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30/10/2005 11:19:22 O 'juridiquês' no banco dos réus ... - AMB

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vocabulário dele. O difícil é ver um jovem recém­formado, reproduzindo expressões totalmente em desuso’’. Para ele, são profissionais<br />

que aprendem com os mais antigos ou que querem impressionar a clientela, por exemplo.<br />

Nos meios jurídicos, segundo revela, quem não é capaz de escrever ou falar sem usar Latim passa a ser de<strong>no</strong>minado ‘‘Doutor Data<br />

Venia (lê­se como uma paroxítona: vênia)’’.<br />

Mesmo tendo originado inúmeros idiomas, o Latim é uma língua morta, conforme classificação da Filologia (ciência que estuda os<br />

instrumentos linguísticos de um povo). Isto porque não é mais o único meio de comunicação de uma comunidade.<br />

Sobre a falta de tradução para as citações estrangeiras, ele diz: ‘‘Isso até fere uma <strong>no</strong>rma da ABNT (Associação Brasileira de Normas<br />

Técnicas) para textos técnicos. Ou o leitor sabe Francês, ou fica por isso mesmo. Se o advogado quer correr o risco de o juiz não falar<br />

Francês... Geralmente não fala. Italia<strong>no</strong>, poucos falam’’.<br />

Falso status<br />

‘‘Estamos <strong>no</strong> Brasil e a Língua Portuguesa é a que vale’’. sentencia o desembargador Rizzatto Nunes. ‘‘Não é só o latinório, porque uma<br />

ou outra palavra do Latim já foi incorporada’’. O que o deixa indignado são as citações estrangeiras: ‘‘São transcrições sem tradução!’’.<br />

A seu ver, o profissional que age dessa maneira quer demonstrar um conhecimento que às vezes não tem e se sentir melhor que os<br />

demais. ‘‘Isso é um falso status’’.<br />

Ele ressalta que está longe de ser contra o aprendizado de outros idiomas. Mas condena a valorização exagerada das línguas de outros<br />

países, em detrimento do idioma nacional. ‘‘É coisa cultural, de país catequizado, colonizado. Um horror! Na petição, na sentença, não<br />

pode usar língua estrangeira. Tem que escrever em Português’’.<br />

Referências bíblicas<br />

As restrições do juiz Leandro de Paula Martins Constant, diretor do Fórum de São Vicente e titular da 2ª Vara Cível vicentina, são para<br />

as citações de textos bíblicos <strong>no</strong>s processos. ‘‘O estado brasileiro é laico (desvinculado de religião). Não existe <strong>no</strong> Brasil uma fusão<br />

entre Estado e Igreja’’.<br />

Para Leandro Constant, o profissional que é acostumado a essa prática não se dá conta de um outro aspecto contrário à sua ação: o<br />

juiz pode não comungar da mesma religião que ele.<br />

‘‘Um juiz nunca vai basear sua decisão num texto bíblico, porque cita uma passagem que supostamente teria alguma ligação com<br />

aquele direito que está sendo discutido’’.<br />

Sobre as citações estrangeiras e o latinismo, Constant acha que deveriam ser evita<strong>dos</strong> na medida do possível: ‘‘Às vezes o próprio<br />

profissional da área não entende’’. Sem generalizar, ele interpreta esse hábito como um sinal de vaidade.<br />

Para quem é contra a reforma da linguagem jurídica, ele adverte: ‘‘O sistema jurídico não existe por si só. O Direito existe para<br />

resolver problemas e não, para criar um problema a mais para as pessoas’’.<br />

E ainda destaca: ‘‘Uma decisão pode acabar com uma vida humana. Pode decretar uma prisão, a perda de um patrimônio, a separação<br />

de um casal, a perda de um filho... Tudo isso de acordo com as palavras. Por isso, a palavra tem que ser clara’’.<br />

Eduardo Jardim e Rodrigo Lyra resistem às mudanças<br />

Lídia Maria de Melo<br />

‘‘Sou frontalmente contrário à linha da <strong>AMB</strong>’’, afirma o advogado Eduardo Marcial Ferreira Jardim, professor de Direito Tributário na<br />

Universidade Mackenzie. ‘‘Independentemente do estilo, qualquer linguagem, técnica ou não, pode ser permeada de gongorismo, de<br />

erudição’’.<br />

Mestre e doutor pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e autor de livros jurídicos, ele defende que a comunicação<br />

jurídica seja preservada: ‘‘Com suas expressões latinas, seus broca<strong>dos</strong>, seus termos técnicos. É uma linguagem própria como a de<br />

qualquer ciência’’.<br />

Profissional vetera<strong>no</strong>, Eduardo Jardim garante que sua posição não é um culto ao academicismo ou algo teórico, fora da realidade. ‘‘Os<br />

termos técnicos são precisos e compatíveis com a natureza do Direito. Não é uma linguagem coloquial’’.<br />

Na opinião do tributarista, os profissionais que atuam na área é que têm a atribuição de traduzir os termos técnicos quando entram em<br />

contato com a sociedade. ‘‘O magistrado e o advogado se comunicam entre si. Essa comunicação interna é eficaz. São to<strong>dos</strong> forma<strong>dos</strong>.<br />

Não há por que não entender a linguagem’’.<br />

Ele adverte que qualquer imposição em relação à maneira como um profissional deve se expressar pode ser considerada ‘‘uma medida<br />

restritiva à liberdade de pensamento’’.<br />

E acrescenta: ‘‘Isso é inaceitável em qualquer campo científico’’. Ele não vê como usuários da Justiça sejam prejudica<strong>dos</strong> pela<br />

linguagem: ‘‘Cabe ao advogado interpretar ao cliente o que foi decidido’’.<br />

Jardim argumenta ainda que a simplificação não vai acelerar a Justiça. ‘‘Isso é um sofisma. A Justiça é lenta ou ineficiente não por<br />

causa da linguagem. As razões são estruturais’’.<br />

Adequação<br />

O também advogado Rodrigo Lyra, que atua na área do Direito Civil há 20 a<strong>no</strong>s, é outro que se mostra resistente à campanha. ‘‘Não sei

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