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<strong>VAIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>SER</strong><br />
Falar de vaidade é falar da existência, pois, tudo é vaidade.<br />
Não apenas a juventude e a primavera da vida, mas tudo o mais que<br />
concerne à existência, em qualquer fase, tempo ou idade, de acordo<br />
com o diagnóstico filosófico do Eclesiastes, é vaidade.<br />
“Todo homem, por mais firme que seja, é vaidade” — decreta o<br />
salmo.<br />
Corremos por vaidade. Produzimos por vaidade. Conquistamos por<br />
vaidade. Desejamos pessoas e coisas por vaidade. Sonhamos<br />
vaidades. Cantamos vaidades. Narramos vaidades. Sofremos<br />
vaidades.<br />
Assim, nossas lágrimas são vaidades e nossas gargalhadas mais<br />
ainda. Afinal, quem vive sem os fugazes gostos da vaidade?<br />
O melhor de nós que esteja é pé, se em pé aparenta estar, o está<br />
apenas pelo inflamento de vento de nada e que o incha de vaidade.<br />
Até nossas melhores intenções são vaidades. Sim, nossas virtudes<br />
mais sinceras ainda são como jazida de minério preciso penetrado de<br />
lama, terra e cascalho.<br />
Disfarçamos tudo muito bem. Sim, para que nossas vaidades não se<br />
tornem feias de mais aos sentidos de todos, escondemo-las muito<br />
bem. Mascaradas de amor ao próximo, de missão social e cívica, de<br />
solidariedade, de campanhas pela paz, de fervor religioso, de cruzada<br />
moral e ética, de pureza doutrinária, de ação social e educacional, de<br />
piedade devocional, de dedicação às causas altruístas, de tudo o que<br />
puder passar por bom ou melhor...<br />
Mas lá no fundo lateja a vaidade!<br />
Assim, todas as nossas justiças são como trapo de imundícia, e,<br />
portanto, quem se enxerga já não se gloria de nada; pois diz:<br />
“Senhor me salva das minhas virtudes, para que elas não te sejam o<br />
culto do louco!”.
Há, porventura, entre os que me lêem alguém que deseje me<br />
contestar, dizendo: “Ah! Eu não! Eu não sou vaidade”?<br />
Se não há, então, pode ainda haver salvação para nós. Ora, isso se a<br />
consciência se tornar humilde e verdadeira no serviço à verdade, e<br />
que começa por nos declarar irredimível vaidade.<br />
Minha salvação está na minha admissão sincera de total perdição<br />
ante os olhos do Santo.<br />
Por tal admissão eu recebo Graça todos os dias. Especialmente nos<br />
dias quando venço meu engano de me achar melhor então do que<br />
antes.<br />
Na minha força é que preciso mais e mais de minha fraqueza. A<br />
fraqueza é o melhor antídoto contra a vaidade como virtude; e que é<br />
a forma de vaidade que o diabo mais gosta de encontrar em mim.<br />
Nele, cuja vida foi a única fora do serviço à vaidade,<br />
Caio Fábio<br />
Uma colaboração de ÁLVARO XIMENES.