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o videoclipe ea educação - Associação de Leitura do Brasil

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O VIDEOCLIPE E A EDUCAÇÃO: IDENTIDADES FRAGMENTADAS NO<br />

CONTEMPORÂNEO<br />

Maria Joana Brito da Silva Montes<br />

Mestranda em Semiótica, Tecnologias <strong>de</strong> Informação e Educação<br />

Universida<strong>de</strong> Braz Cubas<br />

Resumo:<br />

A presente pesquisa <strong>de</strong>senvolve uma leitura crítico-conceitual <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong><br />

brasileiro A minha alma - a paz que eu não quero (1999), <strong>do</strong> grupo musical O<br />

Rappa. A partir <strong>de</strong> aspectos educacionais, socioculturais, políticos e tecnológicos,<br />

objetiva-se uma pesquisa multidisciplinar. O méto<strong>do</strong> a ser utiliza<strong>do</strong> é o indutivo<strong>de</strong>dutivo<br />

sob parâmetros <strong>de</strong>scritivos e reflexivos <strong>do</strong> objeto, cuja narrativa<br />

problematiza a constituição <strong>do</strong> sujeito social e sua formação no contemporâneo,<br />

ressaltan<strong>do</strong> referências <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> com a mídia, a escola e a leitura. O <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong><br />

estimula uma leitura sincrética a partir <strong>do</strong> verbal, visual e sonoro. Tal discurso é uma<br />

narrativa e, embora seja ficção, conta a história não apenas <strong>de</strong> um sujeito, mas <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong>. Cada pessoa torna-se um fragmento <strong>de</strong> história em busca <strong>de</strong><br />

objetos <strong>de</strong> valor, com conquistas e perdas. Registra-se que o <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> contribui,<br />

efetivamente, com o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem na sala <strong>de</strong> aula, ao estimular<br />

a reflexão e a leitura, sobretu<strong>do</strong> no ensino médio. Portanto, no <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong>, há três<br />

categorias discursivas indicadas como objetos <strong>de</strong> leitura: imagem, experiência e<br />

subjetivida<strong>de</strong>. A imagem é a forma com que foi trabalha<strong>do</strong>. Já a experiência e a<br />

subjetivida<strong>de</strong> estão relacionadas ao conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo. Ao <strong>de</strong>screver o <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong>,<br />

faz-se necessário compreen<strong>de</strong>r sua dinâmica enquanto cultura digital,<br />

contextualizan<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s contemporâneos numa abordagem teóricometo<strong>do</strong>lógica.<br />

Para isso, <strong>de</strong>stacam-se os estu<strong>do</strong>s contemporâneos em Hans Ulrich<br />

Gumbrecht (1998), Jurandir Freire Costa (2004), Stuart Hall (2003/2006), Néstor<br />

García Canclini (2008) e Humberto Maturana (2001), entre outros. Trata-se <strong>de</strong> um<br />

contexto complexo com riqueza <strong>de</strong> linguagens, as quais po<strong>de</strong>m ser observadas na<br />

gestualida<strong>de</strong>, na vestimenta <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, na musicalida<strong>de</strong> e na estrutura da fala.<br />

Palavras-chave: Vi<strong>de</strong>oclipe, escola contemporân<strong>ea</strong>, leitura<br />

1


1. Introdução<br />

O problema a ser aborda<strong>do</strong> neste estu<strong>do</strong> é investigar conceitualmente a<br />

relação <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> brasileiro A minha alma (A paz que eu não quero), <strong>do</strong> grupo<br />

musical O Rappa (1999), com a socieda<strong>de</strong> contemporân<strong>ea</strong>, ten<strong>do</strong> como referência a<br />

escola pública. Assim, foca-se nas experiências <strong>do</strong> sujeito social e equaciona-se<br />

uma dinâmica da formação educacional, articulan<strong>do</strong> estratégias <strong>de</strong> leitura<br />

discursivas capazes <strong>de</strong> reconsi<strong>de</strong>rar a formação sociocultural, política e econômica.<br />

A leitura crítica <strong>do</strong> audiovisual justifica-se na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar o mun<strong>do</strong><br />

contemporâneo e compartilhar idéias sobre a formação <strong>do</strong> sujeito social para<br />

<strong>de</strong>senvolver atitu<strong>de</strong>s como respeito mútuo e interesse por objetivos comuns, que<br />

são importantes para o exercício <strong>de</strong>mocrático da socieda<strong>de</strong>.<br />

Gumbrecht (1998), em seu primeiro conceito, o <strong>de</strong> <strong>de</strong>stemporalização<br />

<strong>do</strong>minante, <strong>de</strong>fine que, ao mesmo tempo em que o futuro, no contemporâneo, está<br />

aberto à seleção <strong>de</strong> opções, encontra-se também bloqu<strong>ea</strong><strong>do</strong>, pois é impossível<br />

prevê-lo. Tempo e espaço se confun<strong>de</strong>m. O que antes era impossível em termos <strong>de</strong><br />

tempo e espaço, agora não possui mais bloqueios.<br />

A internet é um exemplo. Os e-mails quebram a barreira <strong>de</strong> tempo que separa<br />

os usuários-interatores. A cada momento surgem alternativas produzidas pela<br />

tecnologia. O sujeito vive o conflito <strong>de</strong> estar sempre se atualizan<strong>do</strong>, pois o presente<br />

parece comandar a cena e o futuro é in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>.<br />

No segun<strong>do</strong> conceito, <strong>de</strong> <strong>de</strong>stotalização, Gumbrecht elenca que tal campo da<br />

não-hermenêutica contribui para se observar o mun<strong>do</strong> não mais centra<strong>do</strong> na figura<br />

<strong>do</strong> sujeito, mas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a emergência <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>. Tal conceito se inscreve e<br />

<strong>de</strong>screve um esteticismo que diz respeito às gran<strong>de</strong>s abstrações.<br />

A interação com o processo pauta-se <strong>de</strong> diferentes formas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

sentimento <strong>de</strong> si para com o outro até as diversas técnicas que avançam<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente, tornan<strong>do</strong>-se, por vezes, difícil <strong>de</strong> acompanhar o sistema.<br />

Por fim, no terceiro, <strong>de</strong>sreferencialização, o autor cita a experiência <strong>do</strong><br />

trabalho humano, trazen<strong>do</strong> a sensação <strong>de</strong> enfraquecimento <strong>do</strong> contato com o mun<strong>do</strong><br />

2


externo. O sujeito move-se num espaço pleno <strong>de</strong> representações que já não contam<br />

com a referência segura <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> externo.<br />

O sujeito experimenta a valida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> na convivência, na aceitação e no<br />

respeito pelo outro a partir <strong>de</strong> si mesmo (MATURANA, 2001,p. 29). Educar, então,<br />

seria um processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem em que o sujeito convive com o<br />

semelhante, transforman<strong>do</strong> a si e ao outro no espaço relacional <strong>de</strong> convivência<br />

dinâmica. O respeito <strong>de</strong> si está na a<strong>de</strong>quação da forma <strong>de</strong> vida cotidiana, que não<br />

se resume numa ficção <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> distante, mas sim num viver com dignida<strong>de</strong>.<br />

O <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> intensifica informações visuais, verbais e sonoras com recursos<br />

midiáticos. Reflete-se, no <strong>de</strong>screver, a configuração corporal capaz <strong>de</strong> impulsionar<br />

uma discussão entre experiência e subjetivida<strong>de</strong>. Segun<strong>do</strong> Garcia (2008), a partir da<br />

imagem, <strong>de</strong>screve-se sutilezas que ressaltam o entre lugar - espaço <strong>de</strong> (inter)<br />

subjetivida<strong>de</strong>s. As experiências são representações simbólicas da r<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong><br />

espelhada nas cenas em questão. A subjetivida<strong>de</strong> provoca as relações com o<br />

universo e está relacionada com o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> ao dialogar sobre as<br />

diferenças sociais.<br />

Segun<strong>do</strong> Arlin<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> (1995), <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> é uma tentativa <strong>de</strong> solucionar a<br />

introdução mais orgânica <strong>do</strong> som com a faixa da imagem. Trata-se <strong>de</strong> um produto<br />

audiovisual <strong>de</strong> curta duração, constituí<strong>do</strong> por efeitos especiais (visuais e sonoros) e<br />

movimentos <strong>de</strong> câmera. Desempenha um papel importante, principalmente no que<br />

concerne à forma <strong>de</strong> expressar o conteú<strong>do</strong> audiovisual, assim como a letra, a<br />

melodia e o ritmo.<br />

Macha<strong>do</strong> diz que o sistema digital dá ao <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> uma redimensão<br />

estrutural, libertan<strong>do</strong>-o <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los narrativos ou jornalísticos. Assim sen<strong>do</strong>, por<br />

meio da informática e sua penetração na criação <strong>de</strong> imagem eletrônica e digital,<br />

percebe-se um rendimento gráfico. Os <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong>s são bem aceitos pelo público, que<br />

observa movimentos “harmônicos” com a música ao valorizar as sensações a partir<br />

<strong>de</strong> informações que acompanham ritmo e imagem. O <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> é uma forma <strong>de</strong><br />

expressão que rapidamente criou a<strong>de</strong>ptos, embora haja opiniões contrárias, as quais<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a narrativa clássica. O audiovisual mobiliza procedimentos num momento<br />

em que a produção <strong>de</strong> arte <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> fatores, entre eles o financeiro.<br />

3


Para Tiago Soares (2006), os especta<strong>do</strong>res ouvem e vêem o audiovisual<br />

numa ação simultân<strong>ea</strong>. O <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> é constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> código secundário (imagem em<br />

movimento) ao traduzir um código primário (canção) numa linguagem imagética,<br />

num conjunto <strong>de</strong> regras que permitem a codificação e, como conseqüência, a sua<br />

constituição.<br />

O <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> vem sen<strong>do</strong> trata<strong>do</strong>, aca<strong>de</strong>micamente, como estrutura complexa,<br />

ten<strong>do</strong> em jogo estratégias <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>, necessitan<strong>do</strong> relacionar o som à<br />

imagem, inclusive a nível industrial. Tais aspectos fazem parte da lógica da indústria<br />

fonográfica. Este sistema produtivo da música popular massiva visa não apenas a<br />

concepção sonora e visual como estabelece, principalmente, estratégias <strong>de</strong> geração<br />

<strong>de</strong> consumo. O artista protagonista e a equipe <strong>de</strong> diretores e marketing discutem os<br />

<strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos <strong>de</strong> consumo e as formas <strong>de</strong> promoção, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a canção à criação<br />

<strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> e o álbum fonográfico Tu<strong>do</strong> isso constitui a forma com que o <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong><br />

será introduzi<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> massivo.<br />

Durante a execução <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> A minha alma (1999), <strong>do</strong> grupo musical O<br />

Rappa, percebe-se que este produz uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> efeitos, projetan<strong>do</strong> recortes<br />

metafóricos sobre a violência urbana e o me<strong>do</strong> gera<strong>do</strong> no seio social. Portanto, a<br />

expressão artística ficcionista chama atenção para fatos que são observa<strong>do</strong>s no<br />

cotidiano contemporâneo, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a fragmentação <strong>de</strong> valores éticos e<br />

humanos na socieda<strong>de</strong>. Isto significa a exclusão social, uma vez que o sujeito é<br />

discrimina<strong>do</strong> no espaço em que vive e <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s seus direitos <strong>de</strong> cidadão.<br />

Stuart Hall (2006) coloca que a fragmentação acelerada, o imprevisto e a<br />

progressiva <strong>de</strong>sintegração social levam a uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confrontos<br />

intergrupais, numa proliferação <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> batalhas. Não mais se procura<br />

i<strong>de</strong>ntificar o senti<strong>do</strong> para <strong>de</strong>pois resgatá-lo. A experiência <strong>de</strong>termina a condição <strong>de</strong><br />

verda<strong>de</strong> em que ocorre o conhecimento e a troca <strong>de</strong> informação. Para experimentar<br />

o mun<strong>do</strong>, torna-se necessário vivê-lo.<br />

A edição <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> segue o padrão (fragmenta<strong>do</strong> e não-lin<strong>ea</strong>r) a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong><br />

pela Music Television (MTV-2006) 1<br />

, com cortes rápi<strong>do</strong>s que buscam na imagem as<br />

batidas <strong>do</strong> compasso da música, num plano <strong>de</strong> seqüências complexas. Este<br />

procedimento é uma forma <strong>de</strong> estimular o especta<strong>do</strong>r através da imagem. O<br />

1 Canal <strong>de</strong> TV pago, estaduni<strong>de</strong>nse sedia<strong>do</strong> em Nova Iorque.<br />

4


produtor <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> parece querer atingir o público e este quer justiça, cidadania.<br />

Ou seja, encontrar a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que está fragmentada como sujeito.<br />

O grupo O Rappa ficou conheci<strong>do</strong> por suas músicas <strong>de</strong> impacto social. O<br />

ritmo da banda incorpora vários elementos e estilos musicais como: reggae, rock,<br />

samba, funk, rap entre outros da MPB 2<br />

. O nome “O Rappa” vem da <strong>de</strong>signação<br />

popular aos policiais que interceptam camelôs (ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res ambulantes), o “p” a<br />

mais na palavra Rappa surgiu apenas para diferenciar. O grupo lançou seu primeiro<br />

compact disc em 1994. Em 1996, foi lança<strong>do</strong> o CD Rappa Mundi, ingressan<strong>do</strong> a<br />

banda no cenário nacional. Depois <strong>de</strong> três anos, o grupo, mais amadureci<strong>do</strong>, lançou<br />

um novo álbum. Entre as músicas, uma das mais fortes é A minha alma (A paz que<br />

não quero), letra <strong>de</strong> Marcelo Yuka (LUSVARGHI, 2003).<br />

Essa comunicação parece ser contemporân<strong>ea</strong> e midiática, ou seja, atravessa<br />

fronteiras <strong>de</strong> espaço e tempo. Exerce uma função crítica em relação a quem assiste<br />

e emerge num processo <strong>de</strong> codificação e <strong>de</strong>codificação (HALL, 2003) utiliza<strong>do</strong> pelos<br />

interlocutores.<br />

Diante <strong>de</strong> tamanha complexida<strong>de</strong> discursiva, faz-se necessário um recorte, no<br />

qual há a <strong>de</strong>scrição e a fundamentação teórica a partir <strong>de</strong> aspectos socioculturais,<br />

políticos e tecnológicos, numa proposta <strong>de</strong> pesquisa multidisciplinar. Nesta<br />

perspectiva, contextualiza-se a formação <strong>do</strong> sujeito, ten<strong>do</strong> a mídia e a <strong>educação</strong><br />

como principais media<strong>do</strong>ras.<br />

Neste caso, sugere-se uma reflexão que expõe <strong>de</strong>bates acerca da r<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong><br />

crítica da comunida<strong>de</strong> contemporân<strong>ea</strong>: “vivemos em escolas ou prisões/<br />

con<strong>do</strong>mínios ou prisões?”. A violência e o me<strong>do</strong> inibem o cidadão <strong>de</strong> seus direitos,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-o submeti<strong>do</strong> ao cárcere priva<strong>do</strong>.<br />

Mesmo fazen<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> uma década que este <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> foi lança<strong>do</strong>, ele<br />

continua sen<strong>do</strong> atual. Parece ser um reflexo da r<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong> brasileira: a favela, os<br />

jovens sem perspectiva, a miséria e a violência inserida no cotidiano <strong>do</strong> povo.<br />

O sujeito recebe informações, ou seja, aprendizagens que irão estruturá-lo<br />

durante a sua vida. O fator social influi no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> ensinoaprendizagem,<br />

sen<strong>do</strong> que os aspectos sociais, culturais e econômicos das camadas<br />

2 Música Popular <strong>Brasil</strong>eira<br />

5


<strong>de</strong> renda mais baixa, o histórico familiar e as condições internas são significantes na<br />

formação <strong>do</strong> sujeito, isto é, no seu <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

2. Uma leitura testemunhal <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r<br />

O especta<strong>do</strong>r vive <strong>do</strong>mínios globaliza<strong>do</strong>s, cria re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s,<br />

modifican<strong>do</strong> estilos <strong>de</strong> comunicação e articula diversas formas <strong>de</strong> leitura. Ser<br />

especta<strong>do</strong>r hoje não se resume apenas em ver espetáculos, mas sim em ver/ler o<br />

mun<strong>do</strong>. Em suma, somos especta<strong>do</strong>res e leitores da nossa história.<br />

Figura 1 – O homem observa a cena. 3<br />

O olhar <strong>do</strong> homem <strong>de</strong> óculos na cena induz a uma série <strong>de</strong> hipóteses sobre a<br />

sua percepção <strong>do</strong>s acontecimentos e po<strong>de</strong> ser compara<strong>do</strong> ao especta<strong>do</strong>r que<br />

assiste pela tela. O sujeito vai <strong>de</strong>codifican<strong>do</strong>, quer dizer, reunin<strong>do</strong> vários elementos<br />

lingüísticos das passagens visuais até chegar aos personagens. Estes lhe retornam<br />

uma idéia <strong>de</strong>codificada, isto é, transformada numa opinião <strong>do</strong> que vê/lê, dan<strong>do</strong><br />

forma e tiran<strong>do</strong> conclusões sobre a mensagem.<br />

O especta<strong>do</strong>r consegue acompanhar a complexa lógica discursiva <strong>do</strong><br />

<strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong>, pois, quan<strong>do</strong> o sujeito apropria-se <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> conota<strong>do</strong> e <strong>de</strong>codifica a<br />

mensagem, ele está operan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> código <strong>do</strong>minante. Faz senti<strong>do</strong> para ele,<br />

pois utiliza códigos compreendi<strong>do</strong>s pela massa.<br />

3<br />

Ao longo <strong>do</strong> texto, apresentam-se ilustrações <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> a fim <strong>de</strong> propiciar um diálogo da imagem com o<br />

texto escrito.<br />

6


O <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> dialoga com os especta<strong>do</strong>res que observam a temática urbana.<br />

Esse pressuposto implica relacionar a favela, a sua formação e as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

sociais passadas e presentes. Ele mostra e <strong>de</strong>talha exemplificações circunstanciais<br />

<strong>do</strong>s <strong>de</strong>scasos <strong>de</strong>correntes nas políticas públicas no <strong>Brasil</strong>, sobretu<strong>do</strong>, no âmbito da<br />

<strong>educação</strong>.<br />

Figura 2 - O passa<strong>do</strong> está conti<strong>do</strong> no presente e o futuro é incerto.<br />

Ven<strong>do</strong>/len<strong>do</strong> a cena penso quais os conceitos que mudaram no presente.<br />

Qual a relação entre o passa<strong>do</strong> e o presente? Como será o futuro? No <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong>,<br />

durante o percurso cênico, os jovens protagonistas são observa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> longe pelo<br />

especta<strong>do</strong>r, cuja participação <strong>de</strong>monstra uma “passivida<strong>de</strong>” externa com uma<br />

ebulição interna, como se esperasse que a qualquer momento alguém acen<strong>de</strong>sse o<br />

estopim. Trata-se <strong>de</strong> um campo reflexivo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s discursivas geradas pelas<br />

comunicações efetuadas tanto no <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> como no especta<strong>do</strong>r. Mesmo estan<strong>do</strong><br />

fora da ação, ele participa <strong>do</strong> movimento e interfere através <strong>de</strong> posicionamentos.<br />

A mídia apresenta, no cotidiano, questões sobre violência, geran<strong>do</strong><br />

preocupação social. Os crimes que ocorrem nas escolas agravam o impacto sobre a<br />

socieda<strong>de</strong> e contagia a a<strong>do</strong>lescência, estimulan<strong>do</strong> atos violentos e <strong>de</strong> vandalismo.<br />

Isso faz crescer a consciência <strong>de</strong> incredulida<strong>de</strong> nos órgãos públicos e educacionais.<br />

Diante disso, a postura da população é o silêncio e a submissão diante <strong>do</strong> terror. Na<br />

letra da música lê-se “Paz sem voz; Não é paz é me<strong>do</strong>” (YUKA, 1999).<br />

Tais acontecimentos vêm mudan<strong>do</strong> práticas. O me<strong>do</strong> penetra no teci<strong>do</strong> social<br />

e o sujeito se submete a viver entre gra<strong>de</strong>s em suas próprias casas e nas escolas.<br />

Como a letra da música A minha alma diz: “As gra<strong>de</strong>s <strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio; São prá trazer<br />

7


proteção; Mas também trazem a dúvida; Se é você que está nessa; Prisão...”<br />

(YUKA, 1999).<br />

Ao <strong>de</strong>sconstruir o discurso <strong>do</strong> <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong>, reconstrói-se um pensar novo e<br />

reflexivo. Repensar é fazer com que a criança (metaforicamente representada aqui<br />

pelo “Gigante”) tenha, na escola e na socieda<strong>de</strong>, um espaço <strong>de</strong> socialização e<br />

cultura para po<strong>de</strong>r exercer sua cidadania.<br />

3. O protagonista “Gigante” e a cena<br />

Pertencer a um grupo significa participar, transformar, adaptan<strong>do</strong>-se às<br />

exigências <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, <strong>de</strong> forma plena e digna. Os suportes físicos, afetivos e sociais<br />

interferem na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e seu <strong>de</strong>senvolvimento pleno garante as necessida<strong>de</strong>s<br />

básicas, que variam <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a socieda<strong>de</strong> a que pertence. A relação com o<br />

mun<strong>do</strong> permite que o sujeito se sinta parte <strong>de</strong> um sistema e, quan<strong>do</strong> discrimina<strong>do</strong>,<br />

cria problemas que refletem na vida.<br />

Figura 3 - O menino Gigante observa a cena.<br />

No audiovisual, o protagonista, um menino negro <strong>de</strong> mais ou menos quatro ou<br />

cinco anos, cujo apeli<strong>do</strong> é “Gigante”, acompanha alguns jovens que discutem o que<br />

fazer durante o dia.<br />

Numa breve <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong> audiovisual: <strong>de</strong> início, um grupo <strong>de</strong> jovens se<br />

encontra e combina <strong>de</strong>scer o morro em direção à praia. Um <strong>do</strong>s integrantes ainda<br />

reluta, mas é encoraja<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> outro participante pe<strong>de</strong> para o “Gigante” escolher<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>verão ir e este <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ir à praia. To<strong>do</strong>s seguem a mesma direção.<br />

8


Os personagens parecem conhecer a comunida<strong>de</strong>. Conversam com as<br />

pessoas <strong>do</strong> bar, mexem com os cantores. No caminho, observa-se o cotidiano <strong>do</strong>s<br />

mora<strong>do</strong>res: o varre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> rua, o policial <strong>de</strong> trânsito, os comerciantes, os olhares das<br />

pessoas, interrogativos, fixos ou <strong>de</strong>sconfia<strong>do</strong>s, como se esperassem algo acontecer<br />

a qualquer momento. Neste contexto, a câmera mostra, em vários pontos, policiais<br />

arma<strong>do</strong>s.<br />

O menino Gigante, durante o percurso, aparece em várias cenas <strong>de</strong> mãos<br />

dadas com um <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes. Eles pe<strong>de</strong>m dinheiro para algumas pessoas, como<br />

o jornaleiro, uma senhora passan<strong>do</strong> acompanhada pelo filho e outros que encontram<br />

pelo caminho.<br />

Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprar um frango assa<strong>do</strong>, os meninos aproximam-se <strong>do</strong><br />

forno. Um homem também se aproxima <strong>do</strong> local com o mesmo objetivo, ocasião em<br />

que <strong>de</strong>ixa cair um dinheiro próximo a um <strong>do</strong>s meninos. Este se abaixa para pegá-lo<br />

e <strong>de</strong>volvê-lo ao <strong>do</strong>no. Neste momento, o a<strong>do</strong>lescente é surpreendi<strong>do</strong> por policiais,<br />

que o abordam e o espancam.<br />

Grupos <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong>scem o morro e jogam pedras contra policiais,<br />

r<strong>ea</strong>gin<strong>do</strong> contra a situação. Um <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, o mesmo que se abaixou para<br />

pegar o dinheiro, é leva<strong>do</strong> para <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> uma viatura. Lá é morto por um solda<strong>do</strong>,<br />

sem motivo ou <strong>de</strong>fesa, com um tiro na cabeça.<br />

Aparecem homens escondi<strong>do</strong>s atrás <strong>de</strong> gra<strong>de</strong>s em suas casas e outros<br />

fechan<strong>do</strong> portas, concomitantemente com a letra da música: “(...) as gra<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

con<strong>do</strong>mínio são para trazer proteção/ mas também trazem a dúvida se é você que<br />

está nesta prisão (...)”<br />

O momento em que a mãe beija o menino morto atrás da viatura é um<br />

exemplo <strong>de</strong> fragmentação, pois caracteriza o esfacelamento da família e da ruptura<br />

<strong>do</strong> sujeito enquanto ser humano. Isso confirma que o <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> procura dialogar<br />

com o público expon<strong>do</strong> uma r<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong> crítica.<br />

De acor<strong>do</strong> com Jurandir Freire Costa (2004), há uma <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><br />

seio familiar e a tragédia <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes é viver num mun<strong>do</strong> cujos valores<br />

ensina<strong>do</strong>s são nega<strong>do</strong>s. Tal argumentação <strong>de</strong>staca-se no <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong>, no momento<br />

em que os policiais uniformiza<strong>do</strong>s entram em cena e transformam em conflito o que<br />

antes parecia estável.<br />

9


O Gigante observa quan<strong>do</strong> os policiais investem contra o menciona<strong>do</strong><br />

menino, confundin<strong>do</strong> o ato com roubo. Ele, o Gigante, fica para<strong>do</strong> e assusta<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois corre <strong>de</strong>sespera<strong>do</strong>, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> para o outro. Vê quan<strong>do</strong> um policial leva o<br />

mesmo a<strong>do</strong>lescente para <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> uma viatura policial e mata-o com um tiro na<br />

cabeça.<br />

A população r<strong>ea</strong>ge com violência diante <strong>do</strong> fato e a cena termina com jovens<br />

sen<strong>do</strong> leva<strong>do</strong>s algema<strong>do</strong>s para as viaturas policiais, juntamente com o cadáver. O<br />

pequeno Gigante fica para<strong>do</strong> observan<strong>do</strong> os escombros, com a camisa aberta,<br />

mostran<strong>do</strong> o peito <strong>de</strong>sprotegi<strong>do</strong>.<br />

O contemporâneo <strong>de</strong>monstra uma ruptura <strong>de</strong> tradições morais que,<br />

conseqüentemente, leva o sujeito à fragmentação <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (HALL, 2006). A<br />

violência e a discriminação social, vistas/lidas no audiovisual, po<strong>de</strong>m estar<br />

relacionadas com a perda <strong>de</strong> valores da socieda<strong>de</strong>.<br />

Figura 4 - Gigante observa os escombros <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> conflito.<br />

No <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> “A minha alma”, o pequeno “Gigante” esteve presente quase<br />

em todas as cenas, e, no final, fica só, observan<strong>do</strong> os escombros. São os primeiros<br />

anos <strong>de</strong> vida os mais importantes para o <strong>de</strong>senvolvimento psíquico <strong>do</strong> sujeito, <strong>do</strong><br />

“eu” bem estrutura<strong>do</strong>. Para Hall (2006), isto está próximo à interação da i<strong>de</strong>ologia.<br />

De acor<strong>do</strong> com o mesmo autor, “encontramos a figura <strong>do</strong> sujeito isola<strong>do</strong>, exila<strong>do</strong> ou<br />

aliena<strong>do</strong>, coloca<strong>do</strong> contra o pano-<strong>de</strong>-fun<strong>do</strong> da multidão ou da metrópole anônima e<br />

impessoal”.<br />

Conceitualmente, ninguém é contra a inclusão. Porém, para trabalhar inclusão<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> sistema educacional, torna-se necessário modificar atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro da<br />

escola e da socieda<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> apontamos um elemento ou sujeito, já estamos<br />

10


excluin<strong>do</strong>. No ambiente escolar, faltam ações claras, que modifiquem o contexto <strong>de</strong><br />

exclusão, em que a permanência <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> em condições favoráveis seja o<br />

principal objetivo.<br />

Hoje, a <strong>educação</strong> não olha para o sujeito. Parece uma cultura dissociada, isto<br />

é, <strong>de</strong>sintegrada. Não se po<strong>de</strong> pensar em formação sem pensar no sujeito. A<br />

formação <strong>do</strong> sujeito no processo escolar tem que ser dinâmica, diversificada e<br />

humanizada.<br />

4. O VIDEOCLIPE E A EDUCAÇÃO<br />

Refletir é um mo<strong>do</strong> diferente <strong>de</strong> pensar o repensar. A prática educativa é um<br />

espaço em que o sujeito convive com o outro e, portanto, trata-se <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong>.<br />

Para Maturana ( 2001, p. 22), a dificulda<strong>de</strong> <strong>do</strong> fazer está relacionada ao querer<br />

fazer, portanto, há necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> emocional estrutura<strong>do</strong>, ou seja, alimenta<strong>do</strong>.<br />

O ato <strong>de</strong> educar ocorre durante os momentos da vida: o primeiro choro, o<br />

primeiro olhar e a forma <strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar e apropriar-se progressivamente da<br />

imagem global <strong>do</strong> corpo, conhecen<strong>do</strong>, i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> seus segmentos e elementos,<br />

<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> cada vez mais uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> interesse e cuida<strong>do</strong> com o mesmo.<br />

Nesta perspectiva, refletir o <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> no âmbito educacional, em especial na<br />

oitava série, como projeto interdisciplinar, e mesmo entre educa<strong>do</strong>res e equipe<br />

gestora, proporciona ao sujeito a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer mais profundamente a<br />

nossa história e buscar alternativas para reverter os conflitos que lemos no<br />

contemporâneo. Isso implica aten<strong>de</strong>r à diversida<strong>de</strong> e criar vínculos e parcerias.<br />

Resgatar e reinventar novas maneiras <strong>de</strong> ver/ler este contemporâneo e a<br />

transformação das culturas.<br />

A cultura interfere, soma e se agrega ao sujeito, estimulan<strong>do</strong>-o a produzir<br />

“novas/outras” formas <strong>de</strong> ver/ler o mun<strong>do</strong>. O vestuário <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

falar (a gíria) mostra a cultura com referências próprias, elaboradas ao longo <strong>do</strong><br />

tempo. O sujeito produz e contextualiza manifestações corporais ao interagir com o<br />

meio.<br />

11


A fusão entre culturas é fonte <strong>de</strong> outras formas <strong>de</strong> culturas mais apropriadas<br />

ao mun<strong>do</strong> contemporâneo e à comunida<strong>de</strong> a que o sujeito pertence. No <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong>,<br />

observam-se formas diferentes <strong>de</strong> falar e vestir, compon<strong>do</strong> características <strong>de</strong> uma<br />

comunida<strong>de</strong>. Tal procedimento forma uma comunicação com o mun<strong>do</strong>. São<br />

elementos corporais e verbais cria<strong>do</strong>s para mostrar a existência daquela socieda<strong>de</strong>.<br />

O homem necessita <strong>de</strong> apoio para apren<strong>de</strong>r a caminhar e a se comunicar. O<br />

processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem se faz constante: vê-se na interação com a<br />

família e com a socieda<strong>de</strong>, adquirin<strong>do</strong> conhecimentos e vivencian<strong>do</strong> o espaço. Em<br />

suma, o sujeito se forma com o que vê e sente. Transforma-se e modifica o espaço<br />

em que vive, a<strong>de</strong>quan<strong>do</strong>-o às suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

Fatores externos influenciam este experimentar o mun<strong>do</strong>. A velocida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

contemporâneo, as tecnologias, a mídia e o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> consumo interferem na<br />

cultura, alteran<strong>do</strong>-a. Tempo e espaço não são mais <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s.<br />

12<br />

As tecnologias facilitam o processo radical <strong>de</strong><br />

mudança <strong>de</strong> imagem <strong>de</strong> corpo, produto e/ou<br />

marca, ao <strong>de</strong>purar materiais silícicos, nos quais<br />

apontam a mídia e o merca<strong>do</strong>. A cultura digital,<br />

neste caso, programa a relação (dis)juntiva que<br />

equaciona o corpo para além da ambientação<br />

máquina/orgânico (GARCIA, 2008, p. 98).<br />

A tecnologia faz parte <strong>do</strong> contemporâneo e <strong>de</strong>ve ser utilizada. O <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> A<br />

minha alma não foi cria<strong>do</strong> apenas para comercialização da arte, mas também para<br />

fazer uma <strong>de</strong>núncia social. É uma tecnologia digital que po<strong>de</strong> ser utilizada na escola<br />

como recurso para refletir e discutir os problemas e buscar soluções alternativas.<br />

Seria uma forma <strong>de</strong> utilizar a tecnologia em favor <strong>do</strong> educar, ou seja, uma nova<br />

forma <strong>de</strong> mostrar o mun<strong>do</strong> na linguagem contemporân<strong>ea</strong>.<br />

A escola possui como função social promover a aquisição e a ampliação <strong>do</strong>s<br />

saberes, visan<strong>do</strong> à formação <strong>do</strong> sujeito para que este saiba tratar a visão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

O processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem ocorre no cotidiano e a escola <strong>de</strong>ve ser<br />

observada como principal agente <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> paradigmas, mas não é a única. A


integração <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> políticas governamentais com a socieda<strong>de</strong> e a escola po<strong>de</strong><br />

suprir às necessida<strong>de</strong>s locais, culturais e educacionais e gerar projetos para diminuir<br />

a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.<br />

Como se vê a escola pública hoje? Vê-se a escola pública esfacelada, ou<br />

seja, fragmentada e cada vez mais violenta. A solução seria assumir uma nova/outra<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para a reconstrução <strong>de</strong> paradigmas? As repostas po<strong>de</strong>m surgir na troca<br />

<strong>de</strong> informações, no experimentar o mun<strong>do</strong> e na transparência.<br />

Para terminar, o <strong>vi<strong>de</strong>oclipe</strong> A minha alma (1999), mesmo sen<strong>do</strong> ficção, mostra<br />

a r<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong> que estamos ven<strong>do</strong>/len<strong>do</strong> no contemporâneo. A transformação <strong>do</strong><br />

cenário po<strong>de</strong> estar na mudança <strong>de</strong> paradigmas da socieda<strong>de</strong> e na busca <strong>de</strong> ações<br />

conjuntas na comunida<strong>de</strong> escolar que revertam este quadro.<br />

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VIDEOGRAFIA<br />

A MINHA alma (A paz que não quero). Direção <strong>de</strong> Susan Kate Lund; Breno Luis<br />

Marçal <strong>de</strong> Silveira. Roteiro <strong>de</strong> Paulo Lins. Música: O Rappa. Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Produtora Ví<strong>de</strong>o Filmes Produções Artísticas Ltda, 1999.<br />

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