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Janeiro-Fevereiro 2007.p65 - Arquidiocese de Florianópolis

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6<br />

- <strong>Janeiro</strong> e <strong>Fevereiro</strong> 2007<br />

Conhecendo as cartas católicas (2)<br />

Carta <strong>de</strong> Tiago (Tg 3-5): Os Perigos da Língua<br />

Um dos problemas que mais nos <strong>de</strong><br />

safiam, em qualquer grupo humano,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a família, é a comunicação.<br />

Hoje, e também na Igreja primitiva. Não<br />

foi diferente com os <strong>de</strong>stinatários da carta<br />

<strong>de</strong> Tiago, o qual aborda sob vários ângulos<br />

o assunto. Assim, já no capítulo<br />

1º, ele fala da necessida<strong>de</strong> do auto-controle<br />

da língua: que cada um seja pronto<br />

para ouvir, mas lento para falar e lento<br />

para se irritar (1,19). E argumenta: Se<br />

alguém julga ser religioso, mas não refreia<br />

a sua língua, engana-se a si mesmo<br />

e sua religião é vã (1,26). No capítulo<br />

4º, ele reprova a fofoca, o falar mal dos<br />

outros, dizendo que falar mal do irmão é<br />

falar mal da Lei e julgar a própria Lei<br />

(4,11). E isto porque, se o centro da Lei é<br />

o amor fraterno, criticar o irmão equivale<br />

a sobrepor-se à própria Lei e arvorar-se<br />

em seu juiz. Mas tu, pergunta Tiago,<br />

quem és, para julgares o teu próximo?<br />

(4,12) Esse questionamento retoma a<br />

palavra <strong>de</strong> Jesus em Mt 7,1: Não julgueis,<br />

e não sereis julgados. Outra palavra do<br />

Senhor retomada pelo Apóstolo é a proibição<br />

do juramento, pelo fato <strong>de</strong> que,<br />

entre cristãos, as afirmações <strong>de</strong>vem<br />

correspon<strong>de</strong>r à verda<strong>de</strong>, sem terem <strong>de</strong><br />

se apoiar em fórmulas <strong>de</strong> juramento: Sobretudo,<br />

irmãos, não jureis... O vosso sim<br />

seja sim, e o vosso não, não (5,12).<br />

Dominar a língua<br />

Certamente sem querer abafar as autênticas<br />

li<strong>de</strong>ranças, Tiago aconselha seus<br />

<strong>de</strong>stinatários a não quererem, afoitamente,<br />

tornar-se mestres, por causa da responsabilida<strong>de</strong><br />

e do perigo maior <strong>de</strong> quem ensina:<br />

Estamos sujeitos, diz ele, a julgamento<br />

mais severo, e todos tropeçamos<br />

em muitas coisas (3,1-2). E continua:<br />

Quem não peca no uso da língua é uma<br />

pessoa perfeita, capaz <strong>de</strong> dominar o corpo<br />

inteiro (3,2). A seguir, usando duas imagens<br />

expressivas, o freio na boca dos cavalos<br />

e o leme nas embarcações, alerta<br />

para a necessida<strong>de</strong> do controle da língua,<br />

esse membro tão pequeno, mas capaz<br />

<strong>de</strong> tantas coisas! (3,3-5) Outra imagem<br />

impactante é a da pequena fagulha, que<br />

acaba incendiando a floresta inteira. Assim<br />

a língua, capaz <strong>de</strong> pôr em chamas a<br />

roda da vida! Mais. Se as feras po<strong>de</strong>m<br />

ser domadas pela espécie humana, ninguém<br />

po<strong>de</strong> domar a própria língua (3,7-8).<br />

Tanto assim, que as pessoas não se dão<br />

conta da terrível incoerência que está no<br />

uso ambíguo da mesma língua: Com ela<br />

bendizemos a Deus e com ela amaldiçoamos<br />

os que Ele criou à sua imagem e<br />

semelhança (3,9). Ora, conclui o Apóstolo,<br />

não convém que seja assim! (3,10).<br />

A verda<strong>de</strong>ira sabedoria<br />

A sabedoria, que não é mera erudição,<br />

mas conhecimento que leva à prática da<br />

justiça, é dom <strong>de</strong> Deus. Se é dom, <strong>de</strong>ve<br />

ser pedido (1,5) e vem do alto, do Pai das<br />

luzes (1,17). Como, porém, saber que alguém<br />

a possui? Tiago respon<strong>de</strong>: Que ele<br />

mostre, com seu bom procedimento, que<br />

age com mansidão (3,13). A pedra <strong>de</strong> toque,<br />

então, da verda<strong>de</strong>ira sabedoria, é a<br />

humilda<strong>de</strong>. Sabedoria humil<strong>de</strong>, portanto,<br />

BÍBLIA<br />

grata pelo dom <strong>de</strong> Deus e disponível à<br />

partilha com todos os que a buscam. No<br />

entanto, existe a falsa sabedoria, dos falsos<br />

mestres, uma sabedoria terrena, egoísta,<br />

diabólica, fomentadora <strong>de</strong> ciúmes e<br />

rivalida<strong>de</strong>s (3,15-16), e o autor da carta<br />

<strong>de</strong>ve ter tido a dolorosa experiência <strong>de</strong> tudo<br />

isso. Por isso mesmo, sua advertência é<br />

tão severa. A severida<strong>de</strong>, porém, não o impe<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estimular à sabedoria que vem<br />

do alto, que é pacífica, conciliadora, e que<br />

semeia o fruto da justiça na paz para aqueles<br />

que promovem a paz (3,18).<br />

Conflitos e competições<br />

O contrário da sabedoria é a cobiça,<br />

responsável por verda<strong>de</strong>iras guerras e brigas<br />

na própria comunida<strong>de</strong> (4,1-2). Nesse<br />

ponto, Tiago chega a chamar seus <strong>de</strong>stinatários<br />

<strong>de</strong> adúlteros, por causa da sua<br />

amiza<strong>de</strong> com o mundo, porque a amiza<strong>de</strong><br />

com o mundo é inimiza<strong>de</strong> com Deus (4,4).<br />

É o que também lemos na primeira carta<br />

<strong>de</strong> João: Não ameis o mundo, nem o que<br />

há no mundo (1Jo 2,15). De que “mundo”<br />

se trata? É o “sistema”, a socieda<strong>de</strong><br />

construída na injustiça, socieda<strong>de</strong> no meio<br />

da qual vivemos mas com a qual não po<strong>de</strong>mos<br />

compactuar. Tanto assim que ser<br />

amigo do mundo é tornar-se inimigo <strong>de</strong><br />

Deus (4,4) e, até, excitar o “ciúme” do seu<br />

Espírito, que habita em nós (4,5).<br />

Conversão para a humilda<strong>de</strong><br />

Qual o remédio, qual a saída? Uma<br />

vez que Deus resiste aos soberbos, mas<br />

dá sua graça aos humil<strong>de</strong>s (4,6), é preciso<br />

submeter-se a Ele (4,7). E isto, não<br />

apequenando-se doentiamente, mas reconhecendo<br />

que Deus é Deus e o ser<br />

humano não é Deus. Quem usurpa o lugar<br />

<strong>de</strong> Deus só produz injustiça. Quanto<br />

a Deus, Ele não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> elevar o ser<br />

humano quando este reconhece os próprios<br />

limites e domina a cobiça, e se<br />

empenha pela fraternida<strong>de</strong>. Essa é a conversão<br />

para a humilda<strong>de</strong>, e Tiago a sintetiza<br />

com estes apelos: Resisti ao diabo,<br />

e ele fugirá <strong>de</strong> vós. Aproximai-vos <strong>de</strong><br />

Deus, e Ele se aproximará <strong>de</strong> vós (4,7-<br />

8). Humilhai-vos diante do Senhor, e Ele<br />

vos exaltará (4,10)<br />

Advertências aos ricos<br />

Depois <strong>de</strong> ter alertado gravemente contra<br />

o <strong>de</strong>srespeito aos pobres (2,1-13), Tiago<br />

dirige-se agora diretamente aos ricos, fazendo-lhes<br />

duas <strong>de</strong>núncias: a primeira,<br />

contra a sua auto-suficiência (4,13-17), e<br />

a segunda, contra a sua prepotência e exploração<br />

(5,1-6). De que ricos se trata?<br />

Se cristãos, como explicar que mereçam<br />

tais censuras? E que sentido têm estas<br />

advertências para nós? A primeira <strong>de</strong>núncia<br />

(4,13-17), <strong>de</strong> auto-suficiência, alerta<br />

para o fato <strong>de</strong> que ninguém, por mais po<strong>de</strong>roso<br />

ou rico que seja, po<strong>de</strong> dispor do<br />

dia <strong>de</strong> amanhã (cf 4,13-14). Alerta igualmente<br />

contra a arrogância (4,16) e a omissão:<br />

Quem sabe, ou po<strong>de</strong>, fazer o bem,<br />

e não o faz, é réu <strong>de</strong> pecado (4,17). A segunda<br />

<strong>de</strong>núncia (5,1-6), acusa os ricos <strong>de</strong><br />

reterem o salário dos trabalhadores (5,4),<br />

<strong>de</strong> acumularem egoisticamente as riquezas<br />

(5,2-3), e <strong>de</strong> con<strong>de</strong>narem injustamen-<br />

te os pobres (5,6). Por isso, o Apóstolo<br />

não titubeia em fazer-lhes tremendas ameaças:<br />

Chorai e gemei, por causa das <strong>de</strong>sgraças<br />

que estão para cair sobre vós.<br />

Vossa riqueza está podre... (5,1-2) e estais<br />

engordando a vós mesmos para o dia da<br />

matança! (5,6)<br />

Paciência e perseverança<br />

Sem transição, após a violenta censura<br />

aos ricos, Tiago toca agora num assunto<br />

muito importante para os cristãos daquele<br />

tempo, e importante igualmente para<br />

nós. É o modo como <strong>de</strong>vemos aguardar a<br />

Parusia, ou seja, a volta gloriosa do Senhor<br />

Jesus. A atitu<strong>de</strong> aconselhada é a da<br />

paciência perseverante, isto é, uma paciência<br />

ativa, semelhante à do agricultor.<br />

Este, “espera” o fruto do seu trabalho, mas<br />

só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lavrar a terra, semear, podar,<br />

irrigar o terreno. Assim também é a nossa<br />

“espera” da vinda do Senhor: uma “espera”<br />

ativa, sem queixas uns dos outros, para<br />

não sermos julgados (5,9), uma “espera”<br />

paciente como a dos profetas (5,10) e<br />

como a <strong>de</strong> Jó (5,11). Nesse meio tempo,<br />

enquanto não acontece a Parusia final,<br />

Jesus quer manifestar-se e se manifesta<br />

entre nós, na medida em que anunciamos<br />

e vivemos seu Evangelho.<br />

Oração e unção dos enfermos<br />

Já chegando ao final <strong>de</strong> sua carta,<br />

1) Diante do que São Tiago expõe,<br />

você está convencido <strong>de</strong> que a língua<br />

é, mesmo, perigosa? Como se faz<br />

para dominá-la, e educá-la? 2) Em que<br />

consiste a verda<strong>de</strong>ira sabedoria, e qual<br />

a sua pedra <strong>de</strong> toque? 3) Por que é<br />

Para refletir:<br />

Divulgação/JA<br />

Tiago exorta à confiança na oração, retomando<br />

e concretizando o que já dissera<br />

no início, quando falara na eficácia da<br />

oração feita com fé. O orante, porém, não<br />

<strong>de</strong>ve duvidar daquilo que pe<strong>de</strong>, pois aquele<br />

que duvida é semelhante a uma onda<br />

do mar, impelida e agitada pelo vento<br />

(1,6). Por isso, a exortação final do Apóstolo:<br />

Se alguém está sofrendo, recorra à<br />

oração; se alguém está alegre, entoe hinos<br />

(5,13). Se alguém está doente, man<strong>de</strong><br />

chamar os presbíteros da Igreja, para<br />

que orem sobre ele, ungindo-o com óleo<br />

em nome do Senhor (5,14). Esta unção,<br />

que alguns ainda continuam a chamar,<br />

impropriamente, <strong>de</strong> “extrema unção”, é<br />

reconhecida pela Igreja como o sacramento<br />

dos enfermos. Junto com o recurso aos<br />

médicos, não falte este recurso à fé, tão<br />

característico do ministério <strong>de</strong> cura confiado,<br />

por Jesus, a seus discípulos (cf<br />

Mc 6,13). Tiago fala ainda da confissão<br />

mútua, para o perdão dos pecados, e da<br />

oração <strong>de</strong> intercessão, pois a oração fervorosa<br />

do justo tem gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (5,16).<br />

Confirmando esta última afirmação, ele<br />

recorda o exemplo da oração po<strong>de</strong>rosa<br />

<strong>de</strong> Elias, um homem semelhante a nós,<br />

mas que orou com insistência e foi ouvido<br />

(5,17-18).<br />

Pe. Ney Brasil Pereira<br />

Professor <strong>de</strong> Exegese Bíblica no ITESC<br />

necessário converter-se para a humilda<strong>de</strong>?<br />

4) Quais as duas graves <strong>de</strong>núncias<br />

que São Tiago faz aos ricos? Elas<br />

valem para nós? 5) Como <strong>de</strong>ve ser a<br />

nossa “espera” da vinda do Senhor? E<br />

a nossa oração?<br />

Faça como o Movimento Jovem Santo Antônio, <strong>de</strong> <strong>Florianópolis</strong>, escreva<br />

para o Jornal da <strong>Arquidiocese</strong>, responda as questões <strong>de</strong>sta página e participe do<br />

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Católicos (48-9983-4592). Jornal da <strong>Arquidiocese</strong>: rua Esteves Júnior, 447 -<br />

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