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Maysa Matarazzo - Fmu

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1. BIOGRAFIA<br />

<strong>Maysa</strong> Figueira Monjardim, de tradicional família de classe média alta, era<br />

filha de Alcebíades Guaraná Monjardim (Monja), boêmio, que quando jovem jogou futebol<br />

amador, formado em direito tendo exercido cargo de deputado no Espírito Santo. Monja<br />

pertencia a uma família tradicional italiana onde seus antepassados seguiram a carreira<br />

militar e política. Casou-se com Inah Figueira, bela moça de olhos claros, que havia sido<br />

coroada Miss Vitória, Inah, também pertencia a uma tradicional família do Espírito Santo,<br />

era mestiça de lusitanos com brasileiros.<br />

<strong>Maysa</strong> nasceu no Rio de Janeiro, no dia 6 de junho de 1936, às 11:50 horas,<br />

na casa de seu avô paterno que era médico e ex-senador e fez o parto. O nome de <strong>Maysa</strong> é<br />

uma mescla dos dois primeiros nomes de uma grande amiga de Dona Inah, Maria Luysa.<br />

Seu pai, o popular Monja, tinha muitos amigo no meio mundo artístico do Rio de<br />

Janeiro e São Paulo. Costumava promover noitadas homéricas, em sua casa, regadas a<br />

uísque e muita musica, com presenças quase obrigatórias de artistas como Silvio Caldas e<br />

Elizeth Cardoso. Monja era um hedonista em um clã que se orgulhava da ascendência<br />

histórica e nobre. <strong>Maysa</strong> admirava a total ausência de convencionalismo com que fora<br />

criada.<br />

A fama de Monja era de ser um sujeito amigo do samba e da noite. Seu<br />

sogro não gostou muito do seu cartaz de mulherengo e bom de copo, quando o viu<br />

interessado em sua filha Inah, uma jovem de grande beleza. Monja e Inah fugiram para o<br />

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Rio de Janeiro onde o casamento foi realizado, longe dos olhos e da censura da família da<br />

noiva, que se viu obrigada a aceitar as circunstâncias, depois do fato consumado e<br />

conformou-se em ter como genro um boêmio feito Monja.<br />

Segundo <strong>Maysa</strong> seus pais tinham vida de cigano, pois mudavam de casa com<br />

muita freqüência. O casal que morava em Vitória, mudou-se para Bauru por motivos<br />

políticos e após algum tempo conseguiu transferência para a capital Paulista, porém Monja<br />

e Inah continuaram trocando de endereço, viviam encaixotando e desencaixotando as coisas<br />

para mudança. Oscilavam entre morar em uma bela casa e morar em uma casa mais simples<br />

devido às perdas de dinheiro de Monja em jogatinas. Aos 6 anos, <strong>Maysa</strong> ganhou um irmão<br />

Alcebíades (Cibidinho).<br />

<strong>Maysa</strong> não gostava de ver suas fotos de bebê, ela dizia: “Eu era uma criança<br />

de cabeça grande, de olhos enormes e corpo pequetitinho. Um monstro.” Contradizendo as<br />

fotos.<br />

Chegada a hora de <strong>Maysa</strong> ir para a escola seus pais a matricularam no<br />

Colégio Assunção e em seguida no regime de internato do Sacre Coeur de Marie. Ambas as<br />

escolas eram dirigidas por freiras francesas onde imperava uma rígida disciplina religiosa e<br />

moral. Durante as folgas do colégio, gostava de jogar futebol com os moleques do bairro.<br />

Nunca foi boa aluna e com a chegada da adolescência o problema se agravou, com queixas,<br />

notas ruins, assim os pais a trocaram de escola matriculando-a no Externato Ofélia Fonseca,<br />

no bairro do Pacaembu. <strong>Maysa</strong> foi reprovada no 2 o ano ginasial, porém não ficou<br />

amargurada. No ano seguinte, cursando novamente o 2 o ano ginasial e conseqüentemente<br />

mais velha que as outras meninas, tornou-se uma líder natural do grupo, chamando a<br />

atenção por seu modo de vestir e agir. Segundo um de seus primos, aos 14 anos <strong>Maysa</strong> já<br />

teria tido vários namorados. Nessa época <strong>Maysa</strong> começou a ter seus primeiros<br />

desentendimentos com a balança, de acordo com seus exames médicos escolares, neles<br />

apareciam a tendência a ganhar peso da noite para o dia.<br />

<strong>Maysa</strong> começou a escrever seus diários. Seu quarto era bagunçado, ela era<br />

muito carente e nutria paixão pelo cinema. Adorava se trancar no banheiro e cantar. Aos 12<br />

anos ela compôs a música “Adeus”, depois de uma discussão com os pais:<br />

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Adeus palavra tão corriqueira<br />

Que diz-se a semana inteira<br />

A alguém que se conhece<br />

Adeus logo mais eu telefono<br />

Eu agora estou com sono<br />

Vou dormir pois amanhece<br />

Adeus uma amiga diz à outra<br />

Vou trocar a minha roupa<br />

Logo mais eu vou voltar<br />

Mas quando<br />

Este adeus tem outro gosto<br />

Que só nos causa desgosto<br />

Este adeus você não dá.<br />

Certo dia, aos 15 anos, <strong>Maysa</strong> não vestiu o uniforme comportado da escola,<br />

saia plissada azul-marinho, camisa branca e gravatinha bordada com bolinhas azuis e<br />

vermelhas e sapatos pretos. Vestiu-se com uma blusa de seda cor da pele e com uma saia<br />

preta, acima dos joelhos e aberta nas laterais, onde apenas um broche de cada lado impedia<br />

que suas coxas ficassem totalmente à mostra, e calçou sandálias de saltos altíssimos.<br />

Maquiou-se, entrou no ônibus e se sentou no último banco, abriu a bolsa e tirou um cigarro,<br />

ao chegar na escola foi barrada. A diretora deu-lhe uma advertência na caderneta e disse-<br />

lhe que só entraria no dia seguinte com a caderneta assinada pelos pais. <strong>Maysa</strong> passou três<br />

dias sem ir a aula, pois não encontrava com os pais para assinarem a caderneta, devido a<br />

vida boêmia do pai, que era acompanhada pela mãe, <strong>Maysa</strong> quase não os encontrava,<br />

quando ela saia para a escola os pais ainda se encontravam dormindo e ao chegar da escola<br />

eles nunca estavam.<br />

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<strong>Maysa</strong> estudou piano clássico durante 8 anos. Nessa época era comum as<br />

meninas de famílias tradicionais estudarem piano, porém nunca teve interesse pelo mesmo,<br />

gostava mesmo era de violão, que para as meninas era um instrumento mal visto pela<br />

sociedade.<br />

Certa vez, ao voltar para casa, <strong>Maysa</strong> encostou o nariz no vidro do ônibus<br />

ficou admirando uma mansão na Avenida Paulista e disse para as amigas que um dia iria<br />

morar naquela casa, a mansão dos <strong>Matarazzo</strong>. Os <strong>Matarazzo</strong> eram as pessoas mais ricas do<br />

país naquela época (1951).<br />

Desenhos de <strong>Maysa</strong><br />

Andrea <strong>Matarazzo</strong>, o homem mais rico do país, foi amigo de Monja e<br />

freqüentava a casa dos Monjardim para noitadas habituais de baralho e uísque. <strong>Maysa</strong> e<br />

André, filho de Andrea, se conheceram em Poços de Caldas. <strong>Maysa</strong> posava para uma foto<br />

em uma charrete, com vestido curto e trancinhas, quando André se aproximou e deu-lhe um<br />

beliscão em suas bochechas. Ela tinha 5 anos e ele 22 anos. <strong>Maysa</strong> cresceu vendo André<br />

sentado na sala de sua casa. Os pais de <strong>Maysa</strong> não viram com bons olhos o interesse de<br />

André por <strong>Maysa</strong>, e mandaram-na para a casa da tia em Vitória. Mas de nada adiantou, pois<br />

<strong>Maysa</strong> recebia ligações de André. <strong>Maysa</strong> já estava caidinha por André. Com a segunda<br />

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eprovação consecutiva do 2 o ano ginasial no Ofélia Fonseca, os pais tentaram transferi-la<br />

para o tradicional Colégio Mackenzie, porém o colégio a recusou devido ao seu histórico<br />

escolar. Diante disso <strong>Maysa</strong> desistiu dos estudos não concluindo o ginásio.<br />

André convenceu os pais de <strong>Maysa</strong> de seu real interesse por ela, era sério e<br />

que seria para casar. A diferença de idade entre eles era de 18 anos. Mesmo namorando<br />

André, <strong>Maysa</strong> não deixava de paquerar outros rapazes, o que provocava brigas entre os dois<br />

e <strong>Maysa</strong> acusava André de ser egoísta, em seu diário. Mas ao ficar longe de André, durante<br />

uma viagem dele a Europa, <strong>Maysa</strong> percebe que sente saudade dele. Quando André volta,<br />

<strong>Maysa</strong> faz com que André tome uma decisão quanto ao rumo do namoro que já dura um<br />

ano e meio. Assim, em 24 de janeiro de 1955 eles se casam na Catedral da Sé, <strong>Maysa</strong> tinha<br />

apenas 17 anos. Eles passaram a lua-de-mel na Europa e ao voltarem <strong>Maysa</strong> reclama das<br />

obrigações de mulher casada. Eles vão morar na Mansão dos <strong>Matarazzo</strong>, na Avenida<br />

Paulista, como <strong>Maysa</strong> havia sonhado anos atrás. Como a vida com a família de André não<br />

é nem de longe a vida que ela esperava, <strong>Maysa</strong> se sente entediada. Ela escreve em seu<br />

diário o numero de peças de roupas, bolsas e sapatos que adquire. Ela fica deprimida<br />

devido ao ócio. <strong>Maysa</strong> engravida e no meio da gestação já está pesando cerca de noventa<br />

quilos. Em 19 de maio de 1956 nascia seu único filho Jayme que atualmente é conhecido<br />

por ser diretor de cinema e televisão. Devido a complicações no parto, <strong>Maysa</strong> não poderia<br />

mais engravidar.<br />

Em 1956, ainda durante o período de gravidez, <strong>Maysa</strong> é convidada por Corte-Real<br />

para gravar um disco para a gravadora RGE. André não concorda com a idéia, porém<br />

acabou cedendo para ver sua mulher sorrir novamente, mas fez algumas exigências de que<br />

ela não poder se apresentar como uma cantora profissional e fez com que a renda do disco<br />

fosse doada para o Hospital do Câncer. Outra exigência seria que na capa do LP não fosse<br />

estampada a foto de <strong>Maysa</strong>. Ela espera o bebê nascer para gravar o disco. O lançamento de<br />

“Convite para ouvir <strong>Maysa</strong>” aconteceu no dia 20 de novembro de 1956, seu filho Jayme<br />

tinha então 6 meses.<br />

Em 1957, começaram os desentendimentos entre <strong>Maysa</strong> e André, pois <strong>Maysa</strong> estava<br />

certa de que queria se tornar uma cantora profissional, porém André não concordava com a<br />

opinião da mulher, dizendo que o nome dos <strong>Matarazzo</strong> seria manchado. <strong>Maysa</strong> argumentou<br />

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com André dizendo que de nada adiantara então ter gravado o disco para a arrecadação de<br />

fundos para o hospital do Câncer já que o trabalho não receberia um níquel se quer, pois<br />

ninguém sabia da existência do mesmo, assim André concordou com a divulgação das<br />

músicas de <strong>Maysa</strong> nas rádios, porém iria com ela para o Rio de Janeiro para a apresentação<br />

nas rádios. <strong>Maysa</strong> começou a cantar na Radio Mayrink (Rio de Janeiro) e depois na Rádio<br />

Record em São Paulo. Durante a apresentação da Radio Mayrink <strong>Maysa</strong> viu parte da platéia<br />

indo embora e acreditou que aquilo era uma suposta armação feita pela família do marido,<br />

depois da apresentação <strong>Maysa</strong> disse a André que nada mais seguraria sua carreira nem<br />

mesmo o imenso amor que sentia por ele.<br />

<strong>Maysa</strong> recebeu uma proposta para apresentar um programa semanal de televisão no<br />

canal Record, onde receberia 100 mil cruzeiros mensais. A estréia do programa foi ao ar no<br />

dia 13 de março de 1957, dia 13 porque foi uma exigência feita por <strong>Maysa</strong> por considerar<br />

seu número de sorte e também para neutralizar a obsessão que o dono da emissora tinha<br />

pelo número 7, pois o canal 7 fora inaugurado no dia 27 de setembro e todas as placas dos<br />

carros da emissora terminava obrigatoriamente em 7. Assim surgiram propostas para <strong>Maysa</strong><br />

como entrevistas e shows. André perdeu o controle da situação e deu um ultimato a esposa,<br />

ou ela optava pelo casamento ou pelos microfones e a resposta veio em forma da canção<br />

“Ouça”:<br />

Ouça, vá viver<br />

a sua vida com outro bem,<br />

hoje eu já cansei<br />

de prá você não ser naõ ser ninguém.<br />

O passado não foi o bastante prá lhe convencer<br />

que o futuro seria<br />

bem grande ´só eu e você.<br />

Quando a lembrança com você for morar<br />

e bem baixinho de saudade<br />

você chorar, vai lembrar que um dia existiu um alguém<br />

que só carinho pediu e você fez questão de não dar,<br />

fez questão de negar.<br />

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O casamento com André ainda duraria alguns meses, porém ficava cada vez mais<br />

difícil esconder as desavenças que aconteciam em público, com direito a xingamentos e<br />

pratos voando.<br />

<strong>Maysa</strong> gravou “Ouça” em LP e logo se tornou um hino nacional. <strong>Maysa</strong> recebera a<br />

proposta de uma televisão do Rio de Janeiro para apresentar outro programa de televisão, a<br />

TV Rio, canal 13, número de sorte de <strong>Maysa</strong>. Mesmo com o casamento por um fio, <strong>Maysa</strong><br />

aceitou a proposta e reservou um dinheiro do próprio bolso para pagar as despesas, datam<br />

dessa época o envolvimento de <strong>Maysa</strong> com a bebida, antes de enfrentar os microfones<br />

sempre tomava uma ou duas doses de uísque.<br />

Na infância <strong>Maysa</strong> tinha o hábito de beber os restinhos de licores que ficavam nas<br />

taças depois que as visitas dos pais iam embora.<br />

Em uma de suas primeiras viagens a cidade carioca <strong>Maysa</strong> pediu que o pai, Monja,<br />

levasse um recado a André, disse que nunca mais voltaria a São Paulo. Assim os jornais<br />

aproveitaram a notícia e caíram em cima dos pais de <strong>Maysa</strong> e da própria <strong>Maysa</strong> que acabou<br />

desmentindo a separação e até suspendendo o processo de desquite, <strong>Maysa</strong> chegou a<br />

declarar que tinham feito as pazes, porém na tarde do mesmo dia desmentiu tudo que falara<br />

de manhã, disse que André e ela realmente iriam se separar.<br />

Nesse período (1957), <strong>Maysa</strong> passou a ser muito criticada pela mídia pelo seu jeito<br />

de se vestir, pelas canções que cantava, pela entrevista que não queria dar. Seu jeito de ser<br />

era criticado, nada podia fazer que seu nome já estava estampado nas manchetes dos<br />

jornais, pois no Brasil dos anos 50 a sociedade não aceitava que uma mulher desquitada<br />

cuidasse da própria vida.<br />

Ela continuou com seus programas nas emissoras de televisão.<br />

<strong>Maysa</strong> ficara com a guarda de seu filho, Jayme, que na época estava com 1 ano e 3<br />

meses. Seu filho ficou sob os cuidados dos avos maternos, em São Paulo, enquanto ela<br />

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trabalhava entre o Rio de Janeiro e São Paulo para apresentar seus programas semanais e<br />

fazer alguns shows em boates.<br />

A casa onde <strong>Maysa</strong> fora morar de aluguel era simples, três quartos, sala com poucos<br />

móveis, um quarto onde dormia, outro onde trabalhava e o outro com o berço de Jayme e<br />

armário para roupas.<br />

Separada de André, <strong>Maysa</strong> tentou buscar a felicidade, porém enfrentou seguidas<br />

crises de depressão, o que levou <strong>Maysa</strong> a comer e a beber de forma desregrada, trocava o<br />

dia pela noite. Diante das câmeras chegara a cambalear durante as apresentações de seus<br />

programas, as pequenas doses que a cantora tomava antes das apresentações foram<br />

substituídas por litros de uísque e vodca, “...quando era preciso cumprir alguns<br />

compromissos, bastava aliviar a tensão com alguns drinques” dizia a cantora.<br />

Renovou o contrato com a RGE agora como cantora profissional, pois antes seu<br />

contrato estava como cantora amadora devido às exigências de seu ex-marido. Teve até que<br />

tirar carteira profissional, pois na época se exigia a carteira, mesmo para fins artísticos.<br />

Tem início uma sucessão de escândalos, <strong>Maysa</strong> não compareceu aos shows<br />

agendados nas cidades de Salvador, Aracaju e Fortaleza, o empresário não ficou não só na<br />

ameaça de processá-la. Arrastou <strong>Maysa</strong> aos tribunais, exigindo pagamento de uma<br />

indenização calculada em meio milhão de cruzeiros, porém o caso foi arquivado. <strong>Maysa</strong><br />

disse que o empresário não pagou o adiantamento como estipulado no contrato por isso ela<br />

não compareceu aos shows. Numa viagem de descanso a Três Rios, no interior do Rio de<br />

Janeiro, ela protagoniza um outro escândalo, depois de uns tragos, <strong>Maysa</strong> passou o dia<br />

desfilando num conversível com um vestido roxo e decotado e depois decidiu tomar banho<br />

completamente nua, no rio Paraíba do Sul, escandalizando a pequena cidade.<br />

Logo após o carnaval de 1958, <strong>Maysa</strong> lançou o disco “Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> N o<br />

2”, esse LP incluía a música “Meu mundo Caiu” de autoria da própria cantora.<br />

Meu mundo caiu<br />

E me fez ficar assim<br />

Você conseguiu<br />

E agora diz que tem pena<br />

de mim<br />

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Não sei se explico bem<br />

Eu nada<br />

pedi<br />

Nem a você nem a ninguém<br />

Não fui eu que caí<br />

Sei que você me entendeu<br />

Sei também que não vai se importar<br />

Se o meu mundo caiu<br />

Eu que aprenda a levantar<br />

Nessa época <strong>Maysa</strong> teve um rápido romance com o produtor de programa Carlos<br />

Alberto Loffler. Durante os shows em boates, <strong>Maysa</strong> parava de cantar caso ouvisse alguém<br />

conversando nas mesas, chegou a atirar o microfone e os sapatos na cabeça de um<br />

conversador mais renitente. <strong>Maysa</strong> também perdia a paciência com os fotógrafos e<br />

repórteres e muitas vezes as respostas aos questionamentos deles eram secas.<br />

A gravadora planejou um 3º LP para a cantora, para ser lançado ainda no 2º<br />

semestre de 1958. O LP foi imposto pela gravadora, essa foi a desculpa que <strong>Maysa</strong> deu aos<br />

jornalistas, pois esse LP não estava tão bom quanto os outros.<br />

Em 1958, <strong>Maysa</strong> com 22 anos, era uma das jovens mais bem pagas da música<br />

brasileira, esse ano renderia a cantora 10 milhões de cruzeiros (1,5 milhões de reais),<br />

incluindo cachês, contratos com rádio e televisão, comerciais, direitos autorais.<br />

Em uma terça-feira, 11 de fevereiro de 1958, os vizinhos foram acordados por um<br />

grito de mulher no meio da noite (<strong>Maysa</strong>). Nos dias seguintes, a notícia estava no rádio e<br />

nos jornais “<strong>Maysa</strong> tentara se matar cortando o pulso esquerdo com gilete.”, a imprensa não<br />

deixou de explorar a coincidência de que no dia anterior o compositor Assis Valente (autor<br />

de músicas cantados por Carmem Miranda), cometera suicídio ingerindo uma mistura fatal<br />

de guaraná com formicida.<br />

Alguns dias depois de receber alta do hospital, <strong>Maysa</strong> negou a tentativa de suicídio,<br />

dizendo que se cortara com o vidro da janela, porém os prontuários do Hospital Miguel<br />

Couto não diriam a mesma coisa. <strong>Maysa</strong> já havia tentado o suicídio anteriormente. Foram<br />

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duas tentativas de suicídio, a primeira, aconteceu alguns dias depois de colocar o namorado<br />

para fora de casa aos pontapés, um playboy chamado Marco Túlio Galvão Bueno, e a<br />

segunda tentativa, pode ter se dado pelo triângulo amoroso entre <strong>Maysa</strong>, Cesar Thedin e<br />

Elizeth Cardoso deixando <strong>Maysa</strong> mortificada, momentos antes de se apresentar no Club 36.<br />

<strong>Maysa</strong>, com um pouco mais de 1 ano de carreira, atingira o topo do sucesso. Foi<br />

cantora revelação de 1957 e nessa mesma época estrelava dois programas só seus, no Rio<br />

de Janeiro – Tv Rio e em São Paulo – Tv Record. A cada semestre, a conta bancária<br />

engordava cerca de meio milhão de cruzeiros só em direitos autorais. Em janeiro de 1958,<br />

fez a primeira viagem Internacional ao Uruguai, para se apresentar como cantora. E nesse<br />

mesmo ano participou cantando em quatro filmes: Matemática Zero, Amor Dez de Carlos<br />

Hugo Christensen; O cantor e o milionário de José Carlos Burle; O Batedor de Carteiras de<br />

Aloísio Tide de Carvalho e Camelô da Rua Larga de Hélio Barroso e Eurípides Ramos. No<br />

filme, O Batedor de Carteiras, chegou no meio da madrugada quase de manhã para gravar e<br />

o diretor havia combinado com ela no final da tarde. <strong>Maysa</strong> pediu para o contra-regra<br />

comprar um litro de vodca para ela.<br />

No final desse ano, o jornal Última Hora estampou na primeira página “<strong>Maysa</strong><br />

ferida: jogou seu carro contra o caminhão”. Era madrugada, por volta das 3h30, <strong>Maysa</strong><br />

esborrachou seu carro na traseira do caminhão que estava estacionado sem nenhuma<br />

sinalização junto ao meio-fio da Avenida Atlântica, a principal via de Copacabana. Horas<br />

antes de ocorrer o acidente, <strong>Maysa</strong> havia saído dos estúdios da Tv Rio, onde apresentava o<br />

programa semanal na emissora, passara em casa e saíra sozinha, depois da meia–noite,<br />

quando um homem que ninguém sabia dizer quem era, insistiu para que o porteiro o<br />

deixasse entrar no prédio, identificando-se como sendo marido de <strong>Maysa</strong>. Depois disso<br />

<strong>Maysa</strong> saiu cambaleando. Com o acidente, <strong>Maysa</strong>, precisou de uma sutura de oito pontos<br />

no queixo. No ano de 1958, não teve um único dia que a cantora não fosse notícia de jornal,<br />

seja em colunas de fofoca, ou em manchetes sobre seu comportamento.<br />

O acidente com o carro deixou <strong>Maysa</strong> com uma cicatriz um pouco abaixo do<br />

queixo, a maior de todas as cicatrizes, do lado esquerdo. Depois de um mês de repouso em<br />

sua casa, <strong>Maysa</strong> percebeu que não adiantava se esconder. Depois de muitos boatos dizendo<br />

que a carreira da cantora havia acabado, <strong>Maysa</strong> respondeu que nem de longe cogitou em<br />

encerrar a carreira.<br />

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No início de março, <strong>Maysa</strong>, estava na boate Oásis com alguns amigos e com o pai,<br />

quando uma briga começou na mesa ao lado, com muitos socos, dente e braços quebrados.<br />

No dia seguinte os jornais noticiaram que <strong>Maysa</strong> havia começado a desordem, ao espatifar<br />

uma garrafa na cabeça de um moço que teria lhe endereçado uma piada de mau gosto e que<br />

seu pai se meteu no barulho, assim <strong>Maysa</strong> e o pai foram encaminhados para a delegacia<br />

noticiou a Tribuna da Imprensa.<br />

<strong>Maysa</strong> participou do programa Preto no Branco que era famoso tanto pelas<br />

incomodas perguntas, quanto pela iluminação que nada escondia.<br />

O jornal Última Hora trouxe um pretenso perfil psicológico sobre a cantora assinada<br />

por um tal Dr. T, um “notável psiquiatra”, que escreveu um texto que fazia um arremedo<br />

da teoria freudiana, para concluir que <strong>Maysa</strong> era um caso clínico.<br />

Segundo o Dr. T, “analisou”, <strong>Maysa</strong> era uma mulher contra o mundo, tomando por<br />

base a forma como ela se apresentava diante das câmeras de televisão, a gravidade da voz e<br />

o tipo de canção preferido por <strong>Maysa</strong> apontam um traço melancólico marcante, de sua<br />

personalidade. A parte nasal, com o abrir e fechar das narinas em inspiração profunda,<br />

revela idêntico sintoma. A expressão dos lábios, com o movimento para baixo, exibe<br />

comissuras reveladoras de desdém. O “psiquiatra” sugeria que a tristeza de <strong>Maysa</strong> era<br />

patológica e que a moça estava necessitando, imediatamente, de tratamento profissional<br />

adequado. Resumindo, era uma criatura perturbada.<br />

Após uma semana <strong>Maysa</strong> acabou por dar crédito ao diagnóstico do Dr. T, por estar<br />

bêbada, <strong>Maysa</strong> fez com que o vôo que iria de São Paulo ao Rio de Janeiro atrasasse,<br />

causando um tumulto no avião. A aeromoça pediu para que ela se retirasse da aeronave, por<br />

ordem do piloto, <strong>Maysa</strong> ficou furiosa e esbravejou, se negando a sair do avião e causando<br />

brigas verbais com os demais tripulantes. Á sugestão de um dos passageiros para chamar a<br />

polícia, a cantora respondeu que estava sendo discriminada por uma cambada de paulista<br />

que estavam a mando dos <strong>Matarazzo</strong>.<br />

Apesar da necessidade de divulgar dois LPs, <strong>Maysa</strong> pediu licença de seus trabalhos<br />

para descansar e assim passar alguns meses fora do Brasil. <strong>Maysa</strong> forneceu diferentes<br />

versões sobre a viagem. Em uma versão dizia que fechara um contrato milionário para fazer<br />

apresentações em Lisboa, Londres, Roma e Paris. Depois informou que desistira da turnê e<br />

que faria apenas uma temporada de descanso na Europa. No início de 1959 foi lançado<br />

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“Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> n° 4”.esse LP incluía duas canções dos compositores Tom<br />

Jobim e Vinicius de Moraes.<br />

Durante a estadia em Portugal, <strong>Maysa</strong> foi reconhecida por um empresário português<br />

que a convidou para fazer uma temporada no famoso Casino Estoril. <strong>Maysa</strong> em uma<br />

entrevista disse que nem no Brasil havia um público tão carinhoso quanto o de Portugal.<br />

Em Paris, <strong>Maysa</strong> se indentificou com o espírito dos jovens que com ar de<br />

desencanto, vestindo jeans surrados e os indefectíveis suéteres pretos de gola role,<br />

perambulavam pelos bares e cafés de Paris, porém <strong>Maysa</strong> foi mais radical e perambulou a<br />

esmo e chegou a dormir em bancos de praças e parques da cidade, foi conhecer de perto o<br />

submundo dos vagabundos e boêmios das ruas de Paris e brindava com eles dizendo “A vós<br />

que compreendeis o absurdo da vida”. Foi em Paris que <strong>Maysa</strong> cantou pela primeira vez<br />

“Ne me quitte pas” de Jacques Brel. Na volta de sua viagem <strong>Maysa</strong> queria publicar um<br />

livro de poemas chamado “Comigos de mim”.<br />

Após 4 meses <strong>Maysa</strong> voltou para o Brasil e estava irreconhecível - 10 quilos mais<br />

gordas, pesando cerca de 90 quilos, seus dentes estavam estragados e estava com uma par<br />

de olheiras horríveis. Durante essa viagem, um fotógrafo brasileiro localizou <strong>Maysa</strong> e fez<br />

uma entrevista para a revista O Cruzeiro. Nessa matéria surgiu que <strong>Maysa</strong> tentara o suicídio<br />

por 28 vezes, fato não comprovado e que uma dessas vezes teria sido no Rio Sena. E que<br />

seu desejo era fazer uma turnê acompanhada de Charles Chaplin ou de um vira-lata,<br />

justificando o Chaplin por ser a sua outra metade e que não cruzou seu caminho e o vira-<br />

lata porque tem estofo, vasculha latas de lixo, não é propriedade de ninguém. Durante a<br />

entrevista <strong>Maysa</strong> disse “Esta revolta íntima contra tudo, esta insatisfação, esta fuga de mim<br />

e, ao mesmo tempo, esta eterna procura de meu eu é que me torna infelicíssima.” (sic)<br />

Enquanto esteve fora do país, André <strong>Matarazzo</strong>, seu ex-marido, casou-se com uma<br />

estrangeira, Miss Israel de 1954, Vivi <strong>Matarazzo</strong>. <strong>Maysa</strong> disse que André se atrasou e que<br />

ela já tinha um novo amor, o lusitano e jornalista Vitor da Cunha Rego, porém o romance<br />

como todos os outros não foi longe.<br />

Na noite de 24 de outubro de 1959, morreu uma grande amiga de <strong>Maysa</strong>, Dolores<br />

Duran, que sofreu um ataque cardíaco durante o sono, aos 29 anos. <strong>Maysa</strong> sofreu um<br />

grande baque com este acontecimento. <strong>Maysa</strong> sumiu de circulação, sua última aparição foi<br />

no baile de Carnaval Municipal de 1960, estava de maiô e quando a foto foi publicada<br />

17


<strong>Maysa</strong> viu que seu corpo estava deformado e chorou dias seguidos e dizendo que ela<br />

própria não mais se reconhecia. Em Paris, confessou ao jornalista de “O Cruzeiro”, que<br />

uma vez tentara suicídio depois de se ver no espelho do banheiro e se deparar com uma<br />

mulher em ruínas.<br />

Um jornalista da Radiolândia descobriu que <strong>Maysa</strong> fora internada no Hospital<br />

Nossa Senhora do Carmo, com uma crise de pressão baixa, provocada pela ingestão<br />

combinada de uísque e um punhado de comprimidos para dormir. Quando recobrou a<br />

consciência, <strong>Maysa</strong> pediu aos médicos para ficar no hospital e aproveitou para fazer uma<br />

cirurgia no abdome para se livrar das gorduras extras e realizar plástica no rosto para se<br />

livrar das cicatrizes. Os médicos concordaram. Além das cirurgias, <strong>Maysa</strong> foi alvo de um<br />

tratamento psicoterápico à base de antidepressivos e uma rigorosa desintoxicação alcoólica,<br />

além de ser submetida à sonoterapia, indução artificial do sono por longo período mediante<br />

o uso de drogas, técnica que era indicada para casos de psicoses agudas, depressões<br />

melancólicas, agitações ansiosas e síndromes psicossomáticas com risco de suicídio.<br />

A cantora saiu do hospital mais magra e mais bonita. Disse que o motivo de sua<br />

internação era o cansaço e quando um dos repórteres lhe indagou sobre álcool prometeu<br />

parar de beber, que dali por diante seria apenas leite. Parecia estar diferente, mais feliz e<br />

tinha uma surpresa, uma vez por semana daria plantão noturno no hospital como enfermeira<br />

voluntária, assim <strong>Maysa</strong> voltou a morar em São Paulo. O médico orientou que <strong>Maysa</strong><br />

reduzisse sua carga de trabalho, porém ela não seguiu as orientações, estando com a sua<br />

agenda atribulada: às segundas apresentava o programa na TV Tupi (RJ); às terças<br />

apresentava seu programa na TV Itacolomi (MG); às quartas fazia seus programas na TV<br />

Record, às quintas daria plantão no hospital e às sextas se apresentava na Radio Mayrink<br />

(RJ).<br />

nova.<br />

Em junho de 1960, lançou outro LP “Voltei”, era um LP de transição para a bossa<br />

<strong>Maysa</strong> foi contratada pelo jornal Diário da Noite (jornal Carioca) para escrever<br />

uma coluna diária chamada “<strong>Maysa</strong> faz o diário da Noite”, porém <strong>Maysa</strong> nunca escreveu<br />

uma única linha, quem redigia o texto era o jornalista Raul Giudicelli, que recebeu carta<br />

branca para escrever sobre o assunto que bem entendesse, ele nada recebia por isso. No<br />

18


meio do ano <strong>Maysa</strong> avisou que “escreveria a coluna” do Japão devido a um convite que<br />

recebera da Empresa Real Aerovias para um vôo inaugural entre Rio de Janeiro e Tóquio.<br />

A cantora fez uma aparição na televisão japonesa, onde acabou se irritando com o<br />

apresentador que avisou que todos estavam ansiosos para ouvi-la cantar e para saber se o<br />

Carnaval era a maravilha que era mostrada no filme Orfeu Negro. <strong>Maysa</strong> respondeu que o<br />

tipo de música que ela cantava nada tinha a ver com o samba do filme. Durante a<br />

apresentação <strong>Maysa</strong> segurava um cigarro entre os dedos. Apesar da irritação, <strong>Maysa</strong><br />

agradeceu e ficou lisonjeada por ser a primeira cantora brasileira a cantar no Japão.<br />

Nos EUA, fizera contato com empresários norte-americanos e trouxe de lá, contrato<br />

assinado com a agência e produtora Associated Booking Corporation, a rede de televisão<br />

ABC, para se apresentar durante 3 anos. Os assessores sopraram aos ouvidos de alguns<br />

repórteres que <strong>Maysa</strong>, embolsaria cerca de 5 mil dólares – equivalente a 1 milhão de<br />

cruzeiros por semana. <strong>Maysa</strong> trouxe na volta dessa viagem um yorkshire, chamado<br />

Talismã, escondido da frasqueira, dizia que ele lhe dera muita sorte e que fora comprado<br />

por 50 mil cruzeiros, diferentemente do que disse meses atrás sobre o vira-lata.<br />

Um dos cacoetes mais lembrados pelos amigos que conviveram com ela, era que ela<br />

enrolava e desenrolava, de forma compulsiva, a fitinha dourada da embalagem do cigarro,<br />

com o dedo indicador e médio. Era um sinal de que já estava tensa ou que já havia bebido.<br />

<strong>Maysa</strong> protagonizou um vexame no aeroporto de Los Angeles, quando o avião fez a<br />

escala, todo mundo queria descer, menos <strong>Maysa</strong>, ela não desceu com os demais<br />

passageiros. Ela estava acompanhada da mãe, Dona Inah, tentou demovê-la da idéia de não<br />

descer do avião. <strong>Maysa</strong> só desceu quando reencontrou uma amiga Marlene Maria de Lucas<br />

de Oliveira, dos tempos do Sacre Coeur de Marie e do Ofélia Fonseca e que agora<br />

trabalhava na embaixada brasileira em Los Angeles se prontificou a tirar <strong>Maysa</strong> do avião.<br />

Marlene encontrou <strong>Maysa</strong> alterada, tensa, sinal de que já bebera além da conta. Com a<br />

surpresa de reencontrar a velha amiga, <strong>Maysa</strong>, resolveu descer e a seguir para o hotel,<br />

cambaleando, fazendo festa, amparada pela amiga.<br />

Em 1960, <strong>Maysa</strong>, lançou mais um álbum, “<strong>Maysa</strong> canta sucessos”. Nesse álbum,<br />

Inah Monjardim se lançou como compositora. Nesse mesmo ano, <strong>Maysa</strong>, revelou que<br />

perdera uma fortuna em uma roleta em Las Vegas, a capital mundial do jogo. Chegara a<br />

oferecer ao crupiê o colar de pérolas para continuar apostando no seu número da sorte, o<br />

19


13, que insistiu em não sair naquela noite. Com as mãos abanando, sem colar no pescoço,<br />

acabou por recorrer ao pai, Monja, para sair do aperto financeiro, telefonou e pediu-lhe que<br />

enviasse mais dinheiro do Brasil.<br />

<strong>Maysa</strong> foi para os Estados Unidos onde ficaria 3 anos para cumprir contrato com o<br />

dono da Boate Blue Angel em Nova Iorque, deixou seu filho aos cuidados de seus pais,<br />

Dona Inah e Monja. O dono da boate acreditava que <strong>Maysa</strong> poderia ajudar a reerguer a<br />

boate. Após duas semanas de chegar aos Estados Unidos, a cantora escreveu para um<br />

colunista brasileiro, relatando sobre seu grande sucesso em Nova Iorque, sendo noticia em<br />

jornais, revistas. De fato, <strong>Maysa</strong> era notícia, porém saía em pequenas notas, muitas vezes<br />

escondidas entre as várias notícias dos jornais. Após um mês do início das apresentações<br />

em dezembro, o Blue Angel anunciou que a cantora passaria alguns dias sem se apresentar,<br />

pois estava gripada e afônica. Os norte-americanos não sabiam, mas <strong>Maysa</strong> estava<br />

novamente enfrentando problemas com a bebida e passara a faltar aos compromissos<br />

acertados com Max Gordon. Longe da família e dos amigos, <strong>Maysa</strong> encarou surtos<br />

depressivos naquela friorenta Nova York coberta de neve e iluminada para o Natal. A<br />

melancolia a empurrou ainda mais para o álcool. Bebia para esquecer as mágoas e espantar<br />

a solidão, mas as bebidas e as ressacas só contribuíam para deixá-la mais arrasada. Monja<br />

viajou pra os Estados Unidos aconselhando <strong>Maysa</strong> a voltar para casa, porém a cantora não<br />

deu o braço a torcer. Nessa época, <strong>Maysa</strong> reencontrou um famoso ator argentino Duílio<br />

Marzio que havia sido seu namorado. Reataram o romance.<br />

No Réveillon de 1960 para 1961, <strong>Maysa</strong> deu uma festa em seu apartamento alugado,<br />

onde se encontravam os amigos do casal, depois de muitas doses de uísque, a cantora ficou<br />

agressiva e começou a atirar objetos, cinzeros, vasos, bibêlos para todos os lados, atingindo<br />

alguns convidados. No 1° dia do ano de 61, Duílio acordou assustado e viu o cobertor em<br />

chamas, <strong>Maysa</strong>, havia dormido com um cigarro aceso entre dedos e quase provocara um<br />

incêndio no quarto. <strong>Maysa</strong> e Duílio ficaram mais uma semana juntos e depois <strong>Maysa</strong> se<br />

despediu dele sem maiores formalidades.<br />

Ainda em 1961, <strong>Maysa</strong>, assinou contrato com a Columbia Norte–Americana,<br />

gravando um LP “<strong>Maysa</strong> sings songs before dawn” nos estúdios da produtora. Tudo indicava<br />

que a produtora estava disposta a investir na cantora brasileira. Mas a cantora voltou para o<br />

Brasil, porque o Blue Angel nem a produtora Associated Booking Corporation não quiseram<br />

20


enovar seu contrato, pois ela deixava as platéias e os donos das boates a ver navios. Em<br />

certas apresentações <strong>Maysa</strong> ameaçou os clientes que estavam conversando, os norte-<br />

americanos não aceitaram tal atitude de <strong>Maysa</strong>. Ao voltar, a cantora disse:“Os americanos<br />

são muito rigorosos nessas coisas de contrato artístico. É tudo muito certinho e organizado.<br />

Não me acostumaria a ter uma vidinha toda regrada como eles exigem”. (sic) E disse que era<br />

ela que decidira dar um tempo na relação com os Estados Unidos. Voltou gorda devido ao<br />

abuso de álcool.<br />

Depois de voltar para o Brasil, em 1961, <strong>Maysa</strong> reencontrou o jornalista Ronaldo<br />

Bôscoli e se apaixonaram um pelo outro. Mas Bôscoli era noivo de cantora Nara Leão, irmã<br />

de Danuza Leão. O que Bôscoli queria mesmo de <strong>Maysa</strong> era a sua voz para a Bossa-Nova.<br />

Eles iniciaram um romance. Nesta época, a Revista Manchete propôs a <strong>Maysa</strong> um desafio:<br />

que ela fizesse uma auto–entrevista, perguntando a si mesma tudo o que nenhum jornalista<br />

jamais tivera a coragem de lhe perguntar, com o compromisso de que respondesse a tais<br />

questões sem nenhuma censura. Bôscoli aconselhou <strong>Maysa</strong> a fazer a auto-entrevista e a<br />

cantora topou. O título da matéria foi:<br />

<strong>Maysa</strong> enfrenta <strong>Maysa</strong><br />

Você é masoquista?<br />

- Ás vezes. Considero masoquismo aturar sem queixas uma porção de pessoas. Detesto gente<br />

burra e vivo me encontrando com elas.<br />

Se, é só este o seu masoquismo, por que você vive atritando fitas de papel com os dedos,<br />

até fazê-los sangrar?<br />

-Até sangrar é exagero. Tenho este hábito desde menina. Acho que é uma preparação<br />

inconsciente para enfrentar as dores que o destino sempre me reserva. Dor física, aliás,<br />

jamais me fez medo. Tenho medo apenas do que não depende de mim: amar e não ser amada,<br />

por exemplo.<br />

21


Seu êxito dependeu apenas de seu talento?<br />

- Já fiz muitas concessões para obter sucesso e hoje estou profundamente arrependida. Agora<br />

não há fabricante de discos que me faça gravar o que eu não sinta.<br />

Caso fosse possível você deixaria de cantar imediatamente?<br />

- Não, para a gente deixar de fazer qualquer coisa que nos afirme é preciso substituí-la,<br />

sempre, por algo melhor. Para mim, a única coisa melhor do que cantar seria... cantar só para<br />

quem eu amasse.<br />

Eu sei que você não “ama” seu atual publico no Copacabana. Mas pelo menos gosta<br />

dele?<br />

- Por enquanto, não. Grã-fino, geralmente, não gosta de musica e muito menos de artista<br />

brasileiro.<br />

É por isso que você bebe minutos antes de cantar?<br />

- A bebida é a bengala de um velhinho que mora em minha personalidade. Mas tenho certeza<br />

de que uma criança que existia em mim, antes de tantas coisas acontecerem, um dia voltará.<br />

Só então saberei quem sou.<br />

Mas você não bebe somente antes de entrar em cena, não é? Por que você bebe de modo<br />

geral?<br />

- Primeiro porque quero. Depois porque trabalho para pagar o que eu bebo. Finalmente,<br />

porque tenho senso de autocrítica. Muitas vezes reconheço-me insuportável e eu só suporto<br />

os insuportáveis bebendo.<br />

Você acredita que um dia deixará o álcool?<br />

- Deixarei a bebida quando encontrar o amor. Mas para amar é preciso estar preparada.<br />

Quero, preciso e ainda amarei.<br />

Você se sente sozinha? Tem medo de ficar sozinha?<br />

- Pavor. Quando estou só, tenho certeza de que sou maior do que eu mesma e isto me<br />

apavora. Ninguém deve conhecer a sua própria dimensão.<br />

22


Você já tentou se matar algumas vezes. Em qual delas foi sincera?<br />

- Em todas. Mas nenhuma eu queria morrer imediatamente. Por isso morria pouco. Só uma<br />

coisa me faria morrer até o fim: o amor.<br />

<strong>Maysa</strong> fechou contrato para cantar em uma boate de Buenos Aires. Naquela época o<br />

clima em Buenos Aires era tenso devido os conflitos entre partidos e adversários do ex-<br />

presidente Juan Domingos Perón.<br />

Certo dia <strong>Maysa</strong> e Bôscoli provocaram um alvoroço em um restaurante. Eles jogaram<br />

no chão, perto do garçom, uma bombinha que fazia barulho e soltava fumaça e quase<br />

acabaram provocando uma questão de segurança nacional. Os dois fizeram isso, mais uma<br />

vez atirando as bombinhas do alto do quarto deles.<br />

A dimensão da bebida alcóolica era imensa na vida de <strong>Maysa</strong>, e Bôscoli perceberá<br />

que aquilo era uma doença. Preocupado com <strong>Maysa</strong>, eliminou as garrafas do quarto do hotel,<br />

chegou a derramar os vidros de perfume na pia, porém não teve resultado. Bôscoli pediu que<br />

<strong>Maysa</strong> desse uma maneirada até que a turnê chegasse ao fim. Um dia, da calçada do hotel,<br />

Bôscoli, olhou para cima e viu algo brilhante, bem lá no alto, era um objeto indefinido, que<br />

parecia pender da janelinha do banheiro do quarto dele e de <strong>Maysa</strong>. Bôscoli,subiu ao quarto,<br />

abriu a porta do banheiro, dirigiu-se à janela e constatou que <strong>Maysa</strong> amarrara ali uma garrafa<br />

na ponta de um cordão e a pendurara pelo lado de fora do prédio. Assim, sempre que fingia<br />

precisar ir ao banheiro, <strong>Maysa</strong>, içava a bebida e entornava alguns goles.<br />

Na Argentina, a relação de Bôscoli e <strong>Maysa</strong>, não escondia a sua construção com base<br />

em afagos e sopapos. E não deu em menos, <strong>Maysa</strong>, pedira para uma amiga argentina ligar<br />

para Bôscoli, passando-se por uma amiga Miguelita de Nara Leão e falar para Bôscoli que<br />

teria estado no Rio de Janeiro, e que Nara lhe mandara lembranças. Ele ficou animado e<br />

arranhando um portunhol, disse que estava morrendo de saudades da noiva, que não via a<br />

hora de voltar para o Brasil, que estava cansado de acompanhar aquela turnê com “La<br />

Gorda”. <strong>Maysa</strong>, depois do que soube, ficou furiosa, e nem quis esperar o elevador do hotel e<br />

23


subiu ao seu quarto pelas escadas. Na suíte ao lado, Luiz Carlos Vinhas e Roberto Menescal<br />

perceberam que o casal havia partido para o confronto físico, pelo barulho que atravessava a<br />

parede. Bateram a porta do quarto do casal e quando a porta se abriu, deram de cara com<br />

Ronaldo Bôscoli seminu, de cuecas vermelhas, com arranhões de unhas espalhados pelo<br />

corpo. Mas a vingança de <strong>Maysa</strong> não ficaria nos arranhões.<br />

<strong>Maysa</strong>, destruiria o noivado de Bôscoli com Nara, combinando com os jornalistas que<br />

os esperassem no aeroporto, na volta de turnê. Ao descer do avião, <strong>Maysa</strong> se desequilibrou e<br />

Bôscoli lhe deu o braço para ela se amparar. Ela chegou ao saguão do aeroporto de braços<br />

dados com ele e diante dos inúmeros jornalistas presentes ela deu a notícia de que se casaria<br />

com Bôscoli em um mês. A notícia caiu como uma bomba e o próprio Bôscoli não esboçou<br />

nenhuma reação quando a ouviu. Nara nunca mais quis ouvir falar de Bôscoli.<br />

Os dois discos de <strong>Maysa</strong> chegaram praticamente juntos às prateleiras das lojas, um<br />

gravado por exigência do contrato com a RGE e o produzido por Ronaldo Bôscoli. Um<br />

Chamado “<strong>Maysa</strong>, amor e... <strong>Maysa</strong>” o tema das músicas eram os mesmos bolerões rasgados<br />

e outro “<strong>Maysa</strong> e a nova onda” que tinha como tema a Bossa Nova.<br />

<strong>Maysa</strong> gostava de passar trotes por telefone. Era a rainha dos trotes. Vasculhava a<br />

lista telefônica e parava o dedo em um número qualquer, de preferência se o endereço<br />

indicasse algum lugar distante no subúrbio. Discava o número altas horas da noite e, quando<br />

uma voz masculina e sonolenta atendia do outro lado da linha, ela se identificava como<br />

<strong>Maysa</strong> e dizia que estava sozinha e queria conversar com alguém, bater um papo, para<br />

espantar a solidão. “Que <strong>Maysa</strong>?” Ela cantava alguma de suas músicas mais conhecidas ao<br />

telefone, com aquela voz rouca e inconfundível. Depois, o lance divertido era ficar<br />

imaginando como foi o dia seguinte desses caras nos seus trabalhos, nos trens, nas<br />

repartições. Quanto mais <strong>Maysa</strong> bebia, mais ela demonstrava ter verdadeira obsessão pelo<br />

tema “traição”, depois de umas doses dizia que era traída pelos amigos e pelos homens,<br />

ficava irritada agressiva e armava cenas diante de Bôscoli e se ele a traía ela também iria traí-<br />

lo. O Sentimento de rejeição invadira sua vida desde os tempos do casamento de André<br />

<strong>Matarazzo</strong>, dizia que tinha certeza que seu marido a traía e que até teria pressentido uma<br />

insinuação dele para cima da mãe dela, Dona Inah. Depois de a Columbia cancelar o contrato<br />

com a cantora, ela se irritou e foi fazer uma turnê em Vitória, começou a cantar em lugares<br />

que não a mereciam. Bôscoli não iria agüentar a tempestade que estaria por vir e saiu a<br />

24


francesa deixando <strong>Maysa</strong> para trás, por não conseguir encarar uma despedida, temendo a<br />

reação da cantora. Ao acordar, <strong>Maysa</strong> quis esganá-lo ao perceber a fuga do namorado e que<br />

nunca perdoaria o fato de alguém sair da sua vida assim, de uma hora para outra.<br />

<strong>Maysa</strong> convocou um amigo influente e fez com ele trouxesse Bôscoli de volta antes<br />

mesmo que o coitado saísse da cidade.<br />

No 1º trimestre de 1962, <strong>Maysa</strong> sumira mais uma vez sem deixar vestígios, foi em<br />

abril desse ano que o jornal argentino La razón, revelou o segredo do sumiço de <strong>Maysa</strong>, ela<br />

estava internada na Clínica Bethlehem, em Buenos Aires para um tratamento de<br />

desintoxicação alcoólica com a ajuda da sonoterapia como ocorrera anteriormente no Brasil.<br />

Após 45 dias amarrada a cama e presa no quarto com grades, ela conseguiu sair da clínica de<br />

manhã e voltou à noite. Foi assim que o jornalista argentino conseguiu uma entrevista com a<br />

cantora, onde ela confessava que se internará para ficar bem com ela mesma, pois o álcool já<br />

estava em sua total plenitude, houve até um momento em que o álcool a levará a um<br />

princípio de “Delirium Tremens”. Chegado o horário de voltar para a clínica, <strong>Maysa</strong> não<br />

voltou e ainda culpou o jornalista por tê-la devolvido ao seu caos, disse que ia ao cinema e<br />

depois comer algo. <strong>Maysa</strong> voltou para o Brasil, mais magra e noiva de um estrangeiro e<br />

pouco tempo depois o noivo sumira em um tiroteio e <strong>Maysa</strong> percebeu que talvez tivesse<br />

voltado na hora errada e saiu de circulação e sumiu mais uma vez. Os jornalistas apostavam<br />

quem iria encontrá-la primeiro, como se <strong>Maysa</strong> fosse um troféu. Em meados de setembro um<br />

jornalista encontrou <strong>Maysa</strong> em um sítio na região de Jacarepaguá, onde ela concedeu uma<br />

entrevista a revista Fatos e Fotos e depois disse que queria ficar só e que não concederia mais<br />

nenhuma entrevista.<br />

<strong>Maysa</strong> estava pensando em levar o filho Jayme para a Europa, onde ela estava e não<br />

voltaria tão cedo ao Brasil. Seria convidada pela gravadora parisiense Barclay para gravar um<br />

disco cantado em francês e em português. <strong>Maysa</strong> fora convidada para se apresentar no<br />

Cassino Estoril, em Portugal com o sucesso, concedeu uma entrevista, onde o repórter ficou<br />

impressionado quando viu <strong>Maysa</strong> acender um cigarro no outro por mais de uma vez. Reparou<br />

também em suas marcas e não agüentando, perguntou a cantora o que eram as marcas e ela<br />

fez uma cara de enfado e respondeu que era marca do tratamento que visera na Argentina e<br />

como dormia muito era alimentada pelas veias. Depois de Portugal, <strong>Maysa</strong> foi convidada<br />

para cantar no Olympia em Paris, mas era uma apresentação única.<br />

25


Logo se descobriu o motivo de <strong>Maysa</strong> permanecer na Europa, era um novo amor, o<br />

belga-espanhol Miguel Azanza. A esposa de Azanza, Ana Gabriela, preparara uma festa para<br />

apresentar <strong>Maysa</strong> a sociedade espanhola, mas durante a madrugada que antecedeu a festa,<br />

Ana Gabriela pegou <strong>Maysa</strong> e o marido no quarto de hóspede e expulsou-os de sua casa.<br />

Como não havia tempo hábil para cancelar a festa, a esposa de Miguel manteve o<br />

compromisso e os dois Miguel e <strong>Maysa</strong> compareceram à festa como se nada tivesse<br />

acontecido. Durante a festa Miguel comunicou aos presentes que o casamento com Ana<br />

Gabriela acabara e que iria se casar com <strong>Maysa</strong>. Os dois voltaram logo ao Brasil, uma vez<br />

que Miguel não tinha dinheiro para sustentá-los na Europa. O dinheiro pertencia à ex-mulher<br />

dele. O casamento arrastou-se por longos anos. Mas o ciúme mútuo, as eternas discussões e<br />

os excessos de álcool de ambos foram minando a relação a cada dia. Os dois estapeavam-se<br />

publicamente. Miguel chegava a desferir chutes em <strong>Maysa</strong> para fazê-la entrar no carro,<br />

depois de uma noite em que ambos haviam bebido além da conta, segundo, Flávio Ramos, o<br />

empresário da casa noturna Au Bon Gourmet no Rio de Janeiro.<br />

No início do relacionamento de <strong>Maysa</strong> e Miguel, ele escrevera uma carta ao amigo<br />

da época de colégio, Oren Wade. No primeiro encontro do casal com o amigo, <strong>Maysa</strong> não o<br />

cumprimentou direito e dava lhe as costas, anos mais tarde confessou que tivera ciúmes de<br />

seu novo amor, por tê-lo que dividir com seu amigo de infância. Antes de retornar a Espanha<br />

com Miguel, a cantora disse que teria que resolver alguns assuntos pessoais, como uma<br />

vingança contra Bôscoli.<br />

Certa noite telefonou para Bôscoli dizendo que estava com um mau pressentimento e<br />

tinha medo de nunca mais vê-lo. Pediu para que ele fosse até a sua casa em São Paulo.<br />

Bôscoli disse que não iria, mas a insistência de <strong>Maysa</strong> fez com que Bôscoli se dirigisse do<br />

Rio a São Paulo, de táxi, acompanhado do amigo Luiz Carlos Mièle, ambos sem um centavo<br />

no bolso, contando que <strong>Maysa</strong> pagaria a corrida de táxi Rio-Sp. E quando ele chegou a casa<br />

de <strong>Maysa</strong> descobriu que ela já estava a caminho da Espanha. Bôscoli se dá conta de que foi<br />

enganado e recorre a uma amiga que mora em São Paulo, Marisa Gata Mansa para pagar as<br />

despesas da viagem e emprestar-lhe algum dinheiro para retornar ao Rio.<br />

No final de 1964, <strong>Maysa</strong> recebeu a notícia de que seu ex-marido, André <strong>Matarazzo</strong>,<br />

falecera, vítima de um infarto fulminante aos 45 anos. Com este acontecimento, <strong>Maysa</strong>,<br />

decidiu chamar o filho Jayme, então com 8 anos , para morar na Espanha, o menino não<br />

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podia ficar a vida inteira sendo criado pelos avós. <strong>Maysa</strong>, que sempre dissera que o colégio<br />

interno fora o maior pesadelo dos seus tempos de menina, reservou ao filho destino idêntico.<br />

Depois do acontecido <strong>Maysa</strong> ficara fora dos noticiários dos jornais e apenas em dezembro de<br />

1965 o silêncio foi quebrado, com a notícia de que <strong>Maysa</strong> voltara com o filho e o marido<br />

para viver em São Paulo e que estava cheia da vida de cantora profissional.<br />

Depois de sete meses parada, <strong>Maysa</strong> voltara a cantar no Urso Branco, uma única<br />

apresentação. Para isso, a cantora teve que se internar em uma clínica de repouso para uma<br />

desintoxicação alcoólica. Estava convencida que o alcoolismo não a deixava em condições<br />

de criar o próprio filho e o mandou de volta para o colégio interno na Espanha.<br />

Ao sair da clínica, montou uma produtora artística, a Guelmay – uma mistura de seu<br />

nome com o de Miguel. Abelardo Figueiredo foi o grande responsável pela volta de <strong>Maysa</strong><br />

aos palcos, pois sem ele, ela não teria quebrado a promessa de se aposentar de modo precoce<br />

feita no final de 1965. Foi ele também que sugeriu a criação da produtora. O programa e os<br />

videoteipes não tiveram nomes, segundo <strong>Maysa</strong>, só apareceria uma foto do seu rosto na tela.<br />

E nos videoteipes também apareceria apenas a foto de <strong>Maysa</strong>. O custo de produção tornaram<br />

produto invendável, e <strong>Maysa</strong> teria um prejuízo estupendo com sua empresa natimorta. Era<br />

um produto sofisticado demais, limpo demais, refinado demais para a época.<br />

Na boate 706, <strong>Maysa</strong> e alguns colegas confraternizaram noite adentro, comemorando<br />

o final de um festival de música da Record. Ela já estava passando mal de tanto uísque que<br />

bebera durante toda a tarde, mas antes do final do espetáculo resolveu desafiar Elis Regina,<br />

dizendo:<br />

- “Gauchinha de merda, você não canta nada”. Elis que não levava desaforo para casa,<br />

revidou: - “ Não me provoca não sua pinguça”. E todos viram uma garrafa de uísque voando<br />

sobre as mesas, em direção à cabeça de Elis Regina. Foi o produtor Roberto Menescal que<br />

interceptou a garrafa no ar, antes que ela atingisse o alvo. Depois do ocorrido as duas nunca<br />

mais se bicaram e não perderiam a oportunidade de mostrar isso publicamente.<br />

Com o ambiente pesado no Brasil em 1966, a cantora recebeu um convite para fazer<br />

parte de um júri em um programa de TV em Los Angeles e aceitou. Ela e Miguel foram<br />

juntos e como de costume protagonizavam brigas homéricas. Miguel e <strong>Maysa</strong> voltaram para<br />

a Europa e Miguel ficou feliz de ter uma artista em casa. Miguel exigia que ela cozinhasse e<br />

<strong>Maysa</strong> se submetia sem reclamar. As finanças do casal não iam bem devido a investimentos<br />

27


maus feitos e <strong>Maysa</strong> teve que inúmeras vezes penhorar seu anel de brilhantes que ganhara de<br />

André. Ela e Miguel brincavam de adivinhar onde será que se encontrava o anel.<br />

Na Itália <strong>Maysa</strong> alugou uma casa com o dinheiro que fizera em uma temporada em<br />

Viareggio. Pouco tempo depois o casal mudou-se novamente para Madri e lá continuaram a<br />

alternar brigas, com momentos de cumplicidade. <strong>Maysa</strong> achava que Miguel era demais para<br />

ela.<br />

<strong>Maysa</strong> gravou 2 discos compactos pela GTA Records, somente o segundo chegou ao<br />

Brasil. Em Madri, ela gravou também um compacto pela RCA Victor espanhola, que saiu<br />

em 1968.<br />

<strong>Maysa</strong>, apesar das brigas com Miguel, o definiu como uma pessoa que encanta,<br />

principalmente por sua forma de ser, entretanto falta-lhe um pouco de experiência de vida.<br />

Oren Wade, o tutor de Jayme, tornou-se para <strong>Maysa</strong> depois de 3 anos o seu maior<br />

confidente, com ele ela podia desabafar e trocar confidências.<br />

As dificuldades com Miguel terminaram por aproximar <strong>Maysa</strong> de Oren. Os dois<br />

acabaram trocando beijos e carícias e <strong>Maysa</strong>, propôs-lhe uma fuga da Espanha. Tomariam<br />

um avião no meio da noite e iriam para o México. Casariam por lá, viveriam felizes para<br />

sempre e nunca mais veriam Miguel. Entretanto, Oren não aceitou, pois <strong>Maysa</strong> era a mulher<br />

de seu melhor amigo, ele teve medo de trair a sua confiança, de jogar a vida pela janela ao se<br />

unir a uma pessoa imprevisível como <strong>Maysa</strong>, apesar de estar apaixonado. Além disso, o seu<br />

envolvimento com <strong>Maysa</strong> poderia ser ruim para a cabeça de Jayme, visto que ele era o seu<br />

tutor..<br />

Após a recusa de Oren, <strong>Maysa</strong> se sentiu muito angustiada, caiu em depressão e<br />

novamente recorreu ao álcool. Nessa época <strong>Maysa</strong> só conseguiria dormir por volta das quatro<br />

da manhã com a ajuda de dois comprimidos de Mandrix, indutor do sono muito utilizado na<br />

época e que depois teria seu potencial para o vício comprovado pela medicina. Havia<br />

também os remédios para emagrecer que junto à bebida, tornava o efeito devastador para o<br />

organismo. Por duas vezes, em Madri, ela tentou o suicídio, mas Miguel a socorreu em<br />

tempo.<br />

No final do semestre de 1968, <strong>Maysa</strong>, planejou uma grande turnê pela América<br />

Latina, que durou 6 meses, começando pela Venezuela e terminou na Colômbia. Durante a<br />

turnê pela América Latina, <strong>Maysa</strong>, colecionou uma montanha de recortes de jornal. No final<br />

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de 1968 em Lisboa, <strong>Maysa</strong> foi convidada e aceitou cantar na África, acompanhada do Thilo’s<br />

Combo, o grupo musical lusitano que estava fazendo uma relação musical na terra do fado,<br />

agregando elementos do jazz e da Bossa Nova às sonoridades locais.<br />

O jornalista e apresentador de televisão Flavio Cavalcanti convidou <strong>Maysa</strong> para fazer<br />

parte do júri de “A grande Chance” programa dirigido por ele na TV Tupi do Rio de Janeiro<br />

e <strong>Maysa</strong> aceitou, impondo uma condição, de não cantar. Esse convite foi feito em Portugal e<br />

<strong>Maysa</strong> retornou ao Brasil para integrar o júri. Em março de 1969 a TV Tupi do Rio de<br />

Janeiro, presenteou <strong>Maysa</strong> com um programa exclusivo no horário nobre. O programa se<br />

chamou “<strong>Maysa</strong> Especial” e era exibido nas noites de sábado, às 20h 15, com a apresentação<br />

fixa do ator Ìtalo Rossi e direção de Carlos Alberto Loffler. <strong>Maysa</strong> que era muito tímida, se<br />

benzia e acendia cigarros, antes de entrar para cantar. Nessa mesma época ela começou a<br />

fazer sessões de psicanálise.<br />

<strong>Maysa</strong> se apresentou no Canecão durante dois meses, com um público espectador de<br />

mil pessoas por noite. O disco deste show foi considerado um dos mais sofisticados e<br />

musicalmente delicados de toda a sua carreira e saiu pela Copacabana. Trazia na capa uma<br />

foto em preto e branco de <strong>Maysa</strong> e Jayme, o menino então com 13 anos e ainda aluno do<br />

colégio interno espanhol. Essa foto, ao lado do filho foi feita para mostrar o lado mãe de<br />

<strong>Maysa</strong> numa tentativa de limpar a barra da cantora pela vida desregrada que levava.<br />

Augusto Marzagão, criador do Festival Internacional da Canção (FIC), foi à casa de<br />

<strong>Maysa</strong> para convencê-la a participar da quarta edição do FIC, que ocorreria no final de<br />

setembro ou começo de outubro daquele ano.<br />

Em agosto de 1970, <strong>Maysa</strong>, aceita ser repórter, estando somente há três meses na TV<br />

Record participando da edição do Programa “Dia D”, ela conseguiu um furo histórico: cobrir<br />

o julgamento de Charles Manson, que se auto proclamava a reencarnação do Messias e<br />

liderava uma comunidade alternativa que praticava sexo grupal e incentivava o uso de<br />

drogas. <strong>Maysa</strong> entrevista o advogado de Manson e protagoniza um fiasco diante das câmeras,<br />

ao vivo, quando pede ao advogado que fale sobre o caso. Ela não preparara nenhuma<br />

pergunta sobre o caso e o advogado a repreende frente às câmeras. Ela diz mais tarde que<br />

queria morrer quando viu o videoteipe da entrevista.<br />

Após o fiasco como repórter, <strong>Maysa</strong>, numa entrevista ao Jornal do Brasil, confessa<br />

que gostaria muito de ser atriz.<br />

29


Ainda em 1970, em uma turnê pelo México, foi convidada pelo produtor e diretor<br />

Ernesto Abonso, para participar de seu próximo trabalho. Isso tudo, rendera-lhe capas e<br />

pôsteres de revistas, além de extensas reportagens nas páginas dos jornais mexicanos. Ao<br />

retornar do México, <strong>Maysa</strong> se desentende profissionalmente com Bôscoli, ela havia fechado<br />

um contrato com Miéle e Bôscoli para um show no Teatro da Praia. As inúmeras adiações<br />

do show, fez <strong>Maysa</strong> riscar o show do seu caderno e acertar contrato de uma temporada no<br />

Canecão com um show dirigido por Wilton Franco sob a regência musical de Luizinho Eça.<br />

Ronaldo Bôscoli foi aos jornais, ameaçando processar <strong>Maysa</strong> por quebra de contrato,<br />

acusando-a de lhe dar um cano homérico, deixando-o com um bruto prejuízo nas mãos, pois<br />

arrendara o teatro e, sem show, ficaria inadimplente. A mídia, que tinha ficado um bom<br />

tempo sem perturbá-la, caiu em cima de <strong>Maysa</strong>. Só que <strong>Maysa</strong> começou a se encher, ficou<br />

com raiva do pessoal da mídia.<br />

Nesse ínterim, o filho de <strong>Maysa</strong>, Jayme, então com 14 anos, deixou o colégio interno<br />

na Espanha e retornou ao Brasil. Do aeroporto, Jayme foi para o apartamento da mãe, visto<br />

que ela não foi buscá-lo. O rapaz surpreendeu a mãe ao dizer-lhe que não voltaria para a<br />

Espanha e que moraria sozinho, no prédio em que morava seu tio, Cibidinho. <strong>Maysa</strong>, disse-<br />

lhe que não contasse com sua ajuda financeira e ele respondeu que tinha o dinheiro da<br />

herança que seu pai lhe deixara.<br />

A relação de <strong>Maysa</strong> com o filho, não era a mais harmoniosa possível, desde pequeno<br />

ele fora criado pelos avôs e depois encaminhado para um colégio interno. Foram poucos os<br />

anos em que <strong>Maysa</strong> e Jayme viveram juntos. No casamento do filho, o qual <strong>Maysa</strong> era<br />

contra, ela apareceu com um vestido vermelho berrante e calçou sapatos enormes com salto<br />

plataforma para poder olhar a família do ex-marido por cima de suas cabeças. Ao partirem<br />

para a lua de mel, <strong>Maysa</strong> acompanhou o casal até o aeroporto, onde tomaram a escada rolante<br />

a caminho da sala de embarque, trocaram abraços e <strong>Maysa</strong> ficou lá embaixo, olhando<br />

fixamente para eles, e Jayme via sua mãe cada vez mais longe, até desaparecer do campo de<br />

visão. Assim mãe e filho nunca mais voltaram a se verem.<br />

<strong>Maysa</strong> continuava sua vida e seus casos amorosos. Nessa época ela se envolveu com<br />

um dos câmeras do Programa dia D, Laerte, o relacionamento teve um fim trágico. Em 9 de<br />

outubro de 1970, Laerte morreu depois de tomar um coquetel alucinógeno, misturando<br />

àlcool e os comprimidos para emagrecer de <strong>Maysa</strong>. <strong>Maysa</strong> ficou muito mal.<br />

30


Nesse mesmo ano, <strong>Maysa</strong>, lançou um disco, chamado “Ando só numa multidões de<br />

amores”, pela Philips, era um assumido recuo de tempo para <strong>Maysa</strong>, que estava com<br />

saudades de si mesma.<br />

<strong>Maysa</strong> recebeu um convite da Rede Globo para cantar no programa Som Livre,<br />

depois de esbravejar, impôs uma condição: só aceitaria se tivesse um papel na próxima<br />

telenovela. Falou de brincadeira e o pedido tornou-se real.<br />

Fez também um retoque no rosto na clínica do médico Ivo Pitanguy para melhor<br />

aparecer no vídeo. A personagem de <strong>Maysa</strong> chamava-se Simone e tinha uma história<br />

semelhante a sua, era casada com um industrial, estava cansada da vida de socialite e<br />

abandona o marido, trocando São Paulo pelo Rio. Essa novela passava às 22 horas, chamou-<br />

se “ O Cafona”, ficou em cartaz entre março e outubro de 1971, com direção de Daniel Filho<br />

e Walter Campos.<br />

<strong>Maysa</strong> também descobriu um novo mundo para ela, o teatro, e tornou-se protagonista<br />

do espetáculo Woyzeck, onde era Maria, a mulher de Franz Woyzeck, um barbeiro e soldado<br />

atormentado pela miséria e pela loucura. A peça foi encenada no teatro Casa Grande e a<br />

própria <strong>Maysa</strong> bancou o espetáculo do autor alemão Georg Büchner, vindo a ser seu segundo<br />

fracasso como produtora. O espetáculo não seguiu em frente, porque não daria o retorno<br />

financeiro a altura do investimento e da história contada. O insucesso de Woyzeck abriu um<br />

rombo irrecuperável em sua conta bancária, mas ela não desistiu da carreira de atriz. Em<br />

junho, a TV Tupi a chamou para fazer a telenovela “ Bel-Ami”. Nessa novela, <strong>Maysa</strong> fez o<br />

papel de Maricá, uma mulher caprichosa e endinheirada que ajudava o protagonista a subir<br />

na vida, um alpinista social e mau-caráter, que se torna colunista de jornal. Com a<br />

insatisfação da qualidade do trabalho, esqueceu a lista de desejos daquele tempo e resolveu<br />

construir uma casa na praia de Maricá, há 65 quilômetros do Rio de Janeiro, e que seria o seu<br />

refúgio.<br />

Em 1972, <strong>Maysa</strong> conheceu Carlos Alberto, nos corredores da TV Tupi, o galã da<br />

novela das sete, tendo um caso amoroso com ele, ainda vivendo com Miguel Azanza de<br />

quem se separaria em seguida.<br />

Carlos Alberto tivera uma história de casamentos fracassado igual a de <strong>Maysa</strong>. Tendo<br />

sido pai de dois filhos, cujas mães levaram embora, não permitindo contato com os mesmos.<br />

<strong>Maysa</strong>, por estar feliz com o término de seu casamento, resolveu viajar com a amiga<br />

31


Naíla, esposa de Guto Graça Melo, que fizera a percussão do show do Number One. Foram<br />

para Londres, passearam por Madri, visitaram Oren Wade e depois seguiram para Paris.<br />

Nesse período <strong>Maysa</strong> voltou a beber muito e brigou com Naíla, deixando-a em Paris.<br />

<strong>Maysa</strong> estava agressiva, gritava e dizia estar grávida. Coisa impossível de acontecer, pois<br />

desde o parto de Jayme, <strong>Maysa</strong> não podia mais ter filhos, devido a complicações no pós-<br />

operatório da cesariana a deixariam estéril causando-lhe obstrução definitiva nas trompas.<br />

Apesar dos problemas, elas viveram suas aventuras em Londres, quando deixaram de pagar<br />

a hospedagem, depois de atear fogo no quarto com os cigarros de <strong>Maysa</strong>.<br />

A temporada na Boate Di Mônaco em São Paulo foi interrompida em 12 de setembro<br />

de 1972, três dias antes do previsto em contrato, pois <strong>Maysa</strong> foi internada às pressas no Rio<br />

de Janeiro, por motivos nebulosos. O diagnóstico foi dado como laringite, uma suposta<br />

complicação da gripe mal curada que provocara o adiamento da estréia. Disseram também<br />

que fora vítima de uma forte crise renal, outras versões relataram uma inflamação no<br />

calcanhar. O motivo real de sua internação foi para um tratamento de desintoxicação<br />

alcoólica.<br />

Em 1972, <strong>Maysa</strong> manifesta o desejo de voltar a estudar. Faria o exame supletivo ou<br />

Artigo 99, para depois prestar vestibular para medicina ou jornalismo e nesse mesmo período<br />

montaria a peça “Entre quatro paredes”, do existencialista francês Jean Paul Sartre. Abriu um<br />

brechó, um dos primeiros brechós brasileiros, o “Malé Lixo”, em Copacabana, no Rio de<br />

Janeiro.<br />

<strong>Maysa</strong> e Carlos Alberto moraram cerca de 1 mês em Belo Horizonte, “idéia” que<br />

tivera quando passeavam nas cidades históricas de Minas. Só voltaram para o Rio, porque<br />

<strong>Maysa</strong> fora alvo de fofoca que a deixaram muito irritada e fez retornar ao Rio de Janeiro.<br />

Pela primeira vez na vida, <strong>Maysa</strong>, fez um jornal, no caso O Globo publicar uma nota<br />

dizendo que aquilo que estavam publicando sobre ela, não tinha data, hora e local e que<br />

aquela manchete não era verdadeira, não podia ser comprovada. Era o dito pelo jornal e o<br />

não dito por <strong>Maysa</strong>.<br />

Em 1973, <strong>Maysa</strong> e Carlos Alberto foram para Maricá, onde ficaram por um bom<br />

tempo naquele refúgio, e a mesma crescendo devido a sua construção. Na região não chegara<br />

ainda a luz elétrica, para se ter idéia da imensidão do refúgio. Naquele ano <strong>Maysa</strong> disse em<br />

entrevista a revista “A Cigarra” que: “bom é não ter hora para nada, é acordar de manhã<br />

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com os passarinhos cantando, é praia, é peixe tirado na hora, é viver no mar, porque eu sem<br />

mar não sou gente. Mesmo na minha época de zorra, eu tomava meu pileque, mas às sete da<br />

manhã estava na praia curtindo o porre ou começando outro. Eu tenho a impressão de que<br />

vivi esta vida, aquela fase de zorra é como se nunca tivesse existido. Não estou dando uma<br />

de me isolar do mundo, é tudo tão mais completo, tão maior, dentro de uma vitalidade que o<br />

sol dá. Não sei bem explicar o que faço. Leio pra burro, pinto, ouço música, vivo.”<br />

Quando o repórter quis saber se ela tinha religião, ela disse, não, para ela a filosofia<br />

de vida era Rosa Cruz, ela acreditava no Karma, profundamente.<br />

A idéia de maternidade para <strong>Maysa</strong>, transformou-se em obsessão. Em maio de 1973,<br />

anunciou publicamente que estava grávida, posando para a revista Sétimo Céu ao lado de<br />

Carlos Alberto, exibindo roupinhas do enxoval do bebê. Tinha certeza de que seria uma<br />

menina e já escolhera o nome para ela: “Vida”. Semanas depois, mandou avisar à imprensa<br />

que perdera o bebê. Nas duas vezes que sua cunhada Dora Monjardim teve filhos, um deles<br />

uma menina chamada <strong>Maysa</strong> em sua homenagem. <strong>Maysa</strong> disse à Dora:<br />

“ - Você é quem teve o bebê, mas a criança vai ser minha filha, ainda que indiretamente.”<br />

Quando a filha de Naíla e Guto Graça Melo nasceu, <strong>Maysa</strong> ficou irritada em saber<br />

que a madrinha seria Marília Pêra e não ela. Com esse fato <strong>Maysa</strong> rompeu ligações com<br />

Guto.<br />

Nos primeiros meses de 1974, lançaria um novo disco, que seria o último de sua<br />

carreira. Este LP representava para <strong>Maysa</strong> a sua nova maneira de cantar e a sua verdadeira<br />

maneira de ser, o produtor foi Aloysio de Oliveira. No mesmo ano, em uma entrevista que<br />

<strong>Maysa</strong> concedera ao Jornal do Brasil, ela disse: “Sofro de solidão, sou uma romântica.” Esta<br />

entrevista foi concedida em uma época em que <strong>Maysa</strong> estava amadurecida, em que só dava<br />

entrevista depois de analisar se queria, só recebia em sua casa se valesse a pena estar lá.<br />

Carlos Alberto recebeu o convite de Janete Clair para ser protagonista da telenovela<br />

das sete na Globo “Bravo!” Analisou a proposta juntamente com sua mulher,<strong>Maysa</strong>, pois a<br />

nova novela os colocaria aos dois em evidência e no alvo da fofoca. Dito e feito, ele aceitou<br />

a proposta e viraram alvos de fofoca. Os jornais diziam que o relacionamento tinha acabado e<br />

era mentira. <strong>Maysa</strong> estava pela primeira vez amando e com paz interior.<br />

Em julho de 1975, <strong>Maysa</strong> disse em uma entrevista que deu para revista Ele & Ela que<br />

seu relacionamento com Carlos Alberto não estava bem, disse também que apesar das<br />

33


sessões de análise, acordava sempre angustiada, com as mãos frias e com o desespero<br />

cravado no peito, sem nenhuma explicação plausível. Revelaria que continuava a beber, só<br />

que não em público e sim na sua casa. Nessa mesma época, o coração de <strong>Maysa</strong> ficou<br />

dividido entre Carlos Alberto e Júlio Medaglia, autor da música tema da novela Bravo,os<br />

dois eram diferentes, embora sedutores. Carlos Alberto para <strong>Maysa</strong> era o seu porto seguro, a<br />

vida serena de Maricá e Júlio era o artista da música, uma presença marcante, como a<br />

lembrar-lhe a todo instante a possibilidade de uma retomada de carreira.<br />

<strong>Maysa</strong>, a partir do dia 18 de novembro de 1975, uma terça feira, se apresentaria na<br />

boate Igrejinha em São Paulo, em um show dirigido pelo dramaturgo, jornalista e psiquiatra<br />

Roberto Freire. Esta seria sua última temporada de shows.<br />

Pink Wainer, filha de Danuza Leão e Samuel Wainer, entrevistou <strong>Maysa</strong> em seu<br />

apartamento de Copacabana, para um programa de televisão que iria ao ar aos sábados, na<br />

TV Bandeirantes e que tinha o objetivo de fazer um histórico da vida do entrevistado, Pink<br />

contou que <strong>Maysa</strong> fora agressiva em seu bate papo, e que houve apenas um momento de<br />

desconcentração quando <strong>Maysa</strong> ofereceu uísque ao seu cachorrinho basset em um copo<br />

longo, e o mesmo enfiou o focinho comprido que se ajustava perfeitamente ao formato do<br />

copo e bebeu junto com ela. Pink revelou mais tarde ter tido medo de <strong>Maysa</strong>.<br />

Depois da temporada no Igrejinha, <strong>Maysa</strong> internou-se em uma clínica para introduzir<br />

no corpo uma pastilha de Antabuse, uma substância química utilizada para o tratamento do<br />

alcoolismo crônico, em alguns casos o uso de álcool nesse tratamento pode levar a morte. A<br />

substância não eliminaria o desejo de beber, mas o desejo de ficar bem de <strong>Maysa</strong> estava feito<br />

em sua mente.<br />

Dia 22 de Janeiro de 1977, <strong>Maysa</strong>, levantou da cama pela última vez, particularmente<br />

amorosa. Era sábado, antes de seguir viagem para Maricá, resolvera almoçar com os pais,<br />

que tinham trocado havia pouco tempo São Paulo pelo Rio de Janeiro. Levou consigo o seu<br />

passarinho de estimação, e ao encontrar os pais, pediu que cuidassem dele por uns dias.<br />

Depois do almoço, recostou-se ao lado do pai no sofá, deu-lhe um beijo e deitou a cabeça em<br />

seu colo,dizendo:- “Monja eu te amo.” repetiu o mesmo gesto e a mesma frase para Inah.<br />

Monja notou a filha com ar de cansada, <strong>Maysa</strong> andava mesmo varando noites em claro, um<br />

dos resultados dos remédios que tomava para emagrecer era a terrível a insônia que a<br />

perseguia nos últimos meses. <strong>Maysa</strong>, trocara o efeito da bebida por doses excessivas de<br />

34


medicamentos, que lhe causavam vertigens e tonturas, passou a ingerir compulsivamente<br />

comprimidos de Minifage, inibidor de apetite que provocava vista turva e dependência<br />

química, e Lasix, um remédio para insuficiência renal que tinha efeito diurético,eliminador<br />

de líquidos, portanto, peso.Por causa dos efeitos do remédio, <strong>Maysa</strong>, tinha surtos de<br />

embotamentos e delírios.<br />

Monja recomendou à filha que não enfrentasse a estrada para Maricá naquele estado<br />

e que o melhor seria dormir ali no sábado e no domingo, depois de acordar mais disposta,<br />

pegar o rumo da praia. A filha não deu ouvidos aos conselhos paternos.<br />

<strong>Maysa</strong> dirigiu-se em sua Brasília a sua casa em Maricá, passando pela ponte que liga<br />

o Rio a Niterói. Ela corria a mais de cem quilômetros por hora. E trafegava com o vidro<br />

esquerdo, ao lado do volante totalmente aberto. O vidro da direita, fechado. Essa<br />

configuração dos vidros provocou um forte vácuo no interior da Brasília e comprometeu sua<br />

estabilidade. E foi assim que às 17h50, quando o carro alcançou o décimo ponto em que a<br />

mureta de concreto que divide os dois sentidos da ponte dá lugar a um cabo de aço para<br />

tornar possível o retorno em casos de emergência, exatamente ali, <strong>Maysa</strong> tentou desviar de<br />

outro veículo e foi atingida por uma rajada de vento forte, algo comum àquela hora do dia<br />

sobre a ponte, que a fez perder o controle do automóvel chocando-se contra o cabo de aço,<br />

para em seguida, bater de frente com violência na quina de concreto armado onde<br />

recomeçava a mureta. O capô do carro invadiu a cabine e o veículo ainda rodopiou pela pista,<br />

batendo os dois lados no muro de proteção. A frente da Brasília azul transformou-se em um<br />

amontoado de ferros retorcidos. Com a intensidade da batida, o volante foi parar na altura do<br />

banco traseiro. <strong>Maysa</strong> sofreu afundamento de tórax, costelas quebradas, lesões na cabeça e<br />

múltiplas fraturas expostas espalhadas pelas pernas e pelos braços, morrendo antes da<br />

chegada do resgate. Seu caixão foi lacrado e seu corpo coberto inteiramente por rosas<br />

vermelhas. <strong>Maysa</strong> foi enterrada no jazigo perpétuo 245-c na quadra 30 do São João Batista,<br />

às 13h30.<br />

O filho de <strong>Maysa</strong>, Jayme, recebeu a noticia da morte da mãe pelo rádio. Ele se<br />

encontrava numa fazenda de um amigo e acabara de voltar de sua lua de mel, quando de<br />

repente ouviu uma das músicas de sua mãe tocando no rádio, então houve uma interrupção e<br />

o locutor comunicou o falecimento de <strong>Maysa</strong>.<br />

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1.1 Discografia e trabalhos<br />

LPs e CDs:<br />

● Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> – lançado também em Cd no Japão.<br />

● <strong>Maysa</strong> – lançado também em Cd no Japão.<br />

● Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> N° 2 - lançado também em Cd no Japão.<br />

● Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> N° 3.<br />

● Convite para ouvir <strong>Maysa</strong> N° 4.<br />

● <strong>Maysa</strong> é <strong>Maysa</strong> ... è <strong>Maysa</strong>, é <strong>Maysa</strong>!<br />

● Voltei.<br />

● <strong>Maysa</strong> canta sucessos.<br />

● <strong>Maysa</strong> e os grandes sucessos – Reedição do LP <strong>Maysa</strong> é <strong>Maysa</strong> ... È <strong>Maysa</strong>, é <strong>Maysa</strong>!,<br />

de 1959.<br />

● <strong>Maysa</strong> sings songs before dawn.<br />

● <strong>Maysa</strong> – Argentina (1961) - Reedição de <strong>Maysa</strong> sings songs before dawn, sendo as<br />

músicas dispostas em ordem diferente e com títulos traduzidos para o espanhol.<br />

● <strong>Maysa</strong> – Uruguai (1961) - Reedição de <strong>Maysa</strong> sings songs before dawn, sendo as<br />

músicas dispostas em ordem diferente e com títulos traduzidos para o espanhol.<br />

● <strong>Maysa</strong> <strong>Matarazzo</strong> – Peru (1961) - Reedição de <strong>Maysa</strong> sings songs before dawn, sendo<br />

as músicas dispostas em ordem diferente e com títulos traduzidos para o espanhol.<br />

● <strong>Maysa</strong>, amor... <strong>Maysa</strong> (1961).<br />

● Barquinho (1961).<br />

● Canção do amor mais triste (1962).<br />

● <strong>Maysa</strong>. Lp – 1964 e em Cd pela Polygram em, 1995 e pela Universal em, 2003.<br />

● <strong>Maysa</strong>. Lp – 1966 e em Cd pela BMG em, 1993 e pela RCA em, 2002.<br />

● <strong>Maysa</strong> volume 2 – Reedição do LP <strong>Maysa</strong>, amor... e <strong>Maysa</strong>, de 1961.<br />

● Tempo di samba - Reedição do LP Barqinho, lançado em 1961.<br />

● <strong>Maysa</strong> - Reedição do LP Canção do amor mais triste, de 1962.<br />

● <strong>Maysa</strong> - Lp – Copacabana (1969).<br />

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● Canecão apresenta <strong>Maysa</strong> (ao vivo) (1969).<br />

● A personalidade de <strong>Maysa</strong> (1969) – Reedição do LP <strong>Maysa</strong> canta sucessos, de 1960.<br />

● Ando só numa multidões de amores (1970).<br />

● <strong>Maysa</strong> (1978) - Reedição do LP Ando só numa multidão de amores, de 1970.<br />

● <strong>Maysa</strong> (1974).<br />

● <strong>Maysa</strong> e os grandes sucessos (1983) - Reedição do LP <strong>Maysa</strong> é <strong>Maysa</strong> ... È <strong>Maysa</strong>, é<br />

<strong>Maysa</strong>!, de 1959.<br />

Coletâneas:<br />

● Os grandes sucessos de <strong>Maysa</strong> (1969).<br />

● A música de <strong>Maysa</strong> (1960).<br />

● Ternura ... é <strong>Maysa</strong> (1965).<br />

● Eu não existo sem você (1969).<br />

● A personalidade de <strong>Maysa</strong> (1969)<br />

● Dois na fossa – <strong>Maysa</strong> & Tito Madi ( 1975).<br />

● Para sempre <strong>Maysa</strong> - LP Duplo – 1977.<br />

● Bom é querer bem (1978).<br />

● <strong>Maysa</strong> – Série Retrospecto – Vol.3 – 1979.<br />

● A arte do encontro - Vol.4 <strong>Maysa</strong> e Maria Creuza – 1981.<br />

● Presença de Elis Regina e <strong>Maysa</strong> - LP Duplo – 1981.<br />

● Convite pra ouvir <strong>Maysa</strong> - LP Duplo – 1988.<br />

● Demais ( 1989).<br />

● Tom Jobim por <strong>Maysa</strong> – Viva <strong>Maysa</strong> (1993).<br />

● Acervo especial – <strong>Maysa</strong> (1993).<br />

● <strong>Maysa</strong> – Cd duplo- 1996.<br />

● Bossa Nova por <strong>Maysa</strong> (1997).<br />

● <strong>Maysa</strong> (1998).<br />

● Bis – <strong>Maysa</strong> (2000).<br />

● Simplesmente <strong>Maysa</strong> – Coletânia com 4 Cds – 2000.<br />

● Quatro em um – Vol 13 – 2001.<br />

● Retratos – <strong>Maysa</strong> (2004).<br />

● Novo millennium (2005).<br />

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<strong>Maysa</strong> em sua carreira de cantora apresentou-se em diversas casas noturnas de São<br />

Paulo, Rio de Janeiro, França, Espanha, Portugal, Uruguai, Paraguai, Argentina, Venezuela,<br />

Colômbia, Estados Unidos e México;<br />

Foi a primeira cantora brasileira a cantar no Japão;<br />

Foi apresentadora de programas de TV na extinta TV Rio e em São Paulo na<br />

também extinta TV Record;<br />

Participou de vários Festivais da Canção Nacionais e Internacionais;<br />

Participou cantando de quatro filmes: Matemática Zero, Amor Dez; O Cantor e o<br />

Milionário; O Batedor de Carteiras; e Cameló da Rua Larga;<br />

Apresentou-se em programas de rádio e fez comerciais de TV;<br />

Escreveu um livro de poemas Comigos de mim durante uma temporada que passou<br />

em Paris e Portugal e pretendeu publicá-lo, mas não o fez;<br />

Montou uma produtora de vídeos a Guelmay, a fusão de seu nome com o nome de<br />

seu namorado na época, Miguel Azanza;<br />

Produziu e protagonizou o espetáculo Woyzeck;<br />

Interpretou seu alterego, uma personagem bêbada, na telenovela O Cafona em 1966;<br />

Participou do júri do Programa Flávio Cavalcanti e também de um programa de TV<br />

em Los Angeles.<br />

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2. CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS<br />

Segundo a leitura da biografia da cantora e compositora <strong>Maysa</strong>, pode-se levantar os<br />

seguintes sintomas:<br />

1. Sentimento de abandono;<br />

2. Sentimento de vazio;<br />

3. Alcoolismo;<br />

4. Comer compulsivamente;<br />

5. Fumar compulsivamente;<br />

6. Medo de abandono;<br />

7. Disforia;<br />

8. Tentativas de suicídio;<br />

9. Delírios;<br />

10. Pensamento mágico;<br />

11. Impulsividade;<br />

12. Mentiras;<br />

13. Desvalorização da auto-imagem;<br />

14. Briguenta<br />

15. Instabilidade emocional.<br />

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3. Transtorno de Personalidade, segundo o DSM-IV:<br />

È um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia<br />

acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é generalizado e inflexível, tem<br />

início na adolescência ou no começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e<br />

provoca sofrimento ou prejuízo.<br />

Critérios Diagnósticos para um transtorno de personalidade:<br />

A. Um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia<br />

acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Este padrão se manifesta<br />

em duas ou mais áreas:<br />

- Cognição: modo de perceber e interpretar a si mesmo, pessoas e eventos;<br />

- Afetividade: variação, intensidade, labilidade e adequação a resposta normal;<br />

- Funcionamento interpessoal;<br />

- Controle dos impulsos;<br />

B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma ampla faixa de situações pessoais e<br />

sociais;<br />

C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no<br />

funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do<br />

individuo;<br />

D. Padrão é estável e de longa duração, podendo seu início remontar a adolescência ou<br />

começo da idade adulta;<br />

E. O padrão persistente não é mais bem explicado como uma manifestação ou<br />

conseqüência de outro transtorno mental;<br />

F. O padrão persistente não é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma<br />

substância (drogas, medicação) ou condição médica geral.<br />

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Grupo B: Dramáticos, emotivos ou imprevisíveis.<br />

Transtorno de Personalidade Borderline: é um padrão de instabilidade nos<br />

relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, bem como de acentuada<br />

impulsividade. Ocorre:<br />

• Com maior freqüência em mulheres;<br />

• Tende a se tornar menos evidente ou apresenta remissão com a idade.<br />

Transtorno de Personalidade Borderline<br />

Critérios Diagnósticos: Um padrão global de instabilidade dos relacionamentos<br />

interpessoais, da auto-imagem e dos afetos e acentuada impulsividade, que se manifesta<br />

no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por,<br />

no mínimo, cinco dos seguintes critérios:<br />

(1) Esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono real ou imaginário.<br />

Nota: Não incluir comportamento suicida ou auto mutilante, coberto no Critério 5.<br />

As pessoas acreditam que este abandono implica que eles são maus. Não toleram a<br />

solidão ou abandono e têm a necessidade de sempre ter alguém com elas. A percepção do<br />

abandono pode ocasionar alterações na auto-imagem, afeto, na cognição e no<br />

comportamento. Para evitar o abandono as pessoas podem apresentar comportamento auto<br />

mutilante ou suicida.<br />

(2) Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado<br />

pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização<br />

Podem sentir empatia e carinho por outras pessoas, mas com a expectativa de que a<br />

outra pessoa estará disponível para atender suas necessidades quando bem entender.<br />

(3) Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-<br />

imagem ou do sentimento de self.<br />

41


Podem ocorrer mudanças súbitas e dramáticas são observadas na auto-imagem,<br />

mudanças de opiniões e planos de carreira, identidade sexual, valores e tipos de amigos.<br />

Esses indivíduos podem apresentar pior desempenho em situações de trabalho ou escolares<br />

não estruturados.<br />

(4) Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria<br />

pessoa (por exemplo, gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção<br />

imprudente, comer compulsivo).<br />

(5) Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de<br />

comportamento auto mulilante.<br />

Tentativas de suicídio são as razões pelos quais eles buscam auxilio, ajuda, são<br />

precipitados por sentimentos de rejeição ou separação, ou por expectativas que exigem<br />

maior responsabilidade. A automutilação pode ocorrer durante experiências dissociativas<br />

trazendo alivio pela reafirmação da capacidade de se sentir mal. (perverso)<br />

(6) Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por<br />

exemplo, episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente<br />

durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias).<br />

São perturbados por períodos de raiva, pânico, desespero e raramente aliviado por<br />

períodos de bem-estar ou satisfação.<br />

(7) Sentimentos crônicos de vazio.<br />

Sempre estão procurando algo para fazer.<br />

(8) Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por exemplo,<br />

demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes)<br />

Exibem sarcasmo, persistente amargura ou explosões verbais. A raiva pode vir a<br />

tona quando um cuidador ou amante é visto como negligente, omisso, indiferente ou prestes<br />

a abandoná-la.<br />

42


(9) Ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou graves sintomas<br />

dissociativos transitórios (despersonalização).<br />

Características:<br />

- podem desenvolver sintomas psicóticos durante períodos de estresse (alucinações,<br />

distorções da imagem corporal, idéias de referências e fenômenos hipnagógicos);<br />

- podem se sentir mais seguros com objetos transicionais do que relacionamentos (animal<br />

de estimação ou posse de um objeto inanimado);<br />

- morte prematura por suicídio pode ocorrer em indivíduos com este transtorno;<br />

- podem ocorrer deficiências físicas devido aos comportamentos automutilantes ou<br />

tentativas fracassadas de suicídio;<br />

- perdas recorrentes de empregos, interrupção dos estudos e casamentos rompidos são<br />

comuns;<br />

- abuso físico e sexual, negligência, conflito hostil e perda ou separação parental precoce<br />

são mais comuns na história da infância.<br />

DSM-IV Manual de diagnóstico de transtornos mentais- 4ª ed. Texto Revisado.<br />

Porto Alegre. Artmed, 2003. Tradução Claudia Dornelles<br />

CID-10<br />

Transtorno de Personalidade com instabilidade emocional:<br />

Transtorno de personalidade é caracterizado por tendências nítidas a agir de modo<br />

imprevisível sem consideração pelas conseqüências, humor imprevisível e caprichoso;<br />

tendência a acessos de cólera e uma incapacidade de controlar os comportamentos<br />

impulsivos, tendência a adotar um comportamento briguento e a entrar em conflito com os<br />

outros, particularmente quando os atos impulsivos são contrariados ou censurados. Dois<br />

tipos podem ser distintos: o tipo impulsivo, caracterizado principalmente por uma<br />

instabilidade emocional e a falta de controle dos impulsos e o tipo “borderline”,<br />

caracterizado alem disto por perturbações da auto-imagem, do estabelecimento de projetos<br />

43


e das preferências pessoais, por uma tendência a adotar um comportamento auto-destrutivo,<br />

compreendendo tentativas de suicídio e gestos suicidas.<br />

CID – 10 Classificação Estatística Internacional de doenças e problemas<br />

relacionados a Saúde- Décima Revisão- Vol. 1- Edusp.<br />

44


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

As características psicológicas identificadas sugerem o Transtorno de Personalidade<br />

Borderline, por apresentar os seguintes sintomas: sentimento de vazio, medo de<br />

abandono, desvalorização da auto-imagem, impulsividade, compulsão alimentar,<br />

disforia, alcoolismo, compulsão por fumar, instabilidade emocional, delírio,<br />

comportamento automutilante e tentativas de suicídio.<br />

Indivíduos com esse histórico, relatado nos dois mais importantes manuais de<br />

referência em doenças psiquiátricas, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos<br />

Mentais – Versão IV (DSM IV) e a Classificação Internacional de Doenças – Versão 10<br />

(CID-10), apresentam em suas histórias de vida uma falha no desenvolvimento afetivo com<br />

os pais, retiramento emocional destes ou separação.<br />

Segundo Bowlby, “ as crianças que formam um vínculo de apego com um adulto –<br />

ou seja, um relacionamento sócio-emocional duradouro tem mais possibilidades de<br />

sobreviver”.<br />

• Crianças que desenvolveram vínculos seguros constroem amizades de<br />

melhor qualidade e apresentam menos conflitos com seus colegas do que<br />

crianças que com vínculos inseguros (Liebermann, Doyle Er Markiewicz)<br />

apud Kail, 2004.<br />

• Crianças em idade escolar têm menor tendência de apresentar problemas<br />

comportamentais se formaram vínculos seguros, e maior tendência se<br />

formaram vínculos inseguros (Carlson, 1998; Wakschlags E Hans, 1999)<br />

apud Kail, 2004.<br />

• É evidente que o vínculo seguro promove a confiança nos outros seres<br />

humanos, o que leva a interações sociais melhores posteriormente ”( Kail<br />

2004).<br />

A teoria de Bowlby confirmada pelos demais citados acima, explica de certa forma<br />

os problemas enfrentados por <strong>Maysa</strong>. É provável que quando bebê o vínculo criado com a<br />

mãe, que acompanhava o marido em suas noitadas, ou qualquer outra figura parental tenha<br />

45


sido inseguro, frágil, levando a desconfiança no outro e mais tarde a não criação de vínculo,<br />

com seus parceiros, amigo e inclusive com seu próprio filho.<br />

<strong>Maysa</strong>, não teve uma convivência muito convencional com os pais. Ainda criança,<br />

tinha dificuldades de se encontrar com os pais. Estavam sempre dormindo quando ela saia<br />

para a escola e já não estavam em casa quando retornava, devido à vida boêmia que<br />

levavam. Recebeu tratamento muito distante emocionalmente e inconsistente por parte do<br />

pai e principalmente por parte da mãe, chegando a ficar impossibilitada de ir a escola por 3<br />

dias porque não conseguiu encontrar os pais para assinarem uma advertência em sua<br />

caderneta escolar, fruto de suas peraltices. A confirmação desse retiramento emocional por<br />

parte dos pais se dá quando eles a enviam a um colégio interno.<br />

(1) Esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono real ou<br />

imaginário, nessa fase, a menina demonstra o medo do abandono ao pedir a mãe que lhe<br />

traga um vidrinho com o seu perfume na próxima visita. <strong>Maysa</strong> derramava o perfume no<br />

travesseiro para dormir sentindo o cheiro da mãe todas as noites. É evidente o sentimento<br />

de abandono.<br />

Já adulta, o pavor de ficar sozinha (apego inseguro), levava <strong>Maysa</strong> a passar trotes<br />

por telefone só para ter com quem conversar altas horas da noite.<br />

(4) Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à<br />

própria pessoa (por exemplo, gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção<br />

imprudente, comer compulsivo), a adolescência é marcada por comportamentos<br />

rebeldes, saía para a escola sem o uniforme e vestida como uma mulher adulta, com saltos<br />

altíssimos, maquiagem e exibindo um cigarro entre os dedos. Na mesma época começam os<br />

problemas de ordem alimentar e o sobrepeso a compulsão por fumar, ter diversos<br />

namorados e mais tarde já idade adulta, o abuso constante de álcool.<br />

(7) Sentimentos crônicos de vazio. Sempre estão procurando algo para fazer. A<br />

impulsividade e os sentimentos crônicos de inadequação comprometem sua qualidade de<br />

vida pelo comportamento de risco que adota com a direção imprudente de veículo, jogando<br />

até perder todo o dinheiro de que dispunha para a viagem, inclusive o colar de pérolas que<br />

46


trazia no pescoço, se relacionando com qualquer um, como em Paris durante uma<br />

temporada em que esteve por lá e passava as noites em companhia de mendigos, rufiões e<br />

prostitutas, sendo inclusive presa por diversas vezes ou encontrada pela polícia francesa<br />

completamente embriagada, época em que se encontrava com mais de 100 Kg de peso.<br />

(3) Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-<br />

imagem ou do sentimento de self. A desvalorização da própria imagem aparece quando,<br />

criança ainda, vê suas fotos quando bebê e se acha um monstro: com cabeça grande, olhos<br />

grandes e corpo pequetitinho. Mudanças súbitas e dramáticas de imagem, ora deformada,<br />

obesa e infeliz. Ora magra e contente, foram uma constante. Essas mudanças influíam nas<br />

aspirações que <strong>Maysa</strong> tinha para sua carreira e por isso operava mudanças repentinas em<br />

sua imagem e sua carreira profissional.<br />

O comportamento de mentir em diversas entrevistas. Quando da separação do<br />

marido André <strong>Matarazzo</strong>, ela dá uma entrevista cheia de mentiras que é desmentida por ela<br />

algumas horas depois. Era constante a mudança de valores e mudanças de opinião.<br />

(6) Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por<br />

exemplo, episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente<br />

durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias). A instabilidade<br />

emocional ou oscilação brusca entre emoções como amor e ódio, entre indiferença ou<br />

apatia e o entusiasmo exagerado, alegria efusiva e tristeza profunda, aparece na<br />

incapacidade de controlar o comportamento briguento e entrar em conflito com todo<br />

mundo, particularmente quando seus atos impulsivos não são compreendidos ou seus<br />

desejos são contrariados por alguém. Essas crises de fúria e agressividade acontecem de<br />

forma inesperada, intempestiva e, habitualmente, tem por alvo pessoas do convívio mais<br />

íntimo como pais, irmãos, familiares, amigos, namorados, cônjuges. <strong>Maysa</strong> tem crises<br />

constantes de fúria em meio a festas, apresentações em que agride oralmente, fisicamente e<br />

até atirando coisas em cima das pessoas e chegando as via de fato com diversos namorados.<br />

Pessoas famosas foram alvo de seu sarcasmo, ironias e xingamentos, pontapés, sapatos,<br />

cinzeiros, microfones e garrafas. <strong>Maysa</strong> não tolerava conversas enquanto cantava. Na<br />

47


aceitava servir de fundo musical para conversas paralelas, nesse momento todos conheciam<br />

sua fúria.<br />

(5) Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de<br />

comportamento auto mutilante. Tentativas de suicídio são as razões pelos quais eles<br />

buscam auxilio, ajuda, são precipitados por sentimentos de rejeição ou separação, ou por<br />

expectativas que exigem maior responsabilidade. A automutilação pode ocorrer durante<br />

experiências dissociativas trazendo alívio pela reafirmação da capacidade de se sentir mal.<br />

(perverso).<br />

O círculo se fecha na adoção de um comportamento autodestrutivo, automutilante,<br />

compreendendo as tentativas diversas de suicídio. Por ser uma mulher descasada numa<br />

época em que a sociedade brasileira não admitia tal avanço, <strong>Maysa</strong> sofreu ataques de toda a<br />

imprensa, onde foi acusada de ter se aproveitado do nome da família <strong>Matarazzo</strong>, de ter se<br />

separado do marido para se autopromover e de que sua música “Ouça” seria um plágio. A<br />

bebida que entrara na sua vida na tenra infância, quando após as noitadas que os pais<br />

promoviam em casa, ela bebia os restos dos copos de licores dos convidados quando estes<br />

se retiravam, e que retornara na figura de dois goles de uísque apenas para “dar coragem”<br />

de entrar no palco, agora se tornara litros de vodca e uísque. Apresentou inúmeros<br />

programas, cambaleante, completamente embriagada. Segurava-se constantemente nas<br />

partes do cenário para não cair e trazia o semblante fechado, carregado de amarga ironia.<br />

Faltava aos shows contratados. Foi por isso processada judicialmente por empresários. E<br />

tinha uma simples farra transformada pela imprensa em “bacanal”. Protagonizava<br />

escândalos desnecessários como em Três Rios, interior do Rio de Janeiro.<br />

A autodestruição e automutilação ficam evidentes. Essa fase foi responsável por<br />

sua primeira tentativa de suicídio. <strong>Maysa</strong> cortou os pulsos pela primeira vez aos 22 anos.<br />

Ela tentou o suicídio por diversas vezes, cortando os pulsos ou misturando remédios às<br />

bebidas alcoólicas. E em algumas dessas tentativas teve o cuidado de preparar a cena para<br />

que seu companheiro, Miguel Azanza, a encontrasse sem vida. E se encantava quando após<br />

a crise se dava conta de que o companheiro a salvara e se fizera isso é porque a amava. O<br />

medo de abandono crônico precisava de uma confirmação de que era amada pelo<br />

companheiro. Mesmo que para isso precisasse arriscar a própria vida.<br />

48


(9) Ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou graves sintomas<br />

dissociativos transitórios (despersonalização), <strong>Maysa</strong> confessa numa entrevista que<br />

havia sofrido um princípio de Delírio Tremens e que por isso se submetera a um tratamento<br />

de desintoxicação, em Buenos Aires.<br />

A autodestruição e automutilação ficam evidentes. Essa fase foi responsável por<br />

sua primeira tentativa de suicídio. <strong>Maysa</strong> cortou os pulsos pela primeira vez aos 22 anos.<br />

Ela tentou o suicídio por diversas vezes, cortando os pulsos ou misturando remédios às<br />

bebidas alcoólicas. E em algumas dessas tentativas teve o cuidado de preparar a cena para<br />

que seu companheiro, Miguel Azanza, a encontrasse sem vida. E se encantava quando após<br />

a crise se dava conta de que o companheiro a salvara e se fizera isso é porque a amava. O<br />

medo de abandono crônico precisava de uma confirmação de que era amada pelo<br />

companheiro. Mesmo que para isso precisasse arriscar a própria vida.<br />

Embora o indivíduo que apresenta o Transtorno de Personalidade Borderline,<br />

mantenha condutas até bastante adequadas em grande número de situações, ele tropeça<br />

escandalosamente em certas situações triviais e simples. A característica básica é o humor<br />

imprevisível e caprichoso. O indivíduo não mede as conseqüências de seus atos, importa-se<br />

em dar vazão à cólera e nada mais, tem como resultantes perdas recorrentes de empregos,<br />

interrupção de estudos, romances e casamentos rompidos. A vida conjugal com esse<br />

indivíduo pode ser muito problemática, pois ao mesmo tempo em que se apegam ao outro e<br />

se confessam dependentes e carentes desse outro, de repente, são capazes de maltratá-lo<br />

cruelmente. Patologicamente pode-se dizer que os indivíduos portadores desse transtorno<br />

são muito mais complexos que os neuróticos, embora menos perturbados que os psicóticos,<br />

não apresentando deformações de caráter típicas das personalidades sociopáticas. No<br />

Transtorno de Personalidade Borderline os indivíduos são sujeitos a acessos de ira ou mau<br />

gênio, em completa inadequação ao estímulo desencadeante.<br />

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

CID – 10 - Classificação Estatística Internacional de doenças e problemas relacionados<br />

á Saúde - Décima Revisão- Vol. 1- Edusp.<br />

DORNELLES, C. Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais. 4ª ed. Porto Alegre:<br />

Ed. Artmed, 2003 (DSM-IV)<br />

DSM-IV Manual de diagnóstico de transtornos mentais- 4ª ed. Texto Revisado. Porto<br />

Alegre. Artmed, 2003. Tradução Claudia Dornelles<br />

HOLMES. D.S. Psicologia dos Transtornos Mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Ed. Artmed,<br />

2001.<br />

KAIL, R. V. A Criança.São Paulo: Prentice Hall, 2004<br />

NETO, L. <strong>Maysa</strong> – Só numa multidão de amores. São Paulo: Ed. Globo, 2007.<br />

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