signwriting: escrita visual para lingua de sinais - escrita de sinais - sw
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II CONGRESSO NACIONAL DE SURDEZ – S. J. CAMPOS-S.P.<br />
SIGNWRITING: ESCRITA VISUAL PARA LINGUA DE SINAIS –<br />
O PROCESSO DE SINALIZAÇÃO ESCRITA 1<br />
Maria Salomé Soares Dallan 2<br />
“A história nasce com a <strong>escrita</strong>. Ao fornecer um registro secundário e<br />
perene do ato lingüístico primário e transitório, a <strong>escrita</strong> permite a reflexão<br />
sobre o conteúdo da comunicação, sobre as coisas do mundo e o que <strong>de</strong>las<br />
sabemos. Enquanto registro perene, promove também a segurança e<br />
consolida o contrato social. (...) Uma língua que não tem um registro escrito<br />
é limitada, e incapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se e consolidar-se a ponto <strong>de</strong> servir <strong>de</strong><br />
base <strong>para</strong> a constituição <strong>de</strong> um povo e uma cultura. Agrupamentos que não<br />
têm registro escrito da própria língua não têm <strong>de</strong>la o domínio necessário<br />
<strong>para</strong> articular, <strong>de</strong> modo sólido e seguro, seu <strong>de</strong>senvolvimento cultural e<br />
organização social. Permanecem sem a união da organização central<br />
efetiva e sem tradições ou memória, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> feudos dispersos e <strong>de</strong><br />
intermediários <strong>para</strong> obter informações transitórias, instáveis e vulneráveis a<br />
distorções e boatos”.3 (Capovilla b, 2001-p. 1491).<br />
A motivação <strong>para</strong> que este trabalho fosse iniciado <strong>de</strong>correu da preocupação<br />
que eu tinha em oferecer aos alunos com sur<strong>de</strong>z estímulos a<strong>de</strong>quados ao seu<br />
potencial cognitivo, sócio-afetivo, lingüístico e político-cultural. Preocupava-me ao<br />
ver que a dificulda<strong>de</strong> no aprendizado da língua portuguesa acarretava prejuízos a<br />
seu processo educacional.<br />
Neste sentido, meus estudos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001, levaram-me a ver na <strong>escrita</strong> <strong>de</strong><br />
língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>, sistema SignWriting, uma po<strong>de</strong>rosa aliada no processo <strong>de</strong><br />
ampliação <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> mundo por parte <strong>de</strong>sses sujeitos apren<strong>de</strong>ntes, capaz<br />
<strong>de</strong> produzir ganhos cognitivos significativos, uma vez que é a<strong>de</strong>quada à <strong>escrita</strong> da<br />
1 Artigo escrito <strong>para</strong> a palestra sobre Escrita <strong>de</strong> Língua <strong>de</strong> Sinais, proferida no II Congresso Nacional <strong>de</strong> Sur<strong>de</strong>z<br />
<strong>de</strong> São José dos Campos, em 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2009.<br />
2 Pedagoga em Educação Especial-PUCCamp, Pos-Grad. Educação e Sur<strong>de</strong>z-Unicamp. A autora <strong>de</strong>ste artigo<br />
posiciona-se em situação <strong>de</strong> rompimento com embate entre oralistas e gestualistas, conforme proposto por<br />
Damázio (2009b, mimeo), por compartilhar sua visão sobre pessoa com sur<strong>de</strong>z enquanto ‘ser humano<br />
<strong>de</strong>scentrado, em que perceptivos linguísticos e cognitivos po<strong>de</strong>rão ser estimulados e <strong>de</strong>senvolvidos, tornando-os<br />
seres humanos capazes, produtivos e constituídos <strong>de</strong> várias <strong>lingua</strong>gens, com potencialida<strong>de</strong> <strong>para</strong> adquirir e<br />
<strong>de</strong>senvolver não somente os processos visuais-gestuais, mas também ler e escrever as línguas em seu entorno’.<br />
Neste sentido compreen<strong>de</strong> que se os alunos com sur<strong>de</strong>z não receberem estímulos a<strong>de</strong>quados ao seu potencial<br />
cognitivo, sócio-afetivo, linguístico e político-cultural, po<strong>de</strong>rão sofrer prejuízos em seu processo educacional<br />
3 O autor da citação gentilmente esclareceu uma indagação pessoal minha com relação ao porquê do termo<br />
‘boatos’, explicando-me que fez a afirmação <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong>, antes do surgimento do Dicionário enciclopédico<br />
ilustrado trilíngue da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira, informantes com sur<strong>de</strong>z tendiam a contradizer-se uns aos<br />
outros, alegando que eram seus <strong>sinais</strong> que estavam corretos e que os <strong>sinais</strong> do outro eram errados. Os<br />
profissionais que os contratavam como informantes em cursos <strong>de</strong> treinamento freqüentemente relatavam esta<br />
queixa. Relata também que quando os surdos foram convidados a trabalhar juntos e a convencionar os <strong>sinais</strong> que<br />
consi<strong>de</strong>ravam canônicos, as variações regionais passaram a ser respeitadas como legítimas, sendo que os<br />
esforços passaram a se concentrar na expansão do léxico a partir <strong>de</strong> uma base aceita por consenso.
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<strong>de</strong> uma língua <strong>visual</strong>/espacial como é a Libras.<br />
Neste texto procurarei explicar inicialmente sobre o funcionamento da Escrita<br />
<strong>de</strong> Sinais, passando ao embasamento teórico que subsidia tal prática, finalizando<br />
com a parte prática, fruto <strong>de</strong> meu trabalho como Pedagoga em Educação Especial,<br />
junto a alunos com sur<strong>de</strong>z da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Paulínia, interior <strong>de</strong> São<br />
Paulo.<br />
No trabalho <strong>de</strong> campo, ouvi <strong>de</strong> colegas que também trabalham com alunos<br />
surdos, termos como “alfabetização em Libras” ou “alfabetizado em Signwriting”,<br />
reportando-se ao processo inicial <strong>de</strong> aprendizado da Escrita <strong>de</strong> Sinais. Refletindo<br />
sobre isso, consultei Alves (2007, p.28) o qual diz que: “A etimologia do termo<br />
‘alfabetização’ diz respeito ao processo <strong>de</strong> aquisição do sistema <strong>de</strong> codificação <strong>de</strong><br />
fonemas e <strong>de</strong>codificação <strong>de</strong> grafemas, apropriação do sistema alfabético e<br />
ortográfico da língua”. Em Houais, encontramos: “Alfabetização=ato ou efeito <strong>de</strong><br />
alfabetizar, <strong>de</strong> ensinar as primeiras letras”. A própria etimologia da palavra vem da<br />
junção dos nomes das duas letras iniciais do alfabeto grego: Alpha e Beta, portanto,<br />
<strong>de</strong>corrente do processo <strong>de</strong> apropriação da <strong>escrita</strong> <strong>de</strong> uma língua oral/auditiva,<br />
usando o código alfabético <strong>para</strong> isso.<br />
Como o processo da <strong>escrita</strong> em Libras através <strong>de</strong>ste sistema é <strong>de</strong>svinculado<br />
do alfabeto, sendo <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> sinalização – interna ou externa -<br />
optei pela criação do termo “Sinalização Escrita” por conceber que, <strong>de</strong> fato, na<br />
<strong>escrita</strong> <strong>de</strong> Libras é este o processo que ocorre. Entenda-se, portanto que o processo<br />
<strong>de</strong> aprendizado da sinalização <strong>escrita</strong> refere-se ao aprendizado inicial dos códigos<br />
usados <strong>para</strong> grafar a Libras através do Sistema Signwriting: configurações <strong>de</strong> mãos,<br />
localização espacial do sinal, expressões fisionômicas e corporais, bem como todos<br />
os códigos que indicam também a direcionalida<strong>de</strong> e intensida<strong>de</strong> do sinal.<br />
Como todo processo <strong>de</strong> <strong>escrita</strong>, a sinalização <strong>escrita</strong> também se inicia com o<br />
aprendizado das unida<strong>de</strong>s mínimas que compõem o sinal (palavra em Libras) e vai<br />
se tornando complexa quando as palavras tornam-se frases e textos, que respeitam<br />
a gramática própria das línguas <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>.<br />
Espero, com este trabalho, po<strong>de</strong>r colabora <strong>para</strong> <strong>de</strong>smistificar a idéia que<br />
alguns profissionais têm <strong>de</strong> que esta <strong>escrita</strong> é muito complexa, extremamente difícil<br />
<strong>de</strong> ser aprendida e, por conseguinte, inacessível a professores ouvintes.
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1. Como surgiu o sistema escrito <strong>para</strong> línguas <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> –<br />
Sistema Sutton®<br />
“Não há só uma maneira <strong>de</strong> se pensar a <strong>lingua</strong>gem. Há várias. (...) há ainda<br />
os que propõem outros discursos. Estes últimos são os que percebem que o<br />
objeto da ciência também é objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo. E em torno <strong>de</strong>le tecem suas<br />
aventuras reflexivas, constituindo-se em cientistas ao mesmo tempo em que<br />
instituem as diferentes formas <strong>de</strong> conhecimento sobre a <strong>lingua</strong>gem”.<br />
(Orlandi, 1999-p.66)<br />
O SignWriting ou Sistema Sutton <strong>para</strong> grafia <strong>de</strong> línguas <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> não foi o<br />
único sistema capaz <strong>de</strong> grafar fonemas <strong>de</strong> uma língua <strong>visual</strong>-gestual. William C.<br />
Stokoe foi o primeiro linguista a realizar um estudo sistemático das línguas <strong>de</strong> <strong>sinais</strong><br />
nos Estados Unidos, na década <strong>de</strong> 60, criando uma <strong>escrita</strong> extremamente técnica<br />
capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver essas línguas. Naquela ocasião, este cientista conseguiu<br />
legitimar o status linguístico <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong> comunicação/interação, uma vez que<br />
anteriormente se pensava que as línguas <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> não eram línguas naturais. O<br />
sistema é constituído por um conjunto <strong>de</strong> símbolos e regras <strong>de</strong> <strong>escrita</strong>, <strong>de</strong>finidos<br />
<strong>para</strong> representar os diversos aspectos fonético-fonológicos das línguas <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>.<br />
O sistema SignWriting foi <strong>de</strong>senvolvido pela norte-americana Valerie Sutton,<br />
por volta da década <strong>de</strong> 70, quando ela estava na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Copenhague, na<br />
Dinamarca, grafando balés tradicionais através <strong>de</strong> um sistema criado por ela <strong>para</strong><br />
esta finalida<strong>de</strong>, o DanceWriting. Valerie Sutton <strong>de</strong>spertou a atenção <strong>de</strong><br />
pesquisadores da língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> Dinamarquesa na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Copenhague,<br />
que viram naquela <strong>escrita</strong> uma possibilida<strong>de</strong> <strong>para</strong> notação dos <strong>sinais</strong> utilizados na<br />
comunicação/interação das pessoas que fazem uso <strong>de</strong>sta língua <strong>visual</strong>. Surgia<br />
então, na Dinamarca, o primeiro movimento <strong>para</strong> grafar as línguas <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>.<br />
PaÍses que utilizam atualmente o sistema Sutton - SignWriting<br />
De sistema escrito à mão, passou-se a um sistema possível <strong>de</strong> ser escrito no
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computador, com o programa Signwriter, criado <strong>de</strong>ntro do próprio movimento Sutton<br />
<strong>para</strong> grafia das línguas visuais. Em 2004 surgiu um programa mais amistoso,<br />
facilitando o uso <strong>para</strong> pessoas com pouco conhecimento <strong>de</strong> informática, uma vez<br />
que utiliza a plataforma Windows. Desenvolvido por pesquisadores da Universida<strong>de</strong><br />
Católica <strong>de</strong> Pelotas e que se chama SWEdit 4 . Utilizo este programa hoje e o<br />
consi<strong>de</strong>ro muito acessível, possibilitando uso <strong>de</strong> gravuras em interface com Editores<br />
<strong>de</strong> Texto e programas <strong>de</strong> Desenho Gráfico. Embora ainda seja uma versão<br />
experimental, po<strong>de</strong>mos produzir uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais em Libras, com o<br />
auxílio <strong>de</strong>le, como veremos adiante.<br />
O SignWriting entrou no Brasil em 1996, quando a Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />
Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, em Porto Alegre, através do Professor Doutor<br />
Antonio Carlos da Rocha Costa, que <strong>de</strong>scobriu a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>sta <strong>escrita</strong><br />
junto ao computador. Este professor formou um grupo <strong>de</strong> trabalho com as<br />
professoras Márcia Borba e Marianne Stumpf (que na época era Doutoranda em<br />
Informática na Educação) na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (PPGIE).<br />
Quadros 5 afirma que o SignWriting apresenta características <strong>de</strong> evolução da<br />
<strong>escrita</strong> alfabética, e que, em maio 1998, discutiu-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> padronização<br />
da <strong>escrita</strong> do mesmo sinal, pois logo que o sistema surgiu, cada pessoa escrevia da<br />
forma como entendia que um <strong>de</strong>terminado sinal <strong>de</strong>veria ser escrito graficamente, ou<br />
seja, alguns eram mais <strong>de</strong>talhistas no traçado, outros mais simplistas.<br />
Esta mesma pesquisadora esclarece ainda que processo semelhante<br />
aconteceu com a língua inglesa, quando esta começou a ser <strong>escrita</strong>. Cada pessoa<br />
escrevia a palavra <strong>de</strong> acordo com o som que ouvia, porém com a grafia que<br />
consi<strong>de</strong>rasse ser a correta, processo este que teve fim com o surgimento da<br />
imprensa. Com o estabelecimento <strong>de</strong> normas referentes à ortografia, passou-se a<br />
escrever <strong>de</strong> forma socialmente convencionada. Segundo Capovilla (2001a, p. 55),<br />
“quando as convenções ortográficas <strong>de</strong> uma língua já estão consolidadas, o trabalho<br />
<strong>de</strong> leitura e <strong>escrita</strong> é imensamente facilitado e as ambigüida<strong>de</strong>s são reduzidas”.<br />
Um movimento pioneiro e <strong>de</strong> suma importância <strong>para</strong> tornar público este<br />
sistema no Brasil <strong>de</strong>ve-se à divulgação do Dicionário enciclopédico ilustrado trilingüe<br />
da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira, <strong>de</strong> autoria dos pesquisadores Fernando Cesar<br />
4 Projeto realizado com apoios diversos, do CNPq e da FAPERGS, durante o período 1996-2006. Projeto realizado em estreita ligação como Center for<br />
Sutton Movement Writing (http://www.<strong>signwriting</strong>.org). Disponível em: http://sign-net.ucpel.tche.br/<br />
5 Quadros, R. M. Um capítulo da história do SignWriting. Disponível em http://www.<strong>signwriting</strong>.org/library/history/hist010.html
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Capovilla e Walkíria Duarte Raphael. Nesta obra, além das explicações formais<br />
sobre o sistema Signwriting, po<strong>de</strong>-se encontrar <strong>para</strong> cada termo em português a<br />
grafia em <strong>escrita</strong> <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>, o que possibilita a reflexão e o exercício <strong>de</strong>sta <strong>escrita</strong>.<br />
(Capovilla a, 2001, p.55).<br />
Mostro abaixo um exemplo <strong>de</strong>sta <strong>escrita</strong>, que respeita a gramática própria da<br />
Libras, que é muito diferente daquela do português. Este trecho do Hino Nacional foi<br />
traduzido <strong>para</strong> Escrita <strong>de</strong> Sinais pela Doutora Marianne Rossi Stumpf 6 .<br />
lugar Ipiranga água<br />
Hino Nacional<br />
sombra<br />
sol nasce<br />
tentar igualda<strong>de</strong> conseguir força lutar<br />
Obs: Tradução termo a termo apenas <strong>para</strong> efeitos didáticos, visando que o leitor<br />
i<strong>de</strong>ntifique o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> cada palavra em Libras.<br />
1.1 – Como funciona a <strong>escrita</strong> <strong>signwriting</strong>.<br />
Ao contrário da ilustração analógica (receptiva), a <strong>escrita</strong> SignWriting é feita a<br />
partir do ponto <strong>de</strong> vista do sinalizador: na perspectiva EXPRESSIVA, como se o<br />
leitor estivesse atrás do sinalizador, facilitando assim enormemente a leitura:<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1<br />
As expressões faciais também são <strong>escrita</strong>s na perspectiva expressiva:<br />
6 Pesquisadora surda. Material disponível em http://sign-net.ucpel.tche.br/<br />
rio<br />
grupo<br />
pessoa<br />
coragem gritar
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Sobrancelha esquerda levantada<br />
Sobrancelha direita levantada<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1<br />
Os <strong>sinais</strong> são escritos na vertical, <strong>de</strong> cima <strong>para</strong> baixo:<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1<br />
Se a linha dos ombros for necessária, ela é d<strong>escrita</strong>:<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1<br />
Formas <strong>de</strong> mão básicas:<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1<br />
Orientações da mão e da palma:<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1
<strong>de</strong>talhes:<br />
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A expressão fisionômica e a expressão do olhar po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos em<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1<br />
Os pontos <strong>de</strong> contato auxiliam a <strong>de</strong>terminar o tipo <strong>de</strong> aproximação:<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1<br />
Eixos imaginários on<strong>de</strong> ocorre o movimento, gerando todas as setas <strong>de</strong><br />
direção:<br />
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua <strong>de</strong> Sinais Brasileira – Volume 1<br />
Esta <strong>escrita</strong> possibilita a grafia da Libras preservando seus cinco parâmetros<br />
<strong>de</strong> realização do movimento (Felipe, 2005, p. 23):<br />
a) Configuração das mãos
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b) Ponto <strong>de</strong> articulação: po<strong>de</strong>ndo esta estar em um espaço neutro fora do<br />
corpo do sinalizador ou ancorado ao próprio corpo<br />
c) Movimento: se existirem ou não, inclusive apontando rapi<strong>de</strong>z ou lentidão<br />
do sinal, concomitância ou não das mãos na hora da realização do sinal.<br />
d) Orientação/direcionalida<strong>de</strong><br />
e) Expressões faciais e corporais (indicando inclusive marcações <strong>para</strong> os<br />
olhos, sobrancelhas, língua, etc)<br />
Um manual <strong>de</strong>ste sistema <strong>de</strong> <strong>escrita</strong> po<strong>de</strong> ser acessado gratuitamente<br />
através do site http://sign-net.ucpel.tche.br, acessando o link “Lições sobre<br />
SignWriting”. Este material é uma tradução parcial e adaptação da versão em inglês,<br />
feito pela professora Marianne Rossi Stumpf.<br />
Existe também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>escrita</strong> do alfabeto manual, bem como dos<br />
números:<br />
2. Importância do letramento <strong>para</strong> a constituição das funções<br />
superiores do cérebro humano.<br />
Há que se consi<strong>de</strong>rar que a criança surda não po<strong>de</strong> construir a modalida<strong>de</strong><br />
<strong>escrita</strong> da língua majoritária à qual está submetida pela via da oralida<strong>de</strong>, ou<br />
correlacionando aspectos da oralida<strong>de</strong> com outros da <strong>escrita</strong>. A criança<br />
surda percorre caminhos próprios, uma vez que <strong>de</strong>ve apren<strong>de</strong>r a escrever<br />
uma língua que ela, em geral, não fala e não domina (FERNANDES, 2006).<br />
Para Vygotsky (1998b), a compreensão da <strong>lingua</strong>gem <strong>escrita</strong> é efetuada<br />
primeiramente através da <strong>lingua</strong>gem falada (no caso do surdo, seria a viso-espacial).<br />
Inicialmente, a <strong>escrita</strong> é um simbolismo indireto, que necessita da <strong>lingua</strong>gem falada<br />
<strong>para</strong> ser produzida e compreendida. Gradualmente, a criança <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> usar a fala na<br />
produção da <strong>escrita</strong>, que passa a ter um caráter <strong>de</strong> simbolismo direto, passando a<br />
ser compreendida como a fala.<br />
O aluno com sur<strong>de</strong>z tem o processo cognitivo mediado pela língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> e<br />
pelas imagens que associa a fatos e ocasiões. Quando é solicitado a grafar<br />
<strong>de</strong>terminado texto, faz a tradução <strong>de</strong> Libras <strong>para</strong> o português escrito, convertendo os<br />
<strong>sinais</strong> isoladamente, em palavras encontradas na língua portuguesa, similares em
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significado. As duas línguas têm um sistema gramatical incompatível em termos <strong>de</strong><br />
tradução literal, como aliás ocorre com todas as outras línguas.<br />
O resultado é obvio: a coerência e coesão textual <strong>de</strong> um material escrito<br />
produzido por uma pessoa surda, que não conhece em profundida<strong>de</strong> a língua<br />
portuguesa, ficam extremamente prejudicadas. Estudos diversos comprovam este<br />
problema (Capovilla, Fernan<strong>de</strong>s, Goldfeld, Lacerda & Góes, Oliveira, Quadros,<br />
Sacks, Silva, Soares, Souza, entre outros).<br />
Segundo Kato, em estudo <strong>de</strong> caso on<strong>de</strong> ela aborda sua própria aquisição <strong>de</strong><br />
leitura em português, bem como a aquisição <strong>de</strong> vocabulário nesta língua, após já ser<br />
leitora proficiente em japonês (<strong>escrita</strong> parcialmente i<strong>de</strong>ográfica com componentes<br />
fonéticos), ela afirma que: “Se o aluno já é um leitor proficiente em sua língua, as<br />
estratégias procedimentais que nela utiliza po<strong>de</strong>m compensar com vantagem, o<br />
déficit no domínio lingüístico.” (Kato,1999,p.31).<br />
Capovilla (2005 e 2008) <strong>de</strong>monstra, através <strong>de</strong> pesquisa, que o mecanismo<br />
da <strong>escrita</strong>, seja ela oral/auditiva ou <strong>visual</strong>/espacial, possibilita a reflexão sobre o ato<br />
lingüístico, permitindo a retomada e revisão sobre o conteúdo comunicativo.<br />
Possibilita, também, a estruturação dos mais diversos tipos <strong>de</strong> textos, tais como as<br />
piadas e os poemas, que por possuírem um conteúdo carregado <strong>de</strong> significações<br />
próprias ao gênero textual, muitas vezes só fazem sentido quando <strong>escrita</strong>s na<br />
própria língua na qual foram criadas.<br />
Quando a <strong>escrita</strong> é compatível com os aparelhos sensoriais que o indivíduo<br />
possui <strong>para</strong> interagir com o mundo, a fluência na compreensão do conteúdo,<br />
<strong>de</strong>corrente do estabelecimento das relações <strong>de</strong> coesão e <strong>de</strong> coerência que<br />
organizam o texto, é facilitada, uma vez que a correspondência língua falada/língua<br />
<strong>escrita</strong> é condizente (Capovila, 2001, vol.2) com o conhecimento lingüístico <strong>de</strong>sta<br />
pessoa. A aquisição da <strong>escrita</strong> em língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> po<strong>de</strong> favorecer ao aluno com<br />
sur<strong>de</strong>z a aquisição <strong>de</strong> novos mecanismos <strong>para</strong> abstrair e teorizar sobre o mundo<br />
que o cerca, uma vez que a <strong>escrita</strong> complementa os conhecimentos já construídos<br />
no discurso do sujeito em suas interações, socialmente.<br />
Outra vantagem da <strong>escrita</strong> <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> é que esta po<strong>de</strong> ajudar ouvintes a<br />
apren<strong>de</strong>rem mais facilmente a Língua <strong>de</strong> Sinais, pois possibilita a grafia do sinal, o<br />
que vem a facilitar a organização <strong>de</strong> um material <strong>de</strong> consulta posterior. O sistema<br />
escrito também propicia a ampliação e divulgação do léxico <strong>de</strong>sta língua, pois<br />
permite maior avanço no registro <strong>de</strong> termos científicos e tecnológicos.
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A representação gráfica <strong>de</strong> uma língua que era consi<strong>de</strong>rada ágrafa até pouco<br />
tempo, auxilia o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e expansão <strong>de</strong>sta língua, uma vez<br />
que abre oportunida<strong>de</strong>s variadas em seus aspectos discursivos e/ou modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
uso: um sistema escrito compatível com uma língua <strong>visual</strong>-gestual possibilita aos<br />
usuários se constituírem como sujeitos letrados, permitindo o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
consciência linguística dos usuários <strong>de</strong>sta e auxiliando na produção <strong>de</strong> sentidos que<br />
o escritor e o leitor tecem sobre os efeitos discursivos inclusos nos textos<br />
produzidos.<br />
Este aprendizado permite ao aluno surdo uma possibilida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> trocas<br />
simbólicas, exercitando e provocando a capacida<strong>de</strong> representativa <strong>de</strong>ssas pessoas,<br />
organizando e sistematizando coor<strong>de</strong>nações mentais cada vez mais elaboradas já<br />
que a <strong>escrita</strong> é em sua própria língua. A língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>, no contexto da sur<strong>de</strong>z,<br />
atua inicialmente enquanto meio organizador do pensamento e, conseqüentemente,<br />
das interações comunicativas. Sobre este salto qualitativo que o ser humano alcança<br />
através da <strong>lingua</strong>gem (que não é apenas a oral-auditiva/<strong>visual</strong>, é também <strong>escrita</strong>),<br />
Goldfeld diz:<br />
A comunicação não é a única função da <strong>lingua</strong>gem, ao contrário, a<br />
comunicação é o início <strong>de</strong> um processo extremamente complexo que<br />
resulta na internalização <strong>de</strong> conceitos e na constituição do indivíduo<br />
enquanto membro <strong>de</strong> uma cultura específica, já que a <strong>lingua</strong>gem possibilita<br />
a formação <strong>de</strong> uma visão <strong>de</strong> mundo própria (Goldfeld, 1997, p.156).<br />
A proposta <strong>de</strong> grafia da Libras no sistema SignWriting vem a completar o<br />
processo educacional do aluno surdo, em uma proposta que visa a ampliação <strong>de</strong> se<br />
conhecimento do mundo, possibilitando o uso <strong>de</strong> materiais escritos, disponibilizados<br />
como complemento ao Atendimento Educacional Especializado em Libras e <strong>para</strong> o<br />
ensino <strong>de</strong> Libras. No entanto, um cuidado <strong>de</strong>ve ser tomado: misturar o ensino <strong>de</strong><br />
SignWriting com palavras em língua portuguesa é uma confusão teórica que <strong>de</strong>ve<br />
ser evitada.<br />
Segundo Fernan<strong>de</strong>s (2008, p. 24), <strong>de</strong>vemos evitar uma prática já comum <strong>de</strong><br />
“admitir-se a presença da língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> apenas como meio <strong>para</strong> se chegar ‘à<br />
língua da maioria, a língua portuguesa’”. A proposta <strong>de</strong> <strong>escrita</strong> da Libras visa à<br />
ampliação e reflexão sobre a própria língua; não po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar o processo <strong>de</strong><br />
sinalização <strong>escrita</strong> como mais uma metodologia <strong>para</strong> que o aluno surdo amplie seu<br />
vocabulário na língua portuguesa.
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3. - Complementando o Atendimento Educacional Especializado<br />
em Libras.<br />
Na questão específica da sur<strong>de</strong>z, embora já estejam sendo <strong>de</strong>lineadas<br />
propostas educacionais específicas <strong>para</strong> que este aluno frequente o ensino regular<br />
como a proposta bilíngue sugere, poucas medidas específicas foram tomadas no<br />
sentido <strong>de</strong> realmente prover as necessida<strong>de</strong>s específicas que este aluno apresenta<br />
quando entra na escola comum, usuária da língua portuguesa oral e <strong>escrita</strong>. Vários<br />
estudos apontam <strong>para</strong> o fato <strong>de</strong> a solução i<strong>de</strong>al ser o Intérprete <strong>de</strong> Libras na sala <strong>de</strong><br />
aula. A atual Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial (MEC/SEESP, 2007) vai além<br />
e preconiza saídas viáveis <strong>para</strong> o aluno com sur<strong>de</strong>z conseguir adquirir<br />
conhecimentos curriculares na escola regular.<br />
Numa proposta <strong>de</strong> Atendimento Educacional especializado em Libras<br />
(MEC/SEESP, 2007) a sinalização <strong>escrita</strong> po<strong>de</strong> ser incluída, possibilitando ao aluno<br />
que pense e expresse-se em Libras, <strong>de</strong>ixando o processo <strong>de</strong> aprendizagem da<br />
língua portuguesa como um momento diferenciado, uma vez que a estrutura das<br />
duas línguas é complexa e este processo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do nível <strong>de</strong> conhecimento da<br />
língua alvo, neste caso, língua portuguesa.<br />
Por este motivo, a proposta <strong>de</strong> Ensino da Escrita <strong>de</strong> Sinais <strong>de</strong>ve ser realizado<br />
em um momento didático-pedagógico diferenciado, no qual o aluno possa<br />
expressar-se por escrito em Libras. Este tipo <strong>de</strong> ensino po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvido <strong>para</strong><br />
complementar tanto o Atendimento Educacional Especializado em Libras, quanto no<br />
AEE <strong>para</strong> o ensino <strong>de</strong> Libras, uma vez que nestes dois momentos a língua alvo é<br />
apenas a língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>.<br />
Tal política avança muito em relação às anteriores, pois na área da sur<strong>de</strong>z<br />
são propostos três tipos <strong>de</strong> atendimentos educacionais específicos, realizados no<br />
contra-turno ao freqüentado pelo aluno na escola comum. Tais acompanhamentos<br />
pedagógicos visam auxiliar este aluno <strong>para</strong> que supere a barreira lingüística<br />
enfrentada na escola comum, dividindo-se em:<br />
a) AEE em Libras: o conteúdo curricular da sala <strong>de</strong> aula comum é retomado<br />
em Libras <strong>para</strong> que o aluno apreenda os conceitos trabalhados em sala <strong>de</strong><br />
aula. Deve ser realizado por um professor, preferencialmente surdo, ou<br />
por um professor fluente em Libras.
II CONGRESSO NACIONAL DE SURDEZ – S. J. CAMPOS-S.P.<br />
b) AEE <strong>para</strong> o ensino <strong>de</strong> Libras: visa que o aluno adquira habilida<strong>de</strong> nesta<br />
língua e que avance no conhecimento da mesma, uma vez que, a gran<strong>de</strong><br />
maioria dos alunos com sur<strong>de</strong>z é filho <strong>de</strong> pais ouvintes e tem dificulda<strong>de</strong>s<br />
geradas pela ausência <strong>de</strong> uma <strong>lingua</strong>gem efetiva que seja comum a<br />
ambos.<br />
c) AEE <strong>para</strong> o ensino <strong>de</strong> língua portuguesa: como segunda língua, com<br />
metodologia própria e professor preferencialmente licenciado em Letras.<br />
Embora esta política avance enquanto legislação específica, é inegável<br />
admitir que se trata <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> normatização do trabalho junto ao aluno<br />
surdo que enfrenta algumas dificulda<strong>de</strong>s, a primeira <strong>de</strong>las o fato <strong>de</strong> o Brasil ser um<br />
país <strong>de</strong> dimensões continentais, <strong>de</strong>vendo esta proposta seguir um amplo percurso<br />
até ser assimilada por Estados e Municípios. O ganho que percebo é que a proposta<br />
reconhece oficialmente a condição bilíngüe do aluno com sur<strong>de</strong>z, apontando uma<br />
necessida<strong>de</strong> a ser suprida e fornecendo sugestões <strong>para</strong> que as necessida<strong>de</strong>s sejam<br />
contempladas e que o aluno não seja prejudicado em seu processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong><br />
conhecimentos escolares.<br />
Na prática, iniciei o ensino <strong>de</strong> Signwriting em 2002, durante a minha pós-<br />
graduação, <strong>para</strong> um grupo <strong>de</strong> 3 adolescentes surdos que tinham imensa dificulda<strong>de</strong><br />
no aprendizado da língua portuguesa, mas excelente domínio da língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>.<br />
Para surpresa minha, em dois meses <strong>de</strong> ensino, com dois encontros semanais <strong>de</strong> 2<br />
horas, em grupo. Estes alunos apren<strong>de</strong>ram facilmente a <strong>escrita</strong>, fazendo a leitura <strong>de</strong><br />
textos escritos em Signwriting com facilida<strong>de</strong>. Na época, existiam poucos materiais<br />
disponíveis e a <strong>escrita</strong> era mais complicada, pois era feita no MS-DOS.<br />
Breve tempo após este estudo inicial, passei a trabalhar com alunos surdos<br />
inseridos em escola regular. Iniciei o ensino <strong>para</strong> um grupo <strong>de</strong> 5 adolescentes dos<br />
quais três tinham muitas dificulda<strong>de</strong>s na língua portuguesa. Estes alunos também<br />
não apresentaram dificulda<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> aquisição da <strong>escrita</strong> em Libras.<br />
Iniciamos com a <strong>escrita</strong> do alfabeto:
II CONGRESSO NACIONAL DE SURDEZ – S. J. CAMPOS-S.P.<br />
Em seguida palavras, tais como o sinal pessoal:<br />
As frases não <strong>de</strong>moraram a aparecer:<br />
(Escritas espontâneas, sem correção.)<br />
Em uma proposta bilíngüe, a <strong>escrita</strong> <strong>de</strong> língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> vem complementar a<br />
aquisição <strong>de</strong> conceitos em Libras:<br />
- Primeira língua: Língua <strong>de</strong> Sinais na modalida<strong>de</strong> viso-espacial e <strong>escrita</strong>.<br />
- Segunda língua: Português na modalida<strong>de</strong> oral e/ou orofacial e <strong>escrita</strong>.<br />
Mostrarei abaixo um exemplo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> realizada com um aluno que já<br />
sabia grafar em <strong>signwriting</strong>. Este texto partiu <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição pessoal.
II CONGRESSO NACIONAL DE SURDEZ – S. J. CAMPOS-S.P.<br />
O texto inicial foi em língua portuguesa, no qual o aluno escreveu o seguinte:<br />
“Eu sou assim”<br />
oi Vilamar saú<strong>de</strong> bom,<br />
Também mim Arnon<br />
sauda<strong>de</strong> muito forte<br />
amor maê<br />
- Cor da pele moreno,<br />
Cor dos cabelos preto<br />
Cor dos olhos pretos<br />
Casa fitcar amor Computador<br />
Manias você Cortar Cabelos<br />
Curto.<br />
Não ter animal <strong>de</strong><br />
Estimação.<br />
(Texto copiado do original, inclusive<br />
com erros ortográficos, <strong>de</strong><br />
pontuação, etc.)<br />
Solicitei que ele escrevesse sobre si em Signwriting, e num segundo<br />
momento eu o ajudaria no processo <strong>de</strong> tradução.<br />
Trecho traduzido <strong>para</strong> língua<br />
portuguesa:<br />
“Sou assim”<br />
Oi, o nome <strong>de</strong> minha mãe é Vilamar,<br />
eu sou o Arnon. Nós estamos bem <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>.<br />
Eu gosto muito <strong>de</strong>la. Eu tenho<br />
sauda<strong>de</strong> da minha mãe.<br />
Se o processo torna-se mais frequente, o aluno tem maiores oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
produzir textos mais completos, uma vez que o processo <strong>de</strong> tradução <strong>escrita</strong> flui<br />
livremente. Ele tem oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> narrar-se na própria língua, exigindo um esforço<br />
intelectual menor, o que permite liberda<strong>de</strong> <strong>para</strong> criar.<br />
Os alunos usaram também esta <strong>escrita</strong> nas situações <strong>de</strong> tradução <strong>de</strong> texto,<br />
como um falante <strong>de</strong> português quando cursa uma língua estrangeira, que escreve<br />
um ‘lembrete’ em cima da palavra que eles consi<strong>de</strong>ram importante memorizar mas<br />
que estão com dificulda<strong>de</strong> <strong>para</strong> fazê-lo:
II CONGRESSO NACIONAL DE SURDEZ – S. J. CAMPOS-S.P.<br />
1- Sinal “nascer” 2 – Sinal “lugar”<br />
São pistas que os auxiliam e que dão continuida<strong>de</strong> à leitura do texto. A <strong>escrita</strong><br />
<strong>de</strong> língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> ainda po<strong>de</strong> ser usada em outras situações:<br />
- Dicionários (ficarão bem menores sem os <strong>de</strong>senhos e as explicações).<br />
Po<strong>de</strong>mos trocar <strong>sinais</strong> pela Internet, ampliando o conhecimento <strong>de</strong> palavras em<br />
Libras, que apresenta variações regionais, <strong>de</strong>vido ao tamanho do nosso país.<br />
- Jogos temáticos (geografia, matemática, português, ciências, etc).<br />
- Jogos <strong>de</strong> fixação (bingo, frase/figura, memória, etc.)<br />
- Palavras cruzadas (perguntas em Libras, resposta em português)<br />
- Tradução <strong>de</strong> textos didáticos.<br />
- Tradução dos clássicos da literatura infantil, juvenil e <strong>para</strong> adultos.<br />
As possibilida<strong>de</strong>s são enormes, e neste processo o Instrutor <strong>de</strong> Libras<br />
também atua como tradutor do conteúdo em português <strong>para</strong> a <strong>escrita</strong> <strong>de</strong> língua <strong>de</strong><br />
<strong>sinais</strong> e vice-versa. Só é necessário que ele seja bilíngüe.<br />
O uso diário <strong>de</strong>sta ferramenta aponta possibilida<strong>de</strong>s novas a cada dia.<br />
Gran<strong>de</strong> parte dos alunos com sur<strong>de</strong>z que estão inseridos nas escolas <strong>de</strong>nominadas<br />
inclusivas, ainda encontram uma gran<strong>de</strong> barreira linguística que afeta seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo. Por que não prover materialida<strong>de</strong> à sua língua? É este o<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio que a <strong>escrita</strong> <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> tenta vencer.<br />
4. Conclusão:<br />
São muitas as discussões sobre a inclusão escolar, tanto no âmbito legislativo<br />
quanto no pedagógico. Essas discussões vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a questão da acessibilida<strong>de</strong><br />
arquitetônica à atitudinal, buscando apontar caminhos <strong>para</strong> que o aluno com déficit<br />
possa incluir-se no ensino regular. As discussões sobre a inclusão do ensino <strong>de</strong><br />
Escrita <strong>de</strong> Sinais <strong>para</strong> alunos surdos ainda é recente e faltam profissionais com este<br />
tipo <strong>de</strong> conhecimento específico, alguns <strong>de</strong>les ainda em processo <strong>de</strong> formação.
II CONGRESSO NACIONAL DE SURDEZ – S. J. CAMPOS-S.P.<br />
Os estudos que realizei, embora <strong>de</strong>svinculados dos estudos acadêmicos,<br />
apontam <strong>para</strong> o fato <strong>de</strong> que o aprendizado da <strong>escrita</strong> da língua <strong>de</strong> <strong>sinais</strong> possibilita<br />
que o aluno com sur<strong>de</strong>z <strong>de</strong>senvolva suas competências cognitivas, numa proposta<br />
<strong>de</strong> modalida<strong>de</strong> <strong>escrita</strong> da língua que ele já <strong>de</strong>senvolveu competentemente. Este<br />
processo <strong>de</strong> aprendizado da sinalização <strong>escrita</strong> po<strong>de</strong> ocorrer tanto na pré-escola<br />
quanto nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Por se tratar <strong>de</strong> processo<br />
simbólico, esta <strong>escrita</strong> é um instrumental eficaz <strong>para</strong> a realização dos processos<br />
cognitivos mais sofisticados que possibilitem <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo.<br />
Quanto ao aprendizado do código por parte dos profissionais que irão<br />
futuramente fazer uso <strong>de</strong>sta <strong>escrita</strong>, tanto no processo <strong>de</strong> tradução<br />
(Libras/português, português-Libras) ou mesmo no ensino da <strong>escrita</strong> <strong>para</strong> alunos<br />
com sur<strong>de</strong>z, já estão sendo formados em nível <strong>de</strong> Graduação pela UFSC (Letras-<br />
Libras) e também Especialização. Em nível <strong>de</strong> Pós-Graduação 7 , posso afirmar que<br />
leciono a disciplina <strong>de</strong> Signwriting em um curso <strong>de</strong> Pós-Graduação 8 on<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong><br />
maioria dos alunos reporta ao final da aula que o sistema é <strong>de</strong> fácil aprendizado e<br />
que havia da parte <strong>de</strong>les uma certa resistência ao uso do sistema <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong><br />
informação e a um pré-concebido errôneo <strong>de</strong> que o sistema era muito difícil <strong>de</strong> ser<br />
assimilado por pessoas ouvintes.<br />
Muitos estudos ainda necessitam ser feitos <strong>para</strong> provar cientificamente que<br />
uma <strong>escrita</strong> <strong>de</strong>va contemplar a modalida<strong>de</strong> comunicativa do aluno em questão, ou<br />
seja, <strong>escrita</strong> fonética <strong>para</strong> pessoas que ouvem/falam a língua portuguesa e <strong>escrita</strong><br />
<strong>visual</strong>/espacial <strong>para</strong> falantes <strong>de</strong> Língua <strong>de</strong> Sinais, como uma forma <strong>de</strong> que estes<br />
sujeitos adquiram <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo específico na área da <strong>lingua</strong>gem<br />
<strong>escrita</strong> e também aumento do léxico da Libras, <strong>para</strong>, em um segundo momento,<br />
apren<strong>de</strong>rem a língua portuguesa como uma segunda língua. Mesmo com os poucos<br />
estudos acadêmicos registrados 9 reportando sobre a aplicabilida<strong>de</strong> do código ao<br />
ensino <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> línguas <strong>de</strong> <strong>sinais</strong>, o que percebo em minha prática é que os<br />
alunos surdos apren<strong>de</strong>m o código com uma rapi<strong>de</strong>z surpreen<strong>de</strong>nte, sendo capazes<br />
<strong>de</strong> fazer a leitura <strong>de</strong> textos com apenas dois meses <strong>de</strong> aprendizado sistemático<br />
(cinco vezes por semana, uma hora aula por dia). Qual a criança ouvinte que<br />
7 Faculda<strong>de</strong>s Integradas Espíritas-UNIBEM – ATUALIZE-Promotora <strong>de</strong> cursos e eventos, Pós-graduação Lato<br />
Sensu “LIBRAS E EDUCAÇÃO DE SURDOS”.<br />
8 Faculda<strong>de</strong>s Integradas Espíritas-UNIBEM – ATUALIZE-Promotora <strong>de</strong> cursos e eventos, Pós-graduação Lato<br />
Sensu “LIBRAS E EDUCAÇÃO DE SURDOS”.<br />
9 Ver estudos <strong>de</strong> GANGEL-VASQUEZ, sobre a aplicabilida<strong>de</strong> em uma escola da Nicarágua.
II CONGRESSO NACIONAL DE SURDEZ – S. J. CAMPOS-S.P.<br />
consegue realizar leitura <strong>de</strong> textos simples com dois meses <strong>de</strong> ensino do código<br />
alfabético?<br />
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