeroporto <strong>de</strong> Los Angeles, quando o avião fez a<br />
escala, todo mundo queria <strong>de</strong>scer, menos <strong>Maysa</strong>, ela não <strong>de</strong>sceu com os <strong>de</strong>mais<br />
passageiros. Ela estava acompanhada da mãe, Dona Inah, tentou <strong>de</strong>movê-la da idéia <strong>de</strong> não<br />
<strong>de</strong>scer do avião. <strong>Maysa</strong> só <strong>de</strong>sceu quando reencontrou uma amiga Marlene Maria <strong>de</strong> Lucas<br />
<strong>de</strong> Oliveira, dos tempos do Sacre Coeur <strong>de</strong> Marie e do Ofélia Fonseca e que agora<br />
trabalhava na embaixada brasileira em Los Angeles se prontificou a tirar <strong>Maysa</strong> do avião.<br />
Marlene encontrou <strong>Maysa</strong> alterada, tensa, sinal <strong>de</strong> que já bebera além da conta. Com a<br />
surpresa <strong>de</strong> reencontrar a velha amiga, <strong>Maysa</strong>, resolveu <strong>de</strong>scer e a seguir para o hotel,<br />
cambaleando, fazendo festa, amparada pela amiga.<br />
Em 1960, <strong>Maysa</strong>, lançou mais um álbum, “<strong>Maysa</strong> canta sucessos”. Nesse álbum,<br />
Inah <strong>Monjardim</strong> se lançou como compositora. Nesse mesmo ano, <strong>Maysa</strong>, revelou que<br />
per<strong>de</strong>ra uma fortuna em uma roleta em Las Vegas, a capital mundial do jogo. Chegara a<br />
oferecer ao crupiê o colar <strong>de</strong> pérolas para continuar apostando no seu número da sorte, o<br />
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13, que insistiu em não sair naquela noite. Com as mãos abanando, sem colar no pescoço,<br />
acabou por recorrer ao pai, Monja, para sair do aperto financeiro, telefonou e pediu-lhe que<br />
enviasse mais dinheiro do Brasil.<br />
<strong>Maysa</strong> foi para os Estados Unidos on<strong>de</strong> ficaria 3 anos para cumprir contrato com o<br />
dono da Boate Blue Angel em Nova Iorque, <strong>de</strong>ixou seu filho aos cuidados <strong>de</strong> seus pais,<br />
Dona Inah e Monja. O dono da boate acreditava que <strong>Maysa</strong> po<strong>de</strong>ria ajudar a reerguer a<br />
boate. Após duas semanas <strong>de</strong> chegar aos Estados Unidos, a cantora escreveu para um<br />
colunista brasileiro, relatando sobre seu gran<strong>de</strong> sucesso em Nova Iorque, sendo noticia em<br />
jornais, revistas. De fato, <strong>Maysa</strong> era notícia, porém saía em pequenas notas, muitas vezes<br />
escondidas entre as várias notícias dos jornais. Após um mês do início das apresentações<br />
em <strong>de</strong>zembro, o Blue Angel anunciou que a cantora passaria alguns dias sem se apresentar,<br />
pois estava gripada e afônica. Os norte-americanos não sabiam, mas <strong>Maysa</strong> estava<br />
novamente enfrentando problemas com a bebida e passara a faltar aos compromissos<br />
acertados com Max Gordon. Longe da família e dos amigos, <strong>Maysa</strong> encarou surtos<br />
<strong>de</strong>pressivos naquela friorenta Nova York coberta <strong>de</strong> neve e iluminada para o Natal. A<br />
melancolia a empurrou ainda mais para o álcool. Bebia para esquecer as mágoas e espantar<br />
a solidão, mas as bebidas e as ressacas só contribuíam para <strong>de</strong>ixá-la mais arrasada. Monja<br />
viajou pra os Estados Unidos aconselhando <strong>Maysa</strong> a voltar para casa, porém a cantora não<br />
<strong>de</strong>u o braço a torcer. Nessa época, <strong>Maysa</strong> reencontrou um famoso ator argentino Duílio<br />
Marzio que havia sido seu namorado. Reataram o romance.<br />
No Réveillon <strong>de</strong> 1960 para 1961, <strong>Maysa</strong> <strong>de</strong>u uma festa em seu apartamento alugado,<br />
on<strong>de</strong> se encontravam os amigos do casal, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitas doses <strong>de</strong> uísque, a cantora ficou<br />
agressiva e começou a atirar objetos, cinzeros, vasos, bibêlos para todos os lados, atingindo<br />
alguns convidados. No 1° dia do ano <strong>de</strong> 61, Duílio acordou assustado e viu o cobertor em<br />
chamas, <strong>Maysa</strong>, havia dormido com um cigarro aceso entre <strong>de</strong>dos e quase provocara um<br />
incêndio no quarto. <strong>Maysa</strong> e Duílio ficaram mais uma semana juntos e <strong>de</strong>pois <strong>Maysa</strong> se<br />
<strong>de</strong>spediu <strong>de</strong>le sem maiores formalida<strong>de</strong>s.<br />
Ainda em 1961, <strong>Maysa</strong>, assinou contrato com a Columbia Norte–Americana,<br />
gravando um LP “<strong>Maysa</strong> sings songs before dawn” nos estúdios da produtora. Tudo indicava<br />
que a produtora estava disposta a investir na cantora brasileira. Mas a cantora voltou para o<br />
Brasil, porque o Blue Angel nem a produtora Associated Booking Corporation não quiseram<br />
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enovar seu contrato, pois ela <strong>de</strong>ixava as platéias e os donos das boates a ver navios. Em<br />
certas apresentações <strong>Maysa</strong> ameaçou os clientes que estavam conversando, os norte-<br />
americanos não aceitaram tal atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. Ao voltar, a cantora disse:“Os americanos<br />
são muito rigorosos nessas coisas <strong>de</strong> contrato artístico. É tudo muito certinho e organizado.<br />
Não me acostumaria a ter uma vidinha toda regrada como eles exigem”. (sic) E disse que era<br />
ela que <strong>de</strong>cidira dar um tempo na relação com os Estados Unidos. Voltou gorda <strong>de</strong>vido ao<br />
abuso <strong>de</strong> álcool.<br />
Depois <strong>de</strong> voltar para o Brasil, em 1961, <strong>Maysa</strong> reencontrou o jornalista Ronaldo<br />
Bôscoli e se apaixonaram um pelo outro. Mas Bôscoli era noivo <strong>de</strong> cantora Nara Leão, irmã<br />
<strong>de</strong> Danuza Leão. O que Bôscoli queria mesmo <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> era a sua voz para a Bossa-Nova.<br />
Eles iniciaram um romance. Nesta época, a Revista Manchete propôs a <strong>Maysa</strong> um <strong>de</strong>safio:<br />
que ela fizesse uma auto–entrevista, perguntando a si mesma tudo o que nenhum jornalista<br />
jamais tivera a coragem <strong>de</strong> lhe perguntar, com o compromisso <strong>de</strong> que respon<strong>de</strong>sse a tais<br />
questões sem nenhuma censura. Bôscoli aconselhou <strong>Maysa</strong> a fazer a auto-entrevista e a<br />
cantora topou. O título da matéria foi:<br />
<strong>Maysa</strong> enfrenta <strong>Maysa</strong><br />
Você é masoquista?<br />
- Ás vezes. Consi<strong>de</strong>ro masoquismo aturar sem queixas uma porção <strong>de</strong> pessoas. Detesto gente<br />
burra e vivo me encontrando com elas.<br />
Se, é só este o seu masoquismo, por que você vive atritando fitas <strong>de</strong> papel com os <strong>de</strong>dos,<br />
até fazê-los sangrar?<br />
-Até sangrar é exagero. Tenho este hábito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menina. Acho que é uma preparação<br />
inconsciente para enfrentar as dores que o <strong>de</strong>stino sempre me reserva. Dor física, aliás,<br />
jamais me fez medo. Tenho medo apenas do que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim: amar e não ser amada,<br />
por exemplo.<br />
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Seu êxito <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u apenas <strong>de</strong> seu talento?<br />
- Já fiz muitas concessões para obter sucesso e hoje estou profundamente arrependida. Agora<br />
não há fabricante <strong>de</strong> discos que me faça gravar o que eu não sinta.<br />
Caso fosse possível você <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> cantar imediatamente?<br />
- Não, para a gente <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazer qualquer coisa que nos afirme é preciso substituí-la,<br />
sempre, por algo melhor. Para mim, a única coisa melhor do que cantar seria... cantar só para<br />
quem eu amasse.<br />
Eu sei que você não “ama” seu atual publico no Copacabana. Mas pelo menos gosta<br />
<strong>de</strong>le?<br />
- Por enquanto, não. Grã-fino, geralmente, não gosta <strong>de</strong> musica e muito menos <strong>de</strong> artista<br />
brasileiro.<br />
É por isso que você bebe minutos antes <strong>de</strong> cantar?<br />
- A bebida é a bengala <strong>de</strong> um velhinho que mora em minha personalida<strong>de</strong>. Mas tenho certeza<br />
<strong>de</strong> que uma criança que existia em mim, antes <strong>de</strong> tantas coisas acontecerem, um dia voltará.<br />
Só então saberei quem sou.<br />
Mas você não bebe somente antes <strong>de</strong> entrar em cena, não é? Por que você bebe <strong>de</strong> modo<br />
geral?<br />
- Primeiro porque quero. Depois porque trabalho para pagar o que eu bebo. Finalmente,<br />
porque tenho senso <strong>de</strong> autocrítica. Muitas vezes reconheço-me insuportável e eu só suporto<br />
os insuportáveis bebendo.<br />
Você acredita que um dia <strong>de</strong>ixará o álcool?<br />
- Deixarei a bebida quando encontrar o amor. Mas para amar é preciso estar preparada.<br />
Quero, preciso e ainda amarei.<br />
Você se sente sozinha? Tem medo <strong>de</strong> ficar sozinha?<br />
- Pavor. Quando estou só, tenho certeza <strong>de</strong> que sou maior do que eu mesma e isto me<br />
apavora. Ninguém <strong>de</strong>ve conhecer a sua própria dimensão.<br />
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Você já tentou se matar algumas vezes. Em qual <strong>de</strong>las foi sincera?<br />
- Em todas. Mas nenhuma eu queria morrer imediatamente. Por isso morria pouco. Só uma<br />
coisa me faria morrer até o fim: o amor.<br />
<strong>Maysa</strong> fechou contrato para cantar em uma boate <strong>de</strong> Buenos Aires. Naquela época o<br />
clima em Buenos Aires era tenso <strong>de</strong>vido os conflitos entre partidos e adversários do ex-<br />
presi<strong>de</strong>nte Juan Domingos Perón.<br />
Certo dia <strong>Maysa</strong> e Bôscoli provocaram um alvoroço em um restaurante. Eles jogaram<br />
no chão, perto do garçom, uma bombinha que fazia barulho e soltava fumaça e quase<br />
acabaram provocando uma questão <strong>de</strong> segurança nacional. Os dois fizeram isso, mais uma<br />
vez atirando as bombinhas do alto do quarto <strong>de</strong>les.<br />
A dimensão da bebida alcóolica era imensa na vida <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>, e Bôscoli perceberá<br />
que aquilo era uma doença. Preocupado com <strong>Maysa</strong>, eliminou as garrafas do quarto do hotel,<br />
chegou a <strong>de</strong>rramar os vidros <strong>de</strong> perfume na pia, porém não teve resultado. Bôscoli pediu que<br />
<strong>Maysa</strong> <strong>de</strong>sse uma maneirada até que a turnê chegasse ao fim. Um dia, da calçada do hotel,<br />
Bôscoli, olhou para cima e viu algo brilhante, bem lá no alto, era um objeto in<strong>de</strong>finido, que<br />
parecia pen<strong>de</strong>r da janelinha do banheiro do quarto <strong>de</strong>le e <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. Bôscoli,subiu ao quarto,<br />
abriu a porta do banheiro, dirigiu-se à janela e constatou que <strong>Maysa</strong> amarrara ali uma garrafa<br />
na ponta <strong>de</strong> um cordão e a pendurara pelo lado <strong>de</strong> fora do prédio. Assim, sempre que fingia<br />
precisar ir ao banheiro, <strong>Maysa</strong>, içava a bebida e entornava alguns goles.<br />
Na Argentina, a relação <strong>de</strong> Bôscoli e <strong>Maysa</strong>, não escondia a sua construção com base<br />
em afagos e sopapos. E não <strong>de</strong>u em menos, <strong>Maysa</strong>, pedira para uma amiga argentina ligar<br />
para Bôscoli, passando-se por uma amiga Miguelita <strong>de</strong> Nara Leão e falar para Bôscoli que<br />
teria estado no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e que Nara lhe mandara lembranças. Ele ficou animado e<br />
arranhando um portunhol, disse que estava morrendo <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s da noiva, que não via a<br />
hora <strong>de</strong> voltar para o Brasil, que estava cansado <strong>de</strong> acompanhar aquela turnê com “La<br />
Gorda”. <strong>Maysa</strong>, <strong>de</strong>pois do que soube, ficou furiosa, e nem quis esperar o elevador do hotel e<br />
23
subiu ao seu quarto pelas escadas. Na suíte ao lado, Luiz Carlos Vinhas e Roberto Menescal<br />
perceberam que o casal havia partido para o confronto físico, pelo barulho que atravessava a<br />
pare<strong>de</strong>. Bateram a porta do quarto do casal e quando a porta se abriu, <strong>de</strong>ram <strong>de</strong> cara com<br />
Ronaldo Bôscoli seminu, <strong>de</strong> cuecas vermelhas, com arranhões <strong>de</strong> unhas espalhados pelo<br />
corpo. Mas a vingança <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> não ficaria nos arranhões.<br />
<strong>Maysa</strong>, <strong>de</strong>struiria o noivado <strong>de</strong> Bôscoli com Nara, combinando com os jornalistas que<br />
os esperassem no aeroporto, na volta <strong>de</strong> turnê. Ao <strong>de</strong>scer do avião, <strong>Maysa</strong> se <strong>de</strong>sequilibrou e<br />
Bôscoli lhe <strong>de</strong>u o braço para ela se amparar. Ela chegou ao saguão do aeroporto <strong>de</strong> braços<br />
dados com ele e diante dos inúmeros jornalistas presentes ela <strong>de</strong>u a notícia <strong>de</strong> que se casaria<br />
com Bôscoli em um mês. A notícia caiu como uma bomba e o próprio Bôscoli não esboçou<br />
nenhuma reação quando a ouviu. Nara nunca mais quis ouvir falar <strong>de</strong> Bôscoli.<br />
Os dois discos <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> chegaram praticamente juntos às prateleiras das lojas, um<br />
gravado por exigência do contrato com a RGE e o produzido por Ronaldo Bôscoli. Um<br />
Chamado “<strong>Maysa</strong>, amor e... <strong>Maysa</strong>” o tema das músicas eram os mesmos bolerões rasgados<br />
e outro “<strong>Maysa</strong> e a nova onda” que tinha como tema a Bossa Nova.<br />
<strong>Maysa</strong> gostava <strong>de</strong> passar trotes por telefone. Era a rainha dos trotes. Vasculhava a<br />
lista telefônica e parava o <strong>de</strong>do em um número qualquer, <strong>de</strong> preferência se o en<strong>de</strong>reço<br />
indicasse algum lugar distante no subúrbio. Discava o número altas horas da noite e, quando<br />
uma voz masculina e sonolenta atendia do outro lado da linha, ela se i<strong>de</strong>ntificava como<br />
<strong>Maysa</strong> e dizia que estava sozinha e queria conversar com alguém, bater um papo, para<br />
espantar a solidão. “Que <strong>Maysa</strong>?” Ela cantava alguma <strong>de</strong> suas músicas mais conhecidas ao<br />
telefone, com aquela voz rouca e inconfundível. Depois, o lance divertido era ficar<br />
imaginando como foi o dia seguinte <strong>de</strong>sses caras nos seus trabalhos, nos trens, nas<br />
repartições. Quanto mais <strong>Maysa</strong> bebia, mais ela <strong>de</strong>monstrava ter verda<strong>de</strong>ira obsessão pelo<br />
tema “traição”, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> umas doses dizia que era traída pelos amigos e pelos homens,<br />
ficava irritada agressiva e armava cenas diante <strong>de</strong> Bôscoli e se ele a traía ela também iria traí-<br />
lo. O Sentimento <strong>de</strong> rejeição invadira sua vida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos do casamento <strong>de</strong> André<br />
Matarazzo, dizia que tinha certeza que seu marido a traía e que até teria pressentido uma<br />
insinuação <strong>de</strong>le para cima da mãe <strong>de</strong>la, Dona Inah. Depois <strong>de</strong> a Columbia cancelar o contrato<br />
com a cantora, ela se irritou e foi fazer uma turnê em Vitória, começou a cantar em lugares<br />
que não a mereciam. Bôscoli não iria agüentar a tempesta<strong>de</strong> que estaria por vir e saiu a<br />
24
francesa <strong>de</strong>ixando <strong>Maysa</strong> para trás, por não conseguir encarar uma <strong>de</strong>spedida, temendo a<br />
reação da cantora. Ao acordar, <strong>Maysa</strong> quis esganá-lo ao perceber a fuga do namorado e que<br />
nunca perdoaria o fato <strong>de</strong> alguém sair da sua vida assim, <strong>de</strong> uma hora para outra.<br />
<strong>Maysa</strong> convocou um amigo influente e fez com ele trouxesse Bôscoli <strong>de</strong> volta antes<br />
mesmo que o coitado saísse da cida<strong>de</strong>.<br />
No 1º trimestre <strong>de</strong> 1962, <strong>Maysa</strong> sumira mais uma vez sem <strong>de</strong>ixar vestígios, foi em<br />
abril <strong>de</strong>sse ano que o jornal argentino La razón, revelou o segredo do sumiço <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>, ela<br />
estava internada na Clínica Bethlehem, em Buenos Aires para um tratamento <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sintoxicação alcoólica com a ajuda da sonoterapia como ocorrera anteriormente no Brasil.<br />
Após 45 dias amarrada a cama e presa no quarto com gra<strong>de</strong>s, ela conseguiu sair da clínica <strong>de</strong><br />
manhã e voltou à noite. Foi assim que o jornalista argentino conseguiu uma entrevista com a<br />
cantora, on<strong>de</strong> ela confessava que se internará para ficar bem com ela mesma, pois o álcool já<br />
estava em sua total plenitu<strong>de</strong>, houve até um momento em que o álcool a levará a um<br />
princípio <strong>de</strong> “Delirium Tremens”. Chegado o horário <strong>de</strong> voltar para a clínica, <strong>Maysa</strong> não<br />
voltou e ainda culpou o jornalista por tê-la <strong>de</strong>volvido ao seu caos, disse que ia ao cinema e<br />
<strong>de</strong>pois comer algo. <strong>Maysa</strong> voltou para o Brasil, mais magra e noiva <strong>de</strong> um estrangeiro e<br />
pouco tempo <strong>de</strong>pois o noivo sumira em um tiroteio e <strong>Maysa</strong> percebeu que talvez tivesse<br />
voltado na hora errada e saiu <strong>de</strong> circulação e sumiu mais uma vez. Os jornalistas apostavam<br />
quem iria encontrá-la primeiro, como se <strong>Maysa</strong> fosse um troféu. Em meados <strong>de</strong> setembro um<br />
jornalista encontrou <strong>Maysa</strong> em um sítio na região <strong>de</strong> Jacarepaguá, on<strong>de</strong> ela conce<strong>de</strong>u uma<br />
entrevista a revista Fatos e Fotos e <strong>de</strong>pois disse que queria ficar só e que não conce<strong>de</strong>ria mais<br />
nenhuma entrevista.<br />
<strong>Maysa</strong> estava pensando em levar o filho Jayme para a Europa, on<strong>de</strong> ela estava e não<br />
voltaria tão cedo ao Brasil. Seria convidada pela gravadora parisiense Barclay para gravar um<br />
disco cantado em francês e em português. <strong>Maysa</strong> fora convidada para se apresentar no<br />
Cassino Estoril, em Portugal com o sucesso, conce<strong>de</strong>u uma entrevista, on<strong>de</strong> o repórter ficou<br />
impressionado quando viu <strong>Maysa</strong> acen<strong>de</strong>r um cigarro no outro por mais <strong>de</strong> uma vez. Reparou<br />
também em suas marcas e não agüentando, perguntou a cantora o que eram as marcas e ela<br />
fez uma cara <strong>de</strong> enfado e respon<strong>de</strong>u que era marca do tratamento que visera na Argentina e<br />
como dormia muito era alimentada pelas veias. Depois <strong>de</strong> Portugal, <strong>Maysa</strong> foi convidada<br />
para cantar no Olympia em Paris, mas era uma apresentação única.<br />
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Logo se <strong>de</strong>scobriu o motivo <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> permanecer na Europa, era um novo amor, o<br />
belga-espanhol Miguel Azanza. A esposa <strong>de</strong> Azanza, Ana Gabriela, preparara uma festa para<br />
apresentar <strong>Maysa</strong> a socieda<strong>de</strong> espanhola, mas durante a madrugada que antece<strong>de</strong>u a festa,<br />
Ana Gabriela pegou <strong>Maysa</strong> e o marido no quarto <strong>de</strong> hóspe<strong>de</strong> e expulsou-os <strong>de</strong> sua casa.<br />
Como não havia tempo hábil para cancelar a festa, a esposa <strong>de</strong> Miguel manteve o<br />
compromisso e os dois Miguel e <strong>Maysa</strong> compareceram à festa como se nada tivesse<br />
acontecido. Durante a festa Miguel comunicou aos presentes que o casamento com Ana<br />
Gabriela acabara e que iria se casar com <strong>Maysa</strong>. Os dois voltaram logo ao Brasil, uma vez<br />
que Miguel não tinha dinheiro para sustentá-los na Europa. O dinheiro pertencia à ex-mulher<br />
<strong>de</strong>le. O casamento arrastou-se por longos anos. Mas o ciúme mútuo, as eternas discussões e<br />
os excessos <strong>de</strong> álcool <strong>de</strong> ambos foram minando a relação a cada dia. Os dois estapeavam-se<br />
publicamente. Miguel chegava a <strong>de</strong>sferir chutes em <strong>Maysa</strong> para fazê-la entrar no carro,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma noite em que ambos haviam bebido além da conta, segundo, Flávio Ramos, o<br />
empresário da casa noturna Au Bon Gourmet no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
No início do relacionamento <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> e Miguel, ele escrevera uma carta ao amigo<br />
da época <strong>de</strong> colégio, Oren Wa<strong>de</strong>. No primeiro encontro do casal com o amigo, <strong>Maysa</strong> não o<br />
cumprimentou direito e dava lhe as costas, anos mais tar<strong>de</strong> confessou que tivera ciúmes <strong>de</strong><br />
seu novo amor, por tê-lo que dividir com seu amigo <strong>de</strong> infância. Antes <strong>de</strong> retornar a Espanha<br />
com Miguel, a cantora disse que teria que resolver alguns assuntos pessoais, como uma<br />
vingança contra Bôscoli.<br />
Certa noite telefonou para Bôscoli dizendo que estava com um mau pressentimento e<br />
tinha medo <strong>de</strong> nunca mais vê-lo. Pediu para que ele fosse até a sua casa em São Paulo.<br />
Bôscoli disse que não iria, mas a insistência <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> fez com que Bôscoli se dirigisse do<br />
Rio a São Paulo, <strong>de</strong> táxi, acompanhado do amigo Luiz Carlos Mièle, ambos sem um centavo<br />
no bolso, contando que <strong>Maysa</strong> pagaria a corrida <strong>de</strong> táxi Rio-Sp. E quando ele chegou a casa<br />
<strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> <strong>de</strong>scobriu que ela já estava a caminho da Espanha. Bôscoli se dá conta <strong>de</strong> que foi<br />
enganado e recorre a uma amiga que mora em São Paulo, Marisa Gata Mansa para pagar as<br />
<strong>de</strong>spesas da viagem e emprestar-lhe algum dinheiro para retornar ao Rio.<br />
No final <strong>de</strong> 1964, <strong>Maysa</strong> recebeu a notícia <strong>de</strong> que seu ex-marido, André Matarazzo,<br />
falecera, vítima <strong>de</strong> um infarto fulminante aos 45 anos. Com este acontecimento, <strong>Maysa</strong>,<br />
<strong>de</strong>cidiu chamar o filho Jayme, então com 8 anos , para morar na Espanha, o menino não<br />
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podia ficar a vida inteira sendo criado pelos avós. <strong>Maysa</strong>, que sempre dissera que o colégio<br />
interno fora o maior pesa<strong>de</strong>lo dos seus tempos <strong>de</strong> menina, reservou ao filho <strong>de</strong>stino idêntico.<br />
Depois do acontecido <strong>Maysa</strong> ficara fora dos noticiários dos jornais e apenas em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1965 o silêncio foi quebrado, com a notícia <strong>de</strong> que <strong>Maysa</strong> voltara com o filho e o marido<br />
para viver em São Paulo e que estava cheia da vida <strong>de</strong> cantora profissional.<br />
Depois <strong>de</strong> sete meses parada, <strong>Maysa</strong> voltara a cantar no Urso Branco, uma única<br />
apresentação. Para isso, a cantora teve que se internar em uma clínica <strong>de</strong> repouso para uma<br />
<strong>de</strong>sintoxicação alcoólica. Estava convencida que o alcoolismo não a <strong>de</strong>ixava em condições<br />
<strong>de</strong> criar o próprio filho e o mandou <strong>de</strong> volta para o colégio interno na Espanha.<br />
Ao sair da clínica, montou uma produtora artística, a Guelmay – uma mistura <strong>de</strong> seu<br />
nome com o <strong>de</strong> Miguel. Abelardo Figueiredo foi o gran<strong>de</strong> responsável pela volta <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong><br />
aos palcos, pois sem ele, ela não teria quebrado a promessa <strong>de</strong> se aposentar <strong>de</strong> modo precoce<br />
feita no final <strong>de</strong> 1965. Foi ele também que sugeriu a criação da produtora. O programa e os<br />
vi<strong>de</strong>oteipes não tiveram nomes, segundo <strong>Maysa</strong>, só apareceria uma foto do seu rosto na tela.<br />
E nos vi<strong>de</strong>oteipes também apareceria apenas a foto <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. O custo <strong>de</strong> produção tornaram<br />
produto invendável, e <strong>Maysa</strong> teria um prejuízo estupendo com sua empresa natimorta. Era<br />
um produto sofisticado <strong>de</strong>mais, limpo <strong>de</strong>mais, refinado <strong>de</strong>mais para a época.<br />
Na boate 706, <strong>Maysa</strong> e alguns colegas confraternizaram noite a<strong>de</strong>ntro, comemorando<br />
o final <strong>de</strong> um festival <strong>de</strong> música da Record. Ela já estava passando mal <strong>de</strong> tanto uísque que<br />
bebera durante toda a tar<strong>de</strong>, mas antes do final do espetáculo resolveu <strong>de</strong>safiar Elis Regina,<br />
dizendo:<br />
- “Gauchinha <strong>de</strong> merda, você não canta nada”. Elis que não levava <strong>de</strong>saforo para casa,<br />
revidou: - “ Não me provoca não sua pinguça”. E todos viram uma garrafa <strong>de</strong> uísque voando<br />
sobre as mesas, em direção à cabeça <strong>de</strong> Elis Regina. Foi o produtor Roberto Menescal que<br />
interceptou a garrafa no ar, antes que ela atingisse o alvo. Depois do ocorrido as duas nunca<br />
mais se bicaram e não per<strong>de</strong>riam a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar isso publicamente.<br />
Com o ambiente pesado no Brasil em 1966, a cantora recebeu um convite para fazer<br />
parte <strong>de</strong> um júri em um programa <strong>de</strong> TV em Los Angeles e aceitou. Ela e Miguel foram<br />
juntos e como <strong>de</strong> costume protagonizavam brigas homéricas. Miguel e <strong>Maysa</strong> voltaram para<br />
a Europa e Miguel ficou feliz <strong>de</strong> ter uma artista em casa. Miguel exigia que ela cozinhasse e<br />
<strong>Maysa</strong> se submetia sem reclamar. As finanças do casal não iam bem <strong>de</strong>vido a investimentos<br />
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maus feitos e <strong>Maysa</strong> teve que inúmeras vezes penhorar seu anel <strong>de</strong> brilhantes que ganhara <strong>de</strong><br />
André. Ela e Miguel brincavam <strong>de</strong> adivinhar on<strong>de</strong> será que se encontrava o anel.<br />
Na Itália <strong>Maysa</strong> alugou uma casa com o dinheiro que fizera em uma temporada em<br />
Viareggio. Pouco tempo <strong>de</strong>pois o casal mudou-se novamente para Madri e lá continuaram a<br />
alternar brigas, com momentos <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong>. <strong>Maysa</strong> achava que Miguel era <strong>de</strong>mais para<br />
ela.<br />
<strong>Maysa</strong> gravou 2 discos compactos pela GTA Records, somente o segundo chegou ao<br />
Brasil. Em Madri, ela gravou também um compacto pela RCA Victor espanhola, que saiu<br />
em 1968.<br />
<strong>Maysa</strong>, apesar das brigas com Miguel, o <strong>de</strong>finiu como uma pessoa que encanta,<br />
principalmente por sua forma <strong>de</strong> ser, entretanto falta-lhe um pouco <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> vida.<br />
Oren Wa<strong>de</strong>, o tutor <strong>de</strong> Jayme, tornou-se para <strong>Maysa</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 3 anos o seu maior<br />
confi<strong>de</strong>nte, com ele ela podia <strong>de</strong>sabafar e trocar confidências.<br />
As dificulda<strong>de</strong>s com Miguel terminaram por aproximar <strong>Maysa</strong> <strong>de</strong> Oren. Os dois<br />
acabaram trocando beijos e carícias e <strong>Maysa</strong>, propôs-lhe uma fuga da Espanha. Tomariam<br />
um avião no meio da noite e iriam para o México. Casariam por lá, viveriam felizes para<br />
sempre e nunca mais veriam Miguel. Entretanto, Oren não aceitou, pois <strong>Maysa</strong> era a mulher<br />
<strong>de</strong> seu melhor amigo, ele teve medo <strong>de</strong> trair a sua confiança, <strong>de</strong> jogar a vida pela janela ao se<br />
unir a uma pessoa imprevisível como <strong>Maysa</strong>, apesar <strong>de</strong> estar apaixonado. Além disso, o seu<br />
envolvimento com <strong>Maysa</strong> po<strong>de</strong>ria ser ruim para a cabeça <strong>de</strong> Jayme, visto que ele era o seu<br />
tutor..<br />
Após a recusa <strong>de</strong> Oren, <strong>Maysa</strong> se sentiu muito angustiada, caiu em <strong>de</strong>pressão e<br />
novamente recorreu ao álcool. Nessa época <strong>Maysa</strong> só conseguiria dormir por volta das quatro<br />
da manhã com a ajuda <strong>de</strong> dois comprimidos <strong>de</strong> Mandrix, indutor do sono muito utilizado na<br />
época e que <strong>de</strong>pois teria seu potencial para o vício comprovado pela medicina. Havia<br />
também os remédios para emagrecer que junto à bebida, tornava o efeito <strong>de</strong>vastador para o<br />
organismo. Por duas vezes, em Madri, ela tentou o suicídio, mas Miguel a socorreu em<br />
tempo.<br />
No final do semestre <strong>de</strong> 1968, <strong>Maysa</strong>, planejou uma gran<strong>de</strong> turnê pela América<br />
Latina, que durou 6 meses, começando pela Venezuela e terminou na Colômbia. Durante a<br />
turnê pela América Latina, <strong>Maysa</strong>, colecionou uma montanha <strong>de</strong> recortes <strong>de</strong> jornal. No final<br />
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<strong>de</strong> 1968 em Lisboa, <strong>Maysa</strong> foi convidada e aceitou cantar na África, acompanhada do Thilo’s<br />
Combo, o grupo musical lusitano que estava fazendo uma relação musical na terra do fado,<br />
agregando elementos do jazz e da Bossa Nova às sonorida<strong>de</strong>s locais.<br />
O jornalista e apresentador <strong>de</strong> televisão Flavio Cavalcanti convidou <strong>Maysa</strong> para fazer<br />
parte do júri <strong>de</strong> “A gran<strong>de</strong> Chance” programa dirigido por ele na TV Tupi do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
e <strong>Maysa</strong> aceitou, impondo uma condição, <strong>de</strong> não cantar. Esse convite foi feito em Portugal e<br />
<strong>Maysa</strong> retornou ao Brasil para integrar o júri. Em março <strong>de</strong> 1969 a TV Tupi do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, presenteou <strong>Maysa</strong> com um programa exclusivo no horário nobre. O programa se<br />
chamou “<strong>Maysa</strong> Especial” e era exibido nas noites <strong>de</strong> sábado, às 20h 15, com a apresentação<br />
fixa do ator Ìtalo Rossi e direção <strong>de</strong> Carlos Alberto Loffler. <strong>Maysa</strong> que era muito tímida, se<br />
benzia e acendia cigarros, antes <strong>de</strong> entrar para cantar. Nessa mesma época ela começou a<br />
fazer sessões <strong>de</strong> psicanálise.<br />
<strong>Maysa</strong> se apresentou no Canecão durante dois meses, com um público espectador <strong>de</strong><br />
mil pessoas por noite. O disco <strong>de</strong>ste show foi consi<strong>de</strong>rado um dos mais sofisticados e<br />
musicalmente <strong>de</strong>licados <strong>de</strong> toda a sua carreira e saiu pela Copacabana. Trazia na capa uma<br />
foto em preto e branco <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> e Jayme, o menino então com 13 anos e ainda aluno do<br />
colégio interno espanhol. Essa foto, ao lado do filho foi feita para mostrar o lado mãe <strong>de</strong><br />
<strong>Maysa</strong> numa tentativa <strong>de</strong> limpar a barra da cantora pela vida <strong>de</strong>sregrada que levava.<br />
Augusto Marzagão, criador do Festival Internacional da Canção (FIC), foi à casa <strong>de</strong><br />
<strong>Maysa</strong> para convencê-la a participar da quarta edição do FIC, que ocorreria no final <strong>de</strong><br />
setembro ou começo <strong>de</strong> outubro daquele ano.<br />
Em agosto <strong>de</strong> 1970, <strong>Maysa</strong>, aceita ser repórter, estando somente há três meses na TV<br />
Record participando da edição do Programa “Dia D”, ela conseguiu um furo histórico: cobrir<br />
o julgamento <strong>de</strong> Charles Manson, que se auto proclamava a reencarnação do Messias e<br />
li<strong>de</strong>rava uma comunida<strong>de</strong> alternativa que praticava sexo grupal e incentivava o uso <strong>de</strong><br />
drogas. <strong>Maysa</strong> entrevista o advogado <strong>de</strong> Manson e protagoniza um fiasco diante das câmeras,<br />
ao vivo, quando pe<strong>de</strong> ao advogado que fale sobre o caso. Ela não preparara nenhuma<br />
pergunta sobre o caso e o advogado a repreen<strong>de</strong> frente às câmeras. Ela diz mais tar<strong>de</strong> que<br />
queria morrer quando viu o vi<strong>de</strong>oteipe da entrevista.<br />
Após o fiasco como repórter, <strong>Maysa</strong>, numa entrevista ao Jornal do Brasil, confessa<br />
que gostaria muito <strong>de</strong> ser atriz.<br />
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Ainda em 1970, em uma turnê pelo México, foi convidada pelo produtor e diretor<br />
Ernesto Abonso, para participar <strong>de</strong> seu próximo trabalho. Isso tudo, ren<strong>de</strong>ra-lhe capas e<br />
pôsteres <strong>de</strong> revistas, além <strong>de</strong> extensas reportagens nas páginas dos jornais mexicanos. Ao<br />
retornar do México, <strong>Maysa</strong> se <strong>de</strong>senten<strong>de</strong> profissionalmente com Bôscoli, ela havia fechado<br />
um contrato com Miéle e Bôscoli para um show no Teatro da Praia. As inúmeras adiações<br />
do show, fez <strong>Maysa</strong> riscar o show do seu ca<strong>de</strong>rno e acertar contrato <strong>de</strong> uma temporada no<br />
Canecão com um show dirigido por Wilton Franco sob a regência musical <strong>de</strong> Luizinho Eça.<br />
Ronaldo Bôscoli foi aos jornais, ameaçando processar <strong>Maysa</strong> por quebra <strong>de</strong> contrato,<br />
acusando-a <strong>de</strong> lhe dar um cano homérico, <strong>de</strong>ixando-o com um bruto prejuízo nas mãos, pois<br />
arrendara o teatro e, sem show, ficaria inadimplente. A mídia, que tinha ficado um bom<br />
tempo sem perturbá-la, caiu em cima <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. Só que <strong>Maysa</strong> começou a se encher, ficou<br />
com raiva do pessoal da mídia.<br />
Nesse ínterim, o filho <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>, Jayme, então com 14 anos, <strong>de</strong>ixou o colégio interno<br />
na Espanha e retornou ao Brasil. Do aeroporto, Jayme foi para o apartamento da mãe, visto<br />
que ela não foi buscá-lo. O rapaz surpreen<strong>de</strong>u a mãe ao dizer-lhe que não voltaria para a<br />
Espanha e que moraria sozinho, no prédio em que morava seu tio, Cibidinho. <strong>Maysa</strong>, disse-<br />
lhe que não contasse com sua ajuda financeira e ele respon<strong>de</strong>u que tinha o dinheiro da<br />
herança que seu pai lhe <strong>de</strong>ixara.<br />
A relação <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> com o filho, não era a mais harmoniosa possível, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno<br />
ele fora criado pelos avôs e <strong>de</strong>pois encaminhado para um colégio interno. Foram poucos os<br />
anos em que <strong>Maysa</strong> e Jayme viveram juntos. No casamento do filho, o qual <strong>Maysa</strong> era<br />
contra, ela apareceu com um vestido vermelho berrante e calçou sapatos enormes com salto<br />
plataforma para po<strong>de</strong>r olhar a família do ex-marido por cima <strong>de</strong> suas cabeças. Ao partirem<br />
para a lua <strong>de</strong> mel, <strong>Maysa</strong> acompanhou o casal até o aeroporto, on<strong>de</strong> tomaram a escada rolante<br />
a caminho da sala <strong>de</strong> embarque, trocaram abraços e <strong>Maysa</strong> ficou lá embaixo, olhando<br />
fixamente para eles, e Jayme via sua mãe cada vez mais longe, até <strong>de</strong>saparecer do campo <strong>de</strong><br />
visão. Assim mãe e filho nunca mais voltaram a se verem.<br />
<strong>Maysa</strong> continuava sua vida e seus casos amorosos. Nessa época ela se envolveu com<br />
um dos câmeras do Programa dia D, Laerte, o relacionamento teve um fim trágico. Em 9 <strong>de</strong><br />
outubro <strong>de</strong> 1970, Laerte morreu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tomar um coquetel alucinógeno, misturando<br />
àlcool e os comprimidos para emagrecer <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. <strong>Maysa</strong> ficou muito mal.<br />
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Nesse mesmo ano, <strong>Maysa</strong>, lançou um disco, chamado “Ando só numa multidões <strong>de</strong><br />
amores”, pela Philips, era um assumido recuo <strong>de</strong> tempo para <strong>Maysa</strong>, que estava com<br />
sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> si mesma.<br />
<strong>Maysa</strong> recebeu um convite da Re<strong>de</strong> Globo para cantar no programa Som Livre,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> esbravejar, impôs uma condição: só aceitaria se tivesse um papel na próxima<br />
telenovela. Falou <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira e o pedido tornou-se real.<br />
Fez também um retoque no rosto na clínica do médico Ivo Pitanguy para melhor<br />
aparecer no ví<strong>de</strong>o. A personagem <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> chamava-se Simone e tinha uma história<br />
semelhante a sua, era casada com um industrial, estava cansada da vida <strong>de</strong> socialite e<br />
abandona o marido, trocando São Paulo pelo Rio. Essa novela passava às 22 horas, chamou-<br />
se “ O Cafona”, ficou em cartaz entre março e outubro <strong>de</strong> 1971, com direção <strong>de</strong> Daniel Filho<br />
e Walter Campos.<br />
<strong>Maysa</strong> também <strong>de</strong>scobriu um novo mundo para ela, o teatro, e tornou-se protagonista<br />
do espetáculo Woyzeck, on<strong>de</strong> era Maria, a mulher <strong>de</strong> Franz Woyzeck, um barbeiro e soldado<br />
atormentado pela miséria e pela loucura. A peça foi encenada no teatro Casa Gran<strong>de</strong> e a<br />
própria <strong>Maysa</strong> bancou o espetáculo do autor alemão Georg Büchner, vindo a ser seu segundo<br />
fracasso como produtora. O espetáculo não seguiu em frente, porque não daria o retorno<br />
financeiro a altura do investimento e da história contada. O insucesso <strong>de</strong> Woyzeck abriu um<br />
rombo irrecuperável em sua conta bancária, mas ela não <strong>de</strong>sistiu da carreira <strong>de</strong> atriz. Em<br />
junho, a TV Tupi a chamou para fazer a telenovela “ Bel-Ami”. Nessa novela, <strong>Maysa</strong> fez o<br />
papel <strong>de</strong> Maricá, uma mulher caprichosa e endinheirada que ajudava o protagonista a subir<br />
na vida, um alpinista social e mau-caráter, que se torna colunista <strong>de</strong> jornal. Com a<br />
insatisfação da qualida<strong>de</strong> do trabalho, esqueceu a lista <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos daquele tempo e resolveu<br />
construir uma casa na praia <strong>de</strong> Maricá, há 65 quilômetros do Rio <strong>de</strong> Janeiro, e que seria o seu<br />
refúgio.<br />
Em 1972, <strong>Maysa</strong> conheceu Carlos Alberto, nos corredores da TV Tupi, o galã da<br />
novela das sete, tendo um caso amoroso com ele, ainda vivendo com Miguel Azanza <strong>de</strong><br />
quem se separaria em seguida.<br />
Carlos Alberto tivera uma história <strong>de</strong> casamentos fracassado igual a <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>. Tendo<br />
sido pai <strong>de</strong> dois filhos, cujas mães levaram embora, não permitindo contato com os mesmos.<br />
<strong>Maysa</strong>, por estar feliz com o término <strong>de</strong> seu casamento, resolveu viajar com a amiga<br />
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Naíla, esposa <strong>de</strong> Guto Graça Melo, que fizera a percussão do show do Number One. Foram<br />
para Londres, passearam por Madri, visitaram Oren Wa<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois seguiram para Paris.<br />
Nesse período <strong>Maysa</strong> voltou a beber muito e brigou com Naíla, <strong>de</strong>ixando-a em Paris.<br />
<strong>Maysa</strong> estava agressiva, gritava e dizia estar grávida. Coisa impossível <strong>de</strong> acontecer, pois<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o parto <strong>de</strong> Jayme, <strong>Maysa</strong> não podia mais ter filhos, <strong>de</strong>vido a complicações no pós-<br />
operatório da cesariana a <strong>de</strong>ixariam estéril causando-lhe obstrução <strong>de</strong>finitiva nas trompas.<br />
Apesar dos problemas, elas viveram suas aventuras em Londres, quando <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> pagar<br />
a hospedagem, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> atear fogo no quarto com os cigarros <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>.<br />
A temporada na Boate Di Mônaco em São Paulo foi interrompida em 12 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1972, três dias antes do previsto em contrato, pois <strong>Maysa</strong> foi internada às pressas no Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, por motivos nebulosos. O diagnóstico foi dado como laringite, uma suposta<br />
complicação da gripe mal curada que provocara o adiamento da estréia. Disseram também<br />
que fora vítima <strong>de</strong> uma forte crise renal, outras versões relataram uma inflamação no<br />
calcanhar. O motivo real <strong>de</strong> sua internação foi para um tratamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintoxicação<br />
alcoólica.<br />
Em 1972, <strong>Maysa</strong> manifesta o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> voltar a estudar. Faria o exame supletivo ou<br />
Artigo 99, para <strong>de</strong>pois prestar vestibular para medicina ou jornalismo e nesse mesmo período<br />
montaria a peça “Entre quatro pare<strong>de</strong>s”, do existencialista francês Jean Paul Sartre. Abriu um<br />
brechó, um dos primeiros brechós brasileiros, o “Malé Lixo”, em Copacabana, no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro.<br />
<strong>Maysa</strong> e Carlos Alberto moraram cerca <strong>de</strong> 1 mês em Belo Horizonte, “idéia” que<br />
tivera quando passeavam nas cida<strong>de</strong>s históricas <strong>de</strong> Minas. Só voltaram para o Rio, porque<br />
<strong>Maysa</strong> fora alvo <strong>de</strong> fofoca que a <strong>de</strong>ixaram muito irritada e fez retornar ao Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Pela primeira vez na vida, <strong>Maysa</strong>, fez um jornal, no caso O Globo publicar uma nota<br />
dizendo que aquilo que estavam publicando sobre ela, não tinha data, hora e local e que<br />
aquela manchete não era verda<strong>de</strong>ira, não podia ser comprovada. Era o dito pelo jornal e o<br />
não dito por <strong>Maysa</strong>.<br />
Em 1973, <strong>Maysa</strong> e Carlos Alberto foram para Maricá, on<strong>de</strong> ficaram por um bom<br />
tempo naquele refúgio, e a mesma crescendo <strong>de</strong>vido a sua construção. Na região não chegara<br />
ainda a luz elétrica, para se ter idéia da imensidão do refúgio. Naquele ano <strong>Maysa</strong> disse em<br />
entrevista a revista “A Cigarra” que: “bom é não ter hora para nada, é acordar <strong>de</strong> manhã<br />
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com os passarinhos cantando, é praia, é peixe tirado na hora, é viver no mar, porque eu sem<br />
mar não sou gente. Mesmo na minha época <strong>de</strong> zorra, eu tomava meu pileque, mas às sete da<br />
manhã estava na praia curtindo o porre ou começando outro. Eu tenho a impressão <strong>de</strong> que<br />
vivi esta vida, aquela fase <strong>de</strong> zorra é como se nunca tivesse existido. Não estou dando uma<br />
<strong>de</strong> me isolar do mundo, é tudo tão mais completo, tão maior, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma vitalida<strong>de</strong> que o<br />
sol dá. Não sei bem explicar o que faço. Leio pra burro, pinto, ouço música, vivo.”<br />
Quando o repórter quis saber se ela tinha religião, ela disse, não, para ela a filosofia<br />
<strong>de</strong> vida era Rosa Cruz, ela acreditava no Karma, profundamente.<br />
A idéia <strong>de</strong> maternida<strong>de</strong> para <strong>Maysa</strong>, transformou-se em obsessão. Em maio <strong>de</strong> 1973,<br />
anunciou publicamente que estava grávida, posando para a revista Sétimo Céu ao lado <strong>de</strong><br />
Carlos Alberto, exibindo roupinhas do enxoval do bebê. Tinha certeza <strong>de</strong> que seria uma<br />
menina e já escolhera o nome para ela: “Vida”. Semanas <strong>de</strong>pois, mandou avisar à imprensa<br />
que per<strong>de</strong>ra o bebê. Nas duas vezes que sua cunhada Dora <strong>Monjardim</strong> teve filhos, um <strong>de</strong>les<br />
uma menina chamada <strong>Maysa</strong> em sua homenagem. <strong>Maysa</strong> disse à Dora:<br />
“ - Você é quem teve o bebê, mas a criança vai ser minha filha, ainda que indiretamente.”<br />
Quando a filha <strong>de</strong> Naíla e Guto Graça Melo nasceu, <strong>Maysa</strong> ficou irritada em saber<br />
que a madrinha seria Marília Pêra e não ela. Com esse fato <strong>Maysa</strong> rompeu ligações com<br />
Guto.<br />
Nos primeiros meses <strong>de</strong> 1974, lançaria um novo disco, que seria o último <strong>de</strong> sua<br />
carreira. Este LP representava para <strong>Maysa</strong> a sua nova maneira <strong>de</strong> cantar e a sua verda<strong>de</strong>ira<br />
maneira <strong>de</strong> ser, o produtor foi Aloysio <strong>de</strong> Oliveira. No mesmo ano, em uma entrevista que<br />
<strong>Maysa</strong> conce<strong>de</strong>ra ao Jornal do Brasil, ela disse: “Sofro <strong>de</strong> solidão, sou uma romântica.” Esta<br />
entrevista foi concedida em uma época em que <strong>Maysa</strong> estava amadurecida, em que só dava<br />
entrevista <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> analisar se queria, só recebia em sua casa se valesse a pena estar lá.<br />
Carlos Alberto recebeu o convite <strong>de</strong> Janete Clair para ser protagonista da telenovela<br />
das sete na Globo “Bravo!” Analisou a proposta juntamente com sua mulher,<strong>Maysa</strong>, pois a<br />
nova novela os colocaria aos dois em evidência e no alvo da fofoca. Dito e feito, ele aceitou<br />
a proposta e viraram alvos <strong>de</strong> fofoca. Os jornais diziam que o relacionamento tinha acabado e<br />
era mentira. <strong>Maysa</strong> estava pela primeira vez amando e com paz interior.<br />
Em julho <strong>de</strong> 1975, <strong>Maysa</strong> disse em uma entrevista que <strong>de</strong>u para revista Ele & Ela que<br />
seu relacionamento com Carlos Alberto não estava bem, disse também que apesar das<br />
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sessões <strong>de</strong> análise, acordava sempre angustiada, com as mãos frias e com o <strong>de</strong>sespero<br />
cravado no peito, sem nenhuma explicação plausível. Revelaria que continuava a beber, só<br />
que não em público e sim na sua casa. Nessa mesma época, o coração <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> ficou<br />
dividido entre Carlos Alberto e Júlio Medaglia, autor da música tema da novela Bravo,os<br />
dois eram diferentes, embora sedutores. Carlos Alberto para <strong>Maysa</strong> era o seu porto seguro, a<br />
vida serena <strong>de</strong> Maricá e Júlio era o artista da música, uma presença marcante, como a<br />
lembrar-lhe a todo instante a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma retomada <strong>de</strong> carreira.<br />
<strong>Maysa</strong>, a partir do dia 18 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1975, uma terça feira, se apresentaria na<br />
boate Igrejinha em São Paulo, em um show dirigido pelo dramaturgo, jornalista e psiquiatra<br />
Roberto Freire. Esta seria sua última temporada <strong>de</strong> shows.<br />
Pink Wainer, filha <strong>de</strong> Danuza Leão e Samuel Wainer, entrevistou <strong>Maysa</strong> em seu<br />
apartamento <strong>de</strong> Copacabana, para um programa <strong>de</strong> televisão que iria ao ar aos sábados, na<br />
TV Ban<strong>de</strong>irantes e que tinha o objetivo <strong>de</strong> fazer um histórico da vida do entrevistado, Pink<br />
contou que <strong>Maysa</strong> fora agressiva em seu bate papo, e que houve apenas um momento <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sconcentração quando <strong>Maysa</strong> ofereceu uísque ao seu cachorrinho basset em um copo<br />
longo, e o mesmo enfiou o focinho comprido que se ajustava perfeitamente ao formato do<br />
copo e bebeu junto com ela. Pink revelou mais tar<strong>de</strong> ter tido medo <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>.<br />
Depois da temporada no Igrejinha, <strong>Maysa</strong> internou-se em uma clínica para introduzir<br />
no corpo uma pastilha <strong>de</strong> Antabuse, uma substância química utilizada para o tratamento do<br />
alcoolismo crônico, em alguns casos o uso <strong>de</strong> álcool nesse tratamento po<strong>de</strong> levar a morte. A<br />
substância não eliminaria o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> beber, mas o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ficar bem <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> estava feito<br />
em sua mente.<br />
Dia 22 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1977, <strong>Maysa</strong>, levantou da cama pela última vez, particularmente<br />
amorosa. Era sábado, antes <strong>de</strong> seguir viagem para Maricá, resolvera almoçar com os pais,<br />
que tinham trocado havia pouco tempo São Paulo pelo Rio <strong>de</strong> Janeiro. Levou consigo o seu<br />
passarinho <strong>de</strong> estimação, e ao encontrar os pais, pediu que cuidassem <strong>de</strong>le por uns dias.<br />
Depois do almoço, recostou-se ao lado do pai no sofá, <strong>de</strong>u-lhe um beijo e <strong>de</strong>itou a cabeça em<br />
seu colo,dizendo:- “Monja eu te amo.” repetiu o mesmo gesto e a mesma frase para Inah.<br />
Monja notou a filha com ar <strong>de</strong> cansada, <strong>Maysa</strong> andava mesmo varando noites em claro, um<br />
dos resultados dos remédios que tomava para emagrecer era a terrível a insônia que a<br />
perseguia nos últimos meses. <strong>Maysa</strong>, trocara o efeito da bebida por doses excessivas <strong>de</strong><br />
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medicamentos, que lhe causavam vertigens e tonturas, passou a ingerir compulsivamente<br />
comprimidos <strong>de</strong> Minifage, inibidor <strong>de</strong> apetite que provocava vista turva e <strong>de</strong>pendência<br />
química, e Lasix, um remédio para insuficiência renal que tinha efeito diurético,eliminador<br />
<strong>de</strong> líquidos, portanto, peso.Por causa dos efeitos do remédio, <strong>Maysa</strong>, tinha surtos <strong>de</strong><br />
embotamentos e <strong>de</strong>lírios.<br />
Monja recomendou à filha que não enfrentasse a estrada para Maricá naquele estado<br />
e que o melhor seria dormir ali no sábado e no domingo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> acordar mais disposta,<br />
pegar o rumo da praia. A filha não <strong>de</strong>u ouvidos aos conselhos paternos.<br />
<strong>Maysa</strong> dirigiu-se em sua Brasília a sua casa em Maricá, passando pela ponte que liga<br />
o Rio a Niterói. Ela corria a mais <strong>de</strong> cem quilômetros por hora. E trafegava com o vidro<br />
esquerdo, ao lado do volante totalmente aberto. O vidro da direita, fechado. Essa<br />
configuração dos vidros provocou um forte vácuo no interior da Brasília e comprometeu sua<br />
estabilida<strong>de</strong>. E foi assim que às 17h50, quando o carro alcançou o décimo ponto em que a<br />
mureta <strong>de</strong> concreto que divi<strong>de</strong> os dois sentidos da ponte dá lugar a um cabo <strong>de</strong> aço para<br />
tornar possível o retorno em casos <strong>de</strong> emergência, exatamente ali, <strong>Maysa</strong> tentou <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong><br />
outro veículo e foi atingida por uma rajada <strong>de</strong> vento forte, algo comum àquela hora do dia<br />
sobre a ponte, que a fez per<strong>de</strong>r o controle do automóvel chocando-se contra o cabo <strong>de</strong> aço,<br />
para em seguida, bater <strong>de</strong> frente com violência na quina <strong>de</strong> concreto armado on<strong>de</strong><br />
recomeçava a mureta. O capô do carro invadiu a cabine e o veículo ainda rodopiou pela pista,<br />
batendo os dois lados no muro <strong>de</strong> proteção. A frente da Brasília azul transformou-se em um<br />
amontoado <strong>de</strong> ferros retorcidos. Com a intensida<strong>de</strong> da batida, o volante foi parar na altura do<br />
banco traseiro. <strong>Maysa</strong> sofreu afundamento <strong>de</strong> tórax, costelas quebradas, lesões na cabeça e<br />
múltiplas fraturas expostas espalhadas pelas pernas e pelos braços, morrendo antes da<br />
chegada do resgate. Seu caixão foi lacrado e seu corpo coberto inteiramente por rosas<br />
vermelhas. <strong>Maysa</strong> foi enterrada no jazigo perpétuo 245-c na quadra 30 do São João Batista,<br />
às 13h30.<br />
O filho <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>, Jayme, recebeu a noticia da morte da mãe pelo rádio. Ele se<br />
encontrava numa fazenda <strong>de</strong> um amigo e acabara <strong>de</strong> voltar <strong>de</strong> sua lua <strong>de</strong> mel, quando <strong>de</strong><br />
repente ouviu uma das músicas <strong>de</strong> sua mãe tocando no rádio, então houve uma interrupção e<br />
o locutor comunicou o falecimento <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong>.<br />
35
<strong>1.</strong>1 Discografia e trabalhos<br />
LPs e CDs:<br />
● Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> – lançado também em Cd no Japão.<br />
● <strong>Maysa</strong> – lançado também em Cd no Japão.<br />
● Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> N° 2 - lançado também em Cd no Japão.<br />
● Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> N° 3.<br />
● Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> N° 4.<br />
● <strong>Maysa</strong> é <strong>Maysa</strong> ... è <strong>Maysa</strong>, é <strong>Maysa</strong>!<br />
● Voltei.<br />
● <strong>Maysa</strong> canta sucessos.<br />
● <strong>Maysa</strong> e os gran<strong>de</strong>s sucessos – Reedição do LP <strong>Maysa</strong> é <strong>Maysa</strong> ... È <strong>Maysa</strong>, é <strong>Maysa</strong>!,<br />
<strong>de</strong> 1959.<br />
● <strong>Maysa</strong> sings songs before dawn.<br />
● <strong>Maysa</strong> – Argentina (1961) - Reedição <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> sings songs before dawn, sendo as<br />
músicas dispostas em or<strong>de</strong>m diferente e com títulos traduzidos para o espanhol.<br />
● <strong>Maysa</strong> – Uruguai (1961) - Reedição <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> sings songs before dawn, sendo as<br />
músicas dispostas em or<strong>de</strong>m diferente e com títulos traduzidos para o espanhol.<br />
● <strong>Maysa</strong> Matarazzo – Peru (1961) - Reedição <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> sings songs before dawn, sendo<br />
as músicas dispostas em or<strong>de</strong>m diferente e com títulos traduzidos para o espanhol.<br />
● <strong>Maysa</strong>, amor... <strong>Maysa</strong> (1961).<br />
● Barquinho (1961).<br />
● Canção do amor mais triste (1962).<br />
● <strong>Maysa</strong>. Lp – 1964 e em Cd pela Polygram em, 1995 e pela Universal em, 2003.<br />
● <strong>Maysa</strong>. Lp – 1966 e em Cd pela BMG em, 1993 e pela RCA em, 2002.<br />
● <strong>Maysa</strong> volume 2 – Reedição do LP <strong>Maysa</strong>, amor... e <strong>Maysa</strong>, <strong>de</strong> 196<strong>1.</strong><br />
● Tempo di samba - Reedição do LP Barqinho, lançado em 196<strong>1.</strong><br />
● <strong>Maysa</strong> - Reedição do LP Canção do amor mais triste, <strong>de</strong> 1962.<br />
● <strong>Maysa</strong> - Lp – Copacabana (1969).<br />
36
● Canecão apresenta <strong>Maysa</strong> (ao vivo) (1969).<br />
● A personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> (1969) – Reedição do LP <strong>Maysa</strong> canta sucessos, <strong>de</strong> 1960.<br />
● Ando só numa multidões <strong>de</strong> amores (1970).<br />
● <strong>Maysa</strong> (1978) - Reedição do LP Ando só numa multidão <strong>de</strong> amores, <strong>de</strong> 1970.<br />
● <strong>Maysa</strong> (1974).<br />
● <strong>Maysa</strong> e os gran<strong>de</strong>s sucessos (1983) - Reedição do LP <strong>Maysa</strong> é <strong>Maysa</strong> ... È <strong>Maysa</strong>, é<br />
<strong>Maysa</strong>!, <strong>de</strong> 1959.<br />
Coletâneas:<br />
● Os gran<strong>de</strong>s sucessos <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> (1969).<br />
● A música <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> (1960).<br />
● Ternura ... é <strong>Maysa</strong> (1965).<br />
● Eu não existo sem você (1969).<br />
● A personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Maysa</strong> (1969)<br />
● Dois na fossa – <strong>Maysa</strong> & Tito Madi ( 1975).<br />
● Para sempre <strong>Maysa</strong> - LP Duplo – 1977.<br />
● Bom é querer bem (1978).<br />
● <strong>Maysa</strong> – Série Retrospecto – Vol.3 – 1979.<br />
● A arte do encontro - Vol.4 <strong>Maysa</strong> e Maria Creuza – 198<strong>1.</strong><br />
● Presença <strong>de</strong> Elis Regina e <strong>Maysa</strong> - LP Duplo – 198<strong>1.</strong><br />
● Convite pra ouvir <strong>Maysa</strong> - LP Duplo – 1988.<br />
● Demais ( 1989).<br />
● Tom Jobim por <strong>Maysa</strong> – Viva <strong>Maysa</strong> (1993).<br />
● Acervo especial – <strong>Maysa</strong> (1993).<br />
● <strong>Maysa</strong> – Cd duplo- 1996.<br />
● Bossa Nova por <strong>Maysa</strong> (1997).<br />
● <strong>Maysa</strong> (1998).<br />
● Bis – <strong>Maysa</strong> (2000).<br />
● Simplesmente <strong>Maysa</strong> – Coletânia com 4 Cds – 2000.<br />
● Quatro em um – Vol 13 – 200<strong>1.</strong><br />
● Retratos – <strong>Maysa</strong> (2004).<br />
● Novo millennium (2005).<br />
37
<strong>Maysa</strong> em sua carreira <strong>de</strong> cantora apresentou-se em diversas casas noturnas <strong>de</strong> São<br />
Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, França, Espanha, Portugal, Uruguai, Paraguai, Argentina, Venezuela,<br />
Colômbia, Estados Unidos e México;<br />
Foi a primeira cantora brasileira a cantar no Japão;<br />
Foi apresentadora <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> TV na extinta TV Rio e em São Paulo na<br />
também extinta TV Record;<br />
Participou <strong>de</strong> vários Festivais da Canção Nacionais e Internacionais;<br />
Participou cantando <strong>de</strong> quatro filmes: Matemática Zero, Amor Dez; O Cantor e o<br />
Milionário; O Batedor <strong>de</strong> Carteiras; e Cameló da Rua Larga;<br />
Apresentou-se em programas <strong>de</strong> rádio e fez comerciais <strong>de</strong> TV;<br />
Escreveu um livro <strong>de</strong> poemas Comigos <strong>de</strong> mim durante uma temporada que passou<br />
em Paris e Portugal e preten<strong>de</strong>u publicá-lo, mas não o fez;<br />
Montou uma produtora <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os a Guelmay, a fusão <strong>de</strong> seu nome com o nome <strong>de</strong><br />
seu namorado na época, Miguel Azanza;<br />
Produziu e protagonizou o espetáculo Woyzeck;<br />
Interpretou seu alterego, uma personagem bêbada, na telenovela O Cafona em 1966;<br />
Participou do júri do Programa Flávio Cavalcanti e também <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> TV<br />
em Los Angeles.<br />
38
2. CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS<br />
Segundo a leitura da biografia da cantora e compositora <strong>Maysa</strong>, po<strong>de</strong>-se levantar os<br />
seguintes sintomas:<br />
<strong>1.</strong> Sentimento <strong>de</strong> abandono;<br />
2. Sentimento <strong>de</strong> vazio;<br />
3. Alcoolismo;<br />
4. Comer compulsivamente;<br />
5. Fumar compulsivamente;<br />
6. Medo <strong>de</strong> abandono;<br />
7. Disforia;<br />
8. Tentativas <strong>de</strong> suicídio;<br />
9. Delírios;<br />
10. Pensamento mágico;<br />
1<strong>1.</strong> Impulsivida<strong>de</strong>;<br />
12. Mentiras;<br />
13. Desvalorização da auto-imagem;<br />
14. Briguenta<br />
15. Instabilida<strong>de</strong> emocional.<br />
39
3. Transtorno <strong>de</strong> Personalida<strong>de</strong>, segundo o DSM-IV:<br />
È um padrão persistente <strong>de</strong> vivência íntima ou comportamento que se <strong>de</strong>svia<br />
acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é generalizado e inflexível, tem<br />
início na adolescência ou no começo da ida<strong>de</strong> adulta, é estável ao longo do tempo e<br />
provoca sofrimento ou prejuízo.<br />
Critérios Diagnósticos para um transtorno <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>:<br />
A. Um padrão persistente <strong>de</strong> vivência íntima ou comportamento que se <strong>de</strong>svia<br />
acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Este padrão se manifesta<br />
em duas ou mais áreas:<br />
- Cognição: modo <strong>de</strong> perceber e interpretar a si mesmo, pessoas e eventos;<br />
- Afetivida<strong>de</strong>: variação, intensida<strong>de</strong>, labilida<strong>de</strong> e a<strong>de</strong>quação a resposta normal;<br />
- Funcionamento interpessoal;<br />
- Controle dos impulsos;<br />
B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma ampla faixa <strong>de</strong> situações pessoais e<br />
sociais;<br />
C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no<br />
funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do<br />
individuo;<br />
D. Padrão é estável e <strong>de</strong> longa duração, po<strong>de</strong>ndo seu início remontar a adolescência ou<br />
começo da ida<strong>de</strong> adulta;<br />
E. O padrão persistente não é mais bem explicado como uma manifestação ou<br />
conseqüência <strong>de</strong> outro transtorno mental;<br />
F. O padrão persistente não é <strong>de</strong>corrente dos efeitos fisiológicos diretos <strong>de</strong> uma<br />
substância (drogas, medicação) ou condição médica geral.<br />
40
Grupo B: Dramáticos, emotivos ou imprevisíveis.<br />
Transtorno <strong>de</strong> Personalida<strong>de</strong> Bor<strong>de</strong>rline: é um padrão <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> nos<br />
relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, bem como <strong>de</strong> acentuada<br />
impulsivida<strong>de</strong>. Ocorre:<br />
• Com maior freqüência em mulheres;<br />
• Ten<strong>de</strong> a se tornar menos evi<strong>de</strong>nte ou apresenta remissão com a ida<strong>de</strong>.<br />
Transtorno <strong>de</strong> Personalida<strong>de</strong> Bor<strong>de</strong>rline<br />
Critérios Diagnósticos: Um padrão global <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> dos relacionamentos<br />
interpessoais, da auto-imagem e dos afetos e acentuada impulsivida<strong>de</strong>, que se manifesta<br />
no início da ida<strong>de</strong> adulta e está presente em uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> contextos, indicado por,<br />
no mínimo, cinco dos seguintes critérios:<br />
(1) Esforços frenéticos no sentido <strong>de</strong> evitar um abandono real ou imaginário.<br />
Nota: Não incluir comportamento suicida ou auto mutilante, coberto no Critério 5.<br />
As pessoas acreditam que este abandono implica que eles são maus. Não toleram a<br />
solidão ou abandono e têm a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sempre ter alguém com elas. A percepção do<br />
abandono po<strong>de</strong> ocasionar alterações na auto-imagem, afeto, na cognição e no<br />
comportamento. Para evitar o abandono as pessoas po<strong>de</strong>m apresentar comportamento auto<br />
mutilante ou suicida.<br />
(2) Um padrão <strong>de</strong> relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado<br />
pela alternância entre extremos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alização e <strong>de</strong>svalorização<br />
Po<strong>de</strong>m sentir empatia e carinho por outras pessoas, mas com a expectativa <strong>de</strong> que a<br />
outra pessoa estará disponível para aten<strong>de</strong>r suas necessida<strong>de</strong>s quando bem enten<strong>de</strong>r.<br />
(3) Perturbação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: instabilida<strong>de</strong> acentuada e resistente da auto-<br />
imagem ou do sentimento <strong>de</strong> self.<br />
41
Po<strong>de</strong>m ocorrer mudanças súbitas e dramáticas são observadas na auto-imagem,<br />
mudanças <strong>de</strong> opiniões e planos <strong>de</strong> carreira, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> sexual, valores e tipos <strong>de</strong> amigos.<br />
Esses indivíduos po<strong>de</strong>m apresentar pior <strong>de</strong>sempenho em situações <strong>de</strong> trabalho ou escolares<br />
não estruturados.<br />
(4) Impulsivida<strong>de</strong> em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria<br />
pessoa (por exemplo, gastos financeiros, sexo, abuso <strong>de</strong> substâncias, direção<br />
impru<strong>de</strong>nte, comer compulsivo).<br />
(5) Recorrência <strong>de</strong> comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou <strong>de</strong><br />
comportamento auto mulilante.<br />
Tentativas <strong>de</strong> suicídio são as razões pelos quais eles buscam auxilio, ajuda, são<br />
precipitados por sentimentos <strong>de</strong> rejeição ou separação, ou por expectativas que exigem<br />
maior responsabilida<strong>de</strong>. A automutilação po<strong>de</strong> ocorrer durante experiências dissociativas<br />
trazendo alivio pela reafirmação da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se sentir mal. (perverso)<br />
(6) Instabilida<strong>de</strong> afetiva <strong>de</strong>vido a uma acentuada reativida<strong>de</strong> do humor (por<br />
exemplo, episódios <strong>de</strong> intensa disforia, irritabilida<strong>de</strong> ou ansieda<strong>de</strong> geralmente<br />
durando algumas horas e apenas raramente mais <strong>de</strong> alguns dias).<br />
São perturbados por períodos <strong>de</strong> raiva, pânico, <strong>de</strong>sespero e raramente aliviado por<br />
períodos <strong>de</strong> bem-estar ou satisfação.<br />
(7) Sentimentos crônicos <strong>de</strong> vazio.<br />
Sempre estão procurando algo para fazer.<br />
(8) Raiva ina<strong>de</strong>quada e intensa ou dificulda<strong>de</strong> em controlar a raiva (por exemplo,<br />
<strong>de</strong>monstrações freqüentes <strong>de</strong> irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes)<br />
Exibem sarcasmo, persistente amargura ou explosões verbais. A raiva po<strong>de</strong> vir a<br />
tona quando um cuidador ou amante é visto como negligente, omisso, indiferente ou prestes<br />
a abandoná-la.<br />
42
(9) I<strong>de</strong>ação paranói<strong>de</strong> transitória e relacionada ao estresse ou graves sintomas<br />
dissociativos transitórios (<strong>de</strong>spersonalização).<br />
Características:<br />
- po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver sintomas psicóticos durante períodos <strong>de</strong> estresse (alucinações,<br />
distorções da imagem corporal, idéias <strong>de</strong> referências e fenômenos hipnagógicos);<br />
- po<strong>de</strong>m se sentir mais seguros com objetos transicionais do que relacionamentos (animal<br />
<strong>de</strong> estimação ou posse <strong>de</strong> um objeto inanimado);<br />
- morte prematura por suicídio po<strong>de</strong> ocorrer em indivíduos com este transtorno;<br />
- po<strong>de</strong>m ocorrer <strong>de</strong>ficiências físicas <strong>de</strong>vido aos comportamentos automutilantes ou<br />
tentativas fracassadas <strong>de</strong> suicídio;<br />
- perdas recorrentes <strong>de</strong> empregos, interrupção dos estudos e casamentos rompidos são<br />
comuns;<br />
- abuso físico e sexual, negligência, conflito hostil e perda ou separação parental precoce<br />
são mais comuns na história da infância.<br />
DSM-IV Manual <strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong> transtornos mentais- 4ª ed. Texto Revisado.<br />
Porto Alegre. Artmed, 2003. Tradução Claudia Dornelles<br />
CID-10<br />
Transtorno <strong>de</strong> Personalida<strong>de</strong> com instabilida<strong>de</strong> emocional:<br />
Transtorno <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> é caracterizado por tendências nítidas a agir <strong>de</strong> modo<br />
imprevisível sem consi<strong>de</strong>ração pelas conseqüências, humor imprevisível e caprichoso;<br />
tendência a acessos <strong>de</strong> cólera e uma incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar os comportamentos<br />
impulsivos, tendência a adotar um comportamento briguento e a entrar em conflito com os<br />
outros, particularmente quando os atos impulsivos são contrariados ou censurados. Dois<br />
tipos po<strong>de</strong>m ser distintos: o tipo impulsivo, caracterizado principalmente por uma<br />
instabilida<strong>de</strong> emocional e a falta <strong>de</strong> controle dos impulsos e o tipo “bor<strong>de</strong>rline”,<br />
caracterizado alem disto por perturbações da auto-imagem, do estabelecimento <strong>de</strong> projetos<br />
43
e das preferências pessoais, por uma tendência a adotar um comportamento auto-<strong>de</strong>strutivo,<br />
compreen<strong>de</strong>ndo tentativas <strong>de</strong> suicídio e gestos suicidas.<br />
CID – 10 Classificação Estatística Internacional <strong>de</strong> doenças e problemas<br />
relacionados a Saú<strong>de</strong>- Décima Revisão- Vol. 1- Edusp.<br />
44
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
As características psicológicas i<strong>de</strong>ntificadas sugerem o Transtorno <strong>de</strong> Personalida<strong>de</strong><br />
Bor<strong>de</strong>rline, por apresentar os seguintes sintomas: sentimento <strong>de</strong> vazio, medo <strong>de</strong><br />
abandono, <strong>de</strong>svalorização da auto-imagem, impulsivida<strong>de</strong>, compulsão alimentar,<br />
disforia, alcoolismo, compulsão por fumar, instabilida<strong>de</strong> emocional, <strong>de</strong>lírio,<br />
comportamento automutilante e tentativas <strong>de</strong> suicídio.<br />
Indivíduos com esse histórico, relatado nos dois mais importantes manuais <strong>de</strong><br />
referência em doenças psiquiátricas, o Manual Diagnóstico e Estatístico <strong>de</strong> Transtornos<br />
Mentais – Versão IV (DSM IV) e a Classificação Internacional <strong>de</strong> Doenças – Versão 10<br />
(CID-10), apresentam em suas histórias <strong>de</strong> vida uma falha no <strong>de</strong>senvolvimento afetivo com<br />
os pais, retiramento emocional <strong>de</strong>stes ou separação.<br />
Segundo Bowlby, “ as crianças que formam um vínculo <strong>de</strong> apego com um adulto –<br />
ou seja, um relacionamento sócio-emocional duradouro tem mais possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
sobreviver”.<br />
• Crianças que <strong>de</strong>senvolveram vínculos seguros constroem amiza<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
melhor qualida<strong>de</strong> e apresentam menos conflitos com seus colegas do que<br />
crianças que com vínculos inseguros (Liebermann, Doyle Er Markiewicz)<br />
apud Kail, 2004.<br />
• Crianças em ida<strong>de</strong> escolar têm menor tendência <strong>de</strong> apresentar problemas<br />
comportamentais se formaram vínculos seguros, e maior tendência se<br />
formaram vínculos inseguros (Carlson, 1998; Wakschlags E Hans, 1999)<br />
apud Kail, 2004.<br />
• É evi<strong>de</strong>nte que o vínculo seguro promove a confiança nos outros seres<br />
humanos, o que leva a interações sociais melhores posteriormente ”( Kail<br />
2004).<br />
A teoria <strong>de</strong> Bowlby confirmada pelos <strong>de</strong>mais citados acima, explica <strong>de</strong> certa forma<br />
os problemas enfrentados por <strong>Maysa</strong>. É provável que quando bebê o vínculo criado com a<br />
mãe, que acompanhava o marido em suas noitadas, ou qualquer outra figura parental tenha<br />
45
sido inseguro, frágil, levando a <strong>de</strong>sconfiança no outro e mais tar<strong>de</strong> a não criação <strong>de</strong> vínculo,<br />
com seus parceiros, amigo e inclusive com seu próprio filho.<br />
<strong>Maysa</strong>, não teve uma convivência muito convencional com os pais. Ainda criança,<br />
tinha dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se encontrar com os pais. Estavam sempre dormindo quando ela saia<br />
para a escola e já não estavam em casa quando retornava, <strong>de</strong>vido à vida boêmia que<br />
levavam. Recebeu tratamento muito distante emocionalmente e inconsistente por parte do<br />
pai e principalmente por parte da mãe, chegando a ficar impossibilitada <strong>de</strong> ir a escola por 3<br />
dias porque não conseguiu encontrar os pais para assinarem uma advertência em sua<br />
ca<strong>de</strong>rneta escolar, fruto <strong>de</strong> suas peraltices. A confirmação <strong>de</strong>sse retiramento emocional por<br />
parte dos pais se dá quando eles a enviam a um colégio interno.<br />
(1) Esforços frenéticos no sentido <strong>de</strong> evitar um abandono real ou<br />
imaginário, nessa fase, a menina <strong>de</strong>monstra o medo do abandono ao pedir a mãe que lhe<br />
traga um vidrinho com o seu perfume na próxima visita. <strong>Maysa</strong> <strong>de</strong>rramava o perfume no<br />
travesseiro para dormir sentindo o cheiro da mãe todas as noites. É evi<strong>de</strong>nte o sentimento<br />
<strong>de</strong> abandono.<br />
Já adulta, o pavor <strong>de</strong> ficar sozinha (apego inseguro), levava <strong>Maysa</strong> a passar trotes<br />
por telefone só para ter com quem conversar altas horas da noite.<br />
(4) Impulsivida<strong>de</strong> em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à<br />
própria pessoa (por exemplo, gastos financeiros, sexo, abuso <strong>de</strong> substâncias, direção<br />
impru<strong>de</strong>nte, comer compulsivo), a adolescência é marcada por comportamentos<br />
rebel<strong>de</strong>s, saía para a escola sem o uniforme e vestida como uma mulher adulta, com saltos<br />
altíssimos, maquiagem e exibindo um cigarro entre os <strong>de</strong>dos. Na mesma época começam os<br />
problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m alimentar e o sobrepeso a compulsão por fumar, ter diversos<br />
namorados e mais tar<strong>de</strong> já ida<strong>de</strong> adulta, o abuso constante <strong>de</strong> álcool.<br />
(7) Sentimentos crônicos <strong>de</strong> vazio. Sempre estão procurando algo para fazer. A<br />
impulsivida<strong>de</strong> e os sentimentos crônicos <strong>de</strong> ina<strong>de</strong>quação comprometem sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vida pelo comportamento <strong>de</strong> risco que adota com a direção impru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> veículo, jogando<br />
até per<strong>de</strong>r todo o dinheiro <strong>de</strong> que dispunha para a viagem, inclusive o colar <strong>de</strong> pérolas que<br />
46
trazia no pescoço, se relacionando com qualquer um, como em Paris durante uma<br />
temporada em que esteve por lá e passava as noites em companhia <strong>de</strong> mendigos, rufiões e<br />
prostitutas, sendo inclusive presa por diversas vezes ou encontrada pela polícia francesa<br />
completamente embriagada, época em que se encontrava com mais <strong>de</strong> 100 Kg <strong>de</strong> peso.<br />
(3) Perturbação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: instabilida<strong>de</strong> acentuada e resistente da auto-<br />
imagem ou do sentimento <strong>de</strong> self. A <strong>de</strong>svalorização da própria imagem aparece quando,<br />
criança ainda, vê suas fotos quando bebê e se acha um monstro: com cabeça gran<strong>de</strong>, olhos<br />
gran<strong>de</strong>s e corpo pequetitinho. Mudanças súbitas e dramáticas <strong>de</strong> imagem, ora <strong>de</strong>formada,<br />
obesa e infeliz. Ora magra e contente, foram uma constante. Essas mudanças influíam nas<br />
aspirações que <strong>Maysa</strong> tinha para sua carreira e por isso operava mudanças repentinas em<br />
sua imagem e sua carreira profissional.<br />
O comportamento <strong>de</strong> mentir em diversas entrevistas. Quando da separação do<br />
marido André Matarazzo, ela dá uma entrevista cheia <strong>de</strong> mentiras que é <strong>de</strong>smentida por ela<br />
algumas horas <strong>de</strong>pois. Era constante a mudança <strong>de</strong> valores e mudanças <strong>de</strong> opinião.<br />
(6) Instabilida<strong>de</strong> afetiva <strong>de</strong>vido a uma acentuada reativida<strong>de</strong> do humor (por<br />
exemplo, episódios <strong>de</strong> intensa disforia, irritabilida<strong>de</strong> ou ansieda<strong>de</strong> geralmente<br />
durando algumas horas e apenas raramente mais <strong>de</strong> alguns dias). A instabilida<strong>de</strong><br />
emocional ou oscilação brusca entre emoções como amor e ódio, entre indiferença ou<br />
apatia e o entusiasmo exagerado, alegria efusiva e tristeza profunda, aparece na<br />
incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar o comportamento briguento e entrar em conflito com todo<br />
mundo, particularmente quando seus atos impulsivos não são compreendidos ou seus<br />
<strong>de</strong>sejos são contrariados por alguém. Essas crises <strong>de</strong> fúria e agressivida<strong>de</strong> acontecem <strong>de</strong><br />
forma inesperada, intempestiva e, habitualmente, tem por alvo pessoas do convívio mais<br />
íntimo como pais, irmãos, familiares, amigos, namorados, cônjuges. <strong>Maysa</strong> tem crises<br />
constantes <strong>de</strong> fúria em meio a festas, apresentações em que agri<strong>de</strong> oralmente, fisicamente e<br />
até atirando coisas em cima das pessoas e chegando as via <strong>de</strong> fato com diversos namorados.<br />
Pessoas famosas foram alvo <strong>de</strong> seu sarcasmo, ironias e xingamentos, pontapés, sapatos,<br />
cinzeiros, microfones e garrafas. <strong>Maysa</strong> não tolerava conversas enquanto cantava. Na<br />
47
aceitava servir <strong>de</strong> fundo musical para conversas paralelas, nesse momento todos conheciam<br />
sua fúria.<br />
(5) Recorrência <strong>de</strong> comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou <strong>de</strong><br />
comportamento auto mutilante. Tentativas <strong>de</strong> suicídio são as razões pelos quais eles<br />
buscam auxilio, ajuda, são precipitados por sentimentos <strong>de</strong> rejeição ou separação, ou por<br />
expectativas que exigem maior responsabilida<strong>de</strong>. A automutilação po<strong>de</strong> ocorrer durante<br />
experiências dissociativas trazendo alívio pela reafirmação da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se sentir mal.<br />
(perverso).<br />
O círculo se fecha na adoção <strong>de</strong> um comportamento auto<strong>de</strong>strutivo, automutilante,<br />
compreen<strong>de</strong>ndo as tentativas diversas <strong>de</strong> suicídio. Por ser uma mulher <strong>de</strong>scasada numa<br />
época em que a socieda<strong>de</strong> brasileira não admitia tal avanço, <strong>Maysa</strong> sofreu ataques <strong>de</strong> toda a<br />
imprensa, on<strong>de</strong> foi acusada <strong>de</strong> ter se aproveitado do nome da família Matarazzo, <strong>de</strong> ter se<br />
separado do marido para se autopromover e <strong>de</strong> que sua música “Ouça” seria um plágio. A<br />
bebida que entrara na sua vida na tenra infância, quando após as noitadas que os pais<br />
promoviam em casa, ela bebia os restos dos copos <strong>de</strong> licores dos convidados quando estes<br />
se retiravam, e que retornara na figura <strong>de</strong> dois goles <strong>de</strong> uísque apenas para “dar coragem”<br />
<strong>de</strong> entrar no palco, agora se tornara litros <strong>de</strong> vodca e uísque. Apresentou inúmeros<br />
programas, cambaleante, completamente embriagada. Segurava-se constantemente nas<br />
partes do cenário para não cair e trazia o semblante fechado, carregado <strong>de</strong> amarga ironia.<br />
Faltava aos shows contratados. Foi por isso processada judicialmente por empresários. E<br />
tinha uma simples farra transformada pela imprensa em “bacanal”. Protagonizava<br />
escândalos <strong>de</strong>snecessários como em Três Rios, interior do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
A auto<strong>de</strong>struição e automutilação ficam evi<strong>de</strong>ntes. Essa fase foi responsável por<br />
sua primeira tentativa <strong>de</strong> suicídio. <strong>Maysa</strong> cortou os pulsos pela primeira vez aos 22 anos.<br />
Ela tentou o suicídio por diversas vezes, cortando os pulsos ou misturando remédios às<br />
bebidas alcoólicas. E em algumas <strong>de</strong>ssas tentativas teve o cuidado <strong>de</strong> preparar a cena para<br />
que seu companheiro, Miguel Azanza, a encontrasse sem vida. E se encantava quando após<br />
a crise se dava conta <strong>de</strong> que o companheiro a salvara e se fizera isso é porque a amava. O<br />
medo <strong>de</strong> abandono crônico precisava <strong>de</strong> uma confirmação <strong>de</strong> que era amada pelo<br />
companheiro. Mesmo que para isso precisasse arriscar a própria vida.<br />
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(9) I<strong>de</strong>ação paranói<strong>de</strong> transitória e relacionada ao estresse ou graves sintomas<br />
dissociativos transitórios (<strong>de</strong>spersonalização), <strong>Maysa</strong> confessa numa entrevista que<br />
havia sofrido um princípio <strong>de</strong> Delírio Tremens e que por isso se submetera a um tratamento<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sintoxicação, em Buenos Aires.<br />
A auto<strong>de</strong>struição e automutilação ficam evi<strong>de</strong>ntes. Essa fase foi responsável por<br />
sua primeira tentativa <strong>de</strong> suicídio. <strong>Maysa</strong> cortou os pulsos pela primeira vez aos 22 anos.<br />
Ela tentou o suicídio por diversas vezes, cortando os pulsos ou misturando remédios às<br />
bebidas alcoólicas. E em algumas <strong>de</strong>ssas tentativas teve o cuidado <strong>de</strong> preparar a cena para<br />
que seu companheiro, Miguel Azanza, a encontrasse sem vida. E se encantava quando após<br />
a crise se dava conta <strong>de</strong> que o companheiro a salvara e se fizera isso é porque a amava. O<br />
medo <strong>de</strong> abandono crônico precisava <strong>de</strong> uma confirmação <strong>de</strong> que era amada pelo<br />
companheiro. Mesmo que para isso precisasse arriscar a própria vida.<br />
Embora o indivíduo que apresenta o Transtorno <strong>de</strong> Personalida<strong>de</strong> Bor<strong>de</strong>rline,<br />
mantenha condutas até bastante a<strong>de</strong>quadas em gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> situações, ele tropeça<br />
escandalosamente em certas situações triviais e simples. A característica básica é o humor<br />
imprevisível e caprichoso. O indivíduo não me<strong>de</strong> as conseqüências <strong>de</strong> seus atos, importa-se<br />
em dar vazão à cólera e nada mais, tem como resultantes perdas recorrentes <strong>de</strong> empregos,<br />
interrupção <strong>de</strong> estudos, romances e casamentos rompidos. A vida conjugal com esse<br />
indivíduo po<strong>de</strong> ser muito problemática, pois ao mesmo tempo em que se apegam ao outro e<br />
se confessam <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e carentes <strong>de</strong>sse outro, <strong>de</strong> repente, são capazes <strong>de</strong> maltratá-lo<br />
cruelmente. Patologicamente po<strong>de</strong>-se dizer que os indivíduos portadores <strong>de</strong>sse transtorno<br />
são muito mais complexos que os neuróticos, embora menos perturbados que os psicóticos,<br />
não apresentando <strong>de</strong>formações <strong>de</strong> caráter típicas das personalida<strong>de</strong>s sociopáticas. No<br />
Transtorno <strong>de</strong> Personalida<strong>de</strong> Bor<strong>de</strong>rline os indivíduos são sujeitos a acessos <strong>de</strong> ira ou mau<br />
gênio, em completa ina<strong>de</strong>quação ao estímulo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante.<br />
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
CID – 10 - Classificação Estatística Internacional <strong>de</strong> doenças e problemas relacionados<br />
á Saú<strong>de</strong> - Décima Revisão- Vol. 1- Edusp.<br />
DORNELLES, C. Manual <strong>de</strong> Diagnóstico <strong>de</strong> Transtornos Mentais. 4ª ed. Porto Alegre:<br />
Ed. Artmed, 2003 (DSM-IV)<br />
DSM-IV Manual <strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong> transtornos mentais- 4ª ed. Texto Revisado. Porto<br />
Alegre. Artmed, 2003. Tradução Claudia Dornelles<br />
HOLMES. D.S. Psicologia dos Transtornos Mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Ed. Artmed,<br />
200<strong>1.</strong><br />
KAIL, R. V. A Criança.São Paulo: Prentice Hall, 2004<br />
NETO, L. <strong>Maysa</strong> – Só numa multidão <strong>de</strong> amores. São Paulo: Ed. Globo, 2007.<br />
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