Anais do II Congresso de Estudos Fenomenológicos do Paraná e II ...
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“QUANTO BASTA PARA SER EXISTENCIALMENTE NORMAL ?”<br />
Yolanda Cintrão Forghieri*<br />
Muito tem si<strong>do</strong> escrito e <strong>de</strong>bati<strong>do</strong> a respeito da psicopatologia e anormalida<strong>de</strong> existencial .<br />
No campo da Fenomenologia é famosa a “ Psicopatologia Geral “ <strong>de</strong> Jaspers e merece<br />
menção “ Três formas <strong>de</strong> Existência Malograda “ <strong>de</strong> Binswanger e “O Tempo Vivi<strong>do</strong> “ <strong>de</strong><br />
Minkowski , entre outros .Entretanto , a respeito da saú<strong>de</strong> , ou normalida<strong>de</strong> existencial<br />
encontramos poucas publicações . Entre estas há uma longa obra <strong>de</strong> Binswanger , escrita<br />
em alemão “ Grundformen und Menschlichen Daseins “ .Fundamentan<strong>do</strong>-me neste<br />
psiquiatra e psicólogo , no filósofo fenomenólogo das relações inter pessoais Buber , e em<br />
minha própria vivência como aconselha<strong>do</strong>ra terapêutica, durante mais <strong>de</strong> meio século ,<br />
apresento a seguir minhas idéias sobre o assunto . Pois , como afirma Merleau – Ponty ,<br />
para compreen<strong>de</strong>r a Fenomenologia não basta estuda-la , é preciso vivê-la . Penso que ,<br />
num senti<strong>do</strong> amplo , ser existencialmente normal é ser feliz . É ser livre para reconhecer<br />
suas amplas possibilida<strong>de</strong>s e seus limites para fazer escolhas , e conseguir concretiza-las no<br />
<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> sua existência , conseguin<strong>do</strong> sintonizar-se em ser-no-mun<strong>do</strong> , que abrange a<br />
natureza e os seus semelhantes.Entretanto , não conseguimos ser permanentemente felizes ,<br />
pois os para<strong>do</strong>xos , conflitos , frustrações e adversida<strong>de</strong>s quan<strong>do</strong> intensos , po<strong>de</strong>m nos<br />
abalar profundamente . Isto acontece quan<strong>do</strong> tais vivências ameaçam ultrapassar nossos<br />
limites para suporta-las . A morte <strong>de</strong> uma pessoa muito querida , ou o seu a<strong>do</strong>ecimento<br />
terminal , o rompimento <strong>de</strong> uma relação amorosa profunda , um assassinato , um assalto ,<br />
um abalo sísmico ... são alguns poucos exemplos <strong>de</strong> tais vivências . Nessas ocasiões<br />
po<strong>de</strong>mos ficar abala<strong>do</strong>s , confusos , aflitos ou <strong>de</strong>primi<strong>do</strong>s , sem compreen<strong>de</strong>r o que está<br />
acontecen<strong>do</strong> e consequentemente sem saber como agir ; durante alguns momentos rápi<strong>do</strong>s<br />
ou prolonga<strong>do</strong>s . De certo mo<strong>do</strong> a<strong>de</strong>ntramos na anormalida<strong>de</strong> existencial . Porém , se já<br />
havíamos , anteriormente , consegui<strong>do</strong> ser felizes , acabamos conseguin<strong>do</strong> transcen<strong>de</strong>r as<br />
adversida<strong>de</strong>s , recuperan<strong>do</strong> o nosso bem-estar , a nossa felicida<strong>de</strong> . A esperança <strong>de</strong> alcançalos<br />
novamente nos anima a lutar e a conseguir recuperar nossa normalida<strong>de</strong> . Tal situação<br />
costuma repetir-se no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> nossa existência e é apenas assim que conseguimos ser<br />
existencialmente normais .Entretanto , quan<strong>do</strong> nos afundamos prolongadamente em nossos<br />
sofrimentos , como se tivéssemos caí<strong>do</strong> numa fossa , da qual não conseguimos subir ,<br />
estaremos precisan<strong>do</strong> da ajuda <strong>de</strong> alguém , para nos dar a mão e nos salvar , trazen<strong>do</strong>-nos<br />
novamente para o <strong>de</strong>correr normal <strong>de</strong> nossa existência .<br />
Palavras-chave: Anormalida<strong>de</strong> Existencial; Bem-estar; Recuperação Existencial.<br />
*Professora Titular <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Psicologia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo; e-mail:<br />
yolandaforghieri@uol.com.br<br />
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