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TECER, “TER SIDO”, TECENDO LEITURAS1: AS EXPERIÊNCIAS ...

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<strong>TECER</strong>, <strong>“TER</strong> <strong>SIDO”</strong>, <strong>TECENDO</strong> LEITUR<strong>AS</strong> 1 : <strong>AS</strong> EXPERIÊNCI<strong>AS</strong> DE UM<br />

PROCESSO DE FORMAÇÃO DE LEITORES<br />

O diálogo entre os fios: um galo que lança o grito<br />

Antonilma Santos Almeida Castro - Profª.da Universidade<br />

Estadual de Feira de Santana-UEFS<br />

Pensilvânia Guerra Diniz Santos - Profª. da Universidade<br />

Estadual de Feira de Santana_ UEFS<br />

Pretendemos, neste trabalho, relatar as experiências vivenciadas no Projeto<br />

Tecendo Leituras (PTL) realizadas, na cidade de Feira de Santana (BA). O projeto<br />

foi uma iniciativa do Governo Estadual/Secretaria de Educação e contou com a<br />

parceria da Universidade Estadual de Feira, por intermédio do Núcleo de Leitura<br />

Multimeios, o qual recebeu o apoio da PROEX 2 . O objetivo central foi desenvolver<br />

uma política de incentivo à leitura, envolvendo alunos e professores das escolas<br />

públicas estaduais, nos níveis de Ensino Fundamental/Médio, sendo cinco em Feira<br />

de Santana e duas nas cidades de Conceição do Jacuípe e São Gonçalo, ambas<br />

localizadas na região do recôncavo baiano. O “Tecendo Leituras” refletiu sobre o<br />

compromisso do professor, da escola, da sociedade na formação de estudantes<br />

mais críticos. Professores e alunos refletindo sobre suas praticas com a leitura.<br />

Queixas, angústias e alternativas foram ouvidas. Uma catarse coletiva foi construída.<br />

Um “ter sido/tecido”, talvez, o ponto comum a que alunos e professores chegaram.<br />

Compromissos foram feitos, agora é preciso continuar tecendo.<br />

O Núcleo de Leitura Multimeios na UEFS: uma das pontas dos fios...<br />

O Núcleo de leitura do Departamento de Letras, parceria com o<br />

Departamento de Educação, destina-se ao desenvolvimento de atividades de<br />

pesquisa e extensão sobre as questões de leitura, com ações voltadas para<br />

realização de círculos, encontros de leitores desejosos pelo exercício da leitura sem<br />

o compromisso escolar, obrigatório. As ações realizadas têm como público os<br />

graduandos de todos os cursos, professores e comunidade em geral. Nós que<br />

constituímos o Núcleo somos cônscios de que cabe aos professores a incumbência,<br />

a responsabilidade de orientar leituras, refletir sobre as maneiras de ler, ajudar nas<br />

escolhas, definições de estratégias, caminhos mais adequados o início/continuidade<br />

do processo de formação e do instalar do desejo de ler. Assim, partilhamos com o<br />

dizer de Zilberman (2003,p.28) quando diz: “ao professor cabe o desencadear das<br />

múltiplas visões que cada criação literária sugere, enfatizando as variadas<br />

interpretações pessoais”.<br />

1 Projeto Tecendo leituras: ler e escrever compromisso de toda escola, responsabilidade dos professores de todas<br />

as áreas do conhecimento. Elaborado pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia, sob a<br />

responsabilidade da SUDEB – Superintendência de Desenvolvimento da Educação Básica, com a consultoria<br />

pedagógica das professoras doutoras Maria Helena Besnosik e Verbena Maria R. Cordeiro.-<br />

2 Pró-Reitoria de Extensão – UEFS.


Nesta direção, no Núcleo de Leitura e Multimeios priorizamos a realização<br />

de discussões que focalizem a concepção de leitura apreendida pelos profissionais,<br />

pois partimos do princípio de que é necessário discutir sobre a concepção de leitura<br />

que a escola vem assumindo e que lugar as práticas leitoras ocupam na sala de<br />

aula, bem como problematizar os meios e as ações metodológicas que co-existem<br />

para favorecê-la. Pois para nós, só existe ensino de leitura quando é feito com que o<br />

aluno perceba a leitura como objeto que permite a construção de sentidos,<br />

construção essa feita na partilha de crenças, desejos e valores entre os<br />

interlocutores.<br />

Assim, a concepção de leitura apresentada no Projeto Tecendo Leituras é a<br />

mesma defendida pelo Núcleo de Leitura, isto é, a leitura é compreendida como<br />

atividade interativa, e se instalam, simultaneamente, o ato de decodificar e o ato de<br />

construir sentidos, por meio da ativação dos significados e saberes construídos<br />

historicamente. A ação de ler envolve o percurso de ir e vir do autor/leitor, suas<br />

histórias de vida, individuais e coletivas.<br />

Nesse percurso e nesse movimento de inda e vinda da leitura, o texto é<br />

ponto de encontro entre leitor e autor, sujeitos que se constituem em interlocutores<br />

históricos e sociais. Nesse encontro se materializam as pistas lingüísticas e culturais<br />

que fazem os sujeitos interlocutores corporificarem discursos carregados de<br />

ideologias. E, por meio do texto, autor e leitor motivados pelos desejos, escolhas,<br />

prazeres, podem como diz Solé (1998, p.22)<br />

desvendar, preencher um momento de lazer e desfrutar; procurar uma<br />

informação concreta; seguir uma pauta ou instruções para realizar uma<br />

determinada atividade (cozinhar,conhecer as regras de um jogo);informarse<br />

sobre um determinado fato( ler o jornal, ler um livro de consulta...);<br />

confirmar ou refutar um conhecimento prévio; aplicar informação obtida<br />

com a leitura de um texto na realização de um trabalho, etc.<br />

Apropriamo-nos dessa concepção, tanto no Núcleo como no Projeto Tecendo<br />

Leitura, por entendermos que o processo de formação leitora exige que a relação<br />

professor/aluno deva ocorrer de forma dialógica para que se concretizem as<br />

interações, as escutas, os diálogos por meio da leitura, das discussões. E o ato de<br />

ler um texto se constitua em exercício de poder, de cidadania para que os sujeitos<br />

leitores possam ocupar, devidamente, seus lugares, suas posições históricas e<br />

sociais. Nesta perspectiva, as atividades do PTL foram organizadas e planejadas<br />

pelo Núcleo, deixando sementes e possibilitando diferentes olhares.<br />

A Secretaria de Educação e as DIRECs: do outro lado, as outras pontas dos<br />

fios...<br />

O TCL foi elaborado a partir da realidade do contexto escolar, ou seja, foi a<br />

constatação do desempenho dos leitores no espaço da escola que inquietou os<br />

profissionais de educação envolvidos na Secretaria de Educação, e a ela vinculados.<br />

Essa inquietação contribuiu para a construção do projeto que pretende ser<br />

2


eferência para o desenvolvimento de outras ações desejosas pela formação de<br />

leitores proficientes.<br />

É válido esclarecermos que a construção do PTL advém da análise feita pela<br />

SEC dos resultados das avaliações que, nas últimas décadas, constataram o não<br />

avanço da proficiência leitora dos alunos da escola pública estadual, na região do<br />

Nordeste e, conseqüentemente, na Bahia. Dados do Sistema Nacional de Avaliação<br />

da Educação/SAEB/2003 mostram que apenas 1,88% dos alunos da rede estadual<br />

da Bahia, que estão cursando a 4ª série, apresentam um nível adequado de leitura.<br />

Somente 5,83% dos que cursam a 8ª série e 3,23% dos que cursam o Ensino Médio<br />

estão em um nível mais avançado, mas, ainda assim, distante do que se espera de<br />

leitores nesses níveis de ensino.<br />

Outros dados regionais e locais geraram preocupação para a SEC/BA, entre<br />

eles destacam-se: o precário domínio da leitura dos alunos do Ensino Médio,<br />

comprovado pelos resultados do ENEM 2001/2002, os quais comprovam um número<br />

ínfimo de leitores com competência para a compreensão dos textos propostos pelo<br />

instrumento avaliativo analisado; apenas cerca de 13% revelam ser leitores que se<br />

apropriam das pistas apresentadas e constroem sentidos para os textos lidos. O<br />

restante permanece com o desempenho entre insuficiente e regular, o que incita o<br />

desejo de mudança e necessidade de uma intervenção urgente; também o baixo<br />

nível de proficiência dos alunos do Ensino Fundamental na Bahia foi fator de<br />

preocupação, isso porque 59,6% dos alunos da 4ª série e 59,7% da 8ª série<br />

encontram-se no parâmetro abaixo do desejado para estas séries, comprometendo<br />

a inserção desses alunos em uma sociedade leitora que exige, a cada dia, um alto<br />

domínio das práticas leitoras nas diferentes modalidades e na multiplicidade de<br />

suportes de leitura.<br />

Diante dessas constatações, a SEC, via Superintendência do<br />

Desenvolvimento da Educação Básica (SUDEB), lançou mão desse projeto que, em<br />

rede, “simboliza o movimento de construção de ações de formação continuada de<br />

leitores.” (MACHADO; SILVA et al, 2004, p.10) E, por se entender que o ato da<br />

leitura é via de acesso a qualquer tipo de conhecimento, de aprendizagem, os<br />

produtores do projeto elencaram com um dos principais objetivos do PTL o<br />

envolvimento de todos os professores das escolas que serviram de campo de<br />

atuação. Assim, as atividades não foram desenvolvidas apenas com os professores<br />

de língua portuguesa, fato que geralmente acontece nas escolas, isso porque ainda<br />

existe um equívoco no entendimento de que só trabalha com leitura o professor de<br />

Língua Portuguesa. Na escola, infelizmente, ainda não se compreendeu que o<br />

domínio do conteúdo trabalhado nas disciplinas curriculares só se concretiza e se<br />

efetiva, verdadeiramente, por meio da leitura compreensiva.<br />

Dessa forma, o processo de formação leitora no PTL concatenou as múltiplas<br />

áreas de conhecimento, o que possibilitou uma maior integração dos professores<br />

que atuam, muitas vezes, com diversas disciplinas, pertencentes à faixa etária<br />

heterogênea, bem como diferentes níveis de escolaridade, nos três turnos da escola.<br />

O intuito era que todos os docentes pudessem se qualificar para acessar, com<br />

competência e autonomia, as múltiplas linguagens, nos mais variados suportes<br />

3


textuais, compreendendo que o trabalho com a diversidade de textos instrumentaliza<br />

aluno e professor no processo de produção da leitura e da escrita, o que,<br />

certamente, garante qualidade na busca pela informação e produção do<br />

conhecimento. Também que pudessem vivenciar o prazer e a responsabilidade de<br />

refletir sobre a leitura como processo de interação humana.<br />

Oportuno se faz registrar que o PTL foi uma construção coletiva envolvendo,<br />

em primeira instância, professores doutores em educação, atuando como<br />

consultores, técnicos das DIRECs, coordenadores pedagógicos, professores da rede<br />

estadual e, em segunda instância, nós, professores especialistas, mestres, doutores,<br />

alunos graduandos, de diferentes semestres, dos cursos de Pedagogia e Letras da<br />

UEFS. Todos esses sujeitos, comprometidos com o desejo de mudança, não só nos<br />

dados estatísticos, mas, sobretudo com o exercício de leitura como ação de<br />

cidadania, trouxeram contribuições, fossem no âmbito da teoria ou da prática.<br />

Órgãos gestores, universidade, escola, alunos e professores: o ato de planejar<br />

e o entrelaçar dos fios...<br />

Antes de iniciarmos a realização das atividades do Projeto “Tecendo<br />

Leituras”, foram feitas reuniões com os técnicos da SEC/DIREC e os coordenadores<br />

Pedagógicos das escolas selecionadas, com o objetivo de apresentar o projeto,<br />

definir as oficinas que seriam oferecidas aos professores e alunos. Na apresentação,<br />

discutimos a operacionalização no que se referem à distribuição das turmas e<br />

turnos, materiais que seriam utilizados a forma de registro das freqüências. A partir<br />

daí, contamos sempre com a participação de alguns coordenadores pedagógicos,<br />

durante os nossos encontros na Universidade, para a preparação das oficinas.<br />

As atividades do projeto foram planejadas por professores e alunos<br />

estagiários. Nós, professores da UEFS, trabalhávamos diretamente com os<br />

professores das escolas, enquanto os alunos – estagiários (monitores voluntários)<br />

trabalhavam com os alunos das escolas campo. Por isso, todo o processo de<br />

planejamento foi realizado conjuntamente, durante reuniões que ocorriam às<br />

segundas - feiras, no Núcleo de Leitura.<br />

É valido esclarecer que, embora fizéssemos um mesmo planejamento, cada<br />

professor e aluno-monitor tinham liberdade para fazer adequações e adaptações ao<br />

seu contexto, no momento da realização das oficinas. O quadro abaixo mostra a<br />

quantidade de alunos, professores e escolas envolvidos nas oficinas.<br />

220<br />

35<br />

119<br />

7<br />

7<br />

1000<br />

ALUNOS<br />

OFICIN<strong>AS</strong><br />

PROF. REDE PÚBLICA<br />

PROF. UEFS<br />

MONITORES<br />

ESCOL<strong>AS</strong><br />

4


Durante o planejamento, foram selecionados os suportes textuais<br />

considerando o desafio de formar leitores de acordo com a cultura vivenciada no<br />

atual contexto social, o qual é fomentado por uma diversidade de práticas sociais,<br />

que mostram o cotidiano de uma sociedade industrial e tecnológica. Portanto, foram<br />

utilizados suportes como livros, revistas, filmes, obras de artes, romances,<br />

propagandas, álbuns, revista em quadrinhos, folhetos, calendários, entre outros.<br />

Além dos suportes, os alunos e professores tiveram o contato com instrumentos<br />

tecnológicos como: TV, vídeo, DVD, retroprojetor, jornal, microssistem, cd,<br />

multimeios de comunicação.<br />

Os conteúdos básicos também foram elencados nos encontros de<br />

planejamentos. Constituíram o rol de conteúdos para as oficinas: as concepções de<br />

língua e linguagem; a leitura na formação do professor (aspectos conceituais, sócioculturais<br />

e metodológicos); a leitura e interdisciplinaridade; a leitura e a construção<br />

do sentido; as estratégias de leitura para textos de todas as áreas do conhecimento;<br />

os fundamentos básicos sobre o processo de ensino de aprendizagem; a relação<br />

texto/autor a leitura e a literatura popular; a leitura e os meios de comunicação de<br />

massa e avaliação da aprendizagem da leitura; conceito de texto (aspectos<br />

lingüísticos e estruturais), coerência e coesão textual. Os conteúdos básicos<br />

priorizam a construção de um acervo teórico para o professor e a apropriação dos<br />

aspectos teóricos da leitura por meio da vivência de práticas leitoras para o alunos.<br />

O entrelaçar da teoria-prática no ato da leitura, advém do nosso crédito de que não<br />

existe uma prática leitora sem o conhecimento de uma base teórica, mesmo que o<br />

sujeito leitor não tenha a consciência explícita desse pilar teórico.<br />

As situações didáticas eram planejadas e variavam a cada oficina; nelas se<br />

concretizam a leitura de poemas; a conversa informal com alunos e professores;<br />

audição de músicas; projeção de filmes; discussões/debates; visitas a espaços de<br />

leitura; dinamização de espaços de leitura; vivências de contação de história;<br />

produção oral do baú de memórias; a produção da linha do tempo com a história de<br />

leitura dos alunos e professores leitores. A orientação priorizada era para que, em<br />

todas as situações didáticas, fossem centralizadas a discussão e o diálogo e que<br />

não fossem levadas verdades absolutas; conceitos, fechados, prontos; que, a todo<br />

momento, se abrisse a possibilidade para a desconstrução de mitos e (pré)<br />

conceitos a respeito do ato de ler e da sua função social, bem como propiciar ações<br />

leitoras que mostrassem que a leitura deve ser, antes de tudo, um ato de prazer de<br />

encantamento. O sentido maior das oficinas era desconstruir a idéia de que se lê<br />

apenas na escola, para responder provas ou cumprir deveres escolares. Lê-se para<br />

a vida, para se fortalecer como sujeito no mundo.<br />

A cada oficina, eram sistematizados os instrumentos de avaliação,<br />

considerando a concepção de avaliação defendida no PTL. Assim, eram<br />

organizadas pautas avaliativas, levando-se em conta o caráter processual e<br />

formativo, em que os alunos e professores se constituíssem como sujeitos ativos no<br />

processo, que considerassem o momento de avaliação, o momento de retomada<br />

para a reconstrução das práticas leitoras.<br />

5


O resultado da avaliação é sempre ponto de chegada e de partida: de<br />

chegada porque traduz a finalização de uma trajetória de ações realizadas<br />

com objetivo de um novo “ver” a realidade; o ponto de partida é<br />

conseqüência de um novo marco inicial sobre o qual se pode fazer uma<br />

nova trajetória. (MACHADO; SILVA et al, p. 21).<br />

Percebemos que o envolvimento de professores, alunos e coordenadores<br />

pedagógicos no ato do planejamento foi de relevância, pois havia a possibilidades<br />

da escuta, do diálogo e da partilha no momento da seleção de textos, das<br />

dinâmicas, do referencial teórico dos suportes textuais e dos instrumentos<br />

tecnológicos. O planejamento se constituiu em um espaço em que todos podiam<br />

trazer para o cenário as práticas e o conhecimento já construído. A cada encontro<br />

para o planejamento, existia avaliação, o que desencadeava um redirecionamento<br />

das ações adotadas. O ato de planejar materializou-se no toldo pedagógico que<br />

cabia a idéia de todos, constituindo-se em um processo de alimentação e<br />

retroalimentação de aprendizagens. Os momentos de estudo e escolha do material<br />

possibilitou a vivência do fazer pedagógico. Assim, professores, alunos- monitores,<br />

coordenadores pedagógicos vivenciaram um processo de auto-formação, no desejo<br />

de contribuir para a formação de alunos leitores na rede pública de ensino.<br />

Concretizou-se aí o entrelaçar dos fios no processo de formação.<br />

Nos encontros, nas oficinas: o tecer dos fios...<br />

Entrelaçados os fios no planejamento, é chegada a hora do tecer na prática,<br />

no campo de atuação. Fomos às escolas realizar as oficinas. Não faremos aqui a<br />

descrição de todas as atividades, apenas um recorte do que foi vivenciado,<br />

focalizando duas das oficinas realizadas. A fundamentação para a estruturação das<br />

oficinas sustenta-se nos aspectos teórico-metodológicos já expostos anteriormente.<br />

Expomos, a seguir os objetivos almejados para essas oficina:identificar o lugar da<br />

literatura na formação do leitor crítico e plural;analisar a concepção de linguagem<br />

literária X não literária;destacar os elementos simbólicos da linguagem literária na<br />

constituição do imaginário do leitor;compreender a dimensão lacunar e polissêmica<br />

da obra literária, enquanto elementos mobilizadores de novos e múltiplos<br />

sentidos;compreender a importância da figura do leitor na recepção produtiva do<br />

texto literário;discutir a importância da leitura na construção do conhecimento em<br />

todas as áreas propor situações de práticas leitoras com os diferentes tipos e<br />

gêneros textuais, em especial o literário;<br />

As oficinas Leitura e Leituras priorizaram a temática: “Leitura como um<br />

compromisso de todas as áreas do conhecimento”. A seleção dos textos e as<br />

atividades objetivaram fazer com que todos os professores – portanto, não só os de<br />

Língua Portuguesa – percebessem a importância da leitura no cotidiano de sala de<br />

aula e a sua responsabilidade na formação de alunos leitores para fora da sala de<br />

aula, a leitura para além dos muros da escola.<br />

Nessas oficinas, sintetizamos as concepções de leitura e literatura,<br />

procurando destacar a importância do texto literário para a formação do leitor crítico,<br />

leitor que vive uma prática diária de leituras em diferentes suportes textuais. É<br />

6


oportuno registrar que está cada vez mais comum o uso do texto literário presente<br />

em suportes que fogem aos textos específicos a este gênero. Nos textos<br />

publicitários, nos textos dos livros didáticos (de todas as disciplinas), nas<br />

dissertações e teses acadêmicas, os textos poéticos chegam para mobilizar os<br />

possíveis sentidos a serem construídos. Isso porque já não concebemos mais a<br />

apropriação dos conteúdos, na esfera cognitiva, sem o desenvolvimento dos<br />

conhecimentos no aspecto afetivo, pois, muitas vezes, o domínio do cognitivo é<br />

desencadeado por questões ligadas à sensibilidade e ao entendimento das relações<br />

simbólicas afetivas.<br />

Nesta direção, as leituras e discussões dos textos apresentados<br />

contemplaram a produção e análise de situações sócio-comunicativas voltadas para<br />

todas as áreas do conhecimento. Por isso, as atividades que foram desenvolvidas<br />

enfatizaram a leitura dentro da perspectiva interdisciplinar, possibilitando o contato<br />

maior com as diversas áreas do conhecimento e a heterogeneidade de textos<br />

literários e não literários. Destacamos a necessidade de compreendermos a leitura<br />

como um canal de interconexão entre os mais variados campos de conhecimento.<br />

Os conteúdos priorizados foram: a concepção interativa de leitura e seus<br />

desdobramentos nas práticas leitoras; os objetivos e estratégias de leitura, entre<br />

outros.<br />

Nas oficinas Leitura e Cultura de massa o tema principal foi “A leitura e os<br />

meios de comunicação”. Foram problematizadas questões sobre a indústria cultural,<br />

cultura de massa, cultura popular, cultura erudita, literatura de massa e o uso desses<br />

materiais de leitura nas escolas. Foram objetivos dessas oficinas: contextualizar a<br />

literatura de massa a partir do surgimento da indústria cultural; definir a peculiaridade<br />

da literatura de massa; estabelecer as relações entre a literatura de massa e a<br />

literatura erudita;caracterizar as várias manifestações da literatura de massa;propor<br />

alternativas metodológicas para o trabalho com a literatura de massa em sala de<br />

aula.<br />

As discussões centralizaram-se sobre a leitura além das palavras – a<br />

leitura do implícito, a postura do leitor diante dos textos que são veiculados pela<br />

mídia, bem como o papel do educador no afinamento da prática de leitura dos<br />

estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, pela escolha dos materiais<br />

de leitura adequados ao gosto da classe, ampliando esse gosto, gradativamente,<br />

com a diversidade textual oferecida.<br />

Alguns conteúdos foram priorizados, entre eles estavam: a cultura de massa e<br />

a indústria cultural; a literatura de entretenimento e a proposta da cultura de massa;<br />

as mais conhecidas manifestações da cultura de massa como os quadrinhos; a<br />

telenovela; as revistas de fofoca. A centralidade dessa oficina deu-se na<br />

possibilidade de ampliar horizontes de expectativas dos alunos e professores, no<br />

sentido de fomentar uma postura crítica diante dos suportes que são diariamente<br />

veiculadas nas diversas instâncias sociais. Considerou-se, portanto, a literatura de<br />

massa como elemento de formação do leitor que pode, desde a infância, ser<br />

utilizado pela escola nos programas de leitura.<br />

7


Nas impressões um toldo tecido por todos: avaliação das professoras,<br />

diretoras e coordenadoras pedagógicas<br />

“O projeto foi ótimo por possibilitar a aprendizagem de novos<br />

conhecimentos, de convivência com outras pessoas, além de possibilitar um<br />

novo olhar sobre a leitura, mais crítico, atento...”(Professor F)<br />

“Pudemos construir um melhor gosto pela leitura. O projeto promoveu a<br />

integração das professoras; a oportunidade de analisar e interpretar<br />

leituras;”(Coord.Pedagógico A)<br />

“a capacidade da mediadora em orientar; acolhimento da direção da escola<br />

foi muito bom.”(Professor B)<br />

“A oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos na universidade.<br />

Incentivo às diversas leituras. “ (Coord. Pedagógico D)<br />

“A atividade campo, ou seja, a visita à 7ª Bienal de Arte do Recôncavo<br />

possibilitou mostrar a importância da leitura da arte para a (re)construção de<br />

conceitos e valores conosco e com os alunos. Houve valorização da cultura<br />

regional.”(Diretor B )<br />

“O tempo foi curto, por demais.”(Professor A)<br />

“Houve certa indisciplina de alguns alunos nossos nas oficinas. Mas<br />

pudemos perceber que houve uma mudança na concepção de leitura de<br />

nossos alunos.”(Professor C)<br />

Avaliação dos alunos-monitores da graduação na UEFS<br />

“Nós, alunos monitores aprendemos a perceber a leitura de uma forma mais<br />

ampla, rica e interessante”. “(Aluno-monitor H)”.<br />

“Hoje sabemos que a leitura já não só de material escrito”. “(Aluno-monitor<br />

N)”.<br />

”<br />

“A experiência com o Projeto foi muito importante para a nossa formação, a<br />

vivência com os alunos de faixa etária diferente possibilitou um maior<br />

amadurecimento para uma prática futura;” “(Aluno-monitor G)”.<br />

“A intervenção feita por nós durante a as oficinas ampliou o aprendizado<br />

adquirido.” (Aluno-monitor F)<br />

“Destacamos a riqueza do material disponibilizado pela SEC/DIREC UEFS<br />

e escola para ser usado por nós, tudo foi muito importante.” (Aluno-<br />

monitor L )<br />

Avaliação da coordenadora do projeto na UEFS<br />

“Acredito que um Projeto desse nível é muito importante para as<br />

professoras das diversas áreas de conhecimento, como foi o caso. Este fato<br />

inédito foi de elementar singularidade, pois os pensamentos, idéias,<br />

crenças, discussões ficaram mais significativas e traduziam um arsenal de<br />

concepção sobre a leitura, sobre a leitura de quem somos que fazemos<br />

diante do mundo, a que adotamos para nós e a que vinculamos para os<br />

outros e os nossos alunos. Além disso, a participação da direção e das<br />

coordenadoras (o pessoal de apoio: porteiros, merendeiras, motoristas da<br />

UEFS, Coordenação geral...) facilitou muito o trabalho, pois tivemos total<br />

apoio.Os debates, a construção de idéias, os esclarecimentos e<br />

posicionamentos apresentaram um leque de oportunidades para aprofundar<br />

a concepção de leitura e tratar a leitura como fonte de aprendizagem em<br />

todo momento, em toda aula, em todas as circunstâncias. Por isso e muito<br />

mais, valeu a pena.” ( M.H.B.)<br />

8


As (in) conclusões: o que foi “ter sido/tecido”<br />

Não podemos dizer que tudo foi maravilhoso, perfeito. Tivemos uma<br />

série de dificuldades. Entre elas, elencam-se: a ausência de alguns alunos<br />

monitores, nos dias das oficinas. A falta de alunos da UEFS para realizar as oficinas<br />

na escola o que prejudicou o trabalho; por causa disso, houve a junção das turmas,<br />

o que não facilitou o andamento das oficinas; a evasão quase total de alunos e<br />

professores em alguns encontros; os atrasos significativos para o início das<br />

atividades, pela não pontualidade de alunos e professores, o que consideramos<br />

como que certa resistência para o tipo de atividade que estava sendo vivenciada,<br />

fato compreensível, já que a dinâmica da escola, nos dias das oficinas, era<br />

totalmente modificada. Sentimos também a resistência de alguns coordenadores e<br />

diretores; tal postura pode ser constada pela forma como éramos recebidas e como<br />

a escola preparava os alunos para a vivência do projeto. Isso mostrou a falta de<br />

entrosamento entre os participantes (em algumas escolas) do projeto.<br />

Consideramos também que o tempo da intervenção foi muito pequeno,<br />

apenas dois meses de formação. Houve ainda um grande o desgaste físico, pois as<br />

oficinas eram realizadas nos dois turnos. Contamos, em todas as oficinas, com a<br />

indisciplina e falta de desejo de participar de alguns alunos. A indisciplina foi<br />

entendida por nós, também, como forma de resistência, Muitos resistiram de tal<br />

forma que chegavam a ser indelicados com os alunos-monitores e diziam:<br />

“não gosto desse tipo de atividade, prefiro aula normal, por isso converso e<br />

bagunço”; (Aluno C )<br />

“Se não for para nota não vou fazer”; (Aluno J )<br />

“Quando vamos começar a aula de verdade?” (Aluno T )<br />

“Isso vai cair na prova? Então não vou participar!” ?” (Aluno G )<br />

“Não gosto de ficar fazendo essas bobagens de ler, ler, ler... vou para casa”<br />

(Aluno D )<br />

Mas também tivemos testemunhos de alunos que ressaltavam a importância<br />

das oficinas para a mudança de postura diante o ato de ler. As discussões com os<br />

alunos que participavam eram proveitosas e relevantes. Sentimos que deixamos<br />

muitas sementes plantadas, “muitos gritos foram lançados a tanto outros galos”.<br />

Dizemos isso porque, alguns pais chegaram a ir à escola para verificar o que estava<br />

acontecendo diante do entusiasmo dos filhos para a participação nas oficinas.<br />

Para nós, ficou visível o tratamento dado à leitura no dia a dia das escolas.<br />

A leitura é vista somente como cumprimento da atividade escolar, de preferência<br />

como atividade avaliativa. Percebemos que os professores que não ministram aulas<br />

de Língua Portuguesa não priorizam o ato de ler como momento de prazer, é<br />

meramente uma atividade escolar. Assim, as leituras dos textos, nas aulas de<br />

História, Geografia, Matemática, Filosofia e outras são consideradas atividades<br />

chatas e desinteressantes. A responsabilidade de fazer leitura por prazer e<br />

ludicidade é apenas do professor de Português. Fato mais agravante, para nós foi<br />

que, poucos são os professores de Língua Portuguesa que fazem leitura de textos<br />

literários, por considerarem que tal ação atrasa os conteúdos de gramática.<br />

9


Dentre as atividades realizadas pelo PTL, o grande destaque ficou por conta<br />

da visita de campo à 7ª Bienal de Artes do Recôncavo Baiano. A viagem com os<br />

professores foi realizada na cidade de São Félix. Após a visita, foi realizado o círculo<br />

de conversa sobre o que foi lido e vivenciado na Bienal. Os olhares sobre a obra de<br />

arte; as esculturas, escuta das palavras pelo material exposto, foi muito importante.<br />

Os professores externalizaram que nunca tinham vivenciado tal experiência.<br />

O contato com os artistas regionais que colocaram os trabalhos para serem<br />

apreciados foi marcante, o sentir sobre os objetos, a impressão sobre o Museu e o<br />

Pouso da Palavra, a Instalação que mais chamou a atenção dos docentes, bem<br />

como as obras que retrataram a realidade e a fantasia, “obras que fazem pensar.”<br />

A experiência foi muito gratificante, pois os olhares que as professoras foram<br />

assinalando durante a visita demonstraram, segundo os depoimentos professores:<br />

um aprendizado rico na área de artes, na leitura das obras e nas possibilidades e<br />

alternativas de aprendizagem que foram possíveis nas situações apresentadas”;<br />

“além do processo de interatividade provocado pela situação”; “a reflexão sobre o<br />

sentido da leitura”; “a potencialização das diferentes habilidades desenvolvidas e a<br />

aquisição de conhecimentos específicos e mais gerais”.Os galos que apanharam<br />

outros gritos e lançaram a tantos outros.<br />

Com certeza os professores não serão mais os mesmos diante do ato de ler<br />

as obras de arte, o texto artístico o e literário e, conseqüentemente, ajudarão aos<br />

alunos a fazerem outras leituras. Ratificamos o que dissemos no início desse artigo:<br />

se cutucamos, se incitamos a sensibilidade do professor, o galo mediador,<br />

certamente deixamos ecoar esse grito a tantos outros galos: nos alunos, na família,<br />

na comunidade...<br />

Referências<br />

AGUIAR, Vera Teixeira (org.). Era uma vez... na escola: formando educadores para<br />

formar leitores.Belo Horizonte: Editorial,2001.<br />

BORDINI, Maria Glória e AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura e a formação do leitor:<br />

alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.<br />

CHARTIER, Roger. Práticas de leitura. São Paulo: Estação da Liberdade,1996<br />

MACHADO, Anabela Costa; SILVA, Aroldo Barbosa da et al. Tecendo leituras: ler e<br />

escrever direito do aluno, compromisso da escola de toda a escola, responsabilidade<br />

dos professores de todas as áreas do conhecimento. Salvador: Governo do Estado<br />

da Bahia/Secretaria da Educação, 2004.<br />

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo: Brasiliense, 1982.<br />

KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da<br />

leitura.Campinas,SP:pontes,1997<br />

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegra: Artes Médicas, 1998.<br />

ZILBERMAN, Regina. Leitura em crise na escola: as alternativas metodológicas do<br />

professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, São Paulo, 1995.<br />

______. A leitura e o ensino da literatura. São Paulo: Contexto, 1991.<br />

______. A literatura na escola. São Paulo: Global, 2003.<br />

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