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Gênesis, da aula em PowerPoint to PDF. - Paróquia Sant'Ana

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E S C O L A D E T E O L O G I A P A R A L E I G O S<br />

D E C A N A T O C E N T R O<br />

A R Q U I D I O C E S E D E L O N D R I N A<br />

G Ê N E S I S<br />

IR. ELIZABETH MENDES, FCJ<br />

LONDRINA, JULHO DE 2011<br />

1


A O R I G E M D A V I D A E D A H I S T Ó R I A<br />

INTRODUÇÃO<br />

<strong>Gênesis</strong> (do grego Γένεσις, "orig<strong>em</strong>", "nascimen<strong>to</strong>", "criação") é o primeiro livro tan<strong>to</strong> <strong>da</strong> Bíblia Hebraica<br />

como <strong>da</strong> Bíblia cristã, antecede o Livro do Êxodo. Faz parte do Pentateuco ou Torá, os cinco primeiros<br />

livros bíblicos. <strong>Gênesis</strong> (do grego Γένεσις, "nascimen<strong>to</strong>", "orig<strong>em</strong>") é o nome <strong>da</strong>do pela Septuaginta ao<br />

primeiro destes livros, ao passo que seu título hebraico Bereshit (ת ר , B'reishit, "No princípio") é<br />

tirado <strong>da</strong> primeira palavra de sua sentença inicial. Narra uma visão mi<strong>to</strong>lógica desde a criação do<br />

mundo na perspectiva ju<strong>da</strong>ica, genealogias dos Patriarcas bíblicos, até à fixação deste povo no Egip<strong>to</strong><br />

através <strong>da</strong> história de José. A tradição ju<strong>da</strong>ico-cristã atribuiu a au<strong>to</strong>ria do tex<strong>to</strong> a Moisés enquan<strong>to</strong> a<br />

crítica literária moderna prefere descreve-lo como compilado de tex<strong>to</strong> de diversas mãos.<br />

<strong>Gênesis</strong> significa nascimen<strong>to</strong>, orig<strong>em</strong>. No livro pod<strong>em</strong>os distinguir duas partes:<br />

1. Orig<strong>em</strong> do mundo e <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de (Gn 1-11). Os dois primeiros capítulos narram a criação do<br />

mundo e do hom<strong>em</strong> por Deus. São duas composições que procuram mostrar o lugar e a importância do<br />

hom<strong>em</strong> e <strong>da</strong> mulher dentro do proje<strong>to</strong> de Deus, eles são o pon<strong>to</strong> mais al<strong>to</strong> (Gn 1,1 a 2,4a) e o centro de<br />

<strong>to</strong><strong>da</strong> a criação (Gn 2,4b-25). Fei<strong>to</strong>s à imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança de Deus, possu<strong>em</strong> o dom <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong><br />

palavra e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. Os capítulos 3-11 mostram a história dos homens domina<strong>da</strong> pelo mal e, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, ampara<strong>da</strong> pela graça. Não se submetendo a Deus, o hom<strong>em</strong> rompe a relação consigo<br />

mesmo, com o irmão, com a natureza e com a comuni<strong>da</strong>de, reduzindo a história ao caos (dilúvio) e a<br />

socie<strong>da</strong>de a uma confusão (Babel).<br />

2. Orig<strong>em</strong> do povo de Deus (Gn 12-50). Nesta parte encontramos a história dos patriarcas, as raízes do<br />

povo que, dentro do mundo, será o portador <strong>da</strong> aliança entre Deus e a humani<strong>da</strong>de. O início <strong>da</strong> história<br />

do povo de Deus é marcado por um a<strong>to</strong> de fé no Deus que promete uma terra e uma descendência. A<br />

promessa de Deus cria uma aspiração que vai pouco a pouco se realizando <strong>em</strong> meio a dificul<strong>da</strong>des e<br />

confli<strong>to</strong>s. A missão de Israel é anunciar e test<strong>em</strong>unhar o caminho que leva a humani<strong>da</strong>de a descobrir e<br />

viver o proje<strong>to</strong> de Deus, ter Deus como único Senhor, conviver com as pessoas na fraterni<strong>da</strong>de, e<br />

repartir as coisas cria<strong>da</strong>s, que Deus deu a <strong>to</strong>dos.<br />

Os capítulos 37-50 apresentam a história de José, preparando já o rela<strong>to</strong> do livro do Êxodo, onde se<br />

apresenta a mais grandiosa ação de Deus entre os homens, a libertação de um povo <strong>da</strong> escravidão.<br />

Dois t<strong>em</strong>as aju<strong>da</strong>rão o lei<strong>to</strong>r a compreender melhor o livro do <strong>Gênesis</strong>:<br />

1. O b<strong>em</strong> e o mal, Tudo o que Deus cria é bom (Gn 1 e 2); o mal entra no mundo através <strong>da</strong> au<strong>to</strong>suficiência<br />

do hom<strong>em</strong> (Gn 3), e se desenvolve e cresce até afogar o mundo, salvando-se apenas uma<br />

família (Gn 4-11). Com Abraão inicia-se uma etapa <strong>em</strong> que o b<strong>em</strong> vai superando o mal até que, por fim e<br />

através do próprio mal, Deus realiza o b<strong>em</strong>, que é a vi<strong>da</strong> (Gn 12-50).<br />

2


2. A fraterni<strong>da</strong>de, Através de um fratricídio, a fraterni<strong>da</strong>de é rompi<strong>da</strong> (Gn 4,1-16), desvirtuando o<br />

proje<strong>to</strong> de Deus para os homens. Com isso abr<strong>em</strong>-se as portas para a vingança s<strong>em</strong> fim (4,17-24), a<br />

dominação (6,1-4), a desconfiança (12,10-20; cf. 20,1-18), a falta de hospitali<strong>da</strong>de (19,1-29), a<br />

concorrência desleal (25,29-34), que gera o medo do irmão (32,4-22), a exploração e a escravidão<br />

(31,1-42; 37,12-36). Para essa humani<strong>da</strong>de feri<strong>da</strong> Deus repropõe a restauração <strong>da</strong> fraterni<strong>da</strong>de através<br />

de uma comuni<strong>da</strong>de que será bênção para <strong>to</strong>dos os povos (12,1-3). Desse modo, o hom<strong>em</strong> deixará de<br />

ser egoísta (13,1-18), aprenderá a perdoar (18,16-33; 33,1-11) e a deixar suas próprias seguranças<br />

(22,1-19) para viver de novo a fraterni<strong>da</strong>de (45,1-15). Só assim os oprimidos poderão lutar contra a<br />

exploração e opressão, formando uma socie<strong>da</strong>de justa, na qual haja liber<strong>da</strong>de e vi<strong>da</strong> para <strong>to</strong>dos (livro do<br />

Êxodo).<br />

1.QUESTÕES EXEGÉTICAS<br />

1.1 COMPOSIÇÃO<br />

Embora o tex<strong>to</strong> não contenha rela<strong>to</strong>s internos de qu<strong>em</strong> foi o au<strong>to</strong>r, a au<strong>to</strong>ria foi tradicionalmente<br />

atribuí<strong>da</strong> pela tradição ju<strong>da</strong>ico-cristã a Moisés, um profeta e legislador hebraico. Esta tradição é<br />

basea<strong>da</strong> um diversas passagens <strong>da</strong> Bíblia Hebraica que retratam Moisés "escrevendo". Deuteronômio<br />

31,9 e 31,24-26 descreve como Moisés escreve a Torá (lei) e a coloca ao lado <strong>da</strong> Arca <strong>da</strong> Aliança. O livro<br />

de Levítico 26,46 diz "Estes são os estatu<strong>to</strong>s, juízos e leis que Jeová deu entre si e os filhos de Israel no<br />

monte Sinai por intermédio de Moisés." Passagens similares inclu<strong>em</strong> Êxodo 17,14, "disse Jeová a<br />

Moisés, Escreve is<strong>to</strong> para m<strong>em</strong>orial num livro, e faze-o ouvir a Josué; porque eu hei de extinguir<br />

<strong>to</strong>talmente a m<strong>em</strong>ória de Amaleque de debaixo do céu.;" Êxodo 24,4 "Moisés escreveu <strong>to</strong><strong>da</strong>s as palavras<br />

de Jeová e, tendo se levantado de manhã cedo, erigiu um altar ao pé do monte, e doze colunas segundo<br />

as doze tribos de Israel.; Esta visão é retratata <strong>em</strong> diversículos trechos do Novo Testamen<strong>to</strong> como<br />

Mateus 19,8; Lucas 24,27; João 5,45-47; A<strong>to</strong>s dos após<strong>to</strong>los 3,22; Espís<strong>to</strong>la a Romanos 10,5 e Apocalípse<br />

15,3.<br />

A crítica literária moderna descreve o Livro <strong>da</strong> <strong>Gênesis</strong> como um compilado de material escri<strong>to</strong> a<br />

diversas mãos], tendo assimilado mi<strong>to</strong>s <strong>da</strong> Suméria, <strong>da</strong> Babilônia e de Ugarit, especialmente os po<strong>em</strong>as<br />

<strong>da</strong> Criação, Enuma Elish e Atrahasis, a influência <strong>da</strong> Epopéia de Gilgamesh está também presente no<br />

rela<strong>to</strong> do Dilúvio. Não há consenso sobre quando o <strong>Gênesis</strong> foi escri<strong>to</strong>, mas algum anacronismos<br />

apontam que sua re<strong>da</strong>ção final aconteceu no primeiro milênio. As teorias mais recentes colocam a<br />

re<strong>da</strong>ção final do tex<strong>to</strong> <strong>em</strong> <strong>to</strong>rno do século 5 a.C, durante o período pós exílio quando a comuni<strong>da</strong>de judia<br />

se a<strong>da</strong>ptava à vi<strong>da</strong> sob o império persa.<br />

Várias tentativas foram feitas para reconcilhar o resultado <strong>da</strong> análise moderna com a crença tradicional<br />

de que Moisés haveria escri<strong>to</strong> a Torá. Por ex<strong>em</strong>plo, Mordechai Breuer acredita que "A Torá deve falar na<br />

linguag<strong>em</strong> do hom<strong>em</strong>." Portan<strong>to</strong> Breuer postula que a Torá recorre a uma técnica de comunicação<br />

multi-vocal, a soma de tex<strong>to</strong>s que parece dissonante de fa<strong>to</strong> oferece um contrapon<strong>to</strong> poderoso.<br />

Similarmente, errudi<strong>to</strong> judeu Menach<strong>em</strong> Mendel Kasher acredita que certas tradições <strong>da</strong> Torá Oral que<br />

descrev<strong>em</strong> Moisés citan<strong>to</strong> o tex<strong>to</strong> do <strong>Gênesis</strong> antes do even<strong>to</strong> do Monte Sinai; basea<strong>da</strong>s <strong>em</strong> diversículos<br />

versículos bíblicos e afirmações rabínicas - suger<strong>em</strong> que Moisés tinha cer<strong>to</strong>s documen<strong>to</strong>s escri<strong>to</strong>s pelos<br />

patriarcas quan<strong>to</strong> escreveu o livro.<br />

Alguns judeus e cristãos conservadores, que consideram a inerrância bíblica, mesmo quando <strong>em</strong><br />

contradição com as evidências científicas e históricas, mantêm a crença na au<strong>to</strong>ria mosaica.<br />

Argumentam que o escri<strong>to</strong>r do livro teria familiari<strong>da</strong>de com a geografia e cultura egípcia, levando <strong>em</strong><br />

3


conta o fa<strong>to</strong> de que Moisés teria sido criado na casa do Faraó no Egi<strong>to</strong> segundo os versículos 45,10 e<br />

47,11 do livro <strong>da</strong> <strong>Gênesis</strong>.<br />

Detra<strong>to</strong>res <strong>da</strong> Bíblia, no entan<strong>to</strong>, suger<strong>em</strong> que alguém versado <strong>em</strong> história Egípcia teria <strong>da</strong>tado a<br />

história do dilúvio antes <strong>da</strong>s dinastias egípcias. Ain<strong>da</strong> assim mesmo conservadores acreditam que<br />

alguns trechos possam ter sido acrescentados e modificados por outros escri<strong>to</strong>res no período de divisão<br />

dos reinos (Gn 36) e (ou) no processo de cópia dos manuscri<strong>to</strong>s. Tais modificações explicariam os<br />

anacronismos presentes no tex<strong>to</strong>, como a lista dos reis de Israel no período <strong>da</strong> monarquia israelita e o<br />

fa<strong>to</strong> de que algumas ci<strong>da</strong>des ser<strong>em</strong> chama<strong>da</strong>s por nomes do período <strong>da</strong> monarquia <strong>em</strong> vez do período<br />

dos Patriarcas bíblicos. Tais alterais teriam o objetivo de melhorar a clareza para lei<strong>to</strong>res<br />

cont<strong>em</strong>porâneo àquele periodo.<br />

Cristãos e judeus liberais <strong>em</strong> geral rejeitam a teoria <strong>da</strong> au<strong>to</strong>ria mosaica com base na análise literária<br />

moderna.<br />

1.2 NARRATIVA<br />

A) A HISTÓRIA DA CRIAÇÃO<br />

A história <strong>da</strong> criação encontra<strong>da</strong> nos dois primeiros capítulos do livro <strong>da</strong> <strong>Gênesis</strong> descreve um começo<br />

sobrenatural para a Terra e a vi<strong>da</strong>.<br />

O capítulo 1 descreve a criação do mundo por Deus (Elohim1) através <strong>da</strong> fala divina culminando com a<br />

criação <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de à imag<strong>em</strong> de Deus e a designação do sétimo dia como Sabbath, um dia de<br />

descanso ordenado por Deus. No segundo capítulo, Deus (Javé2) cria primeiro o hom<strong>em</strong>, na figura de<br />

Adão e, depois, a mulher, Eva, que é cria<strong>da</strong> a partir de uma costela de Adão. Termina com uma<br />

afirmação referente ao casamen<strong>to</strong> entre o hom<strong>em</strong> e a mulher. A visão de mundo por trás desta história<br />

é o <strong>da</strong> cosmologia comum no Antigo Oriente Médio, que concebe a Terra como disco plano com infinita<br />

água acima e abaixo. Acreditava-se que o céu era formado por um firmamen<strong>to</strong> sólido e metálico (lata de<br />

acordo com os sumérios e ferro conforme os Egípcios) separando o mundo habitado <strong>da</strong>s águas que o<br />

rodeavam. As estrelas estavam incrusta<strong>da</strong>s na superfície inferior deste domo, com portões que<br />

permitiam a passag<strong>em</strong> do Sol e <strong>da</strong> Lua. O disco <strong>da</strong> Terra era vis<strong>to</strong> como um continente-ilha único<br />

rodeado por um oceano circular, que era ligado aos mares conhecidos - Mar Mediterrâneo, Golfo Pérsico<br />

e o Mar Vermelho. Como mi<strong>to</strong> de criação, é similar a outras histórias <strong>da</strong> mi<strong>to</strong>logia babilônica antiga,<br />

como o Enuma Elish diferindo delas <strong>em</strong> sua aspec<strong>to</strong> monoteísta.<br />

As passagens têm uma longa e complexa história de interpretação. Até a última metade do século 19, ela<br />

eram vistas como um contínuo uniforme, <strong>Gênesis</strong> 1,2,6 descrevendo as origens do mundo e <strong>Gênesis</strong><br />

2,2,25 mostrando uma pintura mais detalha<strong>da</strong> <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Estudos modernos<br />

observaram o uso de nomes distin<strong>to</strong>s para Deus nas narrativas (Elohim versus Javé), diferentes ênfases<br />

1 Elohim ("Os Elevados" ou "Deuses e Deusas") é o plural do termo Eloah (obje<strong>to</strong> de t<strong>em</strong>or e reverência) , mas<br />

usa<strong>da</strong> <strong>em</strong> algumas vezes no sentido singular nas traduções e interpretações <strong>da</strong>s Escrituras Ju<strong>da</strong>ico-Cristãs. Elohim<br />

literalmente significa os elevados (ou deuses), contudo é traduzido por deus ou Deus <strong>em</strong> certas condições de<br />

sintaxe. Na grande maioria dos casos de uso, o termo se refere ao Deus Único de Israel.<br />

2 Refere-se ao nome do Deus de Israel.<br />

4


(física versus moral) e divergência na ord<strong>em</strong> de criação (ex. plantas antes de humanos versus humanos<br />

antes de plantas) e concluíram que estes tex<strong>to</strong>s possu<strong>em</strong> origens distintas.<br />

B) PRIMEIRO RELATO DA CRIAÇÃO<br />

O primeiro rela<strong>to</strong> <strong>da</strong> criação começa com o período indeterminado <strong>em</strong> que Deus (aqui chamado de<br />

Elohim) cria os céus e a terra a partir do na<strong>da</strong> (ex nihilo) ou <strong>da</strong>s águas primordiais (tehom/caos).<br />

Depois descreve a transformação <strong>da</strong> criação <strong>em</strong> seis dias do caos até o estado de ord<strong>em</strong> que culmina<br />

com a criação do humanos à sua própria imag<strong>em</strong>. O sétimo dia é santificado com um dia de descanso.<br />

A s<strong>em</strong>ana de criação consist<strong>em</strong> <strong>em</strong> 8 comandos divinos <strong>em</strong> seis dias, seguido de um dia de descanso.<br />

Primeiro dia, Deus cria a luz (O primeiro comando é "Haja luz"). A luz é dividi<strong>da</strong> <strong>da</strong> escuridão.<br />

Segundo dia, Deus cria um firmamen<strong>to</strong> (o segundo comando é "Faça-se um firmamen<strong>to</strong> no meio <strong>da</strong>s<br />

águas, e haja separação entre águas e águas").<br />

Terceiro dia, Deus man<strong>da</strong> as águas se juntar<strong>em</strong> <strong>em</strong> um lugar e a terra seca aparecer (o terceiro<br />

comando é "Ajunt<strong>em</strong>-se num só lugar as águas, que estão debaixo do céu, e apareça o el<strong>em</strong>en<strong>to</strong> seco").<br />

Deus man<strong>da</strong> a terra fornecer ervas, plantas e árvores frutíferas (o quar<strong>to</strong> comando é "Produza a terra<br />

relva, ervas que dê<strong>em</strong> s<strong>em</strong>ente, e árvores frutíferas que, segundo as suas espécies, dê<strong>em</strong> fru<strong>to</strong> que tenha<br />

<strong>em</strong> si a sua s<strong>em</strong>ente, sobre a terra").<br />

Quar<strong>to</strong> dia, Deus cria luzes no firmamen<strong>to</strong> para separar a luz <strong>da</strong> escuridão e marcar dias, estações e<br />

anos. Dois grandes luzeiros são criados (provavelmente o Sol e a Lua) e as estrelas. (o quin<strong>to</strong> comando é<br />

"Haja luzeiros no firmamen<strong>to</strong> do céu, que façam separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais, e<br />

para t<strong>em</strong>pos determinados, e para dias e anos; e sejam para luzeiros no firmamen<strong>to</strong> do céu a fim de<br />

alumiar a terra").<br />

Quin<strong>to</strong> dia, Deus man<strong>da</strong> o mar se encher de criaturas vivas e pássaros voar<strong>em</strong> pelos céus (o sex<strong>to</strong><br />

comando é "Produzam as águas enxames de seres viventes, e vo<strong>em</strong> as aves acima <strong>da</strong> terra no<br />

firmamen<strong>to</strong> do céu."). Deus cria pássaros e criatura e os man<strong>da</strong> ser<strong>em</strong> frutíferos e se multiplicar<strong>em</strong> (o<br />

sétimo comando é "Frutificai, multiplicai-vos e enchei as águas nos mares, e multipliqu<strong>em</strong>-se as aves<br />

sobre a terra.")<br />

Sex<strong>to</strong> dia, Deus man<strong>da</strong> a terra produzir criaturas vivas (o oitavo comando é "Produza a terra seres<br />

viventes segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais selvagens segundo as suas<br />

espécies"), fez feras selvagens, animais e répteis. Cria, então, a humani<strong>da</strong>de à sua própria imag<strong>em</strong> e<br />

s<strong>em</strong>elhança (o nono comando é "Façamos o hom<strong>em</strong> à nossa imag<strong>em</strong>, conforme a nossa s<strong>em</strong>elhança,<br />

domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre <strong>to</strong><strong>da</strong> a<br />

terra e sobre <strong>to</strong>do o réptil que se arrasta sobre a terra."). O décimo comando é "Frutificai, multiplicaivos,<br />

enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre <strong>to</strong>dos os<br />

animais que se arrastam sobre a terra." Deus descreve a criação como "mui<strong>to</strong> boa".<br />

Sétimo dia, Deus descansa e abençôa o sétimo dia.<br />

O rela<strong>to</strong> se aproxima mais intimamente dos con<strong>to</strong>s mesopotâmicos, detalhando a formação de<br />

características únicas a partir <strong>da</strong> separação <strong>da</strong>s águas, um entendimen<strong>to</strong> que se refletiria no Novo<br />

Testamen<strong>to</strong>, <strong>em</strong> 2Pedro 3,4-7, onde é entendido que "a Terra foi forma<strong>da</strong> de água e por água". À luz <strong>da</strong><br />

mi<strong>to</strong>logia Jungiana (ou compara<strong>da</strong>), acadêmicos como Joseph Campbell acreditam que esta criação a<br />

partir <strong>da</strong> água pode ser r<strong>em</strong>iniscência de religiões neolíticas de deusas matriarcais, onde o universo não<br />

é criado, mas parido. (i.e., as águas representam o fluido amniótico).<br />

5


De acordo com o acadêmico sobre o Velho Testamen<strong>to</strong> Gordon Wenhm, este rela<strong>to</strong> evidencia marcas de<br />

uma criação literária cui<strong>da</strong>dosamente escrita com uma agen<strong>da</strong> teológica distinta, a elevação de Javé, o<br />

Deus dos israelitas, sobre <strong>to</strong>dos os outros deuses, notavelmente Marduk,o deus dos babilônios.<br />

As formas plurais <strong>em</strong> "Façamos o hom<strong>em</strong> à nossa imag<strong>em</strong>" indicam, segundo estudos acadêmicos<br />

modernos, o reflexo <strong>da</strong> visão comum no Antigo Oriente Médio de um deus supr<strong>em</strong>o (ver o deus El<br />

rodeado de um corte divina, os Filhos de Deus). Alguns Cristãos trinitários interpretam esta forma<br />

plural como uma evidência <strong>da</strong> doutrina <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong>de.<br />

Atualmente, para mui<strong>to</strong>s cristãos e judeus, os sete dias <strong>da</strong> criação do mundo, de que fala a Bíblia, não<br />

dev<strong>em</strong> ser entendidos literalmente e representam apenas uma forma metafórica e alegórica de explicar<br />

a criação do Universo. Mas, mesmo assim, algumas correntes cristãs, denomina<strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentalistas,<br />

originárias <strong>em</strong> certas regiões dos Estados Unidos, defend<strong>em</strong> leitura literal <strong>da</strong> Bíblia e, motiva<strong>da</strong>s por<br />

este rela<strong>to</strong> de criação e outros trechos <strong>da</strong> bíblia, rejeitam a i<strong>da</strong>de do universo e <strong>da</strong> Terra estipula<strong>da</strong> pela<br />

ciência moderna e defend<strong>em</strong> que o universo surgiu <strong>em</strong> apenas seis dias há menos de 10 mil anos. Este<br />

movimen<strong>to</strong> é chamado de criacionismo cristão e se apresenta de diversas formas, variando desde o<br />

criacionismo <strong>da</strong> Terra plana, que defende um modelo de Terra plana, até a aceitação dos teorias<br />

científicas modernas s<strong>em</strong> confli<strong>to</strong> com a leitura <strong>da</strong> Bíblia.<br />

C) SEGUNDO RELATO DA CRIAÇÃO<br />

O segundo rela<strong>to</strong> <strong>da</strong> criação descreve Deus (chamado de Javé) formando o primeiro hom<strong>em</strong> (Adão3) <strong>da</strong><br />

poeira e assoprando-lhe vi<strong>da</strong> pelas narinas, plantando o jardim, formando os animais e pássaros e,<br />

finalmente, criando a primeira mulher, Eva, para ser sua companheira. Javé tendo criado o jardim do<br />

Éden, man<strong>da</strong> que o hom<strong>em</strong> o trabalhe e <strong>to</strong>me conta dele, permite que coma de <strong>to</strong><strong>da</strong>s as árvores exce<strong>to</strong><br />

<strong>da</strong> árvore do conhecimen<strong>to</strong> do b<strong>em</strong> e mal porque no dia que o hom<strong>em</strong> dela comesse certamente<br />

morreria. Javé já havia criado os animais e, então, apresenta-lhes <strong>to</strong>dos a Adão e este é incapaz de<br />

encontrar uma auxiliar satisfatória entre eles, então Javé adormece Adão e retira-lhe uma costela, <strong>da</strong><br />

qual cria a mulher, que Adão nomeia Eva (heb. ishshah, "mulher") porque foi tira<strong>da</strong> do hom<strong>em</strong> (heb. ish,<br />

"hom<strong>em</strong>"). Por causa disso, "deixará o hom<strong>em</strong> o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão<br />

ambos uma carne". Genesis 2 termina com a nota de que hom<strong>em</strong> e mulher estavam nus e não se<br />

envergonhavam.<br />

Genesis 3 introduz a serpente, "a mais astuta dos animais do campo", a serpente convence a mulher a<br />

comer <strong>da</strong> árvore do conhecimen<strong>to</strong>, dizendo-lhe que não morreriam, mas <strong>to</strong>rnar-se-iam como deuses.<br />

Eva aquiesce e oferece o fru<strong>to</strong> ao hom<strong>em</strong>, que também come do fru<strong>to</strong> e "seus olhos foram aber<strong>to</strong>s" e<br />

deram-se conta de que estavam nus. Cobriram-se então com folhas de figueira e esconderam-se de Javé.<br />

Javé pergunta o que fizeram. Adão culpa Eva e Eva culpa a serpente. Javé amaldiçoa a serpente e então<br />

amaldiçoa Adão e Eva como trabalho pesado e dores de par<strong>to</strong>. Javé fez túnicas de peles para ambos e,<br />

sendo o hom<strong>em</strong> "como um de nós, sabendo o b<strong>em</strong> e o mal" e para impedir-lhe de comer <strong>da</strong> árvore <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, os expulsa do jardim e coloca um querubim armado com uma espa<strong>da</strong> de fogo a cui<strong>da</strong>r as portas <strong>da</strong><br />

terra de onde haviam sido expulsos.<br />

Este segundo rela<strong>to</strong> é estimado ser mui<strong>to</strong> mais antigo que o primeiro e reflete um contex<strong>to</strong> literário e<br />

histórico distin<strong>to</strong>. Sua apresentação usa imagens provenientes <strong>da</strong> antiga tradição pas<strong>to</strong>ral de Israel e<br />

trata <strong>da</strong> criação do primeiro hom<strong>em</strong> e <strong>da</strong> primeira mulher no Jardim do Éden e encontra paralelos na<br />

3 Adão (do hebraico םדא relacionado tan<strong>to</strong> a a<strong>da</strong>má, solo vermelho ou do barro vermelho, quan<strong>to</strong> a adom,<br />

"vermelho", e <strong>da</strong>m "sangue") é considerado dentro <strong>da</strong> tradição ju<strong>da</strong>ico-cristã e islâmica como o primeiro ser<br />

humano, uma nova espécie cria<strong>da</strong> diretamente por Deus. Teria sido criado a partir <strong>da</strong> terra à imag<strong>em</strong> e<br />

s<strong>em</strong>elhança de Deus para domínio sobre a criação terrestre.<br />

6


história de Atrahasis, uma epopéia acadiana do século XVIII a. C Os povos <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de observam a<br />

decomposição dos corpos <strong>da</strong>s pessoas mortas, que se convertia <strong>em</strong> pó, <strong>em</strong> sua interpretação. Esse fa<strong>to</strong><br />

os levou a postular que o hom<strong>em</strong> era fei<strong>to</strong> essencialmente de pó. Esse concei<strong>to</strong> era compartilhado por<br />

diversículos povos como os babilônicos, egípcios, gregos e romanos. De fa<strong>to</strong>, um grande número de<br />

mi<strong>to</strong>s de criação de <strong>to</strong><strong>da</strong> as partes do mundo descrev<strong>em</strong> criação a partir de material do solo,<br />

normalmente, argila. O mais antigos dos mi<strong>to</strong>s de criação conhecido, o dos sumérios <strong>da</strong> Mesopotânia,<br />

conhecido como Eridu Genesis, descreve a criação dos homens a partir de barro por deuses<br />

<strong>em</strong>briagados, que os deixaram cheios de imperfeições.<br />

A história de Adão e Eva, <strong>em</strong>bora superficialmente diferente, encontra íntimos paralelos com a história<br />

de Enkidu, um selvag<strong>em</strong> esculpido pelos deuses a partir de argila, e Shamhat, uma rameira contrata<strong>da</strong><br />

para seduzi-lo. Após seis dias e sete noites com a rameira, Enkidu não mais é servido pelos animais e<br />

plantas <strong>da</strong> floresta e "perdera sua força pois agora tinha o coração dentro de si, e os pensamen<strong>to</strong>s do<br />

hom<strong>em</strong> ocupavam seu coração" e Shamhat lhe disse "És sábio, Enkidu, e agora te <strong>to</strong>rnaste s<strong>em</strong>elhante a<br />

um deus". Na cultura do Antigo Oriente Médio, as palavras "fru<strong>to</strong>" e "conhecimen<strong>to</strong>" carregam ambas<br />

forte conotação sexual, inbu, por ex<strong>em</strong>plo, siginifica tan<strong>to</strong> "fru<strong>to</strong>" como "sexo" <strong>em</strong> babilônico enquan<strong>to</strong><br />

"conhecimen<strong>to</strong>" <strong>em</strong> hebreu pode significar "relação sexual".<br />

A serpente era uma figura amplamente difundi<strong>da</strong> na mi<strong>to</strong>logia do Antigo Oriente Médio. Diversículos<br />

obje<strong>to</strong>s de cul<strong>to</strong> foram descober<strong>to</strong>s por arqueólogos no estra<strong>to</strong> <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de do Bronze <strong>em</strong> diversas ci<strong>da</strong>des<br />

pré-Israelitas <strong>em</strong> Canaã, dois <strong>em</strong> Megiddo, um <strong>em</strong> Gezer, um no sanctum sanc<strong>to</strong>rum <strong>da</strong> área do t<strong>em</strong>plo<br />

H <strong>em</strong> Hazor, e dois <strong>em</strong> Shech<strong>em</strong>. Na região circun<strong>da</strong>nte, o santuário Hitita <strong>da</strong> baixa i<strong>da</strong>de do bronze<br />

continha estátuas <strong>em</strong> bronze de um deus segurando uma serpente <strong>em</strong> uma mão e um bastão <strong>em</strong> outra.<br />

Na Babilônia do século XI a. C, um par de serpentes de bronze <strong>em</strong>oldurava ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s entra<strong>da</strong>s do<br />

t<strong>em</strong>plo de Esagila. Os antigos mesopotâmicos e s<strong>em</strong>itas acreditav<strong>em</strong> que a serpente era imortal por ser<br />

capaz de mu<strong>da</strong>r de pele. Na Epopeia de Gilgamesh, Gilgamesh obtém a a flor de uma "maravilhosa<br />

planta" que poderia "devolver ao hom<strong>em</strong> <strong>to</strong><strong>da</strong> a sua força perdi<strong>da</strong>", uma serpente, no entan<strong>to</strong>, rouboulhe<br />

a flor e imediatamente trocou de pele.<br />

A doutrina do pecado original, defendi<strong>da</strong> por alguns cristãos, segundo a qual o hom<strong>em</strong> nasce com<br />

pecados t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> neste rela<strong>to</strong> <strong>da</strong> <strong>Gênesis</strong>, <strong>em</strong> especial na desobediência de Adão e Eva ao comer do<br />

fru<strong>to</strong> proibido por Javé.<br />

D) DESCENDÊNCIA DE ADÃO<br />

Os capítulos 4 e 5 do livro contam a história dos filhos de Adão e Eva, Caim, Abel e Sete. Eles também<br />

tiveram um quar<strong>to</strong> filho, s<strong>em</strong> nome no livro. Adão viveu 930 anos.<br />

Adão e Eva possu<strong>em</strong> dois filhos homens, Caim4 <strong>to</strong>rna-se lavrador e Abel, pas<strong>to</strong>r de ovelhas. Ambos<br />

ofereceram ofertas a Jeová, que se agradou apenas do sacrifício que Abel lhe havia oferecido. Caim mata<br />

Abel no campo. Jeová pergunta a Caim onde está Abel e diz que seu sangue "clamava <strong>da</strong> terra até ele"<br />

Caim responde sarcasticamente dizendo "Não sei; sou eu o guar<strong>da</strong> de meu irmão?" A razão que motivou<br />

o assassina<strong>to</strong> é <strong>da</strong><strong>da</strong> no tex<strong>to</strong> e o crime de Caim se agrava pela mentira. Jeová o amaldiçôa e o expulsa<br />

<strong>da</strong> terra, ficando ele condenado a não mais conseguir lavrar a terra e <strong>to</strong>rnar-se um vagabundo fugitivo.<br />

4 1. Caim é um personag<strong>em</strong> do Antigo Testamen<strong>to</strong> <strong>da</strong> Bíblia, sendo o filho primogêni<strong>to</strong> de Adão e Eva. Era um lavrador.<br />

Em hebraico, , Caim significa lança, sendo que a sua transliteração seria Qayin. Este nome também é associado a<br />

uma outra forma verbal, "Qanah", que pode significar "obter" ou "provocar ciúme". Algumas obras associam o nome<br />

com a expressão "algo produzido". 2. 'Adquiri um varão com a aju<strong>da</strong> de "Deus, o Senhor" (Bíblia de Jerusalém).<br />

7


Caim reclama que qualquer um o poderia matar, mas Deus coloca-lhe uma marca, dizendo que qu<strong>em</strong> o<br />

matasse seria "castigado sete vezes". A natureza <strong>da</strong> marca de Caim também é misteoriosa.<br />

Caim foi viver na região de Nod, a leste do Éden. Caim desposa uma mulher e t<strong>em</strong> um filho Enoque e<br />

edifica uma ci<strong>da</strong>de com o mesmo nome. De Enoque, nasceu Irad, que gerou Meujael; Meujael gerou<br />

Metusael; Metusael gerou Lameque.<br />

Lameque teve duas esposas, A<strong>da</strong> e Zilá. A<strong>da</strong> deu à luz a Jabal, que, segundo o tex<strong>to</strong>, "foi o pai dos que<br />

habitam <strong>em</strong> ten<strong>da</strong>s e possu<strong>em</strong> gado"; Jubal, que "pai de <strong>to</strong>dos os que <strong>to</strong>cam harpa e flauta" e Tubalcaim,<br />

"fabricante de <strong>to</strong>do o instrumen<strong>to</strong> cortante de cobre e de ferro". Tiveram igualmente uma filha, Naamá.<br />

Entao Lameque disse à suas duas mulheres "matei um hom<strong>em</strong>, porque me feriu; E um rapaz, porque me<br />

pisou. Se por Caim <strong>to</strong>mar-se-á vingança sete vezes, Com certeza por Lameque o será setenta e sete<br />

vezes."<br />

No lugar de Abel, Deus dá outro filho a Adão e Eva, Sete, que possui um filho chamado Enós e seria o<br />

primeiro a invocar o nome de Deus, Javé.<br />

Embora este tex<strong>to</strong> de orig<strong>em</strong> na fonte javista afirme que foi Enós qu<strong>em</strong> primeiro usou o nome de Jeová,<br />

a fonte Eloísta diz ter sido Moisés o primeiro a usar o nome próprio do Deus de Israel, conforme o Livro<br />

do Êxodo 3,13-15. O contraste entre a maldição de Caim a <strong>to</strong>rnar-se um vagabundo e o fa<strong>to</strong> de depois<br />

ter edificado uma ci<strong>da</strong>de pode sugerir que esta história foi composta a partir de outras duas, uma sobre<br />

o primeiro assassina<strong>to</strong> e, outra, sobre o surgimen<strong>to</strong> <strong>da</strong> primeira ci<strong>da</strong>de.<br />

O quin<strong>to</strong> capítulo do Livro <strong>da</strong> <strong>Gênesis</strong> é oriundo <strong>da</strong> fonte sacerdotal, escrita durante o exílio por volta de<br />

500 A. C, porém basea<strong>da</strong> <strong>em</strong> tradições mais antigas. T<strong>em</strong> o objetivo de, jun<strong>to</strong> com os versículos de 10 a<br />

26 do capítulo 11, traçar a genealogia entre Adão e Abraão. A genealogia de Adão é traça<strong>da</strong> por Sete,<br />

mas diversículos nomes na série são iguais ou s<strong>em</strong>elhantes a alguns nomes na linhag<strong>em</strong> de Cain. A<br />

tabela abaixo compara tais genealogias, a ord<strong>em</strong> é altera<strong>da</strong> para por <strong>em</strong> evidência as s<strong>em</strong>elhanças, os<br />

números à esquer<strong>da</strong> indicam a sequência como aparec<strong>em</strong> no tex<strong>to</strong>.<br />

<strong>Gênesis</strong> 4,17-26 (Fonte javista)<br />

1.Adão 1.Adão<br />

8.Sete 2. Sete<br />

9.Enosh 3.Enosh<br />

2.Cain 4. Kenan<br />

5.Mahujael 5.Mahalalel<br />

4.Iradi 6.Jared<br />

3.Enoque 7.Enoque<br />

6.Mathusael 8.Methuselah<br />

<strong>Gênesis</strong> 5,1-32 (Fonte<br />

sacerdotal)<br />

8


7.Lameque 9.Lameque<br />

10.Noé 10.Nóe<br />

Longos períodos de vi<strong>da</strong> são atribuidos a dez patriarcas antediluvianos. A tradição babilônica também<br />

registra dez reis com períodos de vi<strong>da</strong> mui<strong>to</strong> longos que reinaram sucessivamente antes do dilúvio.Em<br />

ambas as listas, a sétima posição t<strong>em</strong> significado especial. En-men-dur-ana, o sétimo rei <strong>da</strong> lista<br />

babilônica, t<strong>em</strong> o mesmo nome <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de onde se centraliza<strong>da</strong> a adoração ao deus Sol e foi levado aos<br />

céus pelos deuses enquan<strong>to</strong> Enoque viveu 365 anos - o número de de dia de um ano solar - e também foi<br />

"<strong>to</strong>mado por Deus".<br />

E) DILÚVIO<br />

Os capítulos de 6 a 9 descrev<strong>em</strong> a história de Noé, um herói que constrói uma arca e sobrevive a um<br />

dilúvio universal jun<strong>to</strong> com sua família e animais de <strong>to</strong><strong>da</strong>s as espécies.<br />

A crítica literária moderna identifica dois rela<strong>to</strong>s entrelaçados no tex<strong>to</strong>, um de orig<strong>em</strong> na fonte Javista e<br />

outro de oriundo <strong>da</strong> fonte sacer<strong>to</strong><strong>da</strong>l. O rela<strong>to</strong> Javista descreve Noé como um camponês que plan<strong>to</strong>u<br />

uma vinha, já o rela<strong>to</strong> sacer<strong>to</strong><strong>da</strong>l o coloca como um segundo pai <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, com qu<strong>em</strong> Deus fez<br />

uma aliança. As incongruências entre as duas narrativas levaram alguns críticos a insistir que os rela<strong>to</strong>s<br />

não possuiam o mesmo t<strong>em</strong>a. A combinação <strong>da</strong>s duas histórias produziu duplicações (como 6,13-22 e<br />

7,1-5) e contradições como a cronologia do dilúvio( 8,3-5, 13-14 contra 7,4, 10, 12, 17b; 8,6, 10, 12) e o<br />

número de animais na arca (6,19-20; 7,14-15 contra 7,2-3). Deve ser notado também que alguns<br />

erudi<strong>to</strong>s, mesmo reconhecendo duas narrativas do dilúvios, acreditam que a re<strong>da</strong>ção final deva ser<br />

compreendi<strong>da</strong> como um <strong>to</strong>do, is<strong>to</strong> é, o trabalho do re<strong>da</strong><strong>to</strong>r foi o de compor duas narrativas <strong>em</strong> um<br />

trabalho compos<strong>to</strong> final, mesmo que s<strong>em</strong> a preocupação com a consistência do tex<strong>to</strong>.<br />

Ambos os rela<strong>to</strong>s r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à antiga história de Dilúvio registra<strong>da</strong> na Epopéia de Gilgamesh.<br />

PRÓLOGO<br />

Os primeiros versículos do capítulo 6 introduz<strong>em</strong> os Nefilins5, gigantes <strong>da</strong> mi<strong>to</strong>logia ju<strong>da</strong>ica, como o<br />

resultado do cruzamen<strong>to</strong> entre os filhos de Deus e as filhas do hom<strong>em</strong>. Este trecho, de orig<strong>em</strong> javista, é<br />

considerado um dos mais estranhos de <strong>to</strong><strong>da</strong> a Bíblia Hebraica.<br />

5 1. Nefilim, do hebraico nefilím, que significa deser<strong>to</strong>res, caídos, derrubados, mas tal termo é uma variação<br />

do termo . Deriva <strong>da</strong> forma causativa do verbo nafál ou nefal (cair,que<strong>da</strong>,derrubar,cortar). Traz uma idéia de<br />

dividido, falho, que<strong>da</strong>, perdido, mentiroso, deser<strong>to</strong>r. 2. Literalmente os que faz<strong>em</strong> os outros cair ou mentir. 3. No<br />

Dicionário de Strong são chamados de tiranos. Em aramaico Nephila designa a constelação de Orion, que entre os<br />

hebreus era o anjo Sh<strong>em</strong>hazai (S<strong>em</strong>yaza, Samyaza, S<strong>em</strong>yaze), conforme relatado no Livro de Enoque. 4. A Bíblia faz<br />

menção aos Nefelins como "anjos caídos", "espíri<strong>to</strong>s impuros" ou "d<strong>em</strong>ônios", e no tal apócrifo Livro de Enoch como<br />

"vigilantes", sendo <strong>em</strong> ambos os tais anjos que copularam com as filhas dos homens e engendraram esta raça híbri<strong>da</strong><br />

dos gigantes. Na Bíblia esta palavra refere-se aos filhos de םיהלא, os valentes e heróis <strong>da</strong> antigüi<strong>da</strong>de como relata o Livro<br />

do <strong>Gênesis</strong> 6,4. Os gigantes são o resultado de uma união entre duas espécies, seres que foram alterados<br />

geneticamente devido a compatibili<strong>da</strong>de entre as mulheres humanas e os Nefelins. Na Bíblia, pod<strong>em</strong>os identificar<br />

alguns dos descendentes dos Nefelins na terra por ser<strong>em</strong> antigos governantes, como aponta o livro de Números 13,33.<br />

9


1 Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra e lhes nasceram filhas, 2 viram os filhos<br />

de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e <strong>to</strong>maram para si mulheres de <strong>to</strong><strong>da</strong>s as que<br />

escolheram. 3 Então disse Jeová, O meu espíri<strong>to</strong> não permanecerá para s<strong>em</strong>pre no hom<strong>em</strong>; por causa do<br />

seu errar é ele carne; portan<strong>to</strong> os seus dias serão cen<strong>to</strong> e vinte anos. 4 Ora naqueles dias estavam os<br />

Nefilins na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais<br />

lhes deram filhos. Os Nefilins eram os valentes que houve na antigui<strong>da</strong>de, varões de renome. (Tradução<br />

Brasileira <strong>da</strong> Bíblia/<strong>Gênesis</strong>/VI)<br />

De acordo com a New American Bible, <strong>da</strong> Conferência Americana de Bispos Católicos, esta passag<strong>em</strong> é<br />

aparent<strong>em</strong>ente um <strong>em</strong>préstimos de len<strong>da</strong>s <strong>da</strong> antiga mi<strong>to</strong>logia. Os filhos de Deus, literalmente seres<br />

celestiais foram tradicionalmente entendidos como anjos, uma espécie de mensageiros ou aju<strong>da</strong>ntes do<br />

deus Javé. A crítica moderna, no entan<strong>to</strong>, prefere associá-los ao conselho divino formado pelo deus El e<br />

sua corte. O objetivo deste versículos é normalmente vis<strong>to</strong> como o de introduzir a história do dilúvio<br />

explicando que o hom<strong>em</strong> vinha se corrompendo e que a corrupção atingira níveis celestiais.<br />

NARRATIVA<br />

A história de Arca de Noé, de acordo com os capítulos 6 a 9 do livro do <strong>Gênesis</strong>, começa com Deus<br />

observando o mau comportamen<strong>to</strong> <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de e decidido a inun<strong>da</strong>r a terra e destruir <strong>to</strong><strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Porém, Deus encontrou um bom hom<strong>em</strong>, Noé, "um virtuoso hom<strong>em</strong>, inocente entre o povo de seu<br />

t<strong>em</strong>po", e decidiu que este iria preceder uma nova linhag<strong>em</strong> do hom<strong>em</strong>. Deus disse a Noé para fazer<br />

uma arca e levar com ele a esposa e seus filhos S<strong>em</strong>, Cam e Jafé, e suas esposas. E, de <strong>to</strong><strong>da</strong>s as espécies<br />

de seres vivos existentes então, levar para a arca dois ex<strong>em</strong>plares, macho e fêmea. A fim de fornecer seu<br />

susten<strong>to</strong>, disse para trazer e armazenar alimen<strong>to</strong>s.<br />

Noé6, sua família e os animais entraram na arca e "no mesmo dia foram quebrados <strong>to</strong>dos os<br />

fun<strong>da</strong>men<strong>to</strong>s <strong>da</strong> grande profundi<strong>da</strong>de e as janelas do céu foram abertas, e a chuva caiu sobre a terra por<br />

quarenta dias e quarenta noites". A inun<strong>da</strong>ção cobriu mesmo as mais altas montanhas por mais de seis<br />

metros (20 pés), e <strong>to</strong><strong>da</strong>s as criaturas morreram; apenas Noé e aqueles que com ele estavam sobre a arca<br />

ficaram vivos. A história do Dilúvio é considera<strong>da</strong> por vários estudiosos modernos como um sist<strong>em</strong>a de<br />

dois con<strong>to</strong>s ligeiramente diferentes, entrelaçados, <strong>da</strong>í a aparente incerteza quan<strong>to</strong> à duração <strong>da</strong><br />

inun<strong>da</strong>ção (quarenta ou cen<strong>to</strong> e cinquenta dias) e o número de animais colocados a bordo <strong>da</strong> arca (dois<br />

de ca<strong>da</strong> espécie, ou sete pares de alguns tipos). (Veja Análise documentária para maiores detalhes)<br />

Eventualmente, a arca veio a descansar sobre o Monte Ararat. As águas começaram a diminuir e os<br />

<strong>to</strong>pos <strong>da</strong>s montanhas <strong>em</strong>ergiram. Noé enviou um corvo, que "voou de um lado a outro até que as águas<br />

recuaram a partir <strong>da</strong> terra". Em segui<strong>da</strong>, Noé enviou uma pomba, mas ela re<strong>to</strong>rnou à arca s<strong>em</strong> ter<br />

encontrado nenhum lugar para pousar. Depois de mais sete dias, Noé novamente enviou a pomba e ela<br />

vol<strong>to</strong>u com uma folha de oliva no seu bico e então ele soube que as águas tinham abran<strong>da</strong>do.<br />

Noé esperou mais sete dias e enviou a pomba mais uma vez, e desta vez ela não re<strong>to</strong>rnou. Em segui<strong>da</strong>,<br />

ele e sua família e <strong>to</strong>dos os animais saíram <strong>da</strong> arca e Noé fez um sacrifício a Deus, e Deus resolveu que<br />

nunca mais lançaria maldição à terra por causa do hom<strong>em</strong>, n<strong>em</strong> iria destruí-la novamente dessa<br />

maneira.<br />

6 Noé ou Noach (do hebraico חנ, "descanso, alívio, confor<strong>to</strong>" ) é o nome do heroi bíblico que "recebeu ordens de<br />

Deus para a construção de uma arca, para salvar a Criação do Dilúvio". De acordo com o Pentateuco, os cinco<br />

primeiros livros do tradicional velho testamen<strong>to</strong> <strong>da</strong> Bíblia escri<strong>to</strong>s por Moises, Noé era filho de Lameque, que era<br />

filho de Matusalém, que era filho de Enoque, que era filho de Jarede, que era filho de Malalel, que era filho de<br />

Cainan ou Quenã, que era filho de Enos, que era filho de Sete, que era filho de Adão que era filho de Deus.<br />

10


A fim de se l<strong>em</strong>brar dessa promessa, Deus colocou o Arco <strong>da</strong> Aliança nas nuvens, dizendo, "S<strong>em</strong>pre que<br />

houver nuvens sobre a terra e o arco aparecer nas nuvens, eu me l<strong>em</strong>brarei <strong>da</strong> eterna aliança entre<br />

Deus e <strong>to</strong>dos os seres vivos de <strong>to</strong><strong>da</strong>s as espécies sobre a terra".<br />

A narrativa do dilúvio no tex<strong>to</strong> de <strong>Gênesis</strong> é significativamente s<strong>em</strong>elhante aos mi<strong>to</strong>s mesopotânicos,<br />

especialmente à Epopeia de Gilgamesh e à de Atrahasis. Gilgamesh <strong>em</strong>preende uma jorna<strong>da</strong> <strong>em</strong> busca<br />

<strong>da</strong> imortali<strong>da</strong>de e encontra um velho ancestral, Utnapshtim, que havia ganhado dos deuses a<br />

imortali<strong>da</strong>de após sobreviver <strong>em</strong> uma arca a um dilúvio. O heróis babilônico carrega <strong>em</strong> sua arca<br />

animais, familiares e artesãos para fazer<strong>em</strong> reparos à arca. Assim como Noé, Utnapshtim envia pássaros<br />

para testar o fim do dilúvio. A arca de Noé repousa no Monte Ararate, a de Utnapshtim igualmente<br />

termina sobre uma montanha com o fim <strong>da</strong>s águas. Ao final do rela<strong>to</strong>, tan<strong>to</strong> Noé como Utnapshtim<br />

oferec<strong>em</strong> sacrifícios.<br />

ANÁLISE DOCUMENTÁRIA<br />

A separação do rela<strong>to</strong> <strong>em</strong> duas partes, uma de orig<strong>em</strong> javista e outra de orig<strong>em</strong> sacer<strong>to</strong><strong>da</strong>l traz algumas<br />

dificul<strong>da</strong>des. Embora algumas diferenças estejam mais claras, No rela<strong>to</strong> javista, a erosão moral <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de fez Javé "arrepender-se" <strong>da</strong> criação do hom<strong>em</strong> e recomeçar a criação com Noé. Javé é<br />

retra<strong>to</strong> <strong>em</strong> termos humanos, o mal comportamen<strong>to</strong> do hom<strong>em</strong> lhe "pesou no coração". Noé "acha graça<br />

aos (seus) olhos". Em contraste, no rela<strong>to</strong> sacer<strong>to</strong><strong>da</strong>l, Elohim se mantém distante e <strong>em</strong>ite decre<strong>to</strong>s sobre<br />

a terra. A destruição é motiva<strong>da</strong> pela corrupção do hom<strong>em</strong>.<br />

Um dilúvio é escolhido como ferramenta de limpeza e e destruição. O dilúvio v<strong>em</strong> como uma espécie de<br />

reversão <strong>da</strong> criação, r<strong>em</strong>etendo o mundo às águas primordiais e com o objetivo de reconstruí-lo a partir<br />

do conteúdo <strong>da</strong> arca de Noé. No rela<strong>to</strong> javista, Noé é instruído a coletar sete casais dos "animais limpos"<br />

apenas um casal de ca<strong>da</strong> "animal sujo". Enquan<strong>to</strong>, no rela<strong>to</strong> sacerdotal, a instrução é de coletar um casal<br />

de ca<strong>da</strong> animal. A distinção entre animais limpos e não limpos só seria revela<strong>da</strong>, segundo o rela<strong>to</strong><br />

bíblico, pela introdução <strong>da</strong>s leis rituais por Moisés no episódio do Monte Sinai. A terra é então coberta<br />

de água, seja por chuvas no rela<strong>to</strong> javista seja porque, no relan<strong>to</strong> sacerdotal, romperam-se as fontes do<br />

grande abismo (porção de água que se acreditava haver sob a terra) e abriram-se as janelas do céu.<br />

A natureza antropomórfica do retra<strong>to</strong> de Javé está presente quando ele fecha a porta <strong>da</strong> arca. A duração<br />

do dilúvio é de 40 dias e 40 noite no rela<strong>to</strong> javista e Noé espera mais três s<strong>em</strong>anas antes de<br />

des<strong>em</strong>barcar. No outro rela<strong>to</strong>, a duração é de uma ano. A história se conclui com Noé oferencedo um<br />

sacrifício de animal a Javé, que aprecia o cheiro. Já o rela<strong>to</strong> sacerdotal <strong>em</strong> <strong>em</strong> 9,1-17 apresenta uma<br />

dupla conclusão, Deus <strong>da</strong>ndo ao hom<strong>em</strong> o domínio sobre a Terra, os animais e plantas sobre ela e uma<br />

aliança entre Noé e Deus, que promete não mais dizimar a vi<strong>da</strong> com novos dilúvios.<br />

ALIANÇA<br />

No período pós-dilúvio, Noé e sua família receb<strong>em</strong> as ord<strong>em</strong> divinas de "Frutificai, multiplicai-vos e<br />

enchei a terra.", ou seja, as ord<strong>em</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong>s aos primeiros homens foram repeti<strong>da</strong>s. Agora a humani<strong>da</strong>de<br />

viveria sob nova aliança e teria poder sob a terra. Deus proíbe, no entan<strong>to</strong>, o hom<strong>em</strong> de comer o sangue<br />

<strong>da</strong> carne. Deus igualmente proíbe o homicídio dizendo "Se alguém derramar o sangue do hom<strong>em</strong>, pelo<br />

hom<strong>em</strong> será derramado o seu sangue; porque o hom<strong>em</strong> foi fei<strong>to</strong> à imag<strong>em</strong> de Deus." Esta nova relação<br />

do hom<strong>em</strong> com sua terra associa<strong>da</strong> à promessa de Deus de não mais destruir a vi<strong>da</strong> com o dilúvio é<br />

descrita como uma aliança entre Deus e o hom<strong>em</strong>. O sinal desta aliança seria o arco-íris.<br />

11


A MALDIÇÃO DE CANAÃ<br />

Noé amaldiçoando seu ne<strong>to</strong> Canaã,<br />

gravura de Gustave Doré (1832-1883).<br />

Noé planta uma vinha, produz vinho e, <strong>em</strong>briagado, dorme nu <strong>em</strong> sua ten<strong>da</strong>. Seu<br />

filho Cam "viu a nudez de seu pai, e con<strong>to</strong>u a seus dois irmãos que estavam fora."<br />

Os outros filhos de Noé, S<strong>em</strong> e Jafé, respei<strong>to</strong>samente cobriram o pai. Noé ao<br />

acor<strong>da</strong>r, "descobre o que o filho lhe fizera" e o amaldiçoa dizendo "Maldi<strong>to</strong> seja<br />

Cam; Servo dos servos será de seus irmãos" e acrescen<strong>to</strong>u, "Bendi<strong>to</strong> seja Jeová, o<br />

Deus de S<strong>em</strong>; E seja-lhes Canaã por servo. Dilate Deus a Jafé, E habite Jafé nas<br />

ten<strong>da</strong>s de S<strong>em</strong>; E seja-lhes Canaã por servo." Não é claro do rela<strong>to</strong>, o que Cam<br />

fizera ao pai, n<strong>em</strong> porque a maldição caiu sobre Canaã, seu filho.<br />

Alguns erudi<strong>to</strong>s bíblicos vê<strong>em</strong> a história <strong>da</strong> maldição como uma antiga justificativa para a conquista e<br />

escravização dos canaanitas.<br />

A maldição de Cam foi usa<strong>da</strong> por alguns m<strong>em</strong>bros de religiões abraâmicas para justificar o racismo e a<br />

escravidão de negros africanos, qu<strong>em</strong> acreditavam ser descendentes de Cam. Defensores <strong>da</strong> escravidão<br />

nos Estados Unidos invocaram consistent<strong>em</strong>ente este rela<strong>to</strong> <strong>da</strong> Bíblia ao longo do século 19 <strong>em</strong><br />

resposta ao crescimen<strong>to</strong> do movimen<strong>to</strong> abolicionista. No Brasil, a maldição de Cam serviu de<br />

justificativa para escravizar os índios, tendo missionário <strong>da</strong> Ord<strong>em</strong> de São Pedro João de Sousa Ferreira<br />

afirmado "Não há lei divina n<strong>em</strong> humana que proíba a possessão de escravos" e continuou "(e os índios<br />

brasileiros) são <strong>da</strong> descendência <strong>da</strong> maldição de Cam". O Portugueses igualmente consideravam os<br />

negros descendentes de Cam. A cor era o sinal <strong>da</strong> maldição e justificava a escravidão.<br />

DISPERSÃO DA HUMANIDADE PÓS-DILÚVIO<br />

Os capítulos 10 e 11 do livro do <strong>Gênesis</strong> relatam a dispersão do hom<strong>em</strong> pela terra após o dilúvio. O<br />

primeiro rela<strong>to</strong> t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> sobretudo na fonte sacerdotal e fornece uma genealogia para os três filhos<br />

de Noé, S<strong>em</strong>, Cam e Jafé. O segundo rela<strong>to</strong>, de orig<strong>em</strong> javista, conta essencialmente a mesma história<br />

através de uma alegoria com a construção e destruição de uma <strong>to</strong>rre.<br />

Ambos os rela<strong>to</strong>s part<strong>em</strong> de uma humani<strong>da</strong>de coesa e compartilhando a mesma língua e culminam com<br />

a sua disperção<br />

TÁBUA DAS NAÇÕES<br />

Os capítulos dez e onze traz<strong>em</strong> uma lista de descendentes dos filhos de Noé "segundo as suas famílias,<br />

segundo as suas línguas, nas suas terras, segundo as suas nações." Os descendentes de Nóe teriam <strong>da</strong>do<br />

orig<strong>em</strong> às nações do Antigo Oriente Médio. A divisão, no entan<strong>to</strong>, não respeita etnias ou línguas, mas<br />

limites geográficos e afini<strong>da</strong>de política. Esta tabela dividia o mundo <strong>em</strong> 70 nações (72 na versão <strong>da</strong><br />

septuaginta). A área coberta pela tabela se estende <strong>da</strong>s montanhas do Cáucaso ao norte até a Etiópia ao<br />

12


sul; do Mar Egeu ao oeste até as terras altas do Irã ao leste. A análise literária moderna descreve o tex<strong>to</strong><br />

como a junção de duas tradições com predominância <strong>da</strong> tradição sacerdotal sobre a javista. O tex<strong>to</strong> mais<br />

antigo, preocupa-se com tribos e clãs, enquan<strong>to</strong> o mais moderno dá ênfase ao concei<strong>to</strong> de nação.<br />

A lista de nações também t<strong>em</strong> o objetivo de mostrar a realização <strong>da</strong> promessa de Deus a Noé, ao<br />

mostrar seus descendentes multiplicando-se e povoando a terra.<br />

A TORRE DE BABEL7<br />

Os versículos de 1 a 9 do capítulo 11 do livro contam <strong>da</strong> história de um grupo de pessoas, que antes do<br />

surgimen<strong>to</strong>s <strong>da</strong>s diversas línguas, foram morar no oriente, na planície de Sinear, uma terminologia<br />

usa<strong>da</strong> na Bíblia Hebraica para se referir provavalmente à região <strong>da</strong> mesopotânia. A passag<strong>em</strong> explica o<br />

mé<strong>to</strong>do construtivo dos babilônicos, com tijolos e betume, ao invés <strong>da</strong> técnica palestina de construir<br />

com pedra e cal. A estrutura é normalmente associa<strong>da</strong> a um zigurate, antigos t<strong>em</strong>plos babilônicos,<br />

mui<strong>to</strong> <strong>em</strong>bora o tex<strong>to</strong> não faça qualquer associação religiosa à <strong>to</strong>rre.<br />

Jeová, então, desce "para ver a ci<strong>da</strong>de e a <strong>to</strong>rre, que os filhos dos homens edificavam" e vendo o que<br />

faziam, decidiu confundir-lhes as línguas para impedir que prossigam com sua <strong>em</strong>preita<strong>da</strong>, dizendo<br />

"Vinde, desçamos e confun<strong>da</strong>mos ali a sua linguag<strong>em</strong>, para que não enten<strong>da</strong>m a linguag<strong>em</strong> um do<br />

outro."<br />

Nesta passag<strong>em</strong>, a descrição antropomórfica de Jeová fica evidente quando ele "desce" e "vê" e mostrase<br />

t<strong>em</strong>eroso com o desenvolvimen<strong>to</strong> do povo. O tex<strong>to</strong> também apresenta alguns jogos de palavras<br />

"Babel", que significa confusão <strong>em</strong> hebraico e também com o uso de uma palavra que significa "lugar" e<br />

"nome" ao mesmo t<strong>em</strong>po no verso "façamo-nos um nome". As formas plurais <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s por Jeová<br />

"Vinde, desçamos e confun<strong>da</strong>mos ali a sua linguag<strong>em</strong>, para que não enten<strong>da</strong>m a linguag<strong>em</strong> um do<br />

outro." mais aparec<strong>em</strong> no rela<strong>to</strong> javista.<br />

Apesar do contex<strong>to</strong> babilônico <strong>da</strong> história, não se conhec<strong>em</strong> rela<strong>to</strong>s paralelos na mi<strong>to</strong>logia babilônica.<br />

Há, no entan<strong>to</strong>, uma história pareci<strong>da</strong> à <strong>da</strong> Torre de Babel na Mi<strong>to</strong>logia suméria chama<strong>da</strong> Enmerkar e o<br />

Senhor de Aratta, na qual Enmerkar de Uruk constrói um massivo zigurate <strong>em</strong> Eridu e os dois deuses<br />

rivais, Enki e Enlil acabam por confundir as línguas de <strong>to</strong><strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de como efei<strong>to</strong> colateral <strong>da</strong> sua<br />

discussão.<br />

O CICLO DE ABRAÃO<br />

A narrativa do chamado ciclo de Abraão se encontra entre os capítulos 11 de 25. Abraão é o décimo na<br />

genealogia a partir de Noé, assim como Noé é o décimo a partir de Adão. O nome original de Abrãao é<br />

Abrão, o qual é modificado devido à sua nova relação com Jeová, assim como o nome de sua esposa<br />

Sarai é modificado para Sara.<br />

A his<strong>to</strong>rici<strong>da</strong>de de Abraão foi obje<strong>to</strong> de mui<strong>to</strong> estudo por his<strong>to</strong>riadores e arqueólogos. Apesar de não<br />

haver rela<strong>to</strong>s extra-bíblico de uma personag<strong>em</strong> como a de Abraão, entende-se que seu modo de viver<br />

era compatível com o de um habitante do Oriente Médio do segundo milênio a. C. Parece existir também<br />

coincidência entre seu estilo de vi<strong>da</strong> e os nomes citados <strong>em</strong> sua história com as migrações dos amoritas.<br />

7 1. Babel, capital do Império babilônico, era uma ci<strong>da</strong>de-estado extr<strong>em</strong>amente rica e poderosa. Era um centro<br />

político, militar, cultural e econômico do mundo antigo. 2. A forma grega do nome, Babilônia, é do Acadiano Bābilu,<br />

que significa "Portão de Deus".<br />

13


O pai de Abraão, no entan<strong>to</strong>, teria nascido <strong>em</strong> Ur dos Caldeus, mas tal denominação não poderia se<br />

aplicar antes do século 11 a.C. Acadêmicos têm observado uma série de outros anacronismos no tex<strong>to</strong>,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, nos capítulos 20 e 26, o rei de Gerar é citado como governante dos Filistina, enquan<strong>to</strong> os<br />

filisteus apenas ocuparam a costa de Canaã no século XII a C.<br />

O CHAMADO DE ABRÃO<br />

Parti<strong>da</strong> de Abraão por József Molnár<br />

Abrão é casado com Sarai, uma mulher estéril e, juntamente com sua<br />

esposa, seu pai e seu sobrinho, Ló, viaja para Herã onde fixa residência.<br />

Cer<strong>to</strong> diz Abrão recebe um chamado de Jeová, que lhe diz "Sai-te <strong>da</strong> tua<br />

terra, <strong>da</strong> tua parentela e <strong>da</strong> casa de teu pai para a terra que te mostrarei;<br />

farei de ti uma grande nação, e te abençoarei e engrandecerei o teu nome.<br />

Sê tu uma bênção, abençoarei os que te abençoar<strong>em</strong>, e amaldiçoarei aquele<br />

que te amaldiçoar; por meio de ti serão benditas <strong>to</strong><strong>da</strong>s as famílias <strong>da</strong><br />

terra."O chamado de Abraão inaugura três t<strong>em</strong>as que se <strong>to</strong>rnam<br />

dominantes ao longo do rela<strong>to</strong> <strong>da</strong> Bíblia Hebraica, migração para Canaã, a promessa <strong>da</strong> extensa<br />

descendência e a promessa de <strong>to</strong>rnar a Terra prometi<strong>da</strong> uma grande nação. A promessa é domina<strong>da</strong><br />

pela palavra "bênção", que aparece cinco vezes. O au<strong>to</strong>r do tex<strong>to</strong> estabelece um constraste entre a<br />

promessa à Abrão e o episódio <strong>da</strong> Torre de Babel. Ao contrário dos babilônicos que desejam construir<br />

por seu próprio esforço seu nome e são dispersados por Jeová, a terra, o nome e a fama de Abrão advêm<br />

<strong>da</strong> bênção divina.<br />

O narrador javista não informa qual foi a reação de Abrão, tampouco seus motivos para obedecer ao<br />

chamado. Abrão apenas obedece.<br />

A PARTIDA PARA O EGITO<br />

Sarai é conduzi<strong>da</strong> ao palácio do faraó por James Tissot.<br />

A primeira para<strong>da</strong> de Abrão foi Siquém , onde, próximo ao carvalho de<br />

Moré, Jeová apareceu-lhe e prometeu-lhe que aquela terra seria de sua<br />

descendência. Abrão construiu um altar para Jeová.<br />

O tex<strong>to</strong> do <strong>Gênesis</strong> retrata tan<strong>to</strong> Abrão como seu filho Isaac construindo<br />

altares <strong>em</strong> antigas ci<strong>da</strong>des de cul<strong>to</strong> israelitas. Assim como esta promessa<br />

aconteceu nas proximi<strong>da</strong>des do carvalho de Moré, diversículos<br />

acontecimen<strong>to</strong>s importantes <strong>da</strong> Bíblia Hebraica acontec<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>to</strong>rno de<br />

árvores sagra<strong>da</strong>s, que eram considera<strong>da</strong>s lugares apropriados para a comunicação com os deuses. Na<br />

religião Canaanita, as árvores sagra<strong>da</strong>s era especialmente associa<strong>da</strong>s à deusa Aserá, uma deusa que foi<br />

adora<strong>da</strong> <strong>em</strong> Israel talvez como cosorte de Jeová até o período <strong>da</strong> monarquia.<br />

A medi<strong>da</strong> que Abrão segue sua viag<strong>em</strong> <strong>em</strong> direção a Neguebe, ele passa por Betel e Ai, ci<strong>da</strong>des onde<br />

igualmente constrói altares para Jeová e invoca seu nome. Devido à escassez de alimen<strong>to</strong>s na região,<br />

Abrão desvia seu caminho para o Egi<strong>to</strong>. Não era incomum que povos s<strong>em</strong>itas pediss<strong>em</strong> aju<strong>da</strong> ao Egi<strong>to</strong><br />

14


<strong>em</strong> períodos de fome, no entan<strong>to</strong>, é de difícil compreensão o desvio de Abrão frente à promessa divina<br />

de bonança. Igualmente surpreendente é o t<strong>em</strong>or de Abrão, preocupado com sua segurança pessoal faz<br />

que sua esposa se passe por sua irmã pois sendo Sarai mui<strong>to</strong> bonita, chamaria a atenção do Faraó que<br />

man<strong>da</strong>ria matar Abrão para ficar com Sarai.<br />

Assim como previs<strong>to</strong> por Abrão, a beleza de Sarai chama atenção dos príncipes do Egi<strong>to</strong>, que a<br />

conduz<strong>em</strong> e a exib<strong>em</strong> diante do faraó. O faraó <strong>to</strong>ma Sarai como sua mulher e presenteia Abrão com<br />

"ovelhas, bois, jumen<strong>to</strong>s, servos, servas, jumentas e camelos". Em função dis<strong>to</strong>, Jeová man<strong>da</strong> uma praga<br />

ao faraó, <strong>em</strong>bora deixe Abrão impune. O tex<strong>to</strong> não explica como o faraó associa a praga envia<strong>da</strong> a Sarai<br />

e n<strong>em</strong> como ele descobriu que ela era esposa de Abrão, não obstante Abrão é chamado à frente do faraó,<br />

confessa a mentira e é expulso do Egi<strong>to</strong> jun<strong>to</strong> com Sarai e seus pertences.<br />

A falta de fé de Abrão <strong>em</strong> Jeová apresenta notável valor teológico dentro <strong>da</strong> trama por introduzir o<br />

desenvolvimen<strong>to</strong> <strong>em</strong> Abrão <strong>da</strong> fé e <strong>da</strong> confiança <strong>em</strong> Jeová. O desvio <strong>da</strong> viag<strong>em</strong> para o Egi<strong>to</strong> serve<br />

igualmente como uma antecipação do confli<strong>to</strong> entre hebreus e egípcios descrita no livro do Êxodo.<br />

Essencialmente a mesma história com algumas variações nos personagens e incidentes é encontra<strong>da</strong><br />

novamente duas vezes no livro (20,1-8 e 26,6-11), porém com uma acepção moral bastante distinta.<br />

Enquan<strong>to</strong> o narrador do capítulo doze parece se divertir com a esperteza de Abrão e não se preocupa<br />

<strong>em</strong> desculpá-lo, os rela<strong>to</strong>s posteriores mostram sensibili<strong>da</strong>de b<strong>em</strong> maior com questões morais. Abrão<br />

não mais mente, ao afirmar que Sarai é sua meia-irmã e a intervenção divina v<strong>em</strong> antes de a honra de<br />

Sarai ser comprometi<strong>da</strong>.<br />

A SEPARAÇÃO DE ABRÃO E LÓ<br />

Abrão e Ló divid<strong>em</strong> a terra por Charles Foster.<br />

O capítulo treze conta a história <strong>da</strong> separação entre Abrão e seu sobrinho Ló.<br />

Suas riquezas se multiplicaram e o tamanho de seus rebanhos faz que seus<br />

servos brigu<strong>em</strong> por falta de terra. Abrão entende que não é apropriado que<br />

homens <strong>da</strong> mesma família disput<strong>em</strong> por espaço e decide que dev<strong>em</strong> se separar,<br />

man<strong>da</strong> que Ló escolha seu caminho e parte na direção oposta. Abrão se instala<br />

<strong>em</strong> Canaã e Ló, <strong>em</strong> Sodoma, uma ci<strong>da</strong>de habita<strong>da</strong> por homens que "eram maus e<br />

grandes pecadores contra Jeová".<br />

Os versículos de 14 a 17, que são estimados ter sido posteriormente<br />

interpolados, ratificam a promessa de Jeová, 14. Disse Jeová a Abrão, depois que Ló se separou dele,<br />

Levanta agora os olhos, desde o lugar onde estás olha para o Norte, para o Sul, para o Oriente e para o<br />

Ocidente; 15.porque <strong>to</strong><strong>da</strong> essa terra que vês, te hei de <strong>da</strong>r a ti e à tua s<strong>em</strong>ente para s<strong>em</strong>pre. 16. Farei a<br />

tua s<strong>em</strong>ente como o pó <strong>da</strong> terra; de maneira que se alguém poder contar o pó <strong>da</strong> terra, então também<br />

poderá ser conta<strong>da</strong> a tua s<strong>em</strong>ente. 17. Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimen<strong>to</strong> e na sua<br />

largura, porque a hei de <strong>da</strong>r a ti." ( Tradução Brasileira <strong>da</strong> Bíblia/<strong>Gênesis</strong>/XIII). Ao final, Abrão deslocase<br />

para per<strong>to</strong> dos terebin<strong>to</strong>s de Manre e edifica um altar a Jeová.<br />

15


ABRÃO E MELQUISEDEQUE8<br />

O Encontro de Abraão e Melquisedeque de Dieric Bouts O Velho, 1464–1467<br />

O capítulo 14 é consensualmente acei<strong>to</strong> como um dos mais complicados do livro <strong>da</strong><br />

<strong>Gênesis</strong>, tendo diversas características literárias únicas que o destacam do restante<br />

do tex<strong>to</strong>. Abrão é transformado <strong>em</strong> heroi militar <strong>em</strong> um episódio que interrompe o<br />

fluxo <strong>da</strong> narrativa entre os capítulos treze e quinze. O caráter de Abrão neste<br />

episódio difere profun<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> descrição <strong>em</strong> outros capítulos e a <strong>to</strong>tal ausência<br />

<strong>da</strong> interverência divina é aspec<strong>to</strong> único entre as narrativas patriarcais.<br />

A his<strong>to</strong>rici<strong>da</strong>de do contex<strong>to</strong> <strong>em</strong> que o episódio rico <strong>em</strong> detalhes está inserido é alvo de ampla discussão.<br />

A maioria dos erudi<strong>to</strong>s bíblicos consideram o episódio como a interpolação tardia de uma narrativa<br />

composta a partir de tradições orais.<br />

Na história, uma coalizão militar declara guerra "contra Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de<br />

Gomorra, contra Sinabe, rei de Admá, contra S<strong>em</strong>eber, rei de Zeboim e contra o rei de Belá" e, após<br />

derrotar<strong>em</strong> Sodoma e Gomorra9, levam como espólio os bens e a população, que incluía Ló. Abrão ao<br />

ser avisado do sequestro de seu sobrinho, monta uma companhia com seus 318 homens mais b<strong>em</strong><br />

disciplinados e resgata os bens <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des e liberta os capturados.<br />

O rei de Sodoma vai ao encontro de Abrão e Melquisedeque, rei de Salém, que também era sacerdote do<br />

Deus Altíssimo (El Elyon) leva pão e vinho. Melquisedeque abençoa Abrão <strong>em</strong> nome do "Deus Altíssimo,<br />

criador do céu e <strong>da</strong> terra." Abrão lhe paga o dízimo de tudo que obtivera. O rei de Sodoma pede seu<br />

povo de volta e oferece que Abrão conserve o espólio para si. Abrão recusa ficar com os bens de<br />

Sodoma.<br />

Quando Melquisedeque abençoa Abrão, ele responde, segundo o tex<strong>to</strong> massorético, levantando a mão<br />

para "Jeová, Deus Altíssimo, Criador do céu e <strong>da</strong> terra". A associação feita entre Jeová e o o Deus<br />

altíssimo presente apenas no tex<strong>to</strong> massorético não aparece <strong>em</strong> nenhuma outra fonte ou test<strong>em</strong>unha<br />

antiga do tex<strong>to</strong>, seja na versão <strong>da</strong> Septuaginta, seja nos tex<strong>to</strong>s pertencentes aos Manuscri<strong>to</strong>s do Mar<br />

Mor<strong>to</strong>. O epíte<strong>to</strong> "criador dos céus e <strong>da</strong> terra" associado ao rela<strong>to</strong> sacerdotal parece só ter sido<br />

transferido a Jeová pela teologia de Jerusal<strong>em</strong> como uma influência babilônica.<br />

8 Melquisedeque foi o rei <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Salém (que significa "paz"), a qual se acredita ter sido a ci<strong>da</strong>de<br />

posteriormente conheci<strong>da</strong> por Jerusalém. Ao nome Melquisedeque pode ain<strong>da</strong> ser atribuído o significado "Rei de<br />

Justiça" <strong>em</strong> função de ser uma possível junção de mais de uma palavra do idioma hebraico.<br />

9 Sodoma e Gomorra (do hebraico Sodom e Amorah ) são, de acordo com a Bíblia ju<strong>da</strong>ico-cristã, duas<br />

ci<strong>da</strong>des que teriam sido destruí<strong>da</strong>s por Deus com fogo e enxofre descido do céu. Segundo o rela<strong>to</strong> bíblico, as ci<strong>da</strong>des e<br />

os seus habitantes foram destruídos por Deus devido a prática de ac<strong>to</strong>s imorais. Os seus habitantes eram os cananeus.A<br />

expressão "Sodoma e Gomorra" se aplica, por extensão, às cinco ci<strong>da</strong>des-estado do Vale de Sidim, no Mar Salgado ou<br />

Mar Mor<strong>to</strong>. Eram elas: Sodoma, Gomorra, Admá, Zebolim e Bela (também é chama<strong>da</strong> de Zoar).<br />

16


ALIANÇA DE ABRÃO10<br />

O capítulo quinze também apresenta algumas dificul<strong>da</strong>des de compreensão. Do pon<strong>to</strong> de vista <strong>da</strong><br />

análise documental, <strong>em</strong>bora sua orig<strong>em</strong> seja consensualmente aceita como javista, alguns acreditam<br />

que pode ter havia algumas inserções eloístas. Além disso, acredita-se que a narrativa tenha sido<br />

composta a partir de pelo menos duas tradições distintas.<br />

O capítulo começa Abrão tendo uma visão de Jeová, dizendo "Não t<strong>em</strong>as, Abrão; eu sou teu escudo, a tua<br />

recompensa será infinitamente grande". A palavra recompensa normalmente se refere a riqueza na<br />

Bíblia Hebraica, mas o tex<strong>to</strong> não especifica qual será essa recompensa. Abrão queixa-se de não ter tido<br />

filhos e de deixar sua herança a "Eliezer de Damasco", um escravo. Jeová então lhe diz que Eliezer não<br />

seria seu herdeiro, mas um filho próprio. Jeová faz Abrão sair para olhar as estrelas e diz sua<br />

descendência seria tão numerosa quan<strong>to</strong> elas e "Abrão creu <strong>em</strong> Jeová".<br />

O verso 7 começa com uma nova introdução de Jeová e uma nova promessa. A promessa agora é de<br />

terra e a aliança entre Abrão e Jeová se faz através de um ritual, que envolve uma novilha de três anos,<br />

uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho. Abrão partiu os três<br />

primeiro animais ao meio. Este antigo ritual é mencionado no Livro de Jer<strong>em</strong>ias 34,18 e era uma forma<br />

comum de firmar acordos no Antigo Oriente Médio, acreditava-se que aquele que não cumprisse sua<br />

parte teria o mesmo destino dos animais mor<strong>to</strong>s. Esta passag<strong>em</strong> coloca Abrão e Jeová <strong>em</strong> uma relação<br />

recíproca <strong>em</strong> que ambos assum<strong>em</strong> riscos e ambos assum<strong>em</strong> comprometimen<strong>to</strong>s.<br />

Os versículos de 12 a 16 interromp<strong>em</strong> a narrativa contando que Abrão cai <strong>em</strong> um profundo sono e<br />

recebe a revelação divina de que seus descendentes seriam escravos durante 400 anos, que Jeová<br />

julgaria a nação que os escravizasse que levariam grandes riquezas de seus senhores. Abrão teria uma<br />

velhice tranquila e que os amoritas ain<strong>da</strong> não seriam julgados.<br />

Os versículos seguintes descrev<strong>em</strong> uma nova aliança entre Jeová e Abrão com uma descrição <strong>da</strong><br />

extensão <strong>da</strong> Terra Prometi<strong>da</strong>, conforme os limites do reino de David.<br />

A HISTÓRIA DO POVO ESCOLHIDO (PATRIARCAS)<br />

A vi<strong>da</strong> de Abraão<br />

Sacrifício de Isaque.<br />

Abraão recebeu instrução para deixar sua terra, peregrinar <strong>em</strong> Canaã,<br />

esperar por um filho durante anos, e então queimá-lo <strong>em</strong> sacrifício.<br />

Durante este período de provações dolorosas, Abraão permaneceu fiel a<br />

Deus.<br />

Seu chamado divino, cap. 12. Deus promete uma nação a Abrão.<br />

A história de Abraão e Ló, caps. 13 e 14.<br />

As revelações divinas e as promessas a Abraão, particularmente a promessa de um filho, <strong>da</strong> posse <strong>da</strong><br />

Terra Santa, e de uma grande posteri<strong>da</strong>de, caps. 15, 16 e 17.<br />

10 Abraão (<strong>em</strong> hebraico: םהרב , Avraham ou ’Abhrāhām) é um personag<strong>em</strong> bíblico citado no Livro do <strong>Gênesis</strong> a<br />

partir do qual se desenvolveram três <strong>da</strong>s maiores vertentes religiosas <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de: o ju<strong>da</strong>ísmo, o cristianismo<br />

e o islamismo.<br />

17


Sua intercessão <strong>em</strong> favor <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> planície, e a destruição delas (Sodoma e Gomorra), caps. 18 e<br />

19.<br />

Sua vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> Gerar, e o cumprimen<strong>to</strong> <strong>da</strong> promessa de um filho no nascimen<strong>to</strong> de Isaque, caps. 20 e 21.<br />

A prova <strong>da</strong> sua obediência por ocasião <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> divina de sacrificar Isaque, cap. 22.<br />

Sua morte.<br />

A VIDA DE ISAQUE<br />

Seu casamen<strong>to</strong>, cap. 24.<br />

Isaque <strong>da</strong>ndo a bênção para Jacó.<br />

Isaque11 não reclamou. Ele não resistiu quando estava prestes a ser<br />

sacrificado, e prontamente acei<strong>to</strong>u a esposa que outros escolheram para ele.<br />

Seu nascimen<strong>to</strong>, 21,3.<br />

O nascimen<strong>to</strong> de seus filhos Jacó e Esaú, 25, 20-26.<br />

Isaque e Abimeleque.<br />

Jacó <strong>to</strong>ma a bênção de Isaque, no lugar de Esaú.<br />

Seus últimos anos, caps. 26 e 27.<br />

A VIDA DE JACÓ<br />

Jacó12 não desistia facilmente. Serviu com fideli<strong>da</strong>de a Labão por mais de 14 anos. Mais tarde, lu<strong>to</strong>u<br />

com Deus. Embora Jacó tenha cometido mui<strong>to</strong>s erros, seu trabalho intenso nos ensina a como viver uma<br />

vi<strong>da</strong> a serviço de Deus.<br />

Sua astúcia para adquirir o direi<strong>to</strong> de primogenitura 27,1-29<br />

Sua visão <strong>da</strong> esca<strong>da</strong> celestial, 28, 10-22<br />

11 Isaac, Isaque ou Yitzhak (do hebraico קחצי, literalmente "ele vai rir") é um personag<strong>em</strong> <strong>da</strong> Bíblia Hebraica, era filho de<br />

Abraão com sua esposa Sara. Após seu nascimen<strong>to</strong>, seu irmão bastardo Ismael foi enviado ao sul e a história do povo<br />

judeu segue então a linguag<strong>em</strong> do filho legítimo de Abraão.Quando ain<strong>da</strong> pequeno, Isaac foi instrumen<strong>to</strong> <strong>da</strong> maior<br />

prova de fé de Abraão, quando Deus ordenou que ele levasse Isaac ao al<strong>to</strong> de uma colina para sacrificá-lo. Ao ver que<br />

Abraão, resignado e com uma faca pronta para degolar o seu filho, Deus enviou um anjo a segurar sua mão, impedindo<br />

de matá-lo.<br />

12 Jacó ou Jacob (<strong>em</strong> hebraico: בקע , transl. Yaʿaqov, <strong>em</strong> árabe: بوق ع ي, transl. Yaʿqūb; no tex<strong>to</strong> grego <strong>da</strong><br />

Septuaginta: Ἰακώβ; traduzido como "aquele que segura pelo calcanhar"), também conhecido como Israel (<strong>em</strong><br />

hebraico: ר , transl. Yisraʾel; <strong>em</strong> árabe: لي ئارس ا, transl. Isrāʾīl; no grego <strong>da</strong> Septuaginta: Ἰσραήλ; traduzido<br />

como "aquele que luta com Deus"), foi o terceiro patriarca <strong>da</strong> bíblia. Jacó era filho de Isaac e Rebeca, irmão gêmeo<br />

de Esaú e ne<strong>to</strong> de Abraão. Sua história ocupa vinte e cinco capítulos do livro de <strong>Gênesis</strong><br />

18


Os incidentes relacionados ao seu matrimônio e sua vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> Padã-Arã, caps. 29, 30 e 31<br />

Jacó constitui uma família, seus doze filhos são os antepassados <strong>da</strong>s doze tribos de Israel.<br />

Jacó volta para casa.<br />

A VIDA DE ESAÚ<br />

Esaú13 perde a bênção, de Isaque, para o seu irmão Jacó.<br />

A VIDA DE JOSÉ<br />

José vendido como escravo por seus irmãos.<br />

José é atirado na prisão.<br />

José interpreta os sonhos de Faraó.<br />

José foi vendido como escravo por seus irmãos e atirado injustamente na<br />

prisão por seu senhor. Aprend<strong>em</strong>os com José que o sofrimen<strong>to</strong>, não<br />

importa quão injus<strong>to</strong> seja, pode desenvolver um firme caráter <strong>em</strong> nós.<br />

A vi<strong>da</strong> de José, os últimos dias de Jacó, e a desci<strong>da</strong> ao Egi<strong>to</strong> <strong>da</strong> família<br />

escolhi<strong>da</strong>, caps. 37-50<br />

José é vendido como escravo.<br />

Judá e Tamar<br />

José é chamado para administrar o Egi<strong>to</strong>.<br />

José faz o Egi<strong>to</strong> prosperar e resistir à fome.<br />

José14 e seus irmãos se encontram no Egi<strong>to</strong>.<br />

13 Esaú, personag<strong>em</strong> do Antigo Testamen<strong>to</strong>, era filho de Isaac e Rebeca e irmão gêmeo de Jacó, com qu<strong>em</strong> se zangou<br />

por este lhe ter usurpado a primogenitura. Esaú <strong>em</strong> hebraico, (peludo), foi também chamado de Edom <strong>em</strong> hebraico<br />

ם א (vermelho), o pai dos Edomitas que habitaram um região que hoje é conheci<strong>da</strong> por Aqaba. Esaú nasceu ruivo e<br />

peludo. Esaú era um peri<strong>to</strong> caçador e amado do seu pai, enquan<strong>to</strong> Jacó habitava <strong>em</strong> ten<strong>da</strong>s e era amado por sua mãe.<br />

Esaú vendeu a Jacó seu direi<strong>to</strong> a primogenitura por um pra<strong>to</strong> de lentilhas<br />

14 José ou José do Egi<strong>to</strong> (<strong>em</strong> hebraico , significando "Yahweh acrescenta"; Yôsēp <strong>em</strong> hebraico tiberiano; mais<br />

tarde designado como תנפצ עפחנ, Tzáfnat panéach ou Ẓáfənat paʿnéaḥ, <strong>em</strong> hebraico padrão ou Ṣāp ənaṯ paʿănēªḥ<br />

<strong>em</strong> hebraico tiberiano, do egípcio que significaria "Descobridor <strong>da</strong>s coisas ocultas") foi o décimo primeiro filho de<br />

Jacó, nascido de Raquel, citado no livro do Génesis, no Antigo Testamen<strong>to</strong>, considerado o fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> Tribo de<br />

José, constituí<strong>da</strong>, por sua vez, <strong>da</strong> Tribo de Efraim e <strong>da</strong> Tribo de Manassés (seus filhos). Quando foi coroado como<br />

19


A família de Jacó mu<strong>da</strong>-se para o Egi<strong>to</strong>.<br />

Jacó e José morr<strong>em</strong> no Egi<strong>to</strong>.<br />

Linha do t<strong>em</strong>po<br />

Criação<br />

Adão e Eva<br />

Noé<br />

Nascimen<strong>to</strong> de Abraão 2166 a. C (2000 a. C)<br />

Abraão entra <strong>em</strong> Canaã 2091 a. C (1925 a. C)<br />

Nascimen<strong>to</strong> de Isaque 2066 a. C (1900 a. C)<br />

Nascimen<strong>to</strong> de Jacó e Esaú 2006 a. C (1840 a. C)<br />

Jacó Foge para Harã 1929 a. C (1764 a. C)<br />

Nascimen<strong>to</strong> de José 1915 a. C (1750 a. C)<br />

José é vendido como escravo 1898 a. C (1733 a. C)<br />

José governa o Egi<strong>to</strong> 1885 a. C (1720 a. C)<br />

Morte de José 1805 a. C (1640 a. C)<br />

ESTUDOS E DISCUSSÕES<br />

As discussões sobre a orig<strong>em</strong> e a au<strong>to</strong>ria dos tex<strong>to</strong>s bíblicos depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> aceitação <strong>da</strong> pr<strong>em</strong>issa de que<br />

eles não foram ditados por Deus aos escri<strong>to</strong>res e que os rela<strong>to</strong>s não são literais, e sim interpretações <strong>da</strong><br />

história do povo de Israel. Partindo desse princípio, é difícil tratar do conteúdo de <strong>Gênesis</strong> como um<br />

tex<strong>to</strong> escri<strong>to</strong> por uma única pessoa num cur<strong>to</strong> período de t<strong>em</strong>po.<br />

VISÃO RELIGIOSA TRADICIONAL<br />

A visão tradicional acreditava que o livro de <strong>Gênesis</strong> tivesse sido escri<strong>to</strong> por Moisés (<strong>em</strong>bora ele viesse<br />

a morrer antes do final do Pentateuco), ou por cronistas próximos a ele. Porém, as informações nele<br />

conti<strong>da</strong>s pod<strong>em</strong> ter sido transmiti<strong>da</strong>s a Moisés pela tradição oral. A longevi<strong>da</strong>de atribuí<strong>da</strong> aos homens<br />

<strong>da</strong>quele período explicaria o fa<strong>to</strong> de que as informações teriam sido transmiti<strong>da</strong>s por Adão a Moisés<br />

através de apenas cinco elos humanos, Matusalém, S<strong>em</strong>, Isaque, Levi e Anrão.<br />

Outra possibili<strong>da</strong>de é de que Moisés tenha obtido grande parte <strong>da</strong>s informações relativas o <strong>Gênesis</strong><br />

através de tex<strong>to</strong>s ou documen<strong>to</strong>s já existentes. Já no século XVIII, o erudi<strong>to</strong> holandês Campegius<br />

Vitringa sustentava essa teoria baseando sua conclusão nas freqüentes ocorrências, <strong>em</strong> <strong>Gênesis</strong> (10<br />

um hom<strong>em</strong> de confiança ao Faraó, foi-lhe concedi<strong>da</strong> a mão de Azenate, filha de Potífera, Sacerdote de Om. (<strong>Gênesis</strong><br />

41. 45).<br />

20


vezes), <strong>da</strong> expressão (<strong>em</strong> KJ; Tr) "essas são as gerações de", e uma vez "esse é o livro <strong>da</strong>s gerações de".<br />

Nessa expressão, a palavra hebraica para "gerações" é <strong>to</strong>h•le•dhóhth, mais b<strong>em</strong> traduzi<strong>da</strong> por<br />

"histórias" ou "origens". Por ex<strong>em</strong>plo, "gerações dos céus e <strong>da</strong> terra" dificilmente se enquadraria aqui,<br />

enquan<strong>to</strong> que "histórias dos céus e <strong>da</strong> terra" faz sentido. (Gên 2,4) Em harmonia com isso, a Bíblia<br />

al<strong>em</strong>ã Elberfelder, a francesa Crampon e a espanhola Bover-Cantera são versões que usam o termo<br />

"histórias", assim como faz a Tradução Novo Mundo.<br />

VISÃO ACADÊMICA<br />

Entretan<strong>to</strong>, para a crítica bíblica, há evidências no tex<strong>to</strong> que d<strong>em</strong>onstram que as tradições de <strong>Gênesis</strong>,<br />

especialmente entre o final <strong>da</strong> narrativa do Dilúvio e a história de José, pod<strong>em</strong> ter sido compila<strong>da</strong>s<br />

durante o período de dominação babilônica, entre os séculos VII e VI a. C.<br />

É postulado que Abraão tenha nascido na ci<strong>da</strong>de de "Ur dos caldeus", termo repetido algumas vezes. No<br />

entan<strong>to</strong>, os caldeus só surgiram na região de Ur, a leste <strong>da</strong> Mesopotâmia, por volta do século IX a. C, pelo<br />

menos 1000 anos depois do t<strong>em</strong>po supos<strong>to</strong> para a história de Abraão. A própria diferença nos estilos<br />

literários e as histórias aparent<strong>em</strong>ente desconexas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de Abraão pod<strong>em</strong> ser um indicativo de que<br />

tais histórias tenham sido compila<strong>da</strong>s <strong>em</strong> diferentes momen<strong>to</strong>s, ou por diferentes au<strong>to</strong>res, a partir de<br />

uma tradição oral transmiti<strong>da</strong> ao longo de muitas gerações.<br />

Alguns estudiosos acreditam que as histórias de Isaque, que <strong>em</strong> vários momen<strong>to</strong>s são s<strong>em</strong>elhantes às de<br />

Abraão, sejam um recurso estilístico observado <strong>em</strong> outros pon<strong>to</strong>s do rela<strong>to</strong> bíblico (a recorrência <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de de Belém relaciona<strong>da</strong> aos nascimen<strong>to</strong>s de Davi e Jesus para ressaltar o parentesco entre este e<br />

aquele, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong>bora Jesus nunca fosse referido como belenense ou bel<strong>em</strong>ita, mas como<br />

nazareno, pois morava <strong>em</strong> Nazaré), para realçar a ligação entre os dois personagens através de seus<br />

a<strong>to</strong>s, fortalecendo a ligação entre Israel, filho de Isaque, e o patriarca Abraão.<br />

A narrativa <strong>da</strong> história de José, que visa explicar a orig<strong>em</strong> <strong>da</strong>s 12 Tribos de Israel, pode ter sido<br />

compila<strong>da</strong> por cronistas de Israel no período <strong>em</strong> que os reinos de Israel e Judá estiveram divididos,<br />

durante o primeiro milênio antes de Cris<strong>to</strong>, pois <strong>to</strong><strong>da</strong> a narrativa realça a importância e a nobreza de<br />

José (pai <strong>da</strong>s meias-tribos de Efraim e Manassés, as tribos dominantes do Reino do Norte), <strong>em</strong><br />

contraparti<strong>da</strong> com a indiferença e a inveja de Judá (a tribo predominante do Reino do Sul), refletindo o<br />

rancor <strong>da</strong>s tribos de José e <strong>da</strong> tribo de Judá naquele período. Ao final <strong>da</strong> narrativa, quando Jacó chega ao<br />

Egi<strong>to</strong> e abençoa seus filhos, é prometido à tribo de Judá que ela reinaria sobre <strong>to</strong><strong>da</strong>s as outras, o que<br />

contradiz a finali<strong>da</strong>de do restante <strong>da</strong> narrativa.<br />

ADÃO E EVA COMO PARÁBOLA<br />

Alguns teólogos têm procurado conciliar à história de Adão e Eva com a Teoria <strong>da</strong> Evolução.<br />

Teilhard de Chardin foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que logrou construir<br />

uma visão integradora entre ciência e teologia. Através de suas obras, legou-nos uma filosofia que<br />

reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagra<strong>da</strong>s do divino e sua teologia. Dispos<strong>to</strong> a<br />

desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal vis<strong>to</strong> pelos representantes de<br />

ambas. Mui<strong>to</strong>s colegas cientistas negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de vir carrega<strong>da</strong> de<br />

um misticismo e de uma linguag<strong>em</strong> estranha à ciência. Do lado <strong>da</strong> Igreja Católica, por sua vez, foi<br />

proibido de lecionar, de publicar suas obras teológicas e submetido a um quase exílio na China.<br />

"Aparent<strong>em</strong>ente, a Terra Moderna nasceu de um movimen<strong>to</strong> anti-religioso. O Hom<strong>em</strong> bastando-se a si<br />

21


mesmo. A Razão substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar<br />

de confli<strong>to</strong> entre Fé e Ciência. A tal pon<strong>to</strong> que pôde parecer, a certa altura, que esta era decidi<strong>da</strong>mente<br />

chama<strong>da</strong> a <strong>to</strong>mar o lugar <strong>da</strong>quela. Ora, à medi<strong>da</strong> que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma<br />

forma mui<strong>to</strong> diferente de equilíbrio – não eliminação, n<strong>em</strong> duali<strong>da</strong>de, mas síntese – que parece haver de<br />

se resolver o confli<strong>to</strong>."<br />

O Padre Ariel Álvarez Valdez sustenta que se trata de uma parábola composta por um catequista<br />

hebreu, a qu<strong>em</strong> os estudiosos chamam de “yahvista”, escrita no século X AC, que não pretendia <strong>da</strong>r uma<br />

explicação científica sobre a orig<strong>em</strong> do hom<strong>em</strong>, mas sim fornecer uma interpretação religiosa, e elegeu<br />

esta narração na qual ca<strong>da</strong> um dos detalhes t<strong>em</strong> uma mensag<strong>em</strong> religiosa, segundo a mentali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>quela época<br />

John F. Haught, filósofo americano criador do concei<strong>to</strong> de Teologia evolucionista, diz que "o retra<strong>to</strong> <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> propos<strong>to</strong> por Darwin constitui um convite para que ampli<strong>em</strong>os e aprofund<strong>em</strong>os nossa percepção<br />

do divino. A compreensão de Deus que mui<strong>to</strong>s e muitas de nós adquirimos <strong>em</strong> nossa formação religiosa<br />

inicial não é grande o suficiente para incorporar a biologia e a cosmologia evolucionistas<br />

cont<strong>em</strong>porâneas. Além disso, o benigno designer [projetista] divino <strong>da</strong> teologia natural tradicional não<br />

leva <strong>em</strong> consideração, como o próprio Darwin observou, os acidentes, a alea<strong>to</strong>rie<strong>da</strong>de e o patente<br />

desperdício presentes no processo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”, e que “Uma teologia <strong>da</strong> evolução, por outro lado, percebe<br />

<strong>to</strong><strong>da</strong>s as características perturbadoras conti<strong>da</strong>s na explicação evolucionista <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”, sobre as idéias de<br />

Richard Dawkins, Haught declara que, “A crítica <strong>da</strong> crença teísta feita por Dawkins se equipara, pon<strong>to</strong><br />

por pon<strong>to</strong>, ao fun<strong>da</strong>mentalismo que ele está tentando eliminar”.<br />

Ilia Delio, teóloga americana, sustenta que a teologia pode “tirar provei<strong>to</strong>” <strong>da</strong>s aquisições de uma<br />

ciência que vê na “mutação” o núcleo essencial <strong>da</strong> matéria.<br />

O Rabino Nil<strong>to</strong>n Bonder sustenta que, "a Bíblia não t<strong>em</strong> pretensões de ser um manual eterno <strong>da</strong> ciência,<br />

e sim <strong>da</strong> consciência. Sua grande revelação não é como funciona o Universo e a reali<strong>da</strong>de, mas como se<br />

dá a interação entre criatura e Criador".<br />

COMO E QUANDO O LIVRO TORNOU-SE CANÔNICO<br />

Desde o começo, os primeiros cinco livros que compõ<strong>em</strong> o Cânon como parte <strong>da</strong>s Escrituras Hebraicas,<br />

foram acei<strong>to</strong>s pelos judeus como documen<strong>to</strong>s autênticos. Assim, no t<strong>em</strong>po de Davi, os even<strong>to</strong>s<br />

registrados de <strong>Gênesis</strong> a I Samuel eram plenamente acei<strong>to</strong>s como a ver<strong>da</strong>deira história <strong>da</strong> nação e dos<br />

pac<strong>to</strong>s entre Deus e o povo elei<strong>to</strong>.<br />

No entan<strong>to</strong>, adversários <strong>da</strong>s Escrituras Hebraicas têm atacado fort<strong>em</strong>ente o Pentateuco, <strong>em</strong> particular<br />

no que tange à sua autentici<strong>da</strong>de e au<strong>to</strong>ria. Por outro lado, ironicamente, devido ao reconhecimen<strong>to</strong>,<br />

por parte dos judeus, de que Moisés é o au<strong>to</strong>r do Pentateuco, pod<strong>em</strong>os salientar o test<strong>em</strong>unho de<br />

antigos escri<strong>to</strong>res, alguns dos quais eram inimigos dos judeus. Hecateu de Abdera, o his<strong>to</strong>riador egípcio<br />

Mâne<strong>to</strong>, Lisímaco de Alexandria, Eupol<strong>em</strong>o, Táci<strong>to</strong> e Juvenal, <strong>to</strong>dos atribu<strong>em</strong> a Moisés o<br />

estabelecimen<strong>to</strong> do código de leis que distinguia os judeus <strong>da</strong>s outras nações, e a maioria deles<br />

menciona <strong>em</strong> especial que ele assen<strong>to</strong>u suas leis por escri<strong>to</strong>. Numênio, o filósofo pitagórico, até mesmo<br />

menciona Janes e Jambres como os sacerdotes egípcios que se opuseram a Moisés. (2 Tim. 3,8) Esses<br />

au<strong>to</strong>res abrang<strong>em</strong> um período que se estende do t<strong>em</strong>po de Alexandre (século IV a.C), quando os gregos<br />

se interessaram pela história ju<strong>da</strong>ica pela primeira vez, até o t<strong>em</strong>po do Imperador Aureliano (século III<br />

d.C). Mui<strong>to</strong>s outros escri<strong>to</strong>res antigos mencionam Moisés como líder, governante e legislador.<br />

Apesar do estri<strong>to</strong> cui<strong>da</strong>do dos copistas dos manuscri<strong>to</strong>s <strong>da</strong> Bíblia, foram introduzidos no tex<strong>to</strong> alguns<br />

pequenos erros e alterações de escribas. Como um <strong>to</strong>do, eles são insignificantes e não alteram a<br />

22


integri<strong>da</strong>de geral <strong>da</strong>s Escrituras; foram descober<strong>to</strong>s e corrigidos por meio de cui<strong>da</strong>dosa colação erudita<br />

e/ou comparação crítica dos mui<strong>to</strong>s manuscri<strong>to</strong>s e versões antigas existentes.<br />

Quan<strong>to</strong> ao estudo crítico do tex<strong>to</strong> hebraico, ele começou com os erudi<strong>to</strong>s no século XVIII. Nos anos de<br />

1776-80, <strong>em</strong> Oxford, Benjamin Kennicott publicou variantes de mais de 600 manuscri<strong>to</strong>s hebraicos. Daí,<br />

<strong>em</strong> 1784-98, <strong>em</strong> Parma, o erudi<strong>to</strong> italiano J. B. de Rossi publicou variantes de mais de 800 manuscri<strong>to</strong>s.<br />

O hebraísta S. Baer, <strong>da</strong> Al<strong>em</strong>anha, também produziu um tex<strong>to</strong>-padrão. Mais recent<strong>em</strong>ente, C. D.<br />

Ginsburg dedicou mui<strong>to</strong>s anos à produção de um tex<strong>to</strong>-padrão crítico <strong>da</strong> Bíblia hebraica. Foi publicado<br />

pela primeira vez <strong>em</strong> 1894, passando por revisão final <strong>em</strong> 1926. Este fornece um estudo textual por<br />

meio de notas de ro<strong>da</strong>pé, que comparam mui<strong>to</strong>s manuscri<strong>to</strong>s hebraicos do tex<strong>to</strong> massorético. O tex<strong>to</strong><br />

básico usado por ele foi o tex<strong>to</strong> de Ben Chayyim. Mas, quando os tex<strong>to</strong>s mais antigos e superiores<br />

massoréticos de Ben Asher se <strong>to</strong>rnaram disponíveis, Kittel <strong>em</strong>preendeu a produção de uma terceira<br />

edição, inteiramente nova, que após a sua morte foi completa<strong>da</strong> por seus colegas. Joseph Rotherham<br />

usou a edição de 1894 desse tex<strong>to</strong> na produção <strong>da</strong> sua tradução inglesa, The Emphasised Bible (A Bíblia<br />

Enfatiza<strong>da</strong>), <strong>em</strong> 1902, e o Professor Max L. Margolis, jun<strong>to</strong> com colaboradores, usou os tex<strong>to</strong>s de<br />

Ginsburg e de Baer na produção <strong>da</strong> sua tradução <strong>da</strong>s Escrituras Hebraicas, <strong>em</strong> 1917.<br />

2. TRADIÇÃO JUDAICA - BERESHIT<br />

Bereshit (do hebraico ת ש רב, Bereshít, "no ínicio", "no princípio", primeira palavra do tex<strong>to</strong>) é o nome<br />

<strong>da</strong> primeira parte <strong>da</strong> Torá. Bereshit é chamado comumente de <strong>Gênesis</strong> pela tradição ocidental e trata-se<br />

praticamente do mesmo livro apesar de algumas diferenças, principalmente no que li<strong>da</strong> com<br />

interpretações religiosas com outras religiões que aceitam o livro de <strong>Gênesis</strong>. Este artigo pretende<br />

mostrar as origens do livro e suas implicações dentro principalmente do ju<strong>da</strong>ísmo.<br />

2.1 ORIGEM DO NOME DO LIVRO<br />

O termo Bereshit (No princípio) trata-se <strong>da</strong> primeira palavra do livro, e é o costume ju<strong>da</strong>ico dividir seus<br />

livros e citar como nome do capítulo o nome de sua primeira palavra. O livro foi chamado na<br />

Septuaginta e por Filo de Alexandria de Γένεσις (κόσμου) = "orig<strong>em</strong>" (do mundo), e o termo <strong>Gênesis</strong> é<br />

uma criação posterior usual entre os não judeus.<br />

ORIGENS DO TEXTO<br />

Do pon<strong>to</strong> de vista ju<strong>da</strong>ico, a tradição passa<strong>da</strong> ao largo de milhares de anos ensina que o tex<strong>to</strong> foi<br />

entregue por Deus a Moisés no Monte Sinai durante a revelação ao povo hebreu, dias após a saí<strong>da</strong> do<br />

Egi<strong>to</strong>, o Êxodo. Esta visão é conheci<strong>da</strong> como Criticismo Inferior.<br />

Os estudiosos do Criticismo Superior geralmente atribu<strong>em</strong> a au<strong>to</strong>ria a um período posterior,<br />

provavelmente no re<strong>to</strong>rno do Exílio Babilônico onde teria havido uma fusão de diversas len<strong>da</strong>s<br />

mi<strong>to</strong>lógicas dos povos do Levante com a cultura ju<strong>da</strong>ica. Mui<strong>to</strong>s el<strong>em</strong>en<strong>to</strong>s mi<strong>to</strong>lógicos presentes no<br />

tex<strong>to</strong> serão base para tex<strong>to</strong>s posteriores que seriam considerados apócrifos como o Livro de Enoque.<br />

Como ex<strong>em</strong>plo deste caso t<strong>em</strong>os a polêmica sobre os Nefilim.<br />

23


Os estudiosos do Criticismo Superior crê<strong>em</strong> que a Torá e subsequent<strong>em</strong>ente Bereshit é resultado de<br />

diversas tradições que evoluiram <strong>em</strong> conjun<strong>to</strong> através <strong>da</strong> história do antigo povo de Israel. Neste pon<strong>to</strong><br />

de vista seria confirmado pelas duplici<strong>da</strong>des nas diversas histórias narra<strong>da</strong>s,<br />

Duas criações do mundo;<br />

Duas alianças de D-us com Avraham;<br />

Duas histórias do nome de Yitzhak;<br />

Duas histórias do nome de Ya'acov;<br />

Além <strong>da</strong>s porções que utilizam o nome Elohim (tradição Eloísta) e que parec<strong>em</strong> desconhecer <strong>to</strong>talmente<br />

o nome de YHWH (tradição Yavista) como no caso <strong>da</strong> criação do mundo.<br />

TEXTO<br />

Bereshit t<strong>em</strong> como princípio descrever as origens deste mundo e <strong>da</strong> linhag<strong>em</strong> humana até o pac<strong>to</strong> do<br />

Criador com o povo de Israel, descrevendo principalmente a vi<strong>da</strong> dos Patriarcas bíblicos. Também<br />

apresenta as origens dos principais man<strong>da</strong>men<strong>to</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ju<strong>da</strong>ica como a brit milá, o shabat e<br />

man<strong>da</strong>men<strong>to</strong>s para <strong>to</strong><strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de como as Leis de Noé.<br />

O tex<strong>to</strong> é comumente dividido <strong>em</strong> doze parashot (porções) cuja divisão serv<strong>em</strong> para a leitura s<strong>em</strong>anal<br />

do tex<strong>to</strong> nas sinagogas acompanha<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s haftarot. As doze porções, simbolizam as Tribos de Israel.<br />

Assim a narrativa de Bereshit está divi<strong>da</strong> <strong>em</strong>:<br />

Gustave Doré Adão e Eva expulsos do paraíso.<br />

A) BERESHIT (ת ש רב)<br />

A parashá Bereshit ("No início", "no princípio") é a primeira porção <strong>da</strong> Torá e<br />

busca narrar a criação do mundo por D-us, assim como a orig<strong>em</strong> de <strong>to</strong><strong>da</strong>s as<br />

coisas—dos animais, do primeiro hom<strong>em</strong> (A<strong>da</strong>m ou Adão - cujo nome provêm<br />

de a<strong>da</strong>ma, "terra avermelha<strong>da</strong>") e sua mulher, assim como de sua<br />

descendência através de dez gerações. Mostra a corrupção do gênero humano<br />

(incluindo o primeiro assassina<strong>to</strong>) e o subseqüente castigo de D-us através do<br />

Dilúvio, do qual somente se salvaria Noach (Noé) e sua família.<br />

Esta porção apresenta a orig<strong>em</strong> do shabat (que seria o dia de descanso de<br />

Deus após a criação) e apresenta—de acordo com Maimônides -- o primeiro man<strong>da</strong>men<strong>to</strong> positivo,<br />

"Crescei e frutificai".<br />

A haftará que acompanha esta porção é:<br />

para os Ashkenazi, Isaías 42,5–43,10<br />

24


para os Sefaradi, e Chabad Lubavitch, Isaías 42,5–21<br />

para os Judeus do Iêmen, Isaías 42,1–16<br />

para os Italkim, Isaías 42,1–21<br />

para os Caraítas, Isaías 65,7–66,13<br />

Torre de Babel (pintura de Pieter Bruegel).<br />

B) NÔACH (חנ)<br />

Esta parashá <strong>to</strong>ma o nome de Noach (Noé) que ao contrário <strong>da</strong><br />

restante <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de teria permanecido jus<strong>to</strong> diante <strong>da</strong> mal<strong>da</strong>de do<br />

ser humano e graças a is<strong>to</strong> teria sobrevivido jun<strong>to</strong> com sua família do<br />

cataclismo causado pelo Dilúvio juntamente com animais selecionados<br />

para garantir a sobrevivência <strong>da</strong>s espécies. Após a cessação do Dilúvio,<br />

Noach e sua família teriam repovoado a terra e <strong>da</strong>do orig<strong>em</strong> à <strong>to</strong>dos os<br />

povos <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de. A descendência de Noach no entan<strong>to</strong> seria alvo de<br />

um castigo divino ao tentar<strong>em</strong> mover uma guerra contra Deus ao<br />

construir a Torre de Babel. Tendo seus idiomas confundidos, os povos<br />

foram dispersos pela face <strong>da</strong> terra.<br />

A haftará desta porção é:<br />

para os Ashkenazi, Judeus do Iêmen e Maghrebim, Isaías 54,1–55,5<br />

para os Sefaradi, Isaiah 55,1–10<br />

para alguns judeus i<strong>em</strong>enistas, Isaías 54,1–55,3<br />

para os Italkim, Isaías 54,1–55,5<br />

para os Caraítas, Isaías 54,9–55,12<br />

para Chabad Lubavitch, Isaías 54,1–10<br />

C) LECH (ך ך )<br />

De acordo com a tradição ju<strong>da</strong>ica, desde o princípio do mundo existiram jus<strong>to</strong>s servidores ao Deus<br />

único , mas a corrupção do gênero humano levou principalmente à adoção <strong>da</strong> idolatria pela maior parte<br />

dos povos <strong>da</strong> terra. A parashá Lech-Lechá15 inicia-se com o chamado de Deus a Avraham (Abraão), que<br />

teria sido um profeta e defensor do monoteísmo. Chamado para peregrinar nas terras de Canaã, a<br />

parashá narra diversas aventuras envolvendo o profeta, sua mulher Sarai (Sara) e seu sobrinho Lot.<br />

Entre suas peregrinações Deus efetua uma aliança eterna com Avraham e sua descendência simboliza<strong>da</strong><br />

pelo pac<strong>to</strong> <strong>da</strong> brit milá. Esta aliança eterna é a fun<strong>da</strong>mentação do concei<strong>to</strong> de Povo Escolhido para os<br />

15 Lech-Lecha, Lekh-Lekha ou Lech-L'cha é a terceira porção s<strong>em</strong>anal de tex<strong>to</strong>s do Torá (Parashá) no ciclo anual<br />

ju<strong>da</strong>ico <strong>da</strong> leitura do Torá. Constitui <strong>Gênesis</strong> 12,01-17,27. judeus lê-lo no terceiro sábado depois de Simchat Torá,<br />

geralmente <strong>em</strong> outubro ou nov<strong>em</strong>bro.<br />

25


judeus, que seriam os descendentes de Avraham. A parashá também descreve o nascimen<strong>to</strong> do filho de<br />

Avraham, Ishmael (Ismael) que posteriormente será considerado o pai dos povos árabes.<br />

A haftará desta porção é:<br />

para os Ashkenazi e Sefaradi, Isaías 40,27–41,16<br />

para os Caraítas16, Josué 24,3–18<br />

D) VAYERÁ 17( ר ו)<br />

Esta parashá narra as promessas de Deus a Avraham e a sua descendência, que deveria ser obti<strong>da</strong><br />

mediante Yitzhak (Isaac), filho gerado milagrosamente por Sara que era velha e estéril. O nascimen<strong>to</strong> de<br />

Yitzhak leva a uma crise com Ishmael (Ismael) e sua mãe Hagar, uma escrava que havia sido <strong>da</strong><strong>da</strong> como<br />

concumbina a Avraham. Por recomen<strong>da</strong>ção de Sara e Deus, Avraham expulsa o filho e sua mãe. Nesta<br />

parashá é também narra<strong>da</strong> a destruição de Sodoma e Gomorra e a salvação de Lot por dois anjos. Inclui<br />

também a provação de Deus á fé de Avraham pedindo que este sacrifique seu filho Yitzhak. Avraham<br />

segue a determinação mas Deus impede o sacríficio no último momen<strong>to</strong>.<br />

A haftará desta porção é:<br />

para os Ashkenazi, II Reis 4,1–37<br />

para os Sefaradi, II Reis 4,1–23<br />

para os Caraítas, Isaías 33,17–35,10<br />

Gustave Doré - Eliézer e Rebeca.<br />

E) CHAYÊ SHARAH18 ( ח הרש)<br />

Esta parashá inicia-se com a morte de Sara aos 127 anos. Avraham decide<br />

encontrar uma esposa para seu filho Yitschac e envia seu servo à sua família, que<br />

encontra uma moça, Rivka (Rebeca) que se <strong>to</strong>rna esposa de Yitzhak. Avraham<br />

acaba falecendo com a i<strong>da</strong>de de 175 anos e a porção encerra-se com a descrição<br />

dos descendentes de Avraham.<br />

A haftará desta parashá é:<br />

para os Judeus do Iêmen, I Reis 1,1–31,46<br />

para os Ashkenazi e Sefaradi, I Reis 1,1–31<br />

16 A palavra caraíta (do hebraico ם רק, qaraim ou bnei mikra, "Seguidores <strong>da</strong>s Escrituras"), designa uma <strong>da</strong>s<br />

ramificações do ju<strong>da</strong>ísmo que defende unicamente a au<strong>to</strong>ri<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Escrituras Hebraicas como fonte de<br />

Revelação Divina.<br />

17 Aparecer, mostrar-se. Teofania (manifestação do Anjo).<br />

18 Chayei Sarah, Sarah Chaye, ou Hayye Sarah ( ח ה ר - hebraico para "vi<strong>da</strong> de Sarah ", a primeira palavra na<br />

Parashá) é o quin<strong>to</strong> porção s<strong>em</strong>anal <strong>da</strong> Torá (Parashá) na anual ju<strong>da</strong>ica ciclo de leitura <strong>da</strong> Torá . Constitui <strong>Gênesis</strong><br />

23,1-25,18<br />

26


para os Caraítas, Isaías 51,2–51,22<br />

para os Italkim, I Reis 1,1–34<br />

F) TOLEDOT19 (תוד ות)<br />

A parashá Toledot narra a história de Yitzhak e Rivka, e de seus filhos gêmeos, Esav (Esaú) e Yaacov<br />

(Jacó). Os dois irmãos compet<strong>em</strong> pela atenção do pai, onde Esav é um caçador, enquan<strong>to</strong> Yaacov é um<br />

rapaz caseiro e estudioso <strong>da</strong> Torá. Essav mostrado como um libertino e frívolo, vende seu direi<strong>to</strong> de<br />

primogenitura para Yaacov. Este ain<strong>da</strong> passa-se pelo irmão e enganando ao pai recebe as bençãos de<br />

seu pai, o que despertando a ira de Esav faz com que Yaacov fuja para Charan jun<strong>to</strong> ao seu tio Lavan.<br />

A haftará desta porção é:<br />

para os Ashkenazi e Sefaradi, Malaquias 1,1–2,7<br />

para os Caraítas, Isaías 65,23–66,18<br />

Michael Willmann - O sonho de Jacó.<br />

A haftará desta porção é:<br />

para os Ashkenazi, Oséias 12,13–14,10<br />

para os Caraítas, Oséias 11,7–13,5<br />

G) VAYETZE20 ( צ ו)<br />

Yaacov foge para as terras de seu tio Lavan (Labão) e no caminho<br />

recebe uma visão de Deus e um pac<strong>to</strong> com a sua descendência. Ao<br />

chegar à família de seu tio apaixona-se por sua prima Rachel (Raquel).<br />

Para casar com ela é obrigado à trabalhar sete anos. Ao casar-se, é<br />

enganado por seu tio e acaba desposando a irmã mais velha de Rachel,<br />

Lea. Para se casar com Rachel Yaakov trabalha mais sete anos. Destas<br />

duas mulheres mais suas concumbinas, Yaakov gera onze dos doze<br />

filhos que serão os patriarcas <strong>da</strong>s Doze tribos de Israel. Após vinte<br />

anos trabalhando e sendo enganado por Lavan, Yaakov e sua família<br />

fog<strong>em</strong> de Lavan , que os persegue mas por fim faz um pac<strong>to</strong> de paz com<br />

eles.<br />

H) VAYISHLACH21 (ח ש ו)<br />

19 Toledot, Toldot, ou Tol'doth (ת ד - hebraico para "gerações" ou "descendentes", a segun<strong>da</strong> palavra ea<br />

primeira palavra distintiva na Parashá) é o sex<strong>to</strong> porção s<strong>em</strong>anal <strong>da</strong> Torá (Parashá) na anual ju<strong>da</strong>ica ciclo de<br />

leitura do Torá . Constitui <strong>Gênesis</strong> 25:19-28:9 . judeus na Diáspora leu o sex<strong>to</strong> Sabbath após Simchat Torá ,<br />

geralmente <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro ou início de dez<strong>em</strong>bro.<br />

20 Vayetze, Vayeitzei, ou Vayetzei ( צ ו - hebraico para "e ele deixou", a primeira palavra na Parashá) é a sétima<br />

porção s<strong>em</strong>anal <strong>da</strong> Torá (Parashá) na anual ju<strong>da</strong>ica ciclo de leitura <strong>da</strong> Torá . Constitui <strong>Gênesis</strong> 28:10-32:3 . judeus<br />

na Diáspora ler o sétimo sábado após Simchat Torá , geralmente <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro ou dez<strong>em</strong>bro<br />

27


A parashá Vayishlach prossegue o rela<strong>to</strong> <strong>da</strong> história de Yaakov ao re<strong>to</strong>rnar com sua família para a terra<br />

de Canaã e seu encontro com Esav. Yaacov julga que Esav pretende batalhar contra ele, e prepara-se<br />

para a batalha. Antes de encontrar-se com seu irmão luta contra um anjo disfarçado de hom<strong>em</strong> do qual<br />

sai vi<strong>to</strong>rioso <strong>em</strong>bora manco. Do anjo Yaakov recebe o nome de Yisrael (Israel) que será o nome pela<br />

qual seus descendentes seriam chamados.<br />

Yaakov encontra por fim Esav que o aceita <strong>em</strong> paz <strong>em</strong>bora ambos se separ<strong>em</strong>. A narrativa prossegue<br />

com o rap<strong>to</strong> <strong>da</strong> filha de Yaakov, Diná e seu consequente estupro por parte de Sech<strong>em</strong>, príncipe <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de de Sech<strong>em</strong> (Siquém). Os filhos de Yaacov enganam os habitantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, obrigando-os à<br />

circunci<strong>da</strong>r<strong>em</strong>-se sob o pretex<strong>to</strong> <strong>da</strong> aceitação de casamen<strong>to</strong>s mis<strong>to</strong>s e por fim Shimon e Levi matam os<br />

habitantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de resgatando Diná. Rachel morre <strong>em</strong> segui<strong>da</strong> ao <strong>da</strong>r a luz ao décimo-segundo filho de<br />

Yaakov e este re<strong>to</strong>rna para a casa de seu pai. Yizhak morre com a i<strong>da</strong>de de 180 anos e a porção<br />

prossegue com a descrição <strong>da</strong> genealogia de Esav que seria o ancestral dos habitantes de Edom.<br />

A haftará desta porção é:<br />

para os Ashkenazi, Oséias 11,7–12,12<br />

para os Sefaradi, Obadias 1,1-21<br />

I) VAYÊSHEV22 (בש ו)<br />

José sendo capturado pelos seus irmãos e vendido aos egípcios (pintura de Konstantin Flavitsky).<br />

28<br />

A parashá Vayêshev descreve inicialmente a afeição de<br />

Yaakov por seu filho Yossef (José) o que leva ao ciúme dos<br />

outros irmãos. Este ódio aumenta com os sonhos de Yossef<br />

que se vê como senhor de seus irmãos. Seus irmãos<br />

preparam uma artimanha e vend<strong>em</strong> seu irmão como escravo<br />

no Egi<strong>to</strong>, e enganam seu pai dizendo que Yossef havia sido<br />

destroçado por um animal.<br />

No Egi<strong>to</strong> Yossef <strong>to</strong>rna-se um <strong>em</strong>pregado valoroso na casa de<br />

Potifar, mas recebe uma falsa acusação de tentativa de<br />

assédio sexual por parte <strong>da</strong> esposa de Potifar. Yossef é preso onde acaba <strong>to</strong>rnando-se encarregado dos<br />

prisioneiros. Após dez anos ao interpretar o sonho de dois serviçais de faraó, os even<strong>to</strong>s posteriores<br />

confirmam a interpretação <strong>da</strong><strong>da</strong> por Yossef. A haftará desta porção é Amós 2,6–3,8.<br />

21 Vayishlach ou Vayishlah (חלשי - hebraico para "mandou", a primeira palavra <strong>da</strong> Parashá) é o oitavo porção s<strong>em</strong>anal<br />

<strong>da</strong> Torá (Parashá) na anual ju<strong>da</strong>ica ciclo de leitura <strong>da</strong> Torá Constitui. <strong>Gênesis</strong> 32:4-36:43. judeus na Diáspora ler o oitavo<br />

Sabbath após Simchat Torá , geralmente no final de nov<strong>em</strong>bro ou dez<strong>em</strong>bro. Na Parashá, Jacob reconcilia com Esaú<br />

depois de lutar com um "hom<strong>em</strong>", o príncipe Siquém estupros Dinah e seu saco de irmãos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Siquém, <strong>em</strong><br />

vingança, e na família do ano seguinte Rachel dá à luz a Benjamin e morre no par<strong>to</strong>.<br />

22 A Parashá Vayêshev inicia descrevendo o grande amor de Yaacov (Jacó) por seu filho Yossef (José), o que<br />

provoca o ódio dos outros irmãos. O ciúme deles cresce quando Yossef lhes conta os dois sonhos que indicam que<br />

eles serão um dia subservientes a ele.


J) MIQETZ23 (ץקמ)<br />

Mikêts descreve o sonho do faraó sobre sete vacas magras devorando sete vacas gor<strong>da</strong>s, seguido por<br />

sete espigas magras de cereal devorando sete espigas saudáveis. Os conselheiros de faraó não<br />

consegu<strong>em</strong> interpretar o sonho, e Yossef recomen<strong>da</strong>do pelo copeiro do rei é chamado para interpretar<br />

o sonho. Yossef descreve então que os sonhos confirmam que após sete anos de abundância o Egi<strong>to</strong> e<br />

<strong>to</strong><strong>da</strong> a terra seria assolado por grande escassez. Faraó determina então Yossef como vice-rei do Egi<strong>to</strong><br />

com o objetivo de coletar alimen<strong>to</strong>s no período de fartura e armazaná-los para a época <strong>da</strong> escassez.<br />

Yossef então casa-se e t<strong>em</strong> dois filhos, Menashê e Efraim, e os even<strong>to</strong>s ocorr<strong>em</strong> como Yossef predissera.<br />

Em Canaã a escassez atinge a família de Yaacov, que envia seus filhos ao Egi<strong>to</strong> para comprar alimen<strong>to</strong>.<br />

Encontram Yossef mas não o reconhec<strong>em</strong>.<br />

Yossef finge então considerá-los espiões e mantém Shimeon refém enquan<strong>to</strong> os outros irmãos re<strong>to</strong>rnam<br />

para Canaã com alimen<strong>to</strong>, e exige que re<strong>to</strong>rn<strong>em</strong> com o irmão mais novo. Yaacov não permite mas a<br />

escassez obriga-o à liberar Binyamin (Benjamim). Os irmãos re<strong>to</strong>rnam ao Egi<strong>to</strong> onde são b<strong>em</strong> tratados.<br />

No entan<strong>to</strong> Yossef cria uma artimanha para acusar Binyamin de roubo e <strong>to</strong>rná-lo seu escravo no Egi<strong>to</strong>.<br />

A haftará desta parashá é I Reis 3,15–4,1.<br />

L) VAYIGASH24 (שג ו )<br />

Os irmãos de Yaakov desesperam-se com a situação e Yehudá (Judá) oferece-se para ficar no Egi<strong>to</strong> no<br />

lugar de Binyamin já que a per<strong>da</strong> deste seria fatal para Yaakov. Yossef incapaz de fingir mais t<strong>em</strong>po<br />

revela-se a seus irmãos e os envia de volta para Canaã para buscar<strong>em</strong> seu pai e ord<strong>em</strong> para que <strong>to</strong><strong>da</strong> a<br />

família de Yaakov venha habitar no Egi<strong>to</strong>. A haftará desta porção é Ezequiel 37,15–28.<br />

M) VAYECHI ( ח ו)<br />

JACÓ ABENÇOA OS FILHOS DE JOSÉ (PINTADO POR JAN VICTORS).<br />

A parashá Vayechi é a última porção de Bereshit e descreve os<br />

últimos anos de vi<strong>da</strong> de Yaakov e sua morte. Antes obriga Yossef a<br />

jurar que o enterrará na Terra <strong>da</strong> Promessa e abençoa a ca<strong>da</strong> um dos<br />

seus filhos individualmente. Yaakov morre com 147 anos e é<br />

23 Miketz ou Mikeitz (ץקמ - hebraico para "no final", a segun<strong>da</strong> palavra - e palavra distintivo primeiro - <strong>da</strong><br />

Parashá) é o décimo s<strong>em</strong>anal porção <strong>da</strong> Torá (Parashá) na anual ju<strong>da</strong>ica ciclo de leitura <strong>da</strong> Torá . Constitui<br />

<strong>Gênesis</strong> 41:1-44:17. judeus na Diáspora ler o décimo Sabbath após Simchat Torah . Geralmente, lê-se no sábado<br />

de Chanukah . Quando Chanukah contém dois sábados, lê-se no segundo. Em alguns anos, porém, Miketz é lido no<br />

sábado depois de Chanukah.<br />

24 Vayigash ou Vaigash (שגי - hebraico para "e ele se aproximou" ou "então ele se aproximava," a primeira palavra <strong>da</strong><br />

Parashá ) é a décima primeira porção s<strong>em</strong>anal <strong>da</strong> Torá (Parashá) na anual ju<strong>da</strong>ica ciclo de leitura <strong>da</strong> Torá . Constitui<br />

<strong>Gênesis</strong> 44:18-47:27. judeus na Diáspora ler o décimo primeiro sábado após Simchat Torá , geralmente <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro<br />

ou janeiro. Na Parashá, Judá faz um apelo persuasivo, <strong>em</strong> nome de seu irmão Benjamin , José se revela aos seus irmãos,<br />

Jacob se resume a Egi<strong>to</strong> , e administração de José do Egi<strong>to</strong> salva vi<strong>da</strong>s, mas transforma <strong>to</strong>dos os egípcios <strong>em</strong> escravos.<br />

29


enterrado <strong>em</strong> M'arat HaMachpelá, onde estão enterrados sua esposa Lea, seus pais Yitzhak e Rivka, e os<br />

avós Avraham e Sara.<br />

Yossef perdoa seus irmãos <strong>da</strong>s artimanhas que lhe armaram na juventude e por fim Yossef morre,<br />

pedindo que seus ossos sejam levados no futuro para a Terra <strong>da</strong> Promessa.<br />

A haftará desta parashá é I Reis 2,1–12.<br />

3. O LIVRO25<br />

I. ORIGEM DO MUNDO E DA HUMANIDADE (CAPÍTULOS 1-11)<br />

1. A CRIAÇÃO<br />

1,1-2,4a, A narrativa <strong>da</strong> criação não é um tratado científico, mas um po<strong>em</strong>a que cont<strong>em</strong>pla o universo<br />

como criatura de Deus. Foi escri<strong>to</strong> pelos sacerdotes no t<strong>em</strong>po do exílio na Babilônia (586-538 a. C) e<br />

procura salientar vários pon<strong>to</strong>s. Primeiro, que existe um único Deus vivo e criador. Segundo, que a<br />

natureza não é divina, n<strong>em</strong> está povoa<strong>da</strong> por outras divin<strong>da</strong>des. Terceiro, que o pon<strong>to</strong> mais al<strong>to</strong> <strong>da</strong><br />

criação é a humani<strong>da</strong>de, hom<strong>em</strong> e mulher, ambos criados à imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança de Deus. E a<br />

humani<strong>da</strong>de é chama<strong>da</strong> a dominar e a transformar o universo, participando <strong>da</strong> obra <strong>da</strong> criação. Quar<strong>to</strong>,<br />

que o ritmo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é trabalho e descanso, assim como Deus descansou do trabalho criador, também o<br />

hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> direi<strong>to</strong> ao dia s<strong>em</strong>anal de descanso. Importante notar que a criação <strong>to</strong><strong>da</strong> é marca<strong>da</strong> pelo<br />

selo de Deus, «era bom... mui<strong>to</strong> bom».<br />

2,4b-25, A primeira narrativa <strong>da</strong> criação (1,1-2,4a) apresenta as águas disformes como caos, desord<strong>em</strong><br />

e ausência de vi<strong>da</strong>. A segun<strong>da</strong> narrativa, elabora<strong>da</strong> no t<strong>em</strong>po do rei Salomão (séc. X a. C), se originou<br />

entre nômades que viviam no deser<strong>to</strong>; para eles, terra seca é ausência de vi<strong>da</strong>. Por isso imaginam, como<br />

início <strong>da</strong> criação, a chuva e a possibili<strong>da</strong>de de o hom<strong>em</strong> encontrar água. A grande bênção inicial é,<br />

portan<strong>to</strong>, a água (vv. 4b-7). Os vv. 8-17 narram a história do Éden, um paraíso na terra, para onde<br />

conflu<strong>em</strong> os maiores rios do mundo então conhecido, e onde as árvores e fru<strong>to</strong>s são abun<strong>da</strong>ntes. Deus<br />

criou a terra para que o hom<strong>em</strong> usufrua dela e possua vi<strong>da</strong> plena (árvore <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>). A condição única é o<br />

hom<strong>em</strong> se subordinar a Deus, obedecer ao seu proje<strong>to</strong> de vi<strong>da</strong> e fraterni<strong>da</strong>de, e não querer decidir por<br />

si mesmo o que é b<strong>em</strong> e o que é mal (comer o fru<strong>to</strong> <strong>da</strong> árvore do b<strong>em</strong> e do mal), a fim de não ser causa a<br />

espécie alguma de opressão e morte. Os vv. 18-25 salientam duas coisas, primeiro, que o hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong><br />

domínio sobre a criação «<strong>da</strong>ndo nome aos animais» e, por isso, participa do poder criativo de Deus;<br />

segundo, que «a mulher não foi tira<strong>da</strong> <strong>da</strong> cabeça do hom<strong>em</strong> para man<strong>da</strong>r nele, n<strong>em</strong> foi tira<strong>da</strong> dos pés<br />

dele para ser sua escrava; mas foi tira<strong>da</strong> do lado, para ser sua companheira».<br />

25 Segundo a Edição Pas<strong>to</strong>ral <strong>da</strong> Bíblia, <strong>da</strong> Edi<strong>to</strong>ra Paulus.<br />

30


2. AMBIGÜIDADE HUMANA E GRAÇA DE DEUS<br />

3,1-24, O tex<strong>to</strong> procura explicar a orig<strong>em</strong> do mal. O centro dessa questão é a pretensão de ser como<br />

Deus (v. 5), usurpando o lugar do Deus ver<strong>da</strong>deiro para <strong>to</strong>rnar-se au<strong>to</strong>-suficiente, is<strong>to</strong> é, um falso deus.<br />

A au<strong>to</strong>-suficiência é a mãe de <strong>to</strong>dos os males, que são apenas conseqüência dela. Deus é o Senhor<br />

absolu<strong>to</strong>, e seu proje<strong>to</strong> é vi<strong>da</strong> e liber<strong>da</strong>de para <strong>to</strong>dos, no clima de fraterni<strong>da</strong>de e partilha. Quando o<br />

hom<strong>em</strong> se <strong>to</strong>rna au<strong>to</strong>-suficiente, se rebela contra o proje<strong>to</strong> de Deus e faz o seu próprio proje<strong>to</strong>,<br />

liber<strong>da</strong>de e vi<strong>da</strong> só para si mesmo. O hom<strong>em</strong> sonha possuir liber<strong>da</strong>de e vi<strong>da</strong> plenas; porém, na sua au<strong>to</strong>suficiência,<br />

ele produz o contrário, escravidão e morte. As relações de fraterni<strong>da</strong>de transformam-se <strong>em</strong><br />

relações de poder e opressão; a relação de partilha transforma-se <strong>em</strong> exploração, e esta produz a<br />

riqueza de poucos e a pobreza de mui<strong>to</strong>s. Desse modo, as relações ficam dis<strong>to</strong>rci<strong>da</strong>s e quebra<strong>da</strong>s, tan<strong>to</strong><br />

dos homens entre si como dos homens com a natureza. Nesse clima gerado pelo mal, que tende a se<br />

multiplicar, o caminho já não leva para a vi<strong>da</strong>, mas para a morte (vv. 22-24). Tudo perdido? Não. Diante<br />

do mal gerado pelo hom<strong>em</strong>, Deus promete uma descendência que estará comprometi<strong>da</strong> com o proje<strong>to</strong><br />

de Deus, proje<strong>to</strong> este que triunfará sobre <strong>to</strong>do o mal. O Novo Testamen<strong>to</strong> vê nessa descendência o povo<br />

comprometido com Jesus Cris<strong>to</strong>, que é o supr<strong>em</strong>o revelador e realizador do proje<strong>to</strong> de Deus.<br />

4,1-16, O relacionamen<strong>to</strong> entre os irmãos Caim e Abel é o opos<strong>to</strong> <strong>da</strong>quilo que Javé espera do<br />

relacionamen<strong>to</strong> entre os homens, a fraterni<strong>da</strong>de, <strong>em</strong> que ca<strong>da</strong> um é prote<strong>to</strong>r do seu próximo. A au<strong>to</strong>suficiência<br />

introduz a rivali<strong>da</strong>de e a competição nesse relacionamen<strong>to</strong>, a fraterni<strong>da</strong>de é destruí<strong>da</strong> e, <strong>em</strong><br />

vez de proteger, o hom<strong>em</strong> fere e mata o seu próximo. A primeira vez que a palavra pecado aparece na<br />

Bíblia é num contex<strong>to</strong> social (v. 7).<br />

* 17-26, O tex<strong>to</strong> apresenta o desenvolvimen<strong>to</strong> <strong>da</strong> civilização, com suas bases culturais e tecnológicas.<br />

Surge o hom<strong>em</strong> político (<strong>da</strong> pólis = ci<strong>da</strong>de; v. 17), o hom<strong>em</strong> artista (v. 21) e o hom<strong>em</strong> artesão (v. 22). A<br />

civilização, porém, nasce de Caim, au<strong>to</strong>-suficiência e violência se multiplicam ca<strong>da</strong> vez mais, gerando<br />

uma socie<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na hostili<strong>da</strong>de e na competição. Tudo perdido? Não. Surge também o hom<strong>em</strong><br />

religioso (v. 26), que busca reunir novamente aquilo que o hom<strong>em</strong> au<strong>to</strong>-suficiente divide e separa. Em<br />

Mt 18,21-22, o Novo Testamen<strong>to</strong> apresenta a antítese <strong>da</strong> violência.<br />

5,1-32, Na perspectiva dos antigos, a história é uma sucessão de gerações, de modo que contar a<br />

história, é contar a história <strong>da</strong>s famílias. Not<strong>em</strong>os que a geração humana transmite para ca<strong>da</strong> novo ser<br />

humano a originali<strong>da</strong>de com que Deus criou Adão, à imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança de Deus (vv. 1-3). Assim, a<br />

salvação se mostra já presente na história. Para o Antigo Testamen<strong>to</strong>, ser feliz é viver bastante.<br />

Salientando a i<strong>da</strong>de, o tex<strong>to</strong> quer mostrar o seguinte, à medi<strong>da</strong> que o mal cresce, o hom<strong>em</strong> é menos feliz,<br />

ou seja, vive menos (cf. 6,3), antes do dilúvio, vive-se de 700 a 1.000 anos; depois do dilúvio, de 200 a<br />

600 anos (cf. Gn 11,10-26); a partir de Abraão, de 100 a 200 (cf. Gn 23,1 etc.); mais tarde, de 70 a 80<br />

anos (cf. Sl 90,10).<br />

6,1-8, A au<strong>to</strong>-suficiência chega ao máximo <strong>da</strong> pretensão, o hom<strong>em</strong> começa a considerar-se um deus ou<br />

s<strong>em</strong>i-deus, projetando uma super-humani<strong>da</strong>de independente do proje<strong>to</strong> original de Deus. Vendo sua<br />

criação desfigura<strong>da</strong>, Javé decide exterminá-la. Tudo perdido? Não. A história vai continuar através de<br />

Noé, o hom<strong>em</strong> jus<strong>to</strong>.<br />

6,9-7,5, Inspira<strong>da</strong> nas inun<strong>da</strong>ções periódicas dos grandes rios, a narrativa do dilúvio é típica <strong>da</strong>s<br />

antigas culturas médio-orientais. Os au<strong>to</strong>res bíblicos a utilizaram por causa do seu significado<br />

simbólico, o dilúvio é uma volta ao caos primitivo (compare Gn 1,6-30 com 6,17 e 7,18-24). Contudo,<br />

31


qual é o dilúvio que acontece na história? São os acontecimen<strong>to</strong>s catastróficos gerados pela au<strong>to</strong>suficiência,<br />

que chega a formas tão extr<strong>em</strong>a<strong>da</strong>s que produz o caos na natureza e no mundo humano. O<br />

tex<strong>to</strong> é também uma apologia do jus<strong>to</strong>, este sabe discernir a catástrofe e <strong>to</strong>mar uma atitude para<br />

sobreviver e preservar a vi<strong>da</strong>. É através do jus<strong>to</strong> que a história continua.<br />

7,6-24, O tex<strong>to</strong> é repetitivo porque mistura duas tradições, de épocas diferentes, sobre o dilúvio. A<br />

comparação com Gn 1,1-10 mostra que o dilúvio significa uma volta ao caos primitivo; quando a<br />

humani<strong>da</strong>de destrói <strong>em</strong> si a imag<strong>em</strong> de Deus, a conseqüência é a destruição de <strong>to</strong>do o mundo criado.<br />

8,1-9,7, Através do jus<strong>to</strong>, Deus começa uma nova criação (comparar 9,1-7 com Gn 1,28-30). A nova<br />

criação começa com uma oferta a Javé, que não deixa o hom<strong>em</strong> ser dominado pelo caos. Ele promete<br />

nunca mais destruir a sua criação, doravante, ele aceita a ambigüi<strong>da</strong>de humana (v. 21), que também é<br />

responsável pela ambigüi<strong>da</strong>de do mundo e <strong>da</strong> história. Experimenta-se a graça na estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

ord<strong>em</strong> natural, não obstante o contínuo pecar do hom<strong>em</strong>.<br />

9,8-17, O arco-íris, que aparece depois <strong>da</strong> chuva, <strong>to</strong>rna-se o sinal <strong>da</strong> aliança de Deus com <strong>to</strong><strong>da</strong> a criação.<br />

Através dessa aliança, Deus garante a vi<strong>da</strong> para <strong>to</strong>dos. Doravante, qualquer destruição que aparecer na<br />

história humana será devi<strong>da</strong> aos homens, e não a Deus.<br />

* 18-29, A narrativa mostra que o pecado continua no mundo. S<strong>em</strong> é abençoado, porque dele se formará<br />

o povo de Israel. Cam é o antepassado dos cananeus, adversários ferrenhos de Israel. A maldição de<br />

Cam foi abusivamente interpreta<strong>da</strong> na história como maldição <strong>da</strong> raça negra.<br />

10,1-32, A lista dos povos é uma espécie de geografia política <strong>da</strong> época. É coloca<strong>da</strong> aqui para explicar<br />

como foi que o mundo se repovoou depois do dilúvio. Mostra ain<strong>da</strong> que o povo de Israel, que nascerá de<br />

Abraão, é um povo <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente histórico, inserido no meio <strong>da</strong>s nações; não é um povo mítico, is<strong>to</strong> é,<br />

provindo do mundo dos deuses.<br />

11,1-9, O tex<strong>to</strong> apresenta outra explicação para a diversi<strong>da</strong>de de povos e línguas, é um castigo contra a<br />

pretensão coletiva que, como a dos antepassados (Gn 3), é uma falta provoca<strong>da</strong> pelo orgulho (v. 4).<br />

Babel l<strong>em</strong>bra certamente Babilônia (Senaar), a civilização que se <strong>to</strong>rnou o modelo <strong>da</strong>s grandes<br />

potências. Babel se apresenta como símbolo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de deforma<strong>da</strong> pela au<strong>to</strong>-suficiência, que produz<br />

uma estrutura injusta, exploradora e opressora. A reunião dos povos e línguas acontecerá no<br />

Pentecostes (At 2) e na consumação <strong>da</strong> história (Ap 21-22). Na mesma linha de Gn 3-11, a ambigüi<strong>da</strong>de<br />

humana produz uma relação social competitiva (Gn 4,1-16), uma cultura ambígua (Gn 4,17-26), um<br />

processo histórico caótico (Gn 6-8) e uma ci<strong>da</strong>de idolátrica (Gn 11,1-9). Daqui para a frente, começa<br />

uma nova história, volta<strong>da</strong> para uma relação social justa, para uma cultura ver<strong>da</strong>deiramente humana,<br />

para um processo histórico dirigido para a vi<strong>da</strong>, e uma ci<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na justiça e na fraterni<strong>da</strong>de.<br />

* 10-32, Esta genealogia acompanha a de Gn 5, procurando apresentar Abraão como herdeiro legítimo<br />

<strong>da</strong>s bênçãos e promessas de Deus, feitas na criação e após o dilúvio.<br />

32


II. ORIGEM DO POVO DE DEUS (CAPÍTULOS 12-50)<br />

1. ABRAÃO, O HOMEM DA FÉ<br />

12,1-9, A história de Abraão está diretamente liga<strong>da</strong> à história de <strong>to</strong><strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de, com ele começa a<br />

surgir o <strong>em</strong>brião de um povo que terá a missão de trazer a bênção de Deus para <strong>to</strong><strong>da</strong>s as nações <strong>da</strong><br />

terra. Esse povo será portador do proje<strong>to</strong> de Deus, <strong>to</strong><strong>da</strong> nação que se orientar por esse proje<strong>to</strong> estará<br />

refazendo no hom<strong>em</strong> a imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança de Deus, desfigura<strong>da</strong> pelo pecado. O caminho começa pela<br />

fé, Abrão atende o chamado divino e aceita o risco s<strong>em</strong> restrições. Ele percorre rapi<strong>da</strong>mente a futura<br />

terra prometi<strong>da</strong>, isso mostra que o proje<strong>to</strong> do qual ele é portador é um proje<strong>to</strong> histórico, encarnado<br />

dentro <strong>da</strong> ambigüi<strong>da</strong>de e conflitivi<strong>da</strong>de humana. O que Deus promete a Abrão? Simplesmente aquilo<br />

que qualquer nômade desejava, terra para os rebanhos e filhos para cui<strong>da</strong>r deles. Em outras palavras, o<br />

que Deus promete é exatamente aquilo a que o hom<strong>em</strong> aspira para responder às suas necessi<strong>da</strong>des<br />

vitais. E hoje, quais são as supr<strong>em</strong>as necessi<strong>da</strong>des do hom<strong>em</strong>? Por trás <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des estão as<br />

aspirações e, dentro destas, a promessa de Deus.<br />

* 10-20, O tex<strong>to</strong> é uma antevisão <strong>da</strong> escravidão no Egi<strong>to</strong> e do êxodo. Sarai, com a mudez f<strong>em</strong>inina dentro<br />

do mundo patriarcal, é símbolo do povo oprimido que clama por libertação.<br />

13,1-18, Ló escolhe a região onde estão localiza<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des-estado como Sodoma e Gomorra; assim ele<br />

entra no âmbi<strong>to</strong> de uma estrutura que se sustenta graças à exploração e opressão do povo. Abrão, ao<br />

invés, fica aber<strong>to</strong> para uma história nova, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> unicamente na promessa e no proje<strong>to</strong> de Javé. Não<br />

<strong>to</strong>mando a dianteira para escolher a sua parte, mais uma vez Abrão entrega-se a Deus na fé, para que<br />

este lhe aponte o caminho.<br />

14,1-16, Javé prometera uma terra a Abrão. Na campanha contra os quatro reis, Abrão é forçado a<br />

percorrer a Palestina de norte a sul e de leste a oeste, conforme lhe ordenara Javé (13,7). Essa é a terra<br />

que Javé reserva para o seu povo, e que será conquista<strong>da</strong> no t<strong>em</strong>po de Davi. O tex<strong>to</strong>, fazendo de Abrão<br />

um guerreiro, quer salientar que a terra prometi<strong>da</strong> é dom de Deus, o qual não dispensa a participação<br />

do hom<strong>em</strong>, o povo terá que lutar para conquistá-la. Deus concede o seu dom, mas o hom<strong>em</strong> só o recebe<br />

quando se esforça para conquistá-lo.<br />

* 17-24, Compreend<strong>em</strong>os melhor o tex<strong>to</strong> se v<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Abrão a figura do rei Davi, após conquistar <strong>to</strong>do<br />

o território, Davi fez aliança com a dinastia sacerdotal que governava Jerusalém (Salém). Ele <strong>to</strong>rnou<br />

Jerusalém centro político e religioso do povo; mas qu<strong>em</strong> continuou a fazer o serviço religioso foi a<br />

descendência dos sacerdotes sadocitas, a qual l<strong>em</strong>bra o nome de Melquisedec (Sadoc = jus<strong>to</strong>;<br />

Melquisedec = meu rei é jus<strong>to</strong>). O acordo entre Abrão e o rei de Sodoma faz pensar num poder político<br />

que não está interessado <strong>em</strong> oprimir o povo ou juntar riquezas. Aceitando apenas a parte que cabe a<br />

seus companheiros, Abrão dá um ex<strong>em</strong>plo de justiça, a ca<strong>da</strong> um o que ca<strong>da</strong> um precisa.<br />

15,1-21, Deus promete e o hom<strong>em</strong> aspira; mas na<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> acontece. Deus desafia novamente Abrão com<br />

a promessa, e este acredita e confia. A justiça do hom<strong>em</strong> consiste numa entrega confiante ao Deus que<br />

garante cumprir o que promete, quando ain<strong>da</strong> na<strong>da</strong> pode ser verificado (cf. Hb 11,1). Abrão pede um<br />

sinal; e como sinal, além <strong>da</strong> criação e <strong>da</strong> aliança com Noé, t<strong>em</strong>os aqui a terceira grande aliança. Ora, a<br />

aliança era um acordo <strong>em</strong> que ambos os contraentes se <strong>em</strong>penhavam entre si; era concluí<strong>da</strong> com um<br />

ri<strong>to</strong>, no qual os contraentes passavam entre animais divididos, qu<strong>em</strong> violasse a aliança teria a mesma<br />

33


sorte que esses animais. Not<strong>em</strong>os que somente Javé (fogueira, <strong>to</strong>cha) passa entre os animais, a aliança<br />

com Abrão é um <strong>em</strong>penho exclusivo de Deus, só Deus pode realizar aquilo que prometeu. O esqu<strong>em</strong>a do<br />

Êxodo é fort<strong>em</strong>ente representado no tex<strong>to</strong>, Deus faz Abrão sair de Ur para <strong>da</strong>r-lhe a terra (v. 7); <strong>da</strong><br />

mesma forma, os descendentes de Abrão serão escravos no Egi<strong>to</strong> e Deus os fará sair <strong>da</strong>í para lhes <strong>da</strong>r a<br />

terra (vv. 13-20). Sair para, é o movimen<strong>to</strong> de libertação que <strong>to</strong>rna possível, tan<strong>to</strong> para o indivíduo,<br />

como para o povo ao qual ele pertence, caminhar para a vi<strong>da</strong>.<br />

16,1-16, No Antigo Oriente, uma legislação permitia que a esposa estéril cedesse ao marido uma escrava<br />

para a procriação; o filho nascido <strong>da</strong> escrava era reconhecido como legítimo. Recorrendo a esse artifício<br />

legal, Abrão está querendo facilitar a realização <strong>da</strong> promessa; mas não é isso que Deus quer. Ismael,<br />

filho <strong>da</strong> escrava, é abençoado, mas não é através dele que Javé realizará a promessa. Deus faz um grande<br />

proje<strong>to</strong> para o hom<strong>em</strong>; contudo, muitas vezes, o hom<strong>em</strong> acha impossível realizá-lo, e recorre a<br />

subterfúgios, traindo o desafio contido na promessa e que está dentro <strong>da</strong> aspiração humana.<br />

17,1-27, A mu<strong>da</strong>nça do nome indica um compromisso com Deus para realizar uma missão. A<br />

circuncisão é um ri<strong>to</strong> que indica a pertença ao povo com o qual Deus faz aliança. Esse ri<strong>to</strong>, como o<br />

batismo, supõe o compromisso de viver conforme Deus quer (v. 1). Not<strong>em</strong>os que tan<strong>to</strong> os livres como os<br />

escravos são circunci<strong>da</strong>dos, o povo de Deus nasce aber<strong>to</strong> para <strong>to</strong>dos, e diante de Deus são <strong>to</strong>dos iguais.<br />

É um convite para que os homens também realiz<strong>em</strong> essa igual<strong>da</strong>de entre si.<br />

18,1-15, As pessoas dev<strong>em</strong> estar abertas a situações corriqueiras, pois é através delas que Deus se<br />

manifesta para fazer o seu dom. O dom que Deus promete muitas vezes parece impossível e até mesmo<br />

s<strong>em</strong> cabimen<strong>to</strong> para os homens; contudo, é através <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong>de dos homens que Deus <strong>to</strong>rna<br />

possível a realização do seu proje<strong>to</strong>.<br />

* 16-33, Do povo <strong>da</strong> aliança Deus espera a prática <strong>da</strong> justiça e do direi<strong>to</strong>, que realizam o proje<strong>to</strong> de Deus.<br />

Esse proje<strong>to</strong> provoca a destruição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de injusta. A intercessão de Abraão mostra que o jus<strong>to</strong> se<br />

compadece do povo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Mas o tex<strong>to</strong> levanta perguntas, Quan<strong>to</strong>s jus<strong>to</strong>s são necessários para que<br />

uma ci<strong>da</strong>de não seja destruí<strong>da</strong> pela injustiça? Até onde Deus está dispos<strong>to</strong> a agir com misericórdia? O<br />

tex<strong>to</strong> não responde. O Novo Testamen<strong>to</strong> mostra que Deus, na sua misericórdia, está dispos<strong>to</strong> a salvar<br />

não só uma ci<strong>da</strong>de, mas a humani<strong>da</strong>de <strong>to</strong><strong>da</strong>, e por causa de um só jus<strong>to</strong>, Jesus Cris<strong>to</strong>.<br />

19,1-29, Esta história procura explicar a destruição de duas ci<strong>da</strong>des vizinhas ao mar Mor<strong>to</strong>. Sobressai<br />

aqui a justiça de Deus, que ouve o clamor dos oprimidos (v. 13). Sodoma e Gomorra se <strong>to</strong>rnarão o<br />

símbolo <strong>da</strong> corrupção e <strong>da</strong> injustiça (Is 1,9-10; Jr 49,18; Mt 11,23 etc.). Ló é salvo porque observou a lei<br />

<strong>da</strong> hospitali<strong>da</strong>de, uma <strong>da</strong>s mais importantes no mundo oriental.<br />

* 30-38, O episódio explica a orig<strong>em</strong> dos moabitas (Moab = saído do pai) e dos amonitas (Ben-Ami =<br />

filho do meu povo), povos vizinhos e inimigos de Israel, l<strong>em</strong>brados aqui como fru<strong>to</strong> <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des<br />

condena<strong>da</strong>s. O ges<strong>to</strong> <strong>da</strong>s filhas de Ló é motivado pelo desejo profundo de perpetuar a vi<strong>da</strong>.<br />

20,1-18, O episódio é uma repetição de 12,10-20 (cf. nota). O tex<strong>to</strong> procura também justificar a atitude<br />

de Abraão.<br />

34


21,1-7, O nascimen<strong>to</strong> do filho <strong>da</strong> promessa é um desafio à natureza e à compreensão humana. Para Deus<br />

na<strong>da</strong> é impossível (cf. Gn 18,14).<br />

* 8-21, Enquan<strong>to</strong> a mãe Agar se coloca à distância para não ouvir os gri<strong>to</strong>s do filho prestes a morrer,<br />

Deus ouve esse gri<strong>to</strong> e se apresenta para salvar. Trata-se do filho de uma escrava, Deus está aber<strong>to</strong> para<br />

ouvir os clamores de <strong>to</strong>dos os povos e encaminhá-los para a vi<strong>da</strong>.<br />

* 22-34, O tex<strong>to</strong> quer explicar o significado do nome Bersabéia («poço do juramen<strong>to</strong>» ou «poço <strong>da</strong>s sete<br />

ovelhas»). E, provavelmente, é uma justificativa posterior <strong>da</strong> posse desse território pelos israelitas.<br />

22,1-19, Deus tira <strong>to</strong><strong>da</strong>s as seguranças de Abraão, para lhe fazer sua promessa e entregar-lhe seu dom<br />

(cf. Gn 12,1-9 e nota). Mui<strong>to</strong>s obstáculos parec<strong>em</strong> <strong>to</strong>rnar impossível a realização desse dom e promessa<br />

(velhice, esterili<strong>da</strong>de). Quando a promessa começa a cumprir-se com o nascimen<strong>to</strong> de Isaac, Abraão<br />

poderia acomo<strong>da</strong>r-se e perder de vista o grande proje<strong>to</strong>, para o qual Deus o chamara. Por isso, Deus lhe<br />

pede um novo a<strong>to</strong> de fé que confirme sua obediência. Deus não promete nova segurança para o hom<strong>em</strong><br />

se acomo<strong>da</strong>r; pelo contrário, desafia o hom<strong>em</strong> a estar s<strong>em</strong>pre alerta, a fim de relacionar-se com Deus e<br />

criar uma nova história. Só assim o proje<strong>to</strong> de Deus não será confundido com as limitações dos proje<strong>to</strong>s<br />

humanos.<br />

* 20-24, Esta lista genealógica começa a preparar a história de Isaac e Jacó, e introduz as histórias do<br />

casamen<strong>to</strong> dos dois (cf. Gn 24; 28-29). Era costume dos antigos que os matrimônios foss<strong>em</strong> realizados<br />

entre jovens de clãs aparentados (cf. 24,3-4).<br />

23,1-20, O tex<strong>to</strong> ressalta que a promessa <strong>da</strong> terra começa a <strong>to</strong>rnar-se reali<strong>da</strong>de, ao comprar o terreno de<br />

Macpela, Abraão t<strong>em</strong> pelo menos um lugar para enterrar seus mor<strong>to</strong>s. É o primeiro pe<strong>da</strong>ço de chão dos<br />

antepassados de Israel na terra de Canaã.<br />

24,1-67, Deus continua a providenciar a realização <strong>da</strong> promessa. Passo importante é o casamen<strong>to</strong> de<br />

Isaac, do qual nascerão os futuros descendentes. Note-se que a esposa adequa<strong>da</strong> é reconheci<strong>da</strong> pela<br />

generosi<strong>da</strong>de.<br />

25,1-6, Estes versículos formam um apêndice à história de Abraão. O au<strong>to</strong>r bíblico quer mostrar que o<br />

patriarca, além de beneficiário <strong>da</strong> promessa, é também pon<strong>to</strong> de parti<strong>da</strong> para a formação de outros<br />

povos.<br />

* 7-11, A notícia <strong>da</strong> morte de Abraão encerra a história desse patriarca com novo <strong>to</strong>que de vi<strong>da</strong>, morrer<br />

idoso é sinal de uma vi<strong>da</strong> plena e de cumprimen<strong>to</strong> <strong>da</strong> bênção de Deus. Jamais queri<strong>da</strong> por Deus, a morte<br />

precoce é fru<strong>to</strong> <strong>da</strong> ação perversa dos homens.<br />

* 12-18, Antes de iniciar a história dos filhos <strong>da</strong> promessa (Isaac e Jacó), o au<strong>to</strong>r bíblico fala de Ismael,<br />

filho de Agar, que também formou um grande povo, os ismaelitas, dos quais descend<strong>em</strong> os árabes.<br />

35


2. HISTÓRIA DE ISAAC E JACÓ<br />

* 19-28, A luta dos filhos no ventre materno mostra a futura inimizade entre dois povos irmãos, os<br />

edomitas, descendentes de Esaú, e os israelitas, descendentes de Jacó.<br />

* 29-34, O direi<strong>to</strong> de primogenitura assegurava ao filho mais velho a au<strong>to</strong>ri<strong>da</strong>de patriarcal sobre os<br />

outros irmãos, e também a parte maior na herança. O rela<strong>to</strong> destaca a estupidez de Esaú, que troca seus<br />

direi<strong>to</strong>s por um pra<strong>to</strong> de lentilhas. Essa atitude faz pensar <strong>em</strong> muitas pessoas que vend<strong>em</strong> seus direi<strong>to</strong>s<br />

e até mesmo a própria liber<strong>da</strong>de «a troco de banana».<br />

26,1-11, O episódio é uma repetição de Gn 12,10-20 e 20,1-18.<br />

* 12-35, A briga por causa dos poços é, na ver<strong>da</strong>de, uma luta para a ocupação <strong>da</strong> terra. A promessa feita<br />

a Abraão passa para Isaac e, <strong>em</strong> meio aos confli<strong>to</strong>s, pouco a pouco vai se <strong>to</strong>rnando reali<strong>da</strong>de.<br />

27,1-40, Jacó antes se aprovei<strong>to</strong>u <strong>da</strong> fome do irmão para lhe tirar o direi<strong>to</strong> de primogenitura; agora,<br />

para roubar a bênção patriarcal, ele se une à esperteza <strong>da</strong> mãe e aproveita a cegueira do pai. O tex<strong>to</strong><br />

está preocupado <strong>em</strong> mostrar a supr<strong>em</strong>acia de Israel, povo descendente de Jacó, sobre Edom, povo<br />

descendente de Esaú.<br />

* 27,41-28,9, Jacó e Rebeca fizeram uma trapaça, enganando Esaú e Isaac. Agora, pagam por isso, Jacó<br />

t<strong>em</strong> que fugir para uma terra distante e Rebeca nunca mais verá seu filho querido.<br />

28,10-22, O episódio mostra a essência <strong>da</strong> religião. Religião é a relação misteriosa entre Deus e o<br />

hom<strong>em</strong>, <strong>em</strong>bora transcendente e infinitamente san<strong>to</strong>, Deus está s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> relação viva com as suas<br />

criaturas (esca<strong>da</strong>, anjos). Nessa relação, o hom<strong>em</strong> é incapaz de <strong>to</strong>mar a iniciativa; o máximo a que pode<br />

chegar é entregar-se (sono) para que Deus se manifeste gratuitamente (sonho) e revele o proje<strong>to</strong> que<br />

ele vai realizar na vi<strong>da</strong> do hom<strong>em</strong> (promessa, vv. 13-15). To<strong>da</strong> e qualquer vi<strong>da</strong> humana que esteja<br />

aberta e disponível, <strong>to</strong>rna-se um santuário (Betel = casa de Deus), onde Deus se manifesta, criando vi<strong>da</strong><br />

e história. Cf. Jo 4,21-24.<br />

29,1-30, Jacó agora paga as fraudes passa<strong>da</strong>s, sofrendo as espertezas do tio.<br />

* 29,31-30,24, Jacó teve doze filhos (Dina será substituí<strong>da</strong> por Benjamim - cf. 35,18). Todos serão<br />

assumidos como antepassados <strong>da</strong>s doze tribos que formarão o povo de Israel. O nome de ca<strong>da</strong> filho está<br />

ligado à rivali<strong>da</strong>de entre as mães, vista aqui como drama no qual o próprio Deus <strong>to</strong>ma parte.<br />

30,25-31,21, Labão explorou durante mui<strong>to</strong> t<strong>em</strong>po o trabalho de Jacó. Agora lhe propõe trabalho <strong>em</strong><br />

troca de salário. Jacó recusa e, com mui<strong>to</strong> tino, faz uma proposta aparent<strong>em</strong>ente mais modesta, que o<br />

<strong>to</strong>rnará proprietário dos animais que têm cor anormal. Para entendermos melhor a proposta de Jacó,<br />

l<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos de que no Oriente os carneiros são geralmente brancos e as cabras são pretas. Mais uma<br />

vez Labão engana Jacó (30,35-36). Jacó, porém, usa um expediente para multiplicar os animais de cor<br />

36


anormal (30,37-42), compensando a contínua exploração exerci<strong>da</strong> pelo tio (31,7). Após seis anos nessa<br />

luta (31,41), Jacó volta para a sua terra. O tex<strong>to</strong> mostra que o povo explorado t<strong>em</strong> <strong>to</strong>do o direi<strong>to</strong> de se<br />

defender e de se organizar contra o explorador, a fim de ter meios para viver com digni<strong>da</strong>de.<br />

31,22-32,3, Labão não se conforma com o fa<strong>to</strong> de Jacó ganhar independência econômica e poder assim<br />

escapar de suas mãos. Entretan<strong>to</strong>, diante <strong>da</strong> firmeza de Jacó, ele procura desculpas para o manter sob<br />

seu domínio (o roubo dos ídolos domésticos). Não conseguindo provar na<strong>da</strong>, por causa <strong>da</strong> esperteza de<br />

Raquel, agora só lhe resta uma solução para manter Jacó dependente, uma aliança. Jacó, porém, age de<br />

igual para igual e não como submisso, estabelece um marco que indica uma conquista e limite de<br />

fronteiras (v. 45, estela). Através <strong>da</strong> visão de Labão (vv. 24.29), o au<strong>to</strong>r bíblico mostra que Deus protege<br />

o povo explorado, para que possa permanecer firme <strong>em</strong> suas reivindicações, entra assim numa<br />

igual<strong>da</strong>de de condições diante do explorador e exige os próprios direi<strong>to</strong>s, ganhando independência<br />

econômica e política. A promessa de ter descendência e terra vai se realizando através <strong>da</strong> proteção<br />

divina e <strong>da</strong> luta contínua do hom<strong>em</strong> dentro dos confli<strong>to</strong>s<br />

32,4-22, Jacó sente-se culpado, depois de ser explorado por vinte anos, percebe melhor a trapaça que<br />

fizera contra o irmão. T<strong>em</strong> medo e <strong>to</strong>ma providências para que Esaú o receba b<strong>em</strong>.<br />

* 23-33, Na tensão frente ao encontro com o irmão, Jacó fica sozinho, à noite. Desencadeia-se uma luta<br />

misteriosa com um desconhecido, que é o próprio Deus. Jacó luta a noite <strong>to</strong><strong>da</strong>, porque deseja a bênção<br />

que preserve sua pessoa e seus bens. Antes de abençoá-lo, o desconhecido lhe dá o nome de Israel, que<br />

será o nome do povo <strong>da</strong> promessa, a bênção não terá <strong>em</strong> vista pretensões pessoais, mas a formação de<br />

um povo. O desconhecido, porém, não revela o próprio nome, Jacó não poderá manipular a Deus, como<br />

fez com o pai e o irmão. De Jacó nascerá um povo, este vai ter como missão realizar o proje<strong>to</strong> de Deus, e<br />

jamais poderá trapacear esse proje<strong>to</strong> s<strong>em</strong> sofrer sérias conseqüências. No decorrer <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o hom<strong>em</strong><br />

acaba tendo um encontro decisivo com Deus. No centro desse encontro há uma luta tenaz, <strong>em</strong> que o<br />

hom<strong>em</strong> acaba reduzido (ferido) nas suas pretensões egocêntricas; mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po, descobre o<br />

destino (novo nome) que Deus lhe prepara na história.<br />

33,1-20, O encontro com o irmão é constrangedor para Jacó, consciente de sua própria culpa, ele<br />

procura se desvencilhar o quan<strong>to</strong> antes do irmão, mas recebe uma lição de generosi<strong>da</strong>de, hospitali<strong>da</strong>de<br />

e fraterni<strong>da</strong>de. Na casa de Labão, Jacó precisou usar as mesmas armas do explorador para se libertar; na<br />

luta misteriosa com Deus, ele aprendeu o próprio limite e que não se pode manipular a Deus; e no<br />

encontro com Esaú, recebe uma lição de fraterni<strong>da</strong>de<br />

34,1-31, Nesta narrativa se ajuntam várias re<strong>da</strong>ções difíceis de separar. Provavelmente, o tex<strong>to</strong> reflete o<br />

difícil assentamen<strong>to</strong> de grupos patriarcais na terra de Canaã antes do êxodo e o agitado relacionamen<strong>to</strong><br />

entre clãs de pas<strong>to</strong>res e os habitantes <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, tan<strong>to</strong> do pon<strong>to</strong> de vista <strong>da</strong>s uniões matrimoniais<br />

como <strong>da</strong>s relações políticas. Aqui já transparece aquilo que vai ser uma constante na época <strong>da</strong><br />

instalação após o êxodo, um confli<strong>to</strong> sociocultural entre israelitas e cananeus.<br />

35,1-15, O <strong>to</strong>m <strong>da</strong> narrativa é profun<strong>da</strong>mente religioso, o próprio deslocamen<strong>to</strong> de Jacó é descri<strong>to</strong> como<br />

se fosse uma procissão ou romaria e termina com uma teofania, is<strong>to</strong> é, manifestação de Deus. Quer<br />

salientar um dos lugares de cul<strong>to</strong> para Israel, o futuro santuário de Betel, que se <strong>to</strong>rnou o centro<br />

religioso <strong>da</strong>s tribos do Norte, quando estas se separaram do reino do Sul, após a morte de Salomão (cf.<br />

37


1Rs 12,26-33). O tex<strong>to</strong> salienta que o Deus adorado <strong>em</strong> Betel é o mesmo Deus dos pais, o Deus <strong>da</strong><br />

promessa.<br />

* 16-29, Este resumo encerra a história de Isaac, narrando a sua morte e sepultamen<strong>to</strong>. Ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, introduz a história dos filhos de Jacó, contando o nascimen<strong>to</strong> de Benjamim, que v<strong>em</strong> completar a<br />

lista dos doze filhos, antepassados <strong>da</strong>s doze tribos de Israel.<br />

36,1-43, O tex<strong>to</strong> bíblico conserva a genealogia de Esaú, pormenorizando pessoas e locais. A intenção é<br />

salientar que o povo edomita é irmão de Israel, devendo por isso haver entre ambos uma relação de<br />

fraterni<strong>da</strong>de.<br />

3. HISTÓRIA DE JOSÉ E SEUS IRMÃOS<br />

37,1-11, A história de José se abre num clima dramático, preferido pelo pai e odiado pelos irmãos,<br />

descortina-se diante dele um futuro importante, apresentado <strong>em</strong> sonhos. O final <strong>da</strong> história apresentará<br />

José como instrumen<strong>to</strong> de Deus para salvar a própria família.<br />

* 12-36, Como no caso de Caim, inveja e ódio faz<strong>em</strong> que os irmãos projet<strong>em</strong> a morte de José. Sendo<br />

primogêni<strong>to</strong>, Rúben se sente responsável e procura salvar José. Os fa<strong>to</strong>s, porém, se precipitam e <strong>to</strong>dos<br />

pensam que José morreu. Agora é a vez de Jacó pagar as tramas que havia fei<strong>to</strong> contra seu irmão Esaú e<br />

seu pai Isaac.<br />

38,1-30, Embora estrangeira como Rute, Tamar foi incorpora<strong>da</strong> ao povo de Israel e, através de seu filho<br />

Farés, <strong>to</strong>rnou-se antepassa<strong>da</strong> do rei Davi (cf. Rt 4,12.18-22). Ela também fará parte <strong>da</strong> genealogia de<br />

Jesus (cf. Mt 1,3). O tex<strong>to</strong> mostra como funcionava a lei do levira<strong>to</strong>, quando o marido morria s<strong>em</strong> deixar<br />

filhos, seu irmão era obrigado por lei a se unir com a viúva, e o filho que nascesse seria considerado<br />

como filho do irmão mor<strong>to</strong>. Essa lei visava a conservar a herança no âmbi<strong>to</strong> <strong>da</strong> família (cf. Dt 25,5-10).<br />

Onã é condenado por violar essa lei.<br />

39,1-23, José vai descendo aos limites do sub-humano, de pessoa livre, <strong>to</strong>rna-se escravo, e de escravo<br />

<strong>to</strong>rna-se prisioneiro. Contudo, de forma misteriosa e incompreensível para o hom<strong>em</strong>, salienta-se quatro<br />

vezes que «Javé estava com José». S<strong>em</strong> saber, qualquer pessoa pode estar sendo instrumen<strong>to</strong> de Deus, e<br />

através dela, Deus espalha suas bênçãos para <strong>to</strong>dos os que a cercam.<br />

40,1-23, Para os antigos, o sonho era um modo com que Deus se manifestava ao hom<strong>em</strong> e lhe revelava o<br />

futuro. O significado do sonho, porém, só podia ser interpretado por Deus. Mostrando que José é capaz<br />

de interpretar os sonhos, o tex<strong>to</strong> salienta que ele sabe discernir a ação de Deus na história, is<strong>to</strong> é, sabe<br />

ler o que Deus está para realizar.<br />

41,1-36, Começa a ascensão de José. Além do seu discernimen<strong>to</strong> para interpretar a ação de Deus, ele<br />

d<strong>em</strong>onstra também o tino administrativo que salvará <strong>da</strong> fome o país. José é sábio, t<strong>em</strong> capaci<strong>da</strong>de de<br />

38


discernir a ação de Deus e agir de acordo, pois a providência de Deus não dispensa o hom<strong>em</strong> de analisar<br />

as situações e <strong>to</strong>mar atitudes adequa<strong>da</strong>s.<br />

* 37-57, Por sua previdência e tino administrativo, José se <strong>to</strong>rna vice-rei do Egi<strong>to</strong> e, graças a ele, é<br />

conti<strong>da</strong> a situação de fome do povo. Seus filhos Manassés e Efraim formarão duas tribos <strong>em</strong> Israel, que<br />

juntas formam a «Casa de José».<br />

42,1-38, Os sonhos de José se concretizam, seus irmãos se prostram diante dele (cf. 37,5-11). José os<br />

trata com severi<strong>da</strong>de para verificar o arrependimen<strong>to</strong> deles, e os submete a uma série de provas. O que<br />

ele quer saber é se os irmãos se modificaram, e se são capazes de agir com ver<strong>da</strong>deira fraterni<strong>da</strong>de.<br />

Simeão foi escolhido por ser o segundo filho, pois José fica sabendo que Rúben, o mais velho, não era<br />

culpado. Como José, Benjamim era filho de Raquel, a esposa ama<strong>da</strong> de Jacó, será que os irmãos odeiam<br />

Benjamim como odiavam a José?<br />

43,1-34, O teste de fraterni<strong>da</strong>de a que José submete os irmãos começa a surtir efei<strong>to</strong>, Judá se<br />

responsabiliza por Benjamim. A boa acolhi<strong>da</strong> de José causa espan<strong>to</strong> nos irmãos e prepara o pon<strong>to</strong><br />

máximo do encontro.<br />

44,1-34, Cf. nota <strong>em</strong> 42,1-38. Judá, que tinha sugerido vender José como escravo (Gn 37,26-27) e fizera<br />

o pai sofrer, agora está dispos<strong>to</strong> a se <strong>to</strong>rnar escravo para que seu irmão Benjamim, preferido do pai,<br />

possa voltar para casa. Dessa forma, Judá redime a falta que cometera no passado contra a fraterni<strong>da</strong>de.<br />

45,1-28, Até agora o tratamen<strong>to</strong> entre José e os irmãos era de um senhor para com os servos. Ao ver que<br />

os irmãos se transformaram, José se declara, «Eu sou José, irmão de vocês». E o clima se <strong>to</strong>rna fraterno.<br />

As palavras de José (vv. 3-8) mostram o pon<strong>to</strong> de vista <strong>da</strong> fé sobre os acontecimen<strong>to</strong>s, Deus age através<br />

dos homens e <strong>da</strong>s situações para realizar seu proje<strong>to</strong> de vi<strong>da</strong>. Muitas vezes não compreend<strong>em</strong>os os<br />

acontecimen<strong>to</strong>s e situações porque não somos capazes de descobrir o que Deus quer com eles.<br />

Caminhamos no escuro e precisamos acreditar que Deus vai realizando o seu proje<strong>to</strong> através <strong>da</strong> nossa<br />

própria incompreensão. Só no fim compreender<strong>em</strong>os que Deus estava jun<strong>to</strong> conosco durante <strong>to</strong>do o<br />

t<strong>em</strong>po, encaminhando nossa história para a liber<strong>da</strong>de e a vi<strong>da</strong>.<br />

46,1-47,12, Em seu final, o livro do <strong>Gênesis</strong> começa a preparar o acontecimen<strong>to</strong> do êxodo. De fa<strong>to</strong>, <strong>em</strong><br />

Bersabéia, Deus anuncia a Jacó, «Eu descerei com você ao Egi<strong>to</strong> e o farei voltar de lá» (v. 4). A região de<br />

Gessen fica no nordeste do Egi<strong>to</strong>, e <strong>da</strong>í sairá futuramente o grupo que formará o núcleo central do povo<br />

<strong>da</strong> Aliança. Em 47,1-12 t<strong>em</strong>os duas versões diferentes sobre a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> família de Jacó no Egi<strong>to</strong> (vv.<br />

1-6b e vv. 5b-12).<br />

13-26, A narrativa <strong>da</strong> política agrária de José foi escrita na corte de Salomão, e tinha dupla finali<strong>da</strong>de,<br />

educar os funcionários <strong>da</strong> corte e justificar a política do rei. Salomão ado<strong>to</strong>u o sist<strong>em</strong>a políticoeconômico<br />

do Egi<strong>to</strong>, instituindo os trabalhos forçados e o impos<strong>to</strong> <strong>em</strong> dinheiro e gêneros. O au<strong>to</strong>r<br />

procura justificar o sist<strong>em</strong>a adotado por Salomão, mostrando que o sist<strong>em</strong>a foi criado por um hebreu.<br />

39


* 47,27-48,22, O tex<strong>to</strong> é uma combinação de tradições para explicar várias coisas, projetando-as no<br />

passado para apresentá-las como disposições de Jacó, por que Manassés e Efraim, filhos de José, se<br />

<strong>to</strong>rnaram antepassados de duas tribos? Por que essas tribos prosperaram? Por que a tribo de Efraim<br />

superou a tribo de Manassés?<br />

49,1-33, Estas previsões atribuí<strong>da</strong>s a Jacó reflet<strong>em</strong> evident<strong>em</strong>ente um período posterior, quando o povo<br />

de Israel já estava organizado <strong>em</strong> tribos dentro <strong>da</strong> terra de Canaã. Portan<strong>to</strong>, espelham uma situação<br />

depois do êxodo. De um lado, mostram as dificul<strong>da</strong>des que as tribos tiveram de enfrentar, quando<br />

instala<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Canaã. Por ex<strong>em</strong>plo, Issacar teve de lutar dentro do sist<strong>em</strong>a de trabalhos forçados <strong>da</strong>s<br />

ci<strong>da</strong>des-estado cananéias. Dã precisou enfrentar exérci<strong>to</strong>s montados. Gad deparou com uma estratégia<br />

guerrilheira. Efraim e Manassés (José) lutaram contra exérci<strong>to</strong>s de elite que usavam arcos. De outro<br />

lado, o tex<strong>to</strong> mostra a sorte de ca<strong>da</strong> tribo, buscando explicações passa<strong>da</strong>s, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre mui<strong>to</strong> claras,<br />

Rúben e Simeão desapareceram como tribo; Levi não possui nenhum território para si; Judá, aos<br />

poucos, foi ganhando importância, até que se <strong>to</strong>rnou, com Davi, a tribo principal na época do reino<br />

unido; Zabulon foi trabalhar na marinha. Outras informações do tex<strong>to</strong> são obscuras.<br />

50,1-26, O último capítulo re<strong>to</strong>ma o ambiente familiar que predominou na história de José, mas s<strong>em</strong> o<br />

mesmo <strong>to</strong>m dramático. Depois de narrar o funeral de Jacó, re<strong>to</strong>ma o t<strong>em</strong>a teológico que conduziu <strong>to</strong><strong>da</strong> a<br />

história de José (cf. nota <strong>em</strong> 45,1-28), Deus age dentro dos acontecimen<strong>to</strong>s, e só aqueles que enxergam<br />

isso poderão transformar a relação escravo-patrão <strong>em</strong> relações de fraterni<strong>da</strong>de. Dentro desse<br />

discernimen<strong>to</strong> e clima, Deus formará um povo numeroso (v. 20) que, escravizado, será por fim libertado<br />

para organizar uma socie<strong>da</strong>de onde haja liber<strong>da</strong>de e vi<strong>da</strong>.<br />

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BIBLIOGRAFIA<br />

Torá – Edi<strong>to</strong>ra Sefer, 1962.<br />

G. Fohrer, História <strong>da</strong> Religião de Israel, Paulinas, 1982.<br />

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www.monfort.org.br/old/index,php?secao=cartas<br />

www.edicoescnbb.com.br/site/files/Biblia/genesis<br />

ESTA APOSTILA É PARA USO INTERNO<br />

DOS ALUNOS DO CURSO DE<br />

TEOLOGIA PARA LEIGOS DA<br />

ARQUIDIOCESE DE LONDRINA – PR.<br />

PROF. IR. ELIZABETH MENDES, FCJ<br />

LONDRINA, JULHO DE 2011<br />

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