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163133 Damo (M) Para o que der e vier (parte 2)

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asicamente, à confirmação da existência da referida liga e dos principais locais onde<br />

eram realizados os jogos - fornecem uma vaga idéia de onde e por<strong>que</strong> os negros<br />

disputavam um campeonato paralelo à prestigiada Liga Metropolitana.<br />

Na verdade, a Liga dos Canelas Pretas, como era popularmente conhecida,<br />

chamava-se Liga Nacional de Foot-Ball Porto Alegrense e dela participavam várias<br />

agremiações, todas elas formadas por jogadores negros e mulatos. Bento Gonçalves e<br />

Riograndense eram os dois clubes de maior desta<strong>que</strong> entre os "canelas pretas"; talvez<br />

por<strong>que</strong> seus quadros fossem tecnicamente equilibrados e notadamente superiores aos<br />

demais. Porém, pelo depoimento de Genésio Martins dos Santos, constata-se uma<br />

rivalidade de ordem extra-campo, motivada por uma espécie de racismo segmentado: o<br />

Rio-Grandense sendo o representante dos mulatos - "racista entre nós, negros, pois <strong>que</strong><br />

só admitia mulatos e mulatas como torcedores, [sendo <strong>que</strong>] o mais ferrenho racista era<br />

justamente Francisco Rodrigues, pai do Lupicínio" (Jornal do Inter, 1975) - e o Bento<br />

Gonçalves, identificado com e pelos negros; o <strong>que</strong> lhe rendeu, inclusive, a distinção de<br />

ser o primeiro clube da "raça" a excursionar pelo interior do Estado (idem). Enquanto<br />

o primeiro - encarnado, verde e amarelo, como a bandeira do Rio Grande do Sul - era<br />

formado por funcionários públicos e de hotéis, o "Bento" - identificado nas cores azul e<br />

vermelha, referência ao Grêmio e ao Internacional, respectivamente - arregimentava<br />

seus quadros entre os engraxates e outros profissionais consi<strong>der</strong>ados de baixo status<br />

mesmo entre a comunidade negra. Mas havia também o Primavera, com campo na<br />

Gonçalves Dias; o 1 0 de Novembro, formado pelos funcionários do Fomo do Lixão; o 8<br />

de Setembro, verde e amarelo, representante da Colônia Africana, entre outros.<br />

Tão dificil quanto inferir detalhes sobre este <strong>que</strong> se constituía num espaço de<br />

intensa sociabilidade, mais ou menos restrito à Colônia Africana 52 e à Ilhota,53 é<br />

Liga Metropolitana. Esta também seria uma das motivações <strong>que</strong> levaram à criação da Liga dos Canelas<br />

Pretas.<br />

52 "Área da cidade em <strong>que</strong> se estabeleceram, em torno da época da abolição, numerosas famílias<br />

negras. Compreendia os altos do atual Bairro Rio Branco, ou, mais precisamente, das ruas Castro Alves,<br />

Casemiro de Abreu, Vasco da Gama, Cabral e Liberdade" (Franco: 118). Vários clubes, entre eles o Ruy<br />

Barbosa, Cruzeiro e Americano - estes dois últimos chegaram a conquistar, na década de vinte, cada qual<br />

um Campeonato Gaúcho - cujos campos eram situados onde atualmente se encontra o Hospital de<br />

Clínicas, no início da Protásio Alves - mantinham forte vínculo com a Colônia. Na verdade, estes clubes<br />

foram surgindo a partir da segunda metade da década de dez e se incorporaram à Liga Metropolitana,<br />

absorvendo, na década seguinte, <strong>parte</strong> dos negros <strong>que</strong> até então participavam, com seus clubes segregados,<br />

da Liga dos Canelas Pretas. O Ruy Barbosa foi extinto na década de trinta com o advento do<br />

profissionalismo e o Americano, mais ou menos pelos mesmos motivos, desapareceu depois de uma fusão<br />

mal sucedida com os alunos do colégio homônimo. Já o Cruzeiro, ainda em atividade, mudou-se do início<br />

para o final da Protásio, na periferia da cidade e mantém-se no amadorismo.<br />

53 "Área <strong>que</strong> desapareceu da geografia urbana em razão da canalização do Arroio Dilúvio,<br />

perdendo inteiramente suas caracteristicas depois da execução do Projeto Renascença, <strong>que</strong> resultou na<br />

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